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INTRODUÇÃO

HEBREUS
Autoria
Durante aproximadamente mil e duzentos anos (entre o ano 400 e 1600 d.C.), esse verdadeiro tra-
tado teológico aos hebreus (judeus) foi chamado de “Epístola de Paulo aos Hebreus”, muito embora
a igreja primitiva nunca houvesse lhe atribuído tal autoria. Orígenes, um dos pais da igreja do terceiro
século costumava dizer: “somente Deus sabe quem escreveu Hebreus”.
A primeira edição britânica da Bíblia King James, em 1611, assim como traduções posteriores
para outras línguas, incluindo a portuguesa, ainda abriam o livro de Hebreus com esse título. Com
a Reforma, entretanto, análises exegéticas mais aprofundadas começaram a ser implementadas; e
com as grandiosas descobertas bíblico-arqueológicas, ocorridas especialmente nos séculos XIX e
XX, convencionou-se entre os biblistas de todo o mundo que o mais correto seria manter o mistério,
que os próprios originais fazem, em relação à autoria dessa obra.
Desde a igreja primitiva, e na época dos pais da igreja, já havia uma inquietação em relação a esse
assunto. Tertuliano, por volta do ano 200 d.C., chega a se referir a esse livro como “uma epístola aos
hebreus com o nome de Barnabé”. Já na Reforma, foi Martinho Lutero quem primeiro, ao dedicar-
se à exegese dos manuscritos gregos que dispunha, sugeriu a autoria de Apolo. Esses autores
propostos são, de fato, grandes possibilidades, além de Silas, Áquila, Clemente de Roma e o casal
Áquila e Priscila.
Barnabé não fazia parte do grupo de apóstolos, no sentido restrito da expressão, mas tinha plena
autoridade espiritual a ele conferida pelo comitê apostólico e diretamente por Paulo e Pedro. Foi
um intelectual respeitado pela Igreja e cristão hebreu profundo conhecedor do Antigo Testamento.
Barnabé, portanto, cumpre bem as características necessárias como potencial autor dessa carta aos
Hebreus. Era judeu, da tribo sacerdotal de Levi (At 4.36), e tornou-se discipulador e amigo de Paulo,
com quem serviu por muito tempo como companheiro de ministério e missões. Foi o próprio Espírito
Santo quem indicou para a Igreja, em Antioquia, que Barnabé e Paulo deveriam ser enviados para a
grande obra de evangelização ocorrida durante a primeira viagem missionária (At 13.1-4).
Apolo é um candidato considerado ainda mais indicado por grande parte dos estudiosos modernos.
Lucas nos revela que “...chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem
eloqüente, e que acumulava grande experiência nas Escrituras”(At 18.24). Apolo também era judeu
convertido ao Senhor Jesus, pelo batismo de João, e dotado de admirável capacidade oratória e
intelectual. Paulo tinha grande respeito e amizade por Apolo, com quem realizou importante obra
evangelística em Corinto (1Co 1.12; 3.4-22).

Propósitos
Muito mais fácil de determinar do que a autoria de Hebreus, mas não menos difícil de compre-
ender em toda a sua amplitude, são os propósitos e o conteúdo temático desta carta endereçada
especialmente aos judeus (hebreus) convertidos a Cristo, que faziam parte da Igreja na Itália (13.24;
Rm 15.26), mas que estavam sendo tentados a voltar aos rudimentos da Lei e do judaísmo místico.
Alguns mestres judeus estavam pregando uma doutrina herética que não combatia diretamente a
mensagem cristã, mas procurava judaizar o evangelho (Gl 2.14; At 6.7).
O prefácio do livro já afirma categoricamente o caráter distintivo do Filho de Deus. Cristo é antes
da História, e a própria razão da História. Jesus é o agente que produz a única plena purificação dos
pecados derivados do coração humano, da Queda (Gn 3), e cometidos na História. Jesus Cristo é a
suprema revelação de Deus (1.1-3).
Portanto, o tema central de Hebreus é a supremacia e suficiência de Cristo, completando e ultra-
passando em muito a revelação preliminar e limitada concedida aos homens por meio do Antigo
Testamento. Por este motivo, todas as revelações, promessas e profecias do AT são perfeitamente
cumpridas somente na “Nova Aliança” ou “Novo Testamento”, nos quais a pessoa de Jesus, por cau-
sa da sua obra redentora, é o único e suficiente Mediador entre Deus e a humanidade. Muito superior
aos anjos, a Moisés (mediador da Antiga Aliança) e a todos os profetas do AT (1.4-14). Segundo
vários exegetas e estudiosos dos manuscritos gregos de Hebreus, esta carta poderia também ser

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designada como “O Livro do Melhor”, na medida em que as expressões que significam “melhor” e
“superior” aparecem mais de 15 vezes no texto original dessa obra.
O sacerdócio de Cristo, semelhante a Melquisedeque (Sl 110.4) – o sacerdote eterno e ilustração do
Messias, é melhor do que o arônico, e superior a toda geração dos levitas, pois a vida do Cristo é indes-
trutível e perene. Jesus é o único que ao mesmo tempo é o Sacerdote, que é a própria Oferta sacrificial,
e seu sangue valida todo o Novo Testamento que é o “Pacto” final e eterno (4.14 – 10.18).
Os crentes são movidos pela comunhão restabelecida com Deus Pai em Cristo Jesus, e pela fé
presente, conscientes das bênçãos infinitas que os aguardam no futuro (10.19 –12.29). A Cruz do
Senhor como o grande altar do cristão, e a ressurreição do Sacerdote, perfazem a base jurídica da
ação salvadora e redentiva de Deus (13.1-25).

Data da primeira publicação


Os mais atuais e consistentes estudos históricos e arqueológicos sobre a datação de Hebreus
apontam para alguma época, no ano 70 de nossa era, imediatamente anterior ao massacre e
destruição da cidade de Jerusalém, pelos exércitos romanos comandados por Tito. As principais
justificativas, neste sentido, levam em consideração que, se essa carta tivesse sido escrita após esta
data, com toda a certeza, o autor teria mencionado ou feito alguma alusão a uma das mais sangui-
nárias chacinas ocorridas em Jerusalém, em toda a história da humanidade, envolvendo a completa
destruição do suntuoso templo e do próprio sistema sacrificial judaico. Por outro lado, o autor ao
escrever os originais em grego, emprega sistematicamente o tempo verbal presente quando fala
sobre o templo e se refere às atividades sacerdotais praticadas antes da invasão romana e jamais
retomadas até nossos dias (5.1-3; 7.23,27; 8.3-5; 9.6-25; 10.1-11; 13.10,11).

Esboço geral de Hebreus


1. A superioridade universal e infinita de Jesus, o Cristo (1.1 – 4.16)
A. Jesus é incomparavelmente superior a todos os profetas (1.1-4)
B. Jesus é superior a todos os seres angelicais (1.5-14)
C. Jesus é superior ao mediador do AT: Moisés (3.1-6)
D. Jesus Cristo, o filho de Deus, é o alvo maior da fé (3.7 –4.16)
2. A superioridade inquestionável do sacerdócio do Senhor (5.1 – 10.39)
A. A superioridade das qualificações do Senhor Jesus (5.1-10)
B. Sermão repetitivo para os tardios de entendimento (5.11 – 6.20)
C. Jesus é superior em sua própria Ordem Sacerdotal (7.1 – 8.13)
a) Melquisedeque como ilustração do Messias (7.1-3)
b) A superioridade do Sacerdote eterno (7.4 – 8.13)
D. Jesus é superior por causa de sua obra vicária (9.1 – 10.18)
E. Outro rápido sermão de chamamento à fé (10.19-39)
3. A superioridade da pessoa e do poder de Jesus Cristo (11.1 – 13.19)
A. Todo poder é outorgado aos sinceros crentes no Senhor (11.1-40)
B. O poder da fé no dia-a-dia dos cristãos e da Igreja (12.1-29)
C. O infinito e superior poder do amor leal de Cristo (13.1-19)
4. Saudações e bênção final (13.20-25)

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HEBREUS
Deus revelou-se em Jesus Cristo hoje te gerei”? E outra vez: “Eu lhe serei
Pai, e Ele me será Filho”? 4
1 Havendo Deus, desde a antigüida-
de, falado, em várias ocasiões e de
muitas formas, aos nossos pais, por
6 E uma vez mais, quando Deus intro-
duz o Primogênito no mundo, declara:
intermédio dos profetas,1 “Todos os anjos de Deus o adorem”.5
2 nestes últimos tempos, nos falou 7 Quanto aos anjos, Ele afi rma: “Ele faz
mediante seu Filho, a quem constituiu dos seus anjos ventos, e dos seus servos,
herdeiro de tudo o que existe e por meio labaredas de fogo”.6
de quem criou o Universo. 8 Entretanto, a respeito do Filho, revela:
3 Ele, que é o resplendor da glória e a “O teu trono, ó Deus, subsiste por toda
expressão exata do seu Ser, sustentando a eternidade; e o cetro do teu Reino é
tudo o que há pela Palavra do seu poder. bastão da justiça.
Depois de haver realizado a purificação 9 Amas o direito e odeias a iniqüidade;
dos pecados, Ele se assentou à direita da por este motivo, Deus, o teu Deus, te esco-
Majestade nas alturas,2 lheu e ungiu com óleo de alegria, como a
4 tornando-se tão superior aos anjos nenhum dos teus companheiros”.
quanto o Nome que herdou é ainda 10 E acrescenta: “Tu, Senhor, no prin-
mais excelente do que eles.3 cípio estabeleceste os fundamentos da
terra, e os céus são obras das tuas mãos.
O Filho é exaltado acima dos anjos 11 Eles perecerão, mas tu permanecerás;
5 Porquanto, a qual dos anjos Deus algu- envelhecerão como vestimentas,
ma vez afirmou: “Tu és meu Filho; Eu 12 e como um manto tu os enrolarás, e

1 A “antigüidade” é um termo que indica a era anterior à primeira vinda de Jesus Cristo, em contraste com “nestes últimos dias” (v.2),
que se referem à era messiânica (ou período escatológico) inaugurada com a encarnação do Senhor (At 2.17; 1Tm 4.1; Jo 2.18). A ex-
pressão “Deus falou” é mais uma confirmação de que seu Espírito Santo é o supremo autor-inspirador dos escritores do AT e do NT.
2 Jesus Cristo, o Filho primogênito de Deus, é o herdeiro de todo o Universo e da eternidade (Ef 1.20-23; Rm 8.17). Cristo é
a Palavra, o agente da Criação (Jo 1.1-3; Cl 16.3). Ele é o resplendor da glória de Deus; assim como a luz do sol não pode se
separar do próprio sol, semelhantemente, o esplendor do Filho é inseparável da deidade, porquanto ele mesmo é Deus, como
segunda pessoa da Trindade (Jo 1.5-18). Jesus não é uma simples imagem ou anjo de Deus, mas a materialização exata da
pessoa de Deus (Jo 14.9; Cl 1.15). Cristo não pode ser comparado a qualquer outro deus, como imaginavam os gregos em
relação a Atlas, que, segundo a mitologia, tinha o poder de carregar o mundo nas costas. O Filho de Deus mantém sob seu
controle todo o macro e micro universo (Cl 1.17). Somente podia sentar-se ao lado direito do rei alguém por ele determinado e
investido da sua autoridade, pois esse ato normalmente indicava o seu sucessor ao trono, tradicionalmente seu filho escolhido. Ao
ser conduzido à direita do Pai, Jesus Cristo completou a obra da redenção, e hoje governa ativamente com Deus, como Senhor
absoluto do Universo (v.13; 8.1; 10.12; 12.2; Ef 1.20; Cl 3.1; 1Pe 3.22; Mc 16.19).
3 A maioria dos hebreus (povo semita do AT que deu origem aos judeus) acreditava que os anjos eram seres celestiais e
exaltados, que deviam ser reverenciados por terem participado da entrega da Lei de Deus ao povo no monte Sinai (2.2); sendo
essa Lei a suprema revelação de Deus para os judeus. Vários textos antigos, descobertos no monte Qunram e conhecidos
como os Rolos do Mar Morto, revelam a expectativa de muitos hebreus de que o arcanjo Miguel seria o grande líder do reino
messiânico e, nesse caso, alguns anjos ocupariam uma posição acima de Cristo. O escritor desse livro contesta veementemente
essa possibilidade, lembrando aos seus leitores, entre outras coisas, o fato de que o nome, para a cultura judaica, comunica o
caráter completo da pessoa. Portanto, o trecho que se segue nos revela que esse Nome era “Filho”, nome que deve ser adorado
por todo o Universo, o qual nenhum anjo pode ostentar (Gn 17.5; vv.5-14).
4 O Sl 2.7 é citado também em At 13.33, demonstrando o cumprimento perfeito da vontade de Deus na ressurreição do seu
Filho, Jesus (Lc 1.32,33; Rm 1.4; 2Sm 7.14).
5 Os próprios anjos declaram que Jesus Cristo é o Senhor e o adoram (Dt 32.43 – de acordo com a Septuaginta e os Rolos do
Mar Morto – Cl 1.15; Sl 97.7). Essas declarações, que no AT se referem a Yahweh (o nome impronunciável de Deus no AT), aqui
são aplicadas a Cristo, o que se constitui em mais uma indicação clara da sua absoluta divindade.
6 O autor de Hebreus cita a Septuaginta (tradução grega do AT), por ser a tradução das Escrituras que a geração dos judeus
de sua época mais conhecia, pois muitos palestinos já não sabiam ler o hebraico antigo (Sl 104.4).

