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APOSTILA “5”

DE
TÍTULOS DE
CRÉDITO

Tema : DUPLICATA

Material de apoio para a disciplina “Direito Empresarial”

Elaborado por : Denis Domingues Hermida

OBSERVAÇÃO: A redação dessa apostila é feita com base nas obras de


Fabio Ulhoa Coelho (“Curso de Direito Comercial – volume 1”), de
Gladston Mamede (“Títulos de Crédito”), de Amador Paes de Almeida
(“Teoria e Prática dos Títulos de Crédito”), de Waldirio Bulgarelli
(“Títulos de Crédito”) e de Fran Martins (“Títulos de Crédito – Letra de
Câmbio e Nota Promissória”), além de apontamentos pessoais do seu
elaborador
CAPÍTULO I

CONCEITO DE “DUPLICATA”

A duplicata é um título de criação genuinamente brasileira


com características próprias que chegou a ser considerada título sui generis.
Representando o crédito pelo fornecimento de mercadorias ou prestação de
serviços1.
A expressão duplicata em si não significa que seja cópia ou
duplicata de outro documento (nem mesmo da fatura), mas adquiriu significado
próprio, expressando o documento emitido com base numa fatura, conforme
dispõe o artigo 2º da Lei 5.474, de 18 de julho de 1968, que rege a duplicata no
Brasil2.

A duplicata é um título que é emitido pelo credor, declarando


existir, a seu favor, um crédito de determinado valor em moeda corrente, fruto –
obrigatoriamente – de um negócio empresarial subjacente de compra e venda de
mercadorias ou de prestação de serviços, cujo pagamento é devido em
determinada data (termo)3.
Entende Gladston Mamede que a declaração da existência do
crédito se faz contra o devedor indicado e a favor do próprio emitente, razão pela
qual não há nesse caso uma promessa de pagamento. Ao criar a duplicata e
mantê-la em sua contabilidade como crédito, isto é, parte do patrimônio bruto
(ativo), o credor nada promete, apenas declara. Somente se põe o título em
circulação se o endossa a outrem, sua declaração assume o contorno de uma
promessa, que é, contudo, aferível mais no ato jurídico de endossar do que no ato
de emitir.

Amador Paes de Almeida ensina que a duplicata, num


enunciado simples, pode ser conceituada com um título de crédito que emerge de
uma compra e venda mercantil ou da prestação de serviços4, na forma do que
dispõem os artigos 2º e 20 da Lei 5.474/68, in verbis:

Lei 5.474/68. Art. 2º. “No ato da emissão da fatura, dela poderá
ser extraída uma duplicata para circulação como efeito comercial,
não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito
para documentar o saque do devedor pela importância faturada ao
comprador (...)

1
BULGARELLI, Waldirio. Títulos de crédito. São Paulo: Atlas, 1995, 11a edição atualizada, p. 399
2
Idem
3
MAMEDE, Gladston. Títulos de crédito: de acordo com o novo código civil, Lei 10.406, de 10-01-
2002. São Paulo: Atlas, 2003, p.301
4
ALMEIDA, Amador Paes. Teoria e prática dos títulos de crédito. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 74
Lei 5.474/68. Art. 20. “As empresas, individuais ou coletivas,
fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de
serviços, poderão, também, na forma desta Lei, emitir fatura e
duplicata.”

A duplicata é um título de crédito causal, no sentido de que a


sua emissão somente pode ocorrer na hipótese autorizada pela lei: a
documentação de crédito nascido da compra e venda mercantil ou da prestação de
serviços.

Analisando a duplicata frente à letra de câmbio, tem-se que,


apesar de manterem-se alguns traços com a letra de câmbio, a duplicada dela se
distingue por ter a sua origem necessariamente presa a um contrato mercantil de
compra e venda ou de prestação de serviço – disso decorrendo sua natureza
causal.

CAPÍTULO II –

CONCEITO DE FATURA

A fatura é uma nota do vendedor, descrevendo a mercadoria,


discriminando a sua qualidade e quantidade, fixando-lhe o preço. É, portanto,
uma prova do contrato de compra e venda mercantil. A fatura também pode ser
emitida na prestação de serviço, sendo que, nesse caso, a fatura deverá
discriminar a natureza dos serviços prestados.

De acordo com a legislação em vigor, em especial do artigo


1º da Lei 5.474/68, nos contratos de compra e venda mercantil, com prazo não
inferior a 30(trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das
mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao
comprador.

