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Se tentarmos obter uma visão geral dos factos e dos progressos de investigação mais
importantes que marcaram o desenvolvimento da psicologia vocacional como campo de
estudos, podemos extrapolar três correntes históricas:
• a perspectiva da combinação Homem-Função, que desde a II. Grande Guerra tem
sido designada por teoria de Traço-Factor;
• o ponto de vista da Psicodinâmica do Comportamento Vocacional e;
• a teoria do Desenvolvimento Vocacional.
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Outra distinção que deve fazer-se é entre “escolha” e “ajustamento”. Embora não seja
suficiente, o critério mais conveniente para diferenciar estes dois tipos de
comportamento vocacional é a entrada na profissão. A escolha vocacional ocorre
tipicamente antes do indivíduo entrar no mundo do trabalho, enquanto o ajustamento
vocacional não pode ocorrer até que isso se verifique. Há alguns casos , contudo, em
que as escolhas vocacionais podem ser feitas depois da pessoa estar empregada a tempo
inteiro. Por esta razão, a entrada num emprego não é critério suficiente para distinguir
os comportamentos de escolha e de ajustamento, mas aplica-se à maior parte dos casos.
Contudo, há dois problemas que devem ser resolvidos antes dessa taxonomia poder ser
usada. Primeiro, onde situar a vasta literatura sobre profissões e diferenças profissionais
em termos de traço e factores? Como se referiu, este problema foi tratado de diferentes
modos e nenhum deles é completamente satisfatório. De facto, não haverá uma solução
ideal, mas uma possibilidade que parece viável decorre da distinção que se fez entre os
termos “profissional” e “vocacional”. As profissões foram definidas como variáveis de
estímulo, e não como variáveis de resposta ou comportamentais. Por isso, não devem
ser incluídos na taxonomia de um campo que estuda variáveis comportamentais. O
estudo das profissões deveria ser designado de “profissiologia” para o distinguir de
psicologia ocupacional.
Isto não significa, contudo, que as duas áreas não estejam estreitamente relacionadas.
Pelo contrário, a profissiologia, que compreende aspectos como a análise, classificação
e medição das profissões, a demografia profissional e a informação profissional, pode
ser considerada um dos fundamentos da psicologia vocacional. Do mesmo modo a
psicologia diferencial, que é o estudo das diferenças individuais em termos de traços e
factores, é outro fundamento da psicologia vocacional, principalmente porque variáveis
como as aptidões, os interesses e a personalidade sabe-se que têm uma maior relação
com o comportamento vocacional do que quaisquer outras. Finalmente, a análise das
diferenças entre profissões, que deriva da combinação da psicologia diferencial e da
profissiologia, é o terceiro fundamento da psicologia vocacional. Contudo, este campo
podia ser descrito mais exactamente como o estudo dos correlatos da pertença
profissional. Os membros dum grupo profissional são comparados ou com outros
grupos profissionais ou com um grupo de referência de profissionais em geral, e
observam-se as diferenças em termos de traços e factores. Definidas deste modo, é claro
que as diferenças profissionais não são comportamentos vocacionais, isto é, respostas a
estímulos profissionais e, consequentemente, não são parte do campo de estudos da
psicologia vocacional.
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Os artigos classificados como empíricos incluiriam com certeza, muitos que não só
relatam dados, mas também têm que ver com a teoria e a metodologia, que mais não
seja para pôr hipóteses ou definir variáveis. Os artigos não empíricos, por seu lado, não
relatam dados; seriam exclusivamente “peças teóricas”. Como tal, devem consistir de
afirmações teóricas, conceptualizações de variáveis,, propostas de novas metodologias
ou revisões de literatura. Os estudos de casos deveriam também ser classificados como
não-empíricos. A razão para sugerir a categorização do campo de estudos da psicologia
vocacional em empírico e não-empírico, é Ter uma base para tirar conclusões acerca de
qual a consistência dos conhecimentos acerca do comportamento e do desenvolvimento
vocacionais e em que medida eles confirmam a teoria.
Um campo de estudos é definido não só pelo que é mas também pelo que não é. Há
várias disciplinas que estão intimamente relacionadas com a psicologia vocacional, e é
importante identificar tanto as áreas em comum como as áreas de dissemelhança entre
elas. Os campos com que a psicologia vocacional mais se sobrepõe são a psicologia
industrial, a sociologia profissional e a orientação vocacional. Dá-se a seguir uma breve
definição de cada um e indica-se as percentagens em que se sobrepõem à psicologia
vocacional.
Psicologia Industrial
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Os manuais neste campo cobrem quase sempre tópicos como a análise e exigências das
funções, o exame psicológico do pessoal, a avaliação de desempenho, a medição de
atitudes e do moral, a motivação e satisfação profissional, a concepção do equipamento
e das funções, e os acidentes e segurança.
Contudo, o interesse dos dois campos por estas variáveis é essencialmente diferente. O
psicólogo industrial aborda o seu estudo para resolver os problemas do dia-a-dia no
mundo do trabalho, geralmente com o objectivo de conseguir o funcionamento mais
eficaz possível duma empresa comercial ou industrial, enquanto o psicólogo vocacional
os analisa para conhecer o comportamento e o desenvolvimento do indivíduo ao ajustar-
se ao trabalho. Em virtude destas diferenças de orientação e de objectivo, os psicólogos
industriais podem e vocacionais podem interpretar os mesmos dados de maneiras
bastante diferentes.
A sociologia do trabalho deve ser vista principalmente como o estudo dos papéis sociais
que emergem da classificação dos homens pelo trabalho que fazem.
Orientação Vocacional
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Esta distinção não tem sido geralmente feita, já que, historicamente, o campo da
psicologia vocacional se desenvolveu a partir da prática da orientação vocacional. No
entanto, parece desejável estabelecer uma diferença entre elas, dado que a psicologia
vocacional se está a estabelecer claramente como ciência do comportamento e do
desenvolvimento vocacionais - sem se confundir com os objectivos e procedimentos da
orientação vocacional que é ainda, em grande medida, uma arte. Há uma importante
área de sobreposição (aproximadamente 10%) que deve ser mencionada. Na medida em
que a orientação vocacional, como variável de estímulo ou condição de tratamento, está
funcionalmente relacionada com o comportamento vocacional, ela recai dentro da área
da psicologia vocacional como campo de estudo. Mas uma vez que a literatura sobre
orientação vocacional, quase tão extensa como a da psicologia vocacional, está para
além do âmbito deste texto, não se fará a sua revisão neste contexto.
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