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como roupas serão trocados; mas, Tu és de sinais, Deus testemunhou feitos por-
imutável, e os teus dias não terão fim”.7 tentosos, diversos milagres e dons do
13 Ora, a qual dos anjos Deus alguma vez Espírito Santo, distribuídos conforme
declarou: “Senta-te à minha direita, até a sua vontade.4
que Eu faça dos teus inimigos um estra- 5 Porquanto, não foi aos anjos que Deus
do para os teus pés”? sujeitou o mundo vindouro, a respeito
14 Não são todos os anjos, espíritos do qual estamos falando.5
ministradores, enviados para servir em
benefício dos que herdarão a salvação?8 Cristo é feito à nossa semelhança
6 No entanto, alguém em certa passa-
Jamais negligenciar a salvação gem testemunhou, afi rmando: “Que é

2 Por isso, é fundamental prestarmos


atenção, mais ainda, às verdades que
temos ouvido, para que jamais nos des-
o homem, para que com ele te impor-
tes? E o fi lho de Adão, para que venhas
visitá-lo?
viemos delas.1 7 Tu o fi zeste um pouco menor do que os
2 Pois, se a mensagem proferida por anjos e o coroaste de glória e de honra;
anjos provou sua firmeza, e toda trans- 8 tudo sujeitaste debaixo dos seus pés”.
gressão e desobediência recebeu a devi- E ao sujeitar-lhe todo o Universo, nada
da punição,2 deixou que não lhe fosse sujeito; contu-
3 como nos livraremos se desconsiderar- do, hoje, ainda não vemos que todas as
mos tão grande salvação? Esta salvação, coisas estejam submissas a ele;6
tendo sido proclamada pelo Senhor, foi 9 observamos, no entanto, aquele que
depois confirmada a nós pelos que a por um momento foi feito menor do
ouviram.3 que os anjos, Jesus, coroado de honra e
4 E, juntamente com eles, por intermédio de glória por ter sofrido a morte, para

7 O autor cita mais algumas passagens do AT que sugerem a divindade do Rei messiânico e davídico, reafirmando a superiori-
dade de Jesus, o Filho de Deus, sobre todos os anjos (Sl 45.6,7; 102.25-27).
8 O autor de Hebreus faz questão de aplicar os textos do AT dirigidos a Yahweh (Iavé) à pessoa de Jesus Cristo, o Filho. O
Salmo 110 é citado várias vezes, sempre aplicado a Jesus (3.13; 5.6,10; 6.20; 7.3-21; 8.1; 10.12,13; 12.2). O autor destaca: Cristo,
o Filho de Deus, reina; os anjos ministram como missionários celestes, enviados para servir aos escolhidos.
Capítulo 2
1 A expressão grega original, aqui traduzida pela palavra “desviemos”, tem o sentido literal de: “sermos levados por uma forte
correnteza”.
2 O autor de Hebreus refere-se à participação dos anjos na entrega da Lei a Moisés no Sinai (Dt 33.2 – “miríades de santos”
– Sl 68.17; At 7.38,53; Gl 3.19).
3 Os cristãos hebreus, principais destinatários deste livro, estavam negligenciando a comunhão da Igreja (koinonia) e dos
cultos (10.25), por acreditarem que Jesus estava demorando muito para retornar. O autor de Hebreus afirma que as testemunhas
oculares, sobretudo os apóstolos, foram os primeiros a confirmar a Mensagem proclamada por Cristo (2Pe 1.16; 1Jo 1.1). Ele,
entretanto, não reivindica alguma revelação direta do Senhor. Mas defende a nossa Salvação em Jesus Cristo, o Filho Unigênito
de Deus, com raro entusiasmo e conhecimento cristológico das Escrituras.
4 Deus fez questão de confirmar a chegada do Evangelho e seu Reino por meio de atos sobrenaturais e prodigiosos, como a
cura de milhares de enfermos (At 3.7-16) e a distribuição de diversos dons espirituais, em benefício ao seu Corpo (a Igreja), de
acordo com seus planos e propósitos (1Co 12.4-11).
5 O autor de Hebreus faz uma exposição cristológica do Salmo 8.4-6, demonstrando a superioridade absoluta de Cristo sobre
os mais altos anjos. Usa o termo grego oikoumenen, para comunicar a idéia “da sociedade organizada pelos seres humanos”,
ou seja, “o mundo”. Ao tomar sobre si a natureza humana e cumprir plenamente sua missão na terra, de acordo com o plano do
Pai, Cristo redimiu o ser humano caído e arrependido, não os anjos caídos (vv.11,14). O novo mundo será governado por Cristo,
juntamente com todos os cristãos (2Tm 2.12).
6 O texto sagrado de Sl 8.4-6 era bem conhecido pelos hebreus e contempla a pessoa de Adão, como o precursor da
humanidade. A ele, Deus confiou o poder sobre tudo o que havia na terra (Gn 1.26). O propósito de Deus era que o ser humano
fosse soberano no âmbito das criaturas, sujeito somente ao Senhor. Todavia, por causa da Queda (Gn 3), esse objetivo de
Deus ainda não foi completamente realizado. De fato, o próprio homem está “escravizado” pelo pecado, que é a morte (v.15), e
somente em Cristo pode ser salvo (liberto).

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HEBREUS 2, 3 6

que, pela graça de Deus, em benefício de 15 e livrasse todos os que ao longo da


todos, experimentasse a morte.7 vida inteira estiveram escravizados pelo
10 Ao conduzir muitos fi lhos à glorifi- medo da morte.10
cação, convinha que Deus, por causa 16 Pois, é evidente que Ele não auxilia
de quem e por intermédio de quem os anjos, mas sim à descendência de
tudo veio a existir, tornasse perfeito, Abraão.11
por meio do sofrimento, o Autor da 17 Por esse motivo, era vital que Ele
Salvação deles.8 se tornasse semelhante a seus irmãos
11 Assim, tanto o que santifica quanto os em todos os aspectos, a fim de que
que são santificados advêm de Um só. E, pudesse constituir-se sumo sacerdote
por essa razão, Jesus não se envergonha misericordioso e leal em relação a
de chamá-los irmãos. Deus, e poder realizar propiciação pelos
12 Ele declara: “Vou anunciar teu nome pecados do povo.12
aos meus irmãos; cantar-te-ei louvores 18 Considerando, portanto, tudo o que
no meio da congregação”.9 Ele mesmo sofreu quando tentado, Ele
13 E mais: “Porei nele a minha con- é capaz de socorrer todos aqueles que
fiança”. E outra vez Ele afirma: “Aqui semelhantemente estão sendo atacados
estou Eu com os fi lhos que Deus me pela tentação.
concedeu”.
14 Portanto, visto que os fi lhos compar- Jesus Cristo é superior a Moisés
tilham de carne e sangue, Ele também
participou dessa mesma condição hu-
mana, para que pela morte destruísse
3 Sendo assim, santos irmãos, partici-
pantes da convocação celestial, con-
siderai com toda a atenção o Apóstolo e
aquele que tem o poder da morte, a sa- Sumo Sacerdote que declaramos pu-bli-
ber, o Diabo; camente: Jesus.1

7 O Sl 8 refere-se aqui à pessoa do Messias, o Senhor Jesus, como o precursor do domínio humano restaurado sobre a terra.
Por causa da sua vida de amor e obediência ao Pai, seu sacrifício vicário na cruz e sua exaltação (1Co 15.45), tornou possível ao
homem perdoado e redimido o cumprimento das promessas do Sl 8 no Reino que se estabelecerá plenamente no futuro.
8 A expressão grega original archegőn, aqui traduzida por “Autor”, tem o sentido literal de: “Iniciador”. Cristo é o condutor dos
descendentes de Adão à glória que Deus planejou para a humanidade. Foi por intermédio da sua paixão pessoal – a Deus e à
humanidade – que Jesus pode se tornar nosso perfeito e único Salvador, o Messias (v.18; At 3.15; 5.31; Hb 12.2).
9 Na “Congregação”, um dos sinônimos da palavra Igreja (em grego ekklesia), só podem participar, como membros, os
“irmãos” de Cristo. Os filhos de Deus foram outorgados ao Filho do Pai como “irmãos” (v.11), participantes da natureza de Cristo
mediante o Espírito Santo (v.14). O autor de Hebreus cita o Sl 22, salmo de Davi (escrito há mais de mil anos antes da crucificação
de Jesus), e que se refere profeticamente aos sofrimentos e ao triunfo de Jesus Cristo, o Servo Justo de Deus, o Messias.
10 Satanás tem o “poder da morte” somente no sentido de “poder induzir” a humanidade ao pecado; desviar as pessoas do
Caminho que conduz a Deus: Jesus Cristo, e, conseqüentemente, relegar o ser humano incrédulo a uma condição de punição
inevitável, que é o eterno afastamento da presença de Deus: a morte (Ez 18.4; Rm 5.12; 6.23). Entretanto, a graça salvadora de
Deus está – neste momento – à disposição de todos os seres humanos que desejarem sinceramente recebê-la por meio da fé
em Cristo Jesus (Jo 1.12,13).
11 Aos anjos caídos (demônios) e ao próprio Satanás, não será concedida qualquer benevolência ou graça salvadora.
Todos esses espíritos do mal já estão condenados à punição máxima e eterna. Somente aos descendentes de Adão (os seres
humanos), que ao serem contemplados pela graça de Cristo, reconhecerem que andaram contra a perfeita vontade de Deus,
serão definitivamente redimidos e salvos da morte pela fé em Jesus (Gl 3.7).
12 Para que Jesus Cristo pudesse cumprir a Lei, e pagar plenamente a fiança da ira condenatória de Deus sobre a
humanidade, tinha que se tornar perfeitamente humano, todavia sem pecado (4.15), a fim de reunir todos os poderes legais
para se oferecer em resgate pelo pecado de Adão (e de toda a humanidade por extensão). O sacrifício do Justo na cruz foi a
derradeira e definitiva cerimônia de Propiciação (termo hebraico que significa “cobrir”, “apagar”) exigida por Deus para que a
Lei fosse perfeitamente cumprida, e a era da graça pudesse ser declarada em vigor até o iminente e glorioso retorno do Senhor
e o Juízo final (Lv 20-24; 17.11).
Capítulo 3
1 Jesus Cristo é o perfeito Sumo Sacerdote (representante) e Apóstolo (missionário) de Deus para o resgate (Salvação) da
humanidade (Mc 6.30; 1Co 1.1). Jesus muitas vezes se referiu a si mesmo como aquele que fora “enviado” ao mundo pelo Pai
(Mt 10.40; 15.24; Mc 9.37; Lc 9.48; Jo 4.34; 5.24-38; 6.38).

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7 HEBREUS 3

2 Ele foi fiel àquele que o constituiu, as- essa geração e declarei: O coração
sim como também foi Moisés em toda a destes está sempre se desviando, e não
casa de Deus.2 reconheceram os meus caminhos.
3 Jesus foi considerado digno de maior 11 Sendo assim, jurei na minha ira: Estes
glória do que Moisés, pelo mesmo prin- jamais entrarão no meu descanso”.
cípio que o construtor de uma casa pos- 12 Irmãos, tende muito cuidado, para
sui mais honra do que a própria casa. que nenhum de vós mantenha um co-
4 Porquanto, toda casa é construída por ração perverso e incrédulo, que se afaste
alguém; no entanto, Deus é o supremo do Deus vivo.
construtor de tudo.3 13 Pelo contrário, exortai-vos mutua-
5 Moisés foi leal como servo em toda a mente todos os dias, durante o tempo
casa de Deus, dando testemunho do que que se chama “hoje”, de maneira que
haveria de ser revelado no futuro;4 nenhum de vós seja embrutecido pelo
6 Cristo, no entanto, é fiel como Filho engano do pecado.6
sobre a casa de Deus; e essa casa, pre- 14 Porque passamos a ser participantes
cisamente, somos nós, isto é, se retiver- de Cristo, desde que em realidade, nos
mos com fé perseverante a coragem e a apeguemos até o fim à fé que nele depo-
esperança da qual nos gloriamos. sitamos desde o início.
15 Por essa razão é que se afi rma: “Hoje,
O grave perigo da incredulidade se ouvirdes a sua voz, não endureçais o
7 Assim como proclama o Espírito San- vosso coração, como ocorreu na rebe-
to: “Hoje, se ouvirdes a sua voz,5 lião”.
8 não endureçais o vosso coração, como 16 Ora, quem foram os que ouviram e
ocorreu na rebelião, durante o tempo da se rebelaram? Não foram todos os que
provação no deserto, saíram do Egito guiados por Moisés?
9 onde vossos pais me tentaram, pondo- 17 E contra quem Deus se manteve irado
me à prova, ainda que, durante quarenta por quarenta anos? Não foi contra aque-
anos, tenham contemplado as minhas les que pecaram, cujos corpos tomba-
obras. ram mortos no deserto?
10 Por esse motivo, me indignei contra 18 E a quem jurou que jamais haveriam

2 Moisés foi enviado por Deus para libertar o povo de Israel da escravidão egípcia, e para guiá-los à Terra Prometida. Jesus
foi enviado pelo Pai para libertar os dominados pelo pecado e pelo Diabo, de todas as nações, e conduzi-los ao Shabbãth do
Senhor (descanso sabático em hebraico) prometido aos que crêem (2.14,15; 4.3,9; Jo 1.12,13; 17.4). O termo original “casa”,
aqui, significa “família”.
3 Aqui, o termo “casa” pode ser traduzido como “lar”. Assim, Jesus, como Deus, é o próprio construtor do “lar”, sendo que
Moisés simplesmente fazia parte dessa “casa”. Jesus, o Filho de Deus, é o agente e herdeiro de toda a Criação, e, portanto, tem
o direito de mandar; Moisés tinha o direito de servir.
4 O próprio Moisés profetizou acerca da vinda e da obra de Cristo. A casa consiste no povo de Deus em todo o mundo, sua
família (Ef 2.19; 1Pe 2.5). Se alguém deixar de perseverar na fé, apenas demonstra que jamais foi, de fato, crente e filho de Deus.
Aquele que se arrepende de seus erros e pecados e não consegue ficar longe do Senhor e de sua família (a Igreja) é o filho
amado, e seu coração exibe a marca dos eleitos. A prova da realidade da regeneração está na fidelidade a Jesus Cristo e na
obediência à sua Palavra.
5 Aqui, temos mais uma evidência da inspiração do AT e, por conseguinte, de toda a Escritura. Essa citação de Sl 95.7-11 faz
uma análise sintética da frustrante história de Israel no deserto sob liderança de Moisés. Assim como o autor do salmo usou esse
fato histórico para advertir os israelitas do seu tempo contra a tentação da incredulidade e da desobediência à Palavra de Deus;
da mesma maneira, o autor de Hebreus aplicou o mesmo princípio aos seus leitores.
6 Embora estejamos vivendo na “época da graça” divina, em que todos têm à sua disposição o favor de Deus, mediante o
sacrifício de Cristo, a fim de se arrependerem de seus pecados e terem acesso à plenitude da Salvação, essa oportunidade única
é garantida somente “aqui e agora”; amanhã poderá ser tarde demais. Satanás é o mestre da mentira e tenta nos convencer de
que Deus não condenará ninguém ao inferno, nem julgará com rigor; e que nossos “erros” não são “grandes pecados”. Todos
esses argumentos só servem para embrutecer (endurecer) os corações daqueles que lhes dão ouvidos (2.8; Jr 17.9). Afastar-se
de Deus com rebeldia (literalmente no grego: “apostatar”) é desviar-se do Caminho da vida e preferir a morte, da mesma forma
como agiram muitos dos israelitas que saíram do Egito a caminho de Canaã, mas não depositaram “confiança plena” (em grego
hupostasis) no Senhor.

