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Edição Histórica

Distribuição gratuita

nº 229 - Janeiro 2011


 A revista da Força Aérea Brasileira
www.fab.mil.br

Que venham os próximos 70 anos


Saiba quais foram os acontecimentos que marcaram as sete décadas da criação do
Ministério da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira
Aerovisão Histórica
Fotos: Arquivo

CORREIO AÉREO - 80 anos


Os primórdios da principal ferramenta
de integração nacional da aviação militar Década de 40 4
A criação do Ministério da Aeronáutica Impulsiona
brasileira 6
a aviação civil e militar no Brasil

Década de 50 10
O Brasil cria uma “fábrica” de cérebros para a
engenharia aeronáutica

Década de 60 16
Com o Brasil a bordo, Bandeirante decola para o futuro

Década de 70 22
Nascem a defesa aérea e o controle integrado de
tráfego aéreo no país

Década de 80 28
A hora e a vez da indústria aeronáutica brasileira

Década 90 32
SIVAM - Os olhos avançados do Brasil sobre a
Amazônia

Anos 2000 38
A década do futuro e da solidariedade brasileira

2
EDITORIAL

Uma ode à história

Prezados leitores,

As próximas páginas promo- O esforço obstinado desses da aviação civil e militar brasileira.
vem encontros. Do tempo com os guerreiros fez toda a diferença, como Ao longo deste ano de 2011, di-
cenários. Dos sons com as cores. Do do Marechal Eduardo Gomes ou do versos eventos vão lembrar os feitos
simbólico com o concreto. Dos senti- Marechal Casimiro Montenegro, ou e os desafios superados ao longo
mentos com as palavras. Do mérito da luta do Brigadeiro Nero Moura. dos setenta anos de história da Força
com os caminhos. Encontro certeiro O brilho de homens como eles ecoa Aérea Brasileira e dos 80 anos do
com o que há de mais profundo em pelo tempo. Se fosse um filme, seria Correio Aéreo Nacional.
cada um de nós. uma belíssima história de aventura Documentos oficiais terão um
As reportagens não entoam a e ação. E o melhor - não tem final. símbolo oficial dessa homenagem
palavra “passado” porque tudo aqui É certo, pois, que seria impossí- e as campanhas trarão a logomarca
é tijolo e cimento da construção des- vel reunir a história da Aeronáutica que está nas próximas páginas. É
sa casa forte, presente, permanente. em uma única revista ou homenage- momento de celebrar, de refletir,
Década a década, foram separadas ar todas as pessoas que ajudaram a de lembrar dos heróis e pioneiros,
alegorias e ilustrações de períodos construir a história da instituição. E de contar as histórias para que elas
marcantes. Ao encontro de pessoas, é pelo esforço compassado de tanta jamais sejam esquecidas.
homens-mitos, mais do que lendas. gente que foi assegurado o futuro Todos os nomes dos ex-ministros
As páginas tiveram o desafio de da aviação do país e o avanço da e comandantes da Aeronáutica estão
apontar o transcurso de uma ver- indústria e da pesquisa aeronáutica citados de acordo com as respectivas
dadeira epopeia de coragem, com no Brasil. Nas próximas páginas, há décadas, como forma de homena-
profissionais erguidos e no controle o encontro com momentos decisivos gem aos que sinalizaram o caminho
de seus equipamentos. e que influenciaram o presente de a ser percorrido pela instituição até
Aliás, na realidade, o que van- todos os brasileiros. os dias de hoje.
gloria esse percurso é encontrar Ao comparar o início da jornada, Somos todos “soldados” desse
esses personagens incríveis que nos anos 40, com os momentos mais país, homens e mulheres que dedi-
não edificaram apenas a história da recentes, nota-se uma característica caram vidas para que a instituição
Aeronáutica, mas que também são visionária e de comprometimento conquistasse essa credibilidade
símbolos para o nosso país. Suas com a nação dos que escreveram essa honrada a cada dia. Aerovisão presta
existências inspiram e homena- história. Os momentos aproveitados um tributo a essa história.
geiam os nossos dias. foram decisivos para a construção Boa leitura!

Marcelo Kanitz Damasceno Cel Av


Chefe Interino do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica

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Aerovisão Histórica

Que venham os
próximos 70 anos
B asta observar o passado para
perceber como nos agigantamos
no campo aeronáutico. Dos primei-
ros aviões da Escola de Aeronáutica,
no Rio de Janeiro, aos modernos
sistemas de interligação de dados
das aeronaves, de sensores e de
armamentos de hoje, houve um cres-
cimento acentuado, muitas vezes
surpreendente, na capacidade e no
potencial da Força Aérea Brasileira.
Em 70 anos, por exemplo, a Aviação
de Caça saiu dos potentes motores à
combustão para os modernos jatos
supersônicos, ao mesmo tempo em Tenente-Brigadeiro-do- Ar
que a indústria aeronáutica nacional Juniti Saito, Comandante
da Aeronáutica
ganhou um estratégico espaço no
cenário global e hoje exporta aviões
brasileiros para o mundo.
As mudanças e o próprio pre- Estas são posturas próprias humanos fazem parte dessa agenda
sente são resultados das decisões da Força Aérea Brasileira, ciente e de trabalho para garantir defesa,
acertadas e das experiências de zelosa no cumprimento de sua des- para promover segurança, para dis-
todos os homens e mulheres que tinação constitucional, em atuação suadir pela percepção de fortaleza e
participaram dessa caminhada, respaldada na Estratégia Nacional alcance que reveste as nossas asas.
sobretudo daqueles que ajudaram de Defesa para paginar o seu futuro Acrescentam-se a isso as ações
a sinalizar o caminho. Agradeço a de grandeza e de efetividade. fomentadas para a necessária mo-
todos pela herança deixada porque, É nesse intento que o Comando bilidade, a fim de apoiar eficiente-
hoje, podemos começar de um ponto da Aeronáutica formulou o seu Pla- mente as unidades aéreas, quando
mais elevado os próximos capítulos. no Estratégico Militar, que aglutina desdobradas em locais desprovidos
Deixo à Aerovisão a missão de retra- metas estruturantes, agrega valor de infraestrutura básica. A suporta-
tar o passado, enquanto olho para as combatente e difunde poder e ca- bilidade logística, em seus variados
próximas décadas. pacidade de fazer a uma conjuntura aspectos, é característica essencial
A capacidade de antever o futu- projetada para 2031, perpassando em uma Força Aérea moderna.
ro é atributo fortemente requerido um período de vinte anos de afirma- A concebida ativação de novas
por toda instituição que semeia ção e de exercício de vontade. bases aéreas na Amazônia Ociden-
para o porvir. Vislumbrar o cenário O desenho de futuro que traça- tal tem suporte nas diretrizes da
desejado, alocar metas convergentes, mos guarda identidade com a cele- Estratégia Nacional de Defesa, que
modelar atitudes de perseverança e ridade de nossa própria evolução. prevê, primordialmente, o aumento
de disciplinamento intelectual são Novos helicópteros de ataque, da presença e do poder dissuasório
requisitos que levam à obtenção de aviões de transporte, de caça, de naquela região.
resultados consistentes, que per- patrulha, de reconhecimento, além Esta ação relaciona-se dire-
mitem dotar de realidade o futuro de armamento inteligente e de inves- tamente com a criação de novos
concebido. timentos na qualificação de recursos Pelotões de Fronteira do Exército

2
Brasileiro, na medida em que caberá
à Força Aérea Brasileira um maior
esforço no imprescindível apoio
aéreo na parte médico-hospitalar,
de transporte de alimentos e logís-
ticos a esses Destacamentos, bem
como provimento das necessidades
de projeção de poder e de pronta
resposta aos ilícitos ocorridos nos
pontos mais remotos da Amazônia.
No que tange à Amazônia Azul,
a recente descoberta de petróleo
na camada pré-sal e a importância
da preservação de nossas riquezas
robusteceram a necessidade de
uma ampla parceria com a Marinha
do Brasil, convergindo esforços de
vigilância na repressão a ilícitos ma-
O Plano Estratégico
rítimos e na segurança da navegação. Militar da Aeronáutica
Contemplamos, também, o (PEMAER) ajudará
aperfeiçoamento do Sistema de a construir a Força
Aérea de 2031
Controle do Espaço Aéreo Brasileiro
(SISCEAB), recobrindo todo o país
com radares e com malha de comuni-
cações, integrando o seleto grupo de
nações que discute hoje o controle de
aeronaves no amanhã, feito a partir cumprimento das missões atribu- e consolidada na geração de futuro.
de satélites. ídas à Aeronáutica, como àquelas Evidencia-se, portanto, a fun-
No campo espacial, o projeto de afetas ao apoio ao homem, nas suas damental importância do Plano
veículos lançadores de satélites conta condicionantes de saúde, moradia Estratégico Militar da Aeronáutica,
com um centro de lançamento cada e disponibilidade para o trabalho. em consonância com a Estratégia
vez mais modernizado, fundamental Qualificar adequadamente os Nacional de Defesa, para o apare-
para alavancar o Brasil em seu pro- nossos recursos humanos é de im- lhamento da Aeronáutica, para o
cesso de independência tecnológica, portância basilar, pelo quanto induz desenvolvimento da indústria na-
científica e econômica. Conhecimen- desempenhos à altura de nossas cional de defesa e para a consecução
to é a moeda do futuro, e a ciência, expectativas para o atendimento a dos objetivos maiores do nosso país.
tecnologia e inovação praticadas no demandas cada vez mais diversifi- O Brasil caminha para consolidar
Comando da Aeronáutica geram, cadas. uma posição de destaque no cenário
continuamente, fatos portadores de Mesmo com uma história de internacional, e a Aeronáutica está
futuro. sucesso, novos desafios e ameaças pronta a defrontar o porvir.
O acervo crescente de equipa- surgirão no futuro da Aeronáutica, Não obstante, com o tanto que
mentos no período compreendido assim como novas oportunidades já aprendemos, temos muito ainda
entre 2010 e 2031, aliado às novas para o engrandecimento do papel a realizar.
características tecnológicas das aero- da Instituição como um dos per- Que venham as próximas dé-
naves que comporão a frota da FAB, sonagens da sociedade brasileira. cadas!
projeta a necessidade de aumento do Responder aos desafios, suplantar
efetivo, não só em relação ao número as ameaças e aproveitar as opor-
de tripulantes e mantenedores, como tunidades conformam o caminho
também no que tange às inúmeras que garantirá ao Comando da Ae- Tenente-Brigadeiro-do-Ar JUNITI SAITO
atividades complementares para o ronáutica uma atuação duradoura Comandante da Aeronáutica

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Década de 40 Aerovisão Histórica

Criação do Ministério da Aeronáutica


impulsiona a aviação civil e militar no Brasil
Novo órgão centralizou os esforços do país para o crescimento da aviação civil e
militar; A Segunda Guerra acelerou os investimentos e formação de mão-de-obra

Por Tenente-Jornalista Alessandro Silva

F altavam pilotos, aeronaves, pis-


tas, equipamentos, mão-de-obra
especializada, normas de segurança,
indústrias para o setor e pesados

Fotos: MUSAL
investimentos, dentre outros proble-
mas, no momento em que o Minis-
tério da Aeronáutica foi criado, em
20 de janeiro de 1941.
Pelo mundo, a aviação avançava
como promissor e revolucionário
meio de transporte, além de estra-
tégica ferramenta para a defesa das
nações. No Brasil, as áreas correlatas
ao setor estavam distribuídas ou
sequer existiam ainda. Era preciso
recomeçar e repensar o modelo que
levaria o país ao seu futuro. O primeiro Ministro da Aeronáutica, Joaquim Pedro Salgado Filho (ao centro)
Nas palavras do primeiro Minis-
tro da Aeronáutica, Joaquim Pedro acidentes aviatórios, a maior parte das importações. Além disso, o nú-
Salgado Filho, os desafios eram mui- causada pela imprudência dos pilo- mero de aviões era insuficiente, fal-
tos. “A aviação civil, na época, era tos. Reverter esse quadro seria um tavam mecânicos e especialistas para
mais voltada para a área esportiva desafio difícil de ser vencido e de- a frota. Na aviação militar, Exército e
em incipientes aeroclubes. Os pilotos penderia de uma grande campanha Marinha tinham suas próprias esco-
comerciais recebiam treinamento de divulgação das vantagens desse las de pilotos, oriundas de diferentes
dentro das próprias companhias que meio de transporte e do progresso linhas de instrução – uma francesa e
os empregavam. Era imprescindível que a aviação representava”, disse. outra alemã e inglesa.
despertar o interesse da juventude Naquele momento, a fabricação A ideia de um ministério es-
para a carreira de aviador. Havia um de aviões de treinamento era inci- pecífico para o setor não era uma
medo generalizado por essa ativida- piente. As empresas existentes não novidade. As discussões no Brasil
de, devido ao número assustador de produziam motores e dependiam começaram no final dos anos 20 e
ganharam força na década seguinte
Galeria de Ministros (1935), com o lançamento de uma
campanha para a criação do Minis-
Doutor Tenente-Brigadeiro tério do Ar, sob a influência de países
De Jan. 1941 a Out. 1945

De Out. 1945 a Jan. 1951

JOAQUIM ARMANDO como a França. Por aqui, persistiam


PEDRO FIGUEIRA as discussões a respeito de qual ins-
SALGADO TROMPOWSKY tituição lideraria o processo. As ati-
FILHO DE ALMEIDA vidades correlatas à aviação estavam
distribuídas - o Ministério da Viação
e Obras Públicas, por exemplo,

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incluía o Departamento de Aviação
Civil (DAC), criado em 1931.
Naquele momento, com a cria-
ção do novo órgão, Salgado Filho
assumiu o Ministério da Aeronáutica
brasileira – a aviação civil, a infraes-
trutura, a indústria nacional do setor
e as escolas de formação de mão-
de-obra – e do seu braço-armado, a
Força Aérea Brasileira (FAB), criada
a partir das aviações da Marinha e do
Exército que já existiam. A ele, coube
a difícil tarefa de edificar o alicerce
do poder aéreo brasileiro.
Nesse contexto, a Segunda Guer-
ra trouxe ao país um grande incen-
tivo para organizar a sua aviação,
sobretudo depois de iniciada a
batalha do Atlântico Sul. Com o
afundamento de navios brasileiros,
a aviação militar teve de assumir
o patrulhamento do litoral e, mais
tarde, acabou enviada à Itália, para
combater com os aliados.
Expansão – Em 1941, a Aero-
náutica criou a Diretoria de Rotas Campo dos Afonsos,
Rio de Janeiro
com a missão de promover o desen-
volvimento da infraestrutura e da
segurança da navegação aérea. “É preciso que se compreenda civis. O Brasil firmou acordos in-
De 1942 a 1943, mais de cem que cada avião de treinamento bá- ternacionais sobre transporte aéreo
aviões Fairchild PT-19, um biplace sico adquirido e doado a aeroclubes com diversos países, como França,
monoplano de asa baixa, foram tra- significa, no mínimo, a formação Estados Unidos, Suécia, Dinamarca,
zidos em voo dos Estados Unidos de três pilotos para a nossa reserva Noruega, Países Baixos, Portugal,
para a instrução primária de pilotos da Aeronáutica. O curso de piloto Suíça e Grã-Bretanha.
brasileiros. Até 1947, 220 foram civil feito nos aeroclubes pode ser O Correio Aéreo Militar, antes
produzidos na Fábrica do Galeão, considerado o jardim de infância realizado pelo Exército (no interior)
dentro do esforço de guerra e pelo da ciência aviatória. Incentivar a e pela Marinha (no litoral), é trans-
crescimento da aviação no país. Na formação de pilotos civis em nosso formado no Correio Aéreo Nacional.
mesma década, a fábrica de aviões de país significa garantir a formação De 1942 a 1949, a Companhia de
Lagoa Santa (MG) entrou em funcio- de pilotos militares da reserva da Aeronáutica Paulista produziu 777
namento e produziu aeronaves T-6. Aeronáutica. Necessitamos, deses- aviões “Paulistinhas”, um monopla-
A Campanha Nacional de Avia- peradamente, nesse momento, de no de asa alta, que serviu à formação
ção, liderada pelo Ministério da pelo menos dois mil pilotos para inicial de pilotagem em aeroclubes
Aeronáutica, reunia empresários, se estruturar a defesa do Brasil”, ao longo da Segunda Guerra. Alguns
aeroclubes e o próprio governo para afirmou o ministro. desses “Paulistinhas” chegaram a ser
a expansão do setor no país. Por trás O Ministério da Aeronáutica exportados. Logo nos dois primeiros
das ações, estava o esforço de guerra refundou as escolas de formação, anos de existência, o Ministério da
- ocorreram campanhas de arreca- de pilotos e de especialistas, criou Aeronáutica adquiriu 500 aviões de
dação em todo o país, de dinheiro, normas para evitar a competição treinamento e os distribuiu para 400
de alumínio para a construção de predatória entre as empresas aéreas, cidades em todo país.
aviões, de doações de aeronaves. inaugurou novas fábricas e escolas Diversas concessões foram for-

