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I

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007


II

REVISTA BONIJURIS
Curitiba: Instituto de Pesquisas Jurídicas
Bonijuris, 1989 - Diretor: Luiz Fernando de
Queiroz
Mensal

ISSN 1809-3256

1. DIREITO - Periódico I.PARANÁ. Instituto de


Pesquisas Jurídicas Bonijuris

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007


III
Sumário

Bonijuris
Revista DOUTRINA
Uniformização de Jurisprudência .................................................................................. 05
MAIO/07 Raquel Cardoso Lopes
Norma Antielisiva Geral e a Despersonalização da Pessoa Jurídica .................... 14
CONSELHOEDITORIAL Kiyoshi Harada
Coordenador: Luiz Fernando Coelho Conseqüências da Omissão da Legenda Partidária em Propaganda Eleitoral .... 15
Antonio Carlos Facioli Chedid André Del Grossi Assumpção
Carlos Alberto Silveira Lenzi Omissões Criminosas: a Redução da Maioridade Penal em Seu Reverso ........... 16
Carlos Roberto Ribas Santiago Domingos Barroso da Costa
Clèmerson Merlin Clève Temas Jurídicos Relevantes en la Integración Sudamericana ..................................... 18
Edésio Franco Passos Ivo Zanoni
Hélio de Melo Mosimann
Humberto D’Ávila Rufino ACÓRDÃO EM DESTAQUE
Mensalidade Escolar - Distinção entre Valor Cobrado de Calouro e de Veterano (STJ) .... 21
Jacinto Nelson de Miranda Coutinho
João Casillo
INTEIRO TEOR
João Oreste Dalazen Localização de Devedor de Alimentos - Interceptação Telefônica - Cabimento (TJ/RS) ... 24
Joel Dias Figueira Júnior Imóvel em Condomínio - Bem Divisível - Pode-se Pleitear a Divisão do Bem (STJ) ......... 25
Manoel Antonio Teixeira Filho Julgamento - Adiamento do Feito - Lapso Temporal Irrazoável (STJ) ........................... 27
Manoel Caetano Ferreira Filho Suspensão Condicional do Processo - Juizado Especial Criminal (STF) ......................... 29
Maximiliano Nagl Garcez Vínculo Empregatício - Inexistência - Invalidade do Contrato de Trabalho (TST) ............. 31
Paulo Henrique Blasi Concurso Público - Nomeação em Padrão Inicial de Carreira (STJ) .................................... 33
Zeno Simm IPI - Restituição - Contribuinte de Fato (TRF/2a. Reg.) .................................................... 35

DIRETOR EMENTÁRIO
Luiz Fernando de Queiroz Civil - Comercial .................................................................................................................. 36
Imobiliário ............................................................................................................................. 38
CONSELHODEPESQUISADORES Processo Civil ....................................................................................................................... 40
André Barbieri Souza Penal - Processo Penal ......................................................................................................... 42
Carlos Oswaldo M. Andrade Trabalhista - Previdenciário ................................................................................................ 44
Eduardo Cambi Administrativo - Constitucional ......................................................................................... 47
Elionora Harumi Takeshiro Tributário .............................................................................................................................. 50
Geison de Oliveira Rodrigues
LEGISLAÇÃO
Geraldo Vaz da Silva
Lei nº 11.460 - Atividade de Liberação Planejada e Cultivo de Organismo Geneticamente
Graziele Riesel Modificado em Unidade de Conservação - Lei 9.985/00 ...................................................... 52
José Lúcio Glomb Lei nº 11.464 - Crime Hediondo - Lei 8.072/90 - Cumprimento da Pena Inicialmente em
Joseph Ernst Gardemann Filho Regime Fechado - Progressão de Regime .............................................................................. 52
Luciano Augusto de Toledo Coelho Lei nº 11.466 - Lei de Execução Penal - Utilização de Telefone Celular - Falta Disciplinar
Luiz Carlos da Rocha Grave do Preso e Crime do Agente Público ......................................................................... 52
Luiz Salvador Medida Provisória nº 361 - Instituição do Auxílio de Avaliação Educacional - AAE -
Maria de Lourdes Cardon Reinhardt Servidor que Participa de Processo de Avaliação - Criação de Cargo em Comissão
Rafael Cessetti para a Realização dos Jogos Pan-Americanos ................................................................... 53
Rogério Distéfano
Roland Hasson COMO DECIDEM OS TRIBUNAIS
Sérgio de Aragon Ferreira O Direito (e a Expectativa de Direito) à Nomeação de Candidato Aprovado em
Solange Roessle Concurso Público: Breves Reflexões à Luz da Jurisprudência ........................................ 55
Sônia Inês Angelo Hidemberg Alves da Frota
Yoshihiro Miyamura
EVENTOS/NOTÍCIAS ..................................................................................................... 58

REPOSITÓRIO OFICIALIZADO CO-EDIÇÃO:


TST Nº 24/2001 AMAPAR - ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO PARANÁ
STF Nº 34/2003 AMC - ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS CATARINENSES
STJ Nº 56/2005 AMATRA - ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO TRABALHO - IX E XII

Revista Bonijuris INSTITUTO DE PESQUISAS JURÍDICAS BONIJURIS


ISSN 1809-3256 R. Marechal Deodoro, 344 - 3º and. - CEP 80010-010 - Curitiba - PR
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IV

APRESENTAÇÃO

Nesta edição, iniciamos a seção Doutrina com a especialista e mestranda em direito Raquel Cardoso Lopes,
que escreve acerca dos mecanismos previstos na lei processual brasileira para uniformização de jurisprudência.
Argumenta que a súmula vinculante desrespeita diversos princípios jurídicos e apresenta-se como um sistema
anacrônico e autoritário, de difícil manejo para o ordenamento jurídico. Versa, também, a respeito do uso do precedente
e do exemplo, que se inicia pela análise da teoria geral do precedente relativamente às suas dimensões, noções centrais
e conexas.
O advogado tributarista Kiyoshi Harada discorre sobre a despersonalização da pessoa jurídica, que configura
matéria objeto de apreciação exclusiva pelo Judiciário, e sobre a norma antielisiva geral, que faculta à autoridade
administrativa desconsiderar determinados negócios jurídicos praticados pelos contribuintes, a fim de evitar que
sejam alcançados pela norma jurídica de tributação, o que implica violação dos princípios da estrita legalidade, da
tipicidade fechada e de reserva absoluta da lei formal, gerando situações de total insegurança e de arbítrio,
incompatíveis com a ordem jurídica vigente.
André Del Grossi Assumpção, promotor de justiça, pondera a respeito das conseqüências da omissão da
legenda partidária em propaganda eleitoral. Enfatiza que não há alteração significativa no equilíbrio do pleito e é tratada
pelo direito brasileiro como mera irregularidade desprovida de sanção específica, e seu descumprimento não acarreta
multa nem inviabilização do candidato ou anulabilidade da eleição.
Na seqüência, o especialista em criminologia Domingos Barroso da Costa disserta sobre a redução da
maioridade penal e sua exploração pela mídia e por políticos. Ressalta que a efetivação de tal medida somente tem por
fundamento desviar as atenções da população para as verdadeiras causas da delinqüência, que não serão solucionadas
com a simples modificação de uma regra penal. Aduz, ainda, que o sistema prisional não comportaria sequer os maiores
que contra si possuem ordens de prisão, e certamente não haverá espaço físico hábil a receber os menores que se
tornarão imputáveis repentinamente.
Por fim, o professor Ivo Zanoni aborda temas referentes à integração dos países sul-americanos e à aplicação
de normas de direito no âmbito do Mercosul. Salienta que se existe a necessidade de leis comunitárias, que estas sejam
baseadas em uma ética transcendental e universal, como forma de tornar compatíveis os direitos e deveres relativos
ao contexto regional com a mundialização dos mercados e as suas normas consideradas universalistas.
Em Acórdão em Destaque, transcrevemos a decisão proferida pela 3a. Turma do Superior Tribunal de Justiça
no Recurso Especial n. 674.571, que estabelece não ser possível a distinção entre o valor das mensalidades cobradas
entre alunos do mesmo curso, mas em períodos diversos. Em seu voto, a relatora, ministra Nancy Andrighi, assinala
que a cobrança das mensalidades só atenderá ao princípio constitucional da isonomia se não houver diferença entre
o valor cobrado dos calouros e o dos veteranos.
Na seção Legislação, transcrevemos o texto das seguintes normas legais: Lei n. 11.460, de 21 de março
de 2007, que dispõe sobre o plantio de organismos geneticamente modificados em unidades de conservação;
Lei n. 11.464, de 28 de março de 2007, que dá nova redação à Lei de Crimes Hediondos, tratando da progressão
de regime e possibilitando a concessão de liberdade provisória para esses delitos; Lei n. 11.466, de 28 de março
de 2007, que altera a Lei de Execução Penal e o Código Penal e passa a prever como falta disciplinar grave do preso
e crime do agente público a utilização de telefone celular; e Medida Provisória n. 361, de 28 de março de 2007, que
institui o Auxílio de Avaliação Educacional (AAE) para os servidores que participarem de processos de avaliação
realizados pelo INEP ou pela Fundação CAPES e cria, em caráter temporário, funções de confiança denominadas
Funções Comissionadas dos Jogos Pan-Americanos.
Em Como Decidem os Tribunais, o advogado Hidemberg Alves da Frota, sob a égide da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, trata do direito à nomeação de candidato aprovado em
concurso público. Destaca que somente existe expectativa de direito, pois apenas caracteriza-se o direito subjetivo
à nomeação, e que a Administração Pública deve preencher as vagas previstas em edital de concurso público na medida
do que julgar necessário, do ponto de vista logístico e possível sob o ângulo financeiro.

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V

UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA
Raquel Cardoso Lopes
Mestranda em Políticas Públicas e Processo na Faculdade de Direito de Campos – FDC
Especialista em Direito do Estado e Administrativo pela Universidade Gama Filho

1. Introdução Predominante; na sua criação não se pensou em


A lei processual brasileira prevê alguns dar-lhes qualquer efeito vinculante, sendo meros
mecanismos de uniformização de jurisprudência, enunciados para uniformizar entendimentos.
tais como: incidente de uniformização de Tais súmulas do Supremo Tribunal Federal
jurisprudência, embargos de divergência; recurso (STF), conforme explica o professor Leonardo
especial; despacho do relator com base no art. 557 Greco “visavam a coibir a chamada ‘loteria
do CPC; ADINs, ADCs e a súmula vinculante. judiciária’, que eram decisões contraditórias sobre
Estes mecanismos serão abordados neste a mesma matéria adotadas pelo próprio Tribunal,
pequeno estudo, que não tem a pretensão de exaurir com grande prejuízo para a eficácia do princípio da
a questão, dando ênfase principalmente às súmulas isonomia” (GRECO, 2004, p. 45).
vinculantes e ao uso do precedente e do exemplo, A partir de então, as súmulas passaram a
utilizando o Direito Comparado especialmente o ser utilizadas como mecanismo de uniformização
italiano, americano e português. de jurisprudência.
Inicialmente será feita uma abordagem da Existindo com a edição da EC nº 45/04
“teoria geral do precedente” acerca das dimensões foram introduzidas em nosso ordenamento jurídico

Doutrina
do precedente (institucional, objetiva, estrutural e as súmulas do STF com efeito vinculante (art. 103-
da eficácia) de Michele Taruffo, numa visão A CF/88).
praticamente acrítica, pois a teoria de Taruffo reina Quanto ao efeito vinculante, não é
solitária na doutrina. Após, “precedente” e particularidade das novas súmulas nem novidade
“exemplo” serão analisados à luz de suas diferenças. no nosso ordenamento, estando presente também
Essa análise inicial será um pouco mais detida em nas decisões das ações declaratórias de
virtude da relevância da compreensão das noções constitucionalidade de lei ou ato normativo (art.
de precedente, exemplo, ratio decidendi, obiter 102, § 2º, da Constituição Federal) e nas ADINs.
dicta, para o restante desta pequena pesquisa. Enquanto as súmulas dizem respeito à
Depois de um breve comentário a respeito consolidação da jurisprudência, ou seja, de
do stare decisis, a fim de usá-lo como parâmetro de diversas e reiteradas decisões, o precedente diz
comparação entre o uso do precedente no direito respeito a uma decisão anterior e a forma como
norte-americano e das súmulas no Brasil, serão determinada norma foi interpretada e aplicada
citados os mecanismos de uniformização de naquele caso específico. Comportam comparações
jurisprudência e por fim mencionaremos algumas no seu uso, tratando-se, contudo, de institutos
questões a respeito das súmulas vinculantes, seu diferentes.
cabimento e aplicação, utilizando as noções
inicialmente tecidas com relação ao precedente e 3. Precedente
institutos conexos. Para o jurista italiano Michele Taruffo,
estudar o uso do precedente ao invés de estudar
2. Breves considerações históricas a jurisprudência, significa aprofundar-se nos
O vocábulo “súmula” vem do latim summula mecanismos mediante os quais a decisão de um
e significa “sumário” ou “resumo”. Em nosso caso influi na decisão de um caso sucessivo, e a
ordenamento jurídico as súmulas como forma de indagar as razões e as justificações, pois enquanto
consolidação da jurisprudência advêm dos o precedente é fundado em uma única decisão, a
assentos do Direito Português desde as jurisprudência é um apanhado de várias decisões
Ordenações do Reino, e no Brasil Império ainda em um ou em vários sentidos.
tiveram força de lei, com objetivo de dirimir conflitos Apesar do precedente judiciário se tratar
jurisprudenciais. de um fenômeno difuso e presente nos
Tendo praticamente desaparecido na ordenamentos tanto da common law como da civil
República, as súmulas retornaram com o prejulgado law, a doutrina deste último não possui uma teoria
trabalhista previsto na Consolidação das Leis do do precedente em razão da maior utilização da
Trabalho de 1943. Em 1982 a Lei nº 7.033 revogou jurisprudência, trazendo-se, conseqüentemente,
este dispositivo, retirando dos prejulgados o poder da common law, a noção de “precedente” bem
coativo. Em 1963 o Supremo Tribunal Federal (STF) como de conceitos conexos a ele, tais como, ratio
por intermédio do ministro Victor Nunes Leal decidendi, obiter dictum, distinguishing e
instituiu as Súmulas de sua Jurisprudência overruling.

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VI
Como já mencionado, o precedente diz respeito a ratio decidendi do caso precedente – e que nos
uma decisão anterior e a maneira como determinada norma ordenamentos da civil law ele tem eficácia meramente
foi interpretada e aplicada naquele caso. Cabe lugar de persuasiva sendo usado como base, argumentação ou
destaque para as peculiaridades que distinguem o justificação da decisão, excluída a obrigatoriedade do juiz
precedente nos vários ordenamentos. de seguir a ratio do caso precedente.
A principal analogia do uso do precedente nos Para um estudo um pouco mais aprofundado esta
ordenamentos da civil law e da common law é o uso solução é insuficiente, não exaurindo a questão, porque
persuasivo (ou de mero fato), típico dos precedentes da nos sistemas da common law o uso vinculante do precedente
civil law (pois nesta, em geral, não há um uso vinculante), não se estende a todos os casos, havendo exceções e certa
e o âmbito de discricionariedade do juiz da common law em discricionariedade do juiz que utiliza o precedente. Por
relação ao emprego do precedente, dizendo-se então, que exemplo, no sistema norte-americano o stare decisis é
o uso do precedente tem modalidades similares nos dois bastante elástico. Há de se falar de discricionariedade até
ordenamentos. mesmo no rígido sistema inglês, onde a própria House of
Com relação à discricionariedade do juiz da common Lords declarou não estar vinculada a seus próprios
law são citados os precedentes desgastados, em desuso, precedentes. Por outro lado, acontece às vezes nos sistemas
assim como os casos de distinguishing, overruling e de civil law que um precedente tenha tanta eficácia que
também aquelas situações, nas quais o uso conduziria a acabe sendo considerado como vinculante.
uma decisão injusta. Considerando o exposto, percebe-se claramente
Por outro prisma, a principal diferença do uso do que o precedente opera de forma diferente nos diversos
precedente nos ordenamentos da common law e da civil ordenamentos jurídicos. Com base nesta concepção,
law é o número de precedentes referíveis em cada caso. No Taruffo (1994, p. 415) formulou uma Teoria Geral do
primeiro existem poucos precedentes referíveis ao caso Precedente capaz de definir as características mais
que deve ser decidido, enquanto no segundo ocorre importantes do precedente e espelhar a sua posição em
exatamente o oposto, havendo muitos precedentes referíveis dado ordenamento pela combinação de quatro dimensões,
ao caso a ser decidido, citando-se mais comumente a a saber: dimensão institucional; dimensão objetiva;
jurisprudência constante e não um precedente singular. Tal dimensão estrutural e dimensão da eficácia.
situação ocorre porque no ordenamento da civil law as
cortes de 2a. instância e superiores decidem muitos casos 3.1. Dimensões do precedente
e cada uma dessas sentenças constitui um precedente em 3.1.1. Dimensão institucional
potencial. Já na common law cada precedente é único e as Diz respeito à relação do precedente com a
cortes superiores decidem pouquíssimos casos. organização judiciária e ao modo em que as decisões se
A questão de se o número de precedentes referíveis relacionam entre o sistema das cortes, pressupondo-se a
ao caso a se decidir influencia a eficácia que o precedente existência de uma organização na qual vige uma hierarquia
manifesta sobre a decisão sucessiva é respondida de forma de autoridade entre os órgãos judiciais.
diferente nos ordenamentos da civil law e da common law, Considerando a organização judiciária e as decisões
pois, para um jurista continental, a existência de um só precedentes dentro desta, podem ocorrer as seguintes
precedente referível pode parecer insuficiente para embasar hipóteses: “precedente vertical”, “precedente horizontal”
uma teoria visto que a jurisprudência a que está acostumado ou “autoprecedente”.
é extensa. Mas, para o jurista da common law um único Para compreensão destas hipóteses Taruffo
precedente é suficientemente influente pelo fato de não idealizou uma pirâmide, na qual posicionou as cortes
existir outro sobre a mesma questão, devendo a decisão superiores no topo e os juízos de primeiro grau na base.
sucessiva obviamente embasar-se nele. Assim, havendo a utilização de decisões
O fator idade também influi sobre a sua eficácia do precedentes da corte suprema ou de juízos superiores
precedente. Assim um precedente recente pode ser colegiados por juízos inferiores monocráticos em casos
considerado mais eficaz porque reflete uma interpretação sucessivos se está diante de um precedente vertical. As
atualizada ou pode ocorrer exatamente o contrário, e cortes localizadas no vértice da pirâmide teriam um grau
considerar-se que este é menos eficaz porque ainda não maior de autoridade e respeitabilidade em relação às cortes
consolidado. Quanto ao precedente antigo, pode ser hierarquicamente inferiores.
considerado mais eficaz porque expressa uma orientação Já se um juiz faz referência a decisão de outro juiz
consolidada ou, ao invés disso, pode ser que seja taxado de mesmo nível, é caso de precedente horizontal, pois
como ineficaz porque superado pela evolução jurídica ou ambos estão situados na mesma linha de hierarquia da
desgastado pelo tempo, caso em que o precedente não pirâmide de Taruffo.
deve ser utilizado, bem como na situação em que a sua O autoprecedente ocorre quando um juiz segue os
utilização possa provocar uma decisão manifestamente seus próprios precedentes, o que, para parte da doutrina
injusta. deveria ser obrigatório por significar uma garantia jurídica
Feitas estas considerações, Taruffo (1994, p. 24) da igualdade na aplicação da lei, numa exigência de coerência
afirma que o problema central da teoria do precedente diz e universabilidade. No entanto, é sabido que o oposto
respeito à eficácia que a decisão de um caso pode manifestar ocorre com freqüência.
sobre a decisão de um caso sucessivo idêntico ou análogo. Observe-se que nos dois primeiros tipos de
Em geral, a solução apontada para a questão é no sentido precedentes (precedente vertical e horizontal), existem
de que na common law o precedente tem eficácia vinculante problemas práticos relacionados à utilização; assim, no
– obrigando o juiz do caso sucessivo a utilizar a mesma precedente vertical, havendo mais de uma corte suprema,

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VII
ou como denomina Michele Taruffo, “corte de vértice”, ratio decidendi, desta maneira, o obiter passa a ter uma
colocada sobre o topo de sua própria jurisdição, pode importância além da que lhe deveria caber, influenciando
ocorrer uma pluralidade (vertical) de precedentes, pois consideravelmente as decisões sucessivas e a formação da
cada jurisdição tendencialmente segue os precedentes de jurisprudência.
sua corte superior; enquanto que no precedente horizontal Melhor e mais precisa explicação dá o professor
o cerne do problema está na ausência de relação institucional Leonardo Greco para as rationes decidendi, conceituando-
hierárquica, que acaba por excluir qualquer vínculo para as “como critérios jurídicos que identificam os fatos
seguir-se o precedente. relevantes da controvérsia e os fundamentos centrais da
Também pela ausência de relação institucional decisão”, enquanto os obiter dicta seriam “argumentos ou
hierárquica não se consideram como precedentes as circunstâncias secundários ou acessórios, ou se lhes
decisões de outras jurisdições ou estrangeiras, salvo as confere eficácia persuasiva” (GRECO, 2004, p. 46).
cortes supranacionais como as de Direitos do Homem, tal A respeito das técnicas pelas quais se determina o
qual a Corte Interamericana de Direitos Humanos. É caso de precedente cabem algumas considerações. No método
“exemplo” e não mais de uso do precedente. O exemplo, seu anglo-americano chamado de reporting selecionam-se os
conceito e uso serão mais adiante casos em função da idoneidade em
abordados. constituírem precedentes. Este método
Já no caso do autoprecedente O autoprecedente ocorre consiste em interpretar a decisão à luz
a dificuldade reside no fato de que quando um juiz segue os dos fatos específicos do caso,
nenhuma corte está completamente seus próprios precedentes, o limitando o número de precedentes e
vinculada a seus próprios precedentes, que, para parte da doutrina favorecendo o uso de rationes
nem mesmo nos ordenamentos que deveria ser obrigatório por decidendi concretas.
adotam a common law (e os significar uma garantia O método italiano é bem
precedentes vinculantes). diferente do reporting; nele somente
jurídica da igualdade na
as sentenças da Cassação podem
3.1.2. Dimensão objetiva
aplicação da lei, numa constituir precedentes, todavia, quem
Esta dimensão, segundo exigência de coerência e define o precedente é o Ufficio Del
Michele Taruffo, idealizador da teoria universabilidade. No Massimario, e não a corte que o firmou,
ora apresentada, diz respeito à entanto, é sabido que o de modo que são recorrentes os casos
determinação da capacidade do oposto ocorre com nos quais as ementas enunciam um
precedente influenciar a decisão freqüência critério diferente daquele determinado
sucessiva, utilizando-se a mesma ratio pela decisão. Isso acontece porque
na decisão sucessiva, sendo para tanto todos os princípios jurídicos
necessário distinguir a ratio decidendi do obiter dicta. encontrados na motivação da sentença passam a fazer
Em linhas gerais, pode-se afirmar que as rationes parte das ementas, independente de se tratar de rationes
decidendi referem-se à eficácia do precedente, enquanto decidendi ou obiter dicta. Este é o exemplo típico da
os obiter dictum têm função meramente persuasiva. situação através da qual o obiter dicta passa a ter influência
No entanto, na prática não é tão fácil distinguir a nas decisões sucessivas, pois podem adquirir a mesma
ratio decidendi do obiter dicta, pois a primeira tem noção eficácia das rationes decidendi, ao passo que a ementa
ambígua, podendo tratar-se de critério jurídico usado para perde a essência, enunciando algo que não corresponde
qualificar fatos relevantes da controvérsia e para decidir efetivamente às considerações feitas pelo julgador na
sobre esses (nesse caso fazendo maior referência aos decisão precedente. Tal situação não ocorre somente na
fatos); princípio jurídico usado como critério para decidir Itália, sendo também freqüente no Brasil.
(já aqui a maior ênfase é dada à norma); argumento jurídico Abrindo-se um parêntese para falar a respeito
empregado para justificar a decisão relativa à qualificação das técnicas para determinação do precedente no Brasil,
dos fatos ou a decisão relativa à escolha de regula iuris ou aqui se utilizam as súmulas, que aspiraram ser enunciados
ambas. sintéticos ou fórmulas abstratas a serem utilizadas nos
Neste ponto, é preciso ressaltar que quando a corte casos sucessivos, assemelhando-se mais à técnica
decide o mérito da causa, a noção de ratio decidendi refere- italiana do que à americana, até mesmo em seus aspectos
se mais aos fatos relevantes da controvérsia e traz uma negativos.
regra de direito “concretizada”; o mesmo não ocorre quando Lênio Streck em brilhante ensaio compara as súmulas
a Corte decide apenas a questio iuris, prevalecendo neste nos ordenamentos jurídicos dos EUA e do Brasil afirmando
caso a regra de direito em si considerada e enunciada que no ementário da terra pátria perde-se de vista as
abstratamente. Assim, por exemplo, no Brasil será importante rationes decidendi, criando-se súmulas esdrúxulas, ao
distinguir os casos nos quais o Supremo Tribunal Federal contrário do que ocorre nos Estados Unidos:
(STF) atua como corte constitucional daqueles em que ele “[...] no Direito brasileiro, [...] a expressiva maioria
tem competência originária. das decisões judiciais se baseia em ‘precedentes sumulares’
Na prática, ao analisar-se uma decisão, após definir e verbetes jurisprudenciais retirados de repertórios
o que é ratio decidendi, o obiter dicta será definido por ‘standartizados’, que acabam sendo utilizados, via de regra,
exclusão: é tudo aquilo que não adentrar na ratio. Esta de forma descontextualizada. Isso, porém, não ocorre no
indefinição quanto ao conceito de ratio decidendi passou Direito norte-americano, pela relevante circunstância de
a ser considerada como aspecto relevante porque muitas que lá, o juiz necessita fundamentar e justificar
vezes não é possível se distinguir o que é obiter do que é detalhadamente a sua decisão.”

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VIII
No Brasil, os julgados que dão origem à súmula são comporta a ocorrência de duas modalidades distintas que
sempre mencionados no bojo desta, sendo eles as rationes se subdividem em duas hipóteses cada. Na primeira delas,
decidendi. Portanto, os casos sucessivos que objetivarem várias decisões seriam proferidas num mesmo sentido
usar súmula como precedente devem obrigatoriamente ser (decisões uniformes), num curto período de tempo,
comparados com as rationes decidendi, ou seja, com os representando: (a) o início de uma nova orientação ou, ao
julgados que a originaram, e somente havendo identidade contrário disso, (b) uma orientação efêmera, restrita àquele
as súmulas devem ser chamadas àquele caso sucessivo. período. Pode ocorrer, e esta seria a segunda modalidade,
Esta precaução deveria ser tomada a fim de não se que se profiram muitas decisões uniformes ao longo do
outorgarem poderes normativos às decisões dos juízos tempo, significando, conforme a circunstância fática, que
superiores, como alerta o professor Leonardo Greco; (a) esta é uma orientação consolidada ou, ao invés disso,
infelizmente não é o que se tem visto na prática. (b) que é uma orientação velha, em desacordo com o
No direito português, os assentos atuais1 (previstos restante do ordenamento jurídico e destinada a ser
no art. 2º do Código Civil) também tinham a pretensão de ser abandonada.
um enunciado geral e abstrato com eficácia geral sem ser A terceira situação diz respeito à existência de dois
normativa, obrigando os tribunais e não os cidadãos. Silvio precedentes referíveis, podendo tratar-se de duas decisões
Nazareno Costa, discordando que isso seja possível, ou mesmo duas linhas de decisões em conflito,
afirmou que “só a lei – formal ou material – pode ter eficácia pronunciadas pelo mesmo órgão ou órgãos diversos, em
geral” e porque seria impossível que as súmulas só conflito seria a terceira modalidade, que com muita
obrigassem os tribunais (ou juízes) sem atingir diretamente freqüência ocorre na Cassação italiana. Às vezes não está
o cidadão, pois é este o destinatário final das súmulas: claro quando uma orientação jurisprudencial é majoritária,
quem vai ao judiciário pleitear seus direitos e teria que vê- além disso, a orientação minoritária pode exprimir ou uma
lo atingido pela aplicação das súmulas, enquanto que o juiz tendência já superada ou o início de uma nova tendência.
é destinatário delas como mero aplicador: Neste caso, o juiz do caso sucessivo tem que fazer uma
“Os assentos não são meras determinações opção entre tomar uma decisão diferente ou seguir um dos
administrativas, voltadas apenas para o uso interno da precedentes existentes, motivando e justificando sua
corporação judiciária. São – como as súmulas e os escolha.
regimentos internos dos tribunais – normas com efeitos A quarta e última hipótese é a do chamado “caos
externos, voltadas, portanto, para os usuários do Poder jurisprudencial”, situação onde há pulverização ou
Judiciário (as partes) [...]. O direito regrado não será o do contraditoriedade plural entre decisões, ocorrendo quando
Juiz, mas o das partes. Assim, o Juiz será tão-só o aplicador sobre o mesmo caso existem orientações diferentes e
da norma, ou seu destinatário operacional” (Costa, 2002). incoerentes; pode ser que esta hipótese ocorra entre
Informa ainda que “o TCP declarou inconstitucional jurisprudências do mesmo órgão ou de órgãos diversos.
a norma do art. 2º do CCP, 98 na parte em que atribui aos À primeira vista pode soar estranho fazer referência
tribunais competência para fixar assentos com eficácia a decisões precedentes nesta situação, mas na realidade é
erga omnes, por violação ao art. 115 da CRP então vigente” mais fácil encontrar um precedente desejável nesta situação,
por meio do acórdão nº 810/93, de 7 de dezembro de 1993, ou melhor, é teoricamente possível encontrar um precedente
residindo sua inconstitucionalidade na possibilidade do para qualquer situação. Apesar de ser um uso equivocado
Judiciário “realizar interpretações ou integrações autênticas do precedente, a sua ocorrência é bastante freqüente.
da legislação, com força geral, assumindo, assim,
características normativas impróprias desse Poder”. 3.1.4. Dimensão da eficácia
Esta dimensão versa sobre a natureza e a intensidade
3.1.3. Dimensão estrutural da influência do precedente sobre o caso sucessivo. Para
Diz respeito aos precedentes usados como ilustrar as hipóteses de ocorrência desta dimensão, Michele
referência para uma decisão sucessiva. Podem ocorrer Taruffo formulou uma escala de vários graus da eficácia do
quatro principais situações, adiante explicadas: quando há precedente que teria a importância de estabelecer se o
somente um precedente referível; quando há mais de um precedente existe em dado ordenamento jurídico e quais
precedente referível, sendo todos no mesmo sentido ou suas principais características.
com a mesma orientação; quando existem dois precedentes No grau máximo superior estaria a obrigação absoluta
referíveis ou duas correntes de precedentes, e estes têm de seguir o precedente, assim ter-se-ia eficácia vinculante
orientações conflitantes ou opostas; e, por último, quando para todos os casos sucessivos idênticos ou análogos.
existem vários precedentes referíveis com várias orientações Os graus intermediários seriam os seguintes em
diferentes. escala descendente: binding, neste grau o precedente
Na primeira situação, aquela na qual onde há um só deve ser seguido salvo as exceções previstas de forma
precedente idôneo para ser utilizado, a questão resolve-se expressa; defeasibily binding, grau no qual o precedente
facilmente pois a orientação é num único sentido. Sua deverá ser seguido a menos que existam boas razões para
ocorrência é muito mais comum ou corriqueira nos sistemas não fazê-lo, o que obrigaria o juiz a justificar a opção de não
de common law, porque nesses as cortes supremas e de segui-lo; e weakly binding, penúltimo grau na escala de
apelação pronunciam menos sentenças e solucionam apenas Taruffo, que representa apenas uma expectativa genérica
os casos nos quais tencionam estabelecer precedentes. de que o precedente venha a ser seguido.
A situação caracterizada pela existência de mais de O grau inferior desta escala representa a situação
um precedente com a mesma solução para a questão, ou na qual o juiz do caso sucessivo disporia de plena
seja, por uma jurisprudência “constante” ou “uniforme”, discricionariedade em relação ao uso do precedente, não

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IX
tendo nenhuma vinculação com relação ao caso anterior segunda instância no sistema judiciário em que o caso
nem tampouco que justificar sua opção por abandonar o está para ser decidido, aplicado aos fatos relevantes que
precedente. criam questão colocada para a Corte para decisão” (COLE,
Do lado de fora desta classificação existiriam ainda 1998, p.71).
algumas situações relevantes, especialmente duas, Michele Taruffo procura defini-lo de maneira mais
versando uma respeito ao uso de uma decisão a título de abstrata, partindo da noção de ratio decidendi e da
exemplo e a outra sobre a hipótese na qual o precedente obrigatoriedade ou força vinculante que o precedente pode
vinculante seria substituído por uma nova ratio decidendi exercer nas decisões sucessivas de casos iguais ou
destinada a valer para casos futuros, este último chamado similares; tal conceito é também adotado por Leonardo
pela doutrina de overruling expresso, tema que passaremos Greco, que enfatiza a função prescritiva do precedente:
a abordar agora. “[...] Il precedente é definito e caratterizzato dal
convincimento che la ratio decidendi su cui esso si
3.2. Overruling, revirement e distingishing fonda debba essere usata ed applicata come criterio per
O stare decisis norte-americano é maleável e la decisione di un caso sucessivo uguale o simile. La
acompanha a evolução da sociedade, <<doverosità>> dell’aplicazione di
nele o overruling ocorre quando o questo criterio può essere più o
Tribunal que abandona o precedente Às vezes não está claro meno intensa a seconda dei casi [...]
no julgamento de um caso sucessivo é quando uma orientação il precedente deve essere, dovrebbe
o mesmo que anteriormente o havia jurisprudencial é majoritária, essere, o è desiderabile che sia
firmado, ou nas palavras de Barbosa além disso, a orientação seguìto ed usato come criterio o
Moreira é “quando a Corte passa de minoritária pode exprimir ou come punto di riferimento per la
uma posição à oposta” (2004, p. 246). uma tendência já superada ou deciose successiva 2 ”. (TARUFFO,
Nos ordenamentos da common o início de uma nova 1994, p. 27).
law, os precedentes overruled são tendência. Neste caso, o juiz Na realidade, o próprio Taruffo
excluídos de forma expressa e perdem do caso sucessivo tem que faz uma ressalva a esta definição,
imediatamente a eficácia. Não existe afirmando que a noção central de
fazer uma opção entre tomar
overruling na civil law, mas ocorre “precedente” é uma questão muito
uma decisão diferente ou
algo parecido quando uma corte declara problemática, e que a este conceito
seguir um dos precedentes
abandonar um precedente para seguir deve-se somar a dificuldade de
outro, através do revirement existentes, motivando e determinar o que é ratio decidendi.
jurisprudencial expresso. justificando sua escolha Assim, para conceituar-se precedente,
O revirement não exclui o necessita-se compreender plenamente
precedente anterior da jurisprudência como o overruling e o que é ratio decidendi.
nem veda que a este se volte com um novo revirement. Apesar das dificuldades em determinar-se o que
Certamente a ocorrência desta última hipótese enseja são as rationes decidendi, já se explicou anteriormente3 e
dificuldades de ordem prática que podem até mesmo abalar se adotou o conceito de que são “como critérios jurídicos
a segurança jurídica, não sendo, destarte, tão simples que identificam os fatos relevantes da controvérsia e os
retornar a um posicionamento anterior como pode parecer fundamentos centrais da decisão”. Destarte, a ratio
quando se apresenta a hipótese na teoria. decidendi, deveria ser obrigatoriamente utilizada para uma
Em suma, overruling e revirement são técnicas para decisão sucessiva quando se tratasse de caso igual ou
substituir um precedente por outro com nova orientação. similar, considerando-se todos os aspectos do caso
O distinguishing já é uma técnica um pouco sucessivo analisado minuciosamente e comparado com o
diferente. Através dele qualquer juízo ou tribunal pode precedente. O uso correto do precedente deve ser baseado
deixar de aplicar o precedente, seja o que firmou o precedente nestes argumentos.
ou um outro, não importando se o juízo ou tribunal é inferior Com relação ao exemplo não se pode dizer o mesmo
àquele; exige-se apenas que se faça uma análise criteriosa por especialmente não conter em sua essência este caráter
e minuciosa do precedente e do caso a ser decidido, de obrigatoriedade, havendo outras características distintas
comparando-os para comprovar-se que são distintos, ou do precedente, conforme se verá a seguir.
como preferem alguns, não são idênticos nem análogos, O professor Leonardo Greco (GRECO, 2004, p. 47)
pois o precedente só vai servir como fonte quando houver afirma que enquanto o precedente deve ser seguido ou é
absoluta identidade de casos. desejável que seja seguido ou usado como critério ou
ponto de referência para decisões futuras, a função do
4. Precedente e exemplo – distinção exemplo não é prescritiva, mas meramente ilustrativa, tanto
Não se pode falar de precedente todas as vezes nas que os julgamentos subseqüentes podem ou não segui-lo,
quais o juiz se remeter a uma decisão anterior, existindo por um critério absolutamente discricionário.
situações nas quais a referência àquela decisão é Algumas características fundamentais do
caracterizada meramente como exemplo, que é utilizado de precedente em sentido próprio e do exemplo podem ser
maneira diversa, por possuir características distintas das apontadas a fim de distinguirem-se esses institutos.
do precedente em sentido estrito. O precedente tem caráter de universabilidade, ou
Charles D. Cole, observando especificamente o seja, a regra que dele emana objetiva ser geral e aplicável
sistema norte-americano do stare decisis, define precedente a todos os outros casos sucessivos idênticos ou análogos
como sendo “a regra de direito usada por uma Corte de (comparadas as rationes decidendi destes com o

