Professional Documents
Culture Documents
2 CORÍNTIOS
Autoria
Não há qualquer dúvida sobre o fato de que o apóstolo Paulo foi o autor dessa segunda carta
endereçada à Igreja em Corinto.
Alguns meses depois de escrever 1 Coríntios, Paulo decidiu que era necessário realizar um encontro
pessoal aos irmãos coríntios, mesmo que essa visita fosse representar um momento doloroso para
todos, era imperioso que acontecesse urgente. Os problemas e desvios doutrinários apontados por
Paulo, em sua primeira carta, ainda não haviam sido corrigidos (2Co 2.1; 12.14; 13.1-2).
Houve, ainda, uma terceira carta, enérgica e pesarosa (2.4), mas, segundo a providência divina,
perdeu-se no tempo e no espaço sem jamais ter feito parte do cânon neotestamentário. Alguns
historiadores e teólogos sugerem que os capítulos 10 a 13 poderiam ser parte da carta “corretiva ou
severa”, contudo não há qualquer evidência real em favor de tal divisão em 2 Coríntios.
Propósitos
Essa é uma epístola apostólica enérgica e corajosa. O principal objetivo de Paulo, claramente
expresso pela maneira fraternal, mas firme, com que profetiza a verdade e aplica a Palavra de Deus,
é evitar que falsos mestres, que haviam se infiltrado na igreja, minassem a pureza do cristianismo,
contestando sua integridade pessoal e autoridade apostólica.
Paulo não escreve como mero líder autoritário, temeroso pela possível perda de sua posição
de comando, mas sim como verdadeiro pai espiritual dos cristãos de Corinto, aos quais amava
profundamente e se preocupava em que tivessem o maior e melhor crescimento espiritual,
alimentando-se da verdade bíblica e livres das ideologias pagãs, místicas e judaizantes que se
propagavam por toda a Corinto da época.
A situação da Igreja em Corinto era de tamanha carnalidade e desrespeito às autoridades espiritu-
ais que Paulo precisou falar sobre sua própria pessoa e testemunho imaculado em Cristo. Embora
tivesse apelado para o próprio conhecimento pessoal e íntimo que os coríntios tinham dele e de
seu caráter, e ainda que tivesse recordado os enormes sofrimentos incorridos com o objetivo de
levar-lhes a mensagem regeneradora e salvadora do Senhor, ele agiu com sensível humildade, trans-
parência e sinceridade, expressando muitas vezes seu embaraço com a necessidade de evidenciar
tais aspectos da sua vida e ministério em Cristo. Por todo o texto desta notável e rica epístola, per-
cebemos a mais elevada dignidade, devoção, fé serena e inabalável, bem como a mais autêntica e
intensa paixão do pastor por seu Deus e povo.
Paulo tem a coragem de se apresentar aos seus leitores como o mais fraco e inútil dos homens,
exemplo dos pecadores, mas perfeitamente consciente que é justamente por meio dessa fragilidade
humana que o amor e o poder de Cristo se revelam ao mundo como fruto da Graça, soberana,
infalível e perene de Deus (12.9).
Esta epístola apostólica se aplica aos nossos dias em que o estrelato “gospel” parece ofuscar o
brilho sublime e poderoso da glória de Deus nos homens de fé. Por isso, seu estudo e aplicação
prática são mais do que oportunos. Sua nota especial está sobre a doutrina da reconciliação em
Cristo; e seu tema de glória, por meio do sofrimento consciente, sincero e dedicado, que significa
uma verdadeira renovação da visão e da vitalidade do povo de Deus.
1 Paulo reivindica sua plena autoridade apostólica (Mc 6.30; 1Co 1.1; Hb 3.1) em resposta às acusações de seus adversários
(11.13). A Igreja de Deus é a comunidade dos crentes em Cristo, representantes locais da imensa Igreja universal (1Co 1.2). A
palavra secular e original grega Ekklesia (Assembléia) é qualificada pela frase “de Deus”, como “Israel de Deus” em Gl 6.16. Os
“santos” é uma outra expressão que se refere ao povo de Deus e significa “aqueles que foram separados para adorar e servir ao
Senhor” (Rm 1.7). O nome Acaia diz respeito à Grécia, em oposição à Macedônia, situada ao norte. Embora Paulo tenha escrito
em resposta aos coríntios, seu conteúdo e princípios teológicos beneficiaram muitas outras igrejas (até nossos dias) por meio
das cópias que circularam por toda a Grécia.
2 Deus não é uma entidade invisível e desconhecida. Ele é o Pai e Deus de Jesus Cristo, o Messias, nosso Senhor. A expressão
idiomática “Pai das misericórdias” significa que o Senhor é “fonte de toda a graça e perdão”. Deus “da consolação” quer dizer
“Deus Paraclesis”, ou seja, “Deus Presente, Amigo, Encorajador”.
3 Para defender sua lealdade diante dos ataques mentirosos de seus inimigos, Paulo usa a expressão grega eilikrineia (since-
ridade) que se refere ao processo de sacudir cereais numa peneira a fim de separá-los das cascas e de toda a sujeira. Por isso,
Paulo se sente em paz diante do exame perscrutador de Deus e de qualquer investigação apurada dos irmãos (Sl 139.23). Afinal,
o apóstolo não era um estranho, pois havia previamente convivido dezoito meses com a igreja quando chegara pela primeira vez
em Corinto (At 18.11) e, portanto, seu caráter e dedicação ao serviço do Senhor tornaram-se evidentes diante de todos.
14 assim como também já em parte nos ções como garantia de tudo o que está
compreendestes, de que somos o vosso por vir.
motivo de orgulho, assim como sereis o 23 Portanto, invoco a Deus por minha
nosso no Dia do Senhor Jesus.4 testemunha de que foi para vos poupar
15 Confiando nisso, e para que rece- que não voltei a Corinto.
bêsseis um segundo benefício, planejei 24 Não que tenhamos domínio sobre a
primeiro visitá-los vossa fé, mas sim como vossos coopera-
16 durante a viagem para a Macedônia, e dores para que tenhais alegria, pois é pela
de lá voltar até vós, e por vosso intermé- fé que estais firmados.6
dio ser enviado à Judéia.
17 Será que ao planejar assim, o fiz com
leviandade? Ou será que, ao tomar deci-
sões, tenho agido de forma carnal, com-
2 Sendo assim, decidi que não mais iria
visitá-los com tristeza.1
2 Pois, se os entristeço, quem me alegrará
prometendo-me ao mesmo tempo com senão vós, a quem eu tenho entristecido?
“sim” e “não”? 3 Escrevi como escrevi para que, quando
18 Entretanto, como Deus é fiel, a nossa eu for, não seja amargurado por aqueles
palavra em relação a vós certamente não que deveriam alegrar-me. Quanto a to-
é “sim” e “não” ao mesmo tempo.5 dos vós, eu estava convencido de que a
19 Porquanto, Jesus Cristo, o Filho de minha alegria é a de todos vós.
Deus, que entre vós foi anunciado por 4 Porquanto, vos escrevi em meio a gran-
nós, isto é, por mim, Silvano e Timóteo, de aflição e angústia de coração, e com
seguramente não foi um “sim” e “não”, muitas lágrimas, não para constrangê-
mas nele sempre existiu o “sim”; los, mas para que soubessem como é
20 Pois, tantas quantas forem as promes- profundo o amor fraternal que alimento
sas de Deus, todas têm em Cristo o “sim”. por vós.2
Por isso, por intermédio dele, o “Amém”
é proclamado por nós para a glória de Perdoando o pecador
Deus. 5 Se um de vós tem causado tristeza, não
21 Ora, é Deus quem faz com que nós e tem entristecido somente a mim pes-
vós permaneçamos firmes em Cristo. Ele soalmente, mas, em parte, para não ser
nos ungiu, severo demais, a todos vós.
22 nos selou como sua propriedade e fez 6 Assim, a punição que foi imposta pela
habitar o seu Espírito em nossos cora- maioria a essa tal pessoa é suficiente.
4 Alguns irmãos na igreja em Corinto haviam se deixado enganar pelas calúnias dos “falsos apóstolos” que estavam infiltrados
entre os crentes. Paulo aponta para a volta gloriosa de Cristo como o “Dia do Senhor” (1Ts 2.19,20).
5 Os inimigos de Paulo tinham procurado persuadir os cristãos em Corinto de que, como mudara seus planos, sua palavra
não era digna de crédito, pois ele seria uma pessoa instável e irresponsável. Paulo reafirma seu compromisso de amor para com
Deus e seu ministério, e faz referência à mensagem do Evangelho que pregara aos coríntios: uma vez crendo no Evangelho,
descobriram que era de todo verdadeira e isenta de ambigüidades, e por meio da experiência que tiveram com seu poder
transformador, comprovaram ser uma grande afirmativa em Cristo, em que todas as promessas de Deus são, de fato, “sim”!
6 Paulo mudou seu plano inicial somente por causa da grande compaixão que sentia por seus “filhos na fé” em Corinto, pois
não queria precisar usar a “vara da repreensão” contra os altivos e arrogantes que estavam tumultuando a igreja (1Co 4.21).
Contudo, foi muito mal interpretado e difamado por alguns. Mesmo na qualidade de apóstolo, Paulo não deseja impor suas
diretrizes de forma despótica; antes, deseja ser conselheiro e servo, promovendo a santificação e a alegria espiritual dos seus
amados irmãos.
Capítulo 2
1 Paulo faz referência a um segundo encontro com os irmãos em Corinto o qual lhe trouxe grande amargura. Não se trata da
primeira visita, quando houve a fundação da igreja local na cidade, todavia não se sabe ao certo quando ocorreu esse encontro
doloroso. Contudo, fica claro que a visita que está por acontecer será a terceira, e que Paulo deseja evitar outros dissabores e o
constrangimento de precisar usar o rigor da sua autoridade apostólica (conforme 12.14; 13.1 e 1Co 4.21).
2 Paulo escreveu uma carta repreensiva entre 1Co e 2Co, mas que não foi preservada entre os textos canônicos da Bíblia.
Juntamente com a severidade das palavras, lágrimas de amor fraterno acompanharam a admoestação do apóstolo de Cristo.