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HEBREUS 3, 4 8

de ingressar no seu repouso? Ora, não 5 E novamente, no texto citado há pou-


foram aqueles que se mantiveram deso- co, confirma: “Jamais entrarão no meu
bedientes? descanso”.
19 Concluímos, desse modo, que não 6 Portanto, considerando que ainda
lhes foi possível ter acesso à terra pro- faltam alguns para entrar, e aqueles
metida por causa da incredulidade.7 a quem antes foram pregadas as boas
novas não ingressaram por causa da
O descanso sabático dos crentes desobediência,

4 Portanto, ainda que nos tenha sido


outorgada a promessa de ingressar
no descanso de Deus, tememos que al-
7 determina Deus, uma nova oportuni-
dade, e a chama de “hoje”, ao declarar
muito tempo depois, por intermédio de
gum de vós pareça ter falhado. Davi e conforme o que já fora proclama-
2 Pois as boas novas foram pregadas do antes: “Hoje, se ouvirdes a sua voz,
também a nós, tanto quanto a eles; en- não endureçais o vosso coração”.
tretanto, a mensagem que eles ouviram 8 Porque, se Josué lhes tivesse oferecido
de nada lhes valeu, pois não foi acompa- descanso, Deus não teria declarado pos-
nhada de fé por aqueles que a ouviram.1 teriormente a respeito de outro dia.3
3 Porquanto, somos nós, os que temos 9 Sendo assim, ainda resta um descanso
crido, que entramos no descanso, con- sabático para o povo de Deus;
forme Deus declarou: “Assim jurei na 10 pois toda pessoa que entra no repou-
minha ira: Jamais entrarão no meu so de Deus, também descansa de suas
descanso”, muito embora as suas obras obras, como Deus descansou das suas.4
estivessem concluídas desde a fundação 11 Diante disso, esforcemo-nos por
do mundo.2 entrar naquele descanso, para que
4 Pois em certa passagem, Ele se referiu ninguém caia no mesmo exemplo de
sobre o sétimo dia, nestes termos: “No desobediência.5
sétimo dia, Deus descansou de toda 12 Porquanto a Palavra de Deus é viva e
obra que realizara”. eficaz, mais cortante que qualquer espa-

7 Após uma série de perguntas retóricas, o autor de Hebreus conclui que as pessoas que saíram livres do Egito, com destino a
Canaã, não puderam completar a viagem por não terem crido de todo coração nas promessas de Deus, o que lhes permitiu “abrir
a guarda” e cair em muitos pecados. O Senhor, em sua ira e juízo, fechou as portas de Canaã (a exemplo do que já havia feito
em Gn 3.23,24) para que toda aquela geração de israelitas incrédulos perecesse sem chegar ao lugar de repouso do Senhor (Nm
14.21-35). Os leitores de Hebreus são admoestados a ter muita cautela com os mesmos perigos no sentido espiritual.
Capítulo 4
1 O autor de Hebreus está sempre comparando a caminhada dos israelitas no deserto, abandonando a escravidão no Egito e
peregrinando até o “descanso de Deus” (em hebraico Shabbãth) na Terra Prometida, em relação à jornada do cristão rumo ao seu
pleno repouso espiritual no Reino de Deus. O descanso dos judeus, sob a liderança de Moisés, e depois de Josué, temporário e
terrestre, prenunciava o descanso eterno das nossas almas em Cristo (v.8; Js 1.13). A expressão grega “acompanhada” significa,
literalmente, “unida”; enquanto pode dizer também que “as boas novas” foram literalmente “evangelizadas”. A fé compromete o
ouvinte com a mensagem recebida; não se pode esquivar-se da sua obrigação (Rm 10.16; Is 53.1).
2 Do mesmo modo que a fé nas promessas de Deus era requerida para se entrar no descanso de Canaã, também só
ingressaremos no descanso pleno e eterno da salvação mediante a fé sincera na pessoa e na obra expiatória de Jesus Cristo.
Deus concluiu suas obras no sétimo dia da criação e descansou (v.4; Gn 2.2,3). Portanto, o Senhor nos convida para compartilhar
do seu descanso, e não para qualquer tipo de repouso que possamos conquistar (vv.10,11).
3 O ingresso de Israel em Canaã sob a liderança de Josué representou uma forma parcial e temporária de entrar no “Sábado
de Deus”. Mas, a posse do “Sábado” não foi completada naquela época, como demonstra o convite contínuo expresso no Salmo
95.7,8.
4 Podemos tomar a posse completa do “Sábado de Deus” por meio da fé sincera em Jesus Cristo. Assim como Deus des-
cansou da obra da Criação, o crente pode descansar de empreender esforços na tentativa de alcançar a sua salvação, e deve
repousar na obra consumada pelo Filho de Deus na cruz do Calvário, o qual nos conduzirá ao “Shabbãth eterno do Senhor”
(Ap 14.13).
5 O esforço do cristão não é “para alcançar o mérito da salvação”, mas sim porque “já é salvo”, busca perseverar na fé, pela
obediência diária ao Espírito Santo e à Palavra de Deus. Não devemos seguir o triste exemplo de Israel no deserto. As palavras
“repouso” e “descanso” vêm do termo original grego sabbatismos (Jo 5.19; 14.2,24).

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9 HEBREUS 4, 5

da de dois gumes; capaz de penetrar até designado para representá-los em ques-


o ponto de dividir alma e espírito, juntas tões relacionadas com Deus, a favor da
e medulas, e é sensível para perceber os humanidade, a fim de oferecer tanto dons
pensamentos e intenções do coração.6 quanto sacrifícios pelos pecados.
13 E não há criatura alguma incógnita 2 Ele é capaz de compadecer-se dos que
aos olhos de Deus. Absolutamente tudo não têm conhecimento e se desviam, con-
está descoberto e às claras diante daque- siderando que ele mesmo está rodeado de
le a quem deveremos prestar contas. fraquezas.1
3 E, por esse motivo, deve oferecer sa-
Jesus é o grande sumo sacerdote crifícios pelos pecados, tanto do povo
14 Concluindo, tendo em vista que te- como em seu próprio favor.
mos um grande sumo sacerdote que foi 4 Ninguém, portanto, toma essa honra
capaz de adentrar os céus, Jesus, o Filho para si mesmo, senão quando convo-
de Deus, mantenhamos com firmeza cado por Deus, como aconteceu com
nossa declaração pública de fé.7 Arão.
15 Pois não temos um sumo sacerdote 5 Desse mesmo modo, Cristo não bus-
que não seja capaz de compadecer-se cou para si próprio a glória de se tornar
das nossas fraquezas, mas o Sacerdote sumo sacerdote, mas foi Deus quem lhe
Supremo que, à nossa semelhança, foi declarou: “Tu és meu Filho; Eu hoje te
tentado de todas as formas, porém sem gerei”.2
pecado algum. 6 E revela em outra passagem: “Tu és
16 Portanto, acheguemo-nos com toda sacerdote para todo o sempre, conforme
a confiança ao trono da graça, para que a ordem de Melquisedeque”.
recebamos misericórdia e encontremos 7 Durante os seus dias de vida na terra,
o poder que nos socorre no momento da Jesus ofereceu orações e súplicas, em
necessidade.8 clamor e com lágrimas, àquele que o
podia salvar da morte, havendo sido
Cristo supera a antiga aliança ouvido por causa da sua reverente sub-

5 Porquanto, todo sumo sacerdote,


sendo escolhido dentre os homens, é
missão.
8 Mesmo considerando o fato dele ser o

6 A expressão total de Deus foi revelada aos seres humanos por meio da pessoa de Jesus Cristo, a Palavra encarnada (Jo
1.1,14) e, igualmente, nos foi confiada verbalmente. Essa palavra dinâmica e ativa de Deus, no cumprimento de todos os seus
planos, aparece claramente tanto no AT quanto no NT (Sl 107.20; 147.18; Is 40.8; 55.11; Gl 3.8; Ef 5.26; Tg 1.18; 1Pe 1.23). Tanto
a onipotente e onisciente presença do Senhor, quanto o poder de discernimento (em grego kriticos) da Palavra, revelam os senti-
mentos e intenções mais íntimas e os traz à tona da nossa consciência para que possam ser julgados (1Co 4.5).
7 O autor de Hebreus começa aqui uma longa exposição teológica (4.14 – 7.28) quanto à superioridade do sacerdócio de
Jesus Cristo sobre Arão e o ministério da tradição sacerdotal. Para os cristãos de hoje, esse pode ser um tema de entendimento
tranqüilo. No entanto, para os judeus de todos os tempos, especialmente no século I, essas conclusões são tão chocantes
quanto reveladoras e salvadoras (Sl 110.4). Assim como o sacerdote arônico, no Dia da Expiação, passava por entre os olhares
expectativos do povo em direção ao Santo dos Santos, assim também Jesus passou para além da vista dos discípulos que o
observavam atentamente, elevando-se e atravessando pelos céus até adentrar o Santuário Celestial, ocupando sua suprema
transcendência e autoridade, e cumprindo plenamente sua obra expiatória (7.26; At 1.9-11; Ef 4.10; Fp 2.9-11).
8 Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, não se mantém distante nem alienado do ser humano e de suas agruras, como ocorria
com os sacerdotes judaicos e, ainda hoje, acontece com muitos líderes espirituais. Deus se fez carne em Cristo e sentiu na pele as
fraquezas e sofrimentos que acometem a todos nós. Entretanto, ele jamais pecou, o que significa que obteve vitória sobre todos
os desafios da carne e do espírito. Portanto, só Jesus pode sentir o que sentimos e oferecer a sua ajuda compassiva sempre que,
pela fé, dela nos quisermos valer.
Capítulo 5
1 O sumo sacerdote precisa preencher dois pré-requisitos fundamentais: ser chamado por Deus e dedicar sua vida ao Senhor
e às necessidades do povo, sendo solidário com as fraquezas, lutas e ignorância dos seus irmãos, porém sem pecar. Só Jesus
Cristo conseguiu cumprir plenamente essas exigências (8.3; 9.9; Lv 1.2; 2.1; Nm 15.30,31; Hb 6.4-6; 10.26-31).
2 Cristo não tomou para si a glória de se tornar sumo sacerdote. Jesus, o Filho, foi designado por Deus de acordo com suas
próprias declarações proféticas (Sl 2.7; 110.4). O sacerdócio de Cristo, porém, não era conforme a ordem de Arão, mas segundo
Melquisedeque (v.6; 1.5; Sl 2.7-9; Rm 1.4).

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HEBREUS 5, 6 10

Filho de Deus, aprendeu a obediência por Exortação à busca da fé madura


intermédio das aflições que padeceu;3
9 e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se
a fonte de salvação eterna para todos
6 Sendo assim, considerando conhe-
cidos os ensinos básicos a respeito
de Cristo, prossigamos rumo à matu-
quantos lhe obedecem, ridade, sem lançar novamente o funda-
10 tendo sido nomeado por Deus sumo mento do arrependimento de atitudes
sacerdote, segundo a ordem de Melqui- inúteis e que conduzem à morte; da fé
sedeque.4 em Deus,1
2 da instrução acerca de batismos, da
Buscar a maturidade em Cristo imposição de mãos, da ressurreição dos
11 Quanto a isso, temos muito que ensi- mortos e do juízo eterno.
nar, assunto difícil de explicar, especial- 3 Sigamos, pois, avante! E, se Deus o
mente porque vos tornastes indolentes permitir, faremos isso.2
para aprender.
12 Apesar de que, a essa altura, já devês- O grave perigo de rejeitar a fé
seis ser mestres, ainda estais precisando 4 Ora, é impossível para aqueles que uma
de que alguém vos instrua mais uma vez vez foram iluminados, experimentaram
quanto aos princípios elementares da o dom celestial e se tornaram parti-
Palavra de Deus. Voltastes a necessitar cipantes do Espírito Santo,
de leite, quando já devíeis estar receben- 5 e provaram os benefícios da Palavra de
do alimento sólido!5 Deus e os poderes da era que há de vir, 3
13 Ora, quem precisa se alimentar de lei- 6 mas apostataram da fé, sim, é impos-
te ainda é criança, e não tem experiência sível que tais pessoas sejam reconduzi-
no ensino da justiça. das ao arrependimento; tendo em vista
14 No entanto, o alimento sólido é para que contra si mesmos estão crucificando
os adultos, os quais, pelo exercício cons- outra vez o Filho de Deus, e zombando
tante da fé, se tornaram capazes de dis- publicamente dele.4
cernir tanto o bem quanto o mal. 7 Porquanto, a terra, que absorve a chu-

3 A existência da preposição ek no manuscrito original grego deixa claro que Cristo pediu ao Pai para que o livrasse da morte
em seu sentido mais amplo. Jesus não recuou, em momento algum, diante dos sofrimentos e das aflições mais extremas, todavia
ficou horrorizado com o pecado da humanidade que haveria de arcar (Mt 26.36-46; 27.46). Sua oração foi ouvida pelo Pai que o
salvou da morte eterna por meio da ressurreição, a mesma que herdamos pelo seu sacrifício vicário. A expressão grega eulabeia
significa “reverente temor a Deus”, e pode ser traduzida como “piedade” (Jo 5.19; 1Jo 5.14).
4 Deus se fez humano em Cristo e decidiu passar pelo aprendizado a que todos nós estamos sujeitos. Suas lutas, tentações e vi-
tórias foram reais e não alegorias como querem explicar certos teólogos. A Bíblia não é uma obra de ficção, mas um depoimento fiel
das experiências vividas por homens de Deus, narradas pela inspiração do Espírito Santo. Ao contrário de Adão, que relativizando a
Palavra de Deus fracassou e caiu, Jesus permaneceu fiel (obediente) e prevaleceu; completando (aperfeiçoando) sua humanidade
filial e podendo, assim (perfeito), ser a fonte da “eterna redenção” (v.9; 2.10; 9.12; 12.2; Rm 4.25; 10.9; Tg 2.14-26).
5 Os hebreus não eram recém-convertidos, já haviam aprendido muito bem as doutrinas básicas do Evangelho, como as
apresentadas em 6.1,2. No entanto, haviam permitido que a preguiça mental, a indolência física e, especialmente, o esfriamento
espiritual, tomassem conta de suas vontades mais nobres (6.12). Deviam caminhar com perseverança na vida cristã autêntica e,
havendo passado pelos ensinos fundamentais da Palavra, ingressar com fé na plenitude do Espírito e do conhecimento avançado
do Senhor, como o autor de Hebreus nos exorta no capítulo 7.
Capítulo 6
1 Os ensinos básicos da doutrina de Cristo já deveriam ser sabidos e estar em plena prática entre os cristãos hebreus (1Co
15.3,4). A igreja, depois de algum tempo, estava dando ouvidos a falsos ensinos e realizando “obras mortas”, isto é, tendo uma
vida de pecado que condena o pecador à morte eterna (9.14).
2 Expressão que se tornou popular entre os cristãos e que comunica dependência em relação à soberania do Senhor. Somente
o Espírito de Deus pode iluminar as mentes e os corações, operando maturidade espiritual (1Co 16.7).
3 É Deus quem abre os olhos dos cegos espirituais (incrédulos) e lhes oferece a percepção da verdade divina. Aqueles que
“experimentaram”, isto é, “apreciaram pela experiência” a Palavra de Deus (2Co 4.4,6) e se apropriaram, mediante a fé em Cristo,
do “dom celestial”, oferecido a todo que crê no Senhor (2Pe 2.2), recebendo, portanto, o Espírito de Deus; estes se tornaram
metochoi (no original grego: participantes) da obra redentora e dos milagres da “era” de Cristo (em grego aiõn).
4 É preciso fazer uma grande diferença entre divergências teológicas e apostasia. O texto bíblico se refere aqui às pessoas que

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11 HEBREUS 6

va, que cai de tempo em tempo, e dá co- vista não haver outro maior por quem
lheita proveitosa àqueles que a cultivam, jurar;6
recebe a bênção de Deus. 14 e declarou: “Esteja certo de que o
8 Todavia, a terra que produz espinhos e abençoarei e farei numerosos os seus
ervas daninhas é inútil, e logo será amal- descendentes”.
diçoada. Seu fim é ser lançada ao fogo. 15 Sendo assim, havendo Abraão espe-
rado com paciência certeira, alcançou
Vivendo como herdeiros de Deus a promessa.7
9 Quanto a vós outros, no entanto, ó 16 Ora, os homens juram por quem é
amados, estamos convencidos de que a maior do que eles, e para eles o jura-
vossa situação seja muito melhor, sendo mento confirma a palavra empenhada,
beneficiados com as bênçãos decorren- pondo fim a toda discussão.
tes da salvação. 17 Do mesmo modo, Deus, querendo de-
10 Porquanto Deus não é injusto para se monstrar de forma mais clara aos herdei-
esquecer do vosso trabalho e do amor ros da promessa a imutabilidade de seu
que revelastes para com o seu Nome, pois propósito, interveio com juramento,
servistes os santos, e ainda os servis.5 18 para que nós, que nos refugiamos no
11 Desejamos, contudo, que cada um de acesso à esperança proposta, sejamos
vós demonstre o mesmo esforço dedica- grandemente encorajados por meio de
do até o fim, para que tenhais a plena duas afirmações imutáveis, nas quais é
certeza da esperança, impossível que Deus minta.8
12 de maneira que não vos torneis ne- 19 Essa esperança é para nós como ân-
gligentes, mas imitem aqueles que, por cora da alma, firme e segura, a qual tem
intermédio da fé e da longanimidade, pleno acesso ao santuário interior, por
recebem a herança prometida. trás do véu,
20 onde Jesus adentrou por nós, como
A promessa de Deus é imutável precursor, tornando-se sumo sacerdote
13Quando Deus fez a sua promessa a para sempre, segundo a ordem de Mel-
Abraão, jurou por si mesmo, tendo em quisedeque.