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X
precedente); esta característica não se encontra no exemplo A própria expressão stare decisis significa “ater-se
pois ele nada mais é do que o próprio nome diz, tendo aos (casos) decididos” (MOREIRA, 2004, p. 246).
apenas uso ilustrativo. Através dessa política obrigam-se as cortes
Outra característica marcante do precedente é a subordinadas a obedecerem aos precedentes estabelecidos
obrigatoriedade de sua aplicação. A citada universabilidade por decisão da sua corte de segunda instância e pela Corte
só faz sentido se houver uma obrigatoriedade no uso Suprema dos Estados Unidos, da forma a seguir elucidada.
precedente, e por outro lado, a aplicabilidade do precedente As decisões por voto da maioria das cortes de
deve ser compreendida com conotação obrigatória a todos segunda instância estadual ou federal, envolvendo leis
os outros casos sucessivos idênticos ou análogos em estaduais ou federais, respectivamente, constituem
razão da universabilidade, assim, estas duas primeiras precedente vinculante, até que outro precedente venha a
características completam-se. ser estabelecido e o anterior seja abandonado. Não se
O precedente também se caracteriza pela assemelha em nada ao nosso sistema neste aspecto, visto
uniformidade ou garantia jurídica de igualdade de tratamento que o precedente é único e não a junção de várias e
para casos iguais ou semelhantes na aplicação de reiteradas decisões no mesmo sentido formando uma
determinada norma. Tem função preceptiva ou normativa; orientação jurisprudencial, como ocorre no Brasil.
que se torna mais perceptível quando utilizado de forma Os pedidos de apreciação de um caso para julgamento
vinculante como no stare decisis, onde se diz que o pela Suprema Corte norte-americana são dirigidos a ela através
precedente tem força de lei enquanto estiver em vigor; o das petitiones for certionari, e, dentre todas as petições
contrário ocorre com o exemplo, que jamais terá essa função recebidas, a Corte tem o poder discricionário de escolher quais
sendo apenas uma amostra do uso de uma norma ou de um casos são suficientemente relevantes e, portanto, pretende
caso concreto. julgar. As decisões proferidas nestes casos são precedentes
O uso do precedente pode ser feito somente em vinculantes para todas as cortes e instâncias nos Estados
sentido positivo, ou seja, no sentido de mostrar a regra de Unidos, e enquanto estiverem em vigor, apesar de não serem
direito que deve ser utilizada no caso a ser decidido em atos legislativos, têm força normativa, ou de lei.
razão da identidade ou analogia existente entre eles. O uso Cumpre lembrar que o julgamento pelo segundo
em negativo, ou seja, tencionando a inaplicabilidade grau de jurisdição nos Estados Unidos é direito da parte, no
daquela ratio decidendi no caso sucessivo não configura entanto, o terceiro grau, que seria o julgamento pela Suprema
emprego do precedente, podendo ser conforme a hipótese, Corte, só ocorre quando esta entender que é de interesse
caso de distinguishing, overruling ou mesmo de exemplo. nacional com a finalidade de fixar um precedente quanto ao
O exemplo não é passível de universalização, sendo ponto, destarte, não existe direito subjetivo para o
exemplo de uma norma específica, sem a intenção de julgamento pela Corte máxima norte-americana.
prescrever aquela aplicação em outras situações; sua função Apesar disso, existe a possibilidade da não-
é ostensiva, ou seja, demonstra-se que em um caso aplicação do precedente ou mesmo da necessidade de
específico foi decidido daquela maneira, com aplicação de revisão deste, consistentes no overruling e distinguish,
um determinado critério de decisão, e que esta informação explicados anteriormente.
pode ser útil para o caso a ser decidido. Há também uma tendência no sentido da
O uso do exemplo é completamente discricionário flexibilização do stare decisis motivada pelo fato de que os
em contraponto ao caráter tendencialmente obrigatório tribunais não mais se sentem vinculados aos seus próprios
do precedente; tem também uma maior amplitude por precedentes4, e ainda pela necessidade de adaptação às
comportar outras modalidades além da restrita utilização questões ligadas à evolução política, econômica e social.
em sentido positivo do precedente, tais como: o uso de Observe-se também que não são consideradas como
uma decisão anterior que não tem caráter de precedente precedentes vinculantes as decisões dos juízos de primeira
por faltar-lhe alguma condição; decisões de juízes instância, no entanto, quando o juiz de primeira instância
superiores não hierarquicamente sobrepostos, ou de juízes tem que decidir um caso sobre o qual não há precedente,
de outras jurisdições, superiores ou de mesma hierarquia, terá discricionariedade para utilizar a autoridade persuasiva
tais como os juízos estrangeiros ou administrativos; cabe mais análoga ou apontar a lei que reputar cabível, sendo
ainda o uso de decisões de juízos inferiores; ou mesmo, esta situação chamada de “caso de primeira impressão”.
o uso em sentido negativo, ou seja, o exemplo da aplicação Com relação às decisões de primeira instância,
de uma norma que não deve ser seguida ou deve ser também pode acontecer que o julgador depare-se com um
evitada. caso sobre o qual o precedente já esteja muito desgastado,
devendo obviamente ser revogado pela corte recursal
5. Stare decisis norte-americano própria; nessa situação, mesmo não sendo o juiz de primeira
Os Estados Unidos está fundamentado na common instância competente para revogar um precedente, ele pode
law e adota a política do stare decisis, uma criação americana optar por não seguir o precedente desgastado, ficando
influenciada pelo modelo econômico capitalista, que facultado à parte perdedora recorrer da decisão alegando
suscitou a preocupação da fixação de uma jurisprudência erro por não aplicação do precedente.
uniforme.
“[...] ‘precedente’ é a regra de direito usada por uma 6. Instrumentos de uniformização de
Corte de segunda instância no sistema judiciário em que o jurisprudência
caso está para ser decidido, aplicado aos fatos relevantes O “livre convencimento motivado do juiz” também
que criaram questão colocada para a Corte para decisão” conhecido como “princípio da persuasão racional do juiz”
(COLE, p. 93, 1998). é um dos princípios gerais de direito processual adotado no

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XI
Brasil; por meio dele o juiz tem discricionariedade para em todos os casos iguais ou análogos, evitando ao máximo
valorar as provas constantes dos autos, convencendo-se as tão danosas divergências jurisprudenciais.
racionalmente e motivando a sua decisão5, utilizando para Por meio dele, a causa principal é suspensa,
tanto os métodos da hermenêutica, observados os apreciando-se o direito aplicável à hipótese concreta para
princípios de Direito, especialmente os consagrados determinar-se por meio do julgamento deste incidente a
constitucionalmente. Ele é explicado por Ada Pellegrini nos correta interpretação da norma aplicável ou a tese jurídica
seguintes termos: a ser observada no processo suspenso. Destarte, o
“[...] o juiz não é desvinculado da prova e dos julgamento do incidente terá força vinculante para o
elementos existentes nos autos (quod non est in actis non processo no qual foi suscitado.
est in mundo), mas a sua apreciação não depende de Nos Juizados Especiais Federais, o pedido de
critérios legais determinados a priori. O juiz só decide com uniformização de jurisprudência, referente à interpretação
base nos elementos existentes no processo, mas os avalia de leis federais, é regulado pelo art. 14, caput da Lei 10.259/
segundo critérios críticos e racionais (CPC, arts. 131 e 436; 01, sendo restrita a questões de direito material.
CPP, arts. 157 e 182). O art. 557 do CPC com a redação determinada pela
Segundo Fernando Capez: “Os Lei nº 9.756/98 prevê que o relator
juízes estão livres para decidir de acordo negue seguimento a recurso
com sua convicção pessoal, mesmo O precedente tem caráter de manifestamente inadmissível,
que para tanto, tenha de caminhar em universabilidade, ou seja, a improcedente, prejudicado ou que
sentido contrário a toda a corrente regra que dele emana objetiva esteja em confronto com súmula ou
dominante.” ser geral e aplicável a todos os jurisprudência dominante do
Apesar de todos estes aspectos outros casos sucessivos respectivo tribunal, do Supremo
positivos, o princípio do livre Tribunal Federal (STF) ou de tribunal
idênticos ou análogos
convencimento do juiz pode superior. Na interpretação deste
(comparadas as rationes
ocasionalmente acarretar dispositivo deve-se ver uma faculdade
interpretações diversas e muitas vezes decidendi destes com o atribuída ao relator, e a possibilidade
até mesmo antagônicas da mesma precedente); esta característica de aplicação moderada.
norma, podendo acontecer que duas não se encontra no exemplo Notando a tendência do nosso
pessoas em situações idênticas vejam pois ele nada mais é do que o ordenamento de valorização do
suas demandas serem julgadas de forma próprio nome diz, tendo apenas precedente, especialmente aquele
diametralmente opostas. uso ilustrativo sumulado, ou mesmo o crescimento
Para evitar tal inconveniente, a da autoridade do precedente
lei processual criou alguns jurisprudencial, ressaltada neste
mecanismos, ora apresentados: recurso especial (art. 105, artigo do 557 do CPC, Costa manifestou-se da seguinte
III da CF/88); embargos de divergência (art. 496 CPC); forma em relação a este mecanismo:
incidente de uniformização de jurisprudência (art. 476 e ss. “Vê-se, aqui, a valorização da jurisprudência
CPC); despacho do relator com base no art. 557 CPC; majoritária, sumulada ou não, e do princípio hierárquico.
ADINs (102, I, a CF/88), ADCs (102, I, a CF/88) e a súmula Com base nesse dispositivo legal, cresce a autoridade do
vinculante (103-A CF/88). precedente jurisprudencial, chegando mesmo a equiparar-
No art. 105, III da CF/88 temos o recurso especial, se, enquanto parâmetro de admissibilidade, à norma de lei”
um mecanismo dito “repressivo” porque posterior à prolação (2002).
da decisão divergente, assim como os embargos de A ação direta de inconstitucionalidade e a ação
divergência. direta de constitucionalidade de lei ou ato normativo
O recurso especial é cabível nas causas decididas, federal ou estadual estão previstas na alínea a do art. 102,
em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais I da CF/88, que teve sua redação determinada pela EC nº
Federais ou dos Estados e DF, quando a decisão recorrida 03/93. Estes instrumentos de uniformização derivam da
contrariar ou negar vigência a tratado ou lei federal; julgar tradição do controle concentrado de constitucionalidade
válido ato de governo local contestado em face de lei e deram ao STF um poder normativo.
federal; der a lei federal interpretação divergente da que As decisões proferidas nessas ações produzirão
lhe haja atribuído outro tribunal. Deve ser interposto efeito vinculante, com relação aos demais órgãos do Poder
perante o presidente ou vice-presidente do tribunal Judiciário e, também, na esfera administrativa direta e
recorrido, estando o procedimento previsto nos arts. 541 indireta, federal, estadual e municipal, constituindo
a 546 do CPC. precedentes a serem observados.
Os embargos de divergência estão previstos nos Há ainda o art. 557 do CPC com a nova redação dada
arts. 496, VIII e 546 CPC, sendo cabíveis contra a decisão pela Lei nº 9.756/98, que dispõe que o relator negará
de uma turma quando esta divergir do julgamento de outra seguimento a recurso se a tese jurídica nele sustentada
turma, da seção ou do órgão especial em se tratando de estiver em conflito com a jurisprudência dominante do
recurso especial; e no caso de recurso extraordinário, respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou de
quando divergir do julgamento da outra turma ou do plenário. tribunal superior. Poderá o relator dar provimento ao recurso
Já os arts. 476 a 479 do CPC apresentam um no caso de a decisão recorrida estar em confronto com
mecanismo preventivo, regulando o incidente de súmula ou jurisprudência dominante do STF ou de Tribunal
uniformização de jurisprudência, com o objetivo de que um Superior. Lembramos que súmula da jurisprudência
tribunal interprete uma mesma lei sempre de maneira igual dominante de um tribunal não possui força vinculante,

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XII
salvo nas hipóteses do art. 103-A CF/88, como se verá poderia colocar em perigo a proteção aos princípios do
adiante. Conforme ensina José Carlos Barbosa Moreira, a Estado de Direito, ferindo-se as garantias fundamentais do
‘jurisprudência dominante’ é variável de acordo com o processo; demonstram as dificuldades de transpor um
tempo, portanto não se tem um conceito preciso. instituto típico da common law para um ordenamento da
Com relação à súmula vinculante discorrer-se-á em civil law; denunciam um possível engessamento das
tópico específico dada a sua relevância. instâncias inferiores do Poder Judiciário bem como a ofensa
Alexandre Câmara reconhece no § 1º do art. 555 do ao princípio do livre convencimento motivado do juiz; e
CPC, criado pela Lei nº 10.352/01, mais um mecanismo de ainda, desmistificam a crença na grande aceleração dos
prevenção, “destinado a compor dissídios jurisprudenciais processos em virtude da utilização da súmula vinculante.
internos de um dado tribunal, tendo, pois, função É certo que o debate silenciou-se um pouco após a
equivalente ao do incidente de uniformização de adoção das súmulas pela EC nº 45, estando-se agora a
jurisprudência.” (CÂMARA, 2005, p .51). aguardar os efeitos que produzirá.
Não se confundem súmula com jurisprudência,
7. Súmula vinculante – EC nº 45/04 sendo esta última, na definição dada por Fernando Capez,
Para sua introdução no nosso ordenamento, duas “a reiteração uniforme e constante de uma decisão sempre
propostas foram discutidas paralelamente: a primeira, de no mesmo sentido” (CAPEZ, 2005), enquanto a primeira
autoria do deputado Jairo Carneiro (PFL/BA), que, dentre derivaria de todos os casos iguais ou semelhantes
outras inovações, previa a criação da súmula vinculante e o anteriormente decididos, desta sendo uma síntese através
crime de responsabilidade pelo seu descumprimento, de um enunciado daquilo que se convencionou quanto à
tramitava na Câmara dos Deputados, e a segunda, de autoria questão.
do senador Ronaldo Cunha Lima (PMDB/PB), tramitava no Ainda é muito cedo para dizer se felizmente ou
Senado através da PEC 54/95, com a finalidade de instituir o infelizmente a E.C. nº 45/04 virou realidade, trazendo consigo
efeito vinculante nas decisões definitivas de mérito do STF, a súmula vinculante e dando a seguinte redação ao art. 103-
que finalmente tornaram-se as atuais súmulas vinculantes. A CF/88:
Para alguns, a expressão “súmula vinculante” não “Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá,
seria correta defendendo estes que fosse adotada em seu de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois
lugar “súmula vinculadora”6, tendo o constituinte preferido terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre
a primeira. matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua
Assim, a súmula vinculante do Supremo Tribunal publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
Federal foi recentemente introduzida em nosso ordenamento relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
através do art. 8º da Emenda Constitucional nº 45, que foi administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
aprovada em 17 de novembro de 2004 após treze anos de estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
tramitação, tendo sido promulgada em 08 de dezembro de cancelamento, na forma estabelecida em lei.
2004 e publicada no DOU de 31 de dezembro de 2004, § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a
entrando em vigor nesta mesma data; por meio dela inseriu- interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca
se o art. 103-A da Carta Magna em vigor (Constituição das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários
Brasileira de 1988). Portanto, instrumento tão recente ainda ou entre esses e a administração pública que acarrete grave
não teve suficiente aplicação que seja capaz de confirmar insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos
ou derrubar as teses levantadas à época em que a súmula sobre questão idêntica.
vinculante não passava de um projeto de emenda à § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em
Constituição (PEC). lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá
Antes da sua aprovação a súmula vinculante já ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta
causava grande reboliço no meio jurídico, dividindo a de inconstitucionalidade.
comunidade jurídica em a favor e contra a sua adoção. § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que
Lênio Streck chegou a afirmar que a súmula vinculante não contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar,
passava de um “projeto de poder” assim como as demais caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que,
reformas constitucionais que à época estavam em tramitação julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou
no Congresso Nacional, objetivando “gestar um novo cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que
modo de produção de Direito, condizente com a pós- outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula,
modernidade globalizante”. Streck defendeu conforme o caso.”
veementemente a utilização do art. 38 da Lei 8.038/907 O objetivo desta norma é uniformizar os
alegando que esta seria uma “forma de vinculação sumular”, entendimentos ou, melhor dizendo, uniformizar a
e a continuação do uso persuasivo das súmulas da forma jurisprudência, no entanto, uma parte da doutrina afirma
como já se vinha fazendo no Brasil. que tendo sido criada por norma imperfeita (lex imperfecta),
As súmulas vinculantes vêm de longa data sendo contém um preceito sem sanção, assim, a priori não haverá
apontadas como uma das alternativas para aliviar a crise do punição pelo descumprimento do efeito vinculante e as
Judiciário, agilizando-se por meio delas o julgamento dos decisões do Supremo continuarão tendo autoridade apenas
processos. Seus defensores inspiram-se principalmente no persuasiva.
modelo norte-americano do stare decisis. Somente o Supremo Tribunal Federal tem
De outro lado, uma respeitável parte da Doutrina competência para aprovar a súmula vinculante, de ofício ou
enumera graves inconvenientes da adoção da súmula por provocação, exigindo a redação da EC nº 45/04 como
vinculante no Brasil, dentre estes: afirma que este mecanismo pressuposto que as atuais súmulas do Supremo Tribunal

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XIII
Federal sejam confirmadas por dois terços de seus integrantes a ampla defesa e o contraditório; o princípio da separação
e publicadas na imprensa oficial; que versem unicamente dos Poderes; do livre convencimento, pois a regra do efeito
sobre matéria constitucional, não havendo, portanto, vinculante os inibiria de interpretar as normas e regras de
jurisprudência vinculante em matéria infraconstitucional, e direito aplicáveis; e do duplo grau de jurisdição.
ainda, de acordo com o § 1º do art. 103-A, da CF, “a súmula Antes mesmo da adoção do atual art. 103-A da
terá por objetivo a validade, interpretação e a eficácia de CF/88, renomados doutrinadores já posicionavam-se de
normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia forma contrária a esta reforma, tais como Lênio Streck,
atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração Fábio Konder Comparato, Leonardo Greco, José Carlos
pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante Barbosa Moreira, dentre outros do mesmo e alto quilate.
multiplicação de processos sobre questão idêntica” para só, Ainda para estes últimos, não é possível
então, após produzirem efeito vinculante. simplesmente transplantar um mecanismo típico do sistema
Poderão aprovar, rever ou cancelar a súmula de common law (precedente vinculante) para outro sistema
vinculante, por serem para tanto legitimados, aqueles que jurídico, diante da incompatibilidade com outros institutos
podem propor a ação direta de inconstitucionalidade, de do sistema que dão suporte à utilização da súmula
acordo com o § 2º do art. 103 da CF/88, vinculante, ainda mais se observadas
a saber: o Presidente da República; a as estrondosas diferenças entre nosso
Mesa do Senado Federal; a Mesa da ordenamento jurídico e o americano,
Câmara dos Deputados; a Mesa da As súmulas vinculantes vêm principal fonte de inspiração dos que
Assembléia Legislativa ou da Câmara de longa data sendo são favoráveis à súmula vinculante.
Legislativa do Distrito Federal (de apontadas como uma das Como exemplo de fenômeno
acordo com a EC n. 45/04); o Governado norte-americano recentemente
do Estado ou do Distrito Federal (de
alternativas para aliviar a transplantado para o Brasil, pode ser
acordo com a EC n. 45/04; o Procurador- crise do Judiciário, citado o plea bargaining, que se
Geral da República; o Conselho Federal agilizando-se por meio transformou na “transação penal”
da Ordem dos Advogados do Brasil; delas o julgamento dos prevista no art. 76 da Lei 9.099/95,
partido político com representação no processos. Seus defensores instituto que tem suscitado
Congresso Nacional; confederação inspiram-se principalmente indignação por respeitável parte da
sindical ou entidade de classe de âmbito doutrina, por ferir princípios
no modelo norte-americano
nacional. fundamentais de Direito. Geraldo
Com relação às súmulas do stare decisis Prado afirma cabalmente que “não há
anteriores à EC nº 45/04, o art. 8º desta devido processo legal na transação
dispõe o seguinte: “As atuais súmulas penal brasileira” (PRADO, 20003, p.
do STF somente produzirão efeito vinculante após sua 217). Os motivos pelos quais a importação desse mecanismo
confirmação por dois terços de seus integrantes e publicação mostrou-se tão frustrante baseiam-se na mesma premissa
na imprensa oficial”. Logo, se o STF não confirmá-las, as ora levantada quando se debate a súmula vinculante: a
antigas súmulas permanecerão isentas de caráter diferença entre o sistema originário de tais mecanismos (o
vinculante. A questão agora levantada pela doutrina é se norte-americano) e o nosso sistema jurídico.
estas súmulas anteriores à EC nº 45/04, necessariamente Dentre as principais diferenças está o método de
precisarão preencher todos os requisitos previstos no art. ensino do Direito, totalmente diferente do nosso: o stare
103-A CF/8, ou se a confirmação pelo STF será suficiente decisis norte-americano se apóia em primeiro lugar num
para lhes conceder efeito vinculante. método denominado de “método jurídico” que se baseia
precipuamente em análise de casos concretos, cabendo
8. Conclusão aos estudantes nesta análise determinar qual o fundamento
As súmulas, utilizadas como principal mecanismo utilizado para as decisões e como a corte desenvolveu-o;
de uniformização da jurisprudência, vinham sendo e em segundo lugar, num sistema de pesquisa jurídica
cogitadas como uma das formas de aliviar a crise do altamente eficiente, disponível, fácil de usar e atualizado,
Judiciário, pois teríamos uma resposta bem mais rápida através da Westlaw, da Lexis e do Shepard.
todas as vezes em que a matéria já estivesse sumulada. Seus Ainda nesse ponto, a própria esperança de que a
defensores afirmam que a sua utilização não transformaria súmula vinculante acelere o andamento dos processos parece
os julgadores em autômatos em razão da possibilidade de infundada, pois a média de duração de um pleito em primeiro
flexibilização delas, espelhando-se em grande parte no grau de jurisdição que chegue até o trial é entre três e cinco
modelo norte-americano; esta é a opinião defendida por anos, conforme nos informa Barbosa Moreira (p. 264, 2004).
Fernando Orotavo Neto, que afirma que a utilização da De outro lado, no Brasil é o próprio Estado quem mais recorre
súmula vinculante exige do juiz “um trabalho de de decisões judiciais, mesmo sabendo que irá perder a causa,
fundamentação analítica”. sendo ele o grande causador do congestionamento dos
No entanto, para outra parte da doutrina, a sua tribunais pátrios, como é sabido de todos e confirmado por
utilização deve ser criteriosamente analisada a fim de se declarações dadas pelos ministros8 Sepúlveda Pertence e
assegurarem especialmente as garantias fundamentais do Celso de Mello em debates e entrevistas recentes.
processo. Vincular alguém a um processo sobre o qual não De qualquer forma usar as súmulas vinculantes, em
pôde influir é algo realmente temerário, arriscando-se nome da tão almejada celeridade processual, não pode ser
princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, sinônimo de prejudicar demais princípios jurídicos, como
tais como as garantias do devido processo legal, entre elas os apontados.

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XIV
Enfim, diante de todo o exposto, conclui-se que a sucessivo igual ou similar. A “obrigatoridade” da aplicação desse
súmula vinculante desrespeita diversos princípios critério pode ser mais ou menos intensa segundo os casos. O
jurídicos (muitos constitucionalizados), é um sistema precedente deve ser, deveria ser ou é desejável que seja seguido
anacrônico e autoritário, de difícil manejo para o nosso e usado como critério ou como ponto de referência para a decisão
ordenamento jurídico parecendo ser realmente sucessiva.” Tradução livre de Tatiana Maretto – trecho do texto
“Precedente e exemplo” de Michele Taruffo.
inadequado. No entanto, estamos diante da sua adoção
3 V. subitem “Dimensão Objetiva”
pela EC nº 45/04 e afirmar algo neste momento tão inicial 4 V. subitem “autoprecedente”
poderia ser no mínimo precipitado, só restando aguardar 5 Conforme preceitua a Constituição em seu art. 93, IX
a produção de seus efeitos no decorrer do tempo para e o CPC nos arts. 131, 165 e 458, II.
então formular uma opinião conclusiva. 6 Esta é a opinião do juiz federal da Seção Judiciária do
Distrito Federal (TRF da 1a. Região) Nazareno César Moreira
NOTAS Reis.
1 De acordo com Costa “[...] têm em comum com os 7 Que concede poderes ao relator do Recurso Especial e
assentos da extinta Casa de Suplicação apenas o nome”. do Recurso Extraordinário, para negar seguimento a recurso que
2 “O precedente é definido e caracterizado pelo contrariar, nas questões predominantemente de Direito, Súmula
convencimento que a ratio decidendi sobre qual este se funda deva do respectivo Tribunal.
ser usada e aplicada como critério para a decisão de um caso 8 Informação retirada do texto de Lênio Streck, fls. 06

NORMA ANTIELISIVA GERAL E A DESPERSONALIZAÇÃO DA


PESSOA JURÍDICA
Kiyoshi Harada
Especialista em Direito Tributário e em Direito Financeiro pela FADUSP
Professor de Direito Tributário, Administrativo e Financeiro

1. Introdução pela tributação (incidência tributária) e, outra, representando


É freqüente a confusão feita, até pelos autores de o campo não abrangido pela tributação (não-incidência
nomeada, entre norma antielisiva geral e a despersonalização pura).
da pessoa jurídica, categorias jurídicas completamente Só que, entre um campo e outro, há uma área cinzenta.
diferentes. Aquela faculta à autoridade administrativa Às vezes, para desfazer essa situação dúbia, o legislador
desconsiderar determinados negócios jurídicos em casos de institui a figura da não-incidência expressa. Mas, isso pode
fraude, dolo ou simulação, ao passo que, a despersonalização aumentar a dubiedade, porque o aplicador, não encontrando
da pessoa jurídica insere-se no campo de atuação do Poder determinado fato ou ato no elenco da não-incidência
Judiciário. expressa, passa a entender que aquele fato ou ato é tributável.
A expressão ‘elisão fiscal’ passou a ser empregada, A não-incidência expressa, na verdade, é forma de
entre nós, como sinônima de modalidade lícita de economia modificação parcial da norma descritiva do fato gerador.
de tributos, ao passo que a evasão fiscal seria a modalidade Se o legislador, voluntária ou involuntariamente,
ilícita. traçou caminhos alternativos não há como exigir que o
Na verdade, evasão vem do francês ‘evasion’, que contribuinte opte sempre pela via mais onerosa, em termos
expressa exatamente a licitude da economia tributária. Evadir de tributos. Se alguma lacuna existe na legislação tributária,
significa evitar, desviar, escapar, ou seja, trilhar o caminho a possibilitar que o contribuinte trilhe pelo caminho não
não onerado, ou menos onerado pelo tributo. A elisão vem jurisdicizado, não cabe ao fisco impedir que isso ocorra.
de elidir, significando supressão, ou seja, economia ilícita do Cabe-lhe, isto sim, tomar as providências tendentes à
tributo. jurisdicização daquela via por onde se evadem os
Mas, respeitemos a doutrina pátria que deu outro contribuintes, para evitar a ocorrência do fato gerador.
sentido à elisão fiscal, para efeito deste breve estudo. Assim como é lícito ao fisco fechar o caminho da
fuga, mediante ampliação do campo de incidência, por lei
2. Norma antielisiva geral e o princípio da legalidade formal, é lícita também a ação ou omissão do contribuinte,
A criação de tributo ou sua majoração insere-se no
campo da reserva legal. Somente a lei em sentido estrito pode
instituir tributos ou majorá-los. É o princípio da reserva legal,
que agasalha o princípio da tipicidade cerrada, conferindo A expressão ‘elisão fiscal’ passou a ser
segurança jurídica, que é um dos direitos fundamentais da empregada, entre nós, como sinônima de
pessoa, insuprimível por via de Emendas.
A instituição de tributo implica, necessariamente, a modalidade lícita de economia de tributos, ao
descrição legislativa abstrata da hipótese em que o tributo passo que a evasão fiscal seria a
será devido. É o aspecto nuclear ou objetivo do fato gerador
modalidade ilícita
da obrigação tributária. Logo, elaborada a lei tributária, duas
situações surgem: uma, representando o campo abrangido

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XV
antes da ocorrência do fato gerador, visando minimizar os É o próprio art. 129 da Lei nº 11.196/05, de natureza
efeitos da tributação (planejamento tributário), desde que, interpretativa, que dispõe, para fins fiscais e previdenciários,
essa ação ou omissão não seja contrária à norma legal. que os prestadores de serviços intelectuais em caráter
Assim sendo, a norma antielisiva geral, que permite personalíssimo ou não, organizados em forma de sociedade,
ao fisco desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados ficam a salvo de imposições pertinentes às pessoas físicas,
pelos contribuintes, para evitar que sejam alcançados pela ressalvada ao fisco a faculdade de requerer em juízo a
norma jurídica de tributação, implica grave violação dos despersonalização da pessoa jurídica em caso de abuso, na
princípios da estrita legalidade, da tipicidade fechada e de forma do art. 50 do Código Civil (CC):
reserva absoluta da lei formal, gerando situações de total “Art. 50 Em caso de abuso da personalidade jurídica,
insegurança e de arbítrio, incompatíveis com a ordem jurídica caracterizada pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
vigente. patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do
De fato, dispõe o parágrafo único do art. 116 do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
Código Tributário Nacional (CTN), acrescido pela Lei que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações
Complementar (LC) nº 104/01: sejam estendidos aos bens particulares dos administradores
“Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá ou sócios da pessoa jurídica.”
desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a Como se verifica, o art. 50 do CC elege uma série de
finalidade de dissimular1 a ocorrência do fato gerador do requisitos a que fica vinculado o juiz, de sorte a eliminar ao
tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da máximo o grau de subjetividade na avaliação da situação que
obrigação tributária, observados os procedimentos a serem configura abuso de forma. Vejamos:
estabelecidos em lei ordinária.” O abuso de personalidade jurídica só se caracteriza
Em que pese a defeituosa redação dada, cuja quando houver desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
interpretação literal conduziria à proibição da fraude fiscal, O juiz só age mediante provocação de parte interessada ou
o que o texto procurou expressar é a proibição da prática do do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo.
planejamento tributário, que a doutrina batizou como elisão A decisão do juiz limita-se a estender os efeitos de certas e
fiscal. determinadas relações de obrigações aos bens particulares
Ora, a desconsideração dos atos ou dos negócios dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
jurídicos praticados pelos contribuintes somente poderia Veja-se que nem o juiz, aplicador da lei em última
ocorrer quando presentes a sonegação, a fraude ou o instância, dispõe de tamanha dose de discricionariedade
conluio, definidos respectivamente nos artigos 71, 72 e 73 conferida ao agente do fisco, por meio da chamada norma
da Lei nº 4.502/64, jamais por implicar economia legal de antielisiva geral, uma excrescência jurídica, incompatível
tributo. com o Estado Democrático de Direito.

3. A desconsideração da personalidade jurídica NOTA


A desconsideração da personalidade jurídica difere 1 Dissimular significa encobrir, disfarçar a situação de
da norma antielisiva geral. Ela configura matéria objeto de ocorrência do fato gerador, por meio de atos ou negócios jurídicos
apreciação exclusivamente pelo Poder Judiciário. simulados.

CONSEQÜÊNCIAS DA OMISSÃO DA LEGENDA PARTIDÁRIA EM


PROPAGANDA ELEITORAL
André Del Grossi Assumpção
Promotor de Justiça
Promotor Eleitoral em Iretama – Paraná

A propaganda eleitoral nos meios de comunicação Destoando do conjunto das regras afins, o artigo 242
tem sido o principal instrumento de convencimento do do Código Eleitoral, com o reforço do disposto no artigo 6º,
eleitor nas eleições em todas as esferas políticas e, para § 2º, da Lei nº 9.504/97, dita Lei das Eleições, estabelece a
garantia de sua honestidade e mínima paridade, o legislador obrigatoriedade de indicação das siglas partidárias em toda
cominou sanções a determinadas irregularidades. Deixou, a propaganda política.
porém, a descoberto, casos como a omissão das legendas Esses dispositivos, escapando à linha geral das
partidárias que compõem determinada coligação, na normas que regem a propaganda eleitoral, não têm como
propaganda escrita, no rádio ou na TV. objetivo principal assegurar a igualdade nas eleições, mas
As normas relativas ao exercício da propaganda sim reforçar o sistema partidário, permitindo ao eleitor
eleitoral se destinam sobretudo à promoção da igualdade conhecer as legendas a que estão integrados os candidatos
entre os candidatos, evitando-se que o poder econômico e, por conseqüência, qual o posicionamento ideológico
interfira exageradamente nas chances de cada concorrente, fundamental desses candidatos, seus aliados políticos e o
colocando em segundo plano as idéias e propostas para o grupo que o acompanharia em caso da potencial vitória nas
cargo em disputa. urnas:

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XVI
“A razão de ser do uso obrigatório das siglas é, em realizada por ordem do Juízo Eleitoral para retirada da
primeiro, para mostrar ao eleitor quem está a endossar propaganda ou sua correção, no exercício de seu poder de
aquele nome; em segundo, para manter intacto o caráter polícia, cujo descumprimento, sim, poderá caracterizar o
permanente dos partidos em relação à transitoriedade das crime de desobediência.
coligações e, por último, fortalecer as eleições e os Vale lembrar que a infração porventura configurada
candidatos para os cargos executivos.”1 será a de desobediência eleitoral, prevista no artigo 347 do
Com alguma freqüência, a propaganda eleitoral não Código Eleitoral, com previsão de pena de três meses a um
obedece àquela exigência, veiculando tão-somente o nome ano e dez a vinte dias-multa.
e o número do candidato, ou, ainda menos, apenas o Caso, porém, a coligação ou o candidato
número que deverá ser digitado na urna eletrônica. responsáveis pela propaganda corrijam de imediato o defeito
Essa omissão, no entanto, não interfere na igualdade apontado pelo Juízo, não terá havido incursão no tipo penal
dos candidatos, não traduz abuso do poder econômico ou e não haverá espaço para a aplicação de multa ou outras
político, não reduz de modo significativo os gastos do sanções decorrentes daquela irregularidade.
candidato ou partido que promove a propaganda irregular, Nesse sentido é a orientação do próprio Tribunal
nem influi de modo importante na escolha do eleitor, que Superior Eleitoral, que em comentário oficial da sua
ainda tem acesso à propaganda dos demais candidatos e Coordenadoria de Jurisprudência apontou a falta de sanção
pode obter aquelas informações omitidas por outros meios, específica e recomendou o uso do poder de polícia para
incluindo a consulta direta aos representantes da coligação aplicação da norma:
ou ao próprio candidato, especialmente nas eleições “Art. 242. [do Código Eleitoral...] Lei nº 9.504/97,
municipais. art. 6º, § 2º: uso, pela coligação, das legendas de todos os
Por isso, a simples omissão dos partidos que partidos que a integram na eleição majoritária; na
compõem determinada coligação não altera proporcional, cada partido usará apenas sua legenda sob
significativamente o equilíbrio do pleito e vem tratada pelo o nome da coligação. Ac. TSE nº 22.691/2004, 439/2002 e
direito brasileiro como mera irregularidade desprovida de 446/2002: na propaganda eleitoral gratuita, na hipótese de
sanção específica. Seu descumprimento não acarreta multa inobservância do que prescreve este dispositivo e o
nem inviabilização do candidato ou anulabilidade da eleição. correspondente da lei citada, deve o julgador advertir – à
Com efeito, não se trata da hipótese do artigo 222 falta de norma sancionadora – o autor da conduta ilícita,
do Código Eleitoral (que prevê a anulabilidade da votação sob pena de crime de desobediência.”2
nos casos que indica) porque o referido dispositivo trata Em conclusão, eventual representação eleitoral
apenas das eleições “viciadas” por “processo de noticiando propaganda contaminada pela irregularidade
propaganda” vedado pela Lei. In casu – frise-se – não há citada poderá dar margem à ordem judicial para sua imediata
nenhuma demonstração de que o fato interferiu de qualquer retirada ou correção e, em caso de desatendimento,
forma no resultado da eleição e o emprego de adesivos é apreensão de material e punição criminal do responsável.
“processo de propaganda” permitido pela lei (embora a Corrigido o vício imediatamente após a ordem da autoridade
estampa merecesse a complementação depois operada). competente, não haverá penalidade.
Tampouco se justifica a provocação do Juízo nos
termos da Lei Complementar nº 64/90, já que não há abuso NOTAS
do poder econômico ou político; descabendo também a 1 CÂNDIDO, Joel. Direito eleitoral brasileiro. 11 ed.,
multa do artigo 36 da Lei nº 9.504/95, cujas hipóteses estão Bauru, São Paulo: Edipro, 2004, p. 383.
tipificadas no mesmo dispositivo de lei. 2 BRASIL. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL.
De qualquer modo, a antijuridicidade existe e a Código Eleitoral anotado e legislação complementar. 7a. ed., v.
repressão da propaganda irregular neste caso poderá ser 1, Brasília: TSE/SGI, 2006, p. 127.

OMISSÕES CRIMINOSAS:
A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL EM SEU REVERSO
Domingos Barroso da Costa
Bacharel em Direito/UFMG
Especialista em Criminologia pelo Instituto de Educação Continuada da PUC/MG
e em Direito Público pela UNIGRANRIO/PRAETORIUM

“À medida que as gerações passam, vão-se envergonhado na presença do miserável, Zeus também
tornando piores. Tempo virá em que se mostrarão tão as destruirá. E, não obstante, mesmo assim alguma
perversas que passarão a adorar o poder; o poder será coisa deveria ser feita, ainda que fosse a sublevação
para elas o direito, e a reverência ao bem deixará de dos humildes para derrubar os governantes que os
existir. Finalmente, quando nenhum homem se mostrar oprimem.”
mais irado perante as más ações ou não se sentir mais Mito grego sobre a Idade do Ferro

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XVII
Mais uma vez, desfraldam-se as bandeiras do Posto isto, cabe perguntar por que a mídia não se
movimento pela redução da maioridade penal. Frente à mostra tão voraz em noticiar o assassinato de centenas de
barbárie que devasta o país e tem por marca a crueldade de outros jovens que morrem diariamente – em circunstâncias
determinados crimes, a mídia oportunista reaparece com tão cruéis quanto as que envolveram o homicídio da criança
força total. Açula a população e assanha aqueles políticos arrastada por um carro tomado de assalto no Rio de Janeiro,
que têm por palanque eleitoral falaciosos discursos sobre em 7 de fevereiro último –, cujas mães sofrem tanto quanto
o que acreditam ser segurança pública. a que o Brasil amargamente viu chorar pela TV.
Ninguém duvida ou questiona o sofrimento das É necessário também questionar por qual motivo a
mães que perdem filhos para a criminalidade, seja na violência contra crianças ou adolescentes brancos e
condição de autores dos delitos, seja enquanto vítimas. economicamente privilegiados causa mais fervor e impacto
Porém, o que não se pode admitir é que esta dor e todo o que a perpetrada contra jovens negros e pobres, que, diga-
clima de vingança que dela se, acontece com muito mais freqüência
naturalmente deriva possam, e intensidade, mas não recebe o devido
novamente, motivar a atividade enfoque, nem mesmo por parte das
legiferante no âmbito penal. Confere-se à lei um poder autoridades competentes.
O Estado não pode mover-se mágico, capaz de exorcizar Indaga-se, ainda, acerca dos
por paixões, já que atua por uma nossos piores medos e motivos por que as penas dos delitos
coletividade salvaguardada por fantasmas a partir de uma geralmente praticados por agentes
princípios como o da legalidade e simples “canetada”. Em meio oriundos das classes menos
isonomia, dentre outros. Aliás, foi em à catarse coletiva, esquece-se favorecidas são mais severas que a
nome da segurança coletiva que, há a regra básica de que, para dos crimes ditos de colarinho-branco.
séculos, o Estado substituiu os ser materialmente eficaz, deve Ou, pelo menos, por quais razões
indivíduos e avocou a si o monopólio a lei emergir da realidade aqueles indivíduos representam a
da coerção, pondo fim ao clima social, de uma demanda esmagadora maioria da população
hobbesiano que até então não coletiva que a faz legítima, carcerária. Neste ponto, deve-se
encontrava maiores limites. por coerente aos anseios destacar que a sonegação fiscal é
Como ordem abstrata, em prol da nação prática comum no Brasil, a qual
da comunidade, passou prejudica um número bem maior de
progressivamente a punir os pessoas que um roubo, entretanto
condenados pela prática de crimes, diluindo, assim, o garante a seu agente uma reprimenda bem mais branda,
sentimento de vingança pessoal que é próprio das vítimas, assim como um sem-número de medidas despenalizadoras.
enquanto seres humanos. Para aqueles que atuam na esfera penal, não é
Porém, nos últimos vinte anos, tem-se observado novidade a precariedade da situação carcerária. Cadeias e
fenômeno interessante no cenário político brasileiro. penitenciárias não têm vagas disponíveis, sendo o momento
Aproveitando-se de circunstâncias de ocasião, da comoção propício de se chamar a atenção para os milhares de
causada por determinados crimes, a mídia sensacionalista e mandados de prisão a cumprir nos Estados.
diversos políticos descobriram o filão daquilo que se poderia Deste contexto, somente se pode inferir que, se o
até mesmo chamar de Direito Penal do ódio. Explico. sistema prisional já não comportaria os maiores que contra
Com base em fatos delitivos que tiveram uma si possuem ordens de prisão, certamente não terá espaço
superexposição na mídia e diante do crescente medo da físico hábil a receber os menores que da noite para o dia
população – perplexa devido à crueldade da ação de tornar-se-ão imputáveis, em caso de redução da maioridade
criminosos –, heróis de plantão sobem aos púlpitos para penal. E, frise-se, não serão poucos.
pregar o máximo de punição. Desta forma, cativam a Ante tantos empecilhos e contra-indicações à redução
preferência de grande parte dos indivíduos que, de sua da maioridade penal, conclui-se que a sua efetivação somente
televisão, praticamente vivenciam as tragédias, passando tem por fundamento desviar as atenções da população para
a dividir com seus personagens o mesmo desejo de vingança. as verdadeiras causas da delinqüência, que, certamente, não
Confere-se à lei um poder mágico, capaz de exorcizar serão solucionadas com a simples modificação de uma regra
nossos piores medos e fantasmas a partir de uma simples penal, já que passam muito mais pela trágica situação social
“canetada”. Em meio à catarse coletiva, esquece-se a regra do país. Compreendamos este contexto.
básica de que, para ser materialmente eficaz, deve a lei Assim como tantas outras nações – em sua maioria
emergir da realidade social, de uma demanda coletiva que localizadas no Hemisfério Sul –, o Brasil, com o advento da
a faz legítima, por coerente aos anseios da nação. globalização, vem sofrendo uma crise de soberania. De
Todavia, cumpre assinalar que, neste movimento forma progressiva, há muito vem o país abrindo suas
ilusionista, somente um dos lados da questão é explorado fronteiras e, em alguns pontos, afrouxando seu ordenamento
pela mídia e por políticos, dentre outros interessados: em benefício do capital externo. Reeditam-se as políticas
justamente o que escusa Estado e sociedade – eximindo-os liberais, despindo o princípio da igualdade de seu aspecto
de suas responsabilidades na construção de uma democracia material. Ou seja, deixa o Estado de fomentar a isonomia
efetiva – e perpetua o status quo vigente – incriminando entre seus cidadãos, com o que concorre para eternizar as
indivíduos que já nascem marginalizados. disparidades sociais.
Aos mais afoitos, vale lembrar que a maioridade penal Ao afastar-se do gerenciamento e implementação
é definida no art. 228 da Constituição Federal, razão pela qual de políticas públicas de caráter social, atendo-se tão-
sua alteração não pode dar-se através de lei ordinária. somente a suas funções policialescas, o Estado passa a não

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XVIII
se ocupar em garantir ativamente aos indivíduos o amplo indivíduo que consome, não se pode negar que, para
acesso aos meios legítimos de desenvolvimento de suas aquele sujeito que nasce sem as mínimas condições de
potencialidades. E, sem tal intervenção, passa a valer a lei do desenvolver suas potencialidades a partir dos meios
economicamente mais forte, que, numa sociedade de legítimos, o caminho do crime acabará sendo mais atrativo.
consumo, leva ao caos a que hoje assistimos. Garantir-lhe-á o gozo de quem consome e, além disso, o
Se, na sociedade de produção, o homem conferia reconhecimento da sociedade que o identifica pelo medo,
valor ao bem de cuja fabricação participava, na sociedade de pela violência.
consumo o bem passa a determinar o valor do homem, já que Parece ser o momento de nossos representantes
somente a partir da possibilidade de consumi-lo o indivíduo tomarem uma importante decisão pela sociedade brasileira,
adquire uma identidade social. Noutras palavras, enquanto assumindo uma postura que poderá indicar dois rumos. Ou
na sociedade de produção o marginalizado era aquele que determinam a permanência do país num estado
não produzia, na de consumo exclui-se o sujeito que não “adolescente”, adotando soluções mágicas e reducionistas
pode ter, tornando-se o consumir um valor em si mesmo, para questões de fundamental importância, como a acima
independente dos meios que o viabilizam. trabalhada, ou promovem o Estado a uma condição “adulta”,
Nestas circunstâncias, tendo-se em conta o abismo capaz de responder pelos compromissos firmados na
que separa a elite tupiniquim de uma grande massa de Constituição de 1988.
miseráveis e partindo-se do princípio de que a posse de bens Caso se opte pela imputabilidade penal dos menores
de consumo é conditio sine qua non para uma identificação de 18 anos, resta saber a cargo de quem ficará a punição do
(reconhecimento) social, fica fácil concluir que se vive num Estado brasileiro, que mais uma vez afirmará sua imaturidade
contexto que por si só convida à criminalidade. Ganham política, assim como a incapacidade de assumir e
destaque aqui, os crimes que visam ao lucro rápido e fácil, responsabilizar-se por suas omissões criminosas, que há
como o furto, roubo e tráfico de entorpecentes, os quais, muito reverberam nas ruas.
coincidência ou não, tiveram crescimento exorbitante nas
últimas duas décadas. NOTAS
E, vivendo num Estado “penalmente máximo e 1 Expressão utilizada por José Antônio Paganella Boschi,
socialmente mínimo”1 , numa sociedade que só reconhece o em palestra proferida no antigo Tribunal de Alçada Mineiro.

