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INTRODUÇÃO

PROVÉRBIOS
Autoria
O próprio livro de Provérbios apresenta Salomão (971-931 a.C.), filho do grande rei Davi com
Bate-Seba (2Sm 12.24), como o principal autor e compilador dos ditados e instruções sapienciais
que formam esta obra canônica (1.1). Os escritos que se encontram registrados entre 10.1 e 22.6
são de sua direta e pessoal autoria. Contudo, Salomão selecionou – com sabedoria divina – os mais
apropriados pensamentos e ditados entre as centenas de sábios que vinham anualmente ao reino
unificado de Israel para conhecer, aprender e trocar experiências com o maior líder nacional, pacifi-
cador, administrador, conselheiro e sábio hebreu de todos os tempos. A passagem de 22.17 revela
as conclusões poéticas de alguns “Sábios”, e 24.23 cita ainda a contribuição de “outros sábios”. A
introdução de 22.17-21 é uma comprovação de que as diversas sessões da obra são fruto de um
colegiado de homens de Deus e sábios, e não apenas do próprio Salomão. O capítulo 30 tem como
mentor o sábio Agur, filho de Jaque e o rei Lemuel com sua mãe são considerados os autores do
trecho bíblico que encerra o livro de Provérbios.
A extraordinária capacidade intelectual de Salomão é evidenciada no Primeiro Livro dos Reis (4.29-
32), que afirma ser Salomão autor de 3.000 provérbios. O destaque conferido ao “temor do Senhor”
como a chave para uma vida feliz aqui, agora e na eternidade (1.7), é o elo indelével de todas as
sessões e conclusões da obra.

Propósitos
No livro de Provérbios, a sabedoria tem sua origem em Deus, Yahweh. Os ditados e instruções
da obra têm um principal objetivo: revelar prudência aos incautos; conhecimento e bom senso aos
jovens (1.4); assim como aumentar a inteligência dos sábios (1.5). O uso freqüente da expressão
“filho meu” ressalta a idéia de um monarca que ama a Deus, sábio e muito experiente na arte de
viver, que, amorosa e pacientemente, procura conduzir seus súditos mais jovens e inexperientes pelo
caminho da paz, da saúde e da prosperidade eterna (1.8,10; 2.1; 3.1; 4.1; 5.1). Embora esta obra seja
eminentemente prática e menos teológica, o alicerce de toda a sua praxe repousa sobre o princípio
filosófico de que o “temor do Senhor” é o segredo de uma vida feliz (1.7).
Nos primeiros capítulos (de 1 a 9), a obra revela que o caminho da sabedoria é absolutamente
oposto a qualquer atitude arrogante, violenta e imoral (1.11-18; 2.16-18).
Ao mesmo tempo, Provérbios critica severamente a esposa implicante e briguenta (19.13; 21.9,19),
e os maridos insensíveis, preguiçosos e rabugentos (14.29; 26.21). O lar deve ser um lugar de amor,
respeito, descanso e encorajamento para a alma (15.17; 17.1).
A intriga e a difamação são expressamente condenadas (10.19; 17.27). O tempo e a comunica-
ção devem servir para a edificação saudável e integral dos filhos e dos alunos ou discípulos (1.8;
22.6; 31.26). O sistema disciplinar formado por ministração, ensino, acompanhamento, correção e
repreensão e indispensável à boa educação e formação de filhos, empregados e alunos em geral
(13.24). Por isso, Provérbios incentiva o trabalho honesto e dedicado (10.4; 31.17-19), repudiando
o preguiçoso e aproveitador (6.6; 20.13). A boa e verdadeira riqueza está associada a retidão, jus-
tiça e esforço competente (3.16); enquanto a miséria é, quase sempre, fruto de iniqüidade e falta
do “temor do Senhor” (22.16). Há riquezas perversas e sobre elas Provérbios faz severos alertas
(15.16; 28.6). Os reis e governantes têm obrigação de agir com honestidade e justiça (31.5). Os
que tratam os mais fracos e pobres com misericórdia e cooperação serão grandemente abenço-
ados por Deus (14.21). Os ímpios e arrogantes serão exterminados subitamente (11.2; 16.18), es-
pecialmente aquele soberbo que vive questionando e zombando da fé e do comportamento limpo
e justo dos crentes no Senhor (1.22; 21.24). Os que se entregam ao álcool e a quaisquer outras
drogas vivem sob depressão e muita tristeza e precisam desistir de seus vícios o quanto antes e
apegar-se a Deus (20.1; 23.29-35).
Mesmo não tendo a preocupação de ser uma obra teológica, Provérbios faz questão de apresentar
Deus como o Criador do Universo, Aquele que detém o tempo, a matéria e a História em suas mãos,
controlando cada mínimo detalhe na Terra e no Universo (16.4,9,33; 20.24; 14.31; 5.21; 15.3). A
“Sabedoria”, como atributo do caráter de Deus é personificada (8.22-31). Não há situação impossível
para Deus, pois é Ele quem dirige e muda o próprio coração dos reis, segundo seus propósitos
santos e justos (21.1).

Data da primeira publicação


A escrita e o estilo poético-sapiencial dos provérbios já eram áreas bastante apreciadas pelos
povos do Oriente Próximo (cananitas, hititas), especialmente na Mesopotâmia e no Egito, desde o
segundo milênio a.C. A técnica literária de personificar uma grande virtude a ser exaltada e ensinada
é visível em muitas passagens do livro bíblico de Provérbios (1.20; 3.15-18; 8.1-36). Os “30 ditados
dos Sábios”, que fazem parte do cânon das Escrituras Sagradas (22.17 a 24.22), apresentam grande
semelhança com as 30 sessões da conhecida obra egípcia “Sabedoria de Amenemope”, publicada
por volta da mesma época de Salomão. Nesse sentido, considerando o papel fundamental do rei Sa-
lomão na autoria e coletânea dos melhores pensamentos disponíveis em sua época, sobre o relacio-
namento do homem com Deus, Yahweh (o nome sagrado e impronunciável de Jeová ou Iavé: YHWH,
o Eu Sou dos judeus e de todos os crentes, o Senhor – Êx 3,14, 15; Mt 16.15-17), podemos inferir que
o livro de Provérbios, como o conhecemos, foi publicado por volta do século 10 a.C. Um período em
que Israel e os povos vizinhos experimentaram grande paz, prosperidade e desenvolvimento cultural.
Tudo isso, fruto do amor sincero e dedicado do rei Davi e de seu filho Salomão, por Deus, por seu
povo e pela humanidade em geral. A vida do rei Salomão mostra o que um líder nacional pode fazer
por sua nação e pelo mundo, quando verdadeiramente comprometido em servir a Deus.
O próprio livro de Provérbios nos revela que um grupo especial de sábios, conhecido como “os
servos de Ezequias, rei de Judá” (25.1), foi encarregado de selecionar, organizar, editar e publicar
seções completas dos pensamentos e escritos de Salomão, por volta dos anos 715 e 686 a.C. Época
de grande reavivamento espiritual em Israel, motivado pelo próprio Ezequias rei, que amava a exten-
sa obra poética e literária de Davi e de Asafe (2Cr 29.30). Foi nesse tempo que as palavras proféticas
(no sentido de “oráculo”, de instrução e transmissão da Palavra de Deus ao povo) do sábio Agur
(cap.30) e do rei Lemuel (cap.31.1-9), assim como os demais ditados dos “Sábios” foram incorpora-
dos à coletânea que deu origem ao cânon do livro de Provérbios, como o temos hoje, na edição da
Bíblia King James Atualizada - KJA (22.17 a 24.22; 24.23-34).