deliberadamente renunciam da sua fé na pessoa e obra de Jesus Cristo, conforme está prescrito na Palavra de Deus: a Bíblia (Rm
10.9; 2Tm 3.16). O Senhor pode transformar a vida de um apóstata por meio da sua infinita graça e misericórdia. Entretanto, a
igreja não deve realizar um segundo batismo, pois Cristo morreu por nós uma única vez (Gl 2.19; 9.26). A não ser que se conclua
que o suposto apóstata, na verdade, não era um convertido e que, agora sim, aceitou de coração o dom do arrependimento e
da salvação em Cristo (1Jo 5.16; 1Co 15.5; At 8.21-24). Portanto, esse lhe será o primeiro e definitivo batismo de testemunho do
novo nascimento (Jo 3).
5 O autor deste livro não está julgando que seus leitores sejam apóstatas. Ele apenas os adverte sobre os perigos da apostasia,
que pode ter seu início fatal com a indolência, inércia, preguiça (o peso dos pecados não confessados e abandonados) e o
cansaço espiritual ao longo da caminhada cristã (5.11; 12.1,12). Todo trabalho sincero e abnegado em prol do Reino de Deus
constrói um tesouro que é de valor eterno.
6 É próprio dos seres humanos fazer juramentos. Isso devido à situação decaída da humanidade na qual a palavra das pessoas
nem sempre é fiel e suficiente. Deus, ao fazer um juramento, demonstra que não há ninguém além dele mesmo, cujo nome possa
autenticar sua Palavra; humaniza-se mediante uma característica cultural, moral e ética de grande valor entre os humanos, e nos
oferece garantia em dobro (v.18; 11.39) quanto ao cumprimento cabal da sua Promessa (Gn 22.16-18). A expressão idiomática
hebraica literal, usada por Deus a Abraão, registrada nos manuscritos originais é: “abençoando te abençoarei”, que indica um
juramento ou promessa incondicional e permanente.
7 A palavra grega original usada para descrever aqui a “paciência” de Abraão é makrothumia, que significa “longanimidade”, em
contraste com os sentimentos de indignação e revolta. Refere-se, portanto, ao fato de Abraão ter “esperado com fé”, por cerca de
25 anos, pelo nascimento de Isaque e, mais tarde, pela entrega e restauração do seu filho (Gn 12.3,4; 17.2; 18.10; 21.5; 22.16).
8 As duas afirmações imutáveis do Senhor são: a promessa de Deus, que por si só é absolutamente fidedigna, e o juramento de
Deus concedido aos homens, que confirma essa promessa. Hoje, os crentes podem contemplar a promessa que Abraão, no seu
tempo, podia apenas antever (11.13; Jo 8.56). Assim como uma forte âncora que mantém o navio na posição correta, e a salvo
da força das marés e das correntes marítimas, nossa fé (esperança convicta) em Cristo é nossa garantia de completa salvação
e segurança (Jo 10.34-38).

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HEBREUS 7 12

O sacerdócio de Melquisedeque entretanto, é aquele de quem se testifica


7 Porquanto, esse Melquisedeque, rei
de Salém, sacerdote do Deus Altís-
simo, que saiu ao encontro de Abraão,
que vive.
9 E, por assim dizer, pode-se entender
que Levi, que recebe os dízimos, entre-
quando este voltava, depois de haver gou-os por meio de Abraão,
derrotado os reis, e o abençoou;1 10 pois, quando Melquisedeque se en-
2 para o qual também Abraão entregou controu com Abraão, Levi ainda não
o dízimo de tudo. Em primeiro lugar, havia sido gerado por seu pai.
seu nome quer dizer “Rei de Justiça”;
em segundo lugar, “Rei de Salém”, que O sacerdócio de Cristo é eterno
significa, “Rei da Paz”. 11 Sendo assim, se houvesse uma maneira
3 Sem pai, sem mãe, sem origem nem de alcançar a perfeição por intermédio
antepassados, sem princípio de dias do sacerdócio levítico, considerando que
nem fim de vida, no entanto, por ser à durante sua vigência a Lei foi entregue ao
semelhança do Filho de Deus, Ele per- povo, por qual razão haveria ainda ne-
manece sacerdote perpetuamente. cessidade de se levantar outro sacerdote,
conforme a ordem de Melquisedeque e
Cristo supera o sacerdócio levítico não de Arão? 2
4 Considerai, portanto, como era gran- 12 Pois, mudando o sacerdócio, obrigatori-
de esse homem a quem até mesmo o amente, ocorre também mudança de lei.
patriarca Abraão lhe entregou todo o 13 Porque aquele sobre quem se fazem
dízimo dos despojos! estas afirmações pertencia a outra tribo,
5 Ora, os que dentre os fi lhos de Levi da qual ninguém jamais havia servido
receberam o sacerdócio têm o man- diante do altar;
damento de recolher, de acordo com a 14 porquanto, é bem sabido que o nosso
Lei, os dízimos do povo, isto é, dos seus Senhor descende de Judá, tribo da qual
irmãos, ainda que tenham todos estes Moisés nada fala quanto a sacerdócio.
descendido de Abraão; 15 E este fato se torna ainda mais claro
6 contudo, este homem que não per- com o surgimento de outro sacerdote à
tencia à genealogia de Levi, recebeu os semelhança de Melquisedeque,
dízimos de Abraão e abençoou aquele 16 não constituído segundo o decreto
que tinha as promessas. de um mandamento humano relativo à
7 Evidentemente, não pode haver qual- linhagem, mas de acordo com o poder
quer dúvida que o inferior é abençoado de uma vida inextinguível.
pelo superior. 17 Porque sobre Ele está escrito: “Tu és
8 No primeiro caso, são homens mortais sacerdote para sempre, conforme a or-
que recebem o dízimo; no outro caso, dem de Melquisedeque”.3

1 Embora o autor de Hebreus não afirme claramente que Melquisedeque foi uma cristofania, é revelador o fato de ele não ter
origem (genealogia) e ocupar simultaneamente duas posições de grande poder. Elementos que reforçam o pensamento do autor
quanto a prefigura (preexistência) do eterno Messias: Jesus Cristo. O nome “Salém”, vem do hebraico antigo, Yerüshalẽm, cujo
sentido primitivo teria sido “capital da guerra e da paz”. Mais tarde, essa expressão passou para o idioma aramaico como “cidade
da paz”. (Gn 14.18-20; Is 23.5,6; 33.15,16).
2 A Lei entregue a Moisés e ao povo, bem como o sacerdócio e os sacrifícios, faziam parte do mesmo sistema que contemplava
o fato de todas as pessoas nascerem em pecado (sob a maldição da Queda) e, portanto, sujeitas à condenação prescrita. Por
este motivo, necessitavam de um mediador legal e idôneo para representá-las diante de Deus. O autor de Hebreus esclarece, con-
tudo, que o sacerdócio levítico (ou da descendência de Arão) era imperfeito e havia se tornado insuficiente, mas que o sacerdócio
de Melquisedeque era o ideal e perfeito. A história registra que a proclamação daquele que viria a ser Sacerdote para sempre (o
Messias) foi escrita profeticamente, bem na metade do período em que os sacerdotes levitas exerciam seu serviço ministerial,
mostrando que o sacerdócio levítico existente deveria dar lugar a um sistema melhor (Sl 110.4).
3 De acordo com a Lei, a função sacerdotal fora outorgada exclusivamente à tribo de Levi (Dt 18.1), porém Jesus, em sua
humanidade, pertencia à árvore genealógica de Judá, uma tribo não-sacerdotal. Entretanto, o autor de Hebreus destaca que
Jesus é “sacerdote eterno”, segundo Melquisedeque e, portanto, indestrutível (v. 21).

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13 HEBREUS 7, 8

18 Assim, o mandamento anterior é de um sacerdote como este: santo, in-


anulado por causa de sua fragilidade e culpável, puro, apartado dos pecadores,
inutilidade,4 exaltado acima dos céus.
19 pois a Lei jamais conseguiu aperfei- 27 Diferentemente dos outros sumos
çoar nada, sendo, portanto, estabelecida sacerdotes, Ele não precisa oferecer
uma esperança muito superior, por meio sacrifícios dia após dia; que oferecem
da qual temos pleno acesso a Deus. primeiro por seus próprios pecados e,
20 E não foi sem juramento que esse fato somente depois, pelos pecados do povo.
se deu! Outros se fizeram sacerdotes Porque no momento em que ofereceu
sem qualquer juramento, a si mesmo, realizou esse sacrifício de
21 no entanto, Ele se tornou sacerdote uma vez por todas.5
com juramento, no momento em que 28 Porquanto a Lei designa sumos sa-
Deus declarou: “O Senhor jurou e não cerdotes a homens que têm fraquezas;
se arrependerá: ‘Tu és sacerdote para mas o juramento, que veio depois da Lei
sempre’”. estabelece por toda a eternidade o Filho,
22 Jesus transformou-se, por essa razão, que foi aperfeiçoado.6
na garantia de uma aliança superior.
23 Por isso, aqueles sacerdotes têm A aliança em Cristo é superior
surgido em maior número, pois são
impedidos pela morte de continuar o
ministério;
8 Ora, o mais importante de tudo
o que temos afirmado é que, sim,
temos um Sumo Sacerdote, o qual se
24 contudo, considerando que vive para assentou à direita do trono da Majestade
sempre, Jesus possui um sacerdócio nos céus,1
perene. 2 como ministro do santuário e do
25 Concluindo, Ele é poderoso para sal- verdadeiro tabernáculo que o Senhor
var definitivamente aqueles que, por in- ergueu, não como ser humano.2
termédio dele, achegam-se a Deus, pois 3 Pois todo sumo sacerdote é constituí-
vive sempre para interceder por eles. do para apresentar ofertas e sacrifícios;
26 Certamente, estávamos necessitados por essa razão, era imprescindível que

4 Como defendeu o apóstolo Paulo, a Lei é santa e justa, todavia não é capaz de transformar em justos aqueles que violaram
seus mandamentos e, portanto, pecaram. Nem ao menos pode oferecer à humanidade o necessário poder para vencer o mal e
o pecado (Rm 7.12). A Lei foi apenas um sistema preparativo para a definitiva Lei da Salvação em Cristo (Gl 3.23-25; Mt 5.17). A
antiga aliança se cumpre plenamente na nova aliança da perfeita redenção e nos capacita a nos achegarmos à presença íntima
de Deus (Cl 1.5).
5 A cruz de Cristo marca definitivamente na história do Universo o ponto central do plano redentor de Deus para toda a
humanidade. O ato do sacrifício do Filho de Deus encerra o longo e árduo período histórico de “preparação”, e inaugura a “era
escatológica” (1.1,2; Gl 4.4; Rm 3.26). Toda a certeza de salvação e esperança (fé) no estabelecimento completo do Reino de
Deus, emana do sacrifício vicário de Jesus Cristo oferecido uma única vez para sempre (Is 53.6,10).
6 Os sumos sacerdotes humanos, por mais dedicados que fossem, não eram capazes de viver sem cometer algum pecado
(como prova a história até nossos dias); mortais e, portanto, impermanentes; segundo a Lei, somente podiam oferecer sacrifícios
de animais, que jamais serviriam de substitutos suficientes para o ser humano, criado à imagem de Deus. Cristo, entretanto, foi
“aperfeiçoado” ao enfrentar e vencer as tentações, jamais tendo sucumbido a pecado algum. Obedecendo em tudo ao Pai e,
assim, estabeleceu uma perfeição eterna (Gn 1.26-28; 2.10; 5.8).
Capítulo 8
1 A expressão “mais importante de tudo”, no original grego, tem o sentido de “resumo essencial”. O argumento que vem sendo
desenvolvido pelo autor de Hebreus tem como base escriturística o antigo texto hebraico de Jr 31.31-34, e serve para demonstrar
que Jesus Cristo, o Messias, é o verdadeiro e único mediador da Nova e Excelente Aliança (7.22).
2 O “verdadeiro santuário” (em grego tőn hagiőn alethines), expressa o contraste que há entre o tabernáculo construído por Moi-
sés (mais tarde colocado no templo de Jerusalém por Salomão - 1Rs 8.4), cópia imperfeita e transitória do “verdadeiro” (perfeito)
tabernáculo celestial, erigido pessoalmente por Deus e não por meio do homem. O santuário erguido por Deus corresponde ao
Santo dos Santos, um espaço absolutamente sagrado, localizado no interior do tabernáculo de Moisés, no qual o sumo sacerdote
entrava, somente uma vez por ano e por um breve momento, levando consigo o sangue da expiação (Lv 16.13-15,34). Jesus
Cristo, nosso Sumo Sacerdote, habita eternamente no tabernáculo celestial e intercede por nós diuturnamente (7.25).