3 Paulo refere-se a uma pessoa específica que o teria ofendido muito, mas que não se trata do homem incestuoso de 1Co
5.1, que Paulo não tolerou na igreja. Esse outro transgressor sofreu uma pena eclesiástica imposta, de forma democrática, por
decisão da maioria da igreja. Contudo, como o culpado demonstrou arrependimento por seu pecado, Paulo exorta aos coríntios
que encerrem o castigo e recebam o arrependido na comunhão da igreja. A disciplina na igreja, por mais necessária e importante
que seja, não deve ser aplicada sem graça e esperança sincera de recuperação do penitente (Mt 18).
4 Paulo havia viajado rumo ao norte, de Éfeso a Trôade, famosa cidade no litoral do mar Egeu. Embora soubesse que seu amigo
Tito (8.16-23) estava seguindo o mesmo itinerário, mas na direção inversa, ansiava poder encontrá-lo de passagem em Trôade, a
fim de ter notícias dos coríntios, coisa que não ocorreu, e o fez partir rapidamente para a cidade de Filipos na Macedônia.
5 Paulo abre um parêntese na descrição do seu itinerário (que retoma em 7.5) e passa a refletir sobre a fé triunfante: um louvor
a Deus por sua graça inesgotável e incessante para com todas as nossas situações de vida, mesmo as mais ameaçadoras e
aparentemente destrutivas. Paulo usa a expressão grega “triunfo” que era aplicada aos glamourosos cortejos dos generais e im-
peradores, trazendo seus tesouros de guerra (em desfile por ruas perfumadas pela queima de grande quantidade de especiarias
aromáticas), acompanhados de uma enorme fileira de cativos. No mesmo pensamento, o apóstolo faz referência aos sacrifícios
aceitáveis a Deus no AT (Gn 8.21; Êx 29.18).
6 À medida que o aroma do Evangelho é espalhado no mundo, pelo testemunho cristão, todos podem experimentar o seu bom
perfume. Entretanto, essa fragrância pode ser interpretada de duas maneiras: cheiro de vida eterna, pelos salvos; e cheiro de
morte e destruição, por aqueles que estão perecendo. Não porque a mensagem do Evangelho possa exalar um cheiro mortífero,
mas porque os incrédulos, ao rejeitarem a graça vivificante de Deus em Jesus Cristo, confirmaram sua escolha: a morte eterna.
Quem são os capacitados a compreender esse mistério? (a resposta está em 3.5).
7 Paulo usa a palavra grega “mercadejar”; comum entre muitos caixeiros viajantes da época, que procuravam de todas as
maneiras iludir e enganar seus clientes, com a finalidade de lhes vender suas mercadorias e obter lucros escorchantes, para
fazer duas afirmações muito sérias: 1) Havia – já naquela época – falsos mestres, que aproveitando a explosão de crescimento
do cristianismo tinham se infiltrado nas comunidades cristãs e, particularmente, na igreja de Corinto, com o principal objetivo de
arrancar bens e dinheiro dos membros ingênuos da igreja; 2) Paulo defende sua sinceridade e lealdade para com o Senhor e com
os irmãos, lembrando que havia decidido pregar o Evangelho sem nada receber em troca, sempre procurando não ser pesado
financeiramente aos cristãos de qualquer igreja (11.7-12; 1Co 9.7-15).
Capítulo 3
1 Corinto havia sido invadida por grande quantidade de falsos crentes e andarilhos milagreiros, que se diziam mestres da verda-
de apostólica. Por isso, os coríntios passaram a pedir cartas de recomendação aos missionários e mestres cristãos que chegavam
sois uma carta de Cristo, resultante de Moisés, por causa do resplendor do seu
nosso ministério, escrita não com tinta, rosto, mesmo que esse brilho estivesse se
mas com o Espírito do Deus vivo, não desvanecendo.5
em tábuas de pedra, mas em tábuas de 8 Não será o ministério do Espírito mui-
corações humanos!2 to mais glorioso?
4 E é por intermédio de Cristo que temos 9 Ora, se o ministério que trouxe a
tamanha confiança em Deus. condenação era glorioso, quanto mais
5 Não que possamos reivindicar qual- ainda será o ministério que produz a
quer coisa com base em nossos próprios justificação!6
méritos, mas a nossa capacidade vem de 10 Porquanto o que no passado foi glo-
Deus.3 rioso, agora não tem o mesmo esplendor,
6 Ele nos capacitou para sermos minis- quando comparado com essa glória
tros de uma nova aliança, não da letra, insuperável.
mas do Espírito; porquanto a letra mata, 11 E se o esplendor que estava dissipando
mas o Espírito vivifica!4 se manifestou em glória, quanto maior
será a glória do que permanece!
A relevância da Nova Aliança 12 Sendo assim, visto que temos essa
7 Com letras sobre pedras foi gravado o qualidade de fé, expressamos muita
ministério que trouxe a morte; no en- confiança.7
tanto, esse ministério veio com tamanha 13 Não somos como Moisés, que se
glória que os filhos de Israel não conse- cobria com um véu sobre a face para
guiam sequer fixar os olhos na face de que os filhos de Israel não observassem
à igreja. Paulo não precisava de qualquer recomendação, pois sua obra estava estampada na própria vida de muitos membros
da igreja, transformados pelo poder do Evangelho. Entretanto, mesmo com todos os cuidados, alguns impostores conseguiam
forjar falsas cartas de recomendação e se infiltrar nos ministérios da igreja.
2 Os documentos e as cartas eram comumente redigidos sobre pergaminho ou papiro. Paulo compara o desbotamento natural
da tinta (letras) e sua facilidade de ser encoberta com a marca indelével e permanente do Espírito. A Palavra de Deus está escrita
no coração dos crentes, não em placas de argila ou pedra como no Sinai (Jr 31.33; Ez 11.19; 36.26). Paulo explica, logo a seguir,
a importância dessa diferença entre a antiga e a nova aliança (vv. 7- 18).
3 Paulo responde aqui a pergunta levantada em 2.16. Nossa força, capacidade, dons e talentos vêm do Senhor. O cristão
maduro tem plena consciência dessa verdade e, por isso, desenvolve uma auto-estima equilibrada, louvando a Deus pela maneira
como foi criado (Sl 139.13-17).
4 Os “ministros” são aqueles que “servem” à causa do Senhor (4.1; Rm 15.16; Cl 1.7; 4.7; 1Tm 4.6). Aqui, Paulo retoma o
tema do v.3: “tábuas de corações humanos” (Hb 7.22 e 8 a 10). Paulo adverte a igreja sobre os judaizantes (judeus cristãos que
queriam guardar a Torá e as leis rabínicas), os quais se diziam discípulos de Pedro (1Co 1.12; Hb 11.22), e revela que os cristãos,
em cujos corações habita o Espírito, têm a Lei escrita em suas próprias almas pelo Senhor: o Deus vivo, conforme a promessa da
nova aliança, entregue pelos profetas do AT (Jr 31.31-34; 32.39,40; Ez 11.19; 36.26). A expressão grega literal: “a letra mata, mas
o Espírito dá vida” não quer dizer que o significado externo e literal da Bíblia seja mortífero ou inútil; e que o sentido interior, místico
e subjetivo tenha maior valor. O termo original “letra” tem o sentido de “lei” ou “padrão de conduta” (Êx 24.12; 31.18; 32.15,16),
diante do qual todos os seres humanos são culpados (pecadores – Rm 3.23) e, por isso, já estão condenados à separação
eterna de Deus (morte). O sacrifício expiatório de Cristo pagou a pena de todos os que têm fé nesse ato salvífico do Senhor, e
portanto, são agraciados com a habitação do “Espírito do Deus vivo” em seus corações, a fim de fortalecê-los e conduzi-los ao
amadurecimento espiritual. É o Espírito Santo, que cumprindo a promessa da nova aliança escreve a Lei no interior da alma do
crente, concede-lhe amor pelos mandamentos do Senhor, os quais ele antes odiava, e lhe abençoa com capacidade para viver
uma vida cristã autêntica e testemunhar ao mundo o poder regenerador e transformador do Evangelho. Um poder que antes, por
mais inteligente ou virtuoso que fosse, não dispunha.
5 A Lei, conforme a antiga aliança, entregue ao povo de Deus no Sinai, não era, de forma alguma, má ou infrutífera. Na verdade,
Paulo a conceituava como santa, justa, boa e espiritual (Rm 7.12-14). O erro e a pecaminosidade está na alma e nas ações das
pessoas que, como transgressores da Lei, trazem sobre si justa condenação e punição. A glória de Deus estava presente na
entrega da Lei, e o seu brilho ficava refletindo no rosto de Moisés quando este descia da montanha (Êx 34.29,30).
6 O ministério do Espírito Santo produz justificação e vida, em vez de condenação e morte. A expressão original “justiça” tem
um sentido objetivo de “justificação”, e pessoal de “santificação”.
7 Paulo comenta, no trecho que vai de 3.12 a 4.11, as duas principais dificuldades dos ministros (servos do Senhor): 1) a
cegueira e surdez espiritual dos ouvintes e 2) a fraqueza do ministro.
8 Moisés usava um véu para cobrir o rosto, a fim de impedir que os israelenses vissem a glória de Deus se desvanecendo e
isso viesse prejudicar a fé e a obediência do povo (Êx 34.33-35). Esse mesmo véu ainda reside, figuradamente, na memória dos
judeus e os impede de reconhecer o caráter temporário e insuficiente da antiga aliança. Somente as pessoas que recebem a
Cristo como Deus e Salvador pessoal têm a capacidade de perceber como a nova aliança transcende e substitui para sempre a
antiga. E isso, por causa da glória maior.
9 Paulo se refere à Torá ao dizer “quando Moisés é lido”. O versículo 16 é uma citação do texto de Êx 34.34 da Septuaginta (a
tradução grega do AT).
10 O Senhor (em hebraico Yahweh) que significa Jeová, em Êx 34.34, corresponde ao Espírito na nova aliança anunciada pelo
apóstolo Paulo. A presença do Espírito de Deus na alma do crente o liberta da Lei e do legalismo e o influencia a fazer a vontade
do Pai por amor (Rm 8.14). Os termos: Espírito, Espírito de Cristo, Espírito de Deus, o Espírito Santo e Cristo são expressões
intercambiáveis com, basicamente, o mesmo significado. Isso porque o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, e as duas
primeiras pessoas da trindade realizam seus propósitos mediante a ação do Espírito Santo (Rm 8.9-10; At 16.6,7; Gl 2.20).