Lei 5.474/65. Art. 1º. “Em todo o contrato de compra e venda


mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro, com
prazo não inferior a 30(trinta) dia, contado da data da entrega ou
despacho das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura
para apresentação ao comprador.

§1º. A fatura discriminará as mercadorias vendidas ou,


quando convier ao vendedor, indicará somente os número e
valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas,
despachos ou entregas das mercadorias.”
Quanto ao conteúdo da fatura, o citado artigo 1º ao impor
que a fatura deverá conter:

- discriminação das mercadorias vendidas (ou discriminação do serviço prestado)


- preço das mercadorias (ou preço do serviço prestado)
- quantidade de mercadorias

CAPÍTULO III

A NORMATIZAÇÃO DAS DUPLICATAS

O regime cambial das duplicatas é norteado por Lei


específica, que é a Lei 5.474/68 e também, de forma subsidiária (naquilo que for
omissa a lei específica), pelo Código Civil.

CAPÍTULO IV

REQUISITOS DAS DUPLICATAS

O artigo 2º, §1º, da Lei 5.474/68 (Lei da Duplicata)


determina os requisitos essenciais da duplicatas, quais sejam:

1- a denominação “duplicata”, a data de emissão e o número de ordem


2-o número da fatura
3- a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista
4- o nome e domicílio do vendedor e do comprador
5- importância a pagar, em algarismos e por extenso
6- a praça de pagamento
7- a cláusula à ordem
8- a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a
ser assinada pelo comprador, como aceite cambiário
9- a assinatura do emitente

Importante acentuar-se, em especial para compreensão dos


requisitos “1” e “2”, que a Lei da Duplicata (Lei 5.474/68) impõe no seu artigo
19 o Livro de Registro de Duplicatas, onde serão escrituradas, cronologicamente,
todas as datas de sua expedição, nome e domicílio do comprador, anotações das
reformas, prorrogações e outras circunstâncias necessárias.
CAPÍTULO V

AS SITUAÇÕES JURÍDICAS

A emissão de uma duplicata dá oritem a 2(duas) situações


jurídicas obrigatórias, que são a:

- a do vendedor ou prestador de serviço (sacador)

- a do comprador ou beneficiário dos serviços (sacado)

Eventualmente também uma duplicata pode ter as figuras do


avalista, do endossante e do endossatário.

Citando Amador Paes de Almeida, temos que intervêm, em


princípio, na duplicata, o vendedor e o comprador, ou a empresa prestadora de
serviços e o que se utiliza desses serviços. O primeiro, isto é, o vendedor, há de
ser sempre empresário (empresário individual ou sociedade empresária). Só estes
podem emitir duplicata, sendo nulo o título emitido por quem não se revestir
dessas condições. O comprador ou o que se utiliza dos serviços prestados é quem
aceita a duplicata, obrigando-se pelo seu resgate, na época do pagamento.

As duas figuras intervenientes acima mencionadas, sacador e


sacado, são imprescindíveis à existência da duplicata, muito embora possa essa
existir com ou sem o aceite do devedor.

CAPÍTULO VI

O ACEITE NA DUPLICATA

De acordo com a sistemática da Lei 5.474/68, o empresário,


ao realizar qualquer venda de mercadorias, deve extrair a fatura ou nota fiscal-
fatura. Nos dois casos, ele elabora documento escrito e numerado em que
discrimina as mercadorias vendidas, informando quantidade, preço unitário e
total. A duplicata será emitida com base nesse instrumento (fatura).
Para o direito comercial, é irrelevante se o instrumento é
fatura ou nota fiscal-fatura, sevindo ambas à finalidade de preparar a criação da
duplicata.
Emitida a fatura, no mesmo ato poderá ser extraída a
duplicata, obedecido o padrão fixado pelo Conselho Monetária Nacional (Lei das
Duplicatas, art. 27 e Resolução 102/68 do Banco Central).

Nos 30 dias seguintes à emissão, o sacador deve remeter a


duplicata ao sacado. Se o título é emitido à vista, o comprador, ao recebe-lo, deve
proceder ao pagamento da importância devida; se a prazo, ele deve assinar a
duplicata no campo próprio para aceite, e restituí-la ao sacador, em 10 dias. Isto,
por evidente, se não existirem motivos para a recusa do aceite, hipótese em que a
duplicata é devolvida ao vendedor acompanhada da exposição dos motivos, como
determina o art. 7º, §1º, da LD.