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HEBREUS 8, 9 14

este Sumo Sacerdote fizesse a sua oferta 10 “Esta é a aliança que farei com a
pessoal. casa de Israel, passados aqueles dias”,
4 Entretanto, se Ele estivesse na terra, garante o Senhor. “Gravarei as minhas
nem seria considerado sumo sacerdote, leis na sua mente e as escreverei em seu
tendo em vista que já foram constituí- coração. Eu lhes serei Deus, e eles serão
dos aqueles que apresentam as ofertas o meu povo,
prescritas pela Lei.3 11 ninguém jamais precisará ensinar o
5 Esses servem num santuário que é seu próximo, nem o seu irmão, dizendo:
representação e sombra daquele que ‘Conhece ao Senhor’, porque todos me
está nos céus, já que Moisés foi avisado conhecerão, desde o menor deles até o
quando estava para construir o taber- maior.
náculo: “Observai tudo com cautela, 12 Pois Eu lhes perdoarei a malignidade
para que faças todas as coisas de acordo e não me permitirei lembrar mais dos
com o modelo que vos foi revelado no seus pecados”.
monte”. 13 Ao proclamar “Nova” esta aliança, Ele
6 Contudo, agora, Jesus recebeu um mi- transformou em antiquada a primeira.
nistério ainda mais excelente ao dos sa- E o que se torna superado e envelhecido,
cerdotes, assim como também a aliança está próximo do aniquilamento.
da qual Ele é o mediador; aliança muito
superior à antiga, pois que é fundamen- Os ritos mosaicos eram imperfeitos
tada em promessas excelsas.4
7 Ora, se aquela primeira aliança não ti-
vesse imperfeições, não seria necessário
9 Ora, a primeira aliança possuía or-
denanças para adoração e também
um tabernáculo terreno.
buscar lugar para a segunda. 2 Pois foi levantada uma tenda, em cuja
8 Porquanto Ele declara, repreendendo parte da frente, conhecida como Lugar
o povo por suas faltas: “Dias virão, diz o Santo, estavam o candelabro, a mesa e
Senhor, em que estabelecerei com a casa os pães da proposição.1
de Israel e com a casa de Judá uma nova 3 Mas, atrás do segundo véu, havia a
aliança. parte chamada Santo dos Santos,
9 Não conforme a aliança que fi z com 4 onde se posicionavam o altar de ouro
seus antepassados, no dia em que os to- puro para o incenso e a arca da aliança,
mei pela mão, para os conduzir até fora também toda revestida de ouro. Nessa
da terra do Egito; pois eles não continu- arca, estavam o vaso de ouro contendo
aram na minha aliança, e Eu me afastei o maná, a vara de Arão que floresceu e
deles”, assevera o Senhor! as tábuas da aliança.2

3 Deus escolheu uma família de judeus muito simples e fez com que Jesus nascesse em uma tribo não sacerdotal (Judá). Os
sumos sacerdotes eram escolhidos entre os filhos da tribo sacerdotal de Levi (7.12-14; Ex 25.40). O verbo “apresentar” aparece
no texto no tempo presente, o que revela que o templo ainda estava em pleno funcionamento e ostentação. É uma indicação de
que o livro de Hebreus foi escrito antes da destruição do templo no ano 70 d.C.
4 O termo “mediador” (no original grego mesites) transmite a idéia de “alguém que fica no meio, unindo duas pessoas com
mãos fortes”. Portanto, a “Nova Aliança” (um nome ainda melhor para Novo Testamento), da qual Jesus Cristo é o nosso único e
suficiente mediador, é superior à “Velha Aliança” (ou Antigo Testamento), estabelecida por Deus mediante Moisés no deserto do
Sinai (9.15; 12.24; Êx 24.7,8; 25.40; 1Tm 2.5).
Capítulo 9
1 A “parte da frente” é uma referência ao Santo Lugar do tabernáculo (tenda erguida por Moisés no deserto do Sinai), que fora
separado do Santo dos Santos por um segundo véu (v.3). O primeiro véu apenas guardava a entrada. O candelabro era feito de
ouro batido e colocado no lado sul do Lugar Santo (Êx 40.24), tinha sete lâmpadas, as quais eram mantidas acesas todas as
noites (Êx 25.31-40). A mesa da Proposição (Presença), construída com madeira de acácia e revestida de ouro puro, ficava no
lado norte do Lugar Santo (Êx 40.22). Sobre ela se depositava doze pães, cuidadosamente dispostos em duas fileiras de seis
(Lv 24.5,6).
2 O altar do incenso se localizava no Lugar Santo, contudo, no Dia da Expiação, esse altar passava a fazer parte do Santo dos
Santos por conta da retirada momentânea do véu. Havia, claro, um estreito relacionamento sacramental com o santuário interior

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15 HEBREUS 9

5 Acima da arca ficavam os querubins da O perfeito sacrifício de Cristo


Glória, que com sua sombra cobriam a 11 Quando Cristo chegou como Sumo
tampa da arca, o propiciatório. Contu- Sacerdote dos benefícios que estavam
do, não é nosso propósito detalhar esse por vir, Ele mesmo adentrou o maior
assunto agora.3 e mais perfeito Tabernáculo, não cons-
6 Ora, logo após tudo isso estar assim truído por mãos humanas, isto é, não
preparado, os sacerdotes entravam re- pertencente a esta criação.
gularmente na parte inicial do taberná- 12 Não por intermédio de sangue de
culo, a fim de realizar os atos sagrados bodes e novilhos, mas mediante seu
de culto. próprio sangue, Ele entrou no Santo dos
7 No entanto, na segunda parte da Santos, de uma vez por todas, conquis-
tenda, o Santo dos Santos, somente o tando a eterna redenção.4
sumo sacerdote podia entrar, uma vez 13 Portanto, se o sangue de bodes e
por ano, e jamais sem apresentar o san- de touros e as cinzas de uma novilha
gue do sacrifício, que ele oferecia por si espalhadas sobre os que estão ceri-
mesmo e pelos pecados que o povo havia monialmente impuros os santifica, de
cometido por ignorância. forma que se tornam exteriormente
8 Dessa maneira, o Espírito Santo estava puros,
revelando que, enquanto continuasse 14 quanto mais o sangue de Cristo, que
erguido o primeiro tabernáculo, o Ca- mediante o Espírito eterno se ofereceu
minho para o Santo dos Santos ainda de forma imaculada a Deus, purificará
não havia sido manifestado. completamente a nossa consciência de
9 Esse fato se transforma numa ilustra- comportamentos que conduzem à mor-
ção para os nossos dias, esclarecendo te, para que sirvamos ao Deus vivo!5
que as ofertas e os sacrifícios oferecidos 15 Exatamente por esse motivo, Cristo é
não podiam dar ao adorador uma cons- o Mediador de uma Nova Aliança para
ciência perfeitamente limpa. que todos aqueles que são chamados
10 Eram tão-somente ordenanças que recebam a Promessa da herança eterna,
tratavam de comida e bebida e de várias visto que Ele morreu como resgate por
cerimônias de purificação com água; todas as transgressões cometidas duran-
esses mandamentos exteriores foram te o período em que vigorava a primeira
impostos até a chegada do tempo da aliança.6
nova ordem. 16 No caso de um testamento, é imperio-

e com a arca da aliança (Êx 40.5; 1Rs 6.22). No Dia da Expiação, o sumo sacerdote levava incenso desse altar, juntamente com
o sangue da oferta pelo pecado, para dentro do Santo dos Santos (Lv 16.12-14).
3 Esses querubins eram duas pequenas estátuas de seres alados, que formavam uma só peça com a tampa da arca e, de pé,
em cada extremidade do propiciatório; feitas em ouro puro, representando dois anjos da “Presença” divina que exaltam e zelam
pela reverência e santidade diante de Deus. Era entre essas figuras de anjos que aparecia a glória da “Presença” do Senhor (Êx
25.17-22; Lv 16.12-14). A tampa da arca da aliança era uma placa feita em ouro puro que se encaixava perfeitamente por cima da
arca. Uma vez por ano, exatamente no décimo dia do sétimo mês, quando a congregação de Israel celebrava o Dia da Expiação
(guardado pelos judeus até hoje como Yom Kippur), o sumo sacerdote aspergia sobre o povo, no tabernáculo e sobre a arca, o
sangue como oferta pelo pecado (Lv 16.14,15,29,34).
4 Apesar de o tabernáculo mosaico estar ultrapassado, continuava a simbolizar (inutilmente), uma volta à velha forma da Lei,
uma vez que ela não podia livrar em definitivo o ser humano da condenação do pecado. Os sumos sacerdotes levíticos tinham
que repetir todos os anos as cerimônias de purificação, mas Cristo ofereceu o sacrifício eficaz, pleno, único e eterno. Depois de
obter a eterna redenção, subiu e adentrou ao perfeito santuário celestial.
5 Esse é o versículo chave de Hebreus. Jesus Cristo foi ao mesmo tempo Sumo Sacerdote e Sacrifício imaculado; na inteireza
da sua pessoa e não apenas de forma exterior, superficial e incompleta. O Espírito de Cristo, que habita no coração (tabernáculo)
dos crentes, removerá totalmente a profunda e mortal marca do pecado gravada no âmago do nosso ser. É impossível servir ao
Senhor de forma aceitável com a consciência maculada.
6 Cristo é o único e suficiente mediador da Nova Aliança entre Deus e a humanidade, cuja “Promessa” é a herança eterna como
filhos do Altíssimo (7.22; 8.6,13; 12.24; 1Tm 2.5 conforme Jr 31.31-34). Por causa da morte expiatória de Cristo, essa herança
se tornou realidade para todas as pessoas que crêem sinceramente (os chamados) em Deus (Rm 8.28). Ao entregar-se como

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HEBREUS 9, 10 16

so que se comprove a morte daquele que tuário erguido por mãos humanas, uma
o determinou;7 simples ilustração do que é verdadei-
17 porquanto, um testamento só tem ro; Ele entrou nos céus, para agora se
validade legal após a confirmação da apresentar diante de Deus em nosso
morte do testador, considerando que benefício;
não poderá entrar em pleno vigor en- 25 Ele também não se ofereceu muitas
quanto estiver vivo quem o fez. vezes, como procede o sumo sacerdote
18 Por essa razão, nem a primeira aliança que entra no Santo dos Santos de ano
foi sancionada sem sangue, em ano portando sangue alheio.
19 tendo em vista que, depois de pro- 26 Ora, se assim fosse, seria necessário
clamar todos os mandamentos da Lei que Cristo sofresse muitas vezes, desde
a todo o povo, Moisés levou sangue de o início do mundo. Mas agora Ele mani-
novilhos e de bodes, e também água, lã festou-se de uma vez por todas, no final
vermelha e ramos de hissopo, e aspergiu dos tempos, para aniquilar o pecado por
sobre o livro e toda a população, decla- intermédio do sacrifício de si mesmo.8
rando: 27 E, assim como aos homens está orde-
20 “Este é o sangue da aliança, a qual nado morrer uma só vez, vindo, depois
Deus ordenou para obedecerdes”. disto o Juízo,
21 E procedeu da mesma maneira, as- 28 assim também Cristo foi oferecido
pergindo com o sangue o próprio taber- em sacrifício uma única vez, para tirar
náculo e todos os utensílios usados nas os pecados de muitas pessoas; e apare-
cerimônias sagradas. cerá segunda vez, não mais para eximir
22 De fato, conforme a Lei, quase todas o pecado, mas para brindar salvação a
as coisas são purificadas com sangue, e todos que o aguardam!9
sem derramamento de sangue não pode
haver absolvição! O sacrifício de Cristo é definitivo
23 Portanto, se fez necessário que as re-
presentações das construções que estão
no céu fossem purificadas mediante tais
10 Assim, considerando que a Lei
oferece somente um vislumbre
dos plenos benefícios que hão de vir, e
sacrifícios, mas os próprios elementos não exatamente a sua realidade; jamais
celestiais, por meio de sacrifícios muito poderá, mediante os mesmos sacrifícios
superiores a estes. repetidos ano após ano, aperfeiçoar os
24 Pois Cristo não adentrou a um san- que se achegam para adorar.1

sacrifício e ao aspergir seu sangue sobre o madeiro da cruz e sobre o povo presente, perante a Lei, pagou totalmente o preço
necessário para libertar o ser humano pelos pecados cometidos, sob a primeira aliança, e quanto às violações dos mandamentos
mosaicos (Mc 10.45).
7 O termo grego “testamento” pode ser traduzido por “aliança” na maioria das vezes, entretanto, aqui e no v.17, o vocábulo é
usado especificamente no sentido de comunicar as últimas vontades de uma pessoa sobre a partilha da sua herança. O conceito
de “aliança” volta à tona do v.18 em diante. Os beneficiários do testamento não têm direito legal à herança determinada antes da
morte do testador. Nesse sentido, como a morte de Jesus Cristo foi devidamente comprovada na história, a promessa da herança
eterna (v.15) já pode ser usufruída pelos seus beneficiários de acordo com a vontade expressa do Senhor.
8 A primeira vinda de Jesus Cristo, o Messias, deu início a grande era messiânica, na qual toda a história da humanidade tem
transcorrido, aguardando o glorioso retorno de Cristo e o estabelecimento completo do Seu Reino, no qual viveremos eternamen-
te em sua presença (1.2; 1Pe 1.20; Mc 10.45; Rm 8.3; Ap 20.6).
9 Assim como os antigos israelitas aguardavam com expectação e ansiedade a volta do sumo sacerdote, enquanto estava no
Santo dos Santos intercedendo pelo povo, no Dia da Expiação; da mesma maneira, os cristãos devem viver e esperar com fé, na
expectativa da volta iminente do nosso Sumo Sacerdote (2Tm 4.8; Tt 2.13; Rm 8.29,30; Fl 3.20,21; 1Jo 3.2,3).
Capítulo 10
1 O sistema mosaico era composto da Lei e de todos os procedimentos sacerdotais levíticos (7.11). Contudo, os sacrifícios
perpetuados pela Lei, ano após ano, constituíam-se em uma grande ilustração e antevisão (literalmente em grego: uma sombra)
do poderoso e derradeiro sacrifício vicário de Cristo. O alvo da fé cristã é nos tornar discípulos (cópias fiéis) de Jesus Cristo (Rm
8.29; 2Co 4.4; Cl 2.17).

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17 HEBREUS 10

2 Se não fosse assim, não teriam cessa- 12 Jesus, no entanto, havendo oferecido
do de ser oferecidos? Porquanto, se os para sempre, um único sacrifício pelos
adoradores tivessem sido purificados pecados, assentou-se à direita de Deus,
de uma vez por todas, não mais se senti- 13 aguardando, daí em diante, até que
riam culpados de seus pecados.2 os seus inimigos sejam submetidos por
3 Contudo, essas cerimônias de sacri- estrado de seus pés.
fícios promovem, todos os anos, uma 14 Porquanto, com uma única oferta,
recordação dos pecados, aperfeiçoou por toda a eternidade todos
4 porque é impossível que o sangue de quantos estão sendo santificados.
touros e bodes remova pecados. 15 E disto, igualmente, nos dá testemu-
5 Por isso, quando Cristo veio ao mun- nho o Espírito Santo; porquanto, após
do, proclamou: “Sacrifício e oferta não ter declarado:
quiseste, mas um corpo me preparaste; 16 “Esta é a aliança que farei com eles,
6 de holocausto e ofertas pelo pecado depois daqueles dias, diz o Senhor. Co-
não te agradaste. locarei as minhas leis no âmago do seu
7 Então, Eu disse: Aqui estou, no Livro coração e as inscreverei profundamente
está escrito a meu respeito; vim para em sua mente”,
fazer a tua vontade, ó Deus”.3 17 e conclui: “Dos seus pecados e ini-
8 Havendo declarado em primeiro lugar: qüidades nunca mais me permitirei
“Sacrifícios, ofertas, holocaustos e ofer- recordar”.
tas pelo pecado não quiseste, tampouco 18 Afi nal, onde todas as transgressões
deles te agradaste”, os quais foram reali- foram perdoadas, não existe mais qual-
zados conforme a Lei. quer necessidade de oferta de sacrifício
9 Então, completou: “Aqui estou; vim pelo pecado.4
para fazer a tua vontade”. E assim,
Ele cancela o primeiro padrão, para Devemos perseverar na fé
estabelecer o segundo. 19 Sendo assim, irmãos, temos plena
10 E por essa determinação, fomos santi- confiança para entrar no Santo dos San-
ficados por meio da oferta do corpo de tos mediante o sangue de Jesus,
Jesus Cristo, feita de uma vez por todas. 20 por um novo e vivo Caminho que Ele
11 Ora, todo sacerdote se apresenta, dia nos descortinou por intermédio do véu,
após dia, para exercer os seus deveres isto é, do seu próprio corpo.5
religiosos, que nunca podem remover 21 Temos, portanto, um magnífico sa-
os pecados. cerdote sobre a Casa de Deus.