11 Moisés, ao se aproximar do Senhor e ouví-lo, tinha seu rosto iluminado por Sua glória, que resplandecia e encorajava a
todos à sua volta. Contudo, com o passar dos dias, o brilho da glória do Senhor, estampado em Moisés, começava a perder seu
fulgor, e ele procurava esconder seu rosto natural. Paulo afirma que os cristãos estão sendo transformados dia após dia, com
glória cada vez maior. O próprio Jesus Cristo é a glória de Deus na plenitude do seu esplendor (Hb 1.3); dele é a glória perene
que não se dissipa nem perde o brilho. A mesma que tinha o Pai antes de haver criado o universo (Jo 17.5). Os cristãos fiéis são
feitos participantes dessa glória à medida que caminham mais e mais em comunhão com o Espírito de Cristo. A essa caminhada
espiritual, que dura a vida toda, se dá o nome de “santificação”.
Capítulo 4
1 Quando o Senhor, por sua graça e misericórdia, nos chama para a realização de uma obra, juntamente com a missão nos
concederá toda a capacidade e as forças necessárias para que possamos perseverar e vencer em meio às adversidades e
obstáculos. Como Paulo, somos chamados ao glorioso ministério da reconciliação (3.6). É o poder de Deus que transforma o
mais obstinado, cruel e cego dos corações, e não qualquer de nossas habilidades pessoais (At 1.8; Rm 1.16).
2 Na época do apóstolo Paulo, já havia os “atores pseudocristãos” (expressão derivada da palavra grega “hipocrisia”), falsos
mestres evangélicos que usavam todo tipo de ardil e manipulação para convencer seu público sobre suas próprias crenças,
com o objetivo de conquistar um grupo de patrocinadores para seus projetos pessoais. Paulo, entretanto, pode apelar para a
consciência de cada um dos coríntios e invocar sua própria integridade diante do Senhor, porquanto a sua teologia, ética e prática
missionária eram demonstradas em toda parte por meio da transparência, clareza e fidelidade com que expunha a verdade, sem
jamais apelar para a fraude ou qualquer tipo de engano (1.12, 18-24).
3 Apesar de todas as possíveis explicações sobre o mal e a incredulidade sobre a terra, o fato é que há um poder invisível
agindo eficazmente nos bastidores da existência humana, que emana da pessoa de Satanás, o arquiinimigo de Deus. As pessoas
que defendem e praticam a impiedade e perversão da Palavra de Deus (de alguma forma) seguem ao Diabo e têm de fato feito
dele seu deus. O apóstolo se refere a “era presente” em contraste com a “era eterna” purificada por Jesus para sempre (Gl 1.4),
6 Porquanto foi Deus quem ordenou: igualmente cremos e, por esse motivo,
“Das trevas resplandeça a luz!”, pois Ele falamos.7
mesmo resplandeceu em nossos cora- 14 Temos certeza de que aquele que res-
ções, para iluminação do conhecimento suscitou o Senhor Jesus dentre os mor-
da glória de Deus na face de Cristo.4 tos, da mesma forma nos ressuscitará
com Ele e nos apresentará convosco.
O poder do servo vem de Deus 15 Tudo isso é para o vosso benefício, para
7 Temos, porém, esse tesouro em vasos que a graça, que está alcançando mais e
de barro, para demonstrar que este po- mais pessoas, faça transbordar as muitas
der que a tudo excede provém de Deus e ações de graça para a glória de Deus.
não de nós mesmos.5
8 Sofremos pressões de todos os lados, O motivo e efeito das aflições
contudo, não estamos arrasados; ficamos 16 Portanto, não desanimamos! Ainda
perplexos com os acontecimentos, mas que o nosso exterior esteja se desgas-
não perdemos a esperança; tando, o nosso interior está em plena
9 somos perseguidos, mas jamais desam- renovação dia após dia.
parados; abatidos, mas não destruídos; 17 Pois as nossas aflições leves e passa-
10 trazendo sempre no corpo o morrer de geiras estão produzindo para nós uma
Jesus, para que a vida de Jesus, da mesma glória incomparável, de valor eterno.
forma, seja revelada em nosso corpo.6 18 Sendo assim, fixamos nossos olhos,
11 Pois nós, que estamos vivos, somos não naquilo que se pode enxergar, mas
cotidianamente entregues à morte por nos elementos que não são vistos; pois
amor a Jesus, para que a sua vida também os visíveis são temporais, ao passo que os
se manifeste em nosso corpo mortal. que não se vêem são eternos.8
12 De maneira que em nós opera a morte,
entretanto em vós, a vida! A morada eterna do cristão
13 Assim está escrito: “Cri, por isso decla-
rei!” Com esse mesmo espírito de fé, nós 5 Estamos certos de que, se esta nossa
temporária habitação terrena em que
e continua a usar o exemplo do véu sobre o rosto de Moisés no sentido de cobrir a glória divina aos que não desejam ver com os
olhos da fé e receber o Evangelho, a verdadeira glória eterna (3.12-18). Jesus Cristo, o Filho, e a segunda pessoa da Trindade,
é o único capaz de revelar plenamente a imagem de Deus, pois Cristo é o próprio esplendor da glória de Deus (Hb 1.3). Ele é a
verdadeira Imagem de Deus (em latim Imago Dei) na qual o homem foi originalmente criado e na qual a humanidade salva está
experimentando o poder da transformação, até que, no final dos tempos (dessa era decadente), na segunda e gloriosa volta de
Cristo, todos os crentes sinceros serão feitos à semelhança de Jesus (1Jo 3.2).
4 Essa foi a expressão que Deus usou na criação (Gn 1.2-4), da mesma maneira como abençoa o novo nascimento (a nova
criação) dos crentes em Cristo, à medida que as trevas e amarras do pecado são dissipadas pela poderosa luz do Evangelho. A
glória que ilumina o coração de Paulo e dos cristãos fiéis é o esplendor do rosto de Cristo, que veio até nós da parte do Pai celeste
para habitar em nossa alma e não apenas num tabernáculo no deserto (Jo 1.14).
5 Era costume esconder tesouros em vasos de barro, que exteriormente não tinham qualquer adorno nem chamavam a
atenção. Foram em vasos simples como esses que se encontraram os conhecidos Rolos do Mar Morto, no monte Qunram
próximo ao mar Mediterrâneo, e outros muitos tesouros. Paulo usa a idéia de que a insuficiência absoluta do ser humano revela
a grandeza e a total suficiência de Deus em toda essa carta à igreja em Corinto. A fraqueza física de um ministro de Deus inclui:
“temor e tremor” (1Co 2.3); enfermidades (2Co 12.7); e todo o tipo de tribulações e perseguições (vv. 8,9).
6 A fragilidade da pessoa humana, tão bem representada na figura do “vaso de barro” pode ser observada na própria vida diária
do apóstolo Paulo, em suas constantes adversidades e perseguições que o esbofeteavam por amor do Evangelho e por meio das
quais compartilhava as aflições e a glória de Cristo (v.1.5; Rm 8.17; Fp 3.10; Cl 1.24).
7 A fé no Senhor produz o testemunho cristão (Sl 116.10). Por isso, Paulo dedicava-se à vida missionária incansavelmente a fim
de levar aos desconhecidos em todo o mundo a gloriosa Palavra da salvação: o Evangelho. O mesmo Espírito que nos concede
a fé é o Espírito da: adoção (Rm 8.15), da sabedoria (Ef 1.17), da graça (Hb 10.29) e da glória (1Pe 4.14).
8 Nossos sofrimentos são reais e dolorosos, por vezes, desesperadores. Contudo, o cristão jamais os atravessa sozinho (Sl 23),
mas sempre na solidária e poderosa companhia do Pai, em Cristo Jesus. Somos encorajados pelo apóstolo Paulo a fixar nosso
olhar de fé na glória eterna, e não somente nos momentos circunstânciais e passageiros dessa nossa curta existência terrena.
Alegrias e tristezas passam muito depressa, e não devemos, portanto nos prender a qualquer delas. Concentrar toda a nossa
atenção nos eventos do dia-a-dia (visíveis) pode nos levar ao desânimo (v. 1,16). Apesar das realidades não palpáveis (invisíveis)
não terem aparência de realidade (Hb 11.1-27), têm valor eterno e são imperecíveis. Por isso, somos estimulados a olhar para o
céu, de onde vem chegando nosso Salvador em glória e onde vamos viver para sempre, não para as aparências transitórias dos
cenários deste mundo que agoniza (Fp 3.20; Hb 12.2).
Capítulo 5
1 Paulo chegou a uma perfeita compreensão sobre a temporalidade e fragilidade do nosso corpo e o equiparou a uma simples
tenda nômade (vulnerável e passageira), como o tabernáculo dos judeus no deserto (2Pe 1.13). Nossa habitação no céu, entre-
tanto, é sólida e permanente como uma construção de alvenaria (edifício): uma obra das mãos de Deus (Hb 9.11). Só recebere-
mos o corpo ressurreto por ocasião do iminente glorioso retorno de Jesus Cristo (Jo 14.2; Fp 1.23; Lc 16.9; 23.43; 2Co 12.24).
2 Nossa casa eterna (refúgio seguro), provida por Deus, é retratada por Paulo como algo que o cristão veste. Um corpo sem sua
roupagem é o estado daqueles cuja habitação temporária e terrena foi – de uma hora para outra – destruída pela morte.
3 Os cristãos sinceros participam da vida e da ressurreição de Cristo, portanto, não serão consumidos pela morte (como se
diz desde a antigüidade), mas “absorvidos pela vida” em Cristo, conforme a alteração feita por Paulo no antigo adágio popular. A
morte e a sepultura sempre foram consideradas as grandes devoradoras da vida. Cristo alterou maravilhosamente o destino dos
seres humanos que nele crêem (Sl 69.15; Pv 1.12; Is 25.8; 1Co 15.54; Fp 3.21).
4 Ainda que nossa alma resida temporariamente em uma casa (corpo) terrena, isso não significa que o cristão esteja privado
da presença espiritual do Senhor para ajudá-lo em sua peregrinação diária. Essa é a missão do Espírito Santo em nossas
vidas (Rm 8).
5 Paulo sabia que o crente, após a morte do corpo, segue para um estado intermediário entre a morte e a ressurreição.
Contudo, esse estado incorpóreo e incomunicável com os que ainda vivem na terra não é um limbo (lugar para onde vão as
almas das crianças sem batismo, segundo a teologia católica do séc.XIII), pois o cristão sincero, assim que morre é acolhido na
casa do Pai e começa a receber as recompensas à sua fé; e isso é incomparavelmente melhor do que a vida nesse nosso corpo
(Fp 1.23). Paulo usa literalmente a expressão grega: philotimoumetha, que significa: “fazemos nossa ambição”, para dizer da sua
paixão em fazer a vontade de Deus, quer estivesse com vida, quando da segunda vinda do Senhor, quer já houvesse adormecido
e deixado seu corpo terreno.