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Aerovisão Histórica

necidas para a exploração do trans- primeira unidade de caça. Depois de tência aérea independente”, chegou
porte aéreo no país. No decorrer de receberem treinamento nos Estados a afirmar o ministro.
1942, as linhas aéreas ultrapassaram Unidos e no Panamá, os militares Com mais investimentos, aero-
as fronteiras do país, chegando aos brasileiros foram enviados à Itália. naves e pilotos, as horas de voo na
países vizinhos, aos Estados Unidos Quando o ministro Salgado Fi- Escola de Aeronáutica dos Afonsos,
(1943) e à Europa (1946). lho deixou a pasta, no final de 1945, no Rio de Janeiro, saltaram de 3,6 mil
Ao longo de 1943, a Força Aérea existiam 580 aeroportos funcionando em 1940 para 25,9 mil em 1943. “Dei-
recebeu aeronaves para preparação no país, a maioria com pistas asfalta- xei uma frota de cerca 1.500 aviões
de seus pilotos, particularmente para das (70%). A Escola de Aeronáutica militares em condições de uso, cerca
o patrulhamento da costa e treina- dos Afonsos havia quadruplicado a de 3.000 pilotos treinados e 15 bases
mento de aviadores. O litoral era vi- capacidade de formação de pilotos, aéreas instaladas”, disse o ministro.
giado por dirigíveis, ou Blimps, que chegando a 200 alunos. A Escola Na década de 40, o Ministério
utilizavam radares para a localização Técnica de Aviação de São Paulo, aprovou regulamento para o Serviço
de submarinos e que ajudavam em importada dos Estados Unidos, che- de Investigação de Acidentes Aero-
operações de salvamento de náufra- gou a formar 3.500 especialistas. “O náuticos, uma atividade voltada para
gos, vítimas dos ataques inimigos. Brasil está empenhado em grandes a prevenção de acidentes. Foi nesse
No mesmo ano, a FAB criou sua preparativos para tornar-se uma po- período que a Aeronáutica deu os

Ministério da Aeronáutica unificou o Correio Aéreo


A primeira viagem do Serviço onde não existia nem telégrafo, nem
Postal Aéreo ocorreu em 12 de junho estradas de ferro, nem telefonia.
de 1931, quando os tenentes Casi- No Correio Aéreo Militar estava o
miro Montenegro e Nelson Freire celeiro dos melhores pilotos que o
Lavenère Wanderley decolaram Brasil conheceu”, afirmou o então
do Rio de Janeiro para São Paulo ministro da Aeronáutica, Joaquim
a bordo de uma aeronave Curtiss Pedro Salgado Filho.
Fledgling. Consigo, os militares Em 1932, as linhas do Correio
levavam correspondências. Aéreo Militar tinham 3.630 km de
A viagem durou cinco horas e extensão e transportaram 17 pas-
vinte minutos. Os pilotos chegaram sageiros. Em 1946, o Correio Aéreo
a São Paulo ao anoitecer e tiveram Nacional já totalizava 49,4 mil km de
dificuldade para encontrar o Cam- extensão – mais do que uma volta
po de Marte. Pousaram na Mooca ao mundo pela linha do Equador
e pegaram um táxi para entregar as (maior diâmetro possível da terra) e
correspondências. 14,1 mil pessoas transportadas.
Com o Ministério da Aeronáu- A partir da década de 60, o
tica, e a fusão dos Correios Aéreos CAN iniciou uma nova era com a
da Marinha e do Exército, o serviço chegada de aeronaves de transporte
passou a servir à integração nacio- de grande porte. Passados quase 80
nal, denominado Correio Aéreo anos, o CAN leva cidadania. Profis-
Nacional (CAN). “Inexistiam outros sionais militares de saúde percorrem
meios de comunicação. Foi sem comunidades isoladas, levando
dúvida, a escola prática de todos atendimento médico, odontológico,
os pilotos militares brasileiros, do salvam vidas e realizam partos. Em
verdadeiro civismo. Graças a este 2006, ao completar dois anos de sua
serviço era possível manter contato reativação, o CAN acumulava 50 mil
com regiões isoladas e distantes, atendimentos de saúde.

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primeiros passos para a criação de
um núcleo de referência em ensino,
pesquisa e formação de mão-de-obra O Brasil vai à guerra e
reforça a Força Aérea
qualificada para a aviação, o atual
Departamento de Ciência e Tecnolo-
gia Aeroespacial (DCTA) e o Institu-
to Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

Fontes consultadas
- Efemérides Aeronáuticas Brasi-
leiras, Centro de Relações Públicas do
Ministério da Aeronáutica
- Salgado Filho, Primeiro Ministro
da Aeronáutica do Brasil, Editora Adler.
Maiza Salgado e Edison Corrêa
- Instituto Histórico-Cultural da
Aeronáutica: www.incaer.aer.mil.br
Arquivo

A participação da Força Aérea


Brasileira na Segunda Guerra
pode ser dividida em dois importan-
dicionária Brasileira (FEB) na luta
contra o nazismo. São histórias de
heróis anônimos, treinados em meio
tes capítulos: a batalha do Atlântico ao combate, que voaram com o que
Sul, na costa brasileira (foto acima, tinham à mão no início e viram nas-
aeronaves Catalinas), e a campanha cer o poder aéreo brasileiro depois
Fotos: MUSAL

na Itália (foto abaixo, aviões P-47), da aquisição do que havia de melhor


apoiando os aliados e a Força Expe- para a defesa do país.

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Aerovisão Histórica

Capítulo 1 – Caçada aos submarinos inimigos no Atlântico Sul


A Segunda Guerra chegou às
portas do Brasil em 1942. Ao longo
de três anos, 71 embarcações foram
atacadas em águas brasileiras por
submarinos inimigos. No total, o país
perdeu mais de 30 navios ao redor do
mundo na batalha do Atlântico Sul, a
maior parte deles no próprio litoral, a
um custo de quase 1.500 vidas.
Com apenas um ano de criação,
e em fase de reestruturação, a Força
Aérea Brasileira (FAB) foi convocada
para patrulhar o litoral brasileiro. “A
guerra submarina, perversa e impla-
cável, prossegue num crescente ver-
tiginoso”, afirmou Ivo Gastaldoni,
piloto de patrulha da Força Aérea e
veterano da Segunda Guerra.
Em apenas três dias do mês de
agosto de 1942, o U-507 alemão afun-
dou seis navios e matou 627 pessoas.
A sequência de ataques foi decisiva
para que o Brasil declarasse guerra Com a batalha do Atlântico, a Segunda Guerra bateu às portas do Brasil
aos países do Eixo, em 22 de agosto.
O Brasil tinha como vizinhos trabalhos com as tripulações. descendo para sul do país. Agora,
as Guianas Francesa e Holandesa, Uma nova unidade criada em aeronaves Catalina ajudavam nos
ambas sob o controle nazista e que Recife assumiu os bombardeiros combates. Unidades americanas,
serviam como posto de abasteci- B-25 em uma verdadeira corrida espalhadas de norte a sul, apoiavam
mento de submarinos inimigos. Os contra o relógio. A instrução em voo a campanha. Depois de julho de
navios cargueiros com destino aos era feita sobre o mar para que as tri- 1943, os submarinos praticamente
Estados Unidos, e de lá para o Brasil, pulações já pudessem vigiar as águas sumiram das águas brasileiras.
precisavam de escolta aérea e naval. brasileiras, com artilheiros com o Na guerra contra os submarinos,
No esforço de guerra, o Brasil dedo no gatilho, prontos para atirar. os pilotos brasileiros realizaram
criou novas bases aéreas, recebeu Em menos de quatro meses, cerca de 15 mil patrulhas. Onze sub-
equipamentos e treinamento por começou o revide. Escoltas e patru- marinos (veja arte) foram afundados,
meio de convênio firmado com os lhas marítimas vigiavam as águas mas um número maior de ataques
Estados Unidos. Unidades aéreas brasileiras, dia e noite, e buscavam ocorreu, não tendo sido possível a
americanas foram enviadas ao país. proteger as embarcações. O submari- confirmação de avarias. Dos cerca de
Nascia a aviação de patrulha. no italiano Barbarigo foi avistado na 3.000 navios mercantes afundados
“As dificuldades eram de toda superfície e atacado pela tripulação na Segunda Guerra, mais de 50%
ordem: de língua, de auxílios para de um B-25 perto da Ilha de Fernan- foram vítimas de submarinos.
instrução, além das ordens técnicas do de Noronha. As bombas lançadas
Fontes consultadas
e manuais de operação em inglês, caíram bem próximas do alvo, que
- Memórias de um Piloto de Patru-
ininteligíveis para 90% do pessoal. revidou com tiros de canhão.
lha, Ivo Gastaldoni
Some-se a isso a heterogeneidade Na medida em que a recém-
- Os Cardeais – 1º Grupo de Avia-
de pilotos e mecânicos e pode-se ter criada aviação de patrulha da FAB
ção Embarcada, 4º/7º Grupo de Aviação,
uma visão do quadro caótico”, escre- aumentava sua eficiência no Nor-
Mauro Lins de Barros.
veu Gastaldoni, ao falar do início dos deste, os submarinos inimigos iam

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Capítulo 2 – “Senta a Púa! Brasil”, a campanha na Itália
Isolados do mundo, os pilotos combates para os brasileiros, veio a mais de 400 missões, perderam nove
esperavam. Na angústia dos minu- primeira baixa. O Segundo-Tenente- pilotos desde o início da jornada no
tos que não passavam, permaneciam Aviador John Richardson Cordeiro e Panamá. Cinco outros pilotos acaba-
incomunicáveis em uma unidade Silva acabou abatido pela artilharia ram presos em hospitais e campos de
americana, depois de meses exaus- antiaérea perto de Bolonha. Voava concentração. “A guerra é uma das
tivos de treinamentos. Não poderia como ala na 21ª missão do Grupo coisas mais reais e bárbaras que exis-
ser diferente, pois entre eles e a de Caça, a primeira que realizava tem”, disse o Major-Brigadeiro Rui.
Europa, onde iriam para a guerra, na guerra. “O inimigo nos tirou um Pelo valor em combate, depois
existia o imenso Atlântico e a ameaça dos pilotos mais queridos. Pagaria da guerra, o Grupo de Caça tornou-
dos submarinos inimigos. caro por isso. E pagou. Mantivemos a se uma das três únicas unidades
O clima de expectativa ainda promessa até o fim da guerra”, escre- estrangeiras a receber a Presidential
está na memória do Major-Brigadei- veu o Major-Brigadeiro-do-Ar Rui Unit Citation, criada pelo governo
ro-do-Ar José Rabelo Meira Vascon- Moreira Lima, veterano da unidade americano em reconhecimento ao
celos, veterano do Primeiro Grupo e que realizou 94 missões. heroísmo em combate.
de Aviação de Caça (1º GAVCA), a A segunda baixa veio logo no dia “Como o número de pilotos cada
primeira unidade de caça do país seguinte. O Primeiro-Tenente Olde- vez diminuía mais, cada um deles
e que lutou na Itália na Segunda gerd Olsen Sapucaia, em missão de teve de voar mais de uma missão
Guerra. “Ninguém sabia para onde treinamento, teve problemas com os diária, expondo-se com maior fre-
ia. Era um segredo total”, afirmou. comandos de seu P-47 em um mer- quência. Em muitas ocasiões, como
Em setembro de 1944, os mili- gulho. Mais dois pilotos morreram comandante do 350th Fighter Group,
tares da Força Aérea partiram sob o nove dias depois. eu fui obrigado a mantê-los no chão
comando do então Tenente-Coronel- A virada - O 1º GAVCA realizou quando insistiam em continuar vo-
Aviador Nero Moura. “Só o nosso a primeira missão como unidade ando, porque eu acreditava que eles
navio tinha 5 mil homens. Eram independente no dia 11 de no- já haviam ultrapassado os limites da
trinta e poucos navios juntos”, disse vembro de 1944. Nas asas dos P-47 resistência física”, escreveu o Coro-
Meira. Foram 17 dias de viagem até Thunderbolt, os pilotos brasileiros nel Ariel Nielsen, na recomendação
o desembarque no Porto de Livorno, escreveram, com sangue e suor, um da unidade para a comenda. “No
na Itália, em 6 de outubro. dos mais heróicos capítulos do Brasil período de 6 a 29 de abril de 1945,
Sete dias depois do início dos na Segunda Guerra. Participaram de o Primeiro Grupo de Aviação de
Caça voou 5% das surtidas [...] e, no
entanto, dos resultados obtidos por
MUSAL

este Comando foram oficialmente


atribuídas aos brasileiros 15% dos
veículos destruídos, 28% das pontes
destruídas, 36% dos depósitos de
combustíveis e 85% dos depósitos
de munição danificados”, escreveu.
Em apoio à Força Expedicioná-
ria Brasileira (FEB), a FAB enviou à
Itália uma Esquadrilha de Ligação e
Observação (1a ELO ).

Fontes consultadas
- Senta a Pua!, Major-Brigadeiro
Rui Moreira Lima
- Entrevistas do Projeto Memória
do Instituto Histórico-Cultural da Ae-
ronáutica (www.incaer.mil.br)
Aeronaves P-47 do Primeiro Grupo de Aviação da Caça na Itália
- Site www.sentandoapua.com.br

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Década de 50 Aerovisão Histórica

O Brasil cria uma “fábrica” de cérebros


para a engenharia aeronáutica
Fotos: ITA

O então Coronel-Aviador Casimiro Montenegro, ao centro, nos primórdios do ITA e do CTA

Há 60 anos, a Aeronáutica iniciou a preparação da primeira turma de engenheiros


aeronáuticos; em avaliação nacional (2008), o Instituto Tecnológico de Aeronáu-
tica foi apontado como a melhor instituição de ensino público superior do país

Por Tenente-Jornalista Marcia Silva

N o Brasil, os chamados “Anos


Dourados” marcaram a chega-
da da televisão ao país, a efervescên-
desenvolvimento nacional.
A transformação da cidade de
30 mil habitantes começou com a
Com uma industria mínima,
incapaz de fabricar até bicicletas, o
Brasil iniciava nos anos 50 buscando
cia cultural, a criação da Bossa Nova, construção do Centro Técnico de a formação de engenheiros aeronáu-
a eleição do presidente Juscelino Ku- Aeronáutica, idealizado pelo então ticos altamente qualificados, segui-
bistheck e os primeiros passos rumo Coronel-Aviador Casimiro Monte- dos por novas especializações em
à industrialização, com a população negro Filho. O CTA foi erguido para eletrônica, mecânica, infraestrutura e
migrando do campo para as cidades. abrigar dois institutos científicos – computação, com visão de que esses
Foi no início dessa década que São um para o ensino superior, o Institu- primeiros passos seriam decisivos
José dos Campos, no Vale do Para- to Tecnológico de Aeronáutica (ITA) para o futuro do país
íba (SP), deixa de ser apenas uma e outro para pesquisa e desenvolvi- Ao longo de 61 anos, o ITA
estância climática para tratamento mento nas áreas de aviação militar formou mais de 5.000 engenheiros,
de pobres com tuberculose no Esta- e comercial (Instituto de Pesquisas além de 2.500 mestres e doutores.
do para seguir a vocação de pólo de e Desenvolvimento - IPD). As contribuições das pesquisas

10
A educação venceu o
medo de arriscar
Considerado o pai da informá-
tica no Brasil, o Major-Brigadeiro-
Engenheiro Tércio Pacitti, de 82
anos, é da turma de 1952 do Insituto
Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Doutor em ciência da computa-
ção pela Universidade da Califórnia,
em Berkely, ele é autor de livros
clássicos na computação brasileira:
o “best seller” Fortran Monitor, por
Primeiros alunos do ITA em viagem para São José dos Campos (SP) exemplo, vendeu mais de um milhão
estão nas mais diversas áreas: tele- americano Richard Herbert Smith, de exemplares entre 67 e 87.
comunicações, informática, infraes- do MIT, para estruturar um plano de Professor, pesquisador e reitor,
trutura aeroportuária, automação criação de um instituto e um centro Pacitti liderou a introdução da in-
bancária, transporte aéreo e indús- de tecnologia aeronáutica. O CTA formática no ITA e foi responsável
tria automobilística. A solução para seria o braço científico e técnico do pela criação do curso de Engenharia
os motores a álcool, por exemplo, Ministério da Aeronáutica. da Computação. Em 61, trouxe o
surgiu no CTA, na década de 70. O anteprojeto de construção da primeiro computador para o país.
Em 2011, o ITA dará mais um unidade em São José dos Campos le- “Era um IBM 1620 com uma CPU
passo importante: os primeiros en- vou a assinatura de Oscar Niemeyer. que ocupava a sala inteira e uma
genheiros aeroespaciais concluirão As obras foram iniciadas em 47 e o impressora”, descreve.
o curso, prontos para as demandas primeiro instituto do CTA, o ITA, foi A máquina instalada num dos
do Programa Nacional de Ativida- concluído em 1950. primeiros laboratórios de processa-
des Espaciais. “Saí de lá convicto de Em 1953, saiu do papel o pri- mento de dados usados no ensino
que José da Silva não é pior do que meiro órgão nacional voltado para superior brasileiro seria usada ao
John Smith”, afirma o ex-ministro e a pesquisa e o desenvolvimento de longo de 10 anos. Do laboratório
um dos fundadores da EMBRAER, tecnologia aeronáutica: o Instituto comandado pelo Brigadeiro, saiu
Ozires Silva, ex-aluno do ITA. de Pesquisas e Desenvolvimento. a grande maioria dos técnicos e
“Plano Smith” - A concepção do Mais tarde, o Departamento de Ae- engenheiros que atuam no sistema
CTA surgiu em meados da década de ronaves desse instituto deu origem de informações da Aeronáutica.
40 por meio do Coronel-Aviador Ca- à EMBRAER, criada em 1969. Quando alguém o questiona se há
simiro Montenegro. A ideia era criar Ao longo dos primeiros 10 anos, uma receita para formar profissionais
uma escola de engenharia aeronáu- o ITA firmou-se como uma escola de qualificados, Pacitti responde de bate
tica nos modelos do Massachussets engenharia diferenciada. Adotava a pronto: “seriedade” e complementa:
Institute of Technology (MIT) e o estruturação acadêmica por depar- “O ITA é a vitória da educação”.
Wright Field, nos Estados Unidos. tamentos. Professores e alunos mo-
À frente do seu tempo, o Co- ravam no campus, o que facilitava Fontes consultadas
ronel Casimiro Montenegro lutou o regime de dedicação exclusiva e a - 60 anos -Instituto Tecnológico de
para que o país alcançasse, além interação inédita entre mestres e es- Aeronáutica, publicado pelo ITA
do avanço tecnológico, desenvolvi- tudantes. A concessão de bolsas aos - Sites: www.ita.br ; www.cta.br
mento educacional e científico.“O alunos foi outro ponto importante e
professor repetia sempre que se o inovador. Diferentemente da maioria
Brasil quisesse fabricar aviões de- das escolas de engenharia do país, o posição do novo currículo do curso
veria, antes, fabricar engenheiros ITA tinha um currículo dinâmico que de engenharia aprovado em 1976. A
e técnicos”, lembra o ex-aluno de se renovava anualmente. pós-graduação do ITA, estruturado
Casimiro, Ozires Silva. O sucesso do modelo influen- no modelo americano, também foi
O Ministério da Aeronáutica ciou a orientação do ensino superior pioneiro no país e influenciou a pós-
contratou, em 1945, o professor no país. Teve reflexos ainda na com- graduação brasileira.