Esboço geral de Provérbios


      I.  Prefácio: autor, propósito e tema (1.1-7)

      II.  Dois conjuntos de sete princípios de sabedoria (1.8 – 9.18)


         A)  Primeiro conjunto dos princípios do saber:
1.  O poder e as riquezas conquistados por meios imorais e violentos (1.8-33)
2.  A graça e a riqueza da sabedoria e do discernimento que vêm de Deus (2.1-22)
3.  Deus sempre abençoará o esforço daqueles que nele confiam (3.1-10)
4.  Descobrir o valor da disciplina é encontrar valioso tesouro (3.11-20)
5.  Um único Caminho é certo, e o amor ao próximo passa por ele (3.21-35)
6.  A sabedoria bíblica é o maior tesouro de uma família (4.1-9)
7.  A sabedoria do Senhor nos ajuda a tomar o Caminho certo (4.10-19)

         B)  Segundo conjunto dos princípios do saber:


1.  O filho de Deus precisa demonstrar justiça e bom senso ao mundo (4.20-27)
2.  O cuidado para não se deixar levar pelos ardis da carne e do maligno (5.1-6)
3.  O amor verdadeiro é absolutamente oposto à concupiscência (5.7-23)
4.  Cuidados com a fiança, a preguiça e os enganos malignos (6.1-19)
5.  A imoralidade e o adultério são loucuras: fuja dessas ciladas (6.20-35)
6.  Quem busca viver em santidade contará com as bênçãos de Deus (7.1-27)
7.  A personificação da Sabedoria em busca do coração humano (8.1-9.18)
      III.  Provérbios escritos por Salomão e as palavras dos sábios (10.1-29.27)
1.  A extraordinária sabedoria divina e inteligência de Salomão (10.1-22.16)
2.  A primeira parte dos ditados dos Sábios (22.17 – 24.22)
3.  A segunda parte dos ditados dos Sábios (24.23-34)
4.  Os pensamentos de Salomão pelos sábios do rei Ezequias (25.1-29.27)

      IV.  Os oráculos do sábio Agur (30.1-33)


1.  A verdade e a mentira – o meio termo ou a difamação (30.1-10)
2.  Caluniadores e enganadores – os desobedientes (30.11-17)
3.  Os quatro caminhos misteriosos, e a queda no adultério (30.18-20)
4.  Os quatro eventos que surpreendem o mundo (30.21-33)

      V.  Oráculos do rei Lemuel e da rainha-mãe (31.1-9)

      VI.  Acróstico da mulher virtuosa (31.10-31).


PROVÉRBIOS
O princípio da sabedoria1 Advertências contra as seduções

1 Provérbios de Salomão, filho de Davi,


rei de Israel.
2 Para aprender a viver de maneira inte-
8 Filho meu, ouve a instrução de teu
pai e não menosprezes o ensino de tua
mãe.5
ligente e disciplinada; para entender os 9 Pois eles formarão uma coroa de bên-
ensinos que produzem sabedoria;2 çãos para a tua cabeça e colar de honra
3 para desenvolver um caráter correto e para o teu pescoço.
perspicaz, vivendo de maneira justa, com 10 Filho meu, se pessoas perversas tenta-
eqüidade e bom senso; rem seduzir-te, não o permitas!
4 para dar prudência aos simples, assim 11 Se te convidarem: “Vem conosco, em-
como conhecimento e juízo aos jovens.3 bosquemo-nos para assaltar e matar al-
5 Mesmo o sábio que lhes der ouvidos guém; espreitemos o incauto, ainda que
aumentará em muito seu entendimento, apenas por diversão!
e quem tem discernimento obterá clara 12 Traguemo-los vivos, como a sepultura
orientação engole os mortos; vamos destruí-los por
6 para compreender o significado das pa- completo, como são aniquilados os que
lavras e parábolas, ditados e enigmas dos descem à cova;
sábios. 13 encontraremos todo tipo de objetos
7 O temor do SENHOR é o princípio do co- valiosos e encheremos as nossas casas
nhecimento, mas os insensatos despre- com tudo o que roubarmos;6
zam a sabedoria e a disciplina.4 14 junta-te ao nosso bando; dividiremos

1 Jafar Sadeq, considerado pela tradição muçulmana xiita como um de seus santos mais destacados, encontrou-se com um
religioso ocidental e lhe perguntou: “Quem pode ser considerado sábio?” Depois de pensar um pouco, o religioso lhe disse:
“Aquele que pode distinguir entre o bem e o mal”. Ao que replicou o mestre xiita: “Então, até mesmo um macaco pode ser con-
siderado sábio, pois que é capaz de discernir entre o que é bom e ruim para ele”. Entretanto, a Palavra de Deus nos garante que
a amorosa, sincera e reverente devoção a Deus (expressão aqui traduzida por “temor”) é a lei magna e princípio fundamental de
todo o saber (v.7). A sabedoria divina de Salomão, sua profícua produção literária de provérbios e cânticos em louvor ao Senhor
Deus são citados em 1Rs 4.32; Ec 1.1; Ct 1.1; Pv 10.1; 25.1.
2 “Sabedoria” é palavra-chave nesta obra canônica e ocorre mais de 40 vezes em todo o livro. Seu significado inclui a idéia de
aplicar a inteligência divina nas idéias e práticas humanas cotidianas. O livro dos provérbios é uma convocação para um viver
sadio e bem sucedido, em harmonia com os justos e imutáveis desígnios de Deus (3.13,14; 4.5). Jesus Cristo, o Messias, é a
expressão exata da sabedoria de Deus (1Co 1.30; Cl 2.3).
3 A palavra, aqui traduzida por “prudência”, no original hebraico é uma expressão tão forte que, na literatura hebraica, fora do
cânon bíblico, é normalmente usada com conotação negativa de “ardil” ou “astúcia” (Gn 3.1; Jó 5.13). Os “simples” ou “inexpe-
rientes” são expressões (e seus sinônimos) que aparecem no texto bíblico mais de 15 vezes, sempre com o propósito de se referir
às pessoas que se deixam influenciar facilmente; os incautos, ingênuos, inseguros ou de personalidade fraca, alguns devido à
pouca experiência com a vida e nos relacionamentos humanos e à dificuldade em dominar suas vontades (9.4,16; Sl 19.7). A KJ
de 1611 traduz este versículo assim: To giue subtiltie to the simple, to the yong man knowledge and discretion.
4 O v.7 resume o tema da obra: 
 
  “o temor” do Senhor, que é a maneira bíblica hebraica original de se referir à plena, alegre e amo-
rosa submissão do ser humano ao seu Criador e Pai – Deus Yahweh – a quem, como súditos celestes, devemos honra e a cuja Palavra
devemos obediência (9.10; 31.30; Jó 28.28; Sl 2.11; 111.10; Is 12.6; Ec 12.13; Ml 1.14). Em contraposição, temos a figura do “insen-
sato”, expressão cujo sentido mais amplo e dramático refere-se ao “louco”, não exatamente ao doente mental, mas especialmente ao
“tolo”, aquele que diante da verdade e da vida prefere a mentira e a morte (v.22; Jo 1.9-12; Pv 5.12; 12.1; 20.3; 28.26; 29.11; Sl 14.1).
5 Na prática diária da vida hebraica, especialmente nos tempos antigos, o pai e a mãe são os primeiros e melhores mestres
que um ser humano pode ter: é um privilégio, particularmente nos primeiros anos de vida. Por isso, é comum no Oriente, os
mestres tratarem seus alunos como filhos (6.20). A KJ de 1611 traduz: My sonne, heare the instruction of thy father, and forsake
not the law of thy mother.
6 O poder e o prazer são tentáculos do deus Dinheiro (Mâmon), que desde a mais tenra idade procuram seduzir e manipular
os “tolos” e “volúveis”. Pessoas cujo egoísmo não lhes permite resistir aos encantos e prazeres do poder, seja qual for o preço a
PROVÉRBIOS 1 148