6 Mediante a fé sincera na pessoa e no sacrifício remidor de Cristo, todo cristão é alcançado pela graça da justificação plena
e eterna de Deus (Rm 5.1). Entretanto, será necessário que cada crente seja julgado e responda por suas ações (1Co 3.13-
15). Portanto, compareceremos à presença do Senhor com nossas memórias, sobretudo, o quanto realizamos por meio do
corpo durante nossa existência na terra. Logo em seguida, entretanto, reconheceremos que nossos pecados e faltas foram
resposta para os que se orgulham das liando consigo mesmo o mundo, não
aparências e não do que está no coração. levando em conta as transgressões dos
13 Pois, se enlouquecemos, é por amor a seres humanos, e nos encarregou da
Deus; se conservamos o juízo, é porque mensagem da reconciliação.
vos amamos.7 20 Portanto, somos embaixadores de
14 Porquanto o amor de Cristo nos cons- Cristo, como se Deus vos encorajasse por
trange, porque estamos plenamente con- nosso intermédio. Assim, vos suplicamos
vencidos de que Um morreu por todos; em nome de Cristo que vos reconcilieis
logo, todos morreram. com Deus.
15 E Ele morreu por todos para que aque- 21 Deus fez daquele que não tinha pecado
les que vivem já não vivam mais para si algum a oferta por todos os nossos peca-
mesmos, mas para Aquele que por eles dos, a fim de que nele nos tornássemos
morreu e ressuscitou. justiça de Deus.9
16 Assim, de agora em diante, a ninguém
mais consideramos do ponto de vista
meramente humano. Ainda que outrora
tivéssemos considerado a Cristo assim,
6 E nós, como cooperadores de Deus,
vos exortamos a não acolher a graça
de Deus de forma inútil.1
agora, contudo, já não o conhecemos 2 Porquanto diz o Senhor: “Eu te ouvi
mais desse modo. no tempo oportuno e te socorri no dia
17 Portanto, se alguém está em Cristo, é da salvação” Com certeza vos afirmo que
nova criação; as coisas antigas já passa- esse é o momento propício, agora é o dia
ram, eis que tudo se fez novo!8 da salvação!2
18 Tudo isso provém de Deus, que nos
reconciliou consigo mesmo por inter- As marcas do ministério
médio de Cristo e nos outorgou o minis- 3 Não damos motivo de escândalo em
tério da reconciliação. atitude alguma, a fim de que nosso mi-
19 Pois Deus estava em Cristo reconci- nistério não seja achado em falta.
todos lavados e apagados para sempre pelo poder do sangue de Cristo (1Jo 1.9). As Escrituras não oferecem base teológica
sustentável para a doutrina de um purgatório, onde as almas dos cristãos passariam por um período de punições e purificação
até poderem adentrar aos céus. Os pagãos e incrédulos passarão por um outro tipo de julgamento (Rm 2.5-16), a fim de serem
condenados à separação eterna de Deus (morte). Aqui, no entanto, Paulo trata especificamente dos cristãos.
7 Normalmente, os falsos líderes cristãos não se preocupam com o desenvolvimento de uma espiritualidade genuína, sadia e
profundamente alicerçada em Cristo. Eles se concentram na popularidade e na própria riqueza. Por isso, os inimigos de Paulo,
o acusavam de algum tipo de desequilíbrio mental ou emocional, pois sua história de conversão e a paixão sincera com que
pregava e exercia o ministério missionário eram além do normal. Paulo, contudo, procurava manter a sensatez por amor aos
coríntios (1Co 2.1-5).
8 Deus toma a iniciativa de reconciliar a humanidade consigo mesmo. Ele é o reconciliador, que une o pecador rebelde ao
seu Criador (reúne – religa – religião ou religare, em latim). Cristo, o Filho de Deus, é o agente vital dessa reconciliação (18,19).
A redenção é o cumprimento dos propósitos de Deus na criação, e isso ocorre em Cristo, por quem tudo o que existe foi criado
(Jo 1.3; Cl 1.16; Hb 1.12) e em quem todas as coisas são perfeitamente restauradas em nova criação (Rm 8.18-23; Ef 2.10). Nós,
os reconciliados, somos os ministros (servos e embaixadores) e devemos proclamar a mensagem de reconciliação ao mundo
(o Evangelho).
9 Deus se fez humano em Cristo e se identificou com o pecado da raça humana, sem pecar, como única forma legal de cumprir
toda a Lei e redimir todo aquele que crê nesse último, suficiente e eterno sacrifício vicário: Jesus na cruz do Calvário (Is 53.6; Jo
20.21). Essa é a lógica do Evangelho: o único homem, completamente justo, tomou sobre si nosso pecado e suportou o castigo
que merecíamos. Desta maneira nos outorgou sua justiça e, por intermédio dela, a plena reconciliação com Deus (1Co 1.30).
Capítulo 6
1 O cristão que anda egoisticamente e não busca viver o Evangelho de forma coerente à vontade do Espírito Santo e à Palavra
de Deus, transforma a graça divina apenas numa religião vã e ritualística (5.15).
2 O tempo “aceitável” ou “sobremodo oportuno” refere-se, em seu sentido geral, a todos os atos salvíficos de Deus ao longo
da história da humanidade, contudo, seu cumprimento mais específico concretiza-se nessa época da graça, entre a primeira e a
segunda vinda de Jesus Cristo. Os crentes em Deus do AT foram contemplados com a mesma graça salvadora do Senhor por
meio das promessas que viram e acolheram à distância, pela fé, e que se cumpriram plenamente na pessoa e obra de Cristo (Jo
8.56; Hb 11.13).
4 Ao contrário, como servos de Deus, falo como a filhos, abri, pois, também os
recomendamo-nos de todas as maneiras: vossos corações.
em muita perseverança; em sofrimentos, 14 Jamais vos coloqueis em jugo desigual
privações e tristezas;3 com os descrentes. Pois o que há de co-
5 em açoites, prisões e tumultos; em traba- mum entre a justiça e a injustiça? Ou que
lhos árduos, noites sem dormir e jejuns; comunhão pode ter a luz com as trevas?
6 em pureza, conhecimento, paciência e 15 Que harmonia entre Cristo e Belial?
bondade; no Espírito Santo e no amor Que parceria pode se estabelecer entre o
sincero; crente e o incrédulo?
7 na Palavra da verdade e no poder de 16 E que acordo pode existir entre o
Deus; com as armas da justiça, tanto no templo de Deus e os ídolos? Porquanto
ataque como na defesa, somos santuário do Deus vivo. Como
8 por honra e por desonra, por difama- declarou o próprio Senhor: “Habitarei
ção e por boa reputação; tidos por deso- neles e entre eles caminharei; serei o seu
nestos, mas sendo verdadeiros; Deus, e eles serão meu povo!”
9 como desconhecidos, porém bem co- 17 Portanto, “saí do meio deles e separai-
nhecidos; caminhando como quem está vos, diz o Senhor, e não toqueis em nada
prestes a morrer, mas eis que vivemos; que seja impuro, e Eu vos receberei.
torturados, mas não mortos; 18 Serei para vós Pai e sereis para mim
10 entristecidos, mas sempre felizes; po- filhos e filhas”, diz o Senhor Todo-Pode-
bres, mas enriquecendo a muitas pesso- roso!5
as; nada tendo, mas possuindo tudo.4
Exortação
ç a uma vida santa
11 Ó, irmãos em Corinto, temos falado
7 Amados, visto que temos essas pro-
messas, purifiquemo-nos de tudo o
que possa contaminar o corpo e, por
francamente convosco, com nosso co- conseguinte a alma, aperfeiçoando a
ração aberto! santidade no temor de Deus.1
12 Nosso amor fraternal por vós não está
restrito, contudo, vós tendes limitado Consolo em meio às aflições
vosso afeto para conosco. 2 Acolhei-nos em vosso coração; a nin-
13 Em termos de justa retribuição, vos guém tratamos com injustiça, a nenhu-
3 A palavra original grega hupomone, traduzida em algumas versões por “paciência”, tem o sentido de “seguir com a firme
esperança de chegar a um final feliz”. Um dos pais da Igreja, Crisóstomo, chamou essa virtude de “a raiz de todos os bens”,
ao considerar a “perseverança” como um dos fundamentos da vida cristã. Paulo zelava por sua vida com Deus e por seu
testemunho como apóstolo (missionário e ministro de Cristo). Diferentemente dos falsos mestres de seu tempo (que viviam
muito bem em função do dinheiro que extorquiam de religiosos incautos), Paulo pagava um preço muito alto por sua conduta
sincera e verdadeira. Sua carta de apresentação era escrita com suas próprias marcas (no corpo e na alma) em favor das igrejas,
especialmente dos cristãos de Corinto (4.8-12).
4 Paulo havia aprendido que as verdadeiras e eternas riquezas não se consistem em bens mundanos, mas em ser “rico para
com Deus” (Lc 12.15-21). O cristão não é impedido de ser próspero materialmente, mas deve preservar seu maior e mais impor-
tante bem: a herança de Cristo (1Co 1.4,5; 3,21; Ef 2.7; 3.8; Fp 4.19; Cl 2.3).
5 Os inimigos de Paulo tentaram jogar os coríntios contra ele, alegando que o apóstolo era neurastênico e desprovido de real
fraternidade pelos cristãos (5.13). Paulo, no entanto, está preocupado em evitar que a igreja de Corinto seja arrastada para o
pecado por falsos mestres, que usam de lisonja e demagogia, a serviço do Diabo (Beliall é um termo derivado do hebraico para
designar Satanás – Dt 13.13). Por isso, o apóstolo faz menção à proibição das “misturas de fé” (Dt 22.10). Se os coríntios se
aliarem a esses “pregadores de si mesmos”, portanto, “não cristãos”, se colocarão em “jugo desigual” e quebrarão a harmonia
e a comunhão que os mantém em sintonia com Cristo. Paulo adverte aos crentes que não podem voltar à idolatria, pois agora
foram feitos moradia do Espírito de Deus (tabernáculos, templos) ao se entregarem ao Evangelho (1Ts 1.9). Como edifícios
(pedras vivas), separados para a residência permanente do Senhor, não é concebível que estabeleçam qualquer aliança de fé e
comunhão com pessoas que andam sem o Espírito de Deus habitando em suas vidas (1Co 6.19,20).