11
Aerovisão Histórica

Brasil está entre os 5 países

GEEV
com escola de ensaio em voo
O brasileiro Alberto Santos Du-
mont realizou o primeiro ensaio em
voo quando pendurou seu “14-Bis”
a um balão. Tentava confirmar, na
prática, o que a teoria indicava. “O
voo de ensaio é o componente mais
romântico, charmoso e desafiador
da arte de voar, mas também é dali
que saem os conhecimentos para
tornar as aeronaves mais seguras, Projeto do helicóptero “Beija-Flor”, a primeira experiência de ensaio em voo no Brasil
valentes e eficazes”, define o Major-
Brigadeiro-Ar R1 Hugo de Oliveira equipamentos, limites de segurança, de uma aeronave no Brasil ocorreu
Piva, ex-diretor do CTA e membro normas de operação e níveis de con- em 1958. Aplicada potência máxima,
honorário da Society of Experimen- fiabilidade. A origem da atividade no o então Major-Aviador Aldo Weber
tal Test Pilots de Los Angeles. Brasil está ligada à criação do Centro Vieira da Rosa voou com o protótipo
É no ensaio que se exploram Técnico Aeroespacial (CTA). do helicóptero Beija-Flor. “A aerona-
as características de aeronaves, de O primeiro voo oficial de ensaio ve percorreu alguns poucos metros

COMARA - A maior construtora de aeródromos da


Criada em 1956, a Comissão de afirmou o Presidente da Comissão
Aeroportos da Região Amazônica de Aeroportos da Região Amazô-
(COMARA) teve origem na Superin- nica, Major-Brigadeiro-do-Ar Odil
tendência do Plano de Valorização Martuchelli Ferreira.
da Amazônia (SPVEA), fundada em Inicialmente, a missão da CO-
1953, que mais tarde foi transforma- MARA era construir, ampliar e
da em Superintendência de Desen- pavimentar 56 pistas nas principais
COMARA

volvimento da Amazônia (SUDAM). cidades da região, suficiente para a


“A atuação da COMARA repre- segurança da aviação. A partir de 80,
senta mais do que uma extensão de as pistas foram ampliadas, reforça-
um comando ou organização militar, das e dimensionadas de acordo com
ela é o próprio Estado brasileiro em padrões internacionais. Em 54 anos,
ação, marcando presença, dando a comissão realizou 203 obras, que
apoio e proteção a brasileiros das incluem pavimentação em aeródro-
mais diversas origens e etnias”, mos de mais de 150 municípios. Pista de pouso construída pela COMARA

Galeria de Ministros
Brigadeiro Brigadeiro Tenente-Brigadeiro
De Ago. 1954 a Nov. 1955
De Ago. 1954 a Ago. 1954
De Jan. 1951 a Ago. 1954

NERO MOURA EPAMINONDAS EDUARDO


GOMES DOS GOMES
SANTOS

12
e pairou a uma altura de 60 cm do
solo”, registrou o piloto. Gloster Meteor
A partir daquela primeira de-
colagem, a atividade de ensaios em
voo tomou impulso no país. Pilotos,
O jato que mudou a história
engenheiros e técnicos do CTA foram
enviados para cursos na França, In-
da aviação de caça brasileira
glaterra e Estados Unidos.
Em 1986, o Brasil criou o primei-
ro curso de ensaios em voo. O uso do trocadilho é inevitável:
a apresentação do primeiro
avião a jato do Brasil foi, para usar
ves. Quinze mil toneladas foram
enviadas à Inglaterra em troca de 70
aviões – 60 aparelhos F-8, monoposto
Realizada hoje pelo Grupo Es-
pecial de Ensaios em Voo (GEEV), a uma palavra da época, “tronitruan- de caça e 10 TF-7, biposto. “Com isso,
formação de profissionais especia- te”, adjetivo que quer dizer ruidoso a Inglaterra penetrava no mercado
lizados na área é a única do gênero como um trovão. Não era para brasileiro de aviões que era, até
no hemisfério sul. Além do Brasil, menos, o voo do Gloster Meteor em então, essencialmente suprido pelos
outros quatro países no mundo tem 1953 mudou a história da aviação Estados Unidos”, explica o historia-
escolas reconhecidas pela Society of militar brasileira. A Força Aérea se dor aeronáutico, Coronel-Aviador
Experimental Test Pilots. despedia das hélices para ingressar R/1 Aparecido Camazano Alamino,
na “Era das Turbinas”. Começava a autor do livro “Gloster Meteor – O
Fontes consultadas troca dos antigos caças P-47 Thun- Primeiro Jato do Brasil”.
- Folder comemorativo dos 50 Anos de derbolt e Curtiss P-40 pelo jato de As aeronaves vieram para o Bra-
Ensaio em Voo na Força Aérea Brasileira combate bimotor britânico. Até en- sil desmontadas e transportadas em
tão, nenhum avião a jato havia sido navio. Foram montados na fábrica de
região Amazônica operado no país.
O algodão nacional foi a moeda
aviões do Galeão, no Rio de Janeiro.
O primeiro voo em território nacio-
usada para a compra das aerona- nal foi realizado em maio de 1953
Arquivo

Major-Brigadeiro Brigadeiro Major-Brigadeiro


De Mar. 1956 a Jul. 1957

De Jul. 1957 a Jan. 1961


De Nov. 1955 a Mar. 1956

VASCO ALVES HENRIQUE FRANCISCO


SECCO FLEIUSS DE ASSIS CORRÊA
DE MELLO

13
Aerovisão Histórica

pelo piloto de provas da Gloster.


A novidade estampou as man-
chetes da imprensa brasileira. O Cru-
zeiro, a principal revista da época,

Reprodução
colocou a bordo de um dos Glosters
um de seus repórteres fotográficos
do país para registrar o voo do novo
jato. “Não dispondo de nenhuma
adaptação para a câmera no inte-
rior do TF-7, o fotógrafo Indalécio

Reprodução Revista Cruzeiro


Wanderley foi obrigado a reagir fisi-
camente contra as tremendas forças
de gravidade que sobre ele atuavam
no decorrer das manobras, perdendo
os sentidos por alguns segundos di-
versas vezes”, descreveu o repórter.
As imagens dos jatos em for- Ensaio fotográfico produzido pela Revista Cruzeiro quando da chegada da aeronave
mação no céu da zona sul carioca
ilustraram a reportagem que ganhou foi um orgulho ser pioneiro do avião Aérea. Assim, os caças foram em-
o título “Esquadrão Relâmpago”. a jato”, lembra o Tenente-Brigadeiro pregados em missões de ataque ao
“O avião a jacto que o Ministro Nero João Nunes, de 85 anos. solo. O último voo do Gloster Meteor
Moura lançou nos céus do Brasil, Por ser o principal avião de caça ocorreu em 1971.
trará para o mundo consequências da FAB até 1970, o Gloster se trans- A aquisição não revolucionou
ainda imprevisíveis. Transformou a formou em sinônimo de aeronave apenas a aviação militar. As compa-
face do planeta e tornou vizinhos an- de ataque. O emprego como caça nhias aéreas também tomaram gran-
típodas”, afirmou a revista. A aquisi- de interceptação era mínimo por de impulso a partir da experiência
ção dos Gloster Meteor restabeleceu causa da falta de uma rede de alerta da Força Aérea. Para operar jatos, a
o equilíbrio regional na América do antecipado. “Os radares de controle FAB teve de montar uma logística de
Sul, alterado pela compra de novos e alarme eram antigos e sujeitos a combustíveis e lubrificantes, porque
caças por países vizinhos. falhas” aponta o historiador Rudnei os motores eram movidos a querose-
“Sonho de todo piloto na época, Cunha, no site História da Força ne de aviação, inexistente no país à
época. Importado, o combustível era
mais seguro, mas requeria cuidados
Reprodução

no armazenamento e manuseio.
No início, só as Bases Aéreas do
Galeão e de Santa Cruz foram pre-
paradas para abastecer os jatos. Logo
depois, o Parque de Aeronáutica de
São Paulo também. Já no final de
1954, a Base Aérea de Canoas, no Rio
Grande do Sul. Em meados da dé-
cada de 50, os principais aeroportos
civis e bases aéreas do país já dispu-
nham de infraestrutura necessária
para a operação de jatos.
Fontes consultadas
- Alamino, Aparecido Camazano,
Gloster Meteor - O primeiro Jato do
Brasil, 2010.
- Revista O Cruzeiro - Jan / 1954
O primeiro jato da Força Aérea sobrevoa o Rio de Janeiro na Revista Cruzeiro - Sites: www.ita.br ; www.cta.br

14
FUMAÇA - De “cambalhoteiros” a
Embaixadores da aviação militar brasileira
Hora do almoço na Escola de
Aeronáutica, no Rio de Janeiro.
Início da década de 50. Depois das
instruções da manhã, no Campo
dos Afonsos, aviões de treinamento
avançado tomavam o céu da Barra
da Tijuca num balé acrobático. A
EDA

bordo de monomotores North Ame-


rican T-6 Texas, instrutores motiva-
vam seus cadetes com um show de
perícia e técnica. Liderado pelo então
Tenente Mário Sobrinho Domenech,
os chamados “cambalhoteiros” exe-
Aeronaves T-6 da Esquadrilha da Fumaça sobrevoam o Cristo Redentor (RJ); abaixo,
cutavam à exaustão manobras da uma das fotos mais famosas da história da unidade, em Joaçaba, no sul do país, em 1966
aviação de caça. Primeiro com duas
aeronaves, depois com quatro. todo fim-de-semana no Clube da
Assunto nas rodas de conversa Aeronáutica, na Barra da Tijuca (RJ).
da escola, a equipe obteve autoriza- Nos primórdios, conta o Coronel
ção para a primeira demonstração João Luiz, os aviões demoravam
sobre os Afonsos graças à interven- muito para ganhar altura e isso
ção do futuro ministro da Aeronáu- dificultava a visão e o acompanha-
tica, o então Tenente-Coronel Délio mento pelo público. Para facilitar a
Jardim de Mattos, fascinado por observação dos espectadores, o EDA
acrobacias aéreas. O show realizado desenvolveu um equipamento para
em maio de 1952 marcou o nasci- que os aviões produzissem fumaça
mento do Esquadrão de Demonstra- e incluiu na apresentação uma ae-
ção Aérea (EDA), a Esquadrilha da ronave isolada. Enquanto um piloto
Fumaça. A partir daquele momento, realizava acrobacias, outros quatro
o grupo passou a se apresentar em ganhavam altura para a próxima
solenidades importantes da escola. sequência de manobras em grupo.
Em 1955, a esquadrilha ganhou Logo os mecânicos começaram a
cinco aeronaves exclusivas que re- chamar o esquadrão de “Esquadrilha
Reprodução - Correio da Manhã / MUSAL

ceberam pintura especial. “Mesmo da Fumaça”. Em seguida, o Brasil in-


com mau tempo, fizemos todas teiro já conhecia o EDA pelo apelido.
as acrobacias, o público vibrava Por causa do sucesso das apre-
quando os aviões saíam do meio sentações também no exterior, o gru-
das nuvens com os faróis ligados”, po recebeu o título de Embaixadores
lembra-se o hoje Coronel da Reserva do Brasil nos céus. As acrobacias
João Luiz Moreira da Fonseca, líder estão no Guinness Book of Records, o
da Esquadrilha na época, ao falar livro dos recordes mundiais. O voo
de uma demonstração no Parque de dorso em formação com dez aviões
do Ibirapuera, em São Paulo. Com a durante 30 segundos foi registrado
marca de “fumaceiro” na alma, ele em 1999. A marca recorde foi que- Fontes consultadas
que tem hoje 86 anos, ainda realiza brada mais duas vezes pela própria - História Geral da Aeronáutica
manobras a bordo de um ultraleve Esquadrilha, em 2002 e 2006. Brasileira, Volume IV, INCAER

15
Década de 60 Aerovisão Histórica

Com o Brasil a bordo,


Bandeirante decola para o futuro
O projeto e a visão estratégica de investir na pesquisa, na formação de mão-de-
obra e na indústria nacional aeronáutica mostram os primeiros frutos ao país

Por Tenente-Jornalista Adriana Alvares

A lguns chamam a década de anos


rebeldes. Outros, lembram do
tempo em que o Brasil sagrou-se
“Em 1968, para o espanto de
todos, o primeiro avião brasileiro, o
Bandeirante, levantava voo”, lembra
às 7h07 do aeroporto do Centro
Técnico de Aeronáutica (CTA) para
um voo de aproximadamente 50
bicampeão mundial no Chile. Há, Ozires Silva, engenheiro aeronáutico minutos, sob o comando do Major-
ainda, quem se lembre de que na- e oficial da Força Aérea que liderou Aviador José Mariotto Ferreira e do
quela época a capital do Brasil foi a equipe que projetou e construiu o engenheiro de voo Michel Cury. “É
transferida do Rio de Janeiro para Bandeirante. Na época, participou como se fosse ontem. Eu estava lá
Brasília, que o homem chegou à Lua da implantação da indústria na cabeceira de terra, na pista do
e que os Beatles lançaram seu pri- aeronáutica no país, com a fundação CTA, ele se posicionou lá embaixo,
meiro disco – “Please,Please, Me”. da Empresa Brasileira de Aeronáutica um pouco longe da gente, aí quando
De fato, os Anos 60 mostraram que (EMBRAER). Nos anos 90, a empresa acelerou levantou aquele poeirão, e
a visão estratégica das gerações que foi privatizada pelo governo federal. veio roncando deixando poeira pra
“fundaram” anos antes o Ministério O Bandeirante é um bimotor trás. Quando passou por nós já estava
da Aeronáutica no Brasil, realmente, de transporte de passageiros e de naquela altura e ficou todo mundo
estavam certos. carga. A primeira aeronave decolou arrepiado de ver”.