em partes iguais o resultado de tudo o ção: eis que derramarei copiosamente


que tomarmos!” sobre vós o meu espírito e vos revelarei
15 Filho meu, não sigas pelo caminho as minhas palavras.10
desse tipo de gente! Afasta os teus pés 24 Contudo, visto que vos convoquei ao
para longe das veredas que eles seguem,7 arrependimento e vós recusastes; porque
16 pois os pés deles se precipitam para o estendi a mão e não houve quem aten-
mal e correm para derramar sangue. desse;
17 Assim como é inútil estender a rede de 25 em vez disso, rejeitastes todo o meu
caça, se as aves te observam,8 conselho e não aceitastes a minha repre-
18 da mesma maneira essas pessoas não ensão,
percebem que armam cilada contra a 26 eu, de minha parte, zombarei da vos-
própria vida; constroem emboscadas sa desgraça; me rirei quando o terror se
para sua própria destruição! abater sobre vós,11
19 Tal é a vereda de todo ganancioso; e a 27 em vindo o flagelo como a tempesta-
ambição pelo lucro ilícito conduz o in- de sobre vós; em vindo a vossa completa
sensato à ruína. perdição como o furacão, quando a afli-
ção e a dor vos desesperarem.
Exortação à sabedoria 28 Então, suplicarão minha atenção, en-
20 A Sabedoria clama em alta voz pelas tretanto, não vos responderei; buscar-
ruas, proclama nas praças públicas;9 me-ão, porém, não me hão de encontrar.
21 brada do alto dos muros; à entrada das 29 Porquanto desprezaram o conheci-
portas da cidade profere em alta voz o mento e rejeitaram o temor do Eterno,
seu discurso: o SENHOR,
22 “Até quando, ó insensatos, amareis a 30 não desejaram receber o meu conselho
insensatez? E vós, zombadores, até quan- e foram indiferentes à minha advertên-
do tereis prazer na zombaria? E, vós, des- cia!
controlados, até quando desprezareis o 31 Portanto, comerão do fruto de suas
conhecimento? decisões e atitudes, e se fartarão de suas
23 Convertei-vos, pois, à minha exorta- próprias elucubrações inúteis.12

pagar; que estão prontas a derramar sangue inocente para obter seus intentos sórdidos (v. 13,19; 3.14-16; 5.1-6; 6.24; 7.5; 16.16;
Jó 28.12-19; Mt 6.24).
7 O caminho do adultério (não apenas sexual, mas toda alteração da verdade e justiça) é ilusório (aparentemente interessante,
sedutor e prazeroso), mas conduz, invariavelmente, a dois resultados: produz muito mal às outras pessoas (v.16) e aos próprios
incautos (vv.17-19).
8 Uma alusão a um antigo adágio oriental: “Ave experiente (e suculenta) não cai em laço simples”. Os caçadores (corruptores
e mal-intencionados) freqüentemente caem em suas próprias armadilhas (emboscadas – v.11): é só uma questão de tempo (Sl
7.15; Pv 26.27; Ec 10.8).
9 Salomão é dirigido por Deus para personificar a “Sabedoria”, fazendo referência à própria pessoa de Jesus Cristo, que prome-
te conceder o seu Espírito (v.23), mediante oração invocatória (de aceitação da Graça – v.28), adverte todos aqueles que zombam
e desdenham da sua Palavra, mas promete a paz e a felicidade aos que o aceitam de coração sincero (vv.32,33; Mt 5.6).
10 Ainda é tempo de o arrogante, presunçoso, insensível, avarento, hedonista e egoísta se render humildemente aos pés de
Cristo e receber a graça salvadora de Deus. Há uma fonte de refrigério de alma e sabedoria jorrando, ininterruptamente, à disposi-
ção de todas as pessoas da terra (18.4). Contudo, chegará o momento em que essa fonte cessará de jorrar na terra e o derradeiro
juízo terá início, sem clemência (v.24; Is 1.4; 5.24; Mt 23.37).
11 Este verso não deve ser compreendido como uma atitude simplesmente vingativa ou possivelmente descontrolada de Deus,
mas como uma reprodução da exultação humana, frente ao glorioso momento de sua redenção, depois de tanto tempo passado
sob as tentações, a exploração e zombaria daqueles que se achavam imbatíveis, auto-suficientes e rebeldes contra Deus, seus ser-
vos e seus princípios. O sábio poeta retrata a alegria do justo que, finalmente, vê com satisfação o mal ser definitivamente destruído.
Deus dará sua resposta aos reis da terra que usurparam seus poderes e imaginaram ser iguais à divindade (6.12-15; Sl 2.4).
12 É comum às pessoas clamarem diante de um perigo, grave acidente ou catástrofe: “Ó, meu Deus!” Todavia, no instante
preciso em que o Dia do Senhor chegar, e com ele o grande e derradeiro Juízo, não adiantarão expressões de arrependimento
e súplicas por perdão e misericórdia (vv.20,27; 18.20; 31.31; Is 3.10). “Portanto, tudo o que o ser humano semear, isso também
colherá!” (Gl 6.7).
149 PROVÉRBIOS 1, 2

32 Pois a imprudência dos néscios os ma- 8 pois guarda os passos do justo e protege
tará; e o falso bem-estar dos insensatos o caminho de seus santos.4
os levará à destruição. 9 Desse modo, compreenderás bem o que
33 Mas aquele que me der ouvidos vive- significa ser justo, ter juízo, agir com reti-
rá em plena paz, seguro e sem temer mal dão, e aprenderás os caminhos do bem.
algum!”13 10 Pois a sabedoria habitará em teu co-
ração, e o conhecimento será agradável
Lucros de uma vida sábia à tua alma.5
2 Meu filho, se aceitares os meus con-
selhos e abrigares contigo os meus
mandamentos,1
11 O bom senso te guardará, e a plena in-
teligência te protegerá.
12 A sabedoria te livrará das veredas dos
2 com o objetivo de considerar atenta- maus, das pessoas de palavras ardilosas;
mente a sabedoria e inclinar o coração 13 dos que abandonam o caminho da
para o discernimento,2 verdade e trilham os atalhos da mentira
3 e, se clamares por entendimento, e por e das trevas;
inteligência suplicares, aos brados; 14 que se alegram em praticar o mal e co-
4 se buscares a sabedoria como quem memoram a crueldade dos perversos,
procura a prata, e como tesouros escon- 15 seguem por atalhos tortuosos e se ex-
didos a procurares, traviam em suas próprias trilhas.
5 então, compreenderás o que significa 16 A sabedoria também te livrará da mu-
o temor do SENHOR e acharás o conheci- lher imoral, da pervertida que visa sedu-
mento de Deus.3 zir com palavras e sensualidade,6
6 Porquanto é o SENHOR quem concede 17 que abandona aquele que desde a ju-
sabedoria, e da sua boca procedem a in- ventude foi seu companheiro dedicado,
teligência e o discernimento. ignorando a aliança que pactuou diante
7 Ele reserva a plena sabedoria para os de Deus.7
justos; como um escudo protege quem 18 A mulher imoral caminha a passos
procura viver com integridade, largos em direção à morte, que é a sua