Capítulo 7
1 A vontade de Deus sempre foi estabelecer uma relação sincera de amor e adoração entre sua maior criação: o ser humano, e
seu Criador (6.16-18). Para que essa comunhão ocorra, é necessário que o homem se separe de toda imundícia contaminadora.
Quanto mais progredimos no processo de santificação, mais próximos de Deus desejamos estar (1Ts 4.7; 1Jo 3.3).
2 Paulo havia sido acusado por falsos cristãos de ser injusto, destrutivo, ranzinza e fraudulento, erros que eles próprios
praticavam. A demorada digressão que começou em 2.14 termina aqui, com uma exclamação de satisfação. As notícias que
Paulo havia aguardado com tanta ansiedade da igreja de Corinto se revelaram boas e tranqüilizadoras, proporcionando grande
alegria à alma do apóstolo.
3 Paulo retoma a narrativa que iniciara em 2.12,13, quando compartilhava como sua esperança de se encontrar com Tito em
Trôade fora frustrada e como, ansioso por obter notícias e mais depressa voltar aos coríntios, rumou para a Macedônia. Agora,
contudo, explica que ao chegar na Macedônia encontrou-se com seu amado amigo Tito, o qual lhe trouxe boas notícias da igreja
em Corinto, acrescentando que ele próprio havia sido muito bem recebido pela igreja, o que muito alegrou o coração de Paulo.
4 A palavra original grega metanoia significa “arrependimento”, mas no sentido de uma convicção prática em relação a mudança
de atitude ou caminho. Decisão necessária para a conversão e salvação de qualquer pessoa (Lc 13.3,5). A “tristeza conforme o
Senhor” refere-se ao sincero e profundo sentimento (conclusão) de se ter pecado contra a vontade explícita de Deus e, por isso,
estar condenado à separação eterna de Deus (morte). Seguida de arrependimento, confissão e mudança, possibilita a salvação
(Mt 11.28). Por outro lado, a “tristeza do mundo” é um tipo de depressão e frustração egoísta, motivada pelas conseqüências
dolorosas das atitudes pecaminosas praticadas, e não por um arrependimento teocêntrico.
1 Os capítulos 8 e 9 revelam conceitos de Deus sobre o ministério dos crentes de contribuir; com suas vidas, bens e dinheiro
para o progresso do Evangelho em todo o mundo. A contribuição para o sustento e avanço da obra de Cristo ou para assistência
social deve alicerçar sua motivação principal na mesma graça divina que levou Jesus a entregar-se por nossa salvação em
sacrifício perpétuo (v.9).
2 Paulo salienta que os macedônios não contribuíram do que lhes sobejava, mas tirando sem medida da sua própria pobreza
ofertaram com generosidade e grande alegria. A expressão grega original haplotetos, aqui traduzida por “generosidade”, tem o
sentido de “singeleza de coração”. Somos motivados a contribuir com liberalidade (literalmente: sem calcular quanto estamos
deixando de poupar), livres de motivos egoístas (Rm 12.8).
3 Quando a graça do Senhor inunda a vida do crente, sua contribuição não somente é teocêntrica (dirigida pelo Espírito), es-
pontânea e generosa, como também realizada com muita alegria interior. Portanto, não é necessário que os crentes pressionem
ou sejam pressionados a cooperar. O testemunho de Paulo e de outros irmãos serviram de grande testemunho e motivação.
4 Antes da motivação para a contribuição material e financeira com o ministério da Igreja, o crente é impulsionado pelo Espírito
Santo a doar sua vida a Jesus, seu Salvador e Senhor. Os macedônios se ofereceram como missionários ao lado de Paulo, e para
cooperar de todas as formas com a expansão do Reino de Deus por todo o mundo. O crente sincero chega à conclusão de que
pessoas (almas) são muito mais importantes do que dinheiro (12.9,10).
5 A coleta das ofertas havia começado entre os coríntios sob a orientação de Tito, acerca de um ano atrás (v.10; 9.2). Entretanto,
pelos problemas surgidos na igreja, tal plano de ação havia perdido o interesse geral. Paulo, então, está enviando Tito de volta à
Igreja em Corinto, levando consigo essa carta de encorajamento.
6 Deus-Filho em sua encarnação e morte expiatória na cruz do Calvário, no lugar de todo crente, esvaziou-se da sua glória e
riqueza absoluta para que, por meio da sua pobreza, nós pudéssemos ser enriquecidos. Esse é o grande incentivo e motivação
de toda a generosidade cristã sobre a terra até o glorioso retorno do Senhor.
7 Ao contribuir, o mais importante é a sinceridade e a boa vontade, independente do valor monetário da oferta. Nosso exemplo
mais notável é o da viúva pobre, observado por Jesus em Mc 12.41-44. O método de arrecadação usado em Corinto tinha sido
proposto pelo próprio apóstolo em sua primeira carta (1Co 16.1,2).
sobrecarregados, mas que haja justo eles o nosso irmão que, muitas vezes e
equilíbrio. de várias maneiras, já nos provou ser
14 No presente momento, a vossa fartura zeloso, e agora ainda mais dedicado,
suprirá a grande necessidade deles, para por causa da grande confiança que ele
que, de igual modo, a abundância deles tem em vós.
venha a suprir a vossa privação, e assim 23 Quanto a Tito, ele é meu companheiro
haja igualdade. e cooperador para convosco; quanto a
15 Como está escrito: “Quem muito havia nossos irmãos, eles são apóstolos das
colhido não o fez em excesso, para que igrejas e glória para Cristo.11
nada faltasse a quem pouco recolhera”.8 24 Portanto, diante das demais igrejas,
manifestai a esses irmãos a prova do
Zelo na coleta das ofertas amor que tendes e a razão do orgulho
16 Agradecemos a Deus por ter colocado que temos de vós.
no coração de Tito a mesma dedicação
por vós; Orientações quanto à coleta
17 pois Tito não apenas aceitou a nossa
solicitação, mas já partiu para vos visitar,
com muito entusiasmo e por iniciativa
9 Ora, quanto à assistência em favor
dos santos, não há necessidade de que
vos escreva,
própria. 2 porquanto estou convicto da vossa to-
18 E juntamente com ele estamos envian- tal disposição, da qual me orgulho de vós
do o irmão, que é recomendado por todas diante dos macedônios, informando que
as igrejas por seu serviço no evangelho.9 a Acaia está pronta para contribuir desde
19 E não apenas por esse motivo, mas o ano passado. E a vossa dedicação tem
ele também foi escolhido pelas igrejas incentivado muitos outros.
para ser nosso companheiro de viagem, 3 No entanto, estou enviando esses ir-
enquanto ministramos essa graça para mãos, com o propósito de que nosso or-
a glória do Senhor e para demonstrar gulho por vós, nesse aspecto, não se torne
nossa boa vontade. inútil, a fim de que estejais preparados,
20 O nosso cuidado é evitar que alguém como afirmei que de fato estariam,
nos acuse em relação ao modo de admi- 4 a fim de que, se alguns macedônios
nistrar essa generosa oferta, forem comigo e os encontrarem despre-
21 pois estamos empregando todo o zelo parados, nós, para não vos mencionar,
necessário para fazer o que é correto, não não sejamos envergonhados por tanta
somente ao olhos do Senhor, mas tam- confiança que depositamos em vós.
bém perante aos olhos dos homens.10 5 Sendo assim, considerei necessário
22 Além de tudo, estamos enviando com pedir a esses irmãos que vos visitassem e
8 Os cristãos de Corinto eram economicamente mais prósperos que os macedônios. No entanto, Paulo lhes lembra da
instabilidade da vida, onde as situações podem se alterar de uma hora para outra (Rm 15.27). Assim, no futuro, os crentes judeus
(na época necessitados da oferta) poderão ajudar os coríntios de alguma forma. Paulo faz referência a Êx 16.18,19 e lembra uma
passagem na vida dos israelitas, quando colheram diariamente o maná no deserto. Os idosos e fracos juntavam menos do que
necessitavam, enquanto os jovens e vigorosos recolhiam mais. Entretanto, a distribuição era equânime, de modo que o excesso
de uns compensava a falta de outros, e todos tinham suas necessidades supridas. Esse é o sentido do termo “igualdade” na
doutrina bíblica.
9 Tanto aqui como no v.22, não se é possível precisar quem é “o irmão” citado por Paulo. Tudo indica que sejam Lucas e Tíquico
(At 20.4; Ef 6.21; Cl 4.7). De qualquer maneira, homens de Deus, bem conhecidos por sua fidelidade ao ministério.
10 É muito importante que o servo do Senhor seja avaliado não somente por Deus, que a tudo contempla, mas pelo povo da
igreja, sobre a maneira bíblica, correta, ética e honesta com que vive e administra a obra de Cristo.
11 Paulo usa o termo original grego apostolos, no sentido técnico e missiológico do NT, isto é, “mensageiro” (Fp 2.25). São
representantes legais da igreja, oficialmente eleitos pelos cristãos por sua fidelidade indiscutível ao Senhor para servirem ao povo
como delegados eclesiais. Poucos irmãos podem ser escolhidos como apóstolos, mas todo crente pode refletir a glória de Cristo
em sua vida (3.18; At 20.4).
1 A doutrina do NT sobre a contribuição econômica e financeira enfatiza os seguintes princípios: a total liberdade e esponta-
neidade (At 5.4; 2Co 8.11); a paz e alegria em contribuir (v.7), especialmente com os irmãos em Cristo (Gl 6.10). Entretanto, a
falta de cooperação com a Igreja demonstra ausência de sensibilidade ao Espírito de Deus (1Jo 3.17; Tg 2.15,16). As ofertas ou
contribuições regulares têm a finalidade de manter e expandir a obra do Senhor e possibilitar que nenhum membro da família de
Cristo precise viver em miséria (8.14). Testemunhos de doação sempre provocarão expressões de louvor e gratidão a Deus (9.12).
A responsabilidade espiritual de contribuir com a Igreja é própria dos membros do Corpo de Cristo (Mt 25.34-46). Contudo, os
pobres não podem usar qualquer princípio bíblico para evitar a necessidade de trabalhar com afinco, nem reivindicar eventuais
direitos sobre as posses dos mais prósperos. Tanto o egoísmo como a ociosidade são atitudes contrárias à vontade expressa
de Deus (2Ts 3.10).