TEMAS JURÍDICOS RELEVANTES EN LA INTEGRACIÓN


SUDAMERICANA
Ivo Zanoni
Alumno del Doctorado en Derecho
Universidad Católica de Santa Fé – Argentina

Introducción 3. ¿La realidad encierra en sí misma un orden que nos


En breves palabras, un abordaje respecto a la revela la justicia y la injusticia del accionar humano?
aplicación de la norma en un ámbito internacional en el cual 4. ¿El derecho (la norma) se construye en la cabeza
se dice no existir leyes, que es el contexto de una comunidad del hombre y se aplica a la realidad modificándola?
en formación como lo es el Mercosur, puede establecer Subjetivando la medida de la justicia y la construcción y
perspectivas y/o encaminar discusiones. La creación del utilización de la norma...”.
Tribunal Comunitario ya es realidad, pero su implementación Son proposiciones provisorias de contestación:
todavía no lo es. Si no ocurren plenamente las prácticas 1. Respecto al primer cuestionamiento, tenemos dos
comunitarias, no puede existir aún el derecho aplicado a los soluciones: la norma y su aplicación, considerándola justa
hechos de relación entre países. Esto no impide que iniciemos de por sí, incluso la norma de procedimiento. En este caso,
un análisis del tema de forma optimista. El asunto comienza la subjetividad estaría en la voluntad del legislador. No
con una imagen de la justicia, sigue con la formalidad y conseguimos, por esta vía, huir de la voluntad política, que
después de añadirse ingredientes como comunidad, derecho efectúa su juicio de relevancia, estando implícita la
natural, recursos naturales, se completa con la idea de consideración económica, ética y social. La segunda solución
fundamentación iusnaturalista y sugerencias para un inicio es admitir las imperfecciones de la norma y resolverlas en el
de diálogo a respecto de las perspectivas en el Mercosur. momento de su aplicación práctica. Pero hay que utilizar
criterios objetivos en este procedimiento. La apreciación
La norma y su aplicación ahora estaría en las manos del juez, que procederá a su propia
Como planteó Adriana Caprara de Armando1 , “si la verificación en el sentido de lo que es socialmente deseado
norma y su aplicación deben ser vías de implementación de y conforme a la ética.
la justicia, tenemos cuatro cuestionamientos: 2. Respecto al segundo cuestionamiento, podemos
1. ¿Cuál es la medida de la justicia? citar como ejemplos de parámetros: a) derecho natural; b)
2. ¿Existe un parámetro real? principios generales del derecho; c) declaración universal de

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XIX
los derechos humanos; d) la constitución del Estado en que instrumentos adecuados para la aplicación de normas y para
vivimos; e) los principios constitucionales; f) los precedentes libre desarrollo del derecho comunitario. Hay que definir aún
judiciales (jurisprudencia); Pero hay referencias a que la los primeros bienes jurídicos que serán objeto de tutela
buena práctica fuera otro parámetro válido2. jurisdiccional. Así como el derecho y sus formalidades,
3. Con relación al tercer planteo, la realidad nos pueden ser incluídas categorías como “tribunal comunitario”,
ofrece referencias como ser: a) el derecho natural; b) los “democracia”, “desarrollo”, “libertad” y “recursos naturales”
principios morales; c) la lógica; d) la conducta social y la sugerencia de una fundamentación iusnaturalista, para
consensual desde el punto de vista del aceptante, en el breve abordaje deseado.
interferencia intersubjetiva.
4. Por último, la cuarta consideración quedó casi El approach instrumental en el desarrollo de la
solucionada. Sin embargo, como nos sugiere Candido Rangel integración sudamericana
Dinamarco3, las leyes están sujetas al poder político. Nuestra El approach instrumental tiene sentido lógico en la
interferencia podría ser la elección de buenos políticos que discusión a respecto de la integración sudamericana. La
por su vez crearían buenas leyes. Buenos políticos son administración de la justicia en un contexto de integración
aquellos relacionados al bien, como exige la creación de un tribunal
considerado universalmente. Usando la comunitario, a ejemplo de la U.E. (Unión
expresión de Aquino4, dotados de la Europea). Como una manera de
más “elevada sustancia intelectual” y al Los procesos criminales consolidar la integración y forma de
mismo tiempo de “inteligencia obtener reconocimiento en el Mercosur
son los únicos que
incorrompible”. Además de esto tendría de una persona jurídica de derecho
que ser sensible a los hechos y sus
dependen de factores más internacional. La delegación de una
matices, un hombre cuya alma no sea estrictamente ligados a la cuota de soberanía al Mercosur como
pequeña, es decir, que conozca, como formalidad, dado que existe comunidad, no descaracterizará el
gestor público, la precisión de mayor dependencia de Estado nacional ni disminuirá su
administrar correctamente (“navegar”) pruebas en el desarrollo del autodeterminación. Significa la unión
y que perciba, como político, la proceso y por también de un contingente mayor de
sensibilidad de vivir (“no es preciso”5 ). involucrar la vida de las ciudadanos libres para garantizar su
personas más que las propia prosperidad, operando
La instrumentalidad del activamente en conjunto, en las
cosas o bienes
proceso judiciario demandas por espacio económico en
En Brasil, la instrumentalidad del un mercado globalizado.
proceso judiciario ha podido Amartya Sen 6 defiende el
demostrarnos que las leyes no siempre desarrollo como libertad. Por lo tanto el
son orientadas a su utilidad sino para dificultar la vida del desarrollo conjunto de países que comparten su origen
ciudadano. Si quien juzga es formalista, decide las muchas latino y que ya están geográficamente unidos en un continente
contiendas basado solamente en el hecho de las cuestiones (Sudamérica), será muy facilitado por la integración.
tal como son puestas del punto de vista de atender o no a los Entonces, debemos abandonar un poco la noción
aspectos formales, estaría de esta manera olvidando su rígida de democracia formal. El paradigma formal tiene que
contenido de justicia. Hay que cambiar esto, considerándose combinarse con la democracia social. El Estado de derecho
que la justicia es un ideal racional que torna posible transitar formal debe dar lugar a lo que Drucker7 denomina “sociedad
entre la generalidad de las normas y la particularidad de las poscapitalista”, y que se caracterizará por un Estado social
soluciones. de derecho, en que “la pobreza tiene que ser enfrentada con
La verdad de los hechos (del contexto) debe cambios sustanciales en las estructuras políticas”. El proceso
prevalecer en cualquier caso. Los procesos criminales son de integración entre los países del Cono Sur es una realidad
los únicos que dependen de factores más estrictamente y debemos cooperar para que siga adelante, pues él podrá ser
ligados a la formalidad, dado que existe mayor dependencia un instrumento y un marco de justicia social.
de pruebas en el desarrollo del proceso y por también El derecho internacional está ligado a las buenas
involucrar la vida de las personas más que las cosas o prácticas en las que los actores son los ciudadanos libres y
bienes. los gobiernos. La justicia comunitaria tiene que referirse a los
Así colocada, la discusión nos permite ver que tanto ajustes de las conductas que lleguen a afrontar las prácticas
las leyes de contenido como las de forma deben tener en deseadas.
cuenta la justicia. Estas son producto de la actividad
legislativa. Es preciso, por lo tanto, innovar en la producción ¿Es posible la administración de la justicia en una
normativa. Si tenemos necesidad de una sociedad más justa, integración que demanda compartir la soberanía política?
la labor científico jurídica debe concentrarse en producir Bertrand Russel8 dijo: “El administrador del futuro
leyes orientadas a este objetivo, de lo contrario serán inútiles será un servidor de ciudadanos libres”. Cuando hablamos de
nuestros esfuerzos. integración, debemos hacer referencia a Celso Furtado9 ,
El esmero de las ciencias jurídicas debe enfocar la mencionando su dicho: “Si adoptamos una visión abarcativa
justicia en la práctica, lo que resulta en la práctica de la del proceso histórico de nuestro país, nos encontramos con
justicia. una realidad fuertemente contradictoria. La temprana creación
Delimitando el contenido del aporte para la regulación del Estado nacional permaneció incompleta, y su actuación
de las relaciones intersubjetivas en un contexto comunitario fue ineficaz en amplias áreas del vasto territorio. La obra de
en formación, tenemos que investigar cuáles son los estadista de Río Branco – contemporáneo de Euclides [da

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XX
Cunha] – demostró la importancia de la consolidación de la Conclusión
institución estatal para fijar en forma definitiva las fronteras Ante tales observaciones se impone mirar hacia el
nacionales”. futuro y decidir lo que es importante definir en cuestión de
Ahora se trata de otra especie de integración. La prioridades para los sudamericanos en términos de equidad,
integración de los Estados latinos del Sur del continente, inclusión social, libertad mercantil, educación, desarrollo
como una nueva fuerza de hombres libres. Las fronteras se sustentable, y otros puntos vitales.
abren entonces para una unión con fines estratégicos ligados No se puede dejar que las decisiones más complejas
a la paz, la mayor independencia y la prosperidad conjunta. y que irán afectar más nuestras vidas, sean tomadas solamente
¿Hasta qué punto esto interesa a los hombres libres? por las corporaciones multinacionales y por países ajenos al
Mercosur.
Medio ambiente en la integración latinoamericana La experiencia histórica nos enseña que se debe
Las leyes del mundo físico y natural no pueden ser poner en práctica y no esperar inmóviles que las iniciativas
revocadas. Es en el mundo de los fenómenos, de las partan exclusivamente de los actores del mercado. Para esto
diferencias, de la diversidad, del caos y de la complejidad que son necesarias ideas innovadoras. Algunas de ellas aparecen
el hombre retorna al juicio analítico de la naturaleza, para a partir de discusiones o de ensayos como este.
sintetizar, a partir de lo natural, sus posibilidades de futuro. Otras pueden surgir de proyetos políticos que
El consenso para los más interiorizados en el asunto, contemplen una “praxis transformadora”16 , es decir, en que
requiere que el desarrollo deba realizarse con mayor equidad, la sociedad no pierda su conciencia colectiva y que las
es decir, que sean favorecidas las formas de consumo grandes cuestiones del futuro no se queden sin sujeto y sin
colectivas, evitando los desperdicios. En este caso, la presión lugar17 .
sobre los recursos [naturales] sería menor10 .
Esto atendería en parte la necesidad de garantizar un NOTAS
medio ambiente sano para las generaciones venideras, en 1 In: NIC Brasil Argentina. Puente Educacional. Disponible
que el hombre consolide su posición como “regente en: <http://ar.groups.yahoo.com/group/nic_br_ar/> Accedido en:
cosmogenético”11 . 05 ago. 2006.
2 REGLA, Josep Aguilo. In: Curso de teoria de las fuentes
El iusnaturalismo y del ordenamiento jurídico. CPCJ/UNIVALI, Itajaí, 28/08 a 01/
Si necesitamos definir pautas para una convivencia 09/2006 (Clase 421).
pacífica y provechosa para los miembros de la comunidad, 3 A instrumentalidade do processo. S. Paulo: Malheiros,
tenemos que estabelecer sus fundamentos éticos en algún 2002, p. 107.
punto de apoyo que no sea solamente el consenso y los 4 AQUINO, Sto. Tomás de. Questões sobre a verdade. In:
textos legales. Os pensadores: Sto. Tomás de Aquino. S. Paulo: Nova Cultural,
En este sentido, se coloca la posibilidad del derecho 1996. p. 179.
natural como una especie de norma fundamental para la 5 PESSOA, Fernando. Poesias. Porto Alegre: L&PM,
obrigadoriedad, situada más adelante de las leyes y tratados 1996. 132 p.
escritos, en una especie de consenso metafísico que se 6 Desenvolvimento como liberdade. S. Paulo: Cia.das
sobrepone 12 . Letras, 2000
Dicho por Massini13 iusnaturalista es la doctrina o 7 La sociedad poscapitalista. Trad. María Isabel Merino
escuela “que afirma la insuficiencia del derecho meramente Sánchez. Buenos Aires: Sudamericana, 1992.
positivo para regular la coexistencia y la prosecución de los 8 Educação e vida perfeita. Trad. Monteiro Lobato. S.
fines humanos que superan las capacidades de los individuos Paulo: Cia Editora Nacional, 1956. p. 45.
aislados”. Hay, asi, “principios cuya fuente no es la mera 9 En busca de un nuevo modelo – reflexiones sobre la crisis
sanción estatal o social”. contemporánea. Trad. Juan Ferguson. Buenos Aires: Fondo de
Para Hart14 hay “al menos un derecho natural: ‘El Cultura Económica, 2003. p 118.
derecho igual de todos los hombres a ser libres’”. 10 FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento .3 ed.
El derecho natural vale en todo lugar, Rio: Paz e Terra, 2001. p. 87.
contraponiéndose a las particularidades del derecho 11 COELHO, Luiz Fernando. Saudades do futuro.
positivo. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2001. p. 32.
A decir verdad, el derecho natural solamente existe 12 Cf. HABERMAS, Jürgen. Passado como futuro. Trad.
si contrapuesto al autoritarismo estatal y no tiene sentido Flavio Beno Siebeneicher. Rio: Tempo Brasileiro 1993. p. 32.
fuera de un ordenamiento jurídico. En la naturaleza, este 13 CORREAS, Carlos I. Massini. Los derechos humanos
derecho sería mero instinto para seguir viviendo. e el pensamiento actual. 2a. ed. Buenos Aires: Abeledo-Perrot,
Para Gerard Lebrun15, “há um ponto em que o liberal 1994. p. 206.
peca pela incoerência. Ele vilipendia o poder. Considera-o 14 HART, Herbert. Apud CORREAS, Carlos I. Massini.
como o vil herdeiro da era militar passada. Contudo admite Op. cit., p.206.
que é indispensável mantê-lo [...] como válvula de segurança 15 O que é poder. 9a. ed. S. Paulo: Brasiliense, 1984. p.
da economia de mercado”. 82. Trad.: “hay un punto en el que lo liberal peca por la incoherencia.
Y si existe la necesidad de leyes comunitarias, que Él vilipendia el poder. Lo considera vil heredero de la era militar
éstas sean basadas en una ética transcedental y universal pasada. Sin embargo, admite que es indispensable mantenerlo...
como forma de compatibilizar la imponencia de derechos como válvula de seguridad de la economía de mercado”.
y deberes relativos al contexto regional con la 16 Cf. COELHO, Luiz Fernando. Op. cit., p. 161.
mundialización de los mercados y sus normas consideradas 17 BECK, Ulrich. ¿Qué es la globalización? Buenos
universalistas. Aires: Paidós, 2004. p. 25.

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XXI
INSTITUIÇÃO de ENSINO SUPERIOR - Recurso especial interposto por Ademar de
MENSALIDADE ESCOLAR - DISTINÇÃO entre Oliveira e outros, com arrimo na alínea a do permissivo
VALOR cobrado de CALOURO e de VETERANO - constitucional, contra acórdão proferido pelo TJSC.
Impossibilidade - LEI 9870/99, art. 1º Ação: de conhecimento com pedidos
desconstitutivo e condenatório, em que os ora
Superior Tribunal de Justiça recorrentes moveram em face da Fundação
Recurso Especial n. 674.571 – SC Educacional Unificada do Oeste de Santa Catarina –
Órgão julgador: 3a. Turma UNOESC, ora recorrida, objetivando a redução do
Fonte: DJ, 12.02.2007 valor das mensalidades e a devolução da quantia
Relator: Min. Nancy Andrighi paga maior. Afirmaram que no segundo semestre de
Recorrente: Ademar de Oliveira e outros 1999 ingressaram no curso de Direito mantido pela
Recorrido: Fundação Educacional Unificada do Oeste ora recorrida, firmando, para tanto, contratos
de Santa Catarina – UNOESC individuais de prestação de serviços educacionais,
renováveis a cada período de 12 (doze) meses.

Acórdão em Destaque
Recurso especial. Mensalidades escolares. Alegaram, todavia, que o valor das mensalidades
Lei n° 9.870/99. Forma de cálculo. Distinção entre deles cobradas era superior ao das mensalidades
valor cobrado de calouros e veteranos de um mesmo cobradas dos alunos matriculados em períodos mais
curso. Impossibilidade. Medida Provisória nº 2.173- adiantados do mesmo curso, o que contrariaria o
24 (MP nº 1.930/99). Possibilidade. Requisito. Planilha princípio constitucional da isonomia e o Código de
de custos nos termos do Decreto nº 3.274/99. Defesa do Consumidor, pois não se justificaria a
– Conforme o parágrafo 1°, do art. 1°, da Lei cobrança de valores distintos, a título de mensalidade,
n° 9.870/99 (Lei das mensalidades escolares), o valor pela prestação do mesmo serviço.
da mensalidade para viger a partir do início de Sentença: julgou improcedentes os pedidos
determinado ano ou semestre escolar deve ter por (fls. 134).
base a última mensalidade cobrada no ano ou semestre Acórdão: negou provimento à apelação dos
escolar imediatamente anterior. ora recorrentes, com a seguinte ementa:
– Por força da Medida Provisória nº 2.173-24, “APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO ORDINÁRIA
23.8.2001 (Medida Provisória nº 1.930, 29.11.1999) era DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE
possível que o valor da mensalidade para viger a OBRIGAÇÃO CUMULADA COM REPETIÇÃO DE
partir do início de determinado ano ou semestre INDÉBITO E/OU COMPENSAÇÃO – INSTITUIÇÃO
escolar tivesse por base a última mensalidade cobrada PARTICULAR DE ENSINO – ALEGADA OFENSA
no ano ou semestre escolar imediatamente anterior, AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE (ART. 206, I, DA
acrescida do valor proporcional da variação de custos CF) E AO ART. 1º, § 3º, DA LEI N. 9.870/99,
a título de pessoal e de custeio, desde que o MODIFICADO PELO ART. 1º DA MEDIDA
estabelecimento de ensino comprovasse tal variação PROVISÓRIA N. 1.930/99, NA COBRANÇA DAS
mediante apresentação de planilha de custo, nos MENSALIDADES – NÃO OCORRÊNCIA –
moldes do Decreto nº 3.274, 6.12.1999. AUTONOMIA DA ENTIDADE NO EXERCÍCIO DE
– De acordo com o art. 1°, da Lei n° 9.870/99, SUAS ATIVIDADES FINANCEIRAS –
não é possível a distinção entre o valor das INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 207 DA
mensalidades cobradas entre alunos do mesmo curso, CONSTITUIÇÃO FEDERAL E 53 DA LEI N. 9.394/96
mas em períodos distintos, isto é, não é possível a – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO NÃO
cobrança de mensalidades em valores diferentes PROVIDO.
para calouros e veteranos de um mesmo curso. Possuem as universidades autonomia
Recurso especial conhecido e provido. financeira para o custeio de suas atividades
educacionais, razão pela qual a cobrança das
ACÓRDÃO mensalidades com valores diferenciados para os
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acadêmicos ditos ‘calouros’ e ‘veteranos’ não
acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior caracteriza ofensa ao disposto no art. 206, I, da
Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das Constituição Federal, porquanto as necessidades
notas taquigráficas constantes dos autos, educacionais dos estudantes das fases iniciais não
prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do são iguais as dos formandos ou cursando fases
Sr. Ministro Castro Filho, por unanimidade, conhecer avançadas.” (fls. 196).
do recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos Embargos de declaração: opostos pelos
do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros recorrentes, mas rejeitados (fls. 229).
Castro Filho, Ari Pargendler e Carlos Alberto Menezes Recurso especial: alegam violação, em síntese,
Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Não aos parágrafos 1°, 3° e 4°, do art. 1°, da Lei n° 9.870/
participou do julgamento o Sr. Ministro Humberto 99 (Lei das mensalidades escolares), pois, ao contrário
Gomes de Barros. do que entendeu o acórdão recorrido, “a fixação do
Brasília (DF), 14 de dezembro de 2006(data do novo valor da semestralidade ou anuidade deverá ter
julgamento). como base o valor correspondente à última parcela da
Ministra Nancy Andrighi, Relatora semestralidade ou anuidade estabelecida no ano
RELATÓRIO anterior, ou seja, a nova mensalidade terá sempre
A Exma. Sra. Ministra Nancy Andrighi como referência o valor cobrado no ano ou semestre
(Relator): anterior.” (fls. 269).

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XXII
Prévio juízo de admissibilidade: Após as contra-razões, proporcional da variação de custos a título de pessoal e de
foi o especial admitido na origem, subindo os autos. custeio, desde que o estabelecimento de ensino comprovasse
É o relatório. tal variação mediante apresentação de planilha de custo, nos
moldes do Decreto nº 3.274/99.
VOTO Contudo, neste processo, observa-se que tanto a
A Exma. Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relator): sentença como o acórdão recorrido são omissos em relação à
Cinge-se a controvérsia à interpretação do art. 1°, da existência de comprovação pela recorrida da variação de
Lei n° 9.870/99 (Lei das mensalidades escolares), para se saber custos a título de pessoal e de custeio – mediante apresentação
se o valor da mensalidade para viger a partir do início de de planilha de custo em conformidade com o modelo
determinado ano ou semestre escolar deve ter por base a estabelecido pelo Decreto nº 3.274/99 –, que pudesse autorizá-
última mensalidade cobrada no ano ou semestre escolar la a cobrar mensalidades em valores diferentes para calouros
imediatamente anterior. e veteranos de um mesmo curso.
À exceção do parágrafo 4° do art. 1°, da Lei n° 9.870/99, Nessa linha de entendimento, segundo o contorno
a matéria jurídica encontra-se devidamente prequestionada, fático delineado pelo acórdão recorrido e pela sentença, como
com perfeita viabilização do acesso à instância especial. a recorrida não comprovou a variação de custos a título de
Nesse sentido, dispõe o caput do art. 1° da referida pessoal e de custeio, o valor da mensalidade a ser cobrada dos
lei que “O valor das anuidades ou das semestralidades calouros deveria ficar limitado à forma de fixação prevista no
escolares do ensino pré-escolar, fundamental, médio e § 1°, do art. 1°, da Lei n° 9.870/99, pelo que o acórdão recorrido,
superior, será contratado, nos termos desta Lei, no ato da assim não entendendo, acabou por violá-lo.
matrícula ou da sua renovação, entre o estabelecimento de Por fim, vale ressaltar também, que a cobrança das
ensino e o aluno, o pai do aluno ou o responsável.” Por sua mensalidades dos alunos do mesmo curso só atenderá ao
vez, o parágrafo 1° do mesmo artigo preceitua que “O valor princípio constitucional da isonomia se não houver distinção
anual ou semestral referido no caput deste artigo deverá ter entre o valor cobrado dos calouros e o dos veteranos.
como base a última parcela da anuidade ou da semestralidade Forte em tais razões, CONHEÇO do presente recurso
legalmente fixada no ano anterior, multiplicada pelo número especial e DOU-LHE PROVIMENTO, para, reformando o
de parcelas do período letivo.” Já o parágrafo 3° do art. 1°, acórdão recorrido, julgar procedentes os pedidos deduzidos
da Lei n° 9.870/99, estabelece que “O valor total, anual ou na ação movida pelos recorrentes em face da recorrida,
semestral, apurado na forma dos parágrafos precedentes determinando que o valor das mensalidades devidas pelos
terá vigência por um ano e será dividido em doze ou seis recorrentes fique limitado à forma de fixação prevista no § 1°,
parcelas mensais iguais, facultada a apresentação de planos do art. 1°, da Lei n° 9.870/99. Determino, ainda, a devolução aos
de pagamento alternativos, desde que não excedam ao valor recorrentes de qualquer quantia cobrada em desconformidade
total anual ou semestral apurado na forma dos parágrafos com a forma aqui estabelecida, com acréscimo de correção
anteriores.” monetária pelo IPCA, com termo inicial de acordo com a
Não há dúvida, portanto, que da interpretação do art. Súmula n° 43/STJ, e juros moratórios à taxa legal, com termo
1°, caput, combinado com os seus parágrafos 1° e 3°, da Lei inicial de acordo com a Súmula n° 54/STJ, tudo a ser apurado
n° 9.870/99, o valor da mensalidade para viger a partir do início em liquidação de sentença.
de determinado ano ou semestre escolar deve ter por base a Em razão da sucumbência, condeno a recorrida ao
última mensalidade cobrada no ano ou semestre escolar pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
imediatamente anterior. estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da
Além disso, da análise dos parágrafos 1° e 3°, do art. condenação.
1°, da Lei n° 9.870/99, observa-se que nenhum deles autoriza É o voto.
a distinção entre o valor das mensalidades cobradas entre
alunos do mesmo curso, mas em períodos distintos, vale dizer, VOTO-VISTA
não autoriza a cobrança de mensalidades em valores diferentes Exmo. Sr. Ministro Ari Pargendler:
para calouros e veteranos de um mesmo curso. Os autos dão conta de que alunos do curso de Direito
Contudo, às fls. 199, nota-se que o acórdão recorrido mantido pela Fundação Educacional Unificada do Oeste de
foi proferido sob a vigência da Medida Provisória nº 2.173-24, Santa Catarina – Unoesc, Campus Chapecó, pagam mensalidades
23.8.2001 (cuja edição originária era a Medida Provisória nº diferençadas: maiores para os que o iniciam, gradativamente
1.930, 29.11.1999), que havia alterado o art. 1°, da Lei n° 9.870/ menores para os demais à medida que avançam no curso.
99, dispondo que a redação do § 3° do referido artigo seria a Os autores da ação, dizendo pagar mais do que alunos
seguinte: “Poderá ser acrescido ao valor total anual de que que cursam semestres posteriores, não se conformaram com
trata o § 1° montante proporcional à variação de custos a título isso, e pediram tratamento isonômico (fls. 02/19).
de pessoal e de custeio, comprovado mediante apresentação A MM. Juíza de Direito Dra. Rosane Portella Wolff,
de planilha de custo, mesmo quando esta variação resulte da reportando-se ao art. 1º da Medida Provisória nº 1.930, de 1999,
introdução de aprimoramentos no processo didático- julgou improcedente o pedido, destacando-se na sentença os
pedagógico.” seguintes trechos:
Referida planilha de custo, a qual aludia a antiga “Principalmente por se tratar de uma Faculdade de
redação do § 3° do art. 1°, da Lei n° 9.870/99, deveria ser Direito, é importante frisar que anualmente é preciso renovar
apresentada conforme o modelo estabelecido pelo Decreto nº o acervo da biblioteca, comprando livros sobre novos assuntos
3.274, de 6 de dezembro de 1999. e atualizar os volumes já existentes, além de investir na
Assim, quando da prolatação do acórdão recorrido qualidade do corpo docente da faculdade e na melhoria nas
realmente era possível que o valor da mensalidade para viger condições de ensino a serem oferecidas.
a partir do início de determinado ano ou semestre escolar Aproveitando o raciocínio, os alunos que estão na
tivesse por base a última mensalidade cobrada no ano ou iminência de se formar não gozarão ou aproveitarão das
semestre escolar imediatamente anterior, acrescida do valor mesmas condições que os ‘calouros’ irão aproveitar nos

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 22


XXIII
próximos cinco anos e meio, condições estas que abrangem Ao contrário do que foi preconizado pelo tribunal
o acervo dos alfarrábios jurídicos, a melhoria da infra-estrutura, estadual, a eminente Ministra Nancy Andrighi, relatora do
a melhoria da qualidade do ensino que é oferecido ano após feito, conheceu do recurso e deu-lhe provimento, por entender
ano, entre outras circunstâncias que legitimam a diferença do que “... quando da prolatação do acórdão recorrido realmente
valor do crédito das mensalidades entre os acadêmicos das era possível que o valor da mensalidade para viger a partir do
diversas fases do mesmo curso” (fl. 132). início de determinado ano ou semestre escolar tivesse por
O tribunal a quo manteve a sentença, seja porque a base a última mensalidade cobrada no ano ou semestre escolar
cobrança diferençada nas mensalidades escolares em função imediatamente anterior, acrescida do valor proporcional da
do período cursado não afronta o art. 1º, § 3º, da Lei nº 9.870, variação de custos a título de pessoal e de custeio, desde que
de 1999, na redação dada pela Medida Provisória nº 1.930, de o estabelecimento de ensino comprovasse tal variação
1999, seja porque está autorizado pelo art. 207 da Constituição mediante apresentação de planilha de custo, nos moldes do
Federal (autonomia universitária), seja porque não contraria Decreto nº 3.274/99. Contudo, neste processo, observa-se
o art. 206, I, do texto básico (fls. 192/202). que tanto a sentença como o acórdão recorrido são omissos
Seguiram-se embargos de declaração (fls. 219/222), em relação à existência de comprovação pela recorrida da
rejeitados (fls. 229/233), bem como recurso especial, com base variação de custos a título de pessoal e de custeio (...) que
no art. 105, inc. III, letra a (fl. 258), da Constituição Federal, por pudesse autorizá-la a cobrar mensalidades em valores
violação do “art. 1º da Lei nº 9.870/99, com os acréscimos diferentes para calouros e veteranos de um mesmo curso.”
introduzidos pela Medida Provisória nº 1.930/99” (fl. 263) – Concluindo, também, pelo conhecimento e provimento
cuja redação é a seguinte: do recurso, porém por outro raciocínio, o ilustre Ministro Ari
“Art. 1º – O valor das anuidades ou semestralidades Pargendler entendeu que:
escolares do ensino pré-escolar, fundamental, médio ou “Data venia, as aludidas normas legais nada tem a ver
superior, será contratado, nos termos desta Lei, no ato da com a espécie, dizendo respeito exatamente ao inverso dela.
matrícula ou da sua renovação, entre o estabelecimento de Enquanto aqui se ataca o decréscimo das mensalidades
ensino e o aluno, o pai do aluno ou responsável. escolares à medida que o aluno avança no curso, os parágrafos
§ 1º – O valor anual ou semestral referido no caput do artigo 1º da Lei nº 9.870, de 1999, com as alterações da
deste artigo deverá ter como base a última parcela da anuidade Medida Provisória nº 1.930, de 1999, controla o aumento das
ou da semestralidade legalmente fixada no ano anterior, mensalidades para impedir que o respectivo valor seja majorado
multiplicada pelo número de parcelas do período letivo. arbitrariamente.
§ 2º – (vetado) A norma legal, portanto, foi mal aplicada.”
§ 3º – Poderá ser acrescido ao valor total anual de que Solicitei vista para melhor examinar a matéria.
trata o § 1º montante proporcional à variação de custos a título Com efeito, o que buscam os recorrentes é o
de pessoal e de custeio, comprovado mediante apresentação malferimento da isonomia entre alunos do mesmo Curso de
de planilha de custo, mesmo quando esta variação resulte da Direito, de uma mesma Universidade.
introdução de aprimoramentos no processo didático- Sob esse prisma, no caso em exame, não há que se
pedagógico. questionar ou verificar se a recorrida podia ou não aumentar
§ 4º – A planilha de que trata o parágrafo anterior será as mensalidades do curso para somente os ‘calouros’, mas
editada em ato do Poder Executivo” (fl. 258). analisar-se se há malferimento ao princípio fundamental da
Data venia, as aludidas normas legais nada tem a ver isonomia, ao permitir que haja um decréscimo das mensalidades
com a espécie, dizendo respeito exatamente ao inverso dela. no evoluir do curso. E, na hipótese, como julgado pelas
Enquanto aqui se ataca o decréscimo das mensalidades instâncias ordinárias, não há como se avaliar a legalidade de
escolares à medida que o aluno avança no curso, os parágrafos diferenciação das mensalidades, pelas normas aplicadas.
do art. 1º da Lei nº 9.870, de 1999, com as alterações da Medida Nessa linha de pensamento, acompanho a parte
Provisória nº 1.930, de 1999, controla o aumento das dispositiva dos votos anteriores, porém pelos fundamentos
mensalidades para impedir que o respectivo valor seja majorado do voto do ilustre Ministro Ari.
arbitrariamente. É o voto.
A norma legal, portanto, foi mal aplicada. Ministro Castro Filho
Ante o exposto, voto no sentido de conhecer do
recurso especial e de dar-lhe provimento para expungir do CERTIDÃO
julgado o fundamento infraconstitucional. Certifico que a egrégia Terceira Turma, ao apreciar o
processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu
VOTO-VISTA a seguinte decisão:
O Exmo. Sr. Ministro Castro Filho: Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr.
Trata-se de recurso especial interposto por Ademar Ministro Castro Filho, a Turma, por unanimidade, conheceu
de Oliveira e outros, com fulcro na alínea a do permissivo do recurso especial e deu-lhe provimento, nos termos do voto
constitucional, contra acórdão do Tribunal de Justiça do da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Castro Filho, Ari
Estado de Santa Catarina. Pargendler e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a
Cinge-se a controvérsia sobre a possibilidade de Sra. Ministra Relatora.
distinção entre o valor das mensalidades cobradas entre Não participou do julgamento o Sr. Ministro Humberto
alunos do curso de Direito da Fundação Educacional Unificada Gomes de Barros.
do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, ora recorrida, que Ausente, justificadamente nesta assentada, o Sr.
cursam períodos distintos. Ministro Ari Pargendler.
Sustentam os recorrentes que o acórdão violou aos Brasília, 14 de dezembro de 2006
parágrafos 1º, 3º e 4º, do artigo 1º, da Lei nº 9.870/99, (Lei das Solange Rosa dos Santos Veloso
mensalidades escolares). Secretária

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 23


XXIV

CIVIL - COMERCIAL
LOCALIZAÇÃO de DEVEDOR de Alegam que o agravado após ser citado
ALIMENTOS-INTERCEPTAÇÃOTELEFÔNICA escondeu-se para impedir o cumprimento do
- Cabimento - PROTEÇÃO à CRIANÇA sobrepõe- mandado de prisão. Asseveram que a polícia
se ao DIREITO À INTIMIDADE paulista não tem efetivo suficiente para ficar em
campana na moradia do agravado. Seguindo
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sugestão dos agentes, realizaram pedido de escuta
Agravo de Instrumento n. 70018683508 telefônica com a finalidade de localizar o agravado.
Órgão julgador: 7a. Câmara Cível Salientam que não se trata de mera prisão
Fonte: DJRS, 05.04.2007 administrativa, mas, de prisão judicial. Requerem
Relatora: Desa. Maria Berenice Dias o provimento do recurso para a determinação de
Agravante: ASP e SJSP escuta nos telefones do recorrido (fls. 2-8).
Agravado: AP O Desembargador-Plantonista indeferiu o
pedido liminar (fl. 79).
EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. A parte agravada deixou de ser intimada
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA DO DEVEDOR para prestar contra-razões, uma vez não
DE ALIMENTOS. CABIMENTO. angularizada a relação processual.
Tentada a localização do executado de A Procuradora de Justiça opinou pelo
todas as formas, residindo este em outro Estado e conhecimento e provimento do recurso (fls. 80-5).
Inteiro Teor

arrastando-se a execução por quase dois anos, É o relatório.


mostra-se cabível a interceptação telefônica do
devedor de alimentos. VOTOS
Se por um lado a Carta Magna protege o Desa. Maria Berenice Dias (Presidenta e
direito à intimidade, também abarcou o princípio da Relatora):
proteção integral a crianças e adolescentes. Assim, Pretendem os recorrentes a reforma da
ponderando-se os dois princípios sobrepõe-se o decisão que indeferiu o pedido de escuta e de
direito à vida dos alimentados. A própria quebra do sigilo telefônico do executado.
possibilidade da prisão civil no caso de dívida Justificam que tal medida se faz necessária
alimentar evidencia tal assertiva. tão-somente para possibilitar a localização do
Tal medida dispõe inclusive de cunho foragido a fim de tornar eficaz a ordem de prisão.
pedagógico para que outros devedores de A presente execução desenrola-se desde
alimentos não mais se utilizem de subterfúgios maio de 2005 (fl. 21), ou seja, há mais de 22 meses,
para safarem-se da obrigação. tendo os alimentados sido pagos, pela última vez,
Agravo provido. no longínquo mês de março de 2004,
exclusivamente com o objetivo de afastar o
ACÓRDÃO cumprimento de um mandado de prisão.
Vistos, relatados e discutidos os autos. O réu foi citado para o pagamento das
Acordam os Desembargadores integrantes prestações em atraso em janeiro de 2006 (fl. 31).
da Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Não tendo realizado o pagamento, nem justificado
Estado, à unanimidade, em dar provimento ao a impossibilidade de fazê-lo, teve sua prisão
agravo de instrumento interposto. decretada em abril de 2006 (fl. 38), oportunidade em
Custas na forma da lei. que a dívida alimentar já era superior ao montante
Participaram do julgamento, além da de R$ 37.000,00 (fl. 67).
signatária (Presidente), os eminentes Senhores Compulsando os autos, verifica-se que a
Des. Luiz Felipe Brasil Santos e Des. Sérgio localização do recorrido foi tentada de todas as
Fernando de Vasconcellos Chaves. formas. Nem mesmo a louvável e diligente
Porto Alegre, 28 de março de 2007. disposição da procuradora dos credores, que em
Desa. Maria Berenice Dias, mais de duas oportunidades foi até a Cidade de São
Presidenta e Relatora. Paulo, e, em companhia dos agentes da Delegacia
de Capturas daquele Município, conseguiu obter
RELATÓRIO sucesso para o cumprimento do mandado (fls. 44-
Desa. Maria Berenice Dias (Presidenta e 45 e 52-53).
Relatora): De acordo com o art. 5°, XII, regulamentado
Trata-se de agravo de instrumento pela Lei n. 9.296/96, a interceptação telefônica
interposto por Alessandra S. P. e Stefan J.S.P., somente pode ocorrer, por ordem judicial, nas
representados por Rosimar S. em face da decisão da hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
fl. 76, que, nos autos da execução de alimentos de investigação criminal e instrução penal.
movida em face de Alois P., indeferiu o pedido de Contudo, o presente caso trata de situação
escuta e de quebra do sigilo telefônico do executado. excepcional.