Primeiro voo do
Bandeirante, em 1968
Fotos: EMBRAER

16
A aeronave surgiu a partir do que auto-sustentasse os custos pequenas cidades passaram a ficar
projeto IPD-6504, uma referência ao ligados à atividade industrial. Em sem transporte aéreo.” Estava ali a
ano (65), número do projeto (04) e ao resumo, parecia ser mais fácil con- oportunidade que faltava: fabricar
Instituto de Pesquisa e Desenvolvi- ceber um novo avião, fazer voar um aviões para as cidades periféricas.
mento (IPD) do CTA, local da ori- protótipo, que lançar uma produção “Nós brincávamos muito dizendo
gem, desde os primeiros rascunhos, seriada em condições de se manter que não conseguiríamos nunca ser
passando pela geração de milhares ao longo do tempo e permanecer cabeça do leão, mas não queríamos
de desenhos, testes de equipamen- ancorada em um mercado de com- também ser o rabo do leão.”
tos, até a construção do protótipo da pradores razoavelmente contínuo”. Nessa época, três graves aciden-
aeronave que daria origem ao futuro Na transição de um país agrário tes aéreos mobilizaram a opinião
EMB 110 Bandeirante, revolucionan- para uma época de inovações, Ozires pública para a questão do trans-
do a indústria aeronáutica brasileira. lembra que na FAB existia um espí- porte aéreo e, em meio ao debate,
Para a construção do primeiro rito empreendedor com ideais que descobriu-se que de 1958 a 1965 o
protótipo do IPD-6504 foram neces- iam além do horizonte. Com o surgi- número de cidades atendidas pelo
sários três anos e quatro meses, num mento do ITA (Instituto Tecnológico transporte aéreo havia caído cerca
total de 110 mil horas de trabalho, que de Aeronáutica), muitas empresas de 90%. As pequenas e médias cida-
contou com cerca de 300 pessoas li- surgiram e a FAB estimulava o de- des não tinham infraestrutura que
deradas pelo engenheiro aeronáutico senvolvimento dessas indústrias. suportasse o trânsito de aeronaves
e, à época, Major Ozires Silva. Hoje, Logo quando tinha se formado no de grande porte, predominante já na
o primeiro protótipo está exposto no ITA, Ozires foi convidado pelo Bri- época. Por isso, o nome Bandeirante
Museu da Aeronáutica (www.musal. gadeiro Casimiro Montenegro Filho do novo avião não poderia ser mais
aer.mil.br), no Rio de Janeiro. para trabalhar no CTA. apropriado. A ideia de suprir e abrir
O projeto se tornou realidade Posicionamento - “Não podí- oportunidades de crescimento inter-
quando a Força Aérea fez uma enco- amos fazer aviões como os ameri- no, mas também da luta pela produ-
menda de quase 100 aviões. canos ou os franceses. Tínhamos ção e comercialização internacional
No dia 27 de outubro de 1968, o que produzir algo que não fosse marcaram o pioneirismo na indústria
IPD-6504 decolou novamente, com competir com algum produto já aeronáutica brasileira nesse período,
a mesma tripulação à bordo, para o dominado pelo mercado. Tínha- além de marcar o início de um desen-
primeiro voo oficial, com a presença mos de inovar. Abrir horizontes”, volvimento tecnológico promissor.
de autoridades e imprensa. Era o afirmou. “Aviões grandes estavam A iniciativa do Bandeirante
início de uma história de sucesso ocupando todos os espaços e as também contou com a ajuda de um
que começou a ser escrita pelo
governo brasileiro e que permitiu
transformar ciência e tecnologia em
engenharia e capacidade industrial,
hoje reconhecida em todos os con-
tinentes nos quais voam os aviões
fabricados pela EMBRAER.
Em seu livro “A Decolagem de
um Sonho: a História da Criação da
EMBRAER”, Ozires Silva afirmou:
“Parecia uma sina. Os empreendi-
mentos nasciam por força do cons-
tante ideal de criar, construir e cres-
cer; viviam em condições difíceis,
procurando progredir fabricando
produtos sabidamente complexos,
sobretudo em países como o Brasil;
e acabavam por falhar e morrer
antes de conseguir conquistar uma
cadência de produção e de vendas Parque industrial da EMBRAER, em são José dos Campos (SP)

17
Aerovisão Histórica

projetista francês, Max Hoste, que de. Falei para o Presidente da minha aéreas Transbrasil e VASP.
havia saído da França e era conhe- ideia de criação de uma indústria Balanço - Após 20 anos de pro-
cido por um traço muito simples em que produzisse aviões....e ele gos- dução seriada ininterrupta e 498
seus aviões, notabilizando-se pelo tou!”, conta, rindo de sua ousadia unidades produzidas e entregues,
pequeno Broussard. Sua assinatura histórica. “Acho que Deus pôs um em 16 versões diferentes, a fabrica-
ficou no protótipo com painéis retos nevoeiro lá pra dar uma mãozinha ção do Bandeirante foi encerrada.
das janelas da cabine de comando e pra nós. Eu disse meu Deus do céu, Ainda hoje, estão em operação mais
as janelas redondas para os passa- manda o homem depressa pra cá. O de 300 unidades do primeiro avião
geiros, dentre outros detalhes. Com avião estacionou no nosso hangar, brasileiro, desbravador dos céus e
todos os retoques que já são conheci- mostramos o protótipo, contamos a que levou o nome da EMBRAER e da
dos, surgia, então, o Bandeirante: um história, projetamos uma EMBRAER Força Aérea às mais remotas regiões.
bimotor turbo-hélice, de asa baixa e de hoje fabricando avião pro mundo A infraestutura do Bandeirante pos-
destinado a cumprir na Força Aérea inteiro, de tudo quanto é tipo... e o sibilitou que as regiões Centro-Oeste
diversas missões, com operacionali- presidente foi se entusiasmando. E e Amazônica fossem desbravadas.
dade nas áreas militar e civil. quando ele foi embora pra Guaratin- Esse ambiente de excelência pro-
Mercado - Uma vez concluídos guetá, ele nos falou: ‘Vamos fazer’”. fissional, brotado inicialmente a par-
os protótipos, surgia um novo desa- No dia 19 de agosto de 1969, o en- tir do ITA e do CTA, transformou a
fio: a produção seriada e a comercia- tão Presidente da República, Arthur cidade de São José dos Campos (SP)
lização. Nessa fase, a figura brilhante da Costa e Silva, assinou o decreto nº e a região do Vale do Paraíba em pólo
de um dos pioneiros diplomados 770 que criou a EMBRAER, destinada privilegiado para o florescimento
pelo ITA em 1953, o Brigadeiro-do- à fabricação seriada do Bandeirante. das chamadas tecnologias de ponta.
Ar Paulo Victor da Silva, na época No mesmo ano, o Ministério da Hoje, inúmeras indústrias estão
diretor-geral do CTA, conseguiu Aeronáutica firmou contrato com a sediadas nessa localidade, ligadas
consolidar as providências para a recém-criada Empresa Brasileira de à aviação. Na trajetória inaugurada
criação da EMBRAER, que vendeu Aeronáutica para a produção de 80 pelo Bandeirante seguiram diversos
mais de quinhentos aviões Bandei- aviões, com início no ano seguinte. produtos de sucesso, como o Xingu,
rantes em todo o mundo, abrindo Em 1972, a Embraer realizou o pri- o AMX (A-1), o BRASÍLIA, o ERJ-
o mercado norte-americano para os meiro voo do Bandeirante de série. 145, o A-29 Super Tucano, o Embraer
produtos aeronáuticos brasileiros. Nos anos seguintes, a Força Aé- 170/190 e, mais recentemente, os
A fundação da EMBRAER tam- rea do Uruguai tornou-se o primeiro jatos executivos - Legacy e Phenom.
bém não podia fugir aos moldes de cliente da aeronave no exterior. Foi A frota de Bandeirantes da Força
inovação, pioneirismo e ousadia. O o início de uma história de sucesso Aérea passa hoje por processo de
Major Ozires, na época, por acaso, conhecida até hoje. A EMBRAER modernização.
havia sido escolhido para recep- fechou diversos contratos de expor-
Fontes consultadas
cionar o Presidente da República, tação, dentre eles com a francesa Air
- A Decolagem de um Sonho: a
Costa e Silva, que por motivos me- Littoral. Na década de 70, começa-
História da Criação da EMBRAER,
teorológicos, sua rota havia mudado ram as primeiras vendas da aeronave
Ozires Silva
de Guaratinguetá para São José dos para o mercado de transporte co-
- Site Embraer: www.embraer.com
Campos. “Foi a minha oportunida- mercial de passageiros às empresas

Galeria de Ministros

Major-Brigadeiro Brigadeiro Major-Brigadeiro


De Jul. 1957 a Jan. 1961

De Jan. 1961 a Set. 1961

De Set.1961 a Set. 1962

FRANCISCO GABRIEL GRÜN CLÓVIS


DE ASSIS CORRÊA MOSS MONTEIRO
DE MELLO TRAVASSOS

18
Imprensa da época considerou Bandeirante
o “rei” de uma tecnologia respeitada
O jornalista Joelmir Beting, em
12 de outubro de 1969, escreveu uma
reportagem no Caderno de Econo-
mia do jornal Folha de S.Paulo, a res-
peito do desenvolvimento industrial
no país e da nova “Era Tecnológica”
iniciada com o voo do Bandeirante.
Leia trechos:

“....Como na fábula chinesa, com


o palito o Brasil importava o peixe.
Com as técnicas, máquinas e patentes
ele importa a vara de pescar. Basta,
agora, para queimar etapas na escalada
do desenvolvimento auto-sustentado,
fabricar, também, aqui, a vara de pescar. Edição do jornal
E depois vender o peixe ao mundo.... o Folha de S.Paulo,
de 12 de outubro
Brasil começará a exportar aviões para de 1969, quando do
a França, Nova Zelândia, Moçambique voo do Bandeirante
e Uruguai. Por enquanto.”

“...Portanto, a conquista da Lua ou


a fabricação tupiniquim do avião é uma
concepção da ciência, mas é sobretudo
uma realização da indústria, sob o rei-
nado de uma tecnologia fanaticamente
respeitada....” revolução começa a sacudir a mentalida- ta o desafio do impossível, vive fazendo
de do governante brasileiro, do professor o impossível, derrubando o impossível,
“... No momento em que se prepara brasileiro, do industrial brasileiro...” desmoralizando o impossível. Porque era
para fabricar aviões em série, o Brasil impossível voar, Santos Dumont voou.
inicia um processo de reação contra as “.... O brasileiro como atesta a pró- Porque era impossível fabricar aviões, o
ondas do colonialismo tecnológico que pria natureza do homem, em qualquer segundo protótipo do Bandeirante vai
ameaça inundar o mundo inteiro. Uma lugar e em todas as épocas, também acei- levantar voo. Agora na semana da Asa.”

Major-Brigadeiro Major-Brigadeiro Tenente-Brigadeiro


De Abr. 1964 a Abr. 1964
De Set. 1962 a Jun. 1963

De Jun. 1963 a Abr. 1964

REYNALDO ANYSIO FRANCISCO DE


JOAQUIM RIBEIRO DE BOTELHO ASSIS CORRÊA
CARVALHO FILHO DE MELLO

19
Aerovisão Histórica

Programa Espacial: os primeiros passos


de uma longa jornada para o amanhã

Fotos: Arquivo
O Centro de Lançamento da
Barreira do Inferno (CLBI)
foi o primeiro criado no país

Galeria de Ministros

Major-Brigadeiro Major-Brigadeiro Marechal-do-Ar


De Jan. 1965 a Mar. 1967
De Dez. 1964 a Jan. 1965
De Abr. 1964 a Dez. 1964

NELSON FREIRE MÁRCIO DE EDUARDO


LAVENÈRE SOUZA E MELLO GOMES
WANDERLEY

20
Com a criação do Centro Técnico dos países desenvolvidos para que Em dezembro de 1965 ocorreu o
de Aeronáutica (CTA), nos anos 50, o Programa Espacial Brasileiro não primeiro lançamento em solo brasi-
começou no país um novo pensa- evoluísse ao ponto de desenvolver leiro. Era um foguete de sondagem
mento para o desenvolvimento dos sua própria tecnologia”, completa. de fabricação norte-americana – o
programas aeroespaciais. Personalidade marcante do Pro- Nike Apache. Em 1966, começou o
Definitivamente, o Brasil passou grama Espacial Brasileiro e conhecido Projeto EXAMENT para estudos da
a chamar a atenção do mundo. Em como o “Von Braun brasileiro” – cien- atmosfera em altitudes de 30 a 60 km.
1960, o presidente Jânio Quadros tista alemão tido como o pai do fogue- No final da década, o GETEPE foi
criou uma comissão para dar os pri- te Saturno 5, que levou os astronautas desativado e deu origem ao Instituto
meiros passos para a elaboração de americanos à Lua, o Brigadeiro Piva de Atividades Espaciais (IAE), no
um programa nacional de explora- recebeu o título summa cum laude, pelo CTA. O Instituto ficaria responsável
ção espacial. O resultado foi a forma- ITA, dado ao aluno que durante todo pelos projetos de pesquisa e desen-
ção, em agosto do ano seguinte, do o curso e em todas as disciplinas tenha volvimento de foguetes, cabendo ao
Grupo de Organização da Comissão recebido média igual ou superior a 9.5, Centro de Lançamento da Barreira do
Nacional de Atividades Espaciais numa escala de 0 a 10. Inferno (CLBI) a parte operacional de
(GOCNAE), com sede em São José Foi então, com a ambição de lançamento de vários foguetes estran-
dos Campos, subordinado ao Con- não apenas se envolver em pesqui- geiros, e os nacionais SONDA I, II, III
selho Nacional de Pesquisas (CNPq), sas internacionais, mas também de e IV. Desde então, com a criação do
com o propósito de sugerir a política desenvolver sua própria tecnologia CLBI, já foram realizados quase três
e o programa de envolvimento do espacial, que surge no Brasil em 1964 mil lançamentos de foguetes para
Brasil em pesquisas espaciais. o Grupo de Trabalho e de Estudos organismos nacionais e estrangeiros,
O GOCNAE instalou-se no de Projetos Espaciais (GETEPE), que assim como a unidade participou de
CTA e iniciou suas atividades com também se instalou no CTA e tinha quase 200 rastreios da família euro-
equipamentos cedidos pela Agên- como principal foco os campos de peia de foguetes Ariane, lançados de
cia Espacial Americana (NASA) e lançamentos. Os engenheiros do pro- Kourou, na Guiana Francesa.
pesquisadores militares e civis do grama espacial sabiam que tinham Apesar de o Brasil não ter con-
Ministério da Aeronáutica. Com uma longa caminhada pela frente, seguido o efetivo lançamento ope-
este grupo, o Brasil participou de mas estavam envolvidos no empre- racional de foguete na década de
pesquisas internacionais nas áreas endedorismo que reinava na época. 60, o SONDA I foi a grande escola
de astronomia, geodésica, geomag- Os primeiros “foguetes”foram ape- do Programa Espacial Brasileiro, no
netismo e meteorologia. A comissão, lidados de “busca-pé”. qual houve os primeiros passos.
conforme conta o Brigadeiro-do-
Ar Hugo de Oliveira Piva, contou
com a participação de franceses e,
principalmente, de americanos. “Ti-
vemos muito ajuda da NASA. Eles
já traziam tudo pronto”, lembra o
Brigadeiro, ressaltando, ainda, que
“naquela época existia uma pressão

Marechal-do-Ar
De Mar. 1967 a Nov. 1971

MÁRCIO DE
SOUZA E MELLO

Monitoramento do foguete Sonda I pelo Centro de Lançamento da Barreira do Inferno

21
Década de 70 Aerovisão Histórica

Nascem a defesa aérea e o controle


integrado de tráfego aéreo no Brasil
Estudos dos Anos 60 deram origem ao atual modelo integrado de controle e de-
fesa aérea; novas aeronaves supersônicas foram adquiridas para a defesa do país

Por Tenentes-Jornalistas Flávio Nishimori e Alessandro Silva

O s anos 70 marcam o início de


uma nova fase para a Força
Aérea Brasileira (FAB), com pro-
para o futuro da aviação militar.
Em 1972, entrou em operação
a primeira unidade aérea de inter-
reo até essa época”, ressalta o histo-
riador aeronáutico Coronel-Aviador
R1, Aparecido Camazano Alamino .
fundas alterações no seu emprego. ceptação da FAB, o atual Primeiro As ações iniciadas nesse período
Até a década de 60, o Brasil ainda Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), levaram o Brasil a um salto tecnoló-
baseava seus conceitos de defesa equipado com caças F-103 Mirage gico do Sistema de Controle do Es-
aérea nos conhecimentos adquiridos III. Na mesma década chegaram ao paço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). No
na Segunda Guerra. O mundo era Brasil os caças F-5 e, sob licença, a início da década de 90, grande parte
outro, a guerra fria estava no auge e EMBRAER passou a produzir seu do espaço aéreo nacional estava co-
a aviação tornava-se cada vez mais primeiro jato: o AT-26 Xavante. berta pelos CINDACTAs I (Brasília),
rápida, letal e tecnológica. Era preci- Detecção – No início dos anos II (Curitiba) e III (Recife). Por meio
so antecipar (ter meios para detectar 70, o Ministério da Aeronáutica do projeto Sistema de Vigilância da
possíveis ameaças) e agir (atingir implementa no país o conceito de Amazônia (SIVAM), começaram as
rapidamente os objetivos). Chegava Centro Integrado de Defesa Aérea ações para que todo o país tivesse
a vez dos supersônicos. e Controle de Tráfego Aéreo (CIN- cobertura radar.
O Ministério da Aeronáutica DACTA), uma inovação mundial, Hoje - O Sistema de Controle
concluiu uma série de estudos e, em pois previa um sistema único contro- do Espaço Aéreo Brasileiro compre-
1969, concebeu o Sistema Integra- lando as operações civis e militares. ende mais de 5 mil equipamentos,
do de Controle do Espaço Aéreo, Uma rede de radares e centros de funcionando 24 horas por dia, e o
um projeto ambicioso e estratégico controles espalhados geografica- trabalho de mais de 13 mil pessoas,
que previa a utilização conjunta de mente que forneciam, em tempo real, entre militares e civis. O último CIN-
equipamentos de detecção, de teleco- o posicionamento de todas as aero- DACTA, de número 4, entrou em
municações e de apoio às atividades naves voando no território nacional. funcionamento em 2006, com sede
de defesa e de controle de tráfego O CINDACTA I, sediado em em Manaus, fechando a cobertura
aéreo. Dois anos antes, a Força Aérea Brasília, foi o primeiro a sair do pa- radar no país. O SISCEAB tem um
já havia criado o Comando Aéreo de pel em 1973 e entrou em operação patrimônio avaliado em cerca de R$
Defesa Aérea (COMDA), embrião do em 1976. O centro reunia, sob uma 6 bilhões, sem levar em conta o valor
atual Comando de Defesa Aeroespa- única estrutura, o controle do tráfego de conhecimento agregado ao país
cial Brasileiro (COMDABRA). civil e a defesa aérea, abrangendo os ao longo das últimas quatro décadas.
Ao mesmo tempo em que a Estados de São Paulo, Rio de Janei- Em 2009, o SISCEAB passou por
estrutura de detecção nascia, com ro, Minas Gerais e Distrito Federal, auditoria da Organização de Aviação
uma complexa rede de radares e principais centros populosos do Civil Internacional (OACI), entidade
equipamentos espalhados pelo país, país. “Até então, o nosso tráfego era máxima da aviação civil mundial, e
o Ministério da Aeronáutica busca- feito somente com o controle sob a alcançou 95% de atendimento das
va, no mercado internacional, o que responsabilidade dos pilotos entre normas internacionais existentes. O
havia de melhor em modernos caças as áreas terminais dos aeroportos ou resultado assegurou ao país posição
supersônicos. As decisões tomadas bases aéreas, tendo em vista que não à frente de países como Alemanha,
naquele período foram decisivas havia cobertura radar no espaço aé- Estados Unidos e França.