2 Adágio rabínico bem conhecido, mas não presente no livro de Provérbios do AT. A doação cristã é sempre uma cooperação
com Deus e seu Reino, e deve ser espontânea, fruto do amor. As bênçãos decorrentes de se obedecer à voz do Espírito são
certas e inevitáveis (Lc 6.38).
3 Paulo salienta que o efeito da doação generosa dos coríntios vai ultrapassar em muito os limites da Igreja em Jerusalém
(destino específico dessa oferta), chegando à Igreja em todo mundo (e todas as épocas), promovendo em toda parte e em muitos
povos profundas manifestações de louvor ao Senhor (vv.13,14).
4 O próprio Deus a quem servimos é o maior exemplo de generoso doador, pois deu a si mesmo, na pessoa do seu Filho
Jesus Cristo, por nossa eterna salvação. Nesse sentido, qualquer contribuição cristã é apenas uma maneira de manifestar nossa
adoração, gratidão e louvor por essa dádiva inefável (8.9; 1Jo 4.9-11).
humanos, não lutamos segundo os pa- 9 Não desejo que vos pareça que minha
drões deste mundo.1 intenção é amedrontá-los com minhas
4 Pois as armas da nossa guerra não são cartas.
terrenas, mas poderosas em Deus para 10 Pois, como alardeiam alguns: “as car-
destruir fortalezas! tas dele são duras e exigentes, contudo
5 Destruímos vãs filosofias e a arrogância ele pessoalmente não impressiona, e sua
que tentam levar as pessoas para longe pregação é desprezível”.5
do conhecimento de Deus, e dominamos 11 Considerem tais pessoas que aquilo
todo o pensamento carnal, para torná-lo que somos em carta quando estamos
obediente a Cristo.2 distantes, seremos em atitudes, quando
6 E estaremos preparados para repreen- estivermos presentes.
der qualquer atitude rebelde, assim que 12 Pois não ousamos igualarmo-nos ou
alcançardes a perfeita obediência.3 compararmo-nos com alguns que se re-
7 Por hora, observais tão somente a apa- comendam a si mesmos. Entretanto, estes,
rência externa dos eventos. Se alguém medindo-se e comparando-se entre si, de-
está convicto de que pertence a Cristo, monstram quão faltos de sabedoria são.
deveria considerar este fato: assim como 13 Nós, porém, não nos orgulharemos
essa pessoa, nós também somos proprie- além do limite adequado, mas limita-
dades de Cristo.4 remos nosso gloriar ao âmbito da ação
8 Pois ainda que eu tenha me gloriado que Deus mesmo nos confiou, o qual vos
um pouco mais da autoridade que o Se- alcança inclusive!
nhor nos outorgou, não me envergonho 14 Com certeza, não estamos indo longe
desse sentimento, pois essa autoridade é demais em nosso orgulho, como seria se
para edificá-los e não para destruí-los. não tivéssemos chegado até vós, porquan-
1 Os primeiros nove capítulos dessa carta demonstram que Paulo já havia conseguido solucionar alguns dos muitos problemas
da Igreja em Corinto. Entretanto, um remanescente arrogante, rebelde e faccioso continuava perturbando a paz da igreja com
ilações e calúnias contra a autoridade apostólica de Paulo. Esse grupo propagou a falsa idéia de que Paulo era neurastênico,
inconstante e inseguro (1Co 1.20; 4.10; 14.3). Eles alegavam que, em suas cartas, o apóstolo se beneficiava da distância e
da impessoalidade para ser enérgico e corajoso. Mas, em suas visitas pessoais, era dócil e fraco. Paulo apela à mansidão e
benignidade de Cristo, características típicas do Messias (Zc 9.9), para confrontar firmemente seus opositores, antecipando-lhes
que terão oportunidade de comprovar a autoridade espiritual que ele recebeu de Deus; e que no Reino de Deus, segurança e
poder não têm nada a ver com retórica e violência.
2 Paulo está preparado para a guerra, suas armas não são mundanas e de uso comum por parte daqueles que pretensiosa-
mente confiam apenas em sua capacidade intelectual e carisma pessoal. O apóstolo zela por estar em comunhão com Deus e
pleno do Espírito Santo, e não teme rechaçar os ataques dos falsos pregadores que procuram desviar o povo do caminho santo
do Senhor para as fronteiras da perdição (1Co 2.13,14). Armas contaminadas pelo mal são incapazes de combater o pecado e
conquistar almas para Cristo (Zc 4.6). Portanto, todo o pensamento deve ser oferecido a Cristo em sacrifício, somente assim o
âmago do nosso ser ficará plenamente submisso ao governo do Espírito Santo (Rm 12.1,2).
3 Paulo procura não visitar os irmãos em Corinto até que a igreja, de forma geral, esteja submissa ao Espírito e, portanto,
obediente aos princípios da Palavra ministrados pelo apóstolo. Pois quem não é dirigido pelo Espírito Santo não tem qualquer
respeito ou temor à Palavra. Contudo, em breve, os “desobedientes e rebeldes” sentirão o poder e o rigor da disciplina apostólica
(Mt 16.19).
4 Um dos problemas na igreja dos coríntios era o partidarismo. Vários grupos dividiam doutrinariamente a igreja. Havia
um grupo que se autodenominava “de Cristo” (1Co 1.12) e, justamente esses crentes se aliaram aos falsos mestres, para
questionarem a experiência pessoal de Paulo com Cristo e seu chamado ao apostolado. Paulo, que tivera um encontro real e
marcante com o Senhor ressurreto, tendo sido convocado ao ministério por Ele, e recebido do próprio Senhor o conteúdo do
Evangelho que ensinava, afirma categoricamente pertencer a Cristo tanto quanto qualquer crente convicto (At 9.3-9; 22.6-11;
26.12-18; Gl 1.12; 2Co 12.2-7).
5 Paulo não abdicou de sua erudição e notável inteligência, apenas deu maior destaque e expressão à sua experiência com
Cristo e ao poder do Espírito Santo em sua vida. Por isso, desprezou a eloqüência formal e a ostentação de conhecimento
acadêmico, em prol de maior transparência e autenticidade na pregação da Mensagem (Cristo, o Messias, Filho do Deus vivo,
crucificado em nosso lugar, para a salvação eterna do crente) e no discipulado dos cristãos, especialmente, na Igreja em Corinto
(11.6; 1Co 2.1-5). Os falsos mestres e inimigos do Evangelho faziam uso da arte da retórica com o principal objetivo de extorquir
bens e dinheiro daqueles que se deixavam envolver pela lábia, lisonja e falsa simpatia. O amor e a franqueza de Paulo eram tão
verossímeis que seus próprios críticos e opositores não conseguiam “desprezar” o poder de suas palavras.
to vos alcançamos com o Evangelho de serpente enganou Eva com sua astúcia,
Cristo. também a vossa mente seja de alguma
15 E da mesma forma, não caminhare- forma seduzida e se afaste da sincera e
mos além de nossos limites, orgulhando- pura devoção a Cristo.
nos de trabalhos que outros realizaram; 4 Porquanto, se alguém vos tem pregado
pelo contrário, nossa esperança é que, à um Jesus que não é aquele que ensinamos,
medida que for desenvolvendo a fé que ou se recebeis um outro espírito, que não
habita em vós, semelhantemente o nosso o Espírito que creio, terdes recebido, ou
ministério se estabeleça ainda em vosso ainda um evangelho diferente do que
meio, tendes abraçado, a tudo isso muito facil-
16 para que assim nos seja possível pregar mente, tolerais.
o Evangelho nas regiões que estão além 5 Contudo, não me julgo em nada infe-
de vós, sem nos vangloriarmos em cam- rior a esses “eminentes apóstolos”.3
po de atuação de outro. 6 Pois, ainda que não use de eloqüen-
17 Apesar de tudo, “quem se gloriar, glo- te oratória, no entanto, não me falta
rie-se no Senhor”,6 conhecimento. Em verdade, nós vos
18 porquanto, quem se vangloria não temos demonstrado isso em todo tipo
será aprovado, mas sim aquele a quem o de situação.
Senhor recomenda. 7 Será que cometi algum pecado ao
humilhar-me com o propósito de vos
Cuidado com a lábia do Diabo exaltar, pois vos preguei gratuitamente o
6 Segundo um dos pais da Igreja, Clemente de Roma, o apóstolo Paulo, em cumprimento ao seu chamado missionário (apostó-
lico) chegou até as regiões da Espanha, muito “além” das terras gregas. Quanto aos rebeldes e opositores de Corinto, nem seus
nomes passaram para a história (At 19.21; Rm 1.11-15; 15.23-28). Paulo havia aprendido a não se orgulhar de suas capacidades,
experiências e dons pessoais, mas a glorificar o Nome do Senhor em sua vida, por isso cita o profeta Jeremias (Jr 9.24).
Capítulo 11
1 Com o objetivo de tornar evidente a falsidade de alguns auto-intitulados “apóstolos de Cristo”, Paulo se vê obrigado a compa-
rar sua vida e obras em Cristo com as atitudes desses falsos mestres que estavam dividindo a Igreja em Corinto e colocando os
cristãos contra o verdadeiro mensageiro do Senhor. Ao ter que apresentar suas credenciais e falar de suas virtudes para aqueles
a quem tanto amava e tanto conhecia, Paulo ironiza sua situação e comunica aos seus leitores que só estando fora de si para
verbalizar tantas jactâncias e obviedades; como, aliás, apreciavam fazer os falsos apóstolos.
2 Zelo é a expressão que retrata o cuidado extremo (ciúme) de Deus para com seu povo (noiva) Israel no AT (Is 54.5; 62.5;
Os 2.19-20). Cristo é, muitas vezes, identificado no NT como o Noivo, sendo a Igreja, personificada como sua noiva (Mt 9.15; Jo
3.29; Rm 7.4; 1Co 6.15; Ef 5.23-32; Ap 19.7-9; 21.2). Paulo era reconhecido como pai espiritual dos coríntios (6.13), e “amigo do
Noivo” (Jo 3.29). Por isso, tinha a responsabilidade de garantir a saúde e a educação (espiritual e moral) da “virgem” (a Igreja não
maculada por falsas doutrinas) e conduzí-la pura ao casamento fiel e eterno com o Noivo.