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XXV
Se por um lado a Carta Magna protege o direito à verificar qual deles possui maior peso diante das
intimidade, também abarcou o princípio da proteção integral circunstâncias concretas...
a crianças e adolescentes, conforme tenho manifestado Assim, o dever de proporcionalidade estrutura-se
doutrinariamente: em três elementos: adequação, necessidade e
O princípio não é uma recomendação ética, mas proporcionalidade em sentido estrito. Uma medida é
diretriz determinante nas relações da criança e do adequada se o meio escolhido está apto para alcançar o
adolescente com seus pais, com sua família, com a sociedade resultado pretendido; necessária, se, todas as disponíveis
e com o Estado. A maior vulnerabilidade e fragilidade dos e igualmente eficazes para atingir um fim, é a menos gravosa
cidadãos até os 18 anos, como pessoas em desenvolvimento, em relação aos direitos envolvidos; proporcional ou
os faz destinatários de um tratamento especial. Daí a correspondente, se, relativamente ao fim perseguido, não
consagração do princípio da prioridade absoluta, de restringir excessivamente os direitos envolvidos”. (A
repercussão imediata sobre o comportamento da distinção entre princípios e regras e a redefinição do dever
administração pública, na entrega, em condições de uso, às de proporcionalidade. Revista de Direito Administrativo,
crianças e adolescentes, dos direitos fundamentais n. 215, p. 158/159, jan./mar. 1999).
específicos que lhes são consagrados constitucionalmente. Conforme bem posto pela Procuradora de Justiça,
(Manual de Direito das Famílias. 3a. ed. São Paulo: RT, 2006, Dra. Ida Sofia da Silveira (fl. 83): no caso dos autos, por
p. 57). ocorrer a violação do alimentante com relação às suas filhas
A matéria aqui tratada confronta duas questões de menores, o direito à sua intimidade não pode se sobrepor
ordem constitucional que merecem ser sopesadas: de um de forma absoluta ao direito das meninas de receberem a
lado está o direito à intimidade do devedor de alimentos, e, verba alimentar.
de outro, o princípio da proteção integral a crianças e Assim, patente a sobreposição do direito à vida dos
adolescentes, a quem é destinada a verba alimentar. alimentados em frente à intimidade do executado. A própria
Ocorrendo choque entre dois princípios possibilidade da prisão civil no caso de dívida alimentar
constitucionais, é certo que impossível a aplicabilidade de evidencia o caráter superior da verba alimentar, devendo
ambos, um deverá necessariamente ser afastado, a partir de sobrepor o direito do devedor à intimidade.
uma análise e interpretação sistemática do ordenamento Oportuno destacar que o deferimento de tal medida
jurídico relativamente ao caso concreto, aplicando-se a possui inclusive cunho pedagógico para que outros
este o princípio da proporcionalidade. devedores de alimentos não mais se utilizem de subterfúgios
A respeito ao princípio supracitados, merecem para inadimplirem a obrigação que lhes é imposta.
ser elencados os ensinamentos de Humberto Bergmann Por tais fundamentos, o provimento do agravo se
Ávila: impõe.
É exatamente do modo de solução da colisão de Des. Luiz Felipe Brasil Santos – De acordo.
princípios que se induz o dever de proporcionalidade. Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves – De
Quando ocorre uma colisão de princípios é preciso acordo.

IMOBILIÁRIO

IMÓVEL em CONDOMÍNIO - BEM DIVISÍVEL - – Ofende o Art. 629 do CC/1916 a decisão que – em
Impossibilidade de CONDÔMINO requerer a reconhecendo ser divisível o bem sob condomínio –
ALIENAÇÃO JUDICIAL da INTEGRALIDADE da COISA determina sua venda.
- Pode-se pleitear a DIVISÃO do BEM
ACÓRDÃO
Superior Tribunal de Justiça Vistos, relatados e discutidos os autos em que são
Recurso Especial n. 791.147 – SP partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça na conformidade
Órgão julgador: 3a. Turma
dos votos e das notas taquigráficas a seguir, Prosseguindo
Fonte: DJ, 26.03.2007
no julgamento, após o voto vista do Sr. Ministro Ari
Relator: Min. Humberto Gomes de Barros Pargendler, por unanimidade, conhecer do recurso especial
Recorrente: Construtora Menin Ltda. e outro e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro
Recorrido: Espedito Rodrigues Fróes e outros Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Carlos Alberto
Menezes Direito, Nancy Andrighi e Castro Filho votaram
RECURSO ESPECIAL. CONDOMÍNIO. BEM com o Sr. Ministro Relator.
DIVISÍVEL. ALIENAÇÃO JUDICIAL COMPULSÓRIA, Brasília (DF), 27 de fevereiro de 2007(Data do
REQUERIDA POR APENAS UM DOS CONDÔMINOS, Julgamento).
QUE NÃO DETÉM O MAIOR QUINHÃO. Ministro Humberto Gomes de Barros
IMPROCEDÊNCIA. Relator
– Em sendo divisível a coisa comum, não pode o
condômino exigir sua alienação. No caso, o condomínio RELATÓRIO
resolve-se com a divisão (Código Beviláqua, Art. 629). Ministro Humberto Gomes de Barros:

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XXVI
Espedito Rodrigues Fróes exerceu ação, visando a medida do condômino insatisfeito, permanecendo o
alienação judicial de imóvel que possui em condomínio com condomínio em relação aos demais proprietários (Art. 629
Construtora Graphite e outros. Alegou que desaparecera a do Código Beviláqua).
harmonia necessária na administração do bem. Ao determinar a alienação de bem que considera
O pedido, em primeiro grau, foi julgado divisível, o acórdão recorrido maltratou o Art. 629 do velho
improcedente, porque o próprio autor admitira que o imóvel Código Civil.
era divisível. Dou provimento ao recurso especial para restaurar
O TJSP, mesmo reconhecendo a divisibilidade da a sentença de 1º grau, declarando improcedente o pedido
coisa, proveu o recurso para determinar a alienação judicial. de alienação judicial compulsória.
Eis o teor do acórdão, no que importa:
“A questão é saber se o artigo 635, § 1º, do CC se VOTO-VISTA
aplica quando a coisa for indivisível ou também se for Exmo. Sr. Ministro Ari Pargendler:
divisível, mas se por circunstância de fato ou por desacordo 1. O tribunal a quo decidiu a causa declarando que
não for possível o uso e gozo em comum. Se não for “o contrato de fl. 45/48, em que aparece a Adpul –
possível, se se aplica ou não a regra do § 1º. Administração e Publicidade Ltda. como credora, a A.J.
Carvalho dos Santos, citado pelas partes, ensina Comercial e Construtora Ltda. como devedora e o autor
em sua obra “Código Civil Brasileiro Interpretado” (pg. 356) como anuente não interfere na pretensão deduzida, uma vez
que o parágrafo 1º do artigo 635 prevê a hipótese para o que não se questionou o seu cumprimento” (fl. 27).
desacordo, em se tratando de coisa indivisível. Diz que, As razões do recurso especial identificam aí uma
enquanto se faz a divisão ou se aguarda ocasião mais contradição, in verbis:
conveniente, podem os condôminos recorrer ao meio legal “Primeiro, o r. acórdão admitiu a existência de
previsto no artigo supra, sendo alugada ou administrada a contrato (fl. 45/48 e fl. 63/66), através do qual o Recorrido/
coisa até que se efetue a divisão. Para tanto, é imprescindível Apelante comprometeu-se expressamente a dar às áreas em
que todos concordem em que seja adiada a divisão. litígio destino certo – parcelamento em lotes urbanos –
Tem-se, então, que a coisa é divisível e todos obrigando-se a assinar todos e quaisquer documentos
concordam em administrá-la ou alugá-la, ao menos até a necessários à regularização do loteamento. Depois,
divisão. Mas se não houver acordo? Se apenas um contraditoriamente, a decisão em debate entendeu que o
condômino, como no caso, não concorda com a contrato não interfere na pretensão aduzida, alegando que
administração e a locação? Como se resolve? não se questionou o seu cumprimento” (fl. 31).
Aí não vejo outra alternativa senão a terceira A contradição pode ter ocorrido, se na contestação
estabelecida no artigo 635, ou seja, a venda do imóvel em os réus alegaram que as áreas aludidas tem uma destinação
condomínio, até porque seria difícil estabelecer a contratual: a implantação de loteamento.
administração contra a vontade do dissidente, contrariando Com efeito, aparentemente são inconciliáveis o
o disposto no parágrafo único.” (fls. 25/27) compromisso de “assinar todos e quaisquer documentos
Opostos embargos de declaração, foram rejeitados. necessários à transferência das áreas descritas na cláusula
No recurso especial (alínea a), os recorrentes quinta para a empresa Adpul, ou necessários à regularização
alegaram contrariedade aos Arts. 629 e 632 do Código Civil/ do loteamento em seu próprio nome” (fl. 84).
1916. Afirmam que a venda de coisa divisível deve ser No estado dos autos, tratando-se de agravo de
precedida da concordância de todos os condôminos. Não instrumento, não há elementos que noticiem a abrangência
havendo este acordo, a maioria deve decidir como da contestação.
administrar o bem ou, em última razão, dividi-lo. Desconsidera-se, por isso, neste voto, o que está
Requerem seja reformado o acórdão recorrido para dito à fl. 42/44, isto é, que a alienação dos imóveis contraria
que se afaste a alienação judicial compulsória, porque tal “princípio geral de direito (pacta sunt servanda)” – fl. 42.
medida representa a vontade de apenas um dos condôminos, 2. A vocação da propriedade é ter um só titular. Por
que não detém quinhão maior que o dos demais. isso, a todo tempo o condômino pode exigir a divisão da
O recurso especial não foi admitido na origem. coisa comum (CC, art. 629, caput), salvo se a indivisão for
Determinei a autuação do instrumento de agravo, como ajustada com os demais condôminos, restrição que não
recurso especial. pode exceder de cinco anos (CC, art. 629, parágrafo único).
Quid, se tratar-se de imóvel e este for indivisível ?
VOTO “Quando a coisa for indivisível, ou se tornar, pela
Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): divisão, imprópria ao seu destino, e os consortes não
Há apenas uma questão a ser resolvida: reconhecida quiserem adjudicá-la a um só, indenizando os outros, será
a divisibilidade da coisa tida em condomínio, a alienação vendida e repartido o preço, preferindo-se, na venda, em
judicial requerida por um só condômino, que não detém a condições iguais de oferta, o condômino ao estranho,
maior parte da propriedade, se sobrepõe à possibilidade de entre os condôminos o que tiver na coisa benfeitorias
divisão? mais valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior”
É certo que a indivisibilidade da coisa conduz (CC, art. 632).
invariavelmente à alienação integral, quando os condôminos Na lição de Pontes de Miranda:
não concordam com a forma de administração. “Quando a coisa é comum e pode ser dividida, sem
Mas se a coisa é divisível, como no caso concreto, sacrifício do seu destino, têm os condôminos a pretensão
a regra deve ser outra. Inviabilizada a administração à divisão. Cada um deles tem a sua. Todas as pretensões
harmoniosa, por qualquer razão, divide-se o bem na exata concorrem com o mesmo fim abstrato (‘dividir’), que cada

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XXVII
condômino enche com afirmações (de fato e de direito), que judicial dos imóveis, sem que isso de modo algum signifique
podem ser diferentes. Por isso mesmo, se não acordam que o Autor tenha, em ação de divisão, o direito de destacar
sobre a venda da coisa, que é, aí, partilha da coisa pelo do todo as áreas correspondentes ao seu quinhão – porque
valor, nem sobre o discrime concreto, material, das partes nada se decidiu aqui sobre o contrato em que as partes
indivisas, tocantes a cada um deles, surge a ação de partilha ajustaram a implantação de loteamento.
ou de divisão, como surgiria, se a coisa fosse ‘indivisível’ Invertidos os ônus da sucumbência.
ou imprópria ao seu uso, se dividida, a ação de coisa
comum. A ação divisória, actio communi dividundo, ou a VOTO
de partilha (inter vivos), somente cabe, no direito brasileiro, O Exmo. Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes
onde não cabe a de venda compulsória, e vice-versa” Direito:
(Comentários ao Código de Processo Civil, Editora Forense, Senhor Presidente, não há alternativa porque, como
Rio de Janeiro, 1a. edição, p. 307). já havia demonstrado o Senhor Ministro Humberto Gomes
Quer dizer, sendo divisível, o imóvel, e não sendo de Barros e, agora, o Senhor Ministro Ari Pargendler
incômoda a divisão, o condômino tem o direito de dividir a reforça, toda a doutrina brasileira é no sentido de que o
coisa – não o de aliená-la no todo. condômino não pode alienar a integralidade da coisa. Ele
A regra do art. 635 do Código Civil diz respeito à pode pleitear a divisão, mas não alienar toda a coisa. E isso
administração do condomínio, isto é, enquanto indivisa a violentaria a própria disciplina já do antigo Código Civil, já
propriedade. do novo Código Civil.
“As circunstâncias” – diz o eminente jurista – Por essas razões, acompanho o voto do Senhor
“dificultam, por vezes, a administração comum, ou um ou Ministro Relator, conhecendo do recurso especial e lhe
alguns dos condôminos divergem de tal gestão própria dos dando provimento, invertidos os ônus da sucumbência.
negócios do condomínio. Em tal conjuntura, volve a
comunhão a deliberar. Naturalmente, o que se há de buscar, CERTIDÃO
de início, é o acordo unânime. A primeira solução – a da Certifico que a egrégia Terceira Turma, ao apreciar
comum administração – falhou: não houve a unanimidade. o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data,
Passa-se à segunda: a da venda. Se todos acordam, vende- proferiu a seguinte decisão:
se a coisa comum. Se algum dos condôminos não concorda, Prosseguindo no julgamento, após o voto vista
não se vende. Se a coisa é divisível, e não há vedação legal do Sr. Ministro Ari Pargendler, a Turma, por unanimidade,
ou negocial da divisão, divide-se, se um dos condôminos conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento, nos
quer divisa a sua parte” (Tratado de Direito Privado, Editora termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros
Borsoi, Rio de Janeiro, 2a. edição, Tomo XII, p. 88). Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy
3. À vista disso, o condômino de coisa divisível não Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro
tem o direito de aliená-la; pode pedir a divisão, e depois Relator.
vender a parte que lhe tocar na partilha. Brasília, 27 de fevereiro de 2007
Por isso o recurso especial deve ser conhecido e Solange Rosa dos Santos Veloso
provido para julgar improcedente o pedido de alienação Secretária

PROCESSO CIVIL

JULGAMENTO - ADIAMENTO do feito - LAPSO necessária nova publicação, desde que o novo julgamento
TEMPORAL irrazoável - Necessidade de nova ocorra em razoável lapso temporal.
PUBLICAÇÃO quando do efetivo JULGAMENTO - 2. In casu, restou constatado o adiamento do feito
CERCEAMENTO DE DIREITO inicialmente previsto para julgamento em 20.5.2003.
Contudo, o efetivo julgamento apenas realizou-se após
Superior Tribunal de Justiça sete meses, sem nova publicação, de forma a cercear o
Emb. de Divergência em Rec. Especial n. 474.475 – SP direito dos recorrentes e impedir, inclusive, a sustentação
Órgão julgador: 1a. Seção oral.
Fonte: DJ, 26.03.2007 3. Evidenciado o prejuízo do recorrente, pela não-
Relator: Min. Humberto Martins publicação da pauta de julgamento em que se incluía o
Embargante: Prefeitura Municipal de Bady Bassit e outros processo adiando, necessária a anulação do julgamento,
Embargado: João Luiz Donzellini e outros para que outro seja proferido, com respeito ao devido
processo legal.
AÇÃO POPULAR – PROCESSO INCLUÍDO EM Embargos de divergência providos.
PAUTA – ADIAMENTO DO FEITO – LONGO DECURSO
DE PRAZO – NECESSIDADE DE NOVA PUBLICAÇÃO ACÓRDÃO
QUANDO DO EFETIVO JULGAMENTO. Vistos, relatados e discutidos os autos em que são
1. Este Tribunal tem entendimento de que na partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira
hipótese de adiamento de processo de pauta não se faz Seção do Superior Tribunal de Justiça “A Seção, por

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XXVIII
unanimidade, conheceu dos embargos e deu-lhes 3. Recurso especial provido, com a devolução dos
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.” autos ao Tribunal a quo, oportunizando-se sustentação
Os Srs. Ministros José Delgado, Eliana Calmon, João oral ao advogado da parte, através de nova inclusão do
Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki e Castro Meira feito em pauta.”
votaram com o Sr. Ministro Relator. (REsp 415.027/PR, Rel. Min. Eliana Calmon, fl.
Ausentes, justificadamente, a Sra. Ministra Denise 689).
Arruda e, ocasionalmente, os Srs. Ministros Francisco Efetivado juízo positivo de admissibilidade, foi
Falcão e Herman Benjamin. apresentada impugnação às fls. 742/746.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Luiz Fux. É, no essencial, o relatório.
Brasília (DF), 14 de março de 2007 (Data do
Julgamento) VOTO
Ministro Humberto Martins O Exmo. Sr. Ministro Humberto Martins (Relator):
Relator Consta dos autos que o REsp 474.475/SP, originário
de ação popular movida contra o Município de Bady
RELATÓRIO Bassit em que se pleiteava a suspensão dos efeitos dos
O Exmo. Sr. Ministro Humberto Martins (Relator): atos administrativos praticados pela municipalidade, com
Cuida-se de embargos de divergência opostos base na lei local n. 1.310/97, foi incluído na pauta de
pela PREFEITURA MUNICIPAL DE BADY BASSIT e julgamento do dia 20.5.2003 tendo ocorrido a publicação
OUTROS contra acórdão da Primeira Turma desta Corte, no Diário Oficial em 14.5.2003.
que rejeitou os embargos de declaração nos termos da O referido feito foi adiado de pauta, após iniciado
seguinte ementa: o julgamento, restando julgado apenas em 16.12.2003, ou
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NULIDADE DO seja, quase sete meses após o adiamento, sem nova
ACÓRDÃO. AUSÊNCIA DE PUBLICAÇÃO DA publicação da pauta.
REINCLUSÃO DO FEITO EM PAUTA DE JULGAMENTO. O recurso especial restou improvido; opostos
1. Ação Popular movida contra o Município de embargos de declaração, foram eles rejeitados. Dessa
Bady Bassit; em que se pleiteia a suspensão dos efeitos decisão, gerou-se a divergência com julgado da Segunda
dos atos administrativos praticados pela Municipalidade, Turma.
com base na lei local nº 1.310/97, consubstanciados na Este Tribunal tem entendimento de que na hipótese
expedição de alvará, autorizando a construção de um de adiamento de processo de pauta não se faz necessária
Motel em área destinada, originariamente, a uso nova publicação, desde que o novo julgamento ocorra em
residencial. razoável lapso temporal.
2. O presente recurso especial foi incluído na In casu, restou constatado o adiamento do feito
pauta do dia 20/05/2003, cuja publicação no Diário Oficial inicialmente previsto para julgamento em 20.5.2003.
deu-se em 14/05/2003. Iniciado o julgamento do feito no Contudo, o efetivo julgamento apenas se realizou após
dia 20/05/2003, foi ele adiado e não retirado da pauta, como sete meses, sem nova publicação, de forma a cercear o
aduzem os embargantes, sendo que na sessão do dia 16/ direito dos recorrentes impedindo, inclusive, a sustentação
12/2003, o mesmo foi julgado. oral.
3. O adiamento do julgamento do recurso não Com efeito, tendo sido adiado o julgamento, sem
implica a necessidade de nova publicação da pauta. data certa, e, ainda, por longo prazo de sete meses,
(Precedentes da Corte: HC34793, Rel. Min.Felix Fischer, necessária a publicação de inclusão do feito em pauta,
DJ 17/06/2004;RESP 268.659/RJ, Rel. Min. Aldir Passarinho para que se concretize a intimação de seu patrono e se
Junior, DJ 15/04/2002;REsp 95.082, Rel. Min. Ruy Rosado, prestigie o devido processo legal.
DJ 14/10/96). Nesse sentido, os julgados:
4. Embargos de declaração rejeitados.” “PROCESSUAL CIVIL – PROCESSAMENTO DO
Sustentam os embargantes que a divergência resta RECURSO NA INSTÂNCIA ORDINÁRIA –
configurada no que toca à necessidade de nova publicação, JULGAMENTO ADIADO POR LAPSO CONSIDERÁVEL
para o caso, de adiamento de processo incluído em pauta DE TEMPO – POSTERIOR JULGAMENTO SEM NOVA
e julgado após longo decurso de prazo. INTIMAÇÃO – NULIDADE – ARTS. 236, § 1º, 552 E 565
Apontam divergência jurisprudencial com acórdão DO CPC.
da Segunda Turma, assim ementado: 1. São devolvidas no recurso especial as
“PROCESSUAL CIVIL – PROCESSAMENTO DO questões relativas ao processamento do recurso junto
RECURSO NA INSTÂNCIA ORDINÁRIA – JULGAMENTO ao Tribunal recorrido, desde que devidamente
ADIADO POR LAPSO CONSIDERÁVEL DE TEMPO – prequestionadas.
POSTERIOR JULGAMENTO SEM NOVA INTIMAÇÃO – 2. Viola os arts. 236, § 1º, 552 e 565 do CPC o
NULIDADE – ARTS. 236, § 1º, 552 E 565 DO CPC. julgamento de autos, adiado por lapso considerável de
1. São devolvidas no recurso especial as questões tempo, sem a intimação do patrono da empresa, através de
relativas ao processamento do recurso junto ao Tribunal nova inclusão em pauta.
recorrido, desde que devidamente prequestionadas. 3. Recurso especial provido, com a devolução dos
2. Viola os arts. 236, § 1º, 552 e 565 do CPC o autos ao Tribunal a quo, oportunizando-se sustentação
julgamento de autos, adiado por lapso considerável de oral ao advogado da parte, através de nova inclusão do
tempo, sem a intimação do patrono da empresa, através de feito em pauta.” (REsp 415.027/PR, Rel. Min. Eliana Calmon,
nova inclusão em pauta. DJ 13.9.2004).

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 28


XXIX
Assim, evidenciado o prejuízo do recorrente pela apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta
não-publicação da pauta de julgamento, em que se incluía data, proferiu a seguinte decisão:
o feito adiando, necessária a anulação do julgamento, “A Seção, por unanimidade, conheceu dos
para que outro seja proferido, com respeito ao devido embargos e deu-lhes provimento, nos termos do voto do
processo legal. Sr. Ministro Relator.”
Ante o exposto, conheço dos embargos de Os Srs. Ministros José Delgado, Eliana Calmon,
divergência e dou-lhes provimento, para que seja anulado João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki e Castro
o julgamento do recurso especial e concedida aos Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.
recorrentes a possibilidade de sustentação oral. Ausentes, justificadamente, a Sra. Ministra Denise
É como penso. É como voto. Arruda e, ocasionalmente, os Srs. Ministros Francisco
Ministro Humberto Martins Falcão e Herman Benjamin.
Relator Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Luiz Fux.
Brasília, 14 de março de 2007
CERTIDÃO Carolina Véras
Certifico que a egrégia PRIMEIRA SEÇÃO, ao Secretária

PENAL - PROCESSO PENAL

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO - do feito ao Ministério Público para que, afastado o óbice do
JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL - LEI 9099/95, art. 89 caput do art. 89 da Lei nº 9.099/95, seja analisada a presença,
- Existência de CONDENAÇÃO anterior -EXTINÇÃO ou não, dos demais requisitos da concessão do sursis
DA PENA há mais de 5 anos - Aplicação do ART. 64/CP, processual.
inc. I
ACÓRDÃO
Supremo Tribunal Federal Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam
Habeas Corpus n. 88.157 – SP os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal,
Órgão julgador: 1a. Turma sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na
Fonte: 30.03.2007 conformidade da ata do julgamento e das notas
Relator: Min. Carlos Ayres Britto taquigráficas, por unanimidade de votos, em deferir o
Paciente: J R S pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator.
Impetrante: H M M Brasília, 28 de novembro de 2006.
Coator: Superior Tribunal de Justiça Carlos Ayres Britto – Relator
Supremo Tribunal Federal
HABEAS CORPUS. CRIME DE ABORTO.
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (ART. 89 RELATÓRIO
DA LEI Nº 9.099/95). CONDENAÇÃO ANTERIOR PELO O Senhor Ministro Carlos Ayres Britto (Relator):
CRIME DE RECEPTAÇÃO. PENA EXTINTA HÁ MAIS DE Cuida-se de habeas corpus, impetrado contra
CINCO ANOS. APLICAÇÃO DO INCISO I DO ART. 64 DO acórdão do Superior Tribunal de Justiça. Acórdão assim
CP À LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS. ementado:
O silêncio da Lei dos Juizados Especiais, no ponto, “PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS
não afasta o imperativo da interpretação sistêmica das SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. LEI Nº 9.099/
normas de direito penal. Pelo que a exigência do artigo 89 95. ART. 89. CONDENAÇÃO ANTERIOR. SUSPENSÃO
da Lei nº 9.099/95 – de inexistência de condenação por outro CONDICIONAL DO PROCESSO. IMPOSSIBILIDADE.
crime, para fins de obtenção da suspensão condicional do A suspensão condicional do processo, prevista
feito – é de ser conjugada com a norma do inciso I do art. no art. 89 da Lei nº 9.099/95, não pode ser concedida
64 do CP. Norma que ‘apaga’ a ‘pecha’ de uma anterior àquele que possui condenação anterior, ainda que a pena
condenação criminal, partindo da presunção constitucional tenha sido extinta há mais de 05 (cinco) anos. Precedentes.
da regenerabilidade de todo indivíduo. Ordem denegada”.
A melhor interpretação do art. 89 da Lei nº 9.099/95 2. Consta dos autos que o paciente responde a
é aquela que faz associar a esse diploma normativo a regra processo pela prática do crime de aborto. Isso, por haver
do inciso I do art. 64 do Código Penal, de modo a viabilizar induzido sua cunhada (com quem teve relacionamento
a concessão da suspensão condicional do processo a extraconjugal) a ingerir o medicamento abortivo de nome
todos aqueles acusados que, mesmo já condenados em “Cytotec”. Processo em que lhe foi negado pedido de
feito criminal anterior, não podem mais ser havidos como suspensão condicional, descrita esta no art. 89 da Lei nº
reincidentes, dada a consumação do lapso de cinco anos do 9.099/95. Mesmo se tratando de delito punido com pena
cumprimento da respectiva pena. de 1 (um) a 3 (três) anos de reclusão (art. 124 do CP), a
Ordem concedida para fins de anulação do processo- recusa da pretensão deveu-se ao fato de outra
crime desde a data da audiência, determinando-se a remessa condenação pelo crime de receptação, cuja pena foi

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 29


XXX
extinta há mais de cinco anos. Daí a sucessiva impetração “Para efeito de reincidência não prevalece a
de habeas corpus, cuja denegação motivou o presente condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou
pedido. extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido
3. Aqui, no âmbito do habeas corpus sub judice, o período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o
que se afirma é que tal decurso de prazo tem o efeito de período de prova da suspensão ou do livramento
apagar “todos os efeitos da reincidência, que poderiam condicional, se não ocorrer a revogação”. É dizer: o art. 89
recair ao paciente”. Mais exatamente, “não pode o paciente da Lei 9.099 deixou de explicitar se uma condenação criminal
ser penalizado ad aeternum, sofrendo os penosos efeitos já extinta há mais de cinco anos, muito embora não gere
da reincidência, quando já documentalmente provado o efeitos de reincidência, qualifica-se ou não como razão
transcurso do período depurador; seria a eternização da bastante para recusar-se ao acusado por novo delito o
reincidência e seus efeitos, carregando a pessoa, sempre, favor da suspensão condicional do processo.
essa infeliz mácula...” (fls. 11). 11. Muito embora tal silêncio normativo, tenho que
4. Prossigo neste relato para averbar que indeferi o as normas de direito penal hão de ser interpretadas
pedido de medida liminar, tendo em vista precedente sistematicamente.
específico desta Suprema Corte em sentido contrário ao Pelo que a exigência do artigo 89 da Lei nº 9.099/95 –
pretendido na inicial (refiro-me ao HC 80.897, Rel. Min. Ellen de inexistência de condenação por outro crime, para fins de
Gracie). Pelo que entendi afastado, naquela fase processual, obtenção da suspensão condicional do feito – é de ser
o requisito do fumus boni juris. Também informo que a conjugada com a norma do inciso I do art. 64 do CP. Norma que
própria cunhada do acusado (que foi induzida a praticar o “apaga” a “pecha” de uma anterior condenação criminal.
aborto) já obteve o benefício da suspensão processual, ora Equivale a dizer: decorridos os cinco anos, aquela “anterior
postulado. Prosseguindo o feito apenas em relação ao condenação” deixa de existir, e o condenado retorna à sua
paciente, já pronunciado. condição de primariedade. Tudo isso partindo-se da presunção
5. Remetidos os autos à Procuradoria-Geral da constitucional da regenerabilidade de todo indivíduo.
República, veio parecer do Professor Cláudio Fonteles pela 12. É claro que aquela condenação criminal já
concessão da ordem (fls. 77/80). bafejada pelo período depurador de cinco anos, mesmo não
É o relatório. podendo ser considerada para o efeito de reincidência,
pode ser valorada a título de maus antecedentes quando da
VOTO análise das circunstâncias judiciais quanto à dosimetria da
O Senhor Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): pena ou em eventual concessão do benefício do art. 77 do
Nos termos do relatório, a tese do presente writ CP (suspensão condicional da execução)1 . Tudo isso a ser
consiste em saber se uma condenação criminal já alcançada aferido pelo magistrado processante, tendo em conta a
pelo “período depurador” de cinco anos (inciso I do art. 64) natureza das infrações cometidas pelo réu (se estão a
impede a concessão, ao acusado, em novo processo penal, indicar que o acusado faz mesmo da prática de determinadas
do benefício do sursis processual. modalidades criminosas um estilo de vida ou uma forma de
8. Pois bem, a matéria está assim disciplinada pelo sobrevivência) e as circunstâncias em que foram praticadas.
art. 89 da Lei nº 9.099/95, in verbis: 13. Presente esta ampla moldura, tenho que a melhor
“Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada interpretação do art. 89 da Lei nº 9.099/95 é aquela que faz
for igual ou inferior a 1 (um) ano, abrangidas ou não por esta associar a esse diploma normativo a regra do inciso I do art.
Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá 64 do Código Penal, de modo a viabilizar, em tese, a
propor a suspensão do processo, por 2 (dois) a 4 (quatro) concessão da suspensão condicional do processo a todos
anos, desde que o acusado não esteja sendo processado aqueles acusados que, muito embora já condenados em
ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os feito criminal anterior, já não mais podem ser havidos como
demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional reincidentes, por efeito do decurso do lapso de cinco anos.
da pena (art. 77 do Código Penal)”. 14. Tal entendimento já foi perfilhados pelo Ministro
9. Vê-se, então, que a Lei dos Juizados Especiais Sepúlveda Pertence, no voto vencido que proferiu no HC
indicou os requisitos para obtenção do benefício da 80.897, Rel. Min. Ellen Gracie, e conta, agora, com o
suspensão condicional do processo. Benefício mais amplo beneplácito desta nossa Primeira Turma, que seguiu tal
que o da suspensão condicional da pena (art. 77 do CP), por orientação no HC 86.646, Rel. Min. Cezar Peluso. Além de
autorizar, cumprido o período de provas, a extinção da também ter ao seu lado o apoio abalizada doutrina (cito,
punibilidade, sem seqüelas na ficha criminal do processado, ilustrativamente: GRINOVER, Ada Pellegrini, et ali, Juizados
que continuará a desfrutar de sua primariedade. É por essa Especiais Criminais – Comentários à Lei nº 9.099/95, 4a. ed.,
natureza mais generosa do sursis processual que sua São Paulo: RT, 2002, p. 291).
concessão requer a observância de maiores exigências, tais 15. Por tudo quanto posto, acolho o parecer
como: pena mínima igual ou inferior a um ano; ausência de ministerial público e concedo a ordem de habeas corpus. O
processo ou condenação por qualquer outro crime; além do que faço para: a) anular o processo contra o paciente desde
atendimento a todos os outros requisitos já previstos em a data de sua audiência (2ª Vara da comarca de Osvaldo
lei para obtenção do sursis executório (art. 77 do CP). Cruz/SP – Processo nº 211/2001); b) determinar a remessa
10. Por este ângulo de visada, observo que a dos autos ao Ministério Público do Estado de São Paulo
mencionada lei não se referiu ao disposto no inciso I do art. para que, afastado o óbice do caput do art. 89 da Lei nº
64 do CP, quando impôs a inexistência de condenação por 9.099/95, seja analisada a presença, ou não, dos demais
outro crime como pressuposto para obtenção do benefício. requisitos da concessão do sursis processual.
Eis o que diz o inciso I do art. 64: 16. É como voto.

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XXXI
VOTO viesse a ser uma jurisprudência firmada, significaria que a
O Senhor Ministro Marco Aurélio (Presidente) – pessoa poderia se conduzir no sentido de que, depois de
Também acompanho Sua Excelência no voto proferido, cinco anos, ela poderia voltar a praticar este crime, no caso
ressaltando que a regra é a suspensão do processo à luz do específico do aborto. Ele induziu, mas quem o faz é sempre
disposto no artigo 89 da Lei nº 9.099/95, e a exceção é a a mesma pessoa.
existência de óbice. Indispensável é que este realmente O Senhor Ministro Marco Aurélio (Presidente) –
exista. Não há, no caso, um “açougueiro”.
Estava até para indagar ao relator quanto ao crime
anterior – se doloso –, mas já são passados mais de cinco EXTRATO DE ATA
anos? Decisão: A Turma deferiu o pedido de habeas
O Senhor Ministro Carlos Ayres Britto (Relator) – corpus, nos termos do voto do Relator. Unânime. Presidiu
Já são passados mais de cinco anos. o julgamento o Ministro Marco Aurélio. Ausente,
A Senhora Ministra Cármen Lúcia – Mas tive a justificadamente, o Ministro Sepúlveda Pertence. 1a. Turma,
mesma preocupação intelectual do Presidente, pois, se 28.11.2006.
fosse o mesmo crime, nas mesma condições, de toda sorte, Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes
não mudaria talvez o resultado, mas ensejaria uma à Sessão os Ministros Carlos Britto, Ricardo Lewandowski
preocupação do juiz, porque a reiteração significa uma e a Ministra Cármen Lúcia. Ausente, justificadamente, o
conduta serial. Ministro Sepúlveda Pertence. Subprocurador-Geral da
O Senhor Ministro Marco Aurélio (Presidente) – República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.
Claro! O artigo 89 é um estímulo a não delinqüir e a voltar Ricardo Dias Duarte
ao bom caminho. Coordenador
O Senhor Ministro Carlos Ayres Britto (Relator) –
Sim, opera como um estímulo. E, como os crimes são NOTAS:
diversos, não se pode falar de habitualidade. 1 Neste sentido, a pacífica jurisprudência desta
A Senhora Ministra Cármen Lúcia – Por isso, a nossa Casa de Justiça: HC 76.665, Rel. Min. Marco Aurélio;
mesma preocupação intelectual do Presidente me tomou HC 69.001, Rel. Min. Celso de Mello; HC 74.967, Rel. Min.
quando Vossa Excelência lia, porque, se fosse da mesma Moreira Alves; HC 75.965, Rel. Min. Sydney Sanches; RHC
natureza, a despeito de passados cinco anos e se essa 83.547, de minha própria relatoria.

TRABALHISTA - PREVIDENCIÁRIO

VÍNCULO EMPREGATÍCIO - Inexistência - em que é Recorrente Casa Lotérica A Mundial (Pedro


INVALIDADE do CONTRATO DE TRABALHO - OBJETO Antônio Marques de Oliveira) e Recorrido Aldemir José
ILÍCITO - JOGO DO BICHO - Aplicação do CÓDIGO Bernardo.
CIVIL - ART. 104/CC, inc. II - ART. 166/CC, inc. II O egrégio Tribunal da Sexta Região, por meio do v.
acórdão de fls. 77/82, negou provimento ao recurso
Tribunal Superior do Trabalho interposto pela reclamada reconhecendo o vínculo
Recurso de Revista n. 24384/2002-900-06-00 empregatício e deu provimento parcial ao recurso interposto
Órgão julgador: 2a. Turma pelo reclamante para reconhecer o motivo da rotura
Fonte: DJ, 23.03.2007 contratual como sendo sem justa causa, sendo devidas as
Relator: Min. Renato de Lacerda Paiva verbas rescisórias, aviso prévio, multa fundiária de 40%,
Recorrente: Casa Lotérica A Mundial (Pedro Antônio indenização substitutiva do seguro desemprego e férias
Marques de Oliveira) proporcionais (com acréscimo de 1/3), bem como para,
Recorrido: Aldemir José Bernardo afastando a inépcia da exordial, deferir o repouso semanal
remunerado.
RECURSO DE REVISTA. ATIVIDADE ILÍCITA. Inconformada, a reclamada interpõe recurso de
JOGO DO BICHO. Para a validade do contrato de trabalho, revista, às fls. 84/96, com fulcro nas alíneas a e c do art. 896
como qualquer ato jurídico, além do agente capaz e forma da Consolidação das Leis do Trabalho.
prescrita ou não defesa por lei, há que se observar a licitude Pretende a reforma do julgado que reconheceu o
do seu objeto (artigo 82 do Código Civil), posto que o não vínculo empregatício, postulando a extinção da reclamação
atendimento desse requisito enseja a nulidade do ato, tal sem julgamento do mérito, senão para declarar a nulidade
como previsto no inciso II do artigo 145 do Código Civil do contrato de trabalho e julgar o reclamante carecedor do
Brasileiro. Recurso de revista conhecido e provido para direito de ação. Aponta violação ao artigo 82 do Código
extinguir o processo sem julgamento do mérito, nos termos Civil e contrariedade à Orientação Jurisprudencial nº 199 da
do inciso VI do artigo 267 do Código de Processo Civil, dada SDI-1. Colaciona arestos para a configuração de divergência
a impossibilidade jurídica do pedido. jurisprudencial.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de O recurso foi admitido pelo despacho de fls. 99/100,
Recurso de Revista nº TST-RR-24.384/2002-900-06-00.7, não merecendo contra-razões conforme certidão de fl. 102.