2 A consciência que condena e aflige diuturnamente o coração de uma pessoa em relação aos pecados cometidos, e que não
pode aceitar humilde e alegremente o perdão de Deus, ainda não conheceu a verdadeira Salvação que está à disposição de
todos mediante a simples e sincera fé em Cristo Jesus (Jo 1.12). Absolutamente, nada, e nenhum tipo de oferta ou sacrifício, têm
o poder de perdoar, limpar e renovar a consciência humana (v.4; Sl 51.10,16; 66.18).
3 O autor de Hebreus cita trechos dos Salmos da Septuaginta (a mais importante e antiga tradução grega do AT), para demons-
trar o tipo de obediência concorde e voluntária (submissão, sob missão) de Cristo em relação à vontade do seu Pai (Sl 40.6-8;
Lc 22.42; Jo 4.34). Nota-se que Deus nunca se interessou pelos sacrifícios em si, mas na verdadeira devoção e obediência à sua
Palavra (1Sm 15.22).
4 É prova de incredulidade e insulto contra Deus oferecer qualquer tipo de sacrifício por pecados já remidos em Cristo. Portanto,
o verdadeiro caminho para Deus não é mais pavimentado pelas ofertas ou cerimônias sacrificiais (como a tradicional missa católi-
ca ou os rituais espiritualistas), mas exclusivamente pela fé no Cristo ressurreto (9.12; Rm 4.25; 5.19). As citações nesta passagem
também foram extraídas da Septuaginta (o AT em grego) e atestam que na nova aliança todos os nossos pecados podem ser
perdoados de maneira eficaz, completa e perpétua, dispensando todo e qualquer tipo de sacrifício adicional ao já consumado
por Cristo (Jr 31.31-34 já mencionado em 8.8-12).
5 Na antiga aliança, o acesso ao Santo dos Santos era ultra-restrito, porquanto o sangue dos animais era insuficiente para
realizar a plena expiação dos pecados. Mas hoje, os crentes de todas as etnias e nações, podem se achegar com fé ao trono da
graça, pois o sacerdote perfeito ofereceu a si mesmo (o sacrifício perfeito) e expiou todo o pecado e condenação, de uma vez
para sempre. No momento exato da morte de Cristo na cruz do Calvário, o véu que, simbolicamente, fazia separação entre o San-

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HEBREUS 10 18

22 Desta forma, acheguemo-nos a Deus de Deus, profanou o sangue da aliança


com um coração sincero e com absoluta pelo qual Ele foi santificado, e insultou
certeza de fé, tendo os corações aspergi- o Espírito da graça?
dos para nos purificar de uma consciência 30 Porquanto, nós conhecemos aquele
culpada, e tendo os nossos corpos lavados que declarou: “A mim pertence a vin-
com água pura. gança!”, e em outro trecho: “O Senhor
23 Sem duvidar, mantenhamos inabalá- exercerá juízo sobre seu povo”.
vel a confissão da nossa esperança, por- 31 Assim, terrível coisa é cair nas mãos
quanto quem fez a Promessa é fiel. do Deus vivo!
24 E consideremos uns aos outros para
nos encorajarmos às manifestações de Os salvos perseveram na fé
amor fraternal e às boas obras. 32 Contudo, lembrai-vos dos primeiros
25 Não abandonemos a tradição de dias em que, depois de serdes ilumina-
nos reunirmos como igreja, segundo o dos, suportastes uma grande provação e
procedimento de alguns, mas, pelo con- sofrimentos.8
trário, motivemo-nos uns aos outros, 33 Algumas vezes, fostes expostos ao
tanto mais quanto vedes que o Dia está público como espetáculo de humilha-
se aproximando.6 ções e perseguições e, outras vezes, vos
associastes aos que da mesma forma
O castigo do pecado renitente foram ofendidos.
26 Porque, se vivermos deliberadamente 34 Porque não somente vos compade-
em pecado, depois de termos recebido o cestes dos encarcerados, como também
pleno conhecimento da verdade, já não recebestes com alegria o confisco dos
resta sacrifício pelos pecados,7 vossos próprios bens, pois estáveis con-
27 mas uma horrível expectativa de juízo victos de possuirdes bens muito supe-
e fogo ardente prestes a consumir todos riores e que duram para sempre.
os inimigos de Deus. 35 Portanto, não abandoneis a vossa
28 Ora, se aqueles que rejeitam a Lei de confiança; pois nela há grandioso ga-
Moisés, morrem sem misericórdia, me- lardão.
diante a palavra de acusação de duas ou 36 Em verdade vos afi rmo que necessitais
três testemunhas; de perseverança, a fim de que, havendo
29 julgai vós, quanto maior castigo cumprido a vontade de Deus, alcanceis
merecerá quem feriu os pés do Filho plenamente o que Ele prometeu;

to Lugar e o Santo dos Santos, rasgou-se em duas partes, de cima a baixo (Mc 15.38). Aquele véu (cortina de tecido) representa
o corpo de Cristo em relação à questão do sofrimento. Assim como aquele véu, o corpo de Cristo foi rasgado, e abriu caminho
para a morada de Deus (literalmente: o tabernacular) na vida dos cristãos sinceros.
6 A expressão grega aqui traduzida por “abandonemos” transmite o sentido original de “deserção” (Mt 27.46; 2Co 4.9; 2Tm
4.10,16). Deus planejou a Igreja para que os cristãos pudessem ser companheiros de caminhada, exortando e sendo exortados
pelo Espírito e uns aos outros, em amor fraternal. Por isso, não é concebível a teoria do culto exclusivo e distante da comunhão
dos irmãos (1Jo 1.3). A demora do glorioso retorno do Senhor causou certa apatia e frustração naqueles cuja fé era frágil
e oscilante, e foram tentados a desistir da luta espiritual diária para voltar aos rudimentos do judaísmo e da antiga aliança.
Entretanto, o autor de Hebreus, e muitos cristãos, presenciaram o terrível dia da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Um dos
sinais da iminente volta de Cristo (Lc 21.20-22; 1Ts 5.2,4; 2Ts 1.10; 2.2; 2Pe 3.10).
7 Todo e qualquer pecado tem seu perdão e remissão em Cristo Jesus, menos o pecado da rejeição consciente e sistemática
(apostasia) ao amor de Deus mediante seu Evangelho. O cenário histórico dessa passagem do AT está registrado em Nm 15.27-
31 e refere-se especialmente àquelas pessoas que, havendo confessado sua fé no Senhor, decidem afastar-se do Corpo de
Cristo (a Igreja), negando a fé que um dia abraçaram (6.4-8). Rejeitar o sacrifício de Cristo é rejeitar a única possibilidade efetiva
de Salvação eterna, porquanto não existe nenhum outro sacrifício aceito por Deus. A expressão “feriu os pés do Filho de Deus”
comunica o sentido de “absoluto e renitente desprezo ao Senhor e sua Palavra” (Zc 12.1-9).
8 Com o passar do tempo, tendemos a ganhar mais conhecimento bíblico e experiência na convivência com o Corpo de Cristo.
Todavia, precisamos sempre nos lembrar do tempo em que fomos alcançados pelo divino amor do Senhor, quando a luz da
salvação brilhou alegremente em nossas mentes e corações, como as Boas Novas de Deus (6.4; Jo 1.9; At 2.40-44).

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19 HEBREUS 10, 11

37 pois dentro de pouco tempo “Aquele aprovou as suas ofertas. Apesar de estar
que vem virá, e não tardará. morto, seu testemunho de fé ainda é
38 Mas o justo viverá pela fé! Contudo, eloqüente.4
se retroceder, minha alma não se agra- 5 Por meio da fé, Enoque foi arrebatado,
dará dele”.9 de forma que não experimentou a mor-
39 Nós, entretanto, não somos dos que te; e “já não foi encontrado, porquanto
regridem para a perdição; mas sim, dos Deus o havia arrebatado”, visto que
que crêem e, salvos, seguem avante. antes de ser arrebatado, havia recebido
o testemunho de que tinha agradado a
A essência e o sentido da fé Deus.5

11 Ora, a fé é a certeza de que havere-


mos de receber o que esperamos,
e a prova daquilo que não podemos ver.1
6 Em verdade, sem fé é impossível agra-
dar a Deus; portanto, para qualquer
pessoa que dele se aproxima é indispen-
2 Porquanto, foi mediante a fé que os sável crer que Ele é real e que recompen-
antigos receberam bom testemunho.2 sa todos quantos se consagram a Ele.6
3 Pela fé, compreendemos que o Univer- 7 Pela fé, Noé, quando divinamente
so foi criado por intermédio da Palavra orientado acerca dos acontecimentos
de Deus e que aquilo que pode ser visto que ainda não podiam ser vistos, mo-
foi produzido a partir daquilo que não vido por santo temor, construiu uma
se vê.3 arca a fi m de salvar sua família. Por
intermédio da fé, ele condenou o mun-
Os primeiros heróis da fé do e se tornou herdeiro da justiça que
4 Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sa- vem da fé.7
crifício mais excelente do que Caim.
Por meio da fé, ele foi reconhecido co- O exemplo dos patriarcas
mo justo, no momento em que Deus 8 Pela fé, Abraão, quando convocado,

9 O autor de Hebreus toma como base a Septuaginta (o AT em grego) para salientar o fundamento da fé cristã: a salvação
pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo; e a vida (cristã), como resultado direto da fé que depositamos em nosso Salvador
(Hb 2.3,4). O autor escreve para os salvos e perseverantes, porém está consciente de que há alguns insinceros entre os crentes,
mas que somente o Senhor poderá cuidar deles. Muitos cristãos hebreus serviram de “espetáculo” ao mundo (literalmente em
grego theatrizomenoi), devido às muitas e terríveis perseguições por causa do Evangelho que viviam e pregavam, contudo ainda
não haviam passado pelo martírio que viria (12.4; 1Co 4.9). Mesmo assim, alguns já estavam apostatando da fé. Em Jerusalém,
porém, vários santos líderes do Senhor morreram torturados por proclamarem a mensagem salvadora de Jesus Cristo: Estevão,
Tiago, filho de Zebedeu, Tiago, irmão do Senhor Jesus, esses por volta do ano 62 d.C.
Capítulo 11
1 A expressão grega original hupostasis significa um tipo de “certeza concreta”, uma “confiança sem espaço para dúvida”. A fé
é como uma “declaração escrita e oficial” em relação às promessas de Deus, das quais a vida e obra de Jesus Cristo, o Messias,
é a maior e melhor.
2 O autor de Hebreus se refere aos “antigos” homens e mulheres de fé como exemplos de “crentes” da era pré-cristã. No AT,
Deus valorizava a fé (sincera e absoluta) depositada em sua pessoa e Palavra, tanto quanto a fé que devemos a Cristo no NT.
3 A fé substancia a realidade de Deus. Por mais que a humanidade avance nas ciências, a melhor resposta para a criação do
Universo e o cotidiano de cada um de nós provém da fé em Deus.
4 O motivo principal da aceitação do sacrifício de Abel foi ter sido oferecido por fé. O texto do AT, nos deixa entender que a oferta
de Caim foi entregue apenas como um formalismo ritual, sem sincera fé e adoração (Gn 4.3,4; 1Jo 3.12).
5 A melhor maneira de se agradar a Deus é crendo nele. Esse foi o grave erro do primeiro homem (Gn 3), maldição que
acompanhará grande parte da humanidade até o final dos tempos. Por isso, iluminados, e grandemente afortunados, são aqueles
que aceitam o toque divino e celebram com fé a Salvação em Cristo Jesus (Is 64.4; 1Tm 1.17; Jo 1.18). Enoque foi justificado
porque “agradou a Deus”, por meio da fé (Gn 5.18-24; Sl 49.15; 73.24).
6 A fé que agrada a Deus é a fé em sua pessoa, santa e excelsa (Jr 29.13). A fé na fé, ou a fé em outro qualquer ser ou objeto,
é apenas uma expressão de força de vontade humana ou inócua crendice.
7 O dilúvio foi uma prova mundial da vindicação da fé de Noé em Deus, e do castigo da incredulidade. A fé de Noé na Palavra
de Deus o levou a convencer sua família a construir um enorme barco no meio de uma região árida e muito distante do mar.
Noé tinha 480 anos quando Deus o chamou para construir a arca. Passou cerca de 120 anos pregando sobre o juízo de Deus,
e suportando todo tipo de zombarias e incredulidades. Durante todo esse período de graça, não viu nenhuma pessoa se
arrepender (Gn 5.28 – 9.29; 6.3; 1Pe 3.20). Noé morreu com a idade de 950 anos (2Pe 2.5; At 28.26; Ap 2.7).

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HEBREUS 11 20

obedeceu e dirigiu-se a um lugar que no 14 Os que se expressam desta maneira


futuro receberia como herança, embora demonstram que estão em busca de
não soubesse para onde estava sendo uma pátria.
dirigido.8 15 Pois, se estivessem cogitando sobre
9 Mediante a fé, peregrinou na terra aquela de onde saíram, teriam a possi-
prometida como se fosse terra estran- bilidade de voltar.
geira, habitando em tendas, assim co- 16 Em vez disso, aguardavam eles pela
mo Isaque e Jacó, herdeiros com ele da pátria excelente, ou seja, a pátria celes-
mesma promessa.9 tial. Por esse motivo, Deus não se cons-
10 Porquanto, aguardava alcançar a ci- trange de ser conhecido como o Deus
dade que tem alicerces magníficos, da deles, mas lhes preparou uma cidade.11
qual Deus é o arquiteto e edificador. 17 Pela fé, Abraão, no tempo em que
11 Por meio da fé, da mesma forma, a Deus o expôs à prova, ofereceu-lhe Isa-
própria Sara recebeu poder para gerar que como sacrifício; aquele que havia
fi lhos, ainda que estéril e avançada em recebido as promessas estava mesmo a
idade, porque considerou fidedigno ponto de sacrificar o seu unigênito, 12
Aquele que lhe havia feito a promessa. 18 ainda que Deus lhe tivesse prometido:
12 Sendo assim, daquele homem, já sem “Por intermédio de Isaque a sua descen-
virilidade, nasceu uma descendência dência será estabelecida”;
tão numerosa como as estrelas do céu, 19 porquanto, acreditou que Deus era
e incontável como os grãos de areia à suficientemente poderoso para ressus-
beira-mar.10 citá-lo dentre os mortos e, simbolica-
13 Todos estes viveram pela fé, e morre- mente, recebeu Isaque de volta dentre
ram sem ter recebido o que havia sido os mortos.13
prometido; contudo, viram-no de longe 20 Pela fé, Isaque abençoou Jacó e Esaú
e à distância o saudaram, reconhecendo em relação ao futuro deles.14
que eram estrangeiros e peregrinos so- 21 Pela fé, Jacó, prestes a morrer, aben-
bre a terra. çoou cada um dos filhos de José e, apoia-

8 Abraão é apresentado no NT como o exemplo maior de todos os que crêem em Deus (Rm 4.11-16; Gl 3.7-29). Sua fé
manifestou-se na profunda adoração e amorosa obediência dedicada ao Senhor (Gn 12.4). A expressão grega kaloumenos, que
significa “convocação ou chamada”, revela que Abraão, assim como outros servos, ouviram e atenderam prontamente, pela fé, o
convite pessoal de Deus para realizar suas missões (Gn 15.6; Ne 9.7; At 7.2-5; Mt 11.28). Deus prometeu Canaã a Abraão somente
depois de sua volta do Egito (Gn 13.14).
9 Assim como os patriarcas e o povo de Israel, os cristãos – pela fé - também peregrinam neste mundo que se tornou estranho
ao amor de Deus por causa do pecado (Gn 3; 23.4; 1Pe 1.1,17). Somente quando o discípulo aprende a priorizar sua fé no
Senhor, considerando todas as demais coisas como secundárias, é que efetivamente estará seguindo a Cristo (Lc 14.33). Somos
cidadãos do céu, nossa pátria não está nesta Terra (Fp 3.20).
10 Sara foi considerada estéril por haver passado, em muito, da idade média de ter filhos (Gn 18.11,12). Abraão, com cerca de
100 anos de idade, não tinha a mesma vitalidade da juventude (Gn 21.5; Rm 4.19). Entretanto, para Deus não há impossíveis e
seus propósitos serão sempre cumpridos. A descendência de Abraão é, hoje em dia, numerosa em todo o planeta, como a areia
das praias (Gn 11.30; 13.16; 15.5; 22.17; 26.4; 1Rs 4.20).
11 Os patriarcas, assim como todos os crentes, não morrem para Deus, mas são renovados e vivem eternamente (Mc
12.26,27).
12 A expressão original grega peirazomenos pode significar, ao mesmo tempo, “tentar” e “provar”. Deus não incentiva ninguém
para o mal, mas usa todas as provações (tentações), às quais as pessoas são diariamente submetidas, a fim de que o homem
observe e analise suas próprias motivações e reações. O Senhor sempre espera que o homem escolha aceitar o amor e as
orientações do Pai celeste. Para Deus, a intenção é tão ou mais importante que a ação; assim como o ser, mais valioso que o
fazer (Tg 1.13). O vocábulo “unigênito”, além de significar a exclusividade de um “filho único”, tem o sentido de “muito amado”,
o que ilustra a própria pessoa do Filho de Deus (Mc 12.6).
13 A fé de Abraão era tão pura, sincera e tranqüila que, mesmo no ápice da sua pior crise, creu no amor e no poder de Deus para
ressuscitar Isaque, caso fosse necessário. Fato que realmente ocorreu, de modo figurado, quando o próprio Senhor – contemplando
a prova de fé de Abrão – providenciou o Cordeiro da expiação, prefigurando a pessoa e a obra vicária do Cristo (Gn 22.13).
14 As orações e bênçãos dos pais sobre os filhos têm grande significado e poder (Gn 27.27-40).