13 Os “tolos” seguirão suas próprias e mais obscuras vontades rumo à destruição. O “sábio” andará na companhia do Espírito
de Deus e jamais se arrependerá; ainda que passe por crises e momentos de aflição, reinará em triunfo, paz e felicidade sobre a
terra (Is 32.9,18; Ez 34.27; Am 6.1; Sf 1.12).
Capítulo 2
1 O sábio conclama os jovens ou inexperientes (tanto na vida quanto na comunhão com Deus) a depositarem a sabedoria em
seus corações com todo o carinho e segurança, assim como o salmista exorta que guardemos a Palavra de Deus (Sl 119.11; Is
55.11). A expressão original hebraica  “meus mandamentos” não deixa dúvida sobre as ordens expressas do Senhor.
2 A expressão hebraica traduzida nas edições de KJ, desde 1611, como “coração”, corresponde, na antiga cultura hebraica,
a “entranhas” ou a “intestinos”, por causa da sensação (frio na barriga) normalmente experimentada quando se sente uma forte
emoção, e significa o “centro das decisões humanas”; sendo assim traduzida também, em algumas passagens, por “mente” ou
“razão” (4.21; 1Rs 3.9). A KJ de 1611 publica assim este versículo: So that thou incline thine eare vnto wisedome, and apply thine
heart to vnderstanding.
3 A expressão hebraica aqui traduzida por Deus é Elohim (v.17; Gn 2.4; Pv 3.4; 25.2; 30.9). O sábio nos exorta a conhecer a
Deus como pessoa (Pai), como única maneira de alcançar vida sábia e eterna (v.6; Fl 3.10-11).
4 A expressão hebraica original “santos” significa aqueles que foram “santificados”; escolhidos e separados pelo Espírito de
Deus para sua honra e glória (Rm 1.7; 8.14).
5 Os que aceitam a Palavra de Deus e recebem com sinceridade a sua Graça, aprenderão, com o Espírito do Senhor, a agir com
sabedoria em todas as circunstâncias (Hb 5.11-14).
6 A expressão hebraica original e literal “forasteira” ou “estrangeira” carregava o sentido de que as mulheres judias eram
tementes ao Senhor e, portanto, somente as gentias ou pagãs eram “imorais”. Contudo, o significado mais amplo diz respeito
ao afastamento da Lei e, especialmente, do amor sincero e dedicado ao Senhor, a fim de se entregar aos ilusórios prazeres mun-
danos (5.3,10,20; 6.24; 7.5,21; 23.27; 1Rs 11.1).
7 O crente sincero é leal e, por seu amor e fé em Deus, não quebra pactos assumidos diante do Senhor, como o caso da
“aliança” matrimonial, normalmente celebrada na juventude, com a pessoa a quem se prometeu amar e cooperar na construção
de uma família temente a Deus por toda a vida (Is 54.6; Ez 16.8; Ml 2.14; Êx 20.14).
PROVÉRBIOS 2, 3 150

derradeira habitação, e cujas trilhas to- 5 Confia no SENHOR de todo o teu coração
das conduzem ao lugar dos espíritos e não te apóies no teu próprio entendi-
mortos.8 mento.3
19 Os que a procuram jamais retornarão, 6 Reconhece o SENHOR em todos os teus
tampouco voltarão a encontrar o cami- caminhos, e Ele endireitará as tuas vere-
nho da vida! das.
20 Entretanto, a sabedoria te fará an- 7 Não sejas sábio aos teus próprios olhos;
dar pelo caminho dos homens de bem e teme ao SENHOR e aparta-te do mal.
aprenderás a guardar a vereda dos justos. 8 Isso se constituirá em saúde para o teu
21 Porquanto os justos herdarão a terra, e corpo e vigor para os teus ossos.
os íntegros nela habitarão;9 9 Honra ao SENHOR com teus bens e com
22 porém os ímpios serão exterminados as primícias de todos os teus rendimen-
da face da terra, assim como dela serão tos;
desarraigados os insinceros e desleais. 10 e se encherão com fartura os teus celei-
ros, assim como transbordarão de vinho
O sábio ama e obedece a Deus os teus reservatórios.4

3 Filho meu, não te esqueças das mi-


nhas ordenanças, mas permite que o
teu coração guarde os meus mandamen-
11 Filho meu, não desprezes a disciplina
do SENHOR, nem te sintas magoado por
causa da sua repreensão.
tos, 12 Porquanto o SENHOR corrige a quem
2 porquanto eles prolongarão a tua vida ama, da mesma forma que o pai re-
por muitos anos e te concederão plena preende o filho a quem deseja todo o
prosperidade e paz.1 bem.5
3 Que a benignidade e a lealdade jamais 13 Bem-aventurado o homem que acha
te abandonem: ata-as ao redor do pesco- a sabedoria, e a pessoa que encontra o
ço, escreve-as na tábua do teu coração. entendimento,
4 Assim, encontrarás favor diante de 14 pois a sabedoria é muito mais proveito-
Deus e dos homens, bem como boa re- sa que a prata, e o lucro que ela proporcio-
putação.2 na é maior que o acúmulo de ouro fino.

8 A expressão hebraica original transliterada refaim significa “espíritos dos mortos” ou “reino das sombras” (7.27; Jó 26.5). Os
falecidos estão no Sheol, expressão hebraica original que se refere à sepultura, ao pó da terra para onde nossos corpos voltam,
às profundezas obscuras ou às “moradas dos mortos” (1.12). Uma vida dedicada à prática da imoralidade (uma ação imoral leva
sempre a outra e mais outra), pavimenta o caminho que conduz rapidamente à destruição e à morte dos envolvidos (5.5; 9.18).
9 As terras de Canaã haviam sido prometidas por Deus a Israel (Gn 17.8; Dt 4.1). Na terra prometida o povo de Deus encontraria
plena paz e liberdade para viver em alegre devoção a Deus – Yahweh. Essa promessa foi ampliada para todos os povos, mediante
o sacrifício vicário de Cristo, o Messias (v.22; Dt 28.63; Sl 37.9-29; Mt 5.5).
Capítulo 3
1 A obediência amorosa aos mandamentos e princípios da Palavra de Deus (o temor ao Senhor – 1.7) proporciona saúde ao
corpo, paz ao espírito e, portanto, vida longa (v.8; 9.10,11; 10.27; 19.23). Essa é a promessa do quarto grande mandamento (Êx
20.12), que faz parte também dos ensinos de Jesus Cristo. Salomão orou pedindo sabedoria, e Deus lhe prometeu paz, prospe-
ridade e longevidade saudável, se permanecesse obediente à sua Palavra (1Rs 3.13,14).
2 O sábio crescerá em graça diante de Deus e dos homens, conforme o exemplo que nos deixou o Senhor Jesus (Lc 2.52; Rm
12.17; 2Co 8.21). A expressão hebraica original   
 “confia” refere-se à atitude de depositar toda a nossa fé na pessoa de Deus.
3 O ser humano herdou de Deus a criatividade (capacidade de resolver problemas e ordenar o caos), mas para uma solução
perfeita e duradoura, devemos sempre consultar o Senhor (em oração) e sua Palavra. Não confiar jamais apenas em nossa força
e sentimentos, mas depositar toda a nossa fé no amor e poder de Deus, da mesma forma que os antepassados de Israel con-
fiaram em Deus e foram salvos (Sl 22.4,5; 37.5; Nm 14.24; Dt 1.36; Is 38.3). O próprio rei Davi suplicou a seu filho Salomão que
oferecesse seu coração em plena e sincera confiança ao Senhor (1Cr 28.9; Os 4.1; 6.6; Is 45.13).
4 Deus promete a todos que lhe trazem o dízimo de seus bens e ganhos, como sincera demonstração de fé, louvor e adoração,
derramar mais bênçãos financeiras e econômicas do que eles têm condições de recolher e armazenar (Ml 3.10; Dt 28.8,12; 2Co 9.8).
5 Nem sempre o justo vive em prosperidade plena; às vezes precisamos passar por provas e períodos sob a repreensão do Pai,
a fim de crescermos espiritualmente e não ficarmos tão apegados aos desejos da nossa carne e aos bens materiais (v.2; 12.1; Jó
5.17; 36.22; Sl 119.71; Hb 12.5-10). Israel, por exemplo, passou por uma prova e período de disciplina que durou 40 anos, por
causa do coração endurecido dos filhos de Deus naquele momento histórico (Dt 8.2-5).
151 PROVÉRBIOS 3