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 31


XXXII
Os autos não foram remetidos à douta Procuradoria- A tese é hipócrita, imoral e inadmissível, devendo
Geral do Trabalho, conforme o disposto no artigo 82, § 2º, ser rejeitada.
II, do Regimento Interno do TST. Por todo o exposto, confirma-se a decisão e nega-
É o relatório. se provimento ao recurso ordinário patronal” (fl. 79).
Não obstante não se exigir, na pactuação trabalhista,
VOTO o mesmo formalismo de que se revestem os demais contratos
I – CONHECIMENTO de natureza civil e/ou comercial, nem por isso o contrato de
Recurso adequado, tempestivo (acórdão publicado trabalho, como qualquer outro ato jurídico, prescinde, para
em 20/02/2002, conforme certidão de fl. 83, e recurso a sua validade, dos requisitos do artigo 82 do Código Civil
protocolizado à fl. 84, em 28/02/2002), subscrito por Brasileiro – de aplicação subsidiária por força do parágrafo
procurador habilitado (mandato tácito à fl. 13); preparo único do artigo 8º da Consolidação das Leis do Trabalho –
correto (custas às fls. 35 e 97 e depósito recursal às fls. 36 e que dispõe:
e 98), o que autoriza a apreciação dos seus pressupostos “A validade do ato jurídico requer agente capaz,
específicos de admissibilidade. objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei”.
Assim, o não atendimento ao requisito objeto lícito,
VÍNCULO DE EMPREGO importa na nulidade do ato. Essa a exegese do inciso II, do
A reclamada alega não ser cabível o vínculo de artigo 145, do Código Civil Brasileiro, ao estabelecer que “é
emprego na hipótese dos autos e requer a reforma do julgado nulo o ato jurídico”, “quando for ilícito, ou impossível, seu
para declarar extinta a reclamação sem julgamento do mérito. objeto”.
Aponta violação ao artigo 82 do Código Civil e contrariedade No particular, a doutrina não discrepa, quanto ao
à Orientação Jurisprudencial nº 199 da SDI-1. Colaciona entendimento ora esposado.
arestos para a configuração de divergência jurisprudencial. Com efeito, para Orlando Gomes e Elson Gottschalk,
A tese do Egrégio Regional, quanto ao tema em in CURSO DE DIREITO DO TRABALHO, “...outro
exame, foi no seguinte sentido: pressuposto de validade do contrato de trabalho é a
“Os elementos de prova dos autos, no conjunto, idoneidade do seu objeto. Há de ser lícito, em primeiro
indicam, ao contrário da tese da defesa, que houve prestação lugar, isto é, ter objeto admitido pela ordem jurídica e
de serviço contínua, por longo tempo, essencial e produzir efeitos que não sejam contrários à lei” (obra
indispensável à atividade desenvolvida pelo demandado, citada, 11a. edição, pág. 178).
ora recorrente, mediante contraprestação correspondente No magistério de Octávio Bueno Magano, “O objeto
às vendas efetuadas pelo autor, em forma de comissões dos dos atos jurídicos consiste nos termos sobre que recai o
cambistas. consentimento, inclusive os fins visados pelas partes. Por
Patente, também, se encontra o vínculo de vezes, a coisa ou o comportamento sobre que recai o
subordinação do demandante para com o representante do consentimento são proibidos; outras vezes, reputam-se
réu, pois aquele cumpria horário de trabalho, prestava ilícitos. Em ambas as hipóteses, há inidoneidade do objeto,
contas ao final do expediente, observava as tabelas de mas os efeitos são diferentes...”.
preços fixados pelo dono da banca. Por outro lado, vale E, valendo-se dos exemplos, a saber, de trabalho
ressaltar que todo o material com que trabalha o cambista proibido – o que foi prestado por menor em atividade
é fornecido pelo empregador. Ora, a hipótese se enquadra insalubre – e de trabalho ilícito – o desenvolvido em
à moldura do art. 3º da CLT. Trata-se de pessoa física, que prostíbulos ou em organização de contrabando –, arremata,
presta serviços de natureza não eventual a empregador, citando DÉLIO MARANHÃO: ‘Tratando-se de trabalho
sob a dependência deste e mediante salário. simplesmente proibido, embora nula a obrigação, pode o
Não resta a menor dúvida quanto à qualificação do trabalhador reclamar os salários correspondentes aos
reclamante: ele é, realmente, empregado, na conceituação serviços realizados, o que não aconteceria se o trabalho
legal e doutrinária. O seu trabalho é explorado por outrem fosse ilícito: nemo de improbate sua consequitur
e por isso mesmo não pode ficar à margem da proteção legal. actionem’.”(Direito Individual do Trabalho, Ed. LTr, 3a.
A ilicitude da atividade empresarial, não contamina edição, págs. 191/192).
o trabalho efetuado pelo empregado que, premido pelas AMAURI MASCARO NASCIMENTO, por sua vez,
necessidades vitais, aceita o emprego para subsistir, apenas. socorrendo-se do Direito Comparado, preleciona:
Aliás, as bancas de jogo do bicho são bastante atraentes, “A relação de emprego deve ter objeto lícito e
justamente em virtude da clandestinidade que lhes isenta, moral. Se o objeto da relação é ilícito ou imoral, a
inclusive, da contribuição à previdência social. Portanto, a conseqüência será a sua ineficácia, como ocorre com todo
nosso ver, inexiste óbice ao reconhecimento da relação de ato jurídico; também o direito civil considera uma das
emprego, provada nos autos (inclusive, por meio da condições de validade do ato jurídico a licitude do seu
confissão do réu). objeto.
Assim é que, primeiramente, rejeita-se a preliminar As leis trabalhistas modernas disciplinam os
de nulidade do contrato de trabalho invocada pela efeitos da ilicitude do objeto. Exemplifique-se com a Lei do
demandada, com base no art. 796, b, da Consolidação das Contrato de Trabalho da Argentina (Lei n.20.744), art.41:
Leis do Trabalho. Com efeito, a ninguém é dado beneficiar- ‘Considera-se ilícito o objeto quando este for contrário à
se de sua própriapara dela auferir vantagem. A atividade moral e aos bons costumes, mas não se considerará como
ainda ilícita do jogo do bicho é um fato. Entretanto, sua tal se, pelas leis, ordenações municipais ou regulamentos
ilicitude é amenizada pela tolerância social e complacência de polícia, forem por estes regulados ou tolerados’. O
das autoridades, ... . art.43 da mesma Lei aponta o efeito: ‘O contrato de objeto

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 32


XXXIII
ilícito não produz conseqüências entre as partes, derivadas II – MÉRITO
desta Lei’.” (Curso de Direito do Trabalho, Ed.Saraiva, 9a. VÍNCULO DE EMPREGO
edição, pág.254). Como conseqüência lógica do conhecimento do
No caso, a questão do jogo do bicho é tipificada no recurso de revista por violação ao art. 82 do Código Civil
artigo 58, do Decreto-Lei nº 3.688, de 03 de outubro de 1941, e contrariedade à Orientação Jurisprudencial nº 199 da SDI-
como contravenção penal. 1, dou provimento ao apelo, para extinguir o processo sem
A controvérsia encontra-se pacificada pela atual e julgamento do mérito, nos termos do inciso VI do artigo 267
reiterada jurisprudência da Subseção I Especializada em do Código de Processo Civil, dada a impossibilidade jurídica
Dissídios Individuais desta Corte, consubstanciada no seu do pedido.
Precedente de nº 199, a saber:
“JOGO DO BICHO. CONTRATO DE TRABALHO. ISTO POSTO
NULIDADE. OBJETO ILÍCITO. ARTS. 82 E 145 DO CÓDIGO ACORDAM os Ministros da Segunda Turma do
CIVIL”. Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer
A reclamada conseguiu, ainda, demonstrar o do recurso de revista no que tange ao vínculo de emprego,
dissenso jurisprudencial, eis que o segundo aresto de fl. 91 por violação ao artigo 82 do Código Civil, por contrariedade
e o terceiro de fl. 93, ambos da SDI-1 do TST e os de fls. 94/ à Orientação Jurisprudencial nº 199 da SDI-1 e por
95, que bem atende aos requisitos do Enunciado nº 337 do divergência jurisprudencial e, no mérito, dar-lhe
TST, adotou tese diametralmente oposta àquela defendida provimento para extinguir o processo sem julgamento do
pela v. decisão regional, quanto aos efeitos do contrato de mérito, nos termos do inciso VI do artigo 267 do Código
trabalho fruto de objeto ilícito. de Processo Civil, dada a impossibilidade jurídica do
Ante o exposto, conheço do recurso de revista, por pedido.
violação ao artigo 82 do Código Civil, por contrariedade à Brasília, 28 de fevereiro de 2007.
Orientação Jurisprudencial nº 199 da SDI-1 e por divergência Renato de Lacerda Paiva
jurisprudencial. Ministro Relator

ADMINISTRATIVO - CONSTITUCIONAL

CONCURSO PÚBLICO - NOMEAÇÃO em ACÓRDÃO


PADRÃO INICIAL de CARREIRA - EDITAL previa Vistos, relatados e discutidos os autos em que são
PADRÃO superior - Possibilidade da ADMINISTRAÇÃO partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira
PÚBLICA rever ATO ADMINISTRATIVO Seção do Superior Tribunal de Justiça: A Seção, por
unanimidade, denegou a segurança, nos termos do voto da
Superior Tribunal de Justiça Sra. Ministra Relatora. Votaram com a Sra. Ministra Relatora
Mandado de Segurança n. 5.929 - DF os Srs. Ministros Nilson Naves, Felix Fischer, Hamilton
Órgão julgador: 3a. Seção Carvalhido, Paulo Gallotti, Laurita Vaz, Paulo Medina e
Fonte: DJ, 26.03.2007 Arnaldo Esteves Lima.
Relatora: Min. Maria Thereza de Assis Moura Brasília, 14 de fevereiro de 2007 (Data do Julgamento)
Impetrante: Raimundo Estevam Silva Ministra Maria Thereza de Assis Moura
Impetrado: Ministro de Estado da Cultura Relatora

MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO RELATÓRIO


PÚBLICO. TÉCNICO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO Ministra Maria Thereza de Assis Moura (Relatora):
MINISTÉRIO DA CULTURA, CLASSE “D”, PADRÃO IV. Trata-se de mandado de segurança, impetrado por
Raimundo Estevam Silva, contra ato do Excelentíssimo Senhor
NOMEAÇÃO NO PADRÃO I. INEXISTÊNCIA DE OFENSA
Ministro da Cultura, consubstanciado na nomeação do
AOS DITAMES DO EDITAL. PODER DE AUTO-TUTELA.
impetrante para o cargo de Técnico de Comunicação Social,
1. A administração pública pode rever seus atos, em padrão diverso daquele definido no edital do certame.
quando estes atentem contra a lei ou contra os princípios Alega o impetrante, em resumo, que prestou o
norteadores da administração. concurso para Técnico de Comunicação Social do Ministério
2. Não é legal, tampouco moral, que um candidato da Cultura, Classe “D”, padrão IV, de acordo com o edital nº
seja nomeado já em padrão avançado da carreira, em prejuízo 01, de 18 maio de 1994, logrando aprovação.
aos servidores que ingressaram antes e que ainda não Sustenta que, não obstante sua aprovação para o
alcançaram o mesmo padrão. padrão IV, foi nomeado e empossado no referido cargo, na
3. É possível a nomeação de candidato no padrão classe prevista, no padrão I.
inicial da carreira para a qual foi aprovado em concurso Assevera que é evidente o prejuízo acarretado, pois
público, quando o edital labora em equívoco ao prever a o edital do concurso previa o provimento em um padrão e a
nomeação dos candidatos em padrão superior ao inicial. nomeação se deu padrão diverso, violando um dos princípios
Precedentes. norteadores dos concursos públicos, qual seja, o da
4. Mandado de segurança denegado. vinculação ao edital.

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 33


XXXIV
Requer, ao final, seja concedida a segurança para “A administração é livre para estabelecer as bases
que seja determinado o reenquadramento do impetrante no do concurso e os critérios de julgamento, desde que o faça
padrão previsto no edital. com igualdade para todos os candidatos, tendo, ainda, o
A autoridade coatora prestou informações, afirmando poder de, a todo tempo, alterar as condições e requisitos de
que, de fato, o impetrante foi nomeado para o cargo referido, admissão dos concorrentes, para melhor atendimento do
no padrão I, mas que tal nomeação se deu em obediência à interesse público.” (Direito Administrativo Brasileiro, 18a.
Portaria SAF nº 2.343/94, expedida de acordo com o art. 14, edição, p. 376)
I, “d”, da Lei nº 9649/98. No mesmo sentido, esta Corte já teve a oportunidade
Aduz que tal portaria determina que as nomeações de analisar questão semelhante:
dos candidatos à cargo público deve se dar sempre na classe “ADMINISTRATIVO. CONCURSO PARA
e padrão inicial de cada nível. PROVIMENTO DE CARGO DE CONTADOR. EDITAL.
Sustenta, ainda, que o Decreto nº 84.669/80 regulou INOBSERVÂNCIA DA LEI 8.460/92. PROVIMENTO INICIAL
a figura da progressão funcional, razão pela qual não teria NA CLASSE “D”, PADRÃO 1. ALTERAÇÃO DE
sentido nomear servidor em padrão superior ao inicial sem CONDIÇÕES. POSSIBILIDADE.
que este servidor tivesse cumprido os requisitos previstos 1. O conhecimento do recurso especial fundado na
no referido decreto. alínea c do permissivo constitucional requisita a indicação
Ouvido o Ministério Público Federal, este opinou das circunstâncias que identificam ou assemelham os casos
pela denegação da ordem. confrontados, e a comprovação, mediante juntada das
É o relatório. certidões ou cópias autenticadas dos acórdãos paradigmas.
2. Para que tenha cabimento o recurso especial, por
VOTO qualquer das alíneas do permissivo constitucional, é preciso
Ministra Maria Thereza de Assis Moura (Relatora): que a questão federal tenha sido apreciada pelo Tribunal a
A controvérsia da demanda cinge-se a saber se poderia quo. Súmulas 282e 356 do STF. No mérito, é nula a nomeação
ter sido o servidor nomeado para o cargo que prestou concurso, da autora na classe “D”, padrão IV, do cargo de contador,
em padrão inicial da classe, diverso do previsto no edital. pois, a Lei nº 8.460/92 estabelece que o provimento inicial
In casu, o impetrante prestou concurso para Técnico desse cargo deve ser na classe “D”, padrão I, conforme o
de Comunicação Social do Ministério da Cultura, Classe art. 2º, II.
“D”, padrão IV. Contudo, foi nomeado e empossado no 3. O edital, portanto, contrariou a legislação vigente,
padrão I. sendo ilegal o dispositivo editalício , caso em que a
Dessa feita, alega que houve descumprimento das Administração pode anular ou retificar (como fez) o ato de
normas editalícias. nomeação para ajustá-lo ao que prevê a lei.
Sem embargo, não coaduno com o entendimento 4. Recurso não conhecido.” (REsp 510.178/DF, Rel.
lançado na impetração. Min. PAULO MEDINA, SEXTA TURMA, DJ 17.05.2004)
É que, muito embora a nomeação tenha ocorrido, de “RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
fato, em padrão diverso da classe prevista no edital, certo é ADMINISTRATIVO. CONCURSO PARA PROVIMENTO
que tal nomeação se deu em respeito à legislação e aos DE CARGO DE JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO. EDITAL.
princípios básicos da administração pública. ALTERAÇÃO DE CONDIÇÕES. PROVA DE TÍTULOS COM
De se ver, por primeiro, que a Lei 8.460/92 trouxe CARÁTER ELIMINATÓRIO. PRINCÍPIOS
diversos anexos em que regula os cargos públicos do ADMINISTRATIVOS RESPEITADOS. POSSIBILIDADE.
executivo federal, determinando as classes e os padrões em Conforme lições doutrinárias e entendimento
que estes devem ser providos. jurisprudencial, é lícito à Administração alterar condições e/
Seguindo passos idênticos, o Decreto nº 84.669/80 ou requisitos estabelecidos pelo Edital visando o ingresso
introduziu a progressão funcional, dispondo sobre a no serviço público, desde que o faça em respeito aos
ascensão na carreira dentro da mesma classe. princípios básicos administrativos, visando melhor atender
Portanto, a legislação, atendendo sobretudo ao ao interesse público.
princípio da isonomia, regulou as carreiras, suas classes e Recurso desprovido.” (RMS 10326/DF, Rel. Min.
forma de provimento tudo no sentido de tratar os servidores JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, DJ
públicos de forma idêntica. 31.05.1999)
Da mesma forma, é princípio básico da administração Ante o exposto, denego a segurança.
pública, a possibilidade dela rever seus atos, corrigindo-os É como voto.
quando tiverem sido praticados em dissonância com os
ditames legais ou em confronto com a moralidade CERTIDÃO
administrativa (auto-tutela). Certifico que a egrégia TERCEIRA SEÇÃO, ao
Na espécie, desse modo, observa-se que, apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta
claramente, o edital laborou em equívoco ao prever a data, proferiu a seguinte decisão:
nomeação dos candidatos em padrão superior ao inicial. A Seção, por unanimidade, denegou a segurança,
Isto porque não seria legal, tampouco moral, que um nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
candidato fosse nomeado já em padrão avançado da Votaram com a Sra. Ministra Relatora os Srs. Ministros
carreira, em prejuízo aos servidores que ingressaram antes Nilson Naves, Felix Fischer, Hamilton Carvalhido, Paulo
e que ainda não alcançaram o mesmo padrão. Essa a razão Gallotti, Laurita Vaz, Paulo Medina e Arnaldo Esteves Lima.
de o ingresso na carreira se dar em classe e padrão iniciais. Brasília, 14 de fevereiro de 2007
O imbatível Hely Lopes Meirelles, com acuidade Vanilde M. Trigo de Loureiro
esclarece a questão: Secretária

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XXXV

TRIBUTÁRIO
IPI - IMPOSTO SOBRE PRODUTOS “nas ações que visem ao creditamento do IPI...” (fl. 213). Afirma,
INDUSTRIALIZADOS - RESTITUIÇÃO - ainda, serem as autoras partes ilegítimas para a causa, pois são
CONTRIBUINTE DE FATO - Não possui LEGITIMIDADE apenas contribuintes de fato, sendo que o contribuinte de direito
ATIVA para AÇÃO de REPETIÇÃO DE INDÉBITO – o fabricante das bebidas – é o único autorizado a reaver eventual
excesso de tributação.
Tribunal Regional Federal da 2a. Região Aduz que a cobrança do IPI que se fez do fabricante
Apelação Cível n. 2001.34.00.034404-3 – fornecedor das autoras, foi correta, por ser legítima a
Órgão julgador: 7a. Turma vedação, constante na Lei 7.798/89, de deduzirem-se do valor
Fonte: DJ, 09.03.2007 da operação do IPI os descontos, diferenças ou abatimentos
Relator: Des. Federal Antônio Ezequiel da Silva concedidos, a qualquer título, ainda que incondicionais.
Apelante: Fazenda Nacional Por fim, se mantida a sentença, defende a
Apelado: Beira Mar Distribuidora de Bebidas Ltda. e outros inaplicabilidade da taxa SELIC.
Houve contra-razões (fls. 230/246).
PROCESSUAL CIVIL - IPI SOBRE “DESCONTOS É o relatório.
INCONDICIONAIS” CONCEDIDOS POR FABRICANTES DE
BEBIDAS. ILEGITIMIDADE ATIVA DO CONTRIBUINTE VOTO
DE FATO. O Exmo. Sr. Desembargador Federal Antônio Ezequiel
1. Somente o contribuinte de direito, ou seja, aquele (Relator):
que tem obrigação legal de recolher o tributo, pode pedir a sua Discute-se, nos autos, a incidência do Imposto sobre
restituição, devendo, ainda, quando houver repassado esse Produtos Industrializados – IPI sobre os descontos
ônus a terceiro, exibir autorização deste para a repetição (CTN, incondicionais concedidos às autoras – ora apeladas – pelas
arts. 165 e 166). suas fornecedoras de bebidas.
2. Não tem legitimidade ativa para ação de repetição de Ilegitimidade passiva ad causam.
indébito tributário o contribuinte de fato, a quem é repassado Sustenta a Fazenda Nacional a ilegitimidade ativa ad
o tributo no preço de aquisição do produto industrializado. causam das autoras, por serem contribuintes de fato do IPI, para
3. Processo extinto sem resolução de mérito. pleitearem a repetição desse tributo incidente sobre os descontos
4. Apelo provido. incondicionais a elas concedidos na aquisição de bebidas.
Assiste razão à apelante, posto que somente o
ACÓRDÃO contribuinte de direito, ou seja, aquele que tem obrigação legal
Decide a Turma, por unanimidade, dar provimento ao de recolher o tributo, pode pedir a sua restituição, devendo,
apelo da Fazenda Nacional. ainda, quando houver repassado esse ônus a terceiro, exibir
7a. Turma do TRF 1a. Região – 19/12/2006 autorização deste para a repetição (CTN, arts. 165 e 166).
Desembargador Federal Antônio Ezequiel In casu, as autoras-apeladas não são contribuintes do
Relator IPI, porque não produzem as bebidas que comercializam,
adquirindo-as dos respectivos fabricantes, pagando, nesse
RELATÓRIO momento, o IPI embutido no preço, ainda que destacado o seu
O Exmo. Sr. Desembargador Federal Antônio Ezequiel valor na nota fiscal, caracterizando-se como meros contribuintes
(Relator): de fato. Confiram-se, a propósito, o seguinte aresto da eg.
Trata-se de apelação interposta pela Fazenda Nacional PRIMEIRA TURMA do STJ, proferido no REsp n° 639.632/PR,
em ação de rito ordinário proposta com o fim de obter declaração Relator Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, assim ementado:
de não incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados “TRIBUTÁRIO. IPI. OPERAÇÃO DE VENDA DE
- IPI sobre os descontos incondicionais que lhes são concedidos VEÍCULOS ÀS CONCESSIONÁRIAS REVENDEDORAS.
pelos fabricantes nos fornecimentos de bebidas. Requer, ainda, REPETIÇÃO DE INDÉBITO. ART. 166 DO CTN.
a compensação dos valores já cobrados com quaisquer outros LEGITIMIDADE ATIVA DA FABRICANTE QUANDO
tributos devidos à Secretaria da Receita Federal ou, DEVIDAMENTE AUTORIZADA. DESCONTOS
sucessivamente, a restituição em espécie de tais valores. INCONDICIONAIS. ABATIMENTO DA BASE DE CÁLCULO.
A sentença apelada, integrada em sede de embargos de POSSIBILIDADE.PRECEDENTES
declaração (fls. 207-208), julgou procedente o pedido, 1. O contribuinte de direito (fabricante de veículos) pode
determinando “que a ré compense o IPI recolhido desde 17/12/ proceder à repetição de indébito de valores indevidamente
1991 sobre ‘descontos concedidos no valor da operação com recolhidos a título de IPI quando expressamente autorizada pelo
qualquer outro tributo administrado pela Secretaria da Receita contribuinte de fato (concessionárias revendedoras). Precedente:
Federal (...) acrescido de correção monetária do recolhimento Resp 435.575/SP, 2a. T., Min. Eliana Calmon, DJ de 04.04.05.
até 31/12/1995, substituída pelos juros equivalentes à taxa (...)”
SELIC a partir de 01/01/1996’”. Condenou a ré ao reembolso das Por todo o exposto, dou provimento ao apelo da
custas antecipadas e ao pagamento dos honorários de Fazenda, para extinguir o processo sem resolução do mérito,
advogado, que fixou em 10% sobre o crédito compensado. nos termos do art. 267, VI, do CPC. Condeno as autoras ao
Houve remessa oficial. pagamento das custas e dos honorários de advogado que fixo
Alega a Fazenda Nacional (fls. 211/227) a ocorrência da em R$350,00 (trezentos e cinqüenta reais) para cada.
prescrição qüinqüenal, nos termos do Decreto n. 20.910/32, É o voto.

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XXXVI

CIVIL - COMERCIAL

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - SEGURO de e improvido. (TJ/DF - Ap. Cível no Juizado


VEÍCULO - Ocorrência de SINISTRO - Especial n. 20050110841585 - Comarca do Rio
Ausência de PROVA adequada de de Janeiro - 2a. T. Rec. - Rel.: Des. Jesuíno Rissato
ENTREGA do MANUAL ao SEGURADO - - j. em 06.03.2007 - Fonte: DJ/DF, 26.03.2007).
Impossibilidade de cobertura por PERDA
TOTAL CONTRATO de REPRESENTAÇÃO
Civil e processual civil. Ação de indenização. COMERCIAL autônoma - Ausência de
Seguro de veículo. Sinistro. Apólice. Manual do DEVOLUÇÃO de NOTA PROMISSÓRIA
segurado. Entrega. Prova. Direito à informação. - Promessa de DESTRUIÇÃO - Não
Perda total ou reparo do bem. Opção do segurado. configuração de dever de PRESTAÇÃO
Pneus. Lucros cessantes. Remoção. Despesas. DE CONTAS
Dano moral. Apelo conhecido e parcialmente Prestação de contas. Contrato particular
provido. 1. Sem prova adequada da entrega do de representação comercial autônoma. Agravo
manual ao segurado, não pode a seguradora se retido. Notas promissórias não devolvidas com a
valer de cláusula constante apenas naquele promessa de que seriam destruídas. Dever de
documento para impor cobertura por perda total, a prestar contas não configurado. Honorários e
qual, no caso, se revela prejudicial ao apelante. 2. despesas processuais. Decisão mantida. Recursos
Além dos custos do reparo do bem, onde se inclui desprovidos. A representação comercial é exercida
o valor dos pneus, o autor tem direito em ser por representante autônomo, pessoa física ou
indenizado pelos lucros cessantes advindos da jurídica sem relação de emprego, que desempenha,
Ementário

impossibilidade de uso do caminhão, porquanto em caráter não eventual por conta de uma ou mais
essa circunstância derivou da inadimplência pessoas, a mediação para realização de negócios
contratual da ré. 3. Todavia, não é cabível o mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para
ressarcimento dos gastos relativos à remoção do transmiti-los aos representados. O representante
caminhão, seja porque contrária ao que comercial eventualmente efetuava a cobrança dos
ordinariamente é coberto pela assistência técnica, clientes inadimplentes do apelante, tendo que
seja porque a mudança de oficina não era prestar conta toda semana na garantia de que as
imprescindível. 4. O simples descumprimento notas promissórias seriam destruídas, pois as
contratual não é capaz de gerar abalo moral. (TJ/PR cobranças que não restavam em êxito seriam
- Ap. Cível n. 345145-2 - Comarca de Umuarama novamente efetuadas. Diante da sucumbência na
- 10a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Vitor Roberto Silva - primeira fase da ação de prestação de contas,
j. em 06.07.2006 - Fonte: DJ/PR, 12.07.2006). cabível a condenação do vencido em honorários
advocatícios e despesas processuais. (TJ/PR -
COMPANHIA aérea - Ocorrência de Ap. Cível n. 314053-6 - Comarca de Arapongas -
overbooking em PAÍS ESTRANGEIRO - 12a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Costa Barros - j. em
Caracterização de DANO MORAL devido 30.08.2006 - Fonte: DJ/PR, 11.09.2006).
o ATRASO no embarque - Configuração de
INDENIZAÇÃO de acordo com o DANO EXCLUDENTE de RESPONSABILIDADE
sofrido - Observância do PRINCÍPIO DA - TRANSPORTADORA - Ocorrência de
PROPORCIONALIDADE e da HOMICÍDIO no interior de VAGÃO -
RAZOABILIDADE Ocorrência de FORÇA MAIOR
Civil. Direito do consumidor. Ação de Recurso especial. Responsabilidade civil.
indenização por danos morais. Companhia aérea. Homicídio no interior de vagão. Caso fortuito ou
Overbooking ocorrido em país estrangeiro. força maior. Excludente de responsabilidade.
Embarque no dia seguinte. Dano moral Recurso provido. 1. O fato de terceiro, que não
caracterizado. Valor da indenização fixado com exime de responsabilidade a empresa
moderação. Recurso visando reduzir o quantum transportadora, é aquele que guarda uma relação
fixado. Impossibilidade. Sentença mantida. 1. de conexidade com o transporte. 2. Recurso
Comprovada a existência do dano moral, o valor da conhecido e provido. (STJ - Rec. Especial n.
indenização deve guardar correspondência com o 142.186 - São Paulo - 4a. T. - Ac. unân. - Rel.: Min.
gravame sofrido, devendo o juiz pautar-se pelos Hélio Quaglia Barbosa - j. em 27.02.2007 - Fonte:
princípios da proporcionalidade e razoabilidade, DJ, 19.03.2007).
sopesando as circunstâncias o fato, e as condições NOTA BONIJURIS: Extraímos do voto do
pessoais e econômicas das partes envolvidas, assim eminente Relator, Min. Hélio Quaglia Barbosa, a
como o grau da ofensa moral e sua repercussão. 2. seguinte lição: “Por mais segurança que tenha, a
Tendo o juiz, no caso concreto, obedecido a tais empresa de transporte ferroviário não tem
critérios, é de ser mantido o valor indenizatório, condições de evitar assalto com arma de fogo, na
fixado com moderação. Decisão: Recurso conhecido plataforma de embarque, quando os bandidos estão

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XXXVII
enfrentando até mesmo as próprias forças de segurança do peso (hipertensão arterial sistêmica, dificuldade respiratória,
Estado. Trata-se, sem dúvida, de assalto praticado com artrose, hipotireoidismo e hipertrigliceridemia), deve ser
violência, cenário capaz de ilidir a presunção de culpa da custeada pelo plano de saúde, que abrange a cobertura de
transportadora. [...] A morte decorrente de assalto à mão cirurgia geral, gastroentereológica e plástica reparadora,
armada, dentro de ônibus, por se apresentar como fato bem como a assistência médica nas especialidades de
totalmente estranho ao serviço de transporte (força maior), endocrinologia e ortopedia. A cláusula que exclui a
constitui-se em causa excludente da responsabilidade da cobertura de tratamentos cirúrgicos ou endocrinológicos
empresa concessionária do serviço público.” com finalidade reparadora deve ser interpretada
restritivamente e a favor do consumidor, conforme impõe
NEGÓCIO JURÍDICO bancário - Possibilidade de o art. 47 do CODECON, não se estendendo para intervenções
REVISÃO DE CONTRATO renegociado e quitado que, apesar de terem conseqüências estéticas tenham por
- Cabimento de COBRANÇA de CAPITALIZAÇÃO objetivo precípuo o restabelecimento da saúde da
DE JUROS - SÚMULA 286/STJ contratante. A restrição da cobertura apenas para hipóteses
Apelação cível. Negócio jurídico bancário. Ação de em que se caracteriza a obesidade mórbida, de acordo com
revisão de contrato. Revisão. Possibilidade de revisão dos o índice de massa corporal é abusiva, por ofensa à boa-fé
contratos renegociados e já quitados. Aplicabilidade, na objetiva, e não pode ser oposta ao consumidor, por não
espécie, da Súmula 286 do STJ. Juros remuneratórios. constar no ajuste qualquer informação nesse sentido. A
Ausência de cobrança abusiva, diante do panorama fixação da verba advocatícia, conforme o §4º, do art. 20, do
econômico, conforme orientação atual do STJ. Capitalização. CPC, se submete ao prudente arbítrio do julgador, conforme
Nos contratos celebrados posteriormente a 31/03/2000, sua apreciação eqüitativa. Reconhecido, contudo, que o
data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-17, é valor arbitrado não guarda a necessária proporção com os
possível a cobrança de capitalização em periodicidade esforços despendidos, remunerando de forma inadequada
inferior à anual. Recurso provido em parte. Unânime. (TJ/ o serviço qualificado, cumpre proceder à sua majoração.
RS - Ap. Cível n. 70018833038 - Comarca de Caxias do Sul (TJ/MG - Ap. Cível n. 1.0024.03.128962-2/002 - Comarca
- 2a. Câm. Especial Cível - Rel.: Des. Sergio Luiz Grassi de Belo Horizonte - 14a. Câm. Cív. - Rel.: Desa. Heloisa
Beck - j. em 03.04.2007 - Fonte: DJ/RS, 10.04.2007). Combat - j. em 29.06.2006 - Fonte: DJ/MG, 04.08.2006).
PLANO DE SAÚDE - CONSUMIDOR de IDADE REPRESENTANTE COMERCIAL - DUPLICATA
avançada - CONTRATO - Descrição de direito com mercantil - Emissão de TÍTULO fora das hipóteses
difícil INTERPRETAÇÃO legais - Impossibilidade de COBRANÇA de
Indenizatória. Danos morais. Plano de saúde. COMISSÃO
Senhora idosa de oitenta anos. Necessidade de submeter- Direito comercial. Representante comercial.
se à fisioterapia em razão de problemas no joelho esquerdo. Duplicata mercantil. Cobrança de comissões.
Limite contratual de vinte sessões por ano. Postulação pela Impossibilidade. Apelação desprovida. Título emitido fora
permissão para realização de quantas sessões forem das hipóteses legais. Nulidade. Inocorrência. Mera
necessárias para a sua recuperação. Improcedência.
inexigibilidade. Recurso adesivo improvido. 1. É
Incidência da lei consumerista. Da análise do contrato
inadmissível a emissão de duplicata fora das hipóteses
pactuado na década de oitenta, verifica-se que a cláusula
legais, quais sejam, a compra e venda mercantil. A relação
que estipula a limitação dos direitos da autora encontra-se
de representação comercial, especial que é, não configura
redigida com letras de impossível leitura por pessoa de
prestação de serviço apta a embasar emissão de duplicata.
idade avançada, não permitindo que a consumidora tenha
2. A emissão de título causal fora das hipóteses legais não
completa noção dos seus direitos. Precedente do Superior
o torna nulo, mas meramente inexigível perante o sacado.
Tribunal de Justiça. Conhecimento do recurso e provimento
do apelo para reformar o julgado com a procedência do Devem ser resguardadas eventuais relações cambiais
pedido inicial. (TJ/RJ - Ap. Cível n. 2006.001.57859 - decorrentes do título que não são afetadas em decorrência
Comarca do Rio de Janeiro - 17a. Câm. Cív. - Rel.: Des. do vício na emissão da cambial, em função do princípio da
Raul Celso Lins e Silva - j. em 16.11.2006 - Fonte: DJ/RJ, autonomia. 3. Apelação e recurso adesivo desprovidos.
18.01.2007). (TJ/PR - Ap. Cível n. 0386525-6 - Comarca de Londrina
- 15a. Câm. Cív. - Rel.: Juiz Fábio Haick Dalla Vecchia -
PLANO DE SAÚDE - OBESIDADE mórbida - conv. - j. em 24.01.2007 - Fonte: DJ/PR, 30.01.2007).
Cobertura obrigatória de CIRURGIA -
Interpretação de CLÁUSULA restritiva em favor RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DE
do CONSUMIDOR - Caracterização do DEVER DE TRÂNSITO - Ocorrência de falha em sistema de
INFORMAÇÃO freio - Necessidade de VERIFICAÇÃO de CULPA
Apelação cível. Plano de saúde. Cobertura de e NEXO CAUSAL - SÚMULA 7/STJ
gastroplastia. Cirurgia de redução de estômago. Recurso especial. Responsabilidade civil. Acidente
Interpretação de cláusula contratual restritiva. Obesidade automobilístico. Falha no sistema de travamento de freios.
grave associada a patologias mórbidas. Cobertura Embargos de declaração. Caráter procrastinatório não
obrigatória. Restrição pelo índice de massa corporal. verificado. Multa afastada. Nexo causal verificado nas
Cláusula abusiva. Boa-fé objetiva. Dever de informação. instâncias ordinárias. Súmula 7 do STJ. Inversão do ônus
Honorários advocatícios. Majoração. Possibilidade. A da prova. Possibilidade. Perícia. Cerceamento de defesa
cirurgia gastroplástica recomendada para o tratamento de não verificado. Indenização por danos morais. Quantum
obesidade grave com patologias associadas ao excesso de excessivo. Sucumbência recíproca. Súmula n. 326/STJ.

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XXXVIII
Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão Ingestão de produto impróprio para consumo (refrigerante).
provido. 1. A matéria referente à culpa e ao nexo causal se Ausência de dano à saúde. Dano moral não configurado.
alicerça nas provas carreadas aos autos, na instância Ação de procedimento comum ordinário objetivando a
ordinária; revolvê-la significa desrespeitar o entendimento reparação de dano moral decorrente do fato de o autor, após
jurisprudencial sedimentado por meio da Súmula 7 desta haver ingerido cerca de meia garrafa do refrigerante Fanta
Corte Superior de Justiça (“A pretensão de simples reexame Laranja em um bar, ter encontrado um corpo estranho no
de prova não enseja recurso especial”). 2. Inocorrente, na interior da mesma, tendo sido registrada a ocorrência.
espécie, o cerceamento de defesa da recorrente tocante à Sentença que condenou a ré ao pagamento de indenização
produção de prova pericial. 3. A revisão do valor da por dano moral, arbitrada em R$ 4.000,00, com correção
indenização por dano moral só ocorre no caso de valores monetária a partir de então e juros a contar da citação. Ainda
excessivos ou irrisórios. In casu, mostra-se excessiva a que o Laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli tenha
quantia fixada, devendo ser reduzida a patamares razoáveis. concluído que o produto estava impróprio para consumo e
4. “Na ação de indenização por dano moral, a condenação que os fatos alegados na inicial tenham sido confirmados em
em montante inferior ao postulado na inicial não implica depoimentos prestados por um cliente e por um funcionário
sucumbência recíproca” (Súmula n. 326/STJ). 5. Recurso do bar, o dano moral não resultou configurado, ante a
parcialmente conhecido e, na extensão, provido. (STJ - Rec. ausência de agressão à dignidade do autor. Precedentes do
Especial n. 475.039 - Mato Grosso do Sul - 4a. T. - Rel.: Tribunal. Provimento do primeiro e do segundo recursos
Min. Hélio Quaglia Barbosa - j. em 27.02.2007 - Fonte: DJ, para julgar improcedente o pedido inicial, ficando prejudicado
19.03.2007). o recurso adesivo. Em conseqüência, o autor responderá
pelo pagamento das despesas processuais e de honorários
RESPONSABILIDADE CIVIL - Ingestão de advocatícios, estes fixados em R$ 500,00, observado o
PRODUTO impróprio para CONSUMO - Ausência disposto no artigo 12 da Lei nº 1.060/50. (TJ/RJ - Ap. Cível
de violação à DIGNIDADE do AUTOR - Não n. 2006.001.60833 - Comarca do Rio de Janeiro - 10a. Câm.
configuração de DANO MORAL Cív. - Rel.: Desa. Cássia Medeiros - j. em 06.02.2007 - Fonte:
Responsabilidade civil. Relação consumerista. DJ/RJ, 14.02.2007).