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21 HEBREUS 11

do sobre a extremidade do seu cajado, e fez aspersão do sangue, para que o anjo
adorou a Deus.15 destruidor não tocasse nos primogênitos
22 Pela fé, José, também ao fi nal da vida, dos israelitas.
relembrou o êxodo dos fi lhos de Israel 29 Pela fé, o povo atravessou o mar Ver-
do Egito e deu instruções quanto ao en- melho como em terra seca; mas quando
terro dos seus próprios ossos.16 os egípcios procuraram também atra-
vessar, morreram afogados.
A fé heróica de Moisés 30 Foi pela fé que os muros de Jericó des-
23 Mediante a fé, Moisés, ainda recém- moronaram, depois de serem rodeados
nascido, foi escondido durante três durante sete dias.20
meses por seus pais, porque perceberam 31 Também foi mediante a fé que a
que sua formosura não era comum, e prostituta Raabe, por haver acolhido os
não temeram o decreto do rei.17 espiões, não foi morta juntamente com
24 Pela fé, Moisés, já adulto, recusou ser os incrédulos.21
aclamado como fi lho da fi lha do Faraó, 32 Quantos exemplos mais darei? In-
25 preferindo ser maltratado com o felizmente não disponho de tempo
povo de Deus a desfrutar os prazeres para falar sobre a devoção de Gideão,
que o pecado é capaz de proporcionar Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e
por curto período de tempo. os profetas,
26 Por amor ao Messias, julgou sua 33 os quais, por intermédio da fé, con-
desonra uma riqueza mais excelente quistaram reinos, praticaram a justiça,
do que os tesouros do Egito, porquanto receberam o cumprimento de promes-
contemplava a sua gloriosa recompen- sas, fecharam a boca de leões,
sa.18 34 extinguiram a violência do fogo,
27 Por meio da fé, abandonou o Egito, foram libertos do fio da espada; da
não temendo a ira do rei, e perseverou, fraqueza tiraram força, tornaram-se
pois fitava Aquele que é invisível.19 poderosos nas batalhas e puseram em
28 Por intermédio da fé, celebrou a Páscoa retirada exércitos estrangeiros.22

15 A maior herança que os pais deixam para seus filhos e netos é a bênção da expressão sincera de que eles também conhe-
çam e andem com Deus (Gn 47.29-31; 48.8-20; Sl 23).
16 Jacó e José são outros valorosos exemplos de pessoas cuja fé é clara e robusta; seja durante a difícil caminhada da vida,
como na hora da morte (v.13; Gn 50.24,25).
17 Moisés, desde seu nascimento, apresentava sinais incomuns de beleza e carisma (Êx 6.20; Nm 26.58,59). Contudo, seus
pais tinham plena consciência de que ele pertencia ao Senhor; creram que ele haveria de sobreviver ao decreto do faraó egípcio
que determinara a morte de todos os meninos hebreus recém-nascidos (Êx 1.16,22; 2.2).
18 Em Êx 4.22, Israel é literalmente, nos originais, chamado de “filho de Deus” (Os 11.1). A pessoa de Jesus Cristo, o Messias
de Israel, sempre esteve unida ao povo de Deus (1Co 10.4). Assim como Abraão que viu a Cristo (Jo 8.56), Moisés exerceu o
ministério de arauto do Senhor, na preparação do caminho para a chegada do Messias (Sl 69.9).
19 O medo dos crentes não se compara ao desespero dos incrédulos. Moisés fugiu para Midiã, na península do Sinai, aos 40
anos de idade (Êx 2.11-15; At 7.23-29). Moisés é considerado um dos maiores líderes de todos os tempos por sua perseverança
em guiar seu povo através do deserto, por 40 anos, sem tirar os olhos da fé de Cristo (o Messias). Ele pôde ver o invisível, e
permaneceu fiel ao Senhor (At 7.30).
20 Deus mandou que Moisés transferisse a liderança do povo de Israel para o jovem Josué, homem de fé, cujo primeiro grande
desafio, a conquista da terra prometida, foi vencido exclusivamente pelo poder da fé no Senhor, sem uma única batalha (Js 6).
21 Raabe, mesmo após haver abraçado a fé em Deus, continuou a carregar o estigma de ter sido prostituta (Js 2.8-11; 6.22-25).
Entretanto, sua vida deve ser vista como um exemplo da grandiosidade da graça do Senhor, capaz de redimir absolutamente
qualquer pecador, e elevá-lo à dignidade eterna (Tg 2.25). Raabe, crente no Senhor, casou-se com Salmom e foi mãe de Boaz,
ancestral de Davi, que é incluído na genealogia de Jesus Cristo (Mt 1.5).
22 O autor de Hebreus tem em mente todos os grandes heróis da fé, e muitos outros homens e mulheres de Deus, porém
se vê limitado ao tempo e espaço para comentar sobre todos neste livro. Mesmo assim, cita resumidamente: Daniel (Dn 6.22),
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, Elias (1Rs 19); Eliseu (2Rs 6.31), Jeremias (Jr 36.19,26); Gideão (Jz 6.15); Jônatas, e tantos
outros (1Sm 14.6).

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HEBREUS 11, 12 22

35 Algumas mulheres receberam por Cristo é o nosso maior exemplo


meio da ressurreição os seus mortos de
volta à vida. Uns foram martirizados e
não negociaram seus livramentos, a fim
12 Portanto, também nós, consi-
derando que estamos rodeados
por tão grande nuvem de testemunhas,
de poderem conquistar uma ressurrei- desembaracemo-nos de tudo o que nos
ção ainda mais excelente;23 atrapalha e do pecado que nos envolve,
36 muitos enfrentaram zombarias e tor- e corramos com perseverança a corrida
turas, outros ainda foram acorrentados e que nos está proposta,1
jogados aos cárceres; 2 olhando fixamente para o Autor e
37 apedrejados, serrados ao meio, tenta- Consumador da fé: Jesus, o qual, por
dos, mortos ao fio da espada. Andaram causa do júbilo que lhe fora proposto,
sem rumo, vestidos de pele de ovelhas suportou a cruz, desprezando a vergo-
e de cabras, necessitados, angustiados e nha, e assentou-se à direita do trono de
maltratados.24 Deus.2
38 Caminharam como refugiados, vagan- 3 Reflitam profundamente sobre Aquele
do pelos desertos e montes, pelas caver- que suportou tamanha oposição dos
nas e buracos na terra. Pessoas das quais pecadores contra sua própria pessoa,
o mundo não foi digno! para que não vos fatigueis, tampouco
39 Ora, todos estes, apesar de haverem desanimeis.3
sido aprovados por Deus por meio da
fé, não presenciaram a concretização do As provas revelam o amor do Pai
que Ele havia prometido; 4 Ora, na guerra contra o pecado ainda
40 tendo em vista que Deus havia provi- não tendes resistido até o extremo de
denciado algo ainda mais excelente para derramar o próprio sangue.
nós, a fim de que juntamente conosco pu- 5 E estais esquecidos da Palavra de en-
dessem ser eles também aperfeiçoados.25 corajamento que Ele vos dirige como

23 Referência à mulher de Serepta (1Rs 17.17-24), ao ocorrido com a mulher sunamita (2Rs 4.8-36) e aos muitos servos de
Deus que não se sujeitaram às pressões de reis, governantes despóticos, exércitos e do próprio sistema mundial; mas preferiram
entregar suas vidas aos torturadores e à morte, a fim de herdarem dignamente a vida eterna e as recompensas celestiais. A
expressão grega original, aqui traduzida por “martirizados”, significa literalmente “esticados e açoitados até a morte”.
24 Homens de Deus como Zacarias, filho do sacerdote Joiada, e Isaías (serrado ao meio por ordem de Manassés, segundo
a tradição histórica), que foram mortos por declararem a verdade (2Cr 24.20-22; Lc 11.51). No século II a.C., a maioria dos
macabeus deram suas vidas por causa de Deus.
25 Nem todos os heróis da fé experimentaram completo triunfo de suas ações em vida. Contudo, absolutamente todos
receberam a bênção e o galardão divino, e ouvirão da boca do Senhor, juntamente com muitos cristãos: “Muito bem, servo bom
e fiel!” (Mt 25.21). O grande e pleno cumprimento das promessas de Deus, tanto para os antigos heróis da fé, quanto para nós,
encontra-se na pessoa e obra de Jesus Cristo, que é a “ressurreição e a vida” (Jo 11.25,26).
Capítulo 12
1 O autor de Hebreus compara a vida cristã a uma corrida olímpica de longa distância (antigo esporte grego no qual os atletas
deviam vencer os cerca de 42 km que ligava a cidade de Maratona a Atenas). O público que torce pelos competidores é formado
por celebridades da fé, por isso não podem ser considerados meros espectadores, mas fontes de inspiração e nossos grandes
exemplos de vida com Deus. A expressão grega original marturos, que originou nossa palavra “mártir”, significa “testemunhas”,
o que demonstra a amplitude do sentido de vivermos uma vida exemplar: disciplinada pelo Espírito Santo (At 20.24; 1Co 9.24-26;
Gl 2.2; 5.7; Fp 2.16; 2Tm 4.7).
2 O caminho para a vitória na maratona da vida é concentrar toda a nossa atenção na pessoa de Cristo (Fp 3.13,14), pois ele
é o ponto de partida e, ao mesmo tempo, linha de chegada e o objetivo maior da nossa fé. Jesus é nosso melhor orientador, trei-
nador e exemplo, pois ele já venceu a morte e conquistou o grande prêmio do Universo (1.3; Is 53.10-12). Portanto, as restrições,
sofrimentos e humilhações que passamos diariamente, por amor e obediência ao Senhor, são recompensadas pela certeza da
vitória e da glória eterna (11.26; Mt 5.10-12; Rm 8.18; 2Co 4.17; 1Pe 4.13; 5.1,10).
3 Jesus Cristo sofreu infinitamente mais do que qualquer ser humano em todos os tempos. Por isso, Ele – por meio do seu
Espírito – pode compreender perfeitamente e ser sensível às nossas aflições. E não apenas ser solidário, mas efetivamente nos
livrar de todo mal. Essa certeza deve nos fortalecer e animar, especialmente quando passamos por momentos de grande tristeza,
incerteza e sofrimento (Is 40.28-31).

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23 HEBREUS 12

a fi lhos: “Meu fi lho, não desprezeis a tração; mais tarde, no entanto, produz
disciplina do Senhor, nem desanimeis fruto de justiça e paz para todos aqueles
quando por Ele és repreendido, que por ela foram disciplinados.
6 pois o Senhor disciplina a quem ama, e 12 Sendo assim, fortalecei as mãos enfra-
educa todo aquele a quem recebe como quecidas e os joelhos vacilantes.6
fi lho”. 13 “Preparai caminhos retos para os vos-
7 Suportai as dificuldades, aceitando-as sos pés”, para que aquele que manca não
como disciplina; Deus vos trata como se desvie, pelo contrário, seja curado!
fi lhos. Ora, qual o fi lho que não passa
pela correção do seu pai? 4 Exortação à paz e à sinceridade
8 Mas, se estais sem orientação, da qual 14 Esforçai-vos para viver em paz com
todos se têm tornado participantes, então todas as pessoas e em santificação, sem
não sois filhos legítimos, mas bastardos. a qual ninguém verá o Senhor.7
9 Além do mais, tínhamos nossos pais 15 Vigiai para que ninguém se exclua
humanos que nos educavam, e nós os da graça de Deus; que nenhuma raiz de
respeitávamos. Quanto mais devemos mágoa venenosa brote e vos cause con-
toda a obediência ao Pai dos espíritos, fusão, contaminando muitos;8
para então vivermos!5 16 que não se abrigue entre vós nenhum
10 Porquanto, nossos pais nos discipli- imoral ou profano, como Esaú, o qual
navam por um espaço curto de tempo, por uma refeição desejada, vendeu todos
da forma que melhor lhes parecia. Deus, os seus direitos de herança como fi lho
entretanto, nos corrige para o nosso bem mais velho.9
maior, a fim de que possamos participar 17 E, assim, como bem sabeis, quando
plenamente da sua santidade. mais tarde quis herdar a bênção, foi
11 Toda correção, de fato, no momento rejeitado; e não teve como cancelar sua
em que ocorre não nos parece ser mo- decisão, apesar de ter buscado a bênção
tivo de contentamento, mas de frus- desesperadamente.10

4 A expressão grega original paidéia significa “educar para a vida” e tem um sentido mais amplo do que a palavra “castigo”,
muitas vezes associada somente a repreensões físicas. Contudo, quando necessário, como um bom pai, o Senhor nos disciplina
ou corrige (em grego: “açoita”). Os sofrimentos, humilhações e perseguições devem ser aceitos pelos cristãos como parte do
processo educacional usado por Deus para nosso desenvolvimento espiritual (5.13; At 14.22).
5 Respeito e obediência são os componentes básicos da “submissão” e nos ajudam a entender o que significa a expressão
bíblica “o temor do Senhor” (2Co 7.1; Pv 9.10). Deus é o criador do espírito humano e, portanto, nosso Pai espiritual. Nossos pais
humanos são pais genéticos e biológicos, numa linguagem bíblica: “segundo a carne” (Nm 16.22; Ec 12.7; Zc 12.1). Desde os
primórdios, a obediência (submissão humilde) a Deus é a grande chave para a vida eterna (Tg 1.21; Gn 3).
6 Sempre que a admoestação ou correção divina (disciplina) é aceita com submissão, produz no cristão grandes benefícios.
Portanto, deve ser recebida com gratidão e esperança, como uma provação sadia da nossa fé em Cristo (1Pe 1.6,7; Tg 1.2; Pv
4.26).
7 A tradição familiar, a posição sócioeconômica ou a formação acadêmica não podem proporcionar o verdadeiro conhecimento
de Deus. Somente a santidade nos permite “ver a Deus”. E quem vê a Deus, vê ainda melhor o seu próximo (Lc 10.29-37; 1Pe
1.15,16; 1Jo 3.2,3).
8 A expressão “se exclua da graça” quer dizer, “colocar-se aquém da graça”, ou, ainda, “decidir não tomar posse da graça”,
dom oferecido pelo Senhor, mas que deve ser aceito fervorosamente pelo crente para que possa ter seu efeito pleno (2.1-4; 6.4-8).
O termo original grego episkopountes significa aqui “zelar com amor” pela saúde espiritual dos irmãos. É a mesma palavra para
“bispo” ou “epíscopo”. Tanto aqui como em Dt 29.18, a expressão “mágoa venenosa” ou “amargura” tem a ver com sentimentos
como inveja, vingança, maledicência, que são capazes de envenenar o indivíduo e toda a comunidade.
9 Deus criou a humanidade para que ela, espontaneamente, vivesse em harmonia com o seu Criador e a terra, obviamente,
dando muito mais valor às coisas espirituais. Entretanto, com a Queda (Gn 3), Satanás teve condição de inverter os valores reais,
e o homem passou a dar mais valor às coisas profanas (poder, prestígio, bens materiais). A história de vida de Esaú ilustra bem
essa triste realidade humana (Gn 25.29-34; Fp 3.18,19).
10 Esaú agiu como a maioria das pessoas incrédulas, apenas lamentando sua perda material, mas não se arrependendo
claramente pelo pecado de haver trocado o bem espiritual e eterno pela satisfação de um desejo momentâneo e carnal (Gn
27.41; 2Co 7.10).