15 Mais preciosa é do que os rubis mais calamidades nem da ruína provocada


puros, e tudo o que podes ambicionar pelos ímpios!
não é comparável a ela!6 26 Porque o SENHOR é a tua segurança
16 Ao passar da vida, na mão direita a sa- em qualquer circunstância e guardará os
bedoria te garante longevidade; na mão teus pés de caírem em ciladas.
esquerda, riquezas e honra. 27 Sempre que possível, não deixes de co-
17 Os caminhos da sabedoria são veredas operar com quem precisa de ajuda.12
agradáveis, e todas as suas trilhas condu- 28 Não respondas simplesmente ao teu
zem à paz.7 próximo: “Vai e volta amanhã, e eu te
18 A sabedoria é árvore que oferece vida a darei algo”, se o tens disponível agora e
quem a abraça; quem a ela se apega será podes ajudar.
muito feliz!8 29 Não planejes o mal contra o teu pró-
19 Por meio da sua sabedoria o SENHOR ximo, que confiantemente mora contigo
firmou os alicerces da terra, por seu en- ou perto de ti.
tendimento fixou no lugar os céus. 30 Jamais acuses ou demandes com al-
20 Pelo seu conhecimento as fontes mais guém, sem razão, especialmente se essa
profundas se rompem, e as nuvens gote- pessoa não te fez um mal evidente.
jam o delicado orvalho das manhãs e as 31 Não tenhas inveja de quem é violento,
chuvas de tempo em tempo.9 nem adotes qualquer dos seus procedi-
21 Filho meu, não se apartem estes en- mentos;
sinos dos teus olhos; guarda em teu co- 32 porque o SENHOR detesta o perverso,
ração a verdadeira sabedoria e o bom porém ao justo Ele trata como seu gran-
senso; de amigo!13
22 porquanto serão vida plena para a 33 A maldição do SENHOR está sobre a
tua alma e valiosa jóia ao redor do teu casa dos ímpios, mas Ele abençoa o lar
pescoço!10 dos justos.
23 Assim, andarás seguro no teu cami- 34 Ele ri com desprezo dos arrogantes
nho, e não tropeçará o teu pé. zombadores, entretanto concede graça
24 Quando te deitares, jamais temerás; aos humildes!
repousarás, e o teu sono será tranqüi- 35 A honra é a preciosa herança dos sá-
lo.11 bios, mas o Senhor expõe os insensatos
25 Não te afligirás com a iminência das ao ridículo.

6 A sabedoria é personificada pelo poeta sagrado como a mais bela e inteligente mulher. A esposa amorosa e dedicada vale
mais que os mais caros rubis (31.10). Jó também considerou a sabedoria muito mais valiosa que os rubis (Jó 28.18). A KJ de 1611
já trazia a expressão hebraica original “rubis”, em vez de “pérolas”, como aparece em algumas versões: She is more precious then
Rubies: and all the things thou canst desire, are not be compared vnto her.
7 A expressão hebraica original shãlôm não apenas significa paz mas também prosperidade e plenitude, considerando a paz
com Deus como base para alcançar a plenitude. (v.2; 16.7; Sl 119.165).
8 O poeta sagrado usa uma figura de linguagem que remete à Árvore da Vida do jardim do Éden (Gn 2.9; Pv 11.30; 13.12; 15.4;
Ap 2.7; 22.2,14 de acordo com 1Co 1.30).
9 Deus abriu, pela força do seu poder, fontes e rios por toda a terra (Gn 7.11; 49.25; Sl 74.15). O orvalho diário que limpa o ar
e renova o viço da flora e da fauna é uma figura de linguagem da própria renovação da graça diária de Deus para com a humani-
dade, assim como as chuvas periódicas concedidas pela sabedoria divina (Dt 33.13; 2Sm 1.21).
10 Nas antigas culturas orientais, os soberanos exibiam ao redor do pescoço um valioso colar de ofício (Gn 41.42).
11 O sono reparador e saudável é profundo e sem sobressaltos. Por isso, a oração antes de dormir é de fundamental impor-
tância na preparação de um terapêutico período de descanso para restauração do físico e da alma. Só Deus pode nos conceder
absoluta segurança e paz, mesmo em meio às crises mais difíceis e preocupantes (Sl 4.8; Mt 8.24-26; Ef 4.26). Essa é uma das
promessas listadas entre as bênçãos pactuais (Lv 26.6; Jó 11.18,19; Mq 4.4; Sf 3.13; Pv 1.33).
12 Deixar de fazer o bem que sabemos e podemos é um grave pecado de omissão (Tg 4.17).
13 O Senhor abomina qualquer tipo de prática pagã, como a maldade, arrogância, indiferença, perversidade e degradação
moral (Dt 18.9,12; Pv 6.16; 8.7; 11.20). Porém, o justo é considerado seu grande amigo (Gn 18.17-19; Jó 29.4; Sl 25.14; Jo
15.12-27).
PROVÉRBIOS 4 152

A supremacia da sabedoria 12 Sendo assim, enquanto andares sabia-


4 Ouvi, filhos meus, a instrução do pai;
prestai atenção, a fim de alcançardes
o discernimento;
mente, nenhum obstáculo impedirá tua
vitória: correrás e não tropeçarás!
13 Retém a orientação que recebeste e
2 porquanto o ensino que vos ofereço é jamais a desprezes; guarda-a bem, pois
excelente; não desprezeis a minha dou- dela depende a tua vida.3
trina. 14 Jamais sigas pelas trilhas dos ímpios,
3 Quando eu era menino, ainda mui- tampouco andes pelas veredas dos maus.
to pequeno, filho único de meus pais, e 15 Evita o mal caminho, não passes por
muito especial para minha mãe,1 ele; desvia-te dele e passa de largo.
4 meu querido pai me ensinava, dizendo: 16 Porquanto, os maus não conseguem
“Retém em teu coração as minhas pa- conciliar o sono enquanto não praticam
lavras; obedece às minhas ordenanças e o mal; não podem dormir se não fizerem
viverás feliz. tropeçar alguém;
5 Busca a sabedoria, procura obter en- 17 pois eles se alimentam com o pão da
tendimento e não te esqueças das pala- malignidade, e se embriagam com o vi-
vras da minha boca, tampouco delas te nho da violência.
afastes. 18 Entretanto, a vereda dos justos é como
6 Não abandones a sabedoria, e ela te pro- a luz da aurora, que vai brilhando cada
tegerá; ama-a, e ela te dará segurança. vez mais até a plena iluminação do dia.
7 O princípio fundamental do saber é: 19 O caminho dos perversos é como as
procura obter sabedoria; investe todo o mais densas trevas, nem conseguem sa-
teu ser e o que possuis para adquirir en- ber em que tropeçam.4
tendimento.2 20 Filho meu, dá atenção às minhas ins-
8 Dedica grande consideração à sabe- truções; aos meus conselhos inclina os
doria, e ela te exaltará; abraça-a, e ela te teus ouvidos.
honrará! 21 Jamais os percas de vista; guarda-os no
9 Ela te coroará com um exuberante dia- mais íntimo das tuas entranhas,
dema de graça sobre tua cabeça e nela 22 pois são vida para quem os encontra e
fará repousar o esplendor da glória”. saúde para todo o seu ser.
10 Ouve, filho meu, recebe com atenção 23 Acima de tudo o que se deve preser-
as minhas palavras e terás vida longa. var, guarda o íntimo da razão, pois é da
11 No caminho da sabedoria te condu- disposição do coração que depende toda
zi e pelas veredas da retidão te ensinei a tua vida.5
a andar. 24 Afasta para longe da tua boca as pala-

