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Curso de Licenciatura em Direito

A REVISÃO CONSTITUCIONAL

Apresentado por: Teixeira da Costa

1. - A revisão constitucional e o seu processo

Conceito:

A revisão constitucional é a modificação da constituição expressa, parcial, de


alcance geral e abstracto e, por natureza, a que traduz mais imediatamente um
princípio de continuidade institucional.

É a modificação da Constituição com uma finalidade de auto-regeneração e


autoconservação, quer dizer, de eliminação das suas normas já não
justificadas política, social ou juridicamente, de adição de elementos novos que
a revitalizam, ou, porventura, de consagração de normas preexistentes a título
de costume ou de lei ordinária. É a modificação da Constituição nos termos
nela própria previstos ou, na falta de estatuição expressa sobre o processo,
nos termos que decorram do sistema de órgãos e actos jurídico-constitucionais;
e insira-se a modificação directamente no próprio texto constitucional
autónoma.

Algumas constituições prevêem, com designações variáveis, quer uma revisão


parcial quer uma revisão total. No entanto, nas hipóteses ditas de revisão total,
não se trata geralmente de revisão, mas de transição constitucional; revisão
total, como verdadeira e própria revisão constitucional, só existe quando se
intente renovar na totalidade um texto constitucional sem mudança dos
princípios fundamentais que o enformam; revisão total só pode ser da
Constituição instrumental, não da Constituição material.

1.2 -A diversidade de formas de revisão constitucional

Nenhuma constituição deixa de regular a sua revisão, expressa ou


tacitamente.Em geral, regula-a expressamente. Por vezes, porém, não a

contempla: assim, em França, em 1799, 1814 e 1830), no Piemonte em 1848


(depois, em Itália, em 1870) ou na Espanha em 1876). E tem então de se
encontrar – pois absurdo seria haver Constituições irrevisíveis – uma forma de
revisão coerente com os princípios estruturais do sistema constitucional
(entenda-se-lhe aplicável o processo legislativo ordinário, recorra-se a uma
forma paralela à utilizada na feitura da Constituição ou exijam-se formalidades
a se).
De qualquer modo, são múltiplas as formas adoptadas e tão variáveis que, a
despeito de evidentes dificuldades, vale a pena procurar um quadro
classificatório.

II - Como mais importantes critérios de contraposição, além da diferenciação ou


não do processo frente ao processo legislativo, podem indicar-se a forma de
Estado, a paridade ou não princípios e de formas em relação ao processo
constituinte (originário), a natureza do sistema político, a opção entre o
princípio representativo e a democracia directa, a revisão por assembleia
especial. Complementarmente, apontem-se a dependência ou não de órgãos
de outros Estados, o tempo de revisão, a iniciativa e o carácter imperativo ou
facultativo deste ou daquele processo.

É diversa a revisão constitucional em Estado simples e em Estado composto.


Ali, apenas depende de um aparelho de órgãos políticos, pois num Estado
unitário, por definição, só um aparelho de órgãos estaduais existe.

Em Estado composto, a revisão implica uma colaboração entre os seus órgãos


próprios e os Estado componentes, os quais possuem direito de ratificação ou
de veto (consoante os casos) quanto às modificações a introduzir na
Constituição, por esta traçar (ou enquanto traçar) o quadro das relações de um
de outros; donde, a necessária rigidez em que se traduz.

Expressão de determinada legitimidade – democrática, monárquica, ambas


conjuntamente ou outra – uma constituição deve consignar uma forma de
revisão de harmonia com essa legitimidade. Se a não consigna, como se
observa em algumas Cartas Constitucionais, ela assume um conteúdo que a
faz convolar, logo à nascença, em Constituição de regime diferente daquele
que lhe terá dado origem.

O processo de revisão pode ser ou não idêntico ao primitivo processo de


criação da Constituição. Ser é uma assembleia legislativa ordinária a deter
faculdade de revisão, exerce-as, nas maiores parte das vezes, com maioria
qualificada ou com outras especialidades. Em compensação, verifica-se ser
bastante rara a eleição de uma assembleia ad hoc de revisão; e subjacente a
isto está a consideração de que o poder de revisão é um poder menor diante
do poder constituinte (originário), um poder derivado e subordinado.