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HEBREUS 12, 13 24

A diferença entre Sinai e Sião Pois, se não escaparam os que rejeitaram


18 Ainda não chegastes ao monte palpá- quem os advertia sobre a terra, muito
vel e em chamas, à escuridão, às trevas, mais nós, se desprezarmos Aquele que
à tempestade,11 nos admoesta dos céus.
19 ao clangor da trombeta, ao som das 26 Aquele, cuja voz outrora abalou a ter-
Palavras, que os que as ouviram roga- ra, agora promete: “Ainda uma vez aba-
ram que não se lhes pronunciasse mais; larei não somente a terra, mas de igual
20 porquanto, não podiam suportar modo todo o céu”.
o que lhes era ordenado: “Até mesmo 27 Ora, esta frase “Ainda uma vez” indica
um animal, se tocar no monte, deve ser a remoção de coisas que podem ser aba-
apedrejado”. ladas, isto é, as coisas criadas, para que
21 Aquelas cenas foram tão terríveis que permaneça o que não pode ser abalado.
até Moisés exclamou: “Estou aterroriza- 28 Portanto, já que estamos herdando um
do e trêmulo!” Reino inabalável, sejamos agradecidos e,
22 Mas tendes chegado ao monte Sião, à deste modo, adoremos a Deus, com uma
cidade do Deus vivo, à Jerusalém celes- atitude aceitável, com toda a reverência
tial, à jubilosa reunião dos milhares de e temor,14
milhares de anjos, 29 porque o nosso “Deus é fogo consu-
23 à igreja dos primogênitos, cujos no- midor!”
mes estão escritos nos céus, a Deus, o
juiz de toda a humanidade, aos espíritos Conclusões e aplicações práticas
dos justos agora perfeitos,12
24 a Jesus, mediador de uma nova alian-
ça, e ao sangue aspergido, que se expres-
13 Seja incessante o amor fraternal.
2 Não vos esqueçais de praticar a
hospitalidade; pois agindo assim, mesmo
sa com mais veemência do que o sangue sem perceber, alguns acolheram anjos.1
de Abel.13 3 Lembrai-vos dos encarcerados, como se
25 Cuidado! Não rejeiteis Aquele que fala. estivésseis aprisionados com eles; e todos

11 Os versículos 18 a 21 fazem menção à maravilha, poder, temor e alta reverência que envolveu todo o povo de Israel e a
região do monte Sinai, quando Deus outorgou a Lei a Moisés (Êx 19.10-25; Dt 4.11,12; 5.22-26; 9.9-19; 18.16; At 7.32). O autor
de Hebreus estabelece um contraste entre o monte Sinai, “intocável” (Êx 19.12), e o monte Sião (Jerusalém). Entretanto, não se
refere exatamente à parte montanhosa a sudeste de Jerusalém, mas sim à Cidade Celestial de Deus e aos que habitam com o
Senhor, a fim de marcar nitidamente a diferença entre as duas grandes alianças de Deus com a humanidade, sendo a nova aliança
em Cristo maior e definitiva (11.10-16; 13.14; Fp 3.20; Ap 5.11,12; Gl 4.26; Ap 21.2).
12 A expressão grega no plural “primogênitos” retrata a excelência do amor de Deus para com cada uma das pessoas salvas
(seus filhos) desde os primórdios (2.10,11; Lc 10.20; Ap 21.27). O termo “espíritos” refere-se aos “santos” do AT, agora aperfeiço-
ados mediante a morte e ressurreição do Primogênito de Deus (11.40). É por intermédio do Espírito de Deus, que sela (autentica)
e habita a vida do crente, que temos pleno e eterno acesso à Nova Jerusalém, a Cidade Celestial de Deus.
13 O sangue de Abel clamou durante toda a história da humanidade por justiça e condenação para o pecador (assassino). O
sangue de Cristo, entretanto, derramado na cruz, proclama – ainda mais forte – o perdão e a reconciliação eterna do pecador
arrependido com Deus (Gn 4.10; Hb 9.12; 10.19; Cl 1.20; 1Jo 1.7).
14 Aquele que tem a voz criativa e poderosa é Deus (Êx 19.18; Dt 4.24; Sl 68.7), Aquele que nos redime, aconselha e orienta é
Cristo, que veio dos céus e está nos céus (1.1-3; 4.14; 6.20; 7.26; 9.24). E, porque recebemos essa revelação maior e completa,
temos ainda mais responsabilidade em preservar a fé e viver testemunhando as Boas Novas (o Evangelho): Cristo em nós! (2.2-
4). A nova ordem esperada por Ageu, e tantos homens e mulheres de Deus do passado (Ag 2.6-21), teve pleno cumprimento no
sacrifício e ascensão de Jesus Cristo, que estabeleceu seu Reino. O ensino claro das Sagradas Escrituras é que tudo passa nesse
mundo. Somente o Reino de Deus é eterno (v.28).
Capítulo 13
1 O autor de Hebreus tem duas preocupações básicas: a apostasia dos judeus-cristãos e o esfriamento do amor fraternal
cristão entres os crentes, especialmente pela demora do retorno de Cristo (evento que eles esperavam para aqueles dias), e
pelo desenvolvimento de diversas doutrinas e seitas heréticas. A hospitalidade e a simpatia dos crentes do primeiro século
foi a principal marca da Igreja. A própria palavra “cristão” foi criada originalmente pelo povo que, por testemunhar o amor dos
membros da Igreja, passou a chamar os crentes de “pequenos Cristos” (cristãos). Sem saber, alguns crentes haviam hospedado
anjos, assim como Abraão (Gn 18), Gideão (Jz 6) e Manoá (Jz 13).

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25 HEBREUS 13

aqueles que sofrem maus tratos, como não podem produzir qualquer benefício
se vós pessoalmente estivésseis sendo real para aqueles que neles confiam.5
maltratados.2 10 Nós possuímos um altar do qual não
4 Digno de honra seja o casamento en- têm direito de comer os que ministram
tre todas as testemunhas, bem como no tabernáculo.6
a pureza do leito conjugal; porquanto, 11 O sumo sacerdote leva sangue de ani-
Deus julgará os imorais e adúlteros. mais até o Santo dos Santos, como oferta
5 Seja a vossa vida desprovida de avare- pelo pecado, mas os corpos dos animais
za. Alegrai-vos com tudo o que possuis; são queimados fora do acampamento.
porque Ele mesmo declarou: “Por moti- 12 Por isso, para santificar o povo por
vo algum te abandonarei, nunca jamais intermédio do seu sangue, Jesus igual-
te desampararei”.3 mente sofreu fora da porta da cidade.
6 Por esta razão, podemos afi rmar com 13 Saiamos, portanto, ao encontro dele,
toda a segurança: “O Senhor é o meu fora do acampamento, levando conosco
Ajudador, nada temerei. O que poderá a mesma humilhação que Ele suportou.7
fazer contra mim o ser humano?” 14 Pois não temos na terra nenhuma ci-
dade permanente, mas buscamos a que
A vida dos discípulos de Cristo há de vir.
7 Lembrai-vos dos vossos líderes, que 15 Sendo assim, por intermédio dele,
vos ensinaram a Palavra de Deus; ob- ofereçamos continuamente a Deus um
servando-lhes atentamente o resultado sacrifício de louvor, que é o fruto de
da vida que tiveram e imitai-lhes a fé. lábios que confessam o seu Nome.
8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e 16 De igual modo, não negligencieis a
eternamente!4 contínua prática do bem e a mútua coo-
9 Não vos deixes influenciar pelas várias peração; pois, são desses sacrifícios que
doutrinas heréticas. Porque o mais im- Deus muito se alegra.8
portante é fortalecer o coração pela graça, 17 Sejais obedientes aos vossos líderes
e não por alimentos cerimoniais, os quais espirituais e submissos à autoridade que

2 A expressão grega original sõmati “em corpo” (pessoalmente) transmite a idéia cristã de Corpo de Cristo, ou seja, quando um
membro sofre todos sofrem, principalmente o próprio Cristo (1Co 12.26).
3 A impureza moral e a adoração ao dinheiro, bem como tudo o que ele pode comprar (poder e prazeres), são demonstrações
claras de que a pessoa que se deixa dominar por essas ilusões ainda não aprendeu a depositar sua plena confiança (fé) em Deus,
e, portanto, está longe da companhia amável e segura do Senhor e muito próxima da condenação eterna (Dt 31.6,8; Js 1.5; Lc
12.15,21; Ef 5.5; Fp 4.10-13; Cl 3.5; 1Tm 6.6-19). O cristão sincero, por causa da sua fé no Senhor, pode contar com o cuidado
paternal de Deus enquanto prossegue corajosamente, trabalhando e construindo seu futuro (Fp 4.11,12; 1Tm 6.8).
4 O autor de Hebreus exorta seus leitores a seguirem o discipulado ministrado e legado pelos homens de Deus que lhes
pregaram o Evangelho, mesmo considerando que tais pessoas já haviam passado (morrido). Contudo, Jesus Cristo – Deus e ser
humano – não está sujeito às mudanças causadas pela passagem do tempo e sempre será a Verdade. Questionar a supremacia
absoluta de Cristo, por que retarda sua volta ou qualquer outro motivo, voltando aos antigos rituais levíticos ou similares é sub-
verter o Evangelho (capítulos 5 a 10).
5 O autor de Hebreus se preocupa com as filosofias e doutrinas pré-gnósticas que estavam se conectando ao judaísmo e
pervertendo a fé de alguns cristãos, especialmente entre os judeus (9.10; 1Co 8.8; Cl 2.16).
6 O altar dos crentes é a cruz de Cristo, que marcou o fim de todo o sacerdócio arônico e sua substituição pela ordem de
Melquisedeque, da qual Cristo é o único e incomparável sacerdote. Os sacerdotes não podiam comer do sacrifício do Dia da
Expiação, porém todos nós somos convidados a participar da mesa do sacrifício (Santa Ceia) do Senhor, mediante simples e
sincera fé no Filho de Deus (Jo 6.48-58; Lv 4.12; 16.27).
7 O fato de Cristo ter sido levado e crucificado fora dos muros de Jerusalém, constituiu-se em mais uma viva ilustração do seu
sacrifício expiatório. Da mesma forma como a retirada dos corpos dos animais sacrificados para fora do antigo acampamento de
Israel simbolizara a eliminação do pecado, assim também, devemos todos avançar em direção à nova aliança, deixando para trás
o pecado e as tradições insuficientes do judaísmo ou de qualquer outra religião, ainda que essa atitude nos traga qualquer tipo
de desonra familiar, social ou cultural (Êx 33.7; Lv 24.14,23; Nm 12.14).
8 A expressão “sacrifício de louvor” é usada metaforicamente para evidenciar a nova ordem em Cristo: a doce obrigação de
vivermos gratos a Deus por nossa salvação eterna (1Pe 2.9; Rm 12.1; Fp 4.18) e o cuidado fraternal que devemos aos nossos
irmãos na fé. E, assim, estaremos cumprindo a verdadeira e pura religião que alegra o coração de Deus (Tg 1.27).

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HEBREUS 13 26

exercem. Pois eles zelam por vós como 21 Ele mesmo, vos aperfeiçoe em todo o
quem deve prestar contas de seus atos; bem a fim de que possais realizar a von-
para que ministrem com alegria e não tade dele, e opere em vós tudo quanto
murmurando, porquanto desta maneira lhe é agradável, por intermédio de Jesus
tal ministério não seria proveitoso para Cristo, a quem seja a glória para todo o
vós outros.9 sempre. Amém!10
22 Amados irmãos, rogo-vos, igual-
Recomendações finais e bênção mente, que aceiteis bem essa minha
18 Orai por nós, pois temos certeza de mensagem de encorajamento; porquan-
caminhar com a consciência limpa, e to, vos escrevi de forma resumida.
desejamos viver de modo honrado em 23 Desejo que saibais que o nosso irmão
relação a todas as áreas da vida. Timóteo foi posto em liberdade. Se ele
19 Pessoalmente, rogo-vos com insistên- chegar em breve, irei visitá-los em sua
cia que orem para que eu vos seja resti- companhia.
tuído o mais depressa possível. 24 Saudai a todos os vossos líderes espi-
20 Ora, o Deus da paz, que mediante o rituais, bem como todos os demais san-
sangue da aliança eterna trouxe de volta tos. Os da Itália vos enviam fraternais
dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, saudações.
o grande Pastor das ovelhas; 25 A graça seja com todos vós!

9 A liderança espiritual nada tem a ver com a direção despótica de muitos governantes e empresários, mas o respeito sincero
e fraterno pelas autoridades eclesiais, bem como pela ordem, reverência e disciplina no âmbito da Igreja, são qualidades
estimuladas em todo o NT. Os guias ou líderes espirituais são pastores que zelam com todo amor e dedicação pelas ovelhas de
Deus. O ministério do bispo (palavra grega que no NT tem o mesmo sentido de “pastor” ou “ancião”) é supervisionar, isto é, “vigiar
com amor” (em grego neotestamentário episkopos) seus irmãos, como quem deve prestar contas ao Senhor. O pleno exercício
do pastorado tem implicações eternas e não se limita a esse mundo. O galardão (premiação) ou julgamento será definido no
futuro tribunal de Deus (Rm 14.10; Lc 12.42).
10 O autor de Hebreus escolhe a melhor expressão para encerrar seu sermão sobre a perseverança na fé em Cristo, e abençoar
seus leitores: “o Deus da paz” é o título do Senhor, muitas vezes usado nas bênçãos formuladas pelos valorosos homens de Deus
que, como nós, podiam descansar na paz do Pai (shabbãth), apesar de todas as provações (Rm 15.33; 16.20; Fp 4.9; 1Ts 5.23).

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