1 O rei Davi fala sobre Salomão, seu único filho com Bate-Seba (1Cr 22.5; 29.1),quando este era ainda muito jovem e inexpe-
riente (simples), muito amado por seu pai e, especial para sua mãe (Gn 37.3; Zc 12.10). As citações e declarações autobiográficas
eram comuns entre os sábios judaicos (Pv 24.30-34, de acordo com o livro de Eclesiastes).
2 A expressão original hebraica  (o princípio) nos ajuda a compreender que a sabedoria é “suprema” e deve ser procura-
da de todo o coração, por meio do temor do Senhor (1.7), como alguém que, ao encontrar uma pérola rara, de valor inestimável,
vende tudo o que tem para adquiri-la (Mt 13.45,46). É Deus quem concede a sabedoria (Tg 1.5-8).
3 Devemos aceitar e amar a sabedoria divina como luz e guia eterno para os nossos caminhos (Sl 119.89, 105). Jesus Cristo
nos ensinou a reconhecer na Palavra de Deus a direção sábia e infalível de Deus; seus mandamentos são leves e nos conduzem
à verdadeira felicidade (Mt 11.28-30; Jo 10.10; 14.12-21).
4 Em muitas ocasiões, o próprio Messias, o Senhor Jesus, referiu-se aos provérbios para ministrar aos seus amados ouvintes
(Jo 12.35 com Pv 4.19; Jo 8.24 com Pv 5.23; Jo 6.47 com Pv 8.35; Mt 7.24-29 com Pv 14.11).
5 A expressão hebraica original aqui traduzida por “coração”, corresponde à sede dos sentimentos e decisões do ser humano,
que no antigo oriente era compreendida como a região das entranhas (dos intestinos), especialmente por causa da sensação
que as emoções normalmente causam no estômago, como um certo “frio na barriga”. Jesus nos ensinou que a boca fala do que
está cheio o “coração”, ou seja, do que está repleto o íntimo (Lc 6.45). Sendo o corpo do cristão o templo do Espírito Santo, é
fundamental que saibamos guardar o nosso “coração”; afastarmo-nos do mal mediante atenção às orientações do Espírito (Rm
8.26,27; 1Co 6.19; 1Ts 5.19).
153 PROVÉRBIOS 4, 5

vras perversas; e não permitas que teus 9 para que não entregues aos outros a tua
lábios pronunciem qualquer mentira. honra, tampouco, tua própria vida a al-
25 Olha sempre para a frente, mantém teu gum homem cruel e violento;
olhar fixo no objetivo a ser alcançado.6 10 para que dos teus bens não se fartem
26 Reflete sobre tuas escolhas e sobre o os estranhos, e outros se enriqueçam à
caminho por onde andas, e todos os teus custa do teu trabalho;
planos serão bem sucedidos! 11 e venhas a te queixar e gemer no final
27 Não te desvies nem para a direita da vida, quando teu corpo perder o es-
nem para a esquerda; retira o teu pé da plendor e o vigor abandonar tua carne.
malignidade!7 12 Então, murmurarás: “Como me rebe-
lei à disciplina! Como meu coração des-
Conselhos contra a imoralidade prezou a repreensão!

5 Filho meu, presta atenção às minhas


palavras de sabedoria e inclina os teus
ouvidos para compreender o meu dis-
13 Não quis ouvir os meus mestres, nem
dei atenção aos que me ensinavam.
14 Cheguei muito próximo da ruína com-
cernimento. pleta, à vista de toda a comunidade!”3
2 Assim manterás o bom senso, e os teus 15 Portanto, bebe a água da tua própria
lábios guardarão o conhecimento;1 fonte, sacia tua sede com as águas que
3 porquanto os lábios da mulher imoral brotam do teu próprio poço.
são sedutores e destilam mel; sua voz é 16 Por que deixar que os teus ribeiros
mais suave que o azeite, transbordem pelas ruas e as tuas fontes
4 contudo, no final é amarga como fel, pelas praças?
afiada como uma espada de dois gumes.2 17 Que tais mananciais sejam exclusiva-
5 Seus pés correm para a morte; seus pas- mente teus, jamais divididos com quem
sos conduzem-na diretamente ao inferno. quer que seja!
6 Ela não reflete sobre o perigo de andar 18 Bendita seja a tua fonte! Alegra-te
por trilhas tortuosas, e não consegue en- sobremaneira com a tua esposa. Sê feliz
xergar o caminho da vida. com a moça com quem casaste!
7 Agora, portanto, meu filho, dá-me ou- 19 Gazela ardorosa, corsa graciosa; que os
vidos e não te desvies das palavras da mi- seios da tua esposa sempre te fartem de
nha boca. prazer, e seu amor te extasie de carinhos
8 Afasta o teu caminho da mulher adúltera, todos os dias de tua vida.
e não te aproximes da porta da sua casa; 20 Por qual razão, filho meu, andarias

6 Devemos olhar sempre para nosso alvo maior: a glória do Senhor (Fl 3.13,14), e não nos deixarmos levar pelas coisas e pai-
xões paralelas deste mundo (Sl 119.37). A inveja, o mexerico e a maledicência são outras formas de nos desviarmos do principal
objetivo de nossas vidas e “olharmos de lado” (v.27; Lv 19.16; Dt 5.32,33; 28.14; Js 1.7).
7 Assim foi traduzido este versículo, do manuscrito grego para a KJ de 1611: Turne not to the right hande nor to the left: remoue
thy foot frō euil. (1.15).
Capítulo 5:
1 A expressão original hebraica 
 
 
 
  
  
 
 
 
 “para que conserves a discrição e os teus lábios guardem o conhecimen-
to” era, costumeiramente, aplicada a um sacerdote (Ml 2.7). Os cristãos, hoje, são os sacerdotes de Cristo (1Pe 2.9; Ap 5.10).
2 Estes conselhos foram dirigidos, originalmente, a jovens masculinos de uma cultura oriental hebraica, há cerca de 3000 anos;
hoje, particularmente nas sociedades ocidentais, podem ser aplicados, indistintamente, a ambos os sexos e a todas as idades.
Os “lábios que destilam o mel” referem-se à conversa interessante, compreensiva e agradável que se estabelece entre duas
pessoas em processo de sedução (Ct 4.11; 5.13; 7.9). As palavras de uma mulher ou homem adúlteros (imorais), bem pensadas
e carinhosamente pronunciadas, exercem função semelhante à do azeite quente massageado em músculos tensos e juntas dolo-
ridas; entretanto, são expressões cheias de lisonjas, hipocrisia e malícia (Sl 5.9; 55.21). O absinto ou fel é um extrato de ervas, a
substância mais amarga que se conhecia, usado na época no tratamento dos males do estômago, fígado e intestinos.
3 No contexto da cultura e da Lei judaicas da época, o pecador aqui apresentado quase foi acusado perante a assembléia do
povo e condenado à pena de morte por apedrejamento (Lv 24.14; Dt 22.22). A tradução literal e original deste versículo é: “Por
pouco estive em todo mal no meio de toda a assembléia e congregação”. A KJ de 1611 traduziu desta maneira: I was almost in
all euill, in the midst of the congregation & assembly.
PROVÉRBIOS 5, 6 154

descontrolado atrás de uma mulher imo- Advertência contra a preguiça


ral? Por que acariciar outros seios que 6 Observa a formiga, ó preguiçoso, reflete
não os de tua esposa? sobre o trabalho que ela realiza e sê sábio!
21 Os caminhos do homem estão diante 7 Mesmo não tendo um chefe, nem su-
dos olhos do SENHOR, e Ele examina aten- pervisor, nem comandante,
tamente todos os seus passos!4 8 armazena suas provisões no verão, e na
22 Quanto ao perverso, são suas próprias época da colheita ajunta seu alimento,
iniqüidades que o amarram e o fazem pri- com toda a disciplina.
sioneiro das cordas do seu pecado. 9 Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado?
23 Com toda a certeza, ele morrerá por Quando te levantarás da tua sonolência?
falta de controle; andará inseguro e cam- 10 Tirando uma pestana, cochilando um
baleante por conta de sua insensatez. pouco, cruzando os braços para descansar,
11 tua iminente pobreza te aterrorizará,
Advertência quanto a ser fiador e tua necessidade te assaltará como um

6 Filho meu, se serviste de fiador


ao teu próximo, se, com um aper-
to de mãos, te comprometeste por um
ladrão armado.