22
Equipamentos de
controle de tráfego aéreo
instalados em Morro da
Igreja, em Santa Catarina
Arquivo

23
Aerovisão Histórica

A FAB entra na “era dos caças supersônicos”


Ativada em 9 de fevereiro de
1970, a 1ª ALADA foi criada para
ser o braço armado do Sistema de
Defesa Aérea e Controle de Tráfego
Aéreo (SISDACTA), implantado
para prover uma rede de meios
eletrônicos de detecção capaz de
rastrear e identificar as aeronaves
que sobrevoam o território brasilei-
ro. Mais tarde, a unidade recebeu a
atual denominação: Primeiro Grupo
de Defesa Aérea (1º GDA).
O F-103 Mirage III voou por
32 anos na Força Aérea. Entre 1977
e 1978, mais caças desse modelo
foram adquiridos. Nos anos 80, o

Arquivo
Brasil comprou outro lote. Mais de
200 pilotos passaram pelo Esqua-
drão Jaguar (1º GDA) nesse período,
desde o primeiro voo no Brasil em
Caças F-103 Mirage III da Força Aérea sobrevoam o Distrito Federal 23 de março de 1973.
Novos caças – A Força Aérea
O caça Mirage III representava trutores daquele país. começou a receber em 1975 o pri-
o que havia de melhor em supersô- “Era muito diferente do que a meiro lote de caças supersônicos
nicos quando chegou ao Brasil nos gente estava acostumado. Se bem F-5, para a substituição dos obso-
Anos 70. Havia sido empregado com que não se sente que está voando letos Lockheed TF-33A e os Gloster
sucesso por Israel na Guerra dos supersônico, a não ser pela loucura Meteor F-8, que praticamente já não
Seis Dias (1967). Era rápido, mano- que dá nos instrumentos quando se operavam desde 1971 por proble-
brável e adequado para missões de quebra a barreira do som. Na volta mas estruturais.
interceptação. Quando do seu de- para o subsônico é que se leva um As primeiras aeronaves da
senvolvimento, uma frase atribuída tranco”, disse o Coronel-Aviador “Operação Tigre”, como ficou conhe-
ao fabricante marcou o projeto: “ele Antônio Henrique Alves dos Santos, cido o translado dos primeiros caças,
será visto pelo inimigo como uma o “Jaguar 01”, líder da equipe que partiram no dia 28 de fevereiro de
miragem, mas jamais será tocado”. primeiro voou o caça no Brasil, em 1975 de Palmdale (EUA). Eram três
Voou no Brasil até 2005. entrevista à Aerovisão em 2005. F-5B que chegaram ao Brasil no dia
A compra da aeronave assegu- Os militares brasileiros foram 6 de março.
rou ainda o treinamento de pilotos e divididos em diferentes modalida- Em 12 de junho de 1975, os
mecânicos na França e, na prática, o des de estágios, nas áreas de defesa primeiros quatro F-5E pousaram na
aprendizado de uma nova doutrina aérea (interceptação), preparação Base Aérea do Galeão (BAGL), dan-
de emprego da Força Aérea. Essa de instrutores e simulador, entre do início a uma ponte aérea que só
primeira geração de pilotos ficou outros cursos indispensáveis ao terminaria em 12 de fevereiro do ano
conhecida como os “Dijon Boys”, funcionamento da Primeira Ala de seguinte, totalizando 36 aeronaves.
em alusão à base francesa que os re- Defesa Aérea (1ª ALADA) – que en- Os F-5 E brasileiros tornaram-se
cebeu durante a fase de preparação. trou em operação em 1972. A nova mundialmente célebres durante a
Os pilotos brasileiros realizaram unidade ficaria sediada em Aná- Guerra das Malvinas, quando in-
missões na França a bordo dessas polis (GO), no “coração” do Brasil, terceptaram um bombardeiro inglês
aeronaves, acompanhados de ins- para a defesa do Planalto Central. Vulcan que entrara no espaço aéreo

24
Novas aeronaves modernizam as

SGT Paulo Marques / FAB


aviações da Força Aérea nos anos 70
A aviação de asas rotativas e de pela EMBRAER. O P-95 “Bandeiru-
instrução também receberam novas lha” preencheu uma lacuna na FAB
aeronaves na década de 70. A Força após a desativação dos P-15 Netuno.
Aérea adquiriu mais helicópteros A versão inicial foi recebida entre
Bell H-13H para a instrução de pilo- 1977-79 (12 unidades).
tos e Bell UH-1H para os Esquadrões Na área operacional, foi criado
Mistos de Reconhecimento e Ataque o Centro de Aplicações Táticas e
(EMRA), que também receberam o Recompletamento de Equipagens
jato Xavante no lugar dos veteranos (CATRE) em Natal (RN), com a
North American T-6. O Xavante finalidade de ministrar a instrução
Caças supersônicos F-5 começaram a havia entrado em operação em 1971. aérea operacional para os pilotos
chegar ao país na metade dos anos 70 Aviões T-23 Uirapuru subs- de ataque e de caça da FAB, bem
tituiriam os velhos Fokker T-21 e como formar pilotos para a reserva.
brasileiro sem autorização (leia mais consolidou-se a introdução do Nei- Após um período voando aviões de
na pág. 32 - Década de 80) va Universal T-25, em substituição transporte ou helicópteros militares,
A frota de caças F-5 foi moder- aos antigos T-6 para a instrução eram entregues para a aviação civil.
nizada nos anos 2000, dando origem dos novos pilotos. Aviões Regente Também foi criado, em 1972, o
ao F-5EM, agora com equipamentos L-42 foram disponibilizados nos Grupo Especial de Inspeção em Voo
de última geração, capacidade de EMRA para missões de ligação e (GEIV), que recebeu aviões a jato HS-
detecção, ataque, autodefesa, comu- observação. 125 de última geração e Bandeirante
nicação e navegação, dentre outras No final da década, a aviação para a importante tarefa de inspeção
novidades. A aeronave é empregada de patrulha ganhou um reforço, em voo dos auxílios à navegação em
pelo Primeiro Grupo de Aviação de com a versão do Bandeirante para substituição aos Douglas EC-47 e
Caça (1º GAVCA), pelo Esquadrão patrulhamento marítimo, produzido Beech Queen Air EC-8.
Pampa (1º/14º GAV) e, a partir de
2011, pelo Esquadrão Pacau (1º/4º
GAV) na região Amazônica.
/ FAB

“A nossa aviação de caça saiu


n
SGT Johnso

da água para o vinho na década


or / FAB

de 1970, tendo em vista que ainda


CB Juni

operava velhos aparelhos da déca-


da de 50 e foi dotada com aviões
de última geração. Tal mudança
introduziu novas formas de ope-
Aeronaves Regente, Bandeirulha, T-25 Universal e HS-125
ração das unidades aéreas, como o foram adquiridos pela a Força Aérea Brasileira
uso de mísseis, de simuladores, do
reabastecimento em voo, o voo su-
persônico, bem como novas técnicas
/ FAB

de vetorações do controle do espaço


n

aéreo, o que era uma novidade para


SGT Johnso

os caçadores acostumados a detec-


tar o inimigo com a visão”, ressalta
s Lorch

o historiador aeronáutico Coronel-


Carlo

Aviador R1 Aparecido Camazano


Alamino.

25
Aerovisão Histórica

Xavante: a indústria nacional


produz seu primeiro jato
SGT Johnson / FAB

Caças AT-26 Xavante entraram


em operação em 1971 e, desde
então, ajudaram a formar mais
de 800 pilotos militares

Primeiro jato a ser fabricado no necessidade do Ministério da Ae- EMB 326GB Xavante. O nome bra-
Brasil, o Xavante fez seu primeiro voo ronáutica, que pretendia substituir sileiro foi dado em homenagem às
de teste em 3 de setembro de 1971 os jatos T-33A e buscava opções de tribos indígenas guerreiras do Brasil
sob o comando do Major-Aviador aeronaves para treinamento que pré-descobrimento. Seria o terceiro
Carlos Rubens Resende e pelo piloto pudessem ser montadas no Brasil modelo a entrar em produção na
de provas Brasílico Freire Neto. No para posterior nacionalização. De- EMBRAER, e o primeiro jato a ser
dia 7 daquele mês, a aeronave fez seu pois da avaliação de várias alterna- fabricado no Brasil.
primeiro voo oficial pela Força Aérea, tivas, a escolha recaiu sobre o jato A EMBRAER produziu 182
nas comemorações do Dia da Pátria. Aermacchi MB-326G, produzido unidades do EMB 326 Xavante, dos
No dia seguinte, foram entregues os pela empresa italiana Aeronáutica quais 166 para FAB, nove para o
três primeiros aviões Xavante, com Macchi. A aeronave havia sido pro- Paraguai e seis para o Togo.
a designação militar de AT-26. Até jetada na década de 1950, e estava Em 2010, a aeronave deixou a
dezembro de 1976, a FAB já havia em operação desde 1962. Aviação de Caça brasileira, depois
adquirido 119 unidades. O contrato de licença para fabri- de 39 anos de operação e de ter con-
A trajetória do Xavante na FAB cação pela Embraer foi efetivado em tribuído para a formação de mais de
surgiu em conseqüência de uma 1970 e a aeronave recebeu o nome de 800 pilotos militares.

Galeria de Ministros
Marechal-do-Ar Tenente-Brigadeiro Tenente-Brigadeiro
De Mar. 1979 a Mar.1985
De Nov. 1971 a Mar. 1979
De Mar. 1967 a Nov. 1971

MÁRCIO DE JOELMIR DÉLIO JARDIM


SOUZA E MELLO CAMPOS DE MATTOS
DE ARARIPE
MACÊDO

26
Criado o Centro de Investigação e Prevenção
de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA)
Por Tenente-Jornalista Raquel Sigaud

A criação do CENIPA (Centro de


Investigação e Prevenção de Aciden-
tes Aeronáuticos), em novembro de
1971, inaugura uma grande mudan-
ça filosófica no propósito da investi-
gação de acidentes aeronáuticos no
país. Ao invés de buscar culpados,
a prevenção. Em lugar de inquirir,

Luís Felipe Magalhães de Campos


passava-se a entrevistar. Em vez de
julgar, emitir alertas, produzindo
“recomendações de segurança de
voo”, a principal razão de ser das
investigações. O órgão recém-criado
e ligado ao Ministério da Aeronáu-
Laboratório de destroços do CENIPA, em Brasília, usado na formação de investigadores
tica coordena até hoje a prevenção,
enquanto a polícia, o Ministério prática, contribuíram para tornar a aperfeiçoou-se e implementou vários
Público e o Judiciário trabalham em atividade aérea mais segura no país. serviços que o transformaram em
procedimentos distintos para a pu- Em 1982, o CENIPA criou o uma instituição de ponta. Em 1988,
nição. Essa nova concepção era bem Comitê Nacional de Prevenção de por exemplo, inaugurou o Laborató-
diferente da preconizada na fase Acidentes Aeronáuticos (CNPAA) rio de Destroços, uma área que conta
embrionária da atividade no Brasil, – um fórum em que representantes com sete aeronaves acidentadas dis-
quando as investigações eram reali- de entidades nacionais, públicas postas no terreno da mesma forma
zadas seguindo a concepção de in- e privadas, e organizações civis como em um acidente. Os destroços
quérito, cujo objetivo era identificar representativas de classes direta ou permitem a aplicação prática das
responsabilidades e, eventualmente, indiretamente ligadas às atividades técnicas de investigação de acidentes
punir culpados. aeronáuticas, se reúnem, duas vezes aeronáuticos: ação inicial, fotografia
O Serviço de Investigação e Pre- ao ano, para deliberar sobre temas em cenário de acidente, análise de
venção de Acidentes Aeronáuticos relacionados à prevenção de aciden- danos, formas de destruição, esfor-
(SIPAER), que vigora até hoje, passou tes aeronáuticos no Brasil. ços a que foram submetidas as partes
a constituir um sistema e não mais Dentre as ferramentas disponí- da aeronave, marcas de fogo e causas
um serviço, e a sua filosofia voltou-se veis para cumprir a missão de pre- de lesões corporais.
exclusivamente para a prevenção de venir acidentes, o CENIPA passou Em 2009, o Sistema de Aviação
acidentes, concentrada nos fatores a realizar atividades educacionais, Brasileiro foi submetido a uma au-
humano, operacional e material da como o Primeiro Estágio Básico de ditoria da Organização de Aviação
ocorrência, que correspondem, res- Prevenção e Investigação de Aciden- Civil Internacional (OACI). Ao final
pectivamente, ao trinômio-base da tes Aeronáuticos, em maio de 1969. da verificação, o CENIPA atingiu
investigação de acidentes: “o homem, Desde então, cursos e estágios são 96% de conformidade, o que o co-
o meio, a máquina”. destinados à formação e ao aperfei- locou junto ao órgão com melhor
Ao longo de 40 anos, o CENIPA çoamento de recursos humanos para desempenho mundial, a EASA (Eu-
investigou os principais acidentes atuar pelo SIPAER. Até hoje, apro- ropean Aviaton Safety Agency), à
aeronáuticos do país, produziu rela- ximadamente 9.000 alunos já foram frente de países como EUA, Canadá,
tórios e emitiu inúmeras recomenda- formados nos cursos do CENIPA. França, Itália, Alemanha, Austrália,
ções de segurança que, colocadas em Em sua trajetória, o CENIPA China, Índia.

27
Década de 80 Aerovisão Histórica

A hora e a vez da indústria


aeronáutica brasileira
Por Tenente Jornalista Humberto Leite

Centro Histórico EMBRAER


O que há em comum nas Forças
Aéreas do Brasil, Irã, Reino
Unido, Egito, Argentina, França,
no Brasil pela EMBRAER. Fundada
em 1969, a empresa iniciou suas
atividades com a produção do
alcançou sucesso com projetos como
o Brasília (foto), o Tucano e o AMX.
Conheça um pouco desses aviões
Kuwait, Angola, Venezuela e muitas turboélice Bandeirante. Mas a década que marcam a história da indústria
outras de vários continentes? A de 80 pode ser lembrada como nacional e da Força Aérea Brasileira,
presença de aeronaves desenvolvidas aquela em que a empresa brasileira que conduziu esse processo.