IMOBILIÁRIO

AÇÃO DE COBRANÇA - Existência de princípio da função social da propriedade, a ameaça à


compropriedade - Dever do CONDÔMINO na saúde e segurança dos vizinhos. Laudo pericial que tão
contribuição de DESPESAS CONDOMINIAIS pouco deixa dúvidas acerca da necessidade da demolição
Cobrança de contribuições condominiais. pretendida. Informações prestadas pela própria Apelante
Preliminar de coisa julgada que se rejeita. Objeto da no sentido de que não possui condições financeiras ou
cobrança diverso. Comprovada a existência da interesse imediato na conclusão da obra, até porque ao
compropriedade e estando o condomínio legalmente longo de três anos não manifestou tal interesse.
constituído, é dever do condômino contribuir para as Inafastável, pois, a aplicação do artigo 1.312, do C.C.
despesas ainda que não tenha aderido ao instrumento Entendimento corroborado pela jurisprudência uníssona
convencional. Condomínio de casas. Se a área originária deste E. Sodalício. Inexistência de dados que comprovem
não foi desmembrada e se foram fixadas frações de terreno o fim dos riscos, pelo contrário. Prejudicada a discussão
às unidades, existe o condomínio e não um loteamento acerca da condenação da Ré ao pagamento das custas
onde os terrenos são desmembrados de uma maior porção. processuais e honorários advocatícios. D. Decisão, proferida
Sentença confirmada. Desprovimento do apelo. (TJ/RJ - após a R. Sentença, concedendo a gratuidade de justiça
Ap. Cível n. 2006.001.16363 - Comarca do Rio de Janeiro reclamada. Necessidade tão-somente de interpretação da
- 14a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Antonio José Carvalho - j. em parte final do dispositivo em conformidade com o artigo 12
20.06.2006 - Fonte: DJ/RJ, 04.10.2006). da Lei 1.060/50. Negado provimento. (TJ/RJ - Ap. Cível n.
2006.001.61775 - Comarca de Niterói - 4a. Câm. Cív. -
AÇÃO DEMOLITÓRIA - OBRA inacabada - Rel.: Des. Reinaldo P. Alberto Filho - j. em 09.01.2007 -
Abandono de imóvel - Ameaça à SEGURANÇA, ao Fonte: DJ/RJ, 15.01.2007).
SOSSEGO e à SAÚDE de VIZINHO - Necessidade
de atendimento à função social da PROPRIEDADE AÇÃO de RETIFICAÇÃO DE ÁREA - Pretensão
- ART. 1299/CC de AMPLIAÇÃO em ILHA - Indeferimento -
Medida cautelar. Demolitória. Obra inacabada que SÚMULA 7/STJ - ART. 212/CC - LEI 6015/73
põe em risco a segurança e saúde dos vizinhos. Proteção Civil e processual. Ação de retificação de área
ao direito de propriedade que deve ser conjugada com a registrada. Pretensão de ampliação em cerca de quatro
necessidade de atendimento da função social. Direito à vezes a área original. Indeferimento. Conclusão calcada
construção, desde que resguardados os interesses das na interpretação dos fatos da causa. Ilha de Florianópolis.
pessoas que norteiam a obra. Inteligência do artigo 1.299 Avanço sobre área foreira não titulada. Recurso especial.
do Código Civil. Documentos demonstram o abandono do Súmula n. 7/STJ. Lei n. 6.015/1973, art. 212, CC antigo, art.
imóvel, restando incontestável, além da ofensa ao 860. I. Firmada a conclusão do Tribunal estadual sobre a

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XXXIX
impossibilidade do uso de ação de retificação de área bens. Sentença de improcedência. Fé pública da escritura
quando a pretensão é a de ampliar a área original em cerca de compra e venda que refere a autorização judicial (alvará)
de quatro vezes sobre imóvel foreiro à União não titulado, de subrogação da vendedora na propriedade vendida em
a revelar intuito de substituir, indevidamente, a via própria troca de apólices dotais. Preliminar de cerceamento de
do usucapião, a controvérsia recai em reexame fático, defesa que se afasta cf. arts. 330, I c/c 125, II e 130, CPC.
obstado pela Súmula n. 7 do STJ. II. Recurso especial não Prescrição extintiva da pretensão autoral que nasceu de ato
conhecido. (STJ - Rec. Especial n. 323.924 - Santa Catarina supostamente nulo ocorrido há mais de 106 anos que se
- 4a. T. - Ac. unân. - Rel.: Min. Aldir Passarinho Junior - reconhece de ofício. Aplicação das Ordenações Filipinas
j. em 12.12.2006 - Fonte: DJ, 26.02.2007). que atrelam a prescrição extintiva (liberatória) de ação
NOTA BONIJURIS: Extraímos do voto do eminente reivindicatória ao exercício da ação antes que se perfaça a
Relator, Min. Aldir Passarinho Junior, a seguinte lição: “[...] prescrição aquisitiva do possuidor de boa-fé. Recurso
O fundamento jurídico da retificação de registro imobiliário desprovido. Extinção com mérito na forma do art. 269, IV,
é encontrado no caput do art. 860 do CC: ‘Se o teor do CPC. (TJ/RJ - Ap. Cível n. 2006.001.56411 - Comarca do
registro de imóveis não exprimir a verdade, poderá o Rio de Janeiro - 12a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Marco Antonio
prejudicado reclamar que se retifique’. O dispositivo em Ibrahim - j. em 27.03.2007 - Fonte: DJ/RJ, 16.03.2007).
análise foi reproduzido, quase que literalmente, pelo art.
212 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73): ‘Se o teor EMBARGOSDETERCEIRO-IMÓVEL-COMPRA
do registro não exprimir a verdade, poderá o prejudicado E VENDA - ESCRITURA PÚBLICA - Ausência de
reclamar sua retificação, por meio de processo próprio.’ REGISTRO IMOBILIÁRIO - Irrelevância
Segundo Antônio Macedo de Campos, ‘a palavra retificar Apelação Cível - Embargos de terceiro - Penhora -
significa tornar reto e, por extensão, corrigir. Assim, retificar Compra e venda de bem imóvel - Escritura pública de
um registro é corrigir um registro válido, mas que se ressente compra e venda - Ausência de registro imobiliário -
de uma ou mais irregularidades.’ (Comentários à Lei de Irrelevância - Súmula 84 do STJ - Princípios da sucumbência
Registros Públicos, 3º vol., 1a. ed., Bauru, Editora Jalovi e da causalidade - Recurso parcialmente provido. (TJ/PR -
Ltda., 1977, p. 332).[...] Nesse sentido, o STJ, em recente Ap. Cível n. 0377081-0 - Comarca de Curitiba - 13a. Câm.
pronunciamento, assentou que no procedimento de Cív. - Ac. unân. - Rel.: Des. Luis Carlos Xavier - j. em
retificação, previsto nos artigos 213 e 214 da Lei de Registros 14.02.2007 - Fonte: DJPR, 15.03.07).
Públicos, não importa a extensão da área a ser retificada,
IMÓVEL FUNCIONAL - OCUPAÇÃO irregular -
desde que os demais requisitos estejam preenchidos.”
MULTA - Aplicação após o TRÂNSITO EM
AÇÃO POSSESSÓRIA - Possibilidade de POSSE JULGADO da AÇÃO de REINTEGRAÇÃO DE
sobre SERVIDÃO DE PASSAGEM - Cabimento de POSSE - LEI 8025/90
USUCAPIÃO Processual civil. Multa. Imóvel funcional. Servidor
Ação possessória. Posse sobre servidão de aposentado. Ocupação irregular. Termo inicial da aplicação
passagem. Possibilidade encontrando-se a jurisprudência do artigo 15, I, alínea e, da Lei n. 8.025/90. Trânsito em
pacificada a respeito, sendo admissível a aquisição do julgado. 1. A multa prevista no artigo 15, I, e, da Lei 8.025/
respectivo direito real pelo instituto da usucapião. Autores 90 só deve ser aplicada após o trânsito em julgado da ação
de reintegração de posse. Precedentes: REsp 611482/DF;
que logram comprovar a existência há anos da posse sobre
DJ 06.09.2004; MS 8.191/DF,DJ 19/08/2002; REsp 369.721/
a servidão de passagem existente no imóvel dos réus.
DF, DJ 29/04/2002. 2. In casu, a permanência da servidora
Alegação de mera tolerância que não restou comprovada.
no imóvel após sua aposentadoria configura esbulho
A existência da posse nas circunstâncias presentes se
possessório e justifica a incidência da multa prevista no
presume. Lesão possessória comprovada. Irresignação dos
artigo 15, I, letra e, da Lei 8.025/90, nos termos decididos
réus que não se mostra fundada. Recurso adesivo que não
pela instância a quo, verbis: No caso dos autos, a apelante
deve prosperar. Tutela possessória concedida nos limites
demonstrou que sua posse é derivada de justo título, fls.
necessários. Sentença escorreita. Recursos conhecidos e
08/10, que lhe confere a mesma na hipótese de rescisão do
improvidos. (TJ/RJ - Ap. Cível n. 2006.001.48115 -
termo de ocupação. Também logrou provar, através de meio
Comarca do Teresópolis - 14a. Câm. Cív. - Rel.: Des.
bastante, o esbulho praticado que lhe privou do bem,
Mauro Martins - j. em 07.02.2007 - Fonte: DJ/RJ,
caracterizado pela ilicitude da permanência dos réus no
02.03.2007).
imóvel, mesmo após cessada a legitimidade da ocupação
AÇÃO REIVINDICATÓRIA com DECLARAÇÃO pelo desligamento do cargo de auxiliar de enfermagem do
de NULIDADE - VENDA de TERRENO - Hospital das Forças Armadas, que autorizava o exercício da
Afastamento de PRELIMINAR de CERCEAMENTO posse do bem imóvel destinado à moradia. 3. Recurso
DE DEFESA - PRESCRIÇÃO EXTINTIVA da especial desprovido. (STJ - Rec. Especial n. 767.038 -
PRETENSÃO autoral - ART. 330/CF - ART. 125/ Distrito Federal - 1a. T. - Ac. unân. - Rel.: Min. Luiz Fux
CF - ART. 130/CPC - j. em 01.03.2007 - Fonte: DJ, 15.03.2007).
Apelação cível. Ação reivindicatória c/c declaração
de nulidade de venda de terreno sob alegação de venda a LOCAÇÃO em SHOPPING CENTER -
non domine, e danos materiais (valor locatício relativo ao Impossibilidade de PEDIDO de RETENÇÃO POR
período de privação da posse) e danos morais. Imóvel BENFEITORIAS - Observância da LEI 8245/91,
vendido no século XIX pela esposa do proprietário após art. 35
sua morte. Regime dotal de casamento com separação de Processual civil. Locação em shopping center.

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 39


XL
Ação ordinária. Rescisão. Pedido de retenção do imóvel. que sofreu ação de vandalismo. Ausência do nexo de
Benfeitorias. Indenização pelo ponto comercial. Res causalidade. Dever de indenizar afastado. A prova do
sperata. Recurso não provido. Sentença monocrática nexo de causalidade entre o dano ocorrido e a conduta
mantida. 1 - Improcede o pedido de retenção por do demandado é essencial para configurar o dever de
benfeitorias, tendo em vista que o contrato de locação indenizar. Apelação não provida. (TJ/PR - Ap. Cível n.
demonstra em sua cláusula 7a. de que qualquer 0384230-4 - Comarca de Foz do Iguaçu - 10a. Câm. Cív.
benfeitoria se incorporaria ao imóvel, sem direito a - Rel.: Des. Nilson Mizuta - j. em 01.02.2007 - Fonte: DJ/
indenização, conforme determina o artigo 35 da Lei nº PR, 07.02.2006).
8.245/91. 2 - Súmula 15 do 2º TASP: “É dispensável prova
sobre benfeitorias se há cláusula contratual em que o USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA -
locatário renunciou ao respectivo direito de retenção ou Reconhecimento de PRESCRIÇÃO AQUISITIVA
de indenização”. 3 - De acordo com o artigo 54, da Lei - Necessidade de DEMONSTRAÇÃO dos
8.245/91, nas relações entre lojistas e empreendedores requisitos do ART. 2028/CC
de shopping center prevalecem às condições livremente Ação de usucapião extraordinária. Aplicação à
pactuadas, sendo possível à cobrança dos acessórios da espécie do artigo 550 do Código Civil de 1916 (Art. 2.028,
locação, dentre os quais o fundo promocional e a res CC/2002). Presença dos requisitos para o reconhecimento
sperata. (TJ/PR - Ap. Cível n. 0255055-4 - Comarca de da prescrição aquisitiva (art. 550, CC/1916). Sentença
Curitiba - 15a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Paulo Habith - j. reformada (Art. 515, § 3º, CPC). Recurso provido.
em 22.11.2006 - Fonte: DJ/PR, 12.01.2007). Demonstrados, notadamente pela produção da prova
testemunhal, o transcurso do lapso prescricional
REPARAÇÃO DE DANO - CONTRATO de vintenário, assim como a posse mansa, pacífica e
LOCAÇÃO COMERCIAL - IMÓVEL que sofreu ininterrupta, com animus domini, é de rigor o
ação de vandalismo - Ausência de NEXO DE reconhecimento da propriedade do imóvel usucapiendo,
CAUSALIDADE para COBRANÇA de nos termos do artigo 550, do Código Civil/1916, aplicável
INDENIZAÇÃO do LOCATÁRIO à espécie por força do contido no artigo 2.028, do Código
Responsabilidade civil. Reparação de danos. Civil/2002. (TJ/PR - Ap. Cível n. 0348382-7 - Comarca
Contrato de locação comercial. Alegação de resistência de Curitiba - 18a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Renato Naves
do locatário no cumprimento da ordem de despejo. Imóvel Barcellos - j. em 31.01.2007 - Fonte: DJ/PR, 02.03.2007).

PROCESSO CIVIL

AÇÃO RESCISÓRIA - Impossibilidade de férias e verbas rescisórias. Exclusão. Orientação da


REEXAME de PROVA - ILÍCITO CONTRATUAL Câmara. A pensão alimentícia não incide sobre o 13º
e EXTRACONTRATUAL - Inexistência de DOLO salário, férias e verbas rescisórias visto que tais parcelas
da parte vencedora em detrimento da vencida - são bonificações ao desempenho do trabalhador na sua
ART. 485/CPC profissão. Recurso não provido. (TJ/RS - Ap. Cível n.
Ação rescisória. Ação ordinária por ilícito 70018372995 - Comarca do Viamão - 8a. Câm. Cív. -
contratual e extracontratual. Alegada existência de dolo Rel.: Des. Claudir Fidelis Faccenda - j. em 29.03.2007 -
da parte vencedora em detrimento da vencida, violação a Fonte: DJ/RS, 05.04.2007).
literal disposição de lei e erro de fato. Artigo 485, incisos
III, V e IX, do Código de Processo Civil. Hipóteses não ATO CONSTITUTIVO de PESSOA JURÍDICA -
configuradas. Improcedência do pedido. A ação Imprescindibilidade de exibição de DOCUMENTO
rescisória não se presta a apreciar a boa ou má - Impossibilidade de VERIFICAÇÃO de
interpretação dos fatos, ao reexame da prova produzida REGULARIDADE de REPRESENTAÇÃO
ou à sua complementação, nem para revisão da decisão JUDICIAL - ART. 525/CPC
proferida no processo originário, sob pena de Agravo de instrumento. Ausência de atos
transformar-se em mais uma espécie de recurso, com constitutivos do agravante. Imprescindibilidade. Os atos
prazo bienal, que para tanto não se presta. (TJ/PR - Ação constitutivos de pessoa jurídica são documentos
Rescisória n. 0292385-7 - Comarca de Londrina - 15a. necessários à aferição da existência de poderes conferidos
Câm. Cív. - Rel.: Des. Paulo Habith - j. em 22.11.2006 pelo mandante ao mandatário. Impossibilidade de
- Fonte: DJ/PR, 11.12.2006). verificação de regularidade da representação judicial.
Exigência do inciso I, caput do art. 525 do Código de
ALIMENTOS - Não incidência sobre décimo Processo Civil. Verbete nº 104 da Súmula do TJRJ. Negado
terceiro SALÁRIO, FÉRIAS e VERBAS seguimento ao recurso. (TJ/RJ - Ag. de Instrumento n.
RESCISÓRIAS - Configuração de 2007.002.07795 - Comarca de Santa Cruz - 16a. Câm.
BONIFICAÇÃO Cív. - Rel.: Desa. Mônica Costa di Piero - j. em 02.04.2007
Alimentos. Não incidência sobre o 13º salário, - Fonte: DJ/RJ, 09.04.2007).

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XLI
CAUTELAR de ATENTADO - LEGITIMIDADE ser oportunizada ao credor a correção dos cálculos, nos
ATIVA - Ocorrência de FATO após a propositura termos do art. 616 do CPC. 3. Recurso especial conhecido
da AÇÃO - Necessidade de PROVA concreta - em parte e provido. (STJ - Rec. Especial n. 802.743 - Santa
ART. 879/CPC - ART. 515/CPC Catarina - 4a. T. - Ac. unân. - Rel.: Min. Aldir Passarinho
Cautelar. Atentado. Legitimidade ativa. Requisitos Junior - j. em 06.02.2007 - Fonte: DJ, 05.03.2007).
legais. Não comprovação. Pedido. Improcedência. A
verificação da legitimidade para a ação deve calcar-se na EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO - Inaplicabilidade
lide trazida aos autos, sopesada à provisão judicial almejada, de PRAZO PRESCRICIONAL - INFORMAÇÃO
sendo desnecessário examinar-se propriamente a relação de dado suficiente para IDENTIFICAÇÃO de
jurídica de direito material discutida. Se o autor da cautelar CONTRATO - Impossibilidade de COBRANÇA de
de atentado não faz prova concreta de que os fatos noticiados TAXA
ocorreram após a propositura e o aperfeiçoamento da ação Apelação cível. Ação de exibição de documento.
principal, improcede o pedido. Exegese do inciso III do Brasil Telecom. Prescrição. Inaplicável o prazo prescricional
artigo 879 c/c o § 3º do artigo 515 do Código de Processo de três anos previsto na Lei das Sociedades Anônimas, uma
Civil. (TJ/MG - Ap. Cível 1.0024.04.537796-7/001 - vez que a pretensão é de cunho pessoal decorrente de
Comarca de Belo Horizonte - 16a. Câm. Cív. - Rel.: Des. José relação contratual, não societária, sujeita ao prazo
Amancio - j. em 13.12.2006 - Fonte: DJ/MG, 16.02.2007). estabelecido no Código Civil. Uniformização de
Jurisprudência do TJRS. Precedentes do STJ. Inépcia da
DIREITO à VIDA e à SAÚDE - FORNECIMENTO Inicial. Os dados registrais informados na demanda, como
de TRATAMENTO MÉDICO a MENOR - o nome completo, CPF e RG da parte autora, são suficientes
LEGITIMIDADE ATIVA do MINISTÉRIO para identificar o contrato. Interesse processual. Diante do
PÚBLICO para DEFESA de DIREITO insucesso na obtenção dos documentos
INDISPONÍVEL - ART. 127/CF administrativamente, presente o interesse da parte autora
Processual civil. Recurso especial. Fornecimento de em buscar o Judiciário para ter acesso ao contrato firmado.
tratamento médico a menor. Direito à vida e à saúde. Direito Cobrança de taxa. Não pode a empresa concessionária de
individual indisponível. Legitimação extraordinária do prestação de serviço cobrar taxa para fornecimento de
parquet. Art. 127 da CF/88. Precedentes. 1. O Ministério documentos comuns às partes, inibindo o exercício regular
Público possui legitimidade para defesa dos direitos do direito do consumidor. Ilegitimidade Passiva do Banco
individuais indisponíveis, mesmo quando a ação vise à Bradesco. A instituição financeira não é parte integrante do
tutela de pessoa individualmente considerada. 2. O artigo contrato, o qual foi firmado com a antiga CRT, sucedida pela
127 da Constituição, que atribui ao Ministério Público a Brasil Telecom, que tem responsabilidade de manter o
incumbência de defender interesses individuais contrato firmado e prestar informações pertinentes.
indisponíveis, contém norma auto-aplicável, inclusive no Exibição. Cuidando-se de documentos comuns às partes,
que se refere à legitimação para atuar em juízo. 3. Tem não pode a empresa negar-se a exibi-los, privando a parte
natureza de interesse indisponível a tutela jurisdicional do adversa de examinar os reais termos contratuais. Presentes
direito à vida e à saúde de que tratam os arts. 5º, caput e 196 os requisitos da cautelar. Fixação de Multa. Inexiste fixação
da Constituição, em favor de menor que precisa fazer uso de multa. Recurso não conhecido, no ponto. Litigância de
contínuo de medicamento. A legitimidade ativa, portanto, se má-fé. Não verificada qualquer conduta estabelecida no
afirma, não por se tratar de tutela de direitos individuais art. 17 do CPC. Custas e honorários. Em face da resistência
homogêneos, mas sim por se tratar de interesses individuais na exibição dos documentos, sendo obrigada a parte a
indisponíveis. Precedentes: REsp 716.512/RS, Rel. Min. Luiz ingressar em juízo para ter acesso ao contrato, possível a
Fux, 1a. Turma, DJ de 14.11.2005; EDcl no REsp 662.033/RS, condenação em ônus sucumbenciais. Valor dos honorários
Rel. Min. José Delgado, 1a. Turma, DJ de 13.06.2005. 4. reduzido diante da singeleza da causa e repetitividade.
Recurso especial a que se dá provimento. (STJ - Rec. Especial Preliminares rejeitadas. Recurso conhecido, em parte, e,
n. 699.599 - Rio Grande do Sul - 1a. T. - Rel.: Min. Teori nesta, provido, em parte. (TJ/RS - Ap. Cível n. 70018991018
Albino Zavascki - j. em 13.02.2007 - Fonte: DJ, 26.02.2007). - Comarca do Porto Alegre - 2a. Câm. Cív. - Rel.: Desa.
Catarina Rita Krieger Martins - j. em 03.04.2007 - Fonte:
EXECUÇÃO HIPOTECÁRIA - Demonstrativo de DJ/RS, 10.04.2006).
DÉBITO - Ocorrência de imprecisão -
Impossibilidade de REEXAME - SÚMULA 7/STJ - FUNDAMENTAÇÃO - Inexistência de violação do
EXEQÜENTE-FaculdadedeCOMPLEMENTAÇÃO ART. 535/CPC. inc. II - Inocorrência de
de CÁLCULO - ART. 616/CPC - LEI 5741/71 JULGAMENTO EXTRA PETITA - PEDIDO de
Processual civil. Execução hipotecária. Lei n. 5.741/71. improcedência
Demonstrativos tidos por incompletos. Imprecisão Recurso especial. Processo civil. Responsabilidade
detectada. Reexame. Impossibilidade. Súmula n. 7/STJ. civil. Dano moral. Inexistência de violação do artigo 535, II,
Faculdade do exeqüente complementar os cálculos. CPC. Pedido de improcedência. Redução do valor.
Aplicação do art. 616 do CPC. 1. Reconhecido pelo Tribunal Inocorrência de julgamento extra petita. Recurso não
de origem a existência de imprecisão do demonstrativo do conhecido. 1. Não há violação ao artigo 535 do Código de
débito, em prejuízo da liquidez e certeza do título sob Processo Civil quando o acórdão recorrido aprecia a questão
execução, impossível ao STJ a reforma do juízo valorativo, de maneira fundamentada. O julgador não é obrigado a
em razão da via estreita do recurso especial (Súmula n. 7). manifestar-se acerca de todos os argumentos apontados
2. Precedentemente à extinção do processo, todavia, deve pelas partes, se já tiver motivos suficientes para fundamentar

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 41


XLII
sua decisão. 2. O objeto do pedido exposto na peça recursal de fazer e entregar coisa. Cominação de multa diária.
se concentra na total improcedência do pedido postulado Cabimento, inclusive contra a Fazenda Pública, sujeito a
pelo autor. Desta forma, ainda que não haja pedido específico juízo de adequação, compatibilidade e necessidade. 1. É
do apelante, permite-se ao Tribunal a redução do valor cabível, mesmo contra a Fazenda Pública, a cominação de
indenizatório. 3. Recurso não conhecido. (STJ - Rec. multa diária (astreintes) como meio executivo para
Especial n. 685.266 - Goiás - 4a. T. - Ac. unân. - Rel.: Min. cumprimento de obrigação de fazer ou entregar coisa
Hélio Quaglia Barbosa - j. em 27.02.2007 - Fonte: DJ, (arts. 461 e 461A do CPC). Todavia, sua aplicação está
26.03.2007). sujeita a juízo de adequação, compatibilidade e
necessidade, podendo ser dispensada ante a existência
MEDIDA CAUTELAR INOMINADA - Pedido de de outros meios considerados mais eficazes (§ 4º do art.
TUTELA ANTECIPADA para FISCALIZAÇÃO 461 do CPC). Precedentes: Resp 494.886/RS, 5a. Turma,
de ATO SOCIAL de EMPRESA - Possibilidade Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 28.06.2004 e Resp
de NOMEAÇÃO de PESSOA para exercer 556.825/RS, 5a. Turma, Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ
GESTÃO do LOCAL de 06.12.2004). 2. Incabível, em sede de recurso especial,
Agravo de instrumento. Medida cautelar o reexame das circunstâncias fáticas da demanda (Súmula
inominada. Pedido de tutela antecipatória para que seja 7/STJ). 3. Embargos de declaração acolhidos para,
assegurada à sócia agravante o poder de fiscalização dos atribuindo-lhes efeitos infringentes, negar provimento ao
atos sociais da empresa. Possibilidade. Notória dificuldade recurso especial. (STJ - Embs. de Declaração no Rec.
de fiscalização, sem a intervenção. Recurso provido. 1.
Especial n. 853738 - Rio Grande do Sul - 1a. T. - Rel.:
Tratando-se de sociedade cujo objeto social, entre outros,
Min. Teori Albino Zavascki - j. em 15.02.2007 - Fonte:
é o de locar suas instalações a profissionais da área médica,
DJ, 15.03.2007).
para a realização de cirurgias, sem que a sócia possa exercer
NOTA BONIJURIS: Extraímos do voto do
efetivo controle sobre estas locações, então, deve ser
eminente Relator, Min. Teori Albino Zavascki, a seguinte
acolhido seu pedido de nomeação de pessoa para exercer
lição: “Marca importante do atual sistema de processo é
a fiscalização dos atos de gestão da clínica. 2. Nada impede
a notável valorização que dá à prestação da tutela
que as partes indiquem, em comum acordo, o nome de
específica. Exemplo disso são os dispositivos que
pessoa de sua confiança para tal mister, enquanto não se
conferem ao juiz uma espécie de poder executório geral,
apurar o valor dos haveres da sócia retirante. 3. Outrossim,
habilitando-o a utilizar, inclusive de ofício, os meios
nada impede que as partes apurem os haveres, em comum
executivos nominados e inominados, previstos nos §§ 4º
acordo, e procedam sua liquidação amigável. (TJ/PR - Ag.
e 5º do art. 461, visando a induzir ou produzir a entrega in
de Instrumento n. 361.398-3 - Comarca de Curitiba - 8a.
Câm. Cív. - Rel.: Des. Carlos Mansur Arida - j. em natura da prestação devida ou de seu sucedâneo prático
30.08.2006 - Fonte: DJ/PR, 12.09.2006). de resultado equivalente. [...] Tratando-se de meios
executivos para cumprimento de obrigações de fazer e de
TUTELA ANTECIPADA - OBRIGAÇÃO DE entregar coisa, deles não se furta a Fazenda Pública,
FAZER e entregar COISA CERTA - Cominação de sujeita que está, nessas espécies de obrigação, ao
MULTA DIÁRIA - Possibilidade contra a FAZENDA procedimento comum dos artigos transcritos. Assim,
PÚBLICA - Sujeição ao JUÍZO de adequação, indubitavelmente, é cabível, mesmo contra a Fazenda
compatibilidade e necessidade - ART. 461/CPC - Pública, a cominação de multa diária (astreintes) como
ART. 461-A/CPC meio executivo para cumprimento de obrigação de fazer ou
Processo civil. Antecipação de tutela. Obrigações entregar coisa. ”

PENAL - PROCESSO PENAL

CORRUPÇÃO PASSIVA - Determinação de CRIME HEDIONDO - PRISÃO EM FLAGRANTE


COMPETÊNCIA pela CONEXÃO - Inocorrência - Proibição da LIBERDADE PROVISÓRIA - LEI
de ofensa ao PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL - 8072/90
Aplicabilidade do ART. 76/CPP Crime hediondo: prisão em flagrante: proibição da
Habeas corpus. Processual penal. Corrupção passiva. liberdade provisória: inteligência. Da proibição da liberdade
Competência determinada pela conexão. Ofensa ao princípio provisória nos processos por crimes hediondos - contida
do juiz natural inocorrência. Aplicação do art. 76, I e III, do CPP. no art. 2º, II, da L. 8072/90 e decorrente, aliás, da
Ordem indeferida. 1. Verificada a conexão, intersubjetiva ou inafiançabilidade imposta pela Constituição -, não se subtrai
probatória, afigura-se lícito o processamento da ação penal em a hipótese de não ocorrência no caso dos motivos
foro diverso do local da infração. 2. Inocorrência de ofensa ao autorizadores da prisão preventiva. 1. Prisão preventiva:
princípio do juiz natural, diante de expressa previsão legal. 3. ausência de fundamentação cautelar idônea: revogação e
Aplicação das hipóteses do art. 76, I e III, do CP. 4. Ordem restabelecimento do título da prisão antecedente. (STF -
indeferida. (STF - Habeas Corpus n. 88558 - São Paulo - 1a. Habeas Corpus n. 89183 - Mato Grosso do Sul - 1a. T. - Ac.
T. - Ac. unân. - Rel.: Min. Ricardo Lewandowski - j. em unân. - Rel.: Min. Sepúlveda Pertence - j. em 08.08.2006
06.03.2007 - Fonte: DJ, 23.03.2007). - Fonte: DJ, 25.08.2006).

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XLIII
ESTUPRO - CONVIVÊNCIA entre AUTOR e EXECUÇÃO de PENA RESTRITIVA DE DIREITOS
VÍTIMA - Inocorrência de EXTINÇÃO DA - Necessidade de TRÂNSITO EM JULGADO da
PUNIBILIDADE - ART. 107/CP - Configuração de CONDENAÇÃO - ART. 168-A/CP
absoluta INCAPACIDADE de autodeterminação Processual penal. Recurso especial. Art. 168-A do
de MENOR - Impossibilidade de caracterização de CP. Execução da pena restritiva de direitos antes do trânsito
UNIÃO ESTÁVEL em julgado da condenação. Impossibilidade. Em sendo a
Penal. Recurso extraordinário. Estupro. Posterior pena privativa de liberdade substituída por pena restritiva
convivência entre autor e vítima. Extinção da punibilidade de direito, a sua execução depende do trânsito em julgado
com base no art. 107, VII, do Código Penal. Inocorrência, no do decisum condenatório, ex vi do art. 147 da Lei de
caso concreto. Absoluta incapacidade de autodeterminação Execuções Penais (Precedentes do STF e do STJ). Recurso
da vítima. Recurso desprovido. O crime foi praticado contra especial desprovido. (STJ - Rec. Especial n. 848.473 -
criança de nove anos de idade, absolutamente incapaz de Santa Catarina - 5a. T. - Rel.: Min. Felix Fischer - j. em
se autodeterminar e de expressar vontade livre e autônoma. 21.11.2006 - Fonte: DJ, 26.02.2007).
Portanto, inviável a extinção da punibilidade em razão do
posterior convívio da vítima - a menor impúbere violentada HABEAS CORPUS - ACORDO de DELAÇÃO
- com o autor do estupro. Convívio que não pode ser PREMIADA - Impossibilidade de ACESSO aos
caracterizado como união estável, nem mesmo para os fins AUTOS - SIGILO da INVESTIGAÇÃO
do art. 226, § 3º, da Constituição Republicana, que não Habeas corpus. Pedidos de acesso a autos de
protege a relação marital de uma criança com seu opressor, investigação preambular em que foram estabelecidos
sendo clara a inexistência de um consentimento válido, acordos de delação premiada. Indeferimento. Sigilo das
neste caso. Solução que vai ao encontro da inovação investigações. Questão ultrapassada. Ajuizamento de
legislativa promovida pela Lei n° 11.106/2005 - embora esta ações penais. Alguns feitos já sentenciados com
seja inaplicável ao caso por ser lei posterior aos fatos -, mas condenação, pendentes de julgamento apelações. Falta
que dela prescinde, pois não considera validamente existente de interesse. Material que interessava à defesa juntado
a relação marital exigida pelo art. 107, VII, do Código Penal. aos autos das respectivas ações penais. Fase judicial.
Recurso extraordinário conhecido, mas desprovido. (STF Momento próprio para o contraditório e a ampla defesa.
- Rec. Extraordinário n. 418376 - Mato Grosso do Sul - Ausência de ilegalidade. 1. Se havia algum interesse dos
Tribunal Pleno - Rel.: Min. Marco Aurélio - j. em advogados do réu no inteiro teor das declarações
09.02.2006 - Fonte: DJ, 23.03.2007). prestadas pelos delatores na fase preambular meramente
investigatória, ele não mais subsiste neste momento
EXCESSO DE PRAZO - Ocorrência de CULPA da processual, em que já foram instauradas ações penais -
DEFESA - PROCESSO na FASE do ART. 500/CPP algumas delas até sentenciadas e com apelações em
- Não caracterização de CONSTRANGIMENTO tramitação na correspondente Corte Regional - porque
ILEGAL tudo que dizia respeito ao Paciente, e serviu para subsidiar
Ação Penal. Excesso de prazo. Não caracterização. as acusações promovidas pelo Ministério Público, foi
Processo na fase do art. 500 do CPP. Autos em poder do oportuna e devidamente juntado aos respectivos autos.
advogado do paciente por mais de 5 (cinco) meses para E, independentemente do que fora declarado na fase
razões finais. Feito, ademais, complexo, com cinco réus e inquisitória, é durante a instrução criminal, na fase judicial,
várias testemunhas de defesa ouvidas por precatórias. que os elementos de prova são submetidos ao
Retardamento não imputável a deficiência da máquina contraditório e à ampla defesa, respeitado o devido
judiciária. HC denegado. Precedentes. Não caracteriza processo legal. 2. Além disso, conforme entendimento
constrangimento ilegal o excesso de prazo que decorra só assente nesta Corte, “O material coligido no procedimento
de culpa da defesa e da complexidade do processo. (STF - inquisitório constitui-se em peça meramente informativa,
Habeas Corpus n. 88740 - Paraná - 2a. T. - Ac. unân. - Rel.: razão pela qual eventuais irregularidades nessa fase não
Min. Cezar Peluso - j. em 14.11.2006 - Fonte: DJ, tem o condão de macular a futura ação penal” (HC 43.908/
01.12.2006). SP, 5a. Turma, de minha relatoria, DJ 03/04/2006). 3. Ordem
denegada. (STJ - Habeas Corpus n. 59.115 - Paraná - 5a.
EXECUÇÃO - COMUTAÇÃO DA PENA - ROUBO T. - Rel.: Min. Laurita Vaz - j. em 12.12.2006 - Fonte: DJ,
QUALIFICADO com EMPREGO DE ARMA - 12.02.2007).
Observância do DECRETO 4011/01
Penal. Execução. Recurso especial. Comutação. PRISÃO ILEGAL - Ocorrência de desídia pelo
Decreto 4.011/01. Roubo qualificado com emprego de ESTADO - Possibilidade de INDENIZAÇÃO por
arma. Inteligência dos arts. 9º e 10. Precedentes. Recurso DANO MORAL - Observância de VALOR para
não conhecido. 1. A comutação, espécie de indulto, só evitar o ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
pode ser negada nas hipóteses expressamente indicadas, Indenização por danos morais. Prisão ilegal.
não alcançando delitos não relacionados. 2. Tal Caracterização de danos morais. Honorários advocatícios
entendimento também se aplica nos casos em que o réu foi nos termos do art. 20, § 4º, do CPC. No reexame necessário,
condenado por mais de um crime e um deles figura no rol apelação parcialmente provida. Sentença reformada para
do art. 10, III, do Decreto 4.011/01. 3. Recurso não decotar doação a instituição beneficente. Restou
conhecido. (STJ - Rec. Especial n. 805.700 - Rio Grande evidenciado que a prisão ilegal foi causada pela desídia do
do Sul - 5a. T. - Rel.: Min. Arnaldo Esteves Lima - j. em Estado, ao deixar de recolher decreto prisional. Levando em
12.09.2006 - Fonte: DJ, 09.10.2006). conta que a indenização não pode se transformar em uma

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XLIV
fonte de enriquecimento ilícito e, por outro lado, também delinqüencial’” (JCAT 76/654). (TJ/MG - Ap. Criminal n.
não pode deixar de cumprir a função de repor ao ofendido 1.0528.06.000620-2/001 - Comarca de Prata - 1a. Câm.
o dano moral sofrido, entendo que o valor arbitrado Cív. - Rel.: Des. Sérgio Braga - j. em 30.01.2007 - Fonte:
demonstra-se adequado à hipótese fática. (TJ/MG - Ap. DJ/MG, 06.02.2007).
Cível n. 1.0701.05.117047-3/001 - Comarca de Uberaba
- 6a. Câm. Crim. - Ac. unân. - j. em 06.02.2007 - Rel.: Des. TRÁFICO DE ENTORPECENTES - PRISÃO
José Domingues Ferreira Esteves - Fonte: DJ/MG, PREVENTIVA - Alegação de inexistência de
23.03.2007). FUNDAMENTAÇÃO - Inadmissibilidade de
LIBERDADE PROVISÓRIA - ART. 5º/CF, inc.
ROUBO - Emprego de ARMA DE FOGO, XLIII - LEI 8072/90
CONCURSO DE PESSOAS e restrição da Habeas corpus. Tráfico de entorpecentes. Alegação
LIBERDADE da VÍTIMA - Comprovação de de inexistência de fundamentação para a prisão preventiva.
AUTORIA e MATERIALIDADE - Inocorrência de Prisão em flagrante. Inafiançabilidade do crime e
CRIME de QUADRILHA - Imposição de inviabilidade da concessão de liberdade provisória, nos
CONDENAÇÃO termos da constituição de 1988. Não se admite liberdade
Roubos agravados pelo emprego de arma de fogo, provisória nos processos por crimes de tráfico de
concurso de pessoas e restrição da liberdade da vítima, entorpecentes (inciso XLIII do art. 5º da Constituição
praticados em concurso de pessoas e de crimes. Autoria e Federal e art. 2º da Lei nº 8.072/90). Habeas corpus conhecido
materialidade comprovadas, impondo-se a condenação. em parte e, nessa parte, indeferido. (STF - Habeas Corpus
Continuidade delitiva. Preliminar de nulidade processual n. 89068 - Rio Grande do Norte - 1a. T. - Ac. unân. - Rel.:
rejeitada. Crime de quadrilha ou bando. Inocorrência. Min. Carlos Britto - j. em 28.11.2006 - Fonte: DJ,
Recurso ministerial e dos condenados desprovidos. Ocorre 23.02.2007).
concurso material entre roubos praticados em situações NOTA BONIJURIS: Extraímos do voto do eminente
diversas contra vítimas diferentes, não sendo possível Relator, Min. Carlos Britto, a seguinte lição: “Noutro giro, a
admitir-se a continuidade delitiva com outro roubo posterior, Constituição Federal de 1988 dispõe que ‘a lei considerará
ausentes os pressupostos do art. 71 do CP. O crime de inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
roubo praticado numa mesma ocasião contra vítimas tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas HC 89.068/
diversas caracteriza a continuidade delitiva. “‘Para a RN afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos
tipificação do delito de quadrilha ou bando, não basta a (...).’ Foi por isso que o art. 2º da Lei nº 8.072/90 estabeleceu
reunião de mais de três pessoas para a execução de um ou que ‘os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito
mais crimes. Mister que, além desta reunião, ocorra um de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são
vínculo associativo permanente para fins criminosos, uma insuscetíveis de anistia, graça e indulto, fiança e liberdade
predisposição comum de meios para a prática de uma série provisória’. Daí a jurisprudência desta nossa Corte já haver
indeterminada de delitos e uma contínua vinculação entre reconhecido a constitucionalidade dessa lei e entendido que
os associados para a concretização de um programa a manutenção da prisão se dá por imposição legal.”