LD. Art. 7º. A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida
pelo comprador ao apresentante dentro do prazo de 10(dez) dias,
contados da data de sua apresentação, devidamente assinada ou
acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta de
aceite.

§1º. Havendo expressa concordância da instituição financeira


cobradora, o sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data do
vencimento, desde que comunique, por escrito, à apresentante, o aceite
e a retenção.

§2º. A comunicação de que trata o parágrafo anterior substituirá,


quando necessário, o ato de protesto ou na execução judicial, a
duplicata a que se refere.

Ressalte-se, contudo, que a recusa do aceite da duplicata não


pode ocorrer por simples vontade do sacado. Quem recebe, como destinatário da
ordem de pagamento, uma letra de câmbio para aceite, pode recusar-se a assumir
a obrigação cambial, ainda que o emitente do título seja seu incontestável credor.
Quer dizer, o sacado da letra de câmbio pode negar-se a documentar sua dívida
por título de circulação de boa-fé. A mesma prerrogativa não é dada ao
destinatário da duplicata, já que circunscreve a lei as hipóteses únicas em que a
recusa do aceite é admissível, conforme artigo 8º da LD:

LD. Art. 8º. “O comprador só poderá deixar de aceitar a


duplicata por motivo de:

I- avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não


expedidas ou não entregues por sua conta e risco;

II- vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na


quantidade das mercadorias, devidamente comprovados;

III- divergência nos prazos ou nos preços ajustados.”


Fora dessas hipóteses, a vinculação do sacado ao título de
crédito independe de sua vontade, posto que previamente definida pelo direito.

Assim, o aceite da duplicata é obrigatório porque, se não há


motivos para a recusa das mercadorias enviadas pelo sacador, o sacado se
encontra vinculado ao pagamento do título, mesmo que não o assine.

Aceite obrigatório, portanto, não é o mesmo que irrecusável.


Quando o vendedor não cumpriu satisfatoriamente suas obrigações, o comprador
pode se exonerar do cumprimento das suas. A recusa do aceite cabe nessa
situação. Mas, se houve satisfatória execução do contrato pelo devedor, a emissão
da duplicata é suficiente para vincular o comprador ao seu pagamento,
dispensando-se a assinatura no título, para a formalização do aceite.

VI – A COBRANÇA E A PRESCRIÇÃO NA DUPLICATA

Tanto a forma de cobrança judicial quanto os prazos prescricionais


vinculados às duplicatas encontram-se especificados nos artigos 15 a 18 da Lei
5.474/68, abaixo transcritos:

Lei 5.474/68

Capítulo V
Do Processo para Cobrança da Duplicata

Art. 15. A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade


com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II
do Código de Processo Civil ,quando se tratar:
I - de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não;
II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente:
a) haja sido protestada;
b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da
mercadoria;
c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condições e
pelos motivos previstos nos artigos 7º e 8º desta Lei.
§ 1º Contra o sacador, os endossantes e respectivos avalistas caberá o processo de
execução referido neste artigo, quaisquer que sejam a forma e as condições do protesto.
§ 2º Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata ou triplicata não
aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada mediante indicações do credor ou
do apresentante do título, nos termos do Art. 14, preenchidas as condições do inciso II
deste artigo.
Art. 16. Aplica-se o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil à
ação do credor contra o devedor, por duplicata ou triplicata que não preencha os
requisitos do art. 15, incisos I e II, e §§ 1º e 2º, bem como à ação para ilidir as razões
invocadas pelo devedor para o não aceite do título, nos casos previstos no art. 8º.

Art. 17. O foro competente para a cobrança judicial da duplicata ou da triplicata é o da


praça de pagamento constante do título, ou outra de domicílio do comprador e, no caso
de ação regressiva, a dos sacadores, dos endossantes e respectivos avalistas.

Art. 18. A pretensão à execução da duplicata prescreve:


I - contra o sacado e respectivos avalistas, em 3 (três) anos, contados da data do
vencimento do título;
II - contra endossante e seus avalistas, em 1 (um) ano, contado da data do protesto;
III - de qualquer dos coobrigados contra os demais, em um (1) ano, contado da data em
que haja sido efetuado o pagamento do título.

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