Galeria de Ministros

Tenente-Brigadeiro Tenente-Brigadeiro
De Mar. 1985 a Mar.1990
De Mar. 1979 a Mar.1985

DÉLIO JARDIM OCTÁVIO


DE MATTOS JÚLIO MOREIRA
LIMA

28
T-27 TUCANO - Um treinador pioneiro
O primeiro fato histórico da- mente pela British Short Brothers
quela década foi a apresentação, no foi equipada com um motor mais
dia 19 de agosto de 1980, do YT-27. potente, entre outras modificações, e
O protótipo do treinador tinha também foi exportado para o Quênia
desenho avançado para a época e e o Kuwait. O Tucano também foi
várias características inovadoras que fabricado sob licença pela Helwan,
acabaram por se tornar padrão mun- empresa egípcia que fez entregas
dial para aeronaves de treinamento para as forças aéreas do Egito e do
básico. O avião, por exemplo, foi o Iraque.
primeiro do gênero a vir equipado Além de cumprir o papel de trei-
com assentos ejetáveis. Além disso, nador, o Tucano também possui sob
os dois tripulantes não sentavam as asas quatro pontos duros para re-
na clássica posição “lado-a-lado”, ceber cargas externas, como bombas
e sim em “tandem”, como nas mais e casulos de metralhadoras, e assim
avançadas aeronaves de caça. poder voar missões de treinamento Primeiro voo do T-27 Tucano; abaixo, a
entrega de aeronaves para a Fumaça
Em 1981, em um concurso re- armado, apoio aéreo, ataque ao solo
alizado com os cadetes da Acade- e defesa do espaço aéreo. Essa capa- inicial da Força Aérea Brasileira
mia da Força Aérea (AFA), a nova cidade, aliada ao envelope de voo também foi recebido por Angola,
aeronave foi batizada de Tucano. mais lento que as aeronaves de caça Argentina, Colômbia, Egito, França,
Foi ali, em Pirassununga (SP), no a jato, deu ao avião da EMBRAER o Guatemala, Honduras, Irã, Iraque,
dia 29 de setembro de 1983, que os destaque em missões como o com- Kuwait, Paraguai, Peru, Quênia,
primeiros T-27 da FAB foram rece- bate ao narcotráfico, uma vantagem Reino Unido e Venezuela. A Força
bidos para voarem com as cores do a mais para os países que lutam Aérea Brasileira recebeu um total
Esquadrão de Demonstração Aérea contra os voos ilegais de aeronaves de 168 Tucanos, que operam até hoje
(EDA), a conhecida “Esquadrilha da de pequeno porte. na Academia da Força Aérea e já
Fumaça”. A AFA também recebeu o Ao todo, o avião desenvolvido passaram por unidades de formação
Tucano para a função de instrução pela EMBRAER sob encomenda operacional, de caça e de ataque.
intermediária, após a aposentadoria
dos jatos T-37.
Além das características inova-

Fotos: Centro Histórico EMBRAER


doras, o Tucano também se revelou
estável e manobrável em baixas
velocidades. Essas características,
além do baixo custo de operação
se comparado a outros treinadores,
logo garantiram as primeiras enco-
mendas internacionais. Em 1984,
apenas um ano após a entrada em
serviço na FAB, a EMBRAER já
exportava o avião para Honduras.
O treinador da EMBRAER en-
trou para a história, no entanto,
quando em 1985 foi escolhido pelo
Reino Unido para se tornar o trei-
nador básico da Real Força Aérea
(RAF). A versão produzida local-

29
Aerovisão Histórica

AMX - O caça brasileiro que TRANSPORTE - Brasília


nasceu como “avião-computador” conquista as linhas regionais
Antes mesmo de ser entregue, o
EMBRAER 120 Brasília já era o avião
líder da sua categoria na aviação
regional. Este sucesso remonta a
1974, quando começaram os estudos
de uma aeronave pressurizada para
Centro Histórico EMBRAER

substituir o Bandeirante. O primei-


ro protótipo foi apresentado 1983,
quando fez o seu primeiro voo.
Com capacidade para 30 passa-
geiros, o Brasília foi o primeiro avião
da EMBRAER projetado com o auxílio
de computadores. Capaz de superar
Head Up Display (HUD), Chaff, 16 de outubro de 1985, o primeiro os 580 km/h e com um nível de ruído
Hands on Trottle and Sticks (HOTAS), AMX produzido no Brasil, desig- baixo se comparado aos seus concor-
Flare, Continuosly Computed Initial nado YA-1, decolou às 15h47 com a rentes, o avião brasileiro foi desenvol-
Point (CCIP), Multifunction Display matrícula FAB 4200 (foto). Em 16 de vido com um sistema de programação
(MFD), Radar Warning Receiver dezembro do ano seguinte, o YA-1 e controle de voo digitalizado, um dos
(RWR). Estas e outras tecnologias 4201 também fez o primeiro voo. mais avançados da época.
deram ao caça A-1 o apelido de “O Criado para missões de ataque, o No ano seguinte, a aeronave
avião computador” quando foi re- AMX se destaca ainda hoje pelo raio entrou em produção e, curiosamen-
cebido pelo Esquadrão Adelphi em de alcance, robustez e confiabilidade te, teve como primeiro operador
1989. Projetado como um substituto do nos sistemas eletrônicos. Entre os uma companhia aérea estrangeira, a
AT-26 Xavante, a aeronave trouxe para principais recursos tecnológicos es- norte-americana Atlantic Southeast
a Força Aérea Brasileira um novo pen- tão os sistemas de mira computado- Airlines. Em setembro daquele ano,
samento sobre a aviação de combate. rizada (CCIP) e o alerta de emissões o Brasília fez seu primeiro voo em
Inicialmente chamado de AMX, o de radar (RWR), que avisa o piloto operação regular, ligando as cidades
A-1 foi projetado pela EMBRAER em quando o A-1 é “iluminado” pelos de Gainesville e Atlanta, nos Estados
parceria com as empresas italianas inimigos. A cabine do caça também Unidos. A brasileira Rio-Sul recebeu
Aermacchi e Aeritalia. Em 27 de março segue o conceito HOTAS, em que suas primeiras unidades em 1988.
de 1981, os governos do Brasil e da Itá- o piloto pode controlar toda a ae- Foram produzidas ainda versões de
lia assinaram um acordo para estudar ronave com comandos nas pontas longo alcance (EMB120ER) e para
os requisitos da aeronave, e quatro me- dos dedos. O HUD também permite transporte de carga. Ao todo, 352
ses depois as três empresas recebiam o visualizar todas as informações da aviões foram entregues para 33 ope-
contrato de desenvolvimento. missão sem precisar retirar os olhos radores em vários países.
O programa contaria com a da arena de combate. A Força Aérea Brasileira recebeu
construção de seis protótipos, dois Em 17 de outubro de 1990, a Força seus primeiros EMB 120, designados
deles no Brasil. A EMBRAER ficou Aérea Brasileira recebeu seu primeiro C-97, ainda nos anos 80. Quatro aero-
responsável pelo projeto e produção A-1. Ao todo, foram 56 unidades divi- naves passaram a ser operadas pelo
das asas, profundores, tomadas de didas em três lotes, que hoje voam no 6° Esquadrão de Transporte Aéreo,
ar, pilones, trens de pouso, tanques 1°/16° GAV, baseado no Rio de Janeiro cumprindo missões de transporte a
de combustível, equipamentos para (RJ), e no 1°/10° GAV e 3°/10° GAV, de partir da Base Aérea de Brasília. Um
missões de reconhecimento e instala- Santa Maria (RS). A Itália recebeu 192 dos protótipos foi incorporado pelo
ção dos canhões DEFA, de 30mm, que AMX a partir de 1989, sendo que na então Centro Técnico Aeroespacial
seriam utilizados na versão brasileira. década de 90 foram empregados em (CTA). A partir dos anos 90, mais uni-
Em 15 de maio de 1984, o pri- combate real, com grande sucesso, no dades foram adquiridas para outros
meiro protótipo voou na Itália. Em conflito do Kosovo. esquadrões de transporte.

30
PROGRAMA ESPACIAL
Alcântara, no Maranhão,
é escolhida para ser o
“trampolim” para o espaço
A conquista do espaço requer necessária para apoiar os militares e
investimento, tecnologia, projetos civis que trabalhariam ali. Para tor-
financeiramente viáveis e, se pos- nar o projeto real, foi ativado em 1°
sível, uma localização geográfica de março de 1983 o Núcleo do CLA.
privilegiada. E o Brasil possui este Outra preocupação foi o cuidado
lugar. Situado no pequeno município com as famílias que moravam na
de Alcântara (MA), separado por área, pois, entre instalações e áreas
10 km de faixa de mar da ilha de de segurança, a nova base ocuparia
São Luís, o Centro de Lançamento 620 km quadrados de área.
de Alcântara (CLA) foi criado pelo Finalmente, em dezembro de
Ministério da Aeronáutica nos anos 1989, a Operação Pioneira efetiva-
80 para assumir a responsabilidade mente inaugurou o CLA. Quinze
de ser a principal base da então foguetes SBAT-70 e dois SBAT-152
Missão Espacial Completa Brasileira foram lançados para os primeiros
(MECB). testes. Dois meses depois, seria a
Localizado a pouco mais de dois vez de um foguete Sonda-2, em uma
graus da linha do Equador, o CLA se sequência de operações que teriam
destaca por possibilitar lançamentos como destaque o lançamento de 83
de foguetes com menor consumo de foguetes em parceria com a NASA,
combustível, ou com maior capaci- em 1994, do VS-30 e dos testes com o
dade de carga. Isto é, se um foguete Veículo Lançador de Satélites (VLS).
for lançado no CLA, o artefato Em 2010 foi assinado ainda o
poderá levar satélites até 31% mais acordo de cooperaçao com a Ucrâ-
pesados que outro semelhante que nia para que o CLA também possa

Arquivo
saiu de bases de outros países. Foi servir como base para os foguetes
por este motivo, e ainda pelo clima Cyclone-4, capazes de transportar
favorável, facilidade logística e esta- satélites de até 5,3 toneladas para
bilidade geológica, que em 1982 foi uma órbita baixa.
criado o Grupo para Implantação do O CLA está preparado para o
Centro de Lançamento de Alcântara futuro, com destaque para as opera- Plataforma de lançamento do VLS, no
Centro de Lançamento de Alcântara
(GICLA). ções de lançamento e de rastreio de
Transformar o litoral maranhen- foguetes. O lançamento de foguetes
se em uma moderna base do progra- de treinamento, desenvolvidos pelo do CLA, como a construção de uma
ma espacial significou investimentos Comando da Aeronáutica em parce- nova torre de lançamento, sala de
em equipamentos como plataformas ria com a Agência Espacial Brasileira controle, casamata, torres de integra-
de lançamento, radares de acompa- e a indústria nacional, fecha-se o ci- ção, radares e sistemas de telemetria.
nhamento, sistemas de telemetria, clo de capacitação dos profissionais, O intuito é o de comportar novos
centrais de meteorologia, edifícios garantindo o sucesso das operações sítios de lançamento para os mais
para preparo de satélites e propul- no horizonte da área espacial. diversos tipos de veículos suborbi-
sores, depósitos de combustíveis, Outro destaque é a constante tais e orbitais, tais como o VLS e o
pista de pouso e toda a infraestrutura modernização dos equipamentos Cyclone 4.

31
Aerovisão Histórica

Guerra das Malvinas: a defesa aérea


brasileira é testada do CINDACTA I, o Major José Or-
lando Bellon afirmou em inglês pelo
rádio: “Você foi interceptado. Há
duas aeronaves de combate ao seu
lado. A ordem é pousar em Brasília
imediatamente”. A tripulação cuba-
na avistou os caças brasileiros e, em
seguida, fizeram contato solicitando
informações para o pouso.
O Ilyushin 62 tentava cruzar
todo o território brasileiro para se-
guir diretamente para a Argentina.
Entre os passageiros, um diplomata
cubano. A aeronave foi liberada
apenas no dia seguinte.
Episódio 2 - Junho de 1982.
Pouco antes das 11 horas, o Capitão
Raul Dias se preparava para mais
uma missão de treinamento com
o seu F-5 do Esquadrão “Pif-Paf”,
no Primeiro Grupo de Aviação de
Fotos: Arquivo

Caça (1º GAVCA). Pouco antes da


decolagem, viu um mecânico correr
para o caça e preparar os canhões
de 20 mm. Sem entender a situação,
ligou o rádio e ouviu o código “Rojão
de Fogo” - indicação de que aquela
havia se tornado uma missão real de
Episódio 1 - Abril de 1982, Com o uso dos pós-combustores, interceptação.
feriado de Sexta-feira Santa. Uma os dois Mirage sobem rapidamente Com o Capitão Marco Auré-
tempestade desaba sobre o Planalto e, em poucos minutos, o Jaguar lio Coelho na ala, o Capitão Dias
Central. Na Base Aérea de Anápolis Negro Um aproximava-se do alvo acionou o pós-combustor e rasgou
(BAAN), o 1° Grupo de Defesa Aé- a 1,15 vezes a velocidade do som. o céu do Rio Janeiro em busca do
rea mantém caças F-103 Mirage e As nuvens manchavam a imagem alvo detectado pelos radares do Pri-
tripulações em alerta, prontas para do radar, mas os caçadores locali- meiro Centro Integrado de Defesa
decolar. Passava das 8 horas da noite, zam e identificam o alvo: Ilyushin Aérea e Controle de Tráfego Aéreo
quando o Comando de Defesa Aérea 62 da empresa estatal Cubana. De (CINDACTA I). Aparentemente em
acionou a unidade. De acordo com as fabricação soviética, a aeronave de emergência, uma aeronave vinha
primeiras informações, uma aerona- transporte podia atingir até 900 km/h em direção à capital fluminense e se
ve sobrevoava o território brasileiro e 13 mil metros de altitude. anunciava como um quadrimotor.
e a tripulação se negava a prestar Seguindo as orientações do “Tivemos um tempo de reação
qualquer esclarecimento. A noite era controle em terra, os Mirage se muito rápido, naquelas condições
tomada por uma grossa camada de posicionaram ao lado da cabine do de acionamento. Os minutos que
nuvens, com raios e trovões. Apesar avião de transporte, e, quando os consumimos para decolar, após o
do tempo adverso, dois pilotos da pilotos cubanos se negaram mais primeiro entoar da sirene, não ca-
Força Aérea decolam. uma vez a atenderem os chamados bem em todos os dedos das mãos”,

32
contou em entrevista recente o Major
-Brigadeiro R1 Raul Dias. As mulheres ingressam na FAB
Com a localização do alvo, a
verdade: um bombardeiro britânico
Avro Vulcan (foto). Com mais de 30
metros de uma ponta à outra da asa
em delta, o quadrimotor participava
da missão Blackbuck Six, uma das
voadas pela Royal Air Force (RAF)
entre a ilha de Ascenção e as Malvi-
nas. Para atacar alvos no arquipélago
disputado com a Argentina, as aero-
naves da RAF tinham de voar 15 mil
quilômetros em até 16 horas.
Na Blackbuck Six, a sonda de
reabastecimento em voo do Vulcan
com matrícula XM 597 quebrou
durante um dos procedimentos
com um jato Page Victor. Sem com-
bustível para prosseguir, a aeronave
foi obrigada a seguir para o Rio
de Janeiro, único local onde teria
chances de pousar. Para complicar,
um míssil AGM-45 Shrike falhou As mulheres começaram a ingressar na Força Aérea nos anos 80; na foto, desfile no RJ
durante o ataque e continuava preso
à asa do Vulcan. Criada para detectar
emissões de radar, a arma poderia Em 1982 o então Ministério da Mas somente fazer parte das
ser acionada quando detectasse o Aeronáutica deu um passo inédito primeiras turmas de mulheres da
sistema brasileiro de defesa aérea. na sua história: pela primeira vez, FAB já era vencer um desafio. Para
Foi nesta situação, sem combus- mulheres poderiam passar por um preencher 150 vagas para oficiais e
tível, com problemas no armamento, treinamento militar e integrar o efe- 150 para graduadas, os concursos re-
que o piloto inglês seguiu para o Rio tivo da Força Aérea Brasileira. As 150 ceberam quase oito mil inscrições. Os
de Janeiro, sem responder aos conta- oficiais e 152 graduadas formadas cursos de formação aconteceram no
tos da defesa áerea. As manobras dos naquele ano iniciariam uma história Rio de Janeiro (RJ) e, depois, em Belo
F-5 haviam deixado os brasileiros de sucesso que se resume nas mais Horizonte (MG). Em quatro meses, o
exatamente atrás e à esquerda do de sete mil mulheres que hoje vestem treinamento incluiu aulas, marchas,
Vulcan. No diálogo, a tripulação do a farda como médicas, controladoras instruções de tiro, educação física e
Vulcan deixou claro que não seria de voo e até pilotos de caça, dentre exercício de campanha.
possível seguir para a Base Aérea de outras importantes funções. Após formadas, elas conquis-
Santa Cruz (BASC), e que o pouso Para as pioneiras, no entanto, taram espaço na instituição. Eram
no Galeão era a única chance. Os tudo era novidade. “Exatamente o funções novas para a Força Aérea,
F-5 passaram então a acompanhar o que ia acontecer, eu não sabia. Eu como psicologia, biblioteconomia
alvo e somente deixaram a área após gostava de ver filmes com mulheres e análise de sistemas. “No HFAG
o bombardeiro tocar o solo. militares, mas não conhecia a reali- (Hospital de Força Aérea do Galeão),
dade”, conta Cristina Fernandes da além de atendimentos, fizemos
Fontes consultadas:
Silva, hoje tenente-coronel. Além dos palestras sobre as especialidades.
- “Blackbuck 6”. Revista Força Aé-
desafios de aulas como tiro e ordem Assim, públicos interno e externo
rea N° 49 (jan 2008)
unida, ela ressalta que na época os tiveram um conhecimento maior
- “Interceptado!”. Revista Força
uniformes militares eram muito di- sobre a nossa profissão. Ganhamos
Aérea N° 18 (abr 2000)
ferentes da moda. “Usávamos boinas o nosso espaço”, explicou. (Tenente-
- ”Um Vulcan inglês apanhado na
e calça durante as instruções”. Jornalista Carla Dieppe)
rede do Cindacta”, Veja (jun 1982.)
33
Década de 90 Aerovisão Histórica

SIVAM – Os olhos avançados do


Brasil sobre a Amazônia
Nos anos 90, governo brasileiro atua em bloco para recuperar o controle da
Amazônia e cria um dos mais avançados sistemas de vigilância do mundo

Por Tenente-Jornalista Carla Dieppe

U m oceano verde e desafiador.