TRABALHISTA - PREVIDENCIÁRIO

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - LIXO APOSENTADORIA - Impossibilidade de


URBANO - Necessidade de enquadramento da CUMULAÇÃO com AUXÍLIO ACIDENTE -
ATIVIDADE em NORMA do MINISTÉRIO DO Surgimento de MOLÉSTIA - Necessidade de
TRABALHO reconhecimento em época anterior à LEI 9528/97
Adicional de insalubridade. Lixo urbano x lixo Previdenciário. Cumulação. Aposentadoria com
doméstico. Para que o empregado faça jus ao adicional de auxílio-acidente. Moléstia. Surgimento. Ausência de
insalubridade, faz-se indispensável o enquadramento das comprovação anterior à Lei nº 9.528/97. Impossibilidade.
atividades nas hipóteses previstas nas normas do Ministério Esta Corte Superior já firmou seu entendimento no sentido
do Trabalho. A limpeza de banheiros em empresa de de que se torna impossível a cumulação entre aposentadoria
atendimento ao público não importa contato com esgotos e auxílio-acidente se a eclosão da moléstia não for reconhecida
ou galerias. De outro tanto, embora o lixo coletado em pela Corte de origem em época anterior à vedação introduzida
banheiros públicos integre o lixo urbano, não pode ser a no § 2º do art. 86 da Lei nº 8.213/91 pela Lei nº 9.528/97.
este comparado, de nocividade superior. O lixo de Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - Rec.
Especial n. 772391 - São Paulo - 6a. T. - Rel.: Min. Paulo
estabelecimentos comerciais, restaurantes, hotéis ou
Medina - j. em 15.03.2007 - Fonte: DJ, 09.04.2007).
escritórios está equiparado, para fins de nocividade, ao
doméstico, não se incluindo, portanto, no Anexo 14 da NR- APOSENTADORIA POR IDADE - Não
15 (Portaria nº 3.214/78 do MTE). (TRT/3a. Reg. - Rec. preenchimento de período de CARÊNCIA -
Ordinário n. 00085-2006-099-03-00-6 - Comarca de Belo Impossibilidade de BENEFÍCIO - LEI 8213/91 -
Horizonte - 6a. T. - Ac. unân. - Rel.: Des. Ricardo Antônio SÚMULA 7/STJ
Mohallem - j. em 05.03.2007 - Fonte: DJ, 15.03.2007). Agravo regimental. Recurso especial.

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XLV
Previdenciário. Aposentadoria por idade. Artigo 142 da Dano moral. Incidência da Súmula 126, do C. TST. Verifica-
Lei nº 8.213/91. Período de carência não preenchido. se que o E. TRT entendeu, ante análise do contexto
Súmula nº 7/STJ. 1. Não preenchido o requisito da carência, probatório e socorrendo-se do princípio da persuasão
não faz jus a autora ao benefício de aposentadoria por racional ou livre convencimento motivado, erigido no
idade. 2. A irresignação que busca desconstituir os artigo 131, do CPC, que o Empregador tomava as medidas
pressupostos fáticos adotados pelo acórdão recorrido de segurança necessárias para se evitar acidente de
para decidir a controvérsia encontra óbice no enunciado trabalho decorrentes do uso de máquinas, concluindo
nº 7 da Súmula desta Corte. 3. Agravo regimental improvido. que o incidente que fundamenta o pleito obreiro à
(STJ - Ag. Regimental no Rec. Especial n. 869915 - São indenização por danos morais ocorreu como conseqüência
Paulo - 6a. T. - Rel.: Min. Paulo Gallotti - j. em 09.11.2006 de desobediência, por parte do Empregado, das ordens do
- Fonte: DJ, 02.04.2007). Patrão e que, portanto, não lhe é devido o pagamento de
indenização. Atente-se que a discussão da presente
AUDIÊNCIA - Não comparecimento do matéria, conforme almeja o Agravante, importaria em
RECLAMADO - Ocorrência de REVELIA - ART. rediscussão de fatos e provas, que é vedado, nesta
844/CLT - SÚMULA 122/TST instância extraordinária, pela Súmula 126, do C. TST, pelo
Audiência. Não comparecimento da reclamada. que se afasta a divergência jurisprudencial colacionada.
Revelia. Denota estrita consonância com o artigo 844 da Agravo de Instrumento a que se nega provimento. (TST
Consolidação das Leis do Trabalho a decisão por meio da - Ag. de Instrumento em Rec. de Revista n. 2923/2005-
qual o Tribunal Regional considerou revel reclamada que, 026-12-40.0 - Comarca de São Paulo - 2a. T. - Rel.: Juiz
devidamente cientificada, não compareceu a audiência em Josenildo dos Santos Carvalho - conv. - j. em 28.02.2007
que deveria apresentar sua defesa, utilizando, como única - Fonte: DJ, 16.03.2007).
justificativa para a ausência, atestado relativo a problemas
de saúde sofridos por seu advogado no dia da audiência. EMPRESA - Preenchimento do QUADRO de
Pertinência da Súmula nº 122 do TST. Agravo a que se TRABALHADOR - Percentual mínimo de
nega provimento. (TST - Ag. de Instrumento em Rec. de reabilitado ou DEFICIENTE habilitado -
Revista n. 131.613/2004-900-04-00.7 - Comarca de Porto Caracterização de LEGALIDADE na
Alegre - 1a. T. - Ac. unân. - Rel.: Min. Lelio Bentes Corrêa FISCALIZAÇÃO do MINISTÉRIO DO
- j. em 14.02.2007 - Fonte: DJ, 02.03.2007). TRABALHO - LEI 8213/91 - ART. 630/CLT
Preenchimento do quadro de trabalhadores da
CONTRADITA de TESTEMUNHA - Inocorrência empresa com percentual mínimo de reabilitados ou
de ofensa ao PRINCÍPIO do DUPLO GRAU DE deficientes habilitados. Legalidade da fiscalização do
JURISDIÇÃO - Ausência de controvérsia entre ministério do trabalho. A Lei n. 8.213/91 contém previsão
FATO e PROVA - Possibilidade de taxativa, no sentido de que a empresa deve preencher os
restabelecimento de CONDENAÇÃO seus quadros com um percentual mínimo de trabalhadores
Recurso de embargos. Horas extras. Contradita de reabilitados ou deficientes habilitados. A CLT, no art. 630,
testemunha. Alegação de não observância do duplo grau § 3º, preconiza que a empresa é obrigada a prestar os
de jurisdição. A r. sentença condenou o reclamado ao esclarecimentos necessários ao desempenho das
pagamento das horas extraordinárias fundada apenas no atribuições legais do agente de inspeção e a exibir-lhe,
depoimento da única testemunha ouvida. O eg. Tribunal quando exigidos, quaisquer documentos que digam
Regional afastou essa condenação sob o fundamento de respeito ao fiel cumprimento das normas de proteção ao
que o depoimento da testemunha não era válido em razão trabalho. Assim, conjugados os referidos dispositivos
da contradita oportunamente apresentada pelo reclamado. legais, tem-se como revestida de legalidade a exigência,
Tal se deu, inclusive, pois todos os fundamentos pelo Ministério do Trabalho, da exibição dos documentos
expendidos no recurso ordinário interposto pelo reclamado necessários à fiscalização do cumprimento da reserva de
dirigiram-se apenas no sentido da suspeição da referida cotas de emprego para trabalhadores reabilitados ou
testemunha, por litigar contra a ré. Sendo assim, afastado deficientes habilitados. (TRT/3a. Reg. - Rec. Ordinário n.
pela c. Turma o óbice da suspeição da testemunha, cabia- 00249-2006-079-03-00-0 - Comarca de Belo Horizonte
lhe, de fato, restabelecer a condenação imposta pelo juízo - 2a. T. - Ac. unân. - Rel.: Des. Sebastião Geraldo de
de primeiro grau, pois não pendia qualquer controvérsia Oliveira - j. em 06.03.2007 - Fonte: DJ, 13.03.2007).
sobre o fato e a prova colhida. Não se cogita, pois, de
ofensa ao princípio do duplo grau de jurisdição. Embargos HORA EXTRA - COMPENSAÇÃO de JORNADA
não conhecidos. (TST - Embs. em Rec. de Revista n. 411.201/ - Redução de HORA NOTURNA - Caracterização
1997.5 - Distrito Federal - Subseção I Especializada em de direito assegurado em NORMA de ORDEM
Dissídios Individuais - Rel.: Min. Aloysio Corrêa da Veiga PÚBLICA - ART. 73/CLT, § 1º
- j. em 20.03.2007 - Fonte: DJ, 30.03.2007). Horas extras. Hora noturna reduzida.
Inobservância. Escala 12x36. Convenção coletiva 1.
DANO MORAL - Realização de MEDIDA DE Empregado que labora em regime de compensação de
SEGURANÇA necessária para se evitar jornada, em escala de 12x36 horas, faz jus à hora noturna
ACIDENTE DE TRABALHO - Desobediência de reduzida, ainda que a norma coletiva haja estipulado que
EMPREGADO - Impossibilidade de INDENIZAÇÃO a hora noturna corresponderia a 60 (sessenta) minutos. A
- SÚMULA 126/TST - ART. 131/CPC redução ficta da hora noturna constitui direito assegurado
Agravo de instrumento em recurso de revista. em norma de ordem pública (art. 73, § 1º, da CLT) e,

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 45


XLVI
portanto, indisponível pela vontade das partes, por atrelado à evolução salarial fixada em plano de cargos e
tutelar a higiene, saúde e segurança do trabalho. 2. salários instituído pela empresa. O único parâmetro para
Recurso de revista de que se conhece e a que se dá delimitação do montante devido a tal título foi a variação
provimento. (TST - Rec. de Revista n. 708.307/00.6 - do custo da cesta básica. Recurso de revista conhecido e
Comarca de Belo Horizonte - 1a. T. - Ac. unân. - Rel.: provido. (TST - Rec. de Revista n. 173791/1995.8 -
Min. João Oreste Dalazen - j. em 13.12.2006 - Fonte: DJ, Curitiba - 1a. T. - Rel.: Min. Vieira de Mello Filho - j. em
23.02.2007). 14.03.2007 - Fonte: DJ, 30.03.2007).
NOTA BONIJURIS: Extraímos do voto do
HORA EXTRA - PRESUNÇÃO de veracidade de eminente Relator, Min. Vieira de Mello Filho, a seguinte
JORNADA de TRABALHO - Possibilidade de ser lição: “A jurisprudência atual, iterativa e notória desta
elidida por PROVA em contrário - SÚMULA 338/ Corte tem como inexistente o direito a diferenças salariais
TST fundadas em norma coletiva que teria estabelecido
Recurso de revista. Banco do Brasil. Horas extras interstícios entre níveis salariais no plano de cargos e
- FIPS. A presunção de veracidade da jornada de trabalho, salários do Banco do Brasil, à medida que a política salarial
ainda que prevista em instrumento normativo, pode ser plasmada na legislação vigente à época, mais
elidida por prova em contrário. Incidência da Súmula nº especificamente na Lei nº 8.178/91, foi devidamente
338 do C. TST. Recurso de revista não conhecido. (TST - observada. O art. 9º da referida Lei nº 8.178/91 não atrelou,
Rec. de Revista n. 1088/2001-002-04-00.7 - Comarca de em nenhum momento, o valor dos abonos,
Porto Alegre - 6a. T. - Rel.: Min. Aloysio Corrêa da Veiga proporcionalmente, à evolução salarial fixada em plano de
- j. em 14.03.2007 - Fonte: DJ, 30.03.2007). cargos e salários instituído pela empresa. Ao contrário, o
INDENIZAÇÃO por DANO MORAL - Realização único parâmetro para delimitação do montante devido a tal
de REVISTA ÍNTIMA em EMPREGADO - título foi a variação do custo da cesta básica, o que, por
Caracterização de OFENSA à DIGNIDADE - certo, ocasionou o pagamento do abono de forma linear,
Ostentação de VALOR com natureza em valores fixos.”
compensatória - Impossibilidade de aplicação PRESCRIÇÃO EXTINTIVA - Impossibilidade de
analógica do ART. 478/CLT pronunciamento de OFÍCIO no PROCESSO DO
Dano moral. Indenização. Fixação. Critério. Revista TRABALHO - Observância do PRINCÍPIO
íntima 1. Inadequado o arbitramento do dano moral protetivo ao TRABALHADOR - Inaplicabilidade
trabalhista pelo critério do tempo de serviço e/ou do do ART. 769/CLT
salário, máxime por aplicação analógica do artigo 478 da Prescrição extintiva. Pronunciamento de ofício.
CLT, pois não inibe novas agressões e importa malbaratar Inaplicabilidade ao processo do trabalho. O artigo 769
bens preciosos da personalidade tutelados pelo da CLT permite a aplicação subsidiária das normas de
ordenamento jurídico. 2. O valor pago a título de dano processo civil ao processo do trabalho em casos de
moral ostenta natureza compensatória e sancionatória: omissão e compatibilidade. No que tange ao
constitui um paliativo para a dor da vítima, mas também pronunciamento, ex officio, da prescrição, não há
constitui sanção ou castigo ao ofensor, de forma a dúvidas de que foi preenchido o primeiro requisito: há
desencorajá-lo. Cumpre, pois, arbitrá-lo pautando-se pela lacuna no processo do trabalho, já que não há norma
razoabilidade e tomando em conta os parâmetros dispondo a esse respeito. No que se refere à
delineados mormente na Lei de Imprensa. 3. Submetida a compatibilidade, porém, encontra-se o empecilho do
empregada à revista íntima ofensiva de sua dignidade, por princípio da proteção, imanente ao Direito do Trabalho,
gerente de empresa de âmbito nacional, é módico e tanto no campo material, quanto no campo processual.
plenamente afeiçoado à Constituição Federal o valor de O princípio protetivo existe, na esfera jurídica, para
R$ 30.000,00 (trinta mil reais) arbitrado a título de compensar a desigualdade sócio-econômica que existe
indenização. 4. Agravo de instrumento a que se nega na realidade entre empregado e empregador. O
provimento. (TST - Ag. de Instrumento em Rec. de Revista pronunciamento da prescrição, de ofício, somente traria
n. 813/2004-030-04-40.6 - Comarca de Porto Alegre - benefícios ao empregador, que é a parte economicamente
1a. T. - Ac. unân. - Rel.: Min. João Oreste Dalazen - j. em mais forte no contrato de trabalho. Inviável trazer a
07.02.2007 - Fonte: DJ, 09.03.2007). norma processual civil para a realidade trabalhista sem
ferir este princípio basilar da proteção ao trabalhador.
PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS - Inexistência
Sendo assim, a nova redação do art. 219, § 5º, do CPC
de DIFERENÇA SALARIAL - Ausência de violação
(Lei 11.280/06) não se aplica ao Processo do Trabalho.
ao PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE - LEI
(TRT/3a. Reg. - Rec. Ordinário n. 00420-2005-071-
8178/91
03-00-0 - Comarca de Belo Horizonte - 2a. T. - Ac.
Recurso de revista. Banco do Brasil. Diferenças
unân. - Rel.: Juiz Paulo Maurício Ribeiro Pires - conv.
salariais. Interstícios entre níveis salariais. Lei nº 8.178/91.
- j. em 27.02.2007 - Fonte: DJ, 07.03.2007).
Repercussão. Plano de cargos e salários. O art. 9º da Lei
nº 8.178/91 não violou o princípio da irredutibilidade SINDICATO da CATEGORIA PROFISSIONAL -
salarial, previsto no art. 7º, inciso VI, da Constituição da Não associação de EMPREGADO - Impossibilidade
República pois, nos termos do referido dispositivo legal, de CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA
o pagamento dos abonos ali previstos não se encontrava Contribuição confederativa. Empregados não

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 46


XLVII
associados. Precedente Normativo nº 119 da SDC/TST. 1. 00491-2000-001-04-00-1 - Comarca de Porto Alegre -
Inadmissível a imposição de contribuições assistencial e 4a. T. - Ac. unân. - Rel.: Juiz Milton Varela Dutra - j. em
confederativa a empregados não associados em favor do 29.03.2007 - Fonte: DJ, 13.04.2007).
sindicato da categoria profissional, por afrontar a
liberdade de associação constitucionalmente TEMPO DE SERVIÇO - Aspirante à VIDA
assegurada (arts. 8º, inciso V, e 5º, inciso XX, da CF/88). religiosa - Possibilidade de CÔMPUTO do período
Inteligência do Precedente Normativo nº 119 da SDC/ laborado - Observância da LEI 8213/91
TST. 2. Agravo a que se nega provimento. (TST - Ag. de Processual civil. Previdenciário. Tempo de serviço
Instrumento em Rec. de Revista n. 1335/1999-044-02- prestado como aspirante à vida religiosa. Cômputo.
40.7 - Distrito Federal - 1a. T. - Ac. unân. - Rel.: Min. Possibilidade. Precedentes. Art. 55, § 3º, da Lei 8.213/91.
João Oreste Dalazen - j. em 07.02.2007 - Fonte: DJ, Ausência de prequestionamento. Recurso especial
09.03.2007). conhecido e improvido. 1. O Superior Tribunal de Justiça
firmou entendimento no sentido de que o período laborado
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA - na condição de aspirante à vida religiosa, para custeio de
CONTRATAÇÃO mediante CONCURSO sua formação, deve ser computado como tempo de serviço.
PÚBLICO - Sujeição ao REGIME CELETISTA - 2. A teor da pacífica e numerosa jurisprudência, para a
Ausência de ESTABILIDADE - ART. 173/CF abertura da via especial, requer-se o prequestionamento,
Sociedade de economia mista. Contratação ainda que implícito, da matéria infraconstitucional. A
mediante concurso público. Efeitos. A exigência de exigência tem como desiderato principal impedir a
prestação de concurso público para o ingresso de condução, ao Superior Tribunal de Justiça, de questões
servidor nos quadros de empresa estatal - sociedade de federais não debatidas no Tribunal de origem. Hipótese
economia mista - não confere aos concursados a em que não foi ventilada, no acórdão recorrido, a matéria
estabilidade emanada do art. 41 da CF, porque, por força tratada no art. 55, § 3º, da Lei 8.213/91. 3. Recurso especial
do disposto no § 1º do art. 173 da Constituição da conhecido e improvido. (STJ - Rec. Especial n. 512.549
República, sujeitam-se ao regime celetista, próprio das - Rio Grande do Sul - 5a. T. - Rel.: Min. Arnaldo Esteves
empresas privadas. (TRT/4a. Reg. - Rec. Ordinário n. Lima - j. em 20.11.2006 - Fonte: DJ, 11.12.2006).

ADMINISTRATIVO - CONSTITUCIONAL

CINEMA - Possibilidade de CONSUMO de práticas abusivas, condicionar o fornecimento de produto


ALIMENTO adquirido fora do ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço
ESTABELECIMENTO - Proibição de OPERAÇÃO (art. 39, § 2º, do CDC). 5. A prática abusiva revela-se
denominada VENDA CASADA - Aplicação de patente se a empresa cinematográfica permite a entrada de
MULTA PECUNIÁRIA por OFENSA ao CÓDIGO produtos adquiridos na suas dependências e interdita o
DE DEFESA DO CONSUMIDOR - ART. 39/CDC, adquirido alhures, engendrando por via oblíqua a
inc. I cognominada ‘venda casada’, interdição inextensível ao
Administrativo. Recurso especial. Aplicação de estabelecimento cuja venda de produtos alimentícios
multa pecuniária por ofensa ao Código de Defesa do constituiu a essência da sua atividade comercial como,
Consumidor. Operação denominada ‘venda casada’ em verbi gratia, os bares e restaurantes. 6. O juiz, na aplicação
cinemas. CDC, art. 39, I. Vedação do consumo de alimentos da lei, deve aferir as finalidades da norma, por isso que, in
adquiridos fora dos estabelecimentos cinematográficos. casu, revela-se manifesta a prática abusiva. 7. A aferição
1. A intervenção do Estado na ordem econômica, fundada do ferimento à regra do art. 170, da CF é interditada ao STJ,
na livre iniciativa, deve observar os princípios do direito porquanto a sua competência cinge-se ao plano
do consumidor, objeto de tutela constitucional infraconstitucional. 8. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC,
fundamental especial (CF, arts. 170 e 5º, XXXII). 2. Nesse quando o Tribunal de origem, embora sucintamente,
contexto, consagrou-se ao consumidor no seu pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a questão
ordenamento primeiro a saber: o Código de Defesa do posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado
Consumidor Brasileiro, dentre os seus direitos básicos “a a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte,
educação e divulgação sobre o consumo adequado dos desde que os fundamentos utilizados tenham sido
produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha suficientes para embasar a decisão. 9. Recurso especial
e a igualdade nas contratações” (art. 6º, II, do CDC). 3. A improvido. (STJ - Rec. Especial n. 744.602 - Rio de
denominada ‘venda casada’, sob esse enfoque, tem como Janeiro - 1a. T. - Rel.: Min. Luiz Fux - j. em 01.03.2007 -
ratio essendi da vedação a proibição imposta ao Fonte: DJ, 15.03.2007).
fornecedor de, utilizando de sua superioridade econômica
ou técnica, opor-se à liberdade de escolha do consumidor CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA -
entre os produtos e serviços de qualidade satisfatório e PETROBRÁS - Inexigibilidade de REGISTRO -
preços competitivos. 4. Ao fornecedor de produtos ou Caracterização de ATIVIDADE-MEIO
serviços, consectariamente, não é lícito, dentre outras Administrativo. Conselho Regional de Química.

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 47


XLVIII
Petrobrás. Inexigibilidade do registro. Atividades de jurídicas, cuja atividade básica seja a prestação de serviços
química. Atividade-meio da empresa. Precedente da corte. relacionados com as três atividades disciplinadas pelos
1. A 1a. Turma deste Superior Tribunal de Justiça no referidos conselhos. [...] A empresa, que desempenha o
julgamento do RESP 434926/SC, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de comércio de chaves e de recarga de extintores, não é
16.12.2002, entendeu não ser obrigatório o registro da obrigada a se submeter ao registro no CREA, cuja atividade-
Petrobrás no Conselho Regional de Química, pois as fim é diversa da função inerente à engenharia. [...] Deveras,
atividades de química praticadas pela empresa são a imposição do registro não pode ser inaugurada por
simplesmente atividade-meio, e não sua atividade-fim. 2. Resolução, pelo que, muito embora seja ato administrativo
Recurso especial a que se nega provimento. (STJ - Rec. de caráter normativo, subordina-se ao ordenamento
Especial n. 899646 - Rio de Janeiro - 1a. T. - Rel.: Min. jurídico hierarquicamente superior, in casu, à lei e à
Teori Albino Zavascki - j. em 01.03.2007 - Fonte: DJ, Constituição Federal, não sendo admissível que o poder
29.03.2007). regulamentar extrapole seus limites, ensejando a edição
dos chamados “regulamentos autônomos”, vedados em
ECA - EDUCAÇÃO - Determinação de IDADE
nosso ordenamento jurídico.
mínima para ingresso no ENSINO
FUNDAMENTAL - Observância da LEI 11274/06 ENSINO SUPERIOR - DIPLOMA expedido por
- Interpretação sistemática do ART. 208/CF e do UNIVERSIDADE mexicana - Possibilidade de
ART. 227/CF REGISTRO independentemente de revalidação -
Reexame necessário. Mandado de segurança. ECA. DECRETO 3007/99
Educação. Ensino fundamental. Idade mínima. LBD. A Administrativo. Ensino superior. Diploma de
nova redação do inciso I, do § 3º, do artigo 87 da Lei de médico expedido por universidade mexicana. Registro
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), independentemente de revalidação. Demanda que se tem
dada pela Lei nº 11.274/2006, determina a cada Município por procedente de vez que o México é signatário da
e, supletivamente, o Estado e a União a matrícula de Convenção Regional sobre o Reconhecimento de Estudos,
crianças a partir de seis anos de idade na 1a. série do Títulos e Diplomas de Ensino Superior na América Latina
ensino fundamental. Ademais, a interpretação sistemática e Caribe e o diploma em questão foi expedido em 2004,
da Constituição da República (artigos 208, incisos I e IV relativamente a um curso iniciado em 1997/1998, depois da
e §1º, e 227, caput), em consonância com as disposições
edição do Decreto nº 3.007/99, que revogou o Decreto
do Estatuto da Criança e do Adolescente (artigos 4º, 53 e
80.419/77, o qual havia incorporado a referida Convenção
54, incisos I e IV e §1º) e da Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes
ao ordenamento pátrio. Condenação da ré na reparação de
e Bases da Educação Nacional, artigo 6º), asseguram à
dano moral reputada incabível. (TRF/4a. Reg. - Ap. Cível
criança a partir dos seis anos de idade, enquanto direito
n. 2005.71.00.002568-0 - Rio Grande do Sul - 4a. T. - Ac.
público subjetivo, o acesso gratuito ao ensino
por maioria - Rel.: Des. Federal Valdemar Capeletti - j.
fundamental. (TJ/RS - Reex. Necessário n. 70017947664
em 28.02.2007 - Fonte: DJ, 02.04.2007).
- Comarca de São Vicente do Sul - 8a. Câm. Cív. - Ac.
unân. - Rel.: Des. Rui Portanova - j. em 15.02.2007 - INFRAÇÃO de TRÂNSITO - Ocorrência de
Fonte: DJ/RS, 27.02.2007). APREENSÃO de VEÍCULO - Falta de
LICENCIAMENTO e DÉBITO de IPVA -
EMPRESA - Realização de ATIVIDADE-FIM
CONCESSÃO parcial para LIBERAÇÃO do
diversa da ENGENHARIA - Não obrigatoriedade
transporte
de REGISTRO no CREA
Apelação cível. Mandado de Segurança.
Administrativo. Conselho regional de engenharia,
Administrativo. Infração de trânsito. Falta de licenciamento
arquitetura e agronomia. Atividade básica diversa.
e débitos relativos ao IPVA. Apreensão do veículo.
Inscrição. Não obrigatoriedade. 1. “A jurisprudência do
Concessão parcial da ordem para determinar a liberação
STJ firmou-se no sentido de que a especialidade da
do veículo independentemente do pagamento das diárias
atividade básica desenvolvida pela empresa define sob a
de depósito posteriores ao trigésimo dia de apreensão do
égide de qual órgão está a fiscalização de seu desempenho”
mesmo. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
(REsp 475.077/SC, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de
Recursos manifestamente improcedentes a que se nega
13.12.04). 2. Para que haja julgamento extra petita faz-se seguimento. (TJ/RJ - Ap. Cível n. 2007.001.03079 -
necessário que tenha sido julgado questão diversa da Comarca do Rio de Janeiro - 16a. Câm. Cível - Rel.: Desa.
pretendida pelo autor. 3 “Não se conhece de recurso Marilia de Castro Neves - j. em 09.04.2007 - Fonte: DJ/
especial pela divergência, quando a orientação do RJ, 13.04.2007).
Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão
recorrida” (Súmula 83/STJ). 4. Recurso especial IRREDUTIBILIDADE de VENCIMENTO -
improvido. (STJ - Rec. Especial n. 843.422 - Rio Grande Caracterização de vedação constitucional -
do Sul - 2a. T. - Rel.: Min. Castro Meira - j. em 13.02.2007 Aplicabilidade do ART. 37/CF, inc. XV
- Fonte: DJ, 07.03.2007). Duplo grau de jurisdição. Mandado de segurança.
NOTA BONIJURIS: Extraímos do voto do eminente Irredutibilidade de vencimento. Vedação constitucional.
Relator, Min. Castro Meira, a seguinte lição: “O registro O município não pode através de atos administrativos
nos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e ferir preceitos constitucionais, efetuando redução
Agronomia somente é obrigatório para aquelas pessoas salarial. Inteligência do artigo 37, XV da Constituição

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 48


XLIX
Federal. Remessa conhecida e improvida. (TJ/GO - Duplo caso e em face da sua urgência, hão de se afastar as
Grau de Jurisdição n. 200603389257 - Comarca de delimitações na efetivação da medida sócio-protetiva
Alvorada do Norte - 3a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Fabiano A. pleiteada, não padecendo de ilegalidade a decisão que ordena
de Aragão Fernandes - j. em 23.01.2007 - Fonte: DJ/GO, à Administração Pública a dar continuidade a tratamento
07.02.2007). médico. 8. Legitimidade ativa do Ministério Público para
propor ação civil pública em defesa de direito indisponível,
MEDICAMENTO - TRATAMENTO de DOENÇA como é o direito à saúde, em benefício de pessoa pobre. 9.
GRAVE - Obrigatoriedade de FORNECIMENTO Precedentes desta Corte Superior e do colendo STF. 10.
pelo ESTADO - DIREITO À SAÚDE - Recurso provido. (STJ - Rec. em Mandado de Segurança
Caracterização de dever constitucional - ART. 5º/ n.23.184 - Rio Grande do Sul - 1a. T. - Rel.: Min. José
CF, caput, § 6º - ART. 196/CF - ART. 227/CF Delgado - j. em 27.02.2007 - Fonte: DJ, 19.03.2007).
Processual civil e constitucional. Recurso ordinário
em mandado de segurança. SUS. Fornecimento gratuito de OMISSÃO do PODER PÚBLICO - Ocorrência de
medicamento, pelo Estado, à pessoa hipossuficiente DANO - Alagamento de VIA PÚBLICA - Ausência
portadora de doença grave. Obrigatoriedade. Legitimidade de SINALIZAÇÃO no LOCAL - Caracterização de
Passiva. Secretário de Estado da Saúde. Possibilidade. NEGLIGÊNCIA de ente municipal - Possibilidade
Aplicação do direito à espécie. Art. 515, § 3º, do CPC. de INDENIZAÇÃO
Inexistência de supressão de instância. Efetividade. Administrativo. Ação de indenização. Dano
Afastamento das delimitações. Proteção a direitos decorrente de omissão do poder público. Responsabilidade.
fundamentais. Direito à vida e à saúde. Dever Constitucional. Alagamento de via pública. Ausência de sinalização e
Arts. 5º, caput, 6º, 196 e 227 da CF/1988. Precedentes desta manutenção do local. Falecimento da mãe do autor. Dano
corte superior e do colendo STF. 1. A proteção do bem moral. Dever de indenizar configurado. 1. Em se tratando de
jurídico tutelado (vida e saúde) não pode ser afastada por danos decorrentes de omissão do Poder Público, necessária
questões meramente formais, podendo o Secretário de se faz a demonstração de que quedou-se inerte quando
Estado da Saúde figurar no pólo passivo de ação estava obrigado a agir. 2. Evidencia-se a negligência e
mandamental objetivando o fornecimento de medicamento desídia do ente municipal ao não cuidar da manutenção
à hipossuficiente, portadora de doença grave (hepatite B das bombas de sucção instaladas no local no intuito de
crônica). 2. A necessidade de dar rápido deslinde à demanda evitar o alagamento e, conseqüentemente, acidentes, bem
justifica perfeitamente o julgamento da ação pelo mérito. O como por não ter sinalizado e policiado devidamente o
art. 515, § 3º, do CPC permite, desde já, que se examine a local após a enchente. - Havendo omissão culposa do
matéria de fundo, visto que a questão debatida é Município, deve indenizar o autor pelos danos morais
exclusivamente de direito, não havendo nenhum óbice sofridos em decorrência do falecimento de sua mãe em
formal ou pendência instrumental para que se proceda à acidente ocorrido. (TJ/MG - Ap. Cível n.
análise do pedido merital. Não há razão lógica ou jurídica 1.0105.02.068093-7/001 - Comarca de Governador
para negar à esta Corte Superior a faculdade prevista pelo Valadares - 7a. Câm. Cív. - Rel.: Desa. Heloisa Combat
aludido dispositivo legal. Impõe-se, para tanto, sua - j. em 30.01.2007 - Fonte: DJ/MG, 13.03.2007).
aplicação. Inexistência de supressão de instância. 3. “Uma
vez conhecido o recurso, passa-se à aplicação do direito à SERVIDOR PÚBLICO MILITAR - Possibilidade
espécie, nos termos do art. 257, RISTJ e também em de COBRANÇA PREVIDENCIÁRIA - Inocorrência
observância à regra do § 3º do art. 515, CPC, que procura dar de violação ao direito adquirido e à
efetividade à prestação jurisdicional, sem deixar de atentar IRREDUTIBILIDADE de PROVENTOS
para o devido processo legal” (REsp nº 469921/PR, 4a. Constitucional e administrativo. Ação declaratória.
Turma, DJ de 26/05/2003, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Servidor público militar. Contribuição previdenciária. ADIN
Teixeira). 4. Os arts. 196 e 227 da CF/88 inibem a omissão do 3.105-8. Julgamento. Constitucionalidade. Afronta ao direito
ente público (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) adquirido e irredutibilidade de proventos. Inexistência.
em garantir o efetivo tratamento médico à pessoa Militares. Aplicabilidade. Juros moratórios. Caráter alimentar
necessitada, inclusive com o fornecimento, se necessário, - percentual de 1% ao mês. Inteligência da Emenda
de medicamentos de forma gratuita para o tratamento, cuja Constitucional nº 41/2003 e Lei nº 10.366/1990. Após o
medida, no caso dos autos, impõe-se de modo imediato, em julgamento da ADIN nº 3.105-8 pelo Pretório Excelso, torna-
face da urgência e conseqüências que possam acarretar a se constitucional a cobrança de contribuição previdenciária
não-realização. 5. Constitui função institucional e nobre do dos servidores inativos, sem que tal signifique afronta ao
Ministério Público buscar a entrega da prestação direito adquirido e à irredutibilidade dos proventos. Referido
jurisdicional para obrigar o Estado a fornecer medicamento teto incide não só sobre os proventos dos servidores civis,
essencial à saúde de pessoa carente, especialmente quando mas também sobre o dos militares, pois o constituinte não
sofre de doença grave que se não for tratada poderá causar, estabeleceu nenhuma distinção, no tocante ao sistema
prematuramente, a sua morte. 6. O Estado, ao negar a previdenciário dos servidores públicos em geral. Tratando-
proteção perseguida nas circunstâncias dos autos, se de prestações alimentícias, os juros devem incidir no
omitindo-se em garantir o direito fundamental à saúde, percentual de 1% ao mês. V.V.P. (TJ/MG - Ap. Cível n.
humilha a cidadania, descumpre o seu dever constitucional 1.0024.05.785447-3/001 - Comarca de Belo Horizonte -
e ostenta prática violenta de atentado à dignidade humana 5a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Nepomuceno Silva - j. em
e à vida. É totalitário e insensível. 7. Pela peculiaridade do 15.03.2007 - Fonte: DJ/MG, 30.03.2007).