Advertência contra a maldade


estranho,1 12 O caráter do perverso é maligno. Ca-
2 e ficaste enredado pelas declarações que minha de um lado para o outro murmu-
saíram da tua boca, então és prisioneiro rando atrocidades,3
de tua própria palavra. 13 comunica-se sorrateiramente com os
3 Agora, filho meu, considerando que olhos, arrasta os pés e faz sinais com os
caíste nas mãos do teu companheiro, vai dedos.
e humilha-te diante dele; insiste, inco- 14 Em seu coração habita o engano; todo
moda e importuna esse teu próximo; o tempo planeja o mal; anda semeando
4 não te permitas conciliar o sono, nem que perversidades e discórdias.
teus olhos pestanejem; não descanses. 15 Por essa razão, a desgraça se abaterá
5 Livra-te desse compromisso como a ga- repentinamente sobre ele; de um gol-
zela das mãos do caçador, como a ave da pe será completamente destruído, sem
armadilha que a pode prender.2 qualquer apelação.4

4 Estamos moralmente e psicologicamente nus diante do Espírito de Deus, e o Senhor sonda os nossos corações (vontades e
intenções), o tempo todo. Se a felicidade plena e a vida eterna repousam na obediência amorosa e sincera aos mandamentos de
Deus, não há como justificar más intenções, deslizes morais e pecados de toda espécie, com argumentos racionais, científicos
e modernos (novos padrões de moral mundial). Somente o sincero arrependimento, confissão, pedido de perdão e a mudança
radical de hábitos, mediante o exercício prático do “temor do Senhor” poderão nos livrar das garras do maligno e da destruição
certeira (v.22; 1Sm 16.7; Ez 33.11; Mt 5.8 de acordo com Hb 9.27 e Gl 6.7).
Capítulo 6
1 Um documento assinado, um aperto de mão ou uma palavra empenhada, para a pessoa que realmente teme a Deus, são
atitudes que têm o mesmo significado: um compromisso que deve ser cumprido custe o que custar (22.26,27). Em Gênesis há
uma passagem que ilustra bem o perigo de assumirmos a responsabilidade pelo pagamento da dívida do próximo ou qualquer
outra obrigação semelhante. Judá ofereceu sua própria pessoa como garantia pela devolução, em segurança, de Benjamim a
Jacó (Gn 43.9), e, quando o cumprimento desse desafio pareceu impossível de se realizar, Judá se viu obrigado a apresentar-se a
José para servir-lhe como escravo (Gn 44.32,33). Era costume dos judeus da antigüidade selarem seus contratos e alianças com
um aperto de mãos (Pv 11.15; 17.18; 20.16; 22.26, de acordo com Jó 17.3).
2 Devemos fugir de qualquer contrato de fiança como as aves fogem das mãos ou do laço do passarinheiro (Sl 124.7). Veja este
versículo na tradução da KJ de 1611: Deliuer thy selfe as a Roe from the hand of the hunter, and as a bird from the hand of the fowler.
3 O original hebraico personifica e apresenta o “homem vil”   como “homem de Belial”, uma pessoa maligna (1Sm
30.22). O termo “maligno” vem da conjunção de duas palavras: beli, “sem” e ya’al, “nada de bom” ou “imprestável” (Jz 19.22;
1Sm 25.25; Jó 34.18; Dt 13.13). Em 1Co 6.15 essa palavra traduz um dos nomes de Satanás.
4 Há pessoas que são absolutamente escravizadas e manipuladas pelo Diabo. Assim como as atitudes do homem de Belial
são semelhantes às obras do Maligno, assim também seu fim será parecido à derrota iminente, fulminante e eterna do “homem
da iniqüidade” (2Ts 2.7-12). A própria palavra “Diabo” originalmente significa “semeador de conflitos”, e a palavra grega diabolos
quer dizer “aquele que promove a discórdia”. A palavra original hebraica Satan tem o sentido básico de “Acusador”.
155 PROVÉRBIOS 6, 7

16 Há seis atitudes que o SENHOR odeia, objetivo da adúltera, que vive rondando
sete atitudes que ele detesta:5 à caça de vidas preciosas!8
17 olhos arrogantes, língua mentirosa, 27 É possível alguém atear fogo ao pró-
mãos que derramam sangue inocente, prio peito sem queimar a roupa?
18 coração que maquina planos perversos, 28 Pode alguém andar sobre brasas sem
pés que se apressam para fazer o mal, queimar os próprios pés?
19 a testemunha falsa que espalha difa- 29 Assim acontece com quem se deita
mações e aquele que provoca contendas com mulher alheia; ninguém que a toque
entre irmãos! ficará sem castigo.
30 O ladrão não é execrado se, faminto,
Advertências contra o adultério furta para matar a fome?
20 Filho meu, obedece à orientação de teu 31 Contudo este, quando for pego, deverá
pai e não abandones o ensino de tua mãe. pagar sete vezes o que furtou, ainda que
21 Ata-os para sempre ao teu coração, isso lhe custe tudo o que tem em casa.9
envolve-os junto ao teu pescoço.6 32 Mas o homem que comete adultério
22 Quando caminhares, eles te guiarão; não tem juízo; qualquer pessoa que as-
quando te deitares, eles te protegerão sim procede a si mesmo se destrói.
durante o sono; quando acordares, eles 33 Sofrerá ferimentos e vergonha, e a sua
dialogarão contigo! humilhação jamais se apagará,
23 Porquanto, o mandamento é lâmpada, 34 pois o ciúme desperta a fúria de um
o ensino é luz, e as advertências da disci- homem, que não terá misericórdia quan-
plina são o caminho que conduz à vida; do se vingar.10
24 eles te guardarão da mulher imoral e 35 Não aceitará nenhuma compensação;
das palavras lisonjeiras da mulher adúl- nem os mais caros presentes servirão
tera! para acalmar sua ira.
25 Não cobices no teu coração a sua
beleza, nem te deixes seduzir por seus A sedução e a cilada do adultério
olhares,7
26 pois o preço de uma prostituta é um
pedaço de pão, quando comparado ao
7 Filho meu, obedece aos meus conse-
lhos e no íntimo do teu ser guarda os
meus mandamentos!

5 A poesia bíblica hebraica do séc. X a.C. costumava usar números na formação de seu paralelismo sinônimo, com o objetivo
de dar ênfase e dramaticidade aos escritos sapienciais (30.15-29; Jó 5.19). O número sete, por exemplo, desde a antigüidade ju-
daica tem sido usado para comunicar a idéia de “absoluto, completo, perfeito” e tem sentido de “muitos ou fartura”. A idéia central
deste versículo é apenas mostrar uma seleção das várias atitudes pecaminosas que são detestadas, abomináveis a Deus (3.32).
6 Estas expressões no original evocam a passagem de Dt 6.4-9, que alguns judeus mais religiosos até hoje recitam todas as
manhãs, como sua confissão de fé, conhecida como shema, “Ouve, ó Israel!...”. (v.22; Js 1.8; Dt 6.4-9).
7 É melhor deixar a Palavra e o Espírito de Deus queimarem toda a “cobiça”, assim que surgir no horizonte de nossa alma
voluptuosa, do que cair no engodo do “adultério” (imoralidade), quer seja sexual, financeiro ou político (Pv 5.20; Mt 5.27-30, de
acordo com Êx 20.17).
8 Aqui não há uma concessão bíblica para qualquer prática imoral ou licenciosidade sexual. O saber canônico está apenas
revelando, de forma dramática, que a mulher pública (prostituta) tem como principal objetivo o dinheiro dos incautos que por ela
são seduzidos; mas como adúltera, ela é muito mais perversa: reduzirá o homem conquistado, a mera servidão e a completa ruína
moral e econômica (1Sm 2.36; Pv 5.10; 29.3). Quem se entrega a uma vida adúltera será destruído, a menos que se arrependa
e mude radicalmente seus hábitos, zelando permanentemente por sua castidade e integridade diante de Deus (Hb 13.4; 1Co
6.9; Gl 5.19-21).
9 A lei dos judeus exigia, como penalidade, que o criminoso restituísse, à sua vítima, até cinco vezes mais o valor do que havia
furtado ou roubado (furto a mão armada ou com violência). A sabedoria bíblica e poética usa o termo “sete vezes” para indicar,
simbolicamente, que o faltoso pagará a pena máxima e integral. Contudo, a pessoa que vive em adultério e jamais se arrepende,
sofrerá vergonha e destruição eterna (Êx 22.1-9; 2Sm 13.13,22).
10 Aqui, a exemplo da questão do v.26 (Nota 8), não está sendo apresentada uma justificativa plausível para a vingança e a
violência, especialmente se a parte prejudicada for temente a Deus. No entanto, o sábio nos adverte sobre a força destruidora do
ciúme incontrolado. Além disso, bens materiais sempre poderão ser reconquistados ou restituídos, mas não há compensação
para a loucura (insensatez) das práticas adúlteras, que não ficarão sem o devido castigo (vv. 29-31).
PROVÉRBIOS 7 156