Até os Anos 90, voar sobre a

DECEA
Amazônia significava enfrentar va-
riações meteorológicas, dificuldade
para localizar pistas de pouso alter-
nativas em situações de emergência
e pilotar convencionalmente, sem
o apoio de comunicação e radares,
como acontece na travessia do
Atlântico e de regiões desérticas do
mundo. E esse era o contexto das
rotas aéreas que cortavam cerca de
62% do território nacional.
Por outro lado, o isolamento da
floresta também representava um
problema para diversas instituições
brasileiras diante de um cenário
perfeito para a atuação de ativida-
des ilícitas, como desmatamento,
queimadas, biopirataria e tráfico de
drogas, dentre outras. A integração
completa do território brasileiro
parecia um sonho distante, caro e
típico de filmes de ficção.
Parecia. Até o surgimento do
mais importante projeto governa-
Instalações do projeto SIVAM em Manaus
mental para a região: o Sistema de
Vigilância da Amazônia (SIVAM),

Galeria de Ministros

Tenente-Brigadeiro Tenente-Brigadeiro Tenente-Brigadeiro


De Out.1992 a Dez. 1994
De Mar. 1990 a Out.1992
De Mar. 1985 a Mar. 1990

OCTÁVIO SÓCRATES LÉLIO VIANA


JÚLIO MOREIRA DA COSTA LÔBO
LIMA MONTEIRO

34
uma complexa rede de radares, sa- território pelo Estado Brasileiro. levantamentos de campo em 1998,
télites e equipamentos de vigilância, O Projeto SIVAM foi apresen- quando o software de integração
controle e comunicação espalhados tado pela primeira vez, sem muito do sistema, o X-4000, desenvolvido
por nove Estados – Roraima, Amazo- alarde, na ECO-92, no Rio de Janeiro. pela indústria nacional entrou em
nas, Amapá, Acre, Rondônia, Mato A iniciativa coube à Secretaria de As- funcionamento. Todos os equipa-
Grosso, Pará, Maranhão e Tocantins. suntos Estratégicos, que apresentou mentos importados, como radares,
Na prática, pode-se dividir a uma exposição de motivos em par- aparelhos de telecomunicações e
Amazônia em antes e depois do SI- ceria com os Ministérios da Justiça e aeronaves de sensoriamento remo-
VAM. “Houve uma mudança signifi- da Aeronáutica – três personagens to chegaram ao Brasil até 1999. A
cativa não só no apoio ao transporte da administração pública bastante implantação e o funcionamento do
aéreo, mas também em se tratando influenciados em sua missão pelo SIVAM tiveram início em 2002, com
de vigilância ambiental, territorial, estado precário de vigilância e de a inauguração do Centro Regional
telecomunicações e proteção ao voo. presença oficial na Amazônia. de Vigilância de Manaus, depois de
E a Aeronáutica, por conta dos ativos No caso da Aeronáutica, em quatro anos de obra de infraestrutu-
de vigilância e defesa que estão sob razão da falta de estradas e da irre- ra e implantação dos radares.
sua guarda, está à frente deste pro- gularidade dos rios ao longo do ano, Em 2005, quando o projeto ficou
cesso, conribuindo decisivamente e controlar e vigiar o tráfego aéreo na pronto, o patrimônio público cons-
colaborando para ações coordena- região era consolidar as ações inicia- truído na Amazônia ao longo de
das do governo federal na região”, das nos anos 70, com a implantação quase dez anos foi distribuído entre
explica o assessor de Comunicação dos Centros Integrados de Defesa o Sistema de Proteção da Amazônia
Social do Departamento de Controle Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (SIPAM), ligado à Casa Civil, e o
do Espaço Aéreo (DECEA), Coronel- (CINDACTAs). Quarto Centro Integrado de Defesa
Aviador Paullo Sergio Barbosa O Ministério da Aeronáutica Aérea e Controle de Tráfego Aéreo
Esteves, que trabalhou no projeto ficou responsável pelo programa (CINDACTA IV), da Aeronáutica.
SIVAM. de implantação do SIVAM, que Dentro do projeto SIVAM, a
O projeto exigiu investimentos incluía as obras e equipamentos EMBRAER e a Força Aérea de-
da ordem de US$ 1,4 bilhões, neces- que compunham a infraestrutura do senvolveram uma aeronave-radar
sários para a criação de uma rede sistema. Para isso, em 1992, foi criada (E-99) e uma de sensoreamento
de equipamentos e infraestrutura a Comissão para Coordenação de remoto (R-99), com capacidade de
em uma região de 5,2 milhões de Implantação do Projeto do Sistema de gerar imagens, por exemplo, úteis
quilômetros quadrados. Basta ima- Vigilância da Amazônia (CCSIVAM). para o controle de desmatamentos
ginar que 32 países da Europa cabem Dois anos mais tarde, cerca de 60 e de carvoarias clandestinas, dentre
dentro da Amazônia. “Na verdade, empresas se candidataram ao projeto outras missões, independentemente
o investimento total acaba sendo e tiveram as propostas técnicas, de interferências meteorológicas.
baixo se levado em conta o custo comerciais e financeiras analisadas.
Fontes consultadas:
por quilômetro quadrado: US$ 270”, O Senado aprovou o financiamento
- A História da Defesa Aérea Na-
destaca o assessor. externo no mesmo ano.
cional. Revista Aeroespaço (DECEA),
Os recursos aplicados represen- O SIVAM começou a sair do pa-
maio 2010.
taram ainda incentivos para a indús- pel em 1997. O consórcio concluiu a
- Do CAN ao SIVAM – A FAB na
tria nacional e a reconquista daquele fase dos projetos de edificação e de
Amazônia, Carlos Lorch (2000)

Tenente-Brigadeiro Tenente-Brigadeiro
De Jan. 1995 a Nov. 1995

De Nov.1995 a Jan. 1999

MAURO JOSÉ LÉLIO VIANA


MIRANDA LÔBO
GANDRA

35
Aerovisão Histórica

Com a criação do CINDACTA IV,


todo o país recebeu cobertura radar
Antes do Sistema de Vigilância
da Amazônia (SIVAM), o transporte
aéreo na região Norte acontecia com
recursos limitados de comunicação,
com o suporte da carta de navega-
ção e identificação visual, ou seja,

DECEA
de modo convencional, com a pos-
sibilidade de enfrentar mudanças
repentinas de meteorologia e de não
encontrar dificuldade para chegar a
pistas alternativas caso tivesse algu-
ma emergência. No caso de acidentes
aeronáuticos, a floresta se transfor-
mava em um “inferno verde” em
operações de busca e salvamento.
A localização de aeronaves, em
uma região de baixa visibilidade e
com vegetação composta por árvores
de até 50 metros de altura, tornava a
operação extremamente difícil. Um Destacamento de controle do espaço aéreo construído durante o projeto SIVAM
dos casos mais famosos é o da aero-
nave C-47 da Força Aérea, ocorrido no horário estipulado e, quando se
em 1967. O avião foi encontrado no esgotasse o horário de autonomia
meio da floresta, perto da cidade de de voo, era iniciada a busca visual
Tefé (AM), após o piloto ter feito um de acordo com o plano de voo da
pouso de emergência. Foram 33 ae- aeronave. O esquadrão de busca
ronaves, 347 pessoas e mais de 1054 fazia a mesma rota da aeronave
horas de voo em uma operação que, desaparecida. Se ela não fosse encon-
entre a busca e o salvamento, durou trada, a rota era refeita e aumentado
quase 20 dias. o perímetro”, explica o comandante
“[Antes do SIVAM] As aerona- do Primeiro Esquadrão do Oitavo
ves não tinham o equipamento de Grupo de Aviação (1º/8º GAV),
localização via satélite. Se ela não Tenente-Coronel-Aviador Eduardo
chegasse, por exemplo, a Manaus Rodrigues da Silva.

Galeria de Ministros e Comandantes


Tenente-Brigadeiro Tenente-Brigadeiro
Dez. 1999 a Jan. 2003
De Jan. 1999 a Jun. 1999

Jun. 1999 a Dez. 1999

WALTER CARLOS DE
Comandante Aer.:

WERNER ALMEIDA
Comandante Aer.:

BRAÜER BAPTISTA

36
Rede de equipamentos alimenta banco
de dados para ações governamentais
Os equipamentos do SIVAM
coletam, processam e difundem

Reprodução
dados e informações para outros
órgãos governamentais da Ama-
zônia Legal – como a Polícia Fede-
ral, o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), a Fundação Nacional do
Índio (FUNAI) e a Aeronáutica. O
responsável por administrar esse
imenso banco de dados é o Sistema
de Proteção da Amazônia (SIPAM).
As informações processadas ajudam
a União, os Estados e os Municípios
em ações de preservação ambiental,
Rede de equipamentos do SIVAM que alimentam o banco de informações do SIPAM
de planejamento (planos diretores) e
de fiscalização, dentre outras. estações meteorológicas, radares ção. Os Estados da Amazônia Legal
Na época de sua criação, a Ama- transportáveis e fixos, e estações de também têm seus Centros Estaduais
zônia foi dividida em três áreas, os VHF. Essas unidades estão distribu- de Usuários. O objetivo é que as
Centros Regionais de Vigilância ídas na área de cada centro regional. prefeituras e os governos estaduais
(CRV) de Manaus (AM), Belém (PA) O trabalho em conjunto com as também tenham acesso aos dados e
e Porto Velho (RO). O Centro de prefeituras acontece por meio dos possam coordenar políticas públicas
Coordenação Geral fica em Brasília. cerca de 700 terminais de comunica- para a área.
O SIPAM ainda tem as suas
células operacionais, divididas em Aeronaves-radar e de sensoreamento apoiam o SIVAM
vigilância ambiental, aérea e territo-
rial, monitoração meteorológica e cli- Em 1997, a EMBRAER assinou
matológica, espectro eletromagnético acordo para a produção de aviões
e monitoração de comunicações, con- que pudessem fazer a vigilância
trole de tráfego aéreo, planejamento do espaço aéreo com radares trans-
e controle de operações em campo, portáveis para a Força Aérea: os
processamento de informações gerais modelos EMB-145-AS, os E-99, para
e atendimento aos usuários. R-99
vigilância aérea, e os EMB-145-RS, os
Para auxiliar a cobertura dos R-99, para o sensoriamento remoto.
radares fixos e móveis, existem As aeronaves são equipadas
equipamentos remotos, que são E-99
com modernos equipamentos, como
Fotos: SGT Johnson / FAB

responsáveis pela coleta e envio o radar PS-890 Erieye, capaz de de-


de informações, via satélite, para tectar aviões voando à baixa altura,
os CRV de sua área de atuação. As e sensores de última geração, como
unidades de apoio estão distribuídas radar de abertura sintética SAR, que
em 25 localidades, que contam com fornece imagens ewm tempo real.
equipamentos de telecomunicações,

37
Aerovisão Histórica

A década do futuro e da
solidariedade brasileira
Nos anos 2000, a Força Aérea Brasileira realizou as maiores operações de busca
e de ajuda humanitária de sua história; a instituição prepara “salto” tecnológico

Por Tenente-Jornalista Luiz Cláudio Ferreira


SGT Johnson / FAB
SD Silva Lopes / FAB

Operações complexas entraram para a história. À direita, durante enchentes no Nordeste, seguida pela busca ao AF-447 no Atlântico

A aeronave decola sem piloto, totalidade, sobretudo, emocionantes sônica, projeto para que o equipa-
Anos 2000

foguetes são lançados com regu- roteiros de ação. mento voe com uma velocidade seis
laridade, aviões estratégicos são pro- Uma nova família de foguetes vezes maior que a do som. O nome
duzidos e desenvolvidos pelo Brasil, - “Cruzeiro do Sul” -, movidos à da aeronave é 14X, numa referência
mísseis de última geração estão em combustível líquido está nascen- imediata ao primeiro mais pesado
pesquisa e já se testa a possibilidade do no Departamento de Ciência e que o ar que efetivamente decolou
do avião hipersônico, aquele que voa Tecnologia Aeroespacial (DCTA). O em 1906 pela genialidade e persis-
seis vezes a velocidade do som, den- Centro de Lançamento de Alcântara, tência de Alberto Santos Dumont.
tre outras novidades. Quem poderia no Maranhão, passou por profundas Em 2007, o Instituto de Estudos
imaginar, lá no início desta história, transformações para a retomada Avançados (IEAv) deu início aos
em 1941, que a Aeronáutica brasileira do projeto do Veículo Lançador de testes com um modelo experimen-
iria voar tão alto? Alguns cenários Satélites (VLS). tal reduzido do 14X, com 80 cm de
que edificam essa primeira década A Força Aérea Brasileira estuda comprimento, construído em aço
pareceriam, há alguns anos, filmes e faz sair do papel com testes em inoxidável, que é equipado com
de ficção científica. Mas são em sua túneis de vento uma aeronave hiper- sensores de pressão, fluxo de calor

38
Ten Silva / FAB

SGT Johnson / FAB

Cenários do presente com a face de futuro. A torre de lançamento de foguetes em Alcântara ladeada pela sala de controle do CINDACTA I

e força. De fato, a primeira década e de defesa civil. O projeto reúne as A-29 Super Tucano, de aviões de pa-
deste século tem sido próspera em Forças Armadas e a indústria na- trulha (P-3AM), de transporte (C-99,
cenas que fascinam os apaixonados cional e tem como objetivo domínio C-105 Amazonas), de helicópteros
pelas coisas do espaço. de tecnologias sensíveis utilizadas e (AH-2 Sabre, H-60 BlackHawk e
Outro estudo importante en- que representariam para o país, na H-36), além da modernização dos
volve o desenvolvimento do pri- prática, um ganho imensurável. F-5 E e dos A-1. Uma importante
meiro Veículo Aéreo Não-Tripulado Horizonte - O processo de rea- parceria está em curso com a indús-
(VANT) brasileiro, capaz de apoiar parelhamento caminha com a aqui- tria brasileira (EMBRAER) para o
missões militares e civis, principal- sição de novos caças para a defesa desenvolvimento de uma aeronave
mente na área de segurança pública do país (Projeto F-X2), de aeronaves de transporte de grande porte, o KC-

Na era da solidarie-
SD Delgado / FAB

dade, populações
acostumaram-se a
olhar para cima, de
onde viria ajuda.
Seja no Piauí (foto)
ou no Haiti, apoio
permanente

39
Aerovisão Histórica

390, projeto que já reúne diversos Centro de Lançamento da Barreira Missão Centenário: O 1º
países como parceiros. do Inferno (CLBI) são tidos como brasileiro chega ao espaço
O Brasil integra o seleto grupo referencias no mundo não só para
de nações que está à frente do siste- propiciar o voo de foguetes, mas
ma que irá revolucionar o controle também para rastrear equipamen-
de tráfego aéreo no mundo, com a tos do mundo inteiro que passam
criação do espaço aéreo contínuo pelo espaço brasileiro. As organi-
zações atuam em cooperação para

Arquivo
(CNS-ATM) gerenciado com o apoio
de satélites. Esse sistema, em inglês, o desenvolvimento da pesquisa
reunirá Comunicação (C), Navega- aeroespacial.
ção (N), Vigilância (S) e Gerencia- Rastrear, por exemplo, significa
mento de Tráfego Aéreo (ATM). Em acompanhar com equipamentos
auditoria da Organização de Aviação extremamente modernos para que
Civil Internacional (OACI), o servi- os voos aconteçam dentro do pre- O ano de 2006 foi histórico. O
ço prestado pelo Departamento de visto. Os lançamentos de foguetes então Tenente-Coronel-Aviador
Controle do Espaço Aéreo Brasileiro brasileiros VSB-30 foram realizados Marcos Cesar Pontes (foto) tornou-
(DECEA) foi avaliado como um dos em 2004 com o objetivo de realizar se o primeiro astronauta brasileiro
cinco melhores do mundo. experimentos diversos em ambientes a chegar ao espaço. A Missão Cen-
Os anos 2000, de fato, sinalizam com menos força da gravidade. Che- tenária, que recebeu o nome em
a alta tecnologia como essencial ga a seis vezes a velocidade do som. homenagem aos 100 anos do voo do
para o futuro. Nesse filme tão real, A cada lançamento, militares e cien- primeiro avião, o 14-Bis de Alberto
tão brasileiro, são as iniciativas das tistas brasileiros são beneficiados Santos Dumont, começou em 29 de
pessoas as grandes heroínas. O pro- com os conhecimentos adquiridos. março daquele ano, no Cosmódromo
tagonista chama-se profissionalismo. de Baikonur, no Cazaquistão.
A defesa do país exige cada vez mais Futuro - Nos últimos anos, a ins- A bordo da Soyuz russa, o mili-
tecnologia, como demonstrado pelas tituição também concluiu seu Plano tar brasileiro, o russo Pavel Vinogra-
aeronaves R-99 durante as buscas Estratégico Militar da Aeronáutica dov e o americano Jeffrey Williams,
dos destroços do voo AF-447: com (PEMAER), de forma a traçar, meto- foram enviados para a Estação
sensores de última geração, a Força dicamente, como será a Força Aérea Brasileira Internacional (ISS). Na
Aérea pôde prosseguir com as bus- Brasileira até 2031 e o que a insti- bagagem do primeiro astronauta do
cas, no meio do Atlântico, até mesmo tuição terá de fazer pelos próximos Brasil, seguiram para o espaço expe-
durante a noite, auxiliando na opera- 20 anos para chegar a esse objetivo. rimentos selecionados pela Agência
ção de resgate. O avião em questão “A FAB será reconhecida, nacional e Espacial Brasileira.
é brasileiro, criado em parceria com internacionalmente, pela sua pron- Quando voltou ao Brasil, foi
a indústria nacional. tidão e capacidade operacional para recebido como herói. “Foi na FAB
defender os interesses brasileiros em que aprendi a voar e a querer coo-
Espaço - Nesse cenário futurista, qualquer cenário de emprego, em perar com esse tipo de trabalho. Ser
tanto o Centro de Lançamento de estreita cooperação com as demais astronauta foi uma consequência da
Alcântara, no Maranhão, como o forças”, afirma o documento. minha trajetória”, disse.