3 A estratégia da falsidade é que ela, de fato, não é toda mentirosa, há sempre elementos de verdade em seu contexto, e isso
a torna ainda mais sagaz e perniciosa. Os inimigos de Paulo eram judeus também e estavam apresentando um Jesus de acordo
com as suas próprias doutrinas judaicas (v.22). Os coríntios estavam aceitando conceitos de um “espírito” de escravidão, medo
e mundanismo (Rm 8.15; 1Co 2.12; Gl 2.4; Cl 2.20-23) em vez de apresentarem o fruto do “Espírito”: liberdade, amor, alegria,
paz, coragem e poder (3.17; Rm 14.17; Gl 2.4; 5.1-22; Ef 3.20; Cl 1.11; 2Tm 1.7). Historicamente, líderes religiosos, hereges,
despóticos e carismáticos têm sido mais ovacionados pelo mundo do que os santos servos do Senhor. Por isso, os crentes e as
igrejas precisam ter cuidado para não se deixarem influenciar pelos “superapóstolos” ou “eminências”, conforme a ironia usada
por Paulo, e, assim, em se afastar da verdade (Gl 1.6-9).
tudo evitei ser um peso para vós, e assim 18 Considerando que há muitos que se
continuarei a caminhar.4 orgulham de acordo com padrões mun-
10 Tão certo como a verdade de Cristo danos, ora, eu de igual modo posso me
está em mim, absolutamente ninguém orgulhar.
na região da Acaia poderá privar-me 19 Assim, vós que sois tão lúcidos, certa-
dessa glória. mente sabeis acolher os desequilibrados!
11 Por quê? Será porque não vos tenho 20 Porquanto, de fato, acolheis até quem
dedicado amor fraternal? Ora, Deus sabe vos escraviza ou vos explora, ou aqueles
que vos amo! que sobre vós se exaltam, e até mesmo
12 O que faço, e seguirei fazendo, tem o suportais quem vos esbofeteia.
objetivo de não dar oportunidade aos 21 Para minha vergonha, devo admitir
que procuram ocasiões de serem consi- que fomos fracos. Todavia, naquilo em
derados iguais a nós nas obras de que se que todos os outros se atrevem a orgu-
orgulham.5 lhar-se, falando como louco, também eu
13 Porquanto, tais homens são falsos me atrevo.
apóstolos, obreiros desonestos, fingindo- 22 Ora, são eles hebreus? Eu também sou.
se apóstolos de Cristo. São israelitas? Eu também sou. São des-
14 E essa atitude não é de admirar, pois cendentes da Abraão? Eu também sou.
o próprio Satanás se disfarça de anjo de 23 São servos de Cristo? Eu ainda mais,
luz. me expresso como se estivesse enlou-
15 Portanto, não é surpresa alguma que quecido, pois trabalhei muito mais, fui
seus serviçais finjam que são servos da encarcerado mais vezes, fui açoitado
justiça. O fim dessas pessoas será de acor- mais severamente em perigo de morte
do com o que as suas ações merecem. várias vezes.6
24 Cinco vezes, recebi dos judeus trinta e
Fracos na carne, fortes em Cristo nove açoites.
16 Afirmo, uma vez mais, que ninguém 25 Três vezes fui espancado com varas,
me considere louco. Mas, se assim pen- uma vez fui apedrejado, três vezes sofri
sais, recebei-me como quem acolhe a um naufrágio, passei um dia e uma noite
fraco de juízo, pois assim, ao menos, terei exposto à fúria do mar.7
algo de que me orgulhar. 26 Muitas vezes, passei por perigos em
17 Ao declarar esse orgulho, não o estou viagens, perigos em rios, perigos entre
fazendo segundo o Senhor, mas como assaltantes, perigos entre meus próprios
quem perdeu a sensatez. compatriotas, perigos entre os gentios,
4 Paulo usa uma expressão muito rara em grego para construir uma metáfora em relação ao procedimento dos falsos apóstolos.
O termo, aqui traduzido por “pesado”, tem a ver com a atitude predatória de um peixe oriental que primeiro paralisa (hipnotiza)
sua presa para, em seguida, devorá-la tranqüilamente.
5 Era comum nas regiões da Grécia (a província de Acaia ficava ao sul, onde se localizava a cidade de Corinto), no século I, os
mestres religiosos e filósofos itinerantes receberem por qualquer ensino que ministravam. Paulo, contudo, havia decidido em seu
coração, não cobrar nada pela proclamação do Evangelho e discipulado cristão, embora aceitasse ofertas voluntárias, conforme
o ensino de Cristo (Lc 10.7; Gl 6.6). Os falsos apóstolos alegavam que o ensino de Paulo era fraco e sem qualidade acadêmica,
por isso era de graça. Na verdade, desejavam que Paulo passasse a cobrar por seu ministério, e assim se igualasse a eles. O
apóstolo se nega a proceder assim e insiste em continuar sua jornada de pregar e testemunhar o dom gratuito de Deus. Irmãos
da Macedônia e da Igreja em Filipos foram movidos pelo Espírito e supriram todas as necessidades do apóstolo do Senhor (At
18.5; Fp 4.15).
6 Paulo usa uma expressão grega, semelhante a “alucinado ou doido”, para expressar figuradamente seu estado hipotético
de total descontrole emocional e psíquico, em função de ter que dar provas da verdade transparente e inegável que vive desde
que conheceu a Cristo.
7 Os judeus costumavam aplicar um castigo, muitas vezes mortal, chamado “quarentena”, que consistia de uma sessão de 40
chibatadas menos uma (Mt 10.17). Oito fustigações são mencionadas aqui, cinco pelas mãos dos judeus (Dt 25.1-3) e três por
autoridades romanas, que usavam varas nessas ocasiões; apesar da cidadania romana de Paulo, que deveria tê-lo protegido
desse tipo de castigo (At 16.22-29).
8 Em todos os lugares, todos os dias, Paulo corria risco de vida por causa do Evangelho e dos amados irmãos, como nos relata
seu amigo Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos: Icônio (14.5), Listra (14.19), Filipos (16.22), Tessalônica (17.5), Éfeso (19.26).
9 Paulo reconhece que sua própria fraqueza e as limitações humanas abrem caminho para que ele possa experimentar todo
o esplendor e poder da graça superabundante do Senhor. Por isso, ele chega à conclusão de que se há qualquer motivo de
orgulho e glória, é na obra que a misericórdia de Cristo realizou em sua vida, e não em sua pessoa, ou em algum trabalho que
tenha realizado. O servo de Deus que exorta os crentes a não se preocuparem, várias vezes se desesperou por amor à Igreja de
Cristo (At 20.19; Cl 2.1).
10 Paulo refere-se ao rei Aretas IV, sogro de Herodes Antipas, que reinou sobre os árabes da Nabatéia de 9 a.C. a 40 d.C.
Nessa época, o terrível imperador romano, Calígula, havia devolvido Damasco para Aretas, pois essas terras já haviam lhe
pertencido no passado.
Capítulo 12
1 Paulo usa de um recurso lingüístico, em seu texto original grego, para narrar sua extraordinária experiência pessoal de arre-
batamento (extática ou êxtase), preservando, quanto possível, a humildade e a confidência diante do privilégio de vivenciar tal
fenômeno, no qual viu e ouviu manifestações inefáveis do Senhor. A maneira de Paulo se colocar (um homem em Cristo) indica
que ele não se considerava merecedor de tamanha graça, nem ao menos compreendia se tal evento se deu como uma visão
magnífica e extasiante ou se seu corpo físico foi trasladado para um plano celestial, contudo recebeu o fato de boa vontade como
prova do seu chamado apostólico. Paulo não induziu ou conquistou sua experiência especial com Cristo, por isso não se sentia
no direito de dar ocasião a qualquer autoglorificação (vv. 5,6). Esse evento extraordinário aconteceu há catorze anos passados, o
que indica que Paulo estava em Tarso, logo antes da sua primeira viagem missionária (At 9.30; 11.25).
2 Paulo tem certeza de sua experiência arrebatadora, diferentemente dos falsos apóstolos que apenas teorizavam sobre visões
e revelações divinas. Ainda que os rabinos israelenses acreditassem em sete céus, Paulo aqui se refere ao “terceiro céu” como
um lugar chamado “paraíso”, o céu mais elevado, situado muito além do céu imediato formado pela atmosfera terrestre, e fora
do espaço exterior com todos os seus astros e galáxias, chegando onde Deus tem seu trono (Dt 10.14). Por isso, declara-se que
Jesus Cristo ressurreto e glorificado passou pelos céus e, agora, tendo sido elevado além de todos os céus, está exaltado acima
do “terceiro céu”, onde as almas dos crentes que já deixaram seus corpos materiais descansam na presença do Senhor (Hb 4.14;
7.26; Fp 1.20-23). A grandeza e as maravilhas presenciadas por Paulo ampliaram extraordinariamente sua fé e poder espiritual;
entretanto, para que se mantivesse consciente de sua humanidade limitada e se preservasse humilde, uma aflição permanente e
dolorosa lhe foi imposta (v.7). Sua glória deveria estar sempre e somente no Deus de toda a graça (1Pe 5.10).
a meu respeito mais do que seja capaz grande perseverança, por meio de obras
de observar em minha vida ou de mim extraordinárias, maravilhas e milagres.
pode ouvir. 13 Assim, em que fostes inferiores às
7 E, para impedir que eu me tornasse outras igrejas, a não ser no fato de que
arrogante por causa da grandeza dessas eu mesmo jamais ter me constituído
revelações, foi-me colocado um espinho num peso para vós? Perdoai-me por esta
na carne, um mensageiro de Satanás para ofensa!
me atormentar.3
8 Por três vezes, roguei ao Senhor que o O amor missionário em ação
removesse de mim. 14 Eis que, pela terceira vez, estou pre-
9 Entretanto, Ele me declarou: “A minha parado para partir ao vosso encontro, e
graça te é suficiente, pois o meu poder não vos serei pesado; pois não vou em
se aperfeiçoa na fraqueza”. Sendo assim, busca de vossos bens, mas procuro a vós
de boa vontade me gloriarei nas minhas mesmos. Porquanto, não são os filhos que
fraquezas, a fim de que o poder de Cristo devem poupar seus bens para os pais, mas
repouse sobre mim.4 sim os pais para os filhos.
10 Por esse motivo, por amor de Cristo, 15 Desta forma, de boa vontade e por
posso ser feliz nas fraquezas, nas ofensas, amor de vós, investirei tudo o que possuo
nas necessidades, nas perseguições, nas e também me desgastarei pessoalmente
angústias. Porquanto, quando estou en- em vosso favor. Assim, visto que os amo
fraquecido é que sou forte!5 tanto, serei menos amado por vós?