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 49


L

TRIBUTÁRIO
COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA - IMPOSTO DE 118/05, veículo adequado para dispor sobre normas gerais de
RENDA - CONTRIBUIÇÃO SOCIAL sobre o prescrição tributária (CF, art. 146, b), na redação do artigo
LUCRO - Possibilidade de LIMITAÇÃO - 174, inciso I, do Código Tributário Nacional, a prescrição do
Inexistência de OFENSA ao ART. 6º/LICC crédito tributário se interrompe quando da emissão de ordem
Compensação de prejuízos. Imposto sobre a renda e judicial para citação do executado, modificação legislativa
contribuição social sobre o lucro. Limitação imposta com o que, por disciplinar matéria eminentemente processual, aplica-
advento das Leis nos 8.981/95 e 9.065/95. Legalidade. Análise se aos processos em andamento e em relação a atos ainda não
de ofensa ao artigo 6º da LICC. Omissão inexistente. 1. A praticados até a sua entrada em vigor. O parágrafo 4º, do
limitação de compensação de prejuízos resultantes do balanço artigo 40, da Lei 6.830/80, só autoriza a decretação, de ofício,
das empresas, em face das Leis nos 8.981/95 e 9.065/95, não da prescrição intercorrente, se desde a decisão que ordenar
é ilegal, porquanto não houve vedação acerca da dedução, o arquivamento dos autos tiver decorrido o prazo qüinqüenal.
tão somente o escalonamento, em atenção ao interesse (TJ/MG - Ap. Cível n. 1.0079.00.017779-4/001 - Comarca
público, reduzindo o impacto fiscal. Precedentes: REsp nº de Contagem - 4a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Moreira Diniz - j.
652.206/PE, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 04/08/06; AgRg no em 29.03.2007 - Fonte: DJ/MG, 12.04.2007).
REsp nº 516.849/CE, Rel. Min. Denise Arruda, DJ de 03/04/
06; EREsp nº 429.730/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DEFICIENTE FÍSICO - CONDUTOR de VEÍCULO -
DJ de 11/04/05 e REsp nº 242.237/CE, Rel. para acórdão Min. Necessidade de especial adaptação - Possibilidade de
Eliana Calmon DJ de 11/03/02. 2. Não há que se falar em ISENÇÃO de IPVA - LEI 1533/51 - ART. 111/CTN
omissão na decisão agravada acerca da questão atinente à Constitucional e tributário. Mandado de segurança.
ofensa ao artigo 6º da LICC, vez que restou consignado no Deficiente físico. Condutor de veículo. Necessidade de
decisum que é legal a limitação em relação à compensação de especial adaptação do automotor. Câmbio automático ou
prejuízos fiscais verificados até o dia 31/12/1994, no exercício semi-automático. Pretensão de isenção de IPVA. Requisitos.
de 1995, não havendo portanto contrariedade ao princípio da Comprovação. Concessão do benefício. Direito líquido e
anterioridade. Precedentes: REsp nº 411.363/PR, Rel. Min. certo configurado. Concessão da segurança. Manutenção.
João Otávio de Noronha, DJ de 18/08/2006 e AgRg no REsp Inteligência do art. 1º da Lei nº 1.533/1951, art. 111 do CTN
nº 516.849/CE, Rel. Min. Denise Arruda, DJ de 03/04/2006. 3. e Lei Estadual nº 14.937/2003. Para a concessão da segurança,
Agravo regimental improvido. (STJ - Ag. Regimental no Rec. hão de se encontrar presentes os pressupostos que a
Especial n. 899962 - São Paulo - 1a. T. - Rel.: Min. Francisco autorizam, restando configurado, na espécie, direito líquido
Falcão - j. em 06.03.2007 - Fonte: DJ, 09.04.2007). e certo, definido como aquele direito translúcido, evidente,
acima de toda dúvida razoável, apurável de plano, sem detido
CRÉDITO TRIBUTÁRIO - PARCELAMENTO exame, nem laboriosas cogitações. Deve ser concedida
administrativo - Ocorrência de SUSPENSÃO DA isenção de IPVA à portadora de deficiência física que
EXIGIBILIDADE - Não caracterização de comprova depender de veículo adaptado por exigência do
EXTINÇÃO - ART. 151/CTN - ART. 794/CPC órgão de trânsito, mesmo que tal adaptação seja feita pela
Apelação cível. Execução fiscal. Parcelamento fábrica, como é o caso do câmbio automático. (TJ/MG - Ap.
administrativo. Pedido de suspensão. Extinção. Cível n. 1.0024.06.024956-2/001 - Comarca de Belo
Impossibilidade. O parcelamento administrativo não é causa Horizonte - 5a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Dorival Guimarães
extinção do crédito tributário, mas de suspensão de sua Pereira - j. em 15.03.2007 - Fonte: DJ/MG, 30.03.2007).
exigibilidade, conforme disposto no art. 151, inc. VI, do CTN,
não se confundindo com a hipótese prevista no art. 794, inc. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL -
II, do CPC. Precedentes do STJ e desta Corte. Apelação CONTRIBUIÇÃODEMELHORIA-MANUTENÇÃO
provida. (TJ/RS - Ap. Cível n. 70018968958 - Comarca de São de VIA PÚBLICA - Inocorrência de VALORIZAÇÃO
Luiz Gonzaga - 22a. Câm. Cív. - Rel.: Desa. Rejane Maria Dias imobiliária - Impossibilidade de TRIBUTAÇÃO
de Castro Bins - j. em 30.03.2007 - Fonte: DJ/RS, 12.04.2007). Tributário. Apelação cível. Embargos à execução
fiscal. Contribuição de melhoria. Recapeamento asfáltico.
CRÉDITO TRIBUTÁRIO - PRESCRIÇÃO DA Valorização imobiliária. Inocorrência. Recurso desprovido.
PRETENSÃO EXECUTIVA - Ocorrência de O serviço de recapeamento asfáltico visa tão somente a
INTERRUPÇÃO na DATA de ordenação da conservação e manutenção da via pública, não se constituindo
CITAÇÃO - ART. 174/CTN em contribuição de melhoria passível de ser tributada. O
Direito processual civil. Direito tributário. Execução serviço prestado também não teve o condão de valorizar o
fiscal. Prescrição da pretensão executiva do crédito tributário. imóvel do contribuinte. (TJ/PR - Ap. Cível n. 359501-9 -
Artigo 174, inciso I, do Código Tributário Nacional. Redação Comarca de Cianorte - 5a. T. Cív. - Rel.: Des. Silvio Dias -
introduzida pela Lei Complementar 118/05. Interrupção da j. em 12.12.2006 - Fonte: DJ/PR, 15.12.2006).
prescrição na data em que a citação foi ordenada. Norma de
cunho processual. Aplicação a feitos em andamento e em EXECUÇÃO FISCAL - EMPRESA - Situação de
relação a atos ainda não praticados. Inocorrência da INSOLVÊNCIA - Insuficiência de BENS para
prescrição comum. Decurso do quinqüênio prescricional a satisfação de CRÉDITO - Caracterização de
partir da decisão que determina o arquivamento provisório. DISSOLUÇÃO IRREGULAR de SOCIEDADE -
Inocorrência. Não consumação da prescrição intercorrente. Cabimento de redirecionamento de AÇÃO - ART.
À vista da alteração implementada pela Lei Complementar 135/CTN

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 50


LI
Agravo de instrumento. Direito tributário. ICMS - REGIME individual de CONTROLE -
Execução fiscal. Insuficiência de bens para satisfação do Ausência de ofensa ao PRINCÍPIO da ISONOMIA
crédito. Infração à lei comercial. Dissolução irregular de - PRAZO para RECOLHIMENTO de TRIBUTO -
sociedade. Redirecionamento. Cabível o redirecionamento Possibilidade de alteração
da ação de execução contra os sócios-gerentes, uma vez Apelação cível e reexame necessário. ICMS. Mandado
que irregularmente dissolvida a sociedade, forte no art. de segurança. Submissão ao regime individual de controle
135, inciso III, do Código Tributário Nacional, circunstância autorizado pela Lei Estadual 11.580/96 (lei orgânica do ICMS),
evidenciada frente à insuficiência de bens para a satisfação Artigo 52. Ausente o alegado princípio da isonomia. Recurso
do crédito. Ademais, frente a situação de insolvência da provido. Denegada segurança. 1. Não se reconhece ofensa ao
empresa, os sócios-gerentes não requereram, princípio da isonomia, pois que o sistema individual de controle
oportunamente, a autofalência, violando o artigo 8º do e pagamento do ICMS, previsto na Lei Estadual, dá o devido
Decreto-Lei nº 7.661/45. Agravo desprovido por maioria, tratamento isonômico aos contribuintes, reservando iguais
vencido o Des. Adão. (TJ/RS - Ag. de Instrumento n. direitos aos que se enquadram em iguais situações, ou seja,
70018433425 - Comarca de Farroupilha - 2a. Câm. Cív. prazo para aqueles que ordinariamente cumprem suas
- Rel.: Des. João Armando Bezerra Campos - j. em obrigações. 2. A mera alteração no prazo para recolhimento
28.03.2007 - Fonte: DJ/RS, 11.04.2007). do tributo, desde que já ocorrida a hipótese de incidência,
NOTA BONIJURIS: Extraímos do voto do não representa ofensa a direito líquido e certo do contribuinte
eminente Relator, Des. João Armando Bezerra Campos, a inadimplente, pois que o crédito tributário, nesta espécie de
seguinte lição: “Nos termos do artigo 135, inciso III, do sistema individual, deve ser constituído em cada operação
Código Tributário Nacional, os diretores, gerentes ou de circulação da mercadoria. (TJ/PR - Ap. Cível e Reex.
representantes das pessoas jurídicas de direito privado Necessário n. 0173282-7 - Comarca de Ponta Grossa - 2a.
são pessoalmente responsáveis pelos créditos Câm. Cív. - Rel.: Juíza Lenice Bodstein - conv. - j. em
correspondentes a obrigações tributárias resultantes de 13.02.2007 - Fonte: DJ/PR, 09.03.2007).
atos praticados com excesso de poder ou infração de lei,
contrato social ou estatutos. (...) De outro lado, a IPTU - TLP - COBRANÇA - CRÉDITO de
insuficiência de bens para a satisfação do crédito faz irrisório VALOR - Configuração de INTERESSE
presumir que os bens foram desviados em evidente infração da FAZENDA PÚBLICA - Observância do ART.
à lei, a ensejar a responsabilidade pessoal e ilimitada dos 150, § 6º
sócios-gerentes pelos créditos correspondentes as Execução fiscal. Cobrança de IPTU e TLP. Crédito de
obrigações tributárias.” irrisório valor. Ausência de interesse da fazenda pública.
Não cabimento. 1. “Não há porque desconsiderar o interesse
EXECUÇÃO FISCAL - IPTU - Ocorrência de de agir da Fazenda Pública cuidando-se de ação de execução
NULIDADE da CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA - fiscal para cobrança de IPTU, ao argumento de ser o valor
Observância dos requisitos do ART. 202/CTN - constante da certidão de dívida ativa de pequena monta.
Caracterização de exigência legal Constatação que não tem o condão de desconstituir o
Processual civil. Tributário. Execução fiscal. IPTU. crédito tributário” (Acórdão publicado no DJU de 07/02/
Nulidade da CDA. Reexame de prova. Prescrição 2001). 2. A Constituição Federal, no parágrafo 6º, do artigo
intercorrente. Decretação de ofício. 1. A jurisprudência 150, prevê que a remissão de crédito tributário somente
desta Corte é pacífica no sentido de que a Certidão de poderá ser concedida mediante lei específica federal,
Dívida Ativa deve, obrigatoriamente, sob pena de estadual ou municipal, que regule exclusivamente a matéria.
nulidade, preencher todos os requisitos constantes do 3. Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem competência
art. 202 do Código Tributário Nacional. Conforme legislativa, conceder a remissão de crédito tributário
consignado nas instâncias ordinárias, a CDA que instrui referente ao IPTU e TLP, sob pena de invasão de esfera
a presente execução fiscal não atende a tais exigências de privativa de outro Poder. 4. Recursos providos. Unânime.
ordem legal, razão pela qual foi declarada nula. Desse (TJ/DF - Ap. Cível n. 20010111068905 - Comarca de
modo, adotar entendimento em sentido contrário, Ponta Grossa - 5a. T. Cív. - Rel.: Des. Romeu Gonzaga
reexaminando os requisitos de validade da certidão, Neiva - j. em 07.02.2007 - Fonte: DJ/DF, 08.03.2007).
importaria ofensa à Súmula 7/STJ. 2. De acordo com o que
estabelecia o § 5º do art. 219 do Código de Processo Civil, ISS - SERVIÇO TERCEIRIZADO - Exercício de
antes da alteração promovida pela Lei 11.280, de 16 de ATIVIDADE por CONTRIBUINTE - Possibilidade
fevereiro de 2006, a prescrição não podia ser decretada de de incidência de TRIBUTO
ofício pelo juiz quando a questão versava sobre direito Matéria Tributária. ISS. Serviços Terceirizados. Tributo
patrimonial. 3. Após o advento da Lei 11.051, em 30 de devido. Correta a tributação da atividade exercida pelo
dezembro de 2004, a qual introduziu o § 4º no art. 40 da Lei contribuinte, não tendo qualquer relevo, para fins tributários,
6.830/80, passou-se a admitir a decretação de ofício da o fato de contratar com terceiros a prestação de etapas do
prescrição intercorrente, após prévia oitiva da Fazenda serviço que contrata. Opção empresarial que não pode ser
Pública. 4. Recurso especial parcialmente provido para erigida em pretexto para lesar o fisco. Não se confunde, por
afastar o reconhecimento de ofício da prescrição, outro lado, a base de cálculo do Imposto sobre Serviços de
subsistindo, contudo, a extinção do processo com Qualquer Natureza com a do Imposto sobre a Renda, que
fundamento na nulidade da Certidão de Dívida Ativa. representa, aqui sim, o lucro líquido da atividade. Decisão
(STJ - Rec. Especial n. 798377 - Rio Grande do Sul - 1a. confirmada. (TJ/RJ - Ap. Cível n. 2006.001.47737 - Comarca
T. - Rel.: Min. Denise Arruda - j. em 05.10.2006 - Fonte: do Rio de Janeiro - 4a. Câm. Cív. - Rel.: Des. Jair Pontes de
DJ, 07.11.2006). Almeida - j. em 13.03.2007 - Fonte: DJ/RJ, 22.03.2007).

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 51


LII
ATIVIDADE de LIBERAÇÃO planejada e Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua
CULTIVO de ORGANISMO GENETICAMENTE publicação.
MODIFICADO em UNIDADE de Art. 7º Fica revogado o art. 11 da Lei nº
CONSERVAÇÃO - LEI 9985/00 10.814, de 15 de dezembro de 2003.
Brasília, 21 de março de 2007; 186º da
LEI Nº 11.460, DE 21 DE MARÇO DE 2007 Independência e 119º da República.
Dispõe sobre o plantio de organismos LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
geneticamente modificados em unidades de Tarso Genro
conservação; acrescenta dispositivos à Lei nº 9.985, Luiz Carlos Guedes Pinto
de 18 de julho de 2000, e à Lei nº 11.105, de 24 de Sérgio Machado Rezende
março de 2005; revoga dispositivo da Lei nº 10.814, Marina Silva
de 15 de dezembro de 2003; e dá outras providências. Guilherme Cassel
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA (D.O.U. de 22.03.2007, col. II, pág. 1)
Faço saber que o Congresso Nacional
decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CRIME HEDIONDO - LEI 8072/90 -
Art. 1º Ficam vedados a pesquisa e o cultivo CUMPRIMENTO DA PENA inicialmente em
de organismos geneticamente modificados nas REGIME FECHADO - PROGRESSÃO DE
terras indígenas e áreas de unidades de conservação, REGIME
exceto nas Áreas de Proteção Ambiental. LEI Nº 11.464, DE 28 DE MARÇO DE 2007
Art. 2º A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000,
passa a vigorar com as seguintes alterações: Dá nova redação ao art. 2º da Lei nº 8.072,
“Art. 27. ................................................... de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes
§ 4º O Plano de Manejo poderá dispor sobre hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5º da
as atividades de liberação planejada e cultivo de Constituição Federal.
organismos geneticamente modificados nas Áreas O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
de Proteção Ambiental e nas zonas de Faço saber que o Congresso Nacional
Legislação

amortecimento das demais categorias de unidade decreta e eu sanciono a seguinte Lei:


de conservação, observadas as informações Art. 1º O art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho
contidas na decisão técnica da Comissão Técnica de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:
Nacional de Biossegurança – CTNBio sobre: “Art. 2º ......................................
I – o registro de ocorrência de ancestrais II – fiança.
diretos e parentes silvestres; § 1º A pena por crime previsto neste artigo
II – as características de reprodução, será cumprida inicialmente em regime fechado.
dispersão e sobrevivência do organismo § 2º A progressão de regime, no caso dos
geneticamente modificado; condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-
III – o isolamento reprodutivo do organismo se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da
geneticamente modificado em relação aos seus pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três
ancestrais diretos e parentes silvestres; e quintos), se reincidente.
IV – situações de risco do organismo § 3º Em caso de sentença condenatória, o
geneticamente modificado à biodiversidade.” (NR) juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá
“Art. 57-A. O Poder Executivo estabelecerá apelar em liberdade.
os limites para o plantio de organismos § 4º A prisão temporária, sobre a qual dispõe
geneticamente modificados nas áreas que circundam a Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes
as unidades de conservação até que seja fixada sua previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta)
zona de amortecimento e aprovado o seu respectivo dias, prorrogável por igual período em caso de
Plano de Manejo. extrema e comprovada necessidade.” (NR)
Parágrafo único. O disposto no caput deste Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua
artigo não se aplica às Áreas de Proteção Ambiental publicação.
e Reservas de Particulares do Patrimônio Nacional.” Brasília, 29 de março de 2007; 186º da
Art. 3º O art. 11 da Lei no 11.105, de 24 de Independência e 119º da República
março de 2005, passa a vigorar acrescido do seguinte LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Tarso Genro
§ 8º-A:
“Art. 11. ................................................... (D.O.U. de 29.03.2007, col. I, pág. 1 – edição
§ 8º-A As decisões da CTNBio serão extra)
tomadas com votos favoráveis da maioria absoluta
de seus membros. LEI DE EXECUÇÃO PENAL - UTILIZAÇÃO de
...................................................” (NR) TELEFONE CELULAR - FALTA DISCIPLINAR
Art. 4º (VETADO) GRAVE do PRESO e CRIME do AGENTE
Art. 5º O prazo previsto no art. 26 da Lei nº PÚBLICO
11.265, de 3 de janeiro de 2006, relativamente ao que
LEI Nº 11.466, DE 28 DE MARÇO DE 2007
dispõem o inciso III do caput do art. 2º e os arts. 10,
11, 13, 14 e 15, fica prorrogado por 6 (seis) meses, a Altera a Lei nº 7.210, de 11 de julho de
partir de 3 de janeiro de 2007. 1984 – Lei de Execução Penal, e o Decreto-Lei

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 52


LIII
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, para Art. 2º Caberá o pagamento do AAE em retribuição
prever como falta disciplinar grave do preso e crime do à participação em processo de avaliação referido no art. 1º,
agente público a utilização de telefone celular. incluídas a realização de visita de avaliação in loco,
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA participação em sessão de colegiado com atribuições de
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu avaliação educacional, atuação em comissão de especialistas,
sanciono a seguinte Lei: emissão de parecer técnico e elaboração de estudos e
Art. 1º O art. 50 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 relatórios científicos de avaliação.
– Lei de Execução Penal, passa a vigorar acrescido do Art. 3º O AAE de que trata o art. 1º:
seguinte inciso VII: I – somente será pago se as atividades forem exercidas
“Art. 50. ........................................................... sem prejuízo das atribuições do cargo do servidor, devendo
........................................................................ ser objeto de compensação de carga horária, até o mês
VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho subseqüente, quando desempenhadas durante a jornada de
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação trabalho; e
com outros presos ou com o ambiente externo. II – não se incorpora ao vencimento ou salário do
................................................................. ” (NR) servidor para qualquer efeito e não poderá ser utilizada como
Art. 2º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de base de cálculo para quaisquer outras vantagens, inclusive
1940 – Código Penal, passa a vigorar acrescido do seguinte para fins de cálculo dos proventos da aposentadoria e das
art. 319-A: pensões.
“Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou Art. 4º O AAE será devido em função da realização
agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o das atividades de avaliação referidas nos arts. 1º e 2º, até o
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita limite de R$ 1.000,00 (mil reais) por atividade.
a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: § 1º Regulamento disporá sobre os valores a serem
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.” atribuídos a cada atividade.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua § 2º Os valores do AAE devidos a cada atividade
publicação. serão atualizados anualmente em ato do Poder Executivo.
Brasília, 29 de março de 2007; 186º da Independência Art. 5º Quando houver a participação, em caráter
e 119º da República. eventual, de pessoa estranha aos quadros de pessoal da
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA administração pública federal direta, autárquica e fundacional
Tarso Genro em processos de avaliação de que tratam os arts. 1º e 2º, ser-
lhe-á pago, a título de retribuição, valor fixado na forma do
(D.O.U. de 29.03.2007, Col. II, pág. 1 – edição extra) art. 4º.
Art. 6º Quando necessários deslocamentos em razão
INSTITUIÇÃO do AUXÍLIO DE AVALIAÇÃO da atividade de avaliação, o servidor fará jus a passagens e
EDUCACIONAL - AAE - SERVIDOR que participa de diárias, na forma da lei.
PROCESSO de AVALIAÇÃO - CRIAÇÃO de CARGO Parágrafo único. A pessoa de que trata o art. 5º em
EM COMISSÃO para a REALIZAÇÃO dos JOGOS idêntica situação fará jus a passagens e diárias do mesmo
PAN-AMERICANOS valor devido ao servidor.
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 361, DE 28 DE MARÇO DE Art. 7º As despesas decorrentes do AAE correrão à
2007 conta de dotações e limites previstos no orçamento anual
consignadas à CAPES e ao INEP no grupo de despesas
Institui o Auxílio de Avaliação Educacional – AAE “Outras Despesas Correntes”.
para os servidores que participarem de processos de Art. 8º Os arts. 8º e 11 da Lei nº 10.880, de 9 de junho
avaliação realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e de 2004, passam a vigorar com a seguinte redação:
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP ou pela “Art. 8º .....................................................
Fundação CAPES; altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho § 3º A bolsa referida nos parágrafos do art. 11 poderá
de 2004, 11.273, de 6 de fevereiro de 2006, 11.357, de 19 ser paga ao voluntário diretamente pela União, observadas
de outubro de 2006, e 11.458, de 19 de março de 2007; cria as normas do FNDE.” (NR)
cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento “Art. 11....................................................
Superiores – DAS; cria, em caráter temporário, funções de .................................................................
confiança denominadas Funções Comissionadas dos Jogos § 4º Entende-se por alfabetizadores os professores
Pan-Americanos – FCPAN; e dá outras providências. da rede pública ou privada ou outros agentes, nos termos do
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da regulamento, que, voluntariamente, realizem as atividades
atribuição que lhe confere o art. 62 da Constituição, adota a de alfabetização, em contato direto com os alunos, e por
seguinte Medida Provisória, com força de lei: coordenadores de turmas de alfabetização os que,
Art. 1º Fica instituído o Auxílio de Avaliação voluntariamente, desempenhem supervisão do processo de
Educacional – AAE, devido ao servidor que, em decorrência aprendizagem dos alfabetizandos.
do exercício da docência ou pesquisa no ensino superior § 5º Aplica-se o regime desta Lei aos formadores
público ou privado, participe, em caráter eventual, de processo voluntários dos alfabetizadores, nos termos do § 4º, e aos
de avaliação educacional de instituições, cursos, projetos tradutores e intérpretes voluntários da Língua Brasileira de
ou desempenho de estudantes realizado por iniciativa do Sinais – Libras que auxiliem na alfabetização de alunos
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais surdos.” (NR)
Anísio Teixeira – INEP ou da Fundação Coordenação de Art. 9º O art. 3º da Lei nº 11.273, de 6 de fevereiro de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. 2006, passa a vigorar com a seguinte redação:

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 53


LIV
“Art. 3º As bolsas de que trata o art. 2º desta Lei § 2º O ocupante de FCPAN fará jus à remuneração
serão concedidas pelo FNDE, diretamente ao beneficiário, do cargo efetivo, acrescida do valor da função para a qual
por meio de crédito bancário, nos termos de normas foi designado.
expedidas pelo Conselho Deliberativo do FNDE, e mediante § 3º Os servidores civis e militares lotados em outras
a celebração de termo de compromisso em que constem os unidades da Federação que sejam designados para as FCPAN
correspondentes direitos e obrigações.” (NR) receberão diárias durante o período em que exercerem as
Art. 10. O art. 7º da Lei nº 11.357, de 19 de outubro suas funções fora da unidade de origem, observado o art. 58
de 2006, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo: da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990.
“§ 9º Até que se efetivem as avaliações que § 4º Se ocupante de cargo em comissão ou função
considerem as condições específicas de exercício gratificada, o servidor ou militar designado para o exercício
profissional, a GDPGTAS será paga em valor de FCPAN exercerá a função obedecidos os termos do
correspondente a oitenta por cento do seu valor máximo, parágrafo único do art. 9º da Lei nº 8.112, de 1990.
observados o posicionamento na tabela e o cargo efetivo § 5º Considera-se função de natureza militar, para os
ocupado pelo servidor: efeitos da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, o exercício
I – cedido aos Estados do Amapá, Roraima e por militar das FCPAN.
Rondônia, com fundamento no art. 31 da Emenda § 6º A FCPAN não se incorpora à remuneração do
Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998, e no § 2º do art. servidor ou militar e não integra os proventos de
19 da Lei Complementar nº 41, de 22 de dezembro de 1981; aposentadoria e pensão.
ou Art. 15. Dos atos de designação para o exercício de
II – à disposição de Estados, Distrito Federal ou FCPAN deverá constar, expressamente, seu caráter
Municípios, conforme disposto no art. 20 da Lei nº 8.270, de transitório.
17 de dezembro de 1991.” (NR) Art. 16. As FCPAN serão consideradas extintas
Art. 11. O art. 2º da Lei nº 11.458, de 19 de março de sessenta dias após o encerramento dos Jogos Pan-
2007, passa a vigorar com a seguinte redação: Americanos de 2007, cabendo à unidade de recursos humanos
“Art. 2º A contratação de que trata esta Lei será de, responsável promover o cancelamento do pagamento
no máximo, cento e sessenta pessoas, com validade de dois correspondente àquelas funções, independentemente de
anos, podendo ser prorrogada por igual período.” (NR) formalização do ato de dispensa dos titulares.
Art. 12. Ficam criados: Parágrafo único. As FCPAN indispensáveis ao
I – no âmbito da Advocacia-Geral da União: desenvolvimento das atividades de desmobilização do
a) dois cargos do Grupo-Direção e Assessoramento aparato de segurança do evento, conforme justificativa e
Superiores, código DAS 102.5; e indicação da autoridade competente, serão consideradas
b) sete cargos do Grupo-Direção e Assessoramento extintas em 31 de dezembro de 2007, aplicando-se o
Superiores, código DAS 101.4; procedimento indicado neste artigo, observada a data de
II – no âmbito da Procuradoria-Geral Federal: três extinção.
cargos do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores, Art. 17. Aos atuais ocupantes dos cargos de Reitor
código DAS 101.4. e Vice-Reitor das Universidades Federais aplica-se, para fins
Art. 13. Ficam criados, no âmbito do Poder Executivo de inclusão na lista tríplice objetivando a recondução, a
Federal, os seguintes cargos em comissão do Grupo-Direção estrutura da carreira de Magistério Superior e os requisitos
e Assessoramento Superiores – DAS: onze DAS-4 e seis legais vigentes à época em que foram nomeados para o
DAS-3, a serem alocados temporariamente no Ministério mandato em curso.
do Esporte. Art. 18. Esta Medida Provisória entra em vigor na
§ 1º Os cargos em comissão referidos no caput data da sua publicação.
serão destinados à Secretaria-Executiva do Governo Federal Brasília, 28 de março de 2007; 186º da Independência
para o Pan-Americano, do Ministério do Esporte, e utilizados e 119º da República.
no apoio ao gerenciamento das ações do Governo Federal LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
para a realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Tarso Genro
§ 2º Os cargos de que trata este artigo serão Waldir Pires
considerados automaticamente extintos em 1º de janeiro de Fernando Haddad
2008. Orlando Silva de Jesus Junior
Art. 14. Ficam criadas, em caráter temporário, José Antonio Dias Toffoli
funções de confiança denominadas Funções Comissionadas
dos Jogos Pan-Americanos – FCPAN, privativas de ANEXO
servidores públicos ocupantes de cargo efetivo, de qualquer
esfera de governo, e de militares da União, dos Estados e FUNÇÕES COMISSIONADAS DOS JOGOS PAN-
do Distrito Federal, quando destacados para o exercício de AMERICANOS – FCPAN
atividades de chefia e supervisão na área de segurança dos
Jogos Pan-Americanos de 2007, na cidade do Rio de Janeiro, FUNÇÃO QUANTITATIVO VALOR
nos quantitativos, valores e níveis especificados no Anexo UNITÁRIO (R$)
desta Medida Provisória. FCPAN-3 1 2.300,00
§ 1o As FCPAN ficam alocadas no Ministério da FCPAN-2 6 1.300,00
Justiça, exclusivamente para atividades de chefia e FCPAN-1 34 1.000,00
supervisão na área de segurança vinculada aos Jogos Pan-
Americanos de 2007. (D.O.U. de 29.03.2007, col. II, pág. 2 – edição extra)

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 54


LV

Como Decidem os Tribunais

O DIREITO (E A EXPECTATIVA DE DIREITO) À NOMEAÇÃO DE


CANDIDATO APROVADO EM CONCURSO PÚBLICO: BREVES
REFLEXÕES À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA
Hidemberg Alves da Frota
Advogado em Manaus/AM

Introdução inferior, (2) por candidato aprovado (ou apenas


Antes de mais nada, tenha-se presente o classificado) em concurso público posterior, (3) por
conteúdo de três dispositivos insculpidos no art. 37 da agente público não-concursado – inclusive servidor
Constituição Federal de 1988, de nítida conexão com o temporário, em sede de contrato de prestação de serviço
objeto desta sucinta reflexão: por tempo determinado, a atender à necessidade
(a) Inciso II. Determina que a investidura em temporária de excepcional interesse público.
cargo ou emprego público depende de aprovação prévia A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
em concurso público de provas ou de provas e títulos, reconhece que a expectativa de vir a ser nomeado se
de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou converte em direito subjetivo à nomeação se, “dentro
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as do prazo de validade do certame, há contratação precária
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de de terceiros, concursados ou não, para exercício dos
livre nomeação e exoneração; c a r g o s ” 2 ou, ainda, se existiu “quebra na ordem
(b) Inciso III. Estabelece que o prazo de validade c l a s s i f i c a t ó r i a ” 3 . O STJ considerou “inviável a
do concurso público será de até dois anos, prorrogável nomeação de candidato aprovado em concurso público,
uma vez, por igual período; cuja permanência no certame foi garantida por decisão
(c) Inciso IV. Estatui que, durante o prazo judicial ainda não transitada em julgado” 4 .
improrrogável previsto no edital de convocação, aquele A posição do STJ se coaduna com a ótica do
aprovado em concurso público de provas ou de provas Supremo Tribunal Federal. A Corte Suprema brasileira
e títulos será convocado com prioridade sobre novos enxerga direito subjetivo à nomeação (1) quando,
concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira. durante o “prazo de validade do concurso” 5 , “o cargo
for preenchido sem observância da classificação” 6 , (2)
1. Brocardo “a aprovação em concurso público de maneira precária, mediante “terceirização da vaga” 7 ,
gera mera expectativa de direito” (3) via readmissão 8 , (4) em face de decisão judicial já
Em geral, o candidato aprovado em concurso transitada em julgado 9 e (5) acaso a Administração
público não possui direito à nomeação – detém apenas Pública, ao recusar (sem motivação) pedido de
a expectativa de direito de ser nomeado. Posto de outro prorrogação de determinado concurso público que
modo: uma vez aprovado o candidato em concurso possua vagas não-preenchidas, viabilize a deflagração
público, assiste-lhe “simples expectativa de direito à de novo certame, a contemplar as vagas remanescentes
investidura no cargo ou emprego disputado” 1 , ensina do concurso público anterior 10 .
o clássico magistério de Hely Lopes Meirelles. A prudência própria da advocacia pública
preventiva (profilaxia em face de eventual e subseqüente
2. Excepcional direito à nomeação controle externo de juridicidade e legalidade, no âmbito
A exceção à regra repousa na circunstância na do Tribunal de Contas, do Ministério Público e do
qual o candidato aprovado em concurso público Poder Judiciário) recomenda à Administração Pública,
(classificado dentro do número de vagas vislumbrado antes de providenciar novo certame para idêntico cargo
pelo edital) passa a ter direito subjetivo à nomeação, ou emprego público, envidar esforços para preencher
porque foi indevidamente preterido, a exemplo do todas as vagas previstas em edital, tendo em vista que
preenchimento de vaga (1) por candidato aprovado (ou a Constituição da República (art. 37, III) franqueia ao
apenas classificado) naquele certame, em posição Estado-administração lapso temporal razoável, ao

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 55


LVI
consignar que o prazo de validade do concurso público do certame em que tal candidato foi aprovado, viabiliza
será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual o advento de novo concurso público, destinado ao
período. Nesse compasso, no caso específico da preenchimento das vagas remanescentes do certame
Administração Pública Federal, o Estatuto dos anterior.
Servidores Públicos da União (art. 11, § 2o, da Lei Federal Em síntese, a Administração Pública deve
n o 8.112, de 11 de dezembro de 1990) dispõe: Não se preencher as vagas previstas em edital de concurso
abrirá novo concurso enquanto houver candidato público na medida do que julgar necessário do ponto de
aprovado em concurso anterior com prazo de validade vista logístico e possível sob o ângulo financeiro,
não expirado. balizada por critérios de conveniência e oportunidade,
Acaso contempladas as vagas previstas em emoldurados pelas diretrizes jurídicas e legais. O Estado-
edital, nada impede seja deflagrado novo certame, administração não tem o dever de preencher, de pronto,
carecendo do direito à nomeação os candidatos todas as vagas editalícias, mas cumpre ao Poder Público
classificados em posição não abarcada pelas vagas – evitar a preterição de candidatos, ou seja, não permitir
esclarece o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande (1) que o número de vagas previsto em edital seja
do Sul no Agravo de Instrumento n o 70016713844 contemplado por agentes públicos não-concursados
(relator, desembargador Wellington Pacheco Barros) 11 . ou por candidatos aprovados em certame posterior, (2)
Desnecessário frisar, o preenchimento das vagas nem que haja ofensa à ordem classificatória.
elencadas no instrumento editalício não depende apenas
de expedição de atos nomeatórios pelo Poder Público, NOTAS
mas também do interesse dos candidatos aprovados de 1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
anuírem com sua nomeação, o que nem sempre ocorre. brasileiro. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 405.
2 “1. Embora aprovado em concurso público, tem o
candidato mera expectativa de direito à nomeação. Porém, tal
Conclusão expectativa se transforma em direito subjetivo para os
Do exposto, infere-se: candidatos aprovados dentro das vagas previstas no edital se,
(a) A Administração Pública tem o dever de dentro do prazo de validade do certame, há contratação
respeitar a ordem classificatória dos candidatos precária de terceiros, concursados ou não, para exercício dos
aprovados em concurso público e, caso decida por cargos. Precedentes.” Cf. BRASIL. Superior Tribunal de
Justiça (Quinta Turma). Item 1 da ementa do Recurso
efetivar nomeações em face de tal certame, que as
Ordinário em Mandado de Segurança no 19924/SP. Relator:
realize dentro do prazo legal de sua validade, respeitado Ministro Arnaldo Esteves Lima. Brasília, DF, 10 de outubro
o número máximo de vagas previsto em edital e de 2006. Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 30 out.
expedidos os atos nomeatórios considerando o grau de 2006, p. 336. Disponível em: <http://www.stj.gov.br> Acesso
necessidade de se ampliar o quadro de pessoal em: 8 mar. 2007.
concursado e a economicidade nos gastos públicos, 3 “II – Constatando-se a quebra na ordem
inclusive no tocante às despesas com recursos classificatória ou contratação para preenchimento de vagas
em caráter precário, dentro do prazo de validade do concurso,
humanos;
bem como a necessidade perene de preenchimento de vaga e
(b) Em geral, tão-somente há expectativa do a existência de candidato aprovado em concurso válido, a
direito à nomeação, pois apenas caracteriza-se o direito expectativa se convola em direito líquido e certo.” Cf.
subjetivo à nomeação (1) quando o candidato aprovado BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Quinta Turma). Item
em concurso público não foi nomeado porque a II da ementa do Agravo Regimental no Recurso em Mandado
respectiva vaga foi preenchida de forma ilícita ou (2) se de Segurança no 21668/PR. Relator: Ministro Gilson Dipp.
Brasília, DF, 3 de outubro de 2006. Diário da Justiça da
a Administração Pública, ao indeferir, de forma não-
União, Brasília, DF, 30 out. 2006, p. 337. Disponível em:
motivada, o pedido de prorrogação (ainda tempestiva,
<http://www.stj.gov.br> Acesso em: 8 mar. 2007.
do ponto de vista constitucional – art. 37, III, da CF/88) 4 “Mandado de segurança. Militar. Estágio de
adaptação ao oficialato. Candidato sub judice. Inexistência de
direito à nomeação. Reserva devaga. Viabilidade. Esta e.
Corte já tem entendimento pacífico no sentido de que é
A Administração Pública deve inviável a nomeação de candidato aprovado em concurso
preencher as vagas previstas em público, cuja permanência no certame foi garantia por decisão
judicial ainda não transitada em julgado. Assegura-se tão-
edital de concurso público na medida somente a reserva de vaga até o trânsito em julgado daquela
do que julgar necessário do ponto de decisão. Precedentes.Segurança concedida parcialmente.” Cf.
vista logístico e possível sob o ângulo BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Terceira Seção).
Ementa do Mandado de Segurança no 11385/DF. Relator:
financeiro, balizada por critérios de Ministro Felix Fischer. Brasília, DF, 27 de setembro de 2006.
conveniência e oportunidade, Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 16 out. 2006, p.
emoldurados pelas diretrizes 284. Disponível em: <http://www.stj.gov.br> Acesso em: 8
mar. 2007.
jurídicas e legais 5 “Dentro do prazo de validade do concurso, o
candidato aprovado tem o direito à nomeação, quando o cargo

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 56


LVII
for preenchido sem observância da classificação.” Cf. Brasil. 10 “Ementa: Constitucional. Administrativo.
Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Súmula no 15. Servidor público: concurso público. Direito à nomeação.
Brasília, DF, 13 de dezembro de 1963. Súmula da Súmula 15-STF. I. – A aprovação em concurso público não
Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal gera, em princípio, direito à nomeação, constituindo mera
Aprovada em 13-12-63: anexo ao regimento interno. Brasília, expectativa de direito. Esse direito surgirá se for nomeado
DF, Imprensa Nacional, 1964, p. 37. Disponível em: <http:/ candidato não aprovado no concurso, se houver o
/www.stf.gov.br>. Acesso em: 6 mar. 2007. preenchimento de vaga sem observância de classificação do
6 “I. – A aprovação em concurso público não gera, em candidato aprovado (Súmula 15-STF) ou se, indeferido pedido
princípio, direito à nomeação, constituindo mera expectativa de prorrogação do prazo do concurso, em decisão desmotivada,
de direito. Esse direito surgirá se for nomeado candidato não for reaberto, em seguida, novo concurso para preenchimento
aprovado no concurso, se houver o preenchimento de vaga de vagas oferecida no concurso anterior cuja prorrogação fora
sem observância de classificação do candidato aprovado indeferida em decisão desmotivada. II. – Precedentes do STF:
(Súmula 15-STF) ou se, indeferido pedido de prorrogação do MS 16.182/DF, Ministro Evandro Lins (RTJ 40/02); MS
prazo do concurso, em decisão desmotivada, for reaberto, em 21.870/DF, Ministro Carlos Velloso, ‘DJ’ de 19.12.94; RE
seguida, novo concurso para 192.568/PI, Ministro Marco Aurélio,
preenchimento de vagas oferecida no ‘DJ’ de 13.9.96; RE 273.605/SP,
concurso anterior cuja prorrogação fora Ministro Néri da Silveira, ‘DJ’ de
indeferida em decisão desmotivada.” Cf. 28.6.02. III. – Negativa de seguimento
BRASIL. Supremo Tribunal Federal O Estatuto dos Servidores ao RE. Agravo não provido.” Cf.
(Segunda Turma). Item 1 da ementa do Públicos da União (art. 11, BRASIL. Supremo Tribunal Federal
Agravo Regimental no Recurso (Segunda Turma). Agravo Regimental
Extraordinário no 419013/DF. Relator: § 2 , da Lei Federal
o
no Recurso Extraordinário no 419013/
Ministro Carlos Velloso. Brasília, DF, n o 8.112, de 11 de dezembro DF. Relator: Ministro Carlos Velloso.
1o de junho de 2004. Diário da Justiça de 1990) dispõe: Não se Brasília, DF, 1º de junho de 2004. Diário
da União, Brasília, DF, 25 jun. 2004, p. da Justiça da União, Brasília, DF, 25
59. Disponível em: <http://
abrirá novo concurso jun. 2004, p. 59. Disponível em: <http:/
www.stf.gov.br>. Acesso em: 6 mar. enquanto houver candidato /www.stf.gov.br>. Acesso em: 9 mar.
2007. aprovado em concurso 2007.
7 “Ementa: 1. Concurso público: 11 Ementa: Agravo de
anterior com prazo de
terceirização da vaga: preterição de Instrumento. Constitucional,
candidatos aprovados: direito à validade não expirado Administrativo e Processual Civil.
nomeação: uma vez comprovada a Concurso Público. Ingresso À carreira
existência da vaga, sendo esta de Delegado de Polícia. Candidato não
preenchida, ainda que precariamente, classificado dentro das vagas previstas
fica caracterizada a preterição do candidato aprovado em no edital. Inexistência de direito À nomeação, posse ou
concurso. 2. Recurso extraordinário: não se presta para o reserva de vaga, mesmo ante a abertura de novo concurso
reexame das provas e fatos em que se fundamentou o acórdão público Ainda dentro do prazo de validade do primeiro.
recorrido: incidência da Súmula 279.” Cf. BRASIL. Supremo Tutela antecipada não concedida na origem. Efeito suspensivo
Tribunal Federal (Primeira Turma). Ementa do Agravo que não se concede. Precedentes Jurisprudenciais. 1. A
Regimental no Agravo de Instrumento no 440895/SE. Relator: Constituição Federal, em seu art. 37, III, dispõe que o prazo
Ministro Sepúlveda Pertence. Brasília, DF, 26 de setembro de validade dos concursos públicos é de até 2 (dois) anos,
de 2006. Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 20 out. prorrogável por uma única vez, por igual período, inserindo-
2006, p. 55. Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso se na esfera de discricionariedade da Administração Pública,
em: 6 mar. 2007. dependendo de critérios como conveniência e oportunidade.
8 “– Administrativo. Funcionalismo. Cargo público. 2. Na espécie, o Edital nº 03/2002, de abertura do certame
Investidura. No prazo de validade do concurso, tem direito para ingresso na Carreira de Delegado de Polícia para o
a nomeação o candidato cuja vez de nomeação foi atingida, preenchimento de 50 (cinqüenta) vagas, determinou a validade
não podendo ser preterido por aquele a quem a do concurso por 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado por
Administração deferiu readmissão no cargo. Aplicação da igual período, bem como a eliminação automática dos
Súmula n. 15 Do Supremo Tribunal Federal.” Cf. BRASIL. candidatos não classificados dentro do número de vagas
Supremo Tribunal Federal (Segunda Turma). Ementa do previsto no Edital. 3. A Administração, por sua vez,
Recurso Extraordinário no 85997/SP. Relator: Ministro homologou o referido concurso através do Edital nº 012/2004,
Décio Miranda. Brasília, DF, 17 de agosto de 1979. Diário classificando 52 (cinqüenta e dois) candidatos. E, tendo o
da Justiça da União, Brasília, DF, 10 de setembro de 1979, agravante sido aprovado e classificado em 153º lugar, não tem
p. 6.679. Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso direito à nomeação, posse ou reserva de vaga sobre os
em: 6 mar. 2007. candidatos que virão a ser aprovados através do novo concurso
9 “Concurso público – Preterição – Cumprimento de aberto mediante o Edital nº 08/2006. 4. Agravo de Instrumento
decisão judicial. Descabe falar de preterição quando o ato da improvido. (Agravo de Instrumento nº 70016713844, Quarta
Administração Pública repousa na observância de Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Wellington
pronunciamento judicial, ou seja, em título executivo judicial Pacheco Barros, Julgado em 13/12/2006) Cf. RIO GRANDE
trânsito em julgado.” Cf. BRASIL. Supremo Tribunal Federal DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
(Segunda Turma). Trecho da ementa do Recurso em Mandado (Quarta Câmara Cível). Agravo de Instrumento no
de Segurança no 23227/DF. Relator: Ministro Marco Aurélio. 70016713844 (Comarca de Porto Alegre). Relator:
Brasília, DF, 20 de abril de 1999. Diário da Justiça da União, Desembargador Wellington Pacheco Barros. Porto Alegre, 13
Brasília, DF, 18 jun. 1999, p. 31. Disponível em: <http:// de dezembro de 2006. Disponível em: <http://
www.stf.gov.br>. Acesso em: 9 mar. 2007. www.tj.rs.gov.br>. Acesso em: 9 mar. 2007.

REVISTA BONIJURIS - Ano XIX - Nº 522 - Maio/2007 57


LVIII

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