Galeria de Comandantes
Tenente-Brigadeiro Tenente-Brigadeiro Tenente-Brigadeiro
Comandante Aer.:
Jan. 2003 a Fev. 2007
Dez. 1999 a Jan. 2003

Desde Fev 2007

CARLOS DE LUIZ CARLOS JUNITI SAITO


Comandante Aer.:

Comandante Aer.:

ALMEIDA DA SILVA BUENO


BAPTISTA

40
Exercício Cruzeiro do Sul (CRUZEX) ajudou a revolucionar o emprego da FAB
“Em menos de dez anos a Força
Aérea Brasileira modificou totalmen-
te a sua forma de empregar o poder
aeroespacial. Até então, operávamos
de forma semelhante ao que foi
empregado no Vietnã e em outros
conflitos das décadas de 70 e 80”,
afirma o Tenente-Brigadeiro-do-Ar
Gilberto Antonio Saboya Burnier,
hoje à frente do Comando-geral de
Operações Aéreas (COMGAR), ao fa-
lar da importância dos conhecimen-
SGT Johnson / FAB

tos adquiridos com a realização das


cinco edições do Exercício Cruzeiro
do Sul (CRUZEX). A primeira edição
do treinamento aconteceu em 2002.

A primeira turma de
cadetes-aviadoras da
Força Aérea Brasileira
Arquivo

Elas ganharam os céus...


Pouso autorizado. Chega o As primeiras ingressaram na das, pelo exercício de campanha e
avião, que taxia até o hangar. Quem Academia da Força Aérea em 2003, pela instrução teórica e prática do
pilota tira as luvas, desembarca e fato inédito para a aviação militar voo, além da instrução acadêmica
retira o capacete. Cabelo preso e do país. Eram 20 oportunidades, que oferecida pela Academia da Força
alegria por mais uma missão cum- foram preenchidas depois de concur- Aérea, em Pirassununga (SP).
prida. Cenas como essa tornaram- so com uma relação candidato-vaga Da primeira turma, onze con-
se comuns desde que as primeiras em torno de 150 candidatos para cluíram o curso. As aviadoras já
cadetes aviadoras começaram a voar. cada vaga. chegaram à aviação de caça, de
A Força Aérea Brasileira já conta com Na caminhada, passaram pelo transporte, de reconhecimento e de
18 tenentes e 29 cadetes. salto de emergência com paraque- asas rotativas.
41
Aerovisão Histórica

Tempos da solidariedade
e de grande mobilização

Nos anos 2000, a Força Aérea realizou


as maiores operações de resgate e de
ajuda humanitária de sua história; Missões
aconteceram no Brasil, no Líbano, no Haiti,
no Chile e em diversos países para os quais
a nação enviou socorro e apoio
SD Silva Lopes / FAB

Para quem viveu, houve dias entre as 154 pessoas a bordo do voo até a África. A aeronave desapareceu
em que não parecia restar nada. Para 1907. O acidente ocorreu no dia 29 no dia 31 de maio de 2009. Depois
quem viveu em perda, é como se a de setembro e os destroços foram que os corpos foram encontrados,
luz tivesse desaparecido. Solidarie- encontrados no dia seguinte. Calor foi realizada também uma complexa
dade foi a luz que conduziu homens intenso, mata fechada, um grande operação de transporte, do mar para
e mulheres para minimizar dores. raio de ação, insetos, isolamento, o navio, do navio até Fernando de
Nessa época, ocorreram operações cansaço, mais de mil horas de voo Noronha, e do Arquipélago até o
militares que entraram para a história – o equivalente a 41 dias e meio no continente.
e que permanecerão intocadas ainda ar de modo ininterrupto - , com 15 Em 2006, quando eclodiu a guer-
que com o avançar do tempo. Quando aeronaves, para auxiliar a sociedade ra entre Líbano e Israel, aeronaves
a terra treme, um avião desaparece, a reaver os seus mortos. Ninguém militares e civis, mobilizadas pelo
uma cidade é alagada ou uma floresta ficou para trás. Ministério da Defesa, estabeleceram
se desfaz, só se pode contar com a aju- Três anos mais tarde, outra ae- uma verdadeira ponte-aérea entre
da dos outros. Foi assim que homens, ronave desapareceu em outra área o Brasil e a Turquia, destino final
mulheres e aeronaves da Força Aérea hostil, no meio do Oceano Atlântico. dos comboios terrestres organiza-
Brasileira (FAB) quebraram recordes A bordo do voo AF-447, 228 pessoas dos pelo Ministério das Relações
de mobilização e de dedicação, no e novamente nenhum sobrevivente Exteriores do Brasil. Mais de 1.800
Brasil e no exterior. encontrado. Na missão, mais de brasileiros foram resgatados. No
Em 2006, a missão era encon- 1.500 horas de voo e a atuação di- segundo dia do cessar-fogo, uma
trar uma aeronave desaparecida da reta de mais de mil profissionais da C-130 Hércules pousou em Beirute
Amazônia. A partir dali, montou-se Aeronáutica e da Marinha. Ficou carregado com ajuda humanitária.
a maior operação de busca e resgate conhecida como a maior operação de Enchentes - No Brasil, cheias em
em solo brasileiro da história. Os busca e resgate da história do país, diversas regiões mobilizaram a FAB
militares envolvidos na ação amar- tendo em vista as imensas dificul- para o transporte de alimentos e re-
garam a dor de descobrir, horas mais dades de atuar numa área que seria médios, resgate de vítimas e socorro
tarde, que não havia sobreviventes praticamente a metade de distância aos doentes. A operação mais difícil

42
FAB
Lopes /
SD Silva
B

Helicóptero H-60 no Chile;


ilva / FA

médicos trabalhando no socorro


às vítimas do terremoto no Haiti;
Ten S

alimentos e medicamentos
chegam ao Líbano em aeronave
C-130 Hércules da Força Aérea

foi em cidades de Santa Catarina, em das de alimentos e medicamentos. zado é que a Força Aérea Brasileira
2008. Foram cumpridas mais de 500 Duas mil pessoas foram resgata- transportou mais de 1.300 toneladas
missões com helicópteros e aviões, das. “Nem o povo, nem o governo de carga e 2.329 passageiros em
particularmente na região do Vale do da Bolívia, nem eu, Evo Morales, apoio à Operação. O Hospital de
Itajaí, uma das áreas mais afetadas vamos esquecer o que esses brasi- Campanha (HCAMP) totalizou 9.718
pelas cheias. Além da atuação das leiros fizeram por nós”, afirmou o atendimentos clínicos e 218 cirurgias
unidades aéreas, a equipe do Hospital presidente daquele país, em uma em Porto Príncipe.
de Campanha da Aeronáutica aten- das muitas ocasiões em que elogiou No mesmo ano, a FAB partiu
deu mais de três mil pessoas. publicamente o apoio do Brasil. com dois helicópteros H-60 Black
Em 2009 e 2010, a FAB voltou a Terremotos – Em 2008, a FAB foi Hawk para o Chile. O país também
atuar de forma decisiva para diminuir encarregada de transportar alimen- foi vítima do terremoto e os militares
os impactos de enchentes, dessa vez, tos e remédios para a cidade de Pis- atuaram no transporte de alimentos
na Região Nordeste, no Maranhão, co, no Peru, fato que fez a diferença e no resgate de vítimas.
Piauí, Alagoas e Pernambuco. Na em um local devastado com mais de Cada missão dessas trouxe um
ocasião, os militares a bordo dos heli- 500 mortos. Outras cidades próximas sem-número de necessidades, apren-
cópteros voltaram a resgatar pessoas também foram vítimas da catástrofe. dizados e situações inesperadas.
de telhados de casas ou de cima de Mas nenhum ano na história Ao longo da década, as aeronaves
árvores. O Hospital de Campanha moderna sofreu tanto com tremores cortaram o mundo levando ajuda a
foi instalado na cidade de Barreiros de terra como o de 2010. Particu- países necessitados, como Zâmbia
(PE) e superou seis mil atendimentos. larmente por causa da tragédia no e Moçambique, na África, entre ou-
Em 2007, a Força Aérea já ha- Haiti. Foram mais de 300 mil mortos. tros. Cada missão levou os militares
via atuado na Bolívia, em uma das A solidariedade mundial se encon- a se defrontar com cenários tristes
maiores enchentes daquele país. trou naquele país. O Brasil chegou lá e inimagináveis. Cada missão fez
Ao longo de mais de dois meses pelas asas da FAB, que realizou uma também com que os militares rece-
de operação, a FAB e o Exército ponte aérea de transporte de vários bessem abraços, sorrisos e agradeci-
transportaram mais de cem tonela- gêneros. O que pode ser contabili- mentos. Isso jamais será esquecido.

43
PERSONALIDADES DA HISTÓRIA

Marechal-do-Ar Eduardo Gomes Brigadeiro-do-Ar Nero Moura Marechal-do-Ar


Patrono da Força Aérea Brasileira Patrono da Aviação de Caça Brasileira Casimiro Montenegro Filho
Patrono da Engenharia da Aeronáutica

Proclamado Patrono da Força Aé- Com a criação do Ministério da Em 1923, ingressou na Escola Mi-
rea Brasileira, segundo a Lei no 7.243 Aeronáutica e da Força Aérea Brasi- litar do Realengo, no Rio de Janeiro.
de 6 de novembro de 1984. leira em 1941, Nero Moura participou Participou ativamente da criação do
Em 1927, quando da criação da de sua organização. Em 1943, foi desig- Correio Aéreo Militar. Sempre de-
Arma de Aviação, compôs a Primeira nado Comandante do Primeiro Grupo monstrou forte vocação de pioneiro
turma de oficiais. Foi o primeiro Co- de Aviação de Caça com a missão de e visionário. Acreditava na força da
mandante do Grupo Misto de Avia- organizá-lo para combater na Segunda educação como ferramenta de desen-
ção, no Campo dos Afonsos (1931), Guerra Mundial. Seu desempenho volvimento. Dedicou-se à construção
no Rio de Janeiro. Em 12 de junho de como comandante foi excepcional e, de bases para atividades industriais
1931, realizou voo da primeira linha apesar de inúmeras dificuldades, con- aeronáuticas no país, já pensando em
do Correio Aéreo Militar, o atual Cor- seguiu que o seu grupo fosse um dos um futuro parque nacional.
reio Aéreo Nacional (CAN). mais eficientes e destacados no teatro Em 1938, concluiu o curso de
Com a criação do Ministério do de operações do centro sul europeu. engenheiro militar na Escola Técnica
Aeronáutica, foi transferido para a Além de comandar, Nero Moura do Exército, atual Instituto Militar de
Força Aérea Brasileira e, em 1941, as- cumpriu sessenta e duas missões de Engenharia. Em 1943, assumiu a Dire-
sumiu o Comando da 2ª Zona Aérea, combate na Itália e várias outras de pa- toria Técnica da Aeronáutica, quando
tendo participado da organização e trulha no Atlântico Sul. No retorno ao começou a pensar que somente seria
construção das bases aéreas utilizadas Brasil, depois da guerra, foi designado possível construir uma indústria
na Segunda Guerra Mundial. Pelos Comandante do Primeiro Regimento aeronáutica no país com a criação de
seus serviços à causa aliada durante de Aviação em Santa Cruz. escolas capazes de formar e preparar
o conflito, recebeu honrosa citação do Ao ser eleito Presidente da Repú- profissionais de alto nível. Trabalhou
governo americano que, em agosto blica, Getúlio Vargas o convidou para pela criação do Instituto Tecnológico
de 1943, outorgou-lhe a Comenda da ser Ministro da Aeronáutica em 1951. (ITA) e do Centro Técnico de Aero-
Legião do Mérito. Foi o oficial general mais jovem da náutica (CTA).
Ocupou duas vezes o Ministério Força Aérea a assumir o comando da Pelos notáveis feitos em favor
da Aeronáutica: no Governo Café Fi- instituição. Em sua gestão, a aviação da ciência, foi agraciado com o título
lho (1954 - 955) e no Governo Castelo de caça brasileira recebeu os jatos in- Doutor Honoris Causa pelo ITA e,
Branco (1965 - 1967). Foi presidente da gleses Gloster Meteor, dando início a em 200l, recebeu como homenagem
Comissão Militar Mista Brasil-Estados uma nova fase para a aviação militar póstuma o título de Patrono da Área
Unidos. brasileira. de Engenharia Aeronáutica.

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DA FORÇA AÉREA
Brasília - DF Ano XXXVII - Ed. Histórica
70 anos do Ministério da Aeronáutica
e da Força Aérea Brasileira
Janeiro 2011 - nº 229

Revista oficial da Força Aérea Brasileira, produzida


pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica
(CECOMSAER). Circulação dirigida (no país e no
exterior). Veja edição eletrônica: www.fab.mil.br

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.

Redação, diagramação e administração:


Divisão de Produção e Divulgação

Distribuição: Divisão de Relações Públicas

Tiragem: 20.000 exemplares


Dr. Joaquim Pedro Salgado Filho
Primeiro Ministro da Aeronáutica Conselho Editorial: Coronel Marcelo Kanitz
Damasceno; Coronel Sun Rei Von, Coronel Henry
Munhoz Wender, Tenente-Coronel Marcelo Luis Freire
Cardoso Tosta, Tenente-Coronel Alexandre Emílio
No ato da criação do Ministério Spengler e Major Aloísio Secchin Santos
da Aeronáutica, assumiu a pasta
por indicação do presidente Getúlio Chefe Interino do CECOMSAER: Coronel Marcelo
Kanitz Damasceno
Vargas para dirigir os destinos da
aviação militar e civil no país durante Chefe da Divisão de Produção e Divulgação: Tenente-
a Segunda Guerra Mundial. Coronel Marcelo Luis Freire Cardoso Tosta
Ocupou cargos de grande impor-
Editores: Tenente Luiz Claudio Ferreira e Tenente
tância na vida pública do país. Foi Alessandro Silva
Ministro do Trabalho (1932 a 1935),
Deputado Federal (1937), Ministro Repórteres: Tenente Luiz Claudio Ferreira, Tenente
Alessandro Silva, Tenente Adriana Alvares, Tenente
do Superior Tribunal Militar (1938 a
Marcia Silva, Tenente Flávia Sidônia Camargos Pereira,
1941), Ministro da Aeronáutica (1941 Tenente Flávio Hisakasu Nishimori, Tenente Humberto
a 1945) e Senador pelo Rio Grande do Leite, Tenente Raquel Sigaud e Tenente Carla Dieppe.
Sul de (1945 a 1950).
Jornalista Responsável: Tenente Luiz Claudio Ferreira.
Reorganizador do setor aero-
Registro Profissional: MTB - 2758 - PE
náutico, foi durante a sua gestão que
a FAB se engajou na proteção aérea Diagramação e arte gráfica: Tenente Alessandro
à navegação costeira, criou as Bases Silva, Sargento Jobson Augusto Pacheco, Sargento
Aéreas de Recife (1941), Natal (1942) Bianca Amália Viol, Sargento Jéssica de Melo Pereira,
Sargento Daniele Teixeira de Azevedo, Cabo Lucas
e Salvador (1942), as Zonas Aéreas,
Maurício Alves Zigunow e Soldado Paulo Sérgio
SO Pietro / EDA

o Corpo de Oficiais com seus vários Rodrigues Rocha Filho


Quadros; aprovado o Regulamento
do Tráfego Aéreo e criado o 1º Gru- Os textos e fotografias são de exclusiva responsabilidade de seus
autores. Estão autorizadas transcrições integrais ou parciais das
po de Aviação de Caça, a unidade
matérias publicadas, desde que mencionada a fonte.
aérea que, com a 1ª Esquadrilha de
Ligação e Observação, participou Comentários e sugestões de pauta sobre aviação
da campanha da Itália. Revelou-se militar devem ser enviados para:
Esplanada dos Ministérios - Bloco “M” - 7º andar
grande administrador, conseguindo
CEP - 70045-900 - Brasília - DF
encontrar soluções adequadas para E-mail: redacao@fab.mil.br
os complexos problemas existentes.
Impressão: Gráfica, Editora e Papelaria Impressus Ltda
ME - Formosa - GO

Saiba mais: www.fab.mil.br (personalidades) 45

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