16 Seja como for, não tenho sido um peso
As credenciais do apóstolo sobre vós; no entanto, como sou “ardilo-
11 Tornei-me insensato porque vós me so”, vos “conquistei com astúcia”.6
obrigastes a isso. De fato, eu devia ser 17 Ora, será possível que eu vos tenha ex-
recomendado por vós, visto que em nada plorado por meio de algum missionário
fui inferior aos “superapóstolos”, mesmo que vos enviei?
considerando que eu nada seja. 18 Eu mesmo orientei a Tito para que vos
12 Os sinais distintivos de um apóstolo visitasse, acompanhado de outro irmão.
foram demonstrados entre vós com Porventura Tito vos explorou? Não mi-
3 Muitas são as conjeturas e especulações acerca da natureza desse “espinho na carne”, que afligia permanentemente a
pessoa do apóstolo e o fazia se sentir fraco e humilhado. Paulo, no entanto, jamais foi claro sobre isso nas Escrituras, nem seus
discípulos e amigos. Para Lutero, se tratava das constantes perseguições; especialmente por parte dos judeus, seus próprios
irmãos, aos quais Paulo dedicava tanto amor (Rm 9.3). De fato, nos textos hebraicos do AT, o termo “espinhos” pode significar
também “inimigos” (Nm 33.55; Js 23.13). Por outro lado, esse fora o “espinho na carne” do próprio Lutero em sua luta pela
Reforma. Paulo teve muitos sofrimentos físicos, padeceu de malária (Gl 4.13), de uma doença que muito lhe prejudicara a visão
(Gl 4.15) e de fortes enxaquecas. Isso, sem falar, de todas as lutas espirituais e psicológicas que um servo de Deus da estatura
de Paulo certamente enfrentou.
4 Assim como Jesus no Getsêmani, Paulo insistiu com Deus para que o livrasse daquele tormento. Entretanto, o Senhor preferiu
cobrir o sofrimento do apóstolo com Graça e Poder. É assim, que muitas vezes, Deus nos abençoa nessa terra: não destruindo
ou retirando o mal que nos aflige e enfraquece, mas transformando nosso sofrimento em motivo de fé, crescimento espiritual e
testemunho da sua graça e amor eterno. Paulo havia aprendido a desfrutar da Graça do Senhor mesmo em meio aos sofrimentos,
fraquezas e lutas dessa vida. Por isso, usou expressões que tinham a ver com a glória de Deus (em hebraico Shekinah) pousando
sobre o templo (Jo 1.14; Ap 7.15). O termo “repouse” (em grego episkenőse) tem o sentido de “fazer seu tabernáculo”.
5 Paulo aprendeu a fazer as pazes com o sofrimento. Aceitou sua condição e se apropriou da glória e do poder espiritual que
Deus lhe oferecia. Substituiu sua fraqueza humana pelo poder de Cristo, a arrogância natural pela humildade que deriva de uma
fé inabalável no amor e na graça de Deus. Paulo chegou ao estágio de sentir-se feliz nas experiências angustiantes - sem ser
masoquista - por meio da certeza (fé) de que todas as coisas contribuíam – de alguma forma – para seu bem e o tornavam ainda
mais forte no Senhor (Rm 8.28; Jo 15.5; Fp 4.13).
6 Os “superapóstolos”, assim chamados irônica e literalmente por Paulo, caluniavam o apóstolo do Senhor, alegando que
ele usava as arrecadações em favor dos cristãos pobres de Jerusalém em seu benefício pessoal e, por isso, não precisava ser
“pesado” às igrejas onde ministrava. Na verdade, entretanto, esses falsos cristãos é que fraudavam tanto a teologia bíblica quanto
a prática moral (11.13-15).
nistramos nós pelo mesmo Espírito? Não 2 Já vos adverti quando estive entre vós,
seguimos juntos o mesmo caminho? pela segunda vez. Agora, estando ausente,
volto a dizer aos que anteriormente pe-
Deus é nosso Juiz e Salvador caram e a todos os demais que, quando
19 Pensais que durante todo esse tempo retornar, com certeza não os pouparei,
estamos tentando nos defender diante 3 visto que estais exigindo que apresente
de vós? Ora, é diante de Deus que apre- uma prova de que Cristo fala por meu
sentamos nossa defesa em Cristo, e todas intermédio. Ele não é fraco ao lidar con-
as nossas atitudes, amados irmãos, têm o vosco, mas sim, poderoso entre vós.
propósito de vos fortalecer.7 4 Porque, apesar de haver sido crucificado
20 Porquanto, temo que, ao visitá-los, não em fraqueza, Ele vive, e isso pelo poder
os veja como eu gostaria, e que vós tam- de Deus. Semelhantemente, somos fracos
bém não me encontrem como esperavam. nele, mas, pelo poder de Deus viveremos
Receio que haja entre vós brigas, invejas, com Ele para vos servir.1
ódio, ambições egoístas, calúnias, mexeri- 5 Examinai, portanto, a vós mesmos, a
cos, arrogância e muita confusão. fim de verificar se estais realmente na fé.
21 Temo ainda de que, quando estiver Provai a vós mesmos. Ou não percebeis
convosco outra vez, o meu Deus me hu- que Jesus Cristo está em vós? A não ser
milhe diante de vós, e que eu lamente por que já estejais reprovados.2
muitos dos que pecaram anteriormente e 6 Mas tenho a esperança de que compre-
que ainda não chegaram à conclusão que endais que nós não fomos reprovados.
precisam se arrepender da impureza, das 7 Agora, oramos a Deus para que não
relações sexuais ilícitas e da devassidão pratiqueis mal algum; não para que
moral que viviam praticando. os outros observem que temos sido
aprovados, mas para que façais o que é
Exercer a autocrítica cristã correto, embora pareça que tenhamos
7 Paulo se submeteu à loucura de ter que apresentar suas credenciais apostólicas e defender sua própria pessoa e ministério,
não para manter seu prestígio elevado e reputação ilibada perante os cristãos de Corinto, mas especialmente por causa do nome
do Senhor. É diante de Deus que ele se levanta, pois sua posição está na pessoa e na obra de Cristo. Longe de ser egocêntrico,
sua preocupação está em cooperar com o crescimento espiritual dos irmãos em Cristo. Essa é a principal finalidade de sua vida
e ministério (10.8).
Capítulo 13
1 Paulo adverte que não hesitará em tomar duras medidas disciplinares contra aqueles que, se declarando cristãos, insistem em se
manter rebeldes à Palavra de Deus, e cita Dt 19.15 para ordenar-lhes que restabeleçam a ordem na igreja (v.1). Essa rebeldia contra
as palavras de Paulo é uma afronta à pessoa de Cristo que o nomeou Seu apóstolo. A autoridade do apóstolo é a mesma autoridade
do seu Mestre, e quem quiser se opor a Paulo, contando com sua suposta fraqueza e insegurança, descobrirá que Cristo é Deus
falando por meio do Seu apóstolo, e que Ele não é fraco, mas poderoso e justo (Fp 2.8; 4.13; Rm 1.4; 6.4; 1Pe 3.18).
2 Em vez de se entregarem às exigências e reivindicações imaturas e perversas (influenciados pelos falsos apóstolos), os cristãos
são encorajados a examinar suas próprias consciências e avaliarem suas atitudes para com Deus, em relação aos seus semelhan-
tes, e àqueles que lealmente doam suas vidas em favor do ministério. O termo “examinai” (em grego original peirazõ) significa “tes-
tar”, “avaliar” o quanto estamos sendo “dignos” de nossa “convocação para sermos cristãos” (2Ts 1.11,12). O cristão que realmente
procura viver o Evangelho e, portanto, está firme na fé, tem prazer em favorecer a ação do Espírito Santo na produção do Seu fruto
(Gl 5.22; Mt 7.16). Paulo usa ainda a expressão “provai” (no original grego dokimazõ) que era usada quando alguém precisava
“confirmar” ou “testar” o valor e a autenticidade de uma moeda. Alguns falsários fabricavam moedas de chumbo com a estampa
das moedas de prata. No entanto, quando eram jogadas sobre o mármore, o som que produziam na colisão contra a pedra, logo
denunciava a moeda falsa. Assim, o crente demonstra sua verdadeira fé, especialmente, quando sob provações.
3 Paulo não pede muito. Seguindo o pensamento grego, apela para a simples e definitiva expressão da verdade. Sendo assim,
é impossível exercer a plena autoridade apostólica de uma maneira que não tenha a verdade como fundamento. Portanto, se a
verdade, que é Cristo, for reconhecida pelos cristãos até sua chegada em Corinto, não mais haverá necessidade de constrangi-
mentos e correções disciplinares, pois a própria igreja se submeterá ao Espírito Santo e voltará ao bom senso cristão.
4 Paulo não se importava em sacrificar-se, desde que isso contribuísse para o aperfeiçoamento espiritual dos seus filhos na
fé. Os cristãos de Corinto eram “fortes”, pois haviam sido abençoados com toda a graça e dons espirituais. No entanto, esta-
vam confusos (ludibriados por falsos líderes cristãos e suas doutrinas espúrias) e não exercitavam seus dons com altruísmo
e dedicação, necessitando, portanto, de aperfeiçoamento (Ef 4.12), ou seja, uso e preparação das virtudes espirituais para
vencer os dias de luta e aflição. Esse preparo espiritual se adquire somente pela experiência sincera, dedicada e perseverante
em Cristo (2Tm 2.15).
5 A partir daqui, a bênção apostólica ou trinitária passa a ser uma tradição do culto cristão em todo o mundo. A graça de Cristo
nos revela o amor do Pai (v.11) que, por sua vez, nos concede o selo (o direito legal) para sermos filhos de Deus (Jo 1.12) por
intermédio do Espírito Santo que produz comunhão fraternal entre os filhos de Deus em todos os povos, línguas e culturas. A santa
trindade é um mistério conhecido como verdadeiro, não por meio de qualquer teorização lógica ou filosófica, mas simplesmente
mediante a própria experiência cristã dos santos apóstolos e discípulos, por meio da qual o ser humano é alcançado pela graça
salvadora e transformadora do Cristo ressurreto, reconhecendo o amor e o perdão de Deus-Pai, e consagrando sua vida aos
cuidados do Espírito Santo, procurando viver em comunhão com as três pessoas do único, poderoso e eterno Deus.