O modo de revisão reproduz o sistema político: diferente em sistema pluralista,


com livre discussão e garantia da participação da Oposição, e em sistema de
partido único; em sistema democrático em sistema autoritário; em sistema de
divisão de poder e em sistema de concentração de poder; em sistema com
predominância de assembleia ou de chefe de Estado. Por quase toda a parte,
todavia, uma constante é a intervenção dos parlamentos ou para decretar a
revisão ou para desencadear o respectivo processo ou para a propor a outro
órgão. A intervenção do chefe do Estado é mais intensa, naturalmente, em
monarquia (em que chega a haver sanção real da lei de

revisão) do que em república.


Porque a democracia moderna é essencialmente representativa, a revisão é
quase sempre obra de um órgão representativo, de uma assembleia política
representativa – seja a assembleia em funções ao tempo da iniciativa do
processo de revisão, seja uma assembleia especial. E quando se submete a
revisão a referendo, fazendo assim avultar um elemento de democracia directa
ou semidirecta, trata-se, também quase sempre, se sanção, ratificação ou veto
resolutivo sobre um texto previamente votado em assembleia representativa. O
referendo pode ser possível ou necessário.

NB:

" Por natureza a revisão ocorre no interior do Estado cuja Constituição se visa
modificar. A única excepção – e mais aparente que real – era, até 1982, a da
Constituição do Canadá, dependente de acto do Parlamento britânico; mas
esta intervenção, explicável por condicionalismo históricos ligados à feitura da
Constituição e ao próprio federalismo canadiano, podia reconduzir-se a uma
"delegação de poderes de revisão".

A revisão pode realizar-se a todo o tempo, a todo o tempo verificados certos


requisitos ou apenas em certo tempo. Na grande maioria dos países pode dar-
se a todo tempo, mas Constituições há que admitem a sua alteração de tantos
em tantos anos; ou que, antes de decorrido certo prazo, não a admitem senão
por deliberação específica; ou que ostentam regras particulares para a próxima
revisão, vedada até certo prazo; ou para uma eventual revisão total.

Problema conexo vem a ser o dos limites circunstanciais da revisão: o da


impossibilidade de actos de revisão em situações de necessidade,
correspondentes ou não a declaração de estado de sítio ou de emergência, ou
noutras circunstâncias excepcionais.

A iniciativa cabe, de ordinário, ao órgão com competência para fazer a lei de


revisão ou a qualquer ou quaisquer dos seus membros. Mas não se confundem
a iniciativa do processo de revisão e a iniciativa de modificações
constitucionais; e pode, em certos casos, a primeira partir de órgão diferente
daquele dentro do qual há-de seguir a segunda – v.g., pode partir do Chefe do
Estado ou do Governo, sem que, no entanto, lhe pertença decretar a revisão.
Também a separação entre órgão de iniciativa e órgão de deliberação se
afigura nítida, quando seja o povo a votar a revisão, por serem raríssimos os
casos de iniciativa popular da lei de revisão. Pode ainda prescrever-se que as
iniciativas de revisão rejeitadas só possam voltar a ser apresentadas passado
certo tempo.

A revisão por regra, está sujeita a forma imperativa, tem de se enquadrar em


certa e determinada tramitação fixa. Contudo, pode a Constituição prever mais
de uma forma em razão da iniciativa ou oferecer ao órgão competente para
desencadear o processo a escolha entre mais de um processo; ou pode dar a
um órgão a possibilidade de chamar outro ou outra entidade a uma decisão
sobre a revisão.
Resumindo, pode sugerir-se o seguinte esquema das principais formas de
revisão constitucional no âmbito da legitimidade democrática (não
considerando, pois, agora, o princípio monárquico, nem as particularidades dos
Estado Compostos e das Heteroconstituições):

Formas de Revisão:

1.º Por processo apenas de democracia representativa:

a) Por assembleia ordinária - segundo processo legislativo comum ou segundo


processo legislativo especial;

b) Por assembleia ordinária - renovada para efeito da revisão;

2.º Por processo de democracia representativa e de democracia directa, ou


semidirecta, cumulativamente:

a) Votação em assembleia representativa, com referendo possível;

b) Votação em assembleia representativa, seguida de referendo necessário;

Na Constituição Cabo-verdiana a revisão está regulada nos artigos 281º a


287º.

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