2 Segue as minhas orientações e desco- buscar-te, e te encontrei.


brirás a verdadeira vida; zela pelos meus 16 Já estendi sobre o meu leito cobertas
ensinos como cuidas da pupila dos teus coloridas de linho fino do Egito;
olhos. 17 também já perfumei minha cama e o
3 Amarra os meus mandamentos aos ambiente, com mirra, aloés e canela.
teus dedos; escreve-os na tábua do teu 18 Vem, embriaguemo-nos com as de-
coração! lícias da sensualidade até o amanhecer;
4 Dize à Sabedoria: “Tu és minha irmã!”, gozemos os prazeres do amor!
e ao Entendimento considera teu parente 19 Pois o meu marido não está em casa;
próximo;1 partiu para uma longa viagem.3
5 eles saberão te manter longe da mulher 20 Levou consigo uma bolsa cheia de pra-
imoral e da pessoa leviana e bajuladora. ta e não retornará antes da lua cheia!”
6 Da janela da minha casa, por minhas 21 Assim, com a sedução ardilosa das suas
grades, olhando eu, muitas palavras e gestos, persuadiu-o,
7 vi entre os incautos, no meio de um gru- com a lisonja e volúpia dos seus lábios,
po de jovens, um rapaz deveras sem juízo! o arrastou.
8 Ele ia e vinha pela rua próxima à esqui- 22 E ele, sem refletir, no mesmo momento
na de certa mulher imoral, depois seguiu a seguiu como o boi levado ao matadou-
em direção à casa dela. ro ou como o cervo que corre em direção
9 Estava chegando o crepúsculo, o final à emboscada,
do dia, caíam as sombras do entardecer, 23 até que uma flecha lhe atravesse o co-
rodeavam as trevas da noite. ração; como a ave que se apressa em sal-
10 Eis que a mulher lhe sai ao encontro, tar para dentro do alçapão, sem imagi-
com vestes de prostituta e cheia de astú- nar que essa atitude lhe custará a vida!
cia na alma. 24 Agora, portanto, filho, dá-me toda a
11 Ela é sedutora e espalhafatosa, seus pés tua atenção e inclina os teus ouvidos às
não suportam ficar em casa; minhas palavras experientes:
12 um momento na rua, outro nas praças, 25 Não permitas que teu coração se des-
em cada esquina se detém à espreita de vie para o caminho da mulher imoral,
sua vítima. nem vagues desorientado pelas trilhas
13 Precipitou-se sobre o rapaz, beijou-o dessa pessoa.
sem pudor e lhe declarou: 26 Inúmeras foram as suas vítimas; e
14 “Tenho em casa a carne dos sacrifícios muitos são os que por ela foram mortos!
de paz que hoje preparei para cumprir os 27 A casa dela é uma trilha que conduz
meus votos.2 precipício abaixo, rumo ao inferno, à
15 Por esse motivo, saí ao teu encontro, a morada eterna dos mortos.4

1 O sábio personifica a Sabedoria e o Entendimento, para enfatizar o quanto são importantes e devem ser amados e cuidados
como nossos parentes mais íntimos. O termo hebraico original “irmã” pode também ser empregado aqui com o sentido de
“noiva” (Ct 4.10-12; 5.1,2).
2 Conforme a Lei, após seu período menstrual toda mulher deveria oferecer, ao Senhor, uma oferta “pacífica” ou “de comu-
nhão” (Lv 15.19-30; Am 5.21,22). O sentido espiritual do texto nos leva a entender que essa pessoa imunda, que representa toda
a sagacidade do pecado, teve a petulância de usar um ritual sagrado para confundir e instigar ainda mais a volúpia do jovem
inexperiente (incauto ou fraco na fé). Essa situação também revela como é possível que as pessoas continuem sua vida religiosa
e cerimonial sem se darem conta de que estão cometendo graves afrontas e sacrilégios contra Deus.
3 Podemos fazer uma outra importante inferência espiritual a partir desta declaração. É possível ver como a sociedade tende a
argumentar que Deus se ausentou do mundo e da vida cotidiana e individual das pessoas sobre a face da terra e que, portanto,
nada há de mal em se permitir um pouco de divertimento e prazer em meio a tanta desgraça. Esse sofisma bem articulado tem
levado e continuará levando milhões de pessoas para a morte eterna, especialmente quando o “Noivo” voltar em glória para
resgatar os seus e destruir o Maligno e seus seguidores (Mt 25.6).
4 O sábio não está se referindo simplesmente à pena máxima para o adultério, tanto do homem quanto da mulher, explícita
na Lei e em voga na época, que era a condenação à morte (Lv 20.10). O pecado e todo tipo de adulteração da Palavra de Deus
conduz à desmoralização da personalidade, à ruína em todos os sentidos, ao lugar dos mortos (em hebraico: Sheol), e à morte
157 PROVÉRBIOS 8

A primazia absoluta da sabedoria que as mais finas jóias, e de tudo o que se


8 A Sabedoria clama! O Entendimento
ergue a sua voz!1
2 Sobre os montes mais elevados junto
possa ambicionar, absolutamente nada
se compara a ela!
12 Eu sou a Sabedoria! Em mim habita
ao caminho, nos cruzamentos, ouve-se a todo o conhecimento, o discernimento e
voz do discernimento.2 o ensino!5
3 Ao lado dos portais, à entrada da cida- 13 O temor do SENHOR consiste em
de, portas adentro, ela conclama em alta odiar o mal; rejeitar todo orgulho, ar-
voz: rogância, o mau comportamento e o
4 “A todos vós, ó homens, suplico; dirijo falar perverso.
a minha convocação a toda a humanida- 14 Meu é o conselho sábio; a mim perten-
de. cem o entendimento e o poder!
5 Entendei, ó incautos, a prudência; e vós, 15 Por meu intermédio, os reis governam,
insensatos, compreendei a sabedoria!3 e as autoridades exercem a justiça;
6 Ouvi, pois proferirei conselhos exce- 16 da mesma forma, mediante meu po-
lentes; os meus lábios falarão de assuntos der, governam os nobres, todos os juízes
justos e práticos. da terra.
7 A minha boca proclamará a verdade, 17 Eu amo todos os que me amam, e
porquanto meus lábios abominam a ma- quem me busca me encontra!6
lignidade! 18 Em minhas mãos está toda a riqueza,
8 Todas as minhas palavras são justas, ne- honra, prosperidade e justiça perenes.
nhuma delas é adulterada ou perversa.4 19 Meu fruto é melhor que o ouro; sim,
9 Para os que possuem discernimento, que o ouro mais puro; o lucro que vos
são ensinos claros; e, veredas retas, para ofereço é superior ao metal mais valioso!
os que alcançam o conhecimento. 20 Ando pelo caminho da retidão, em
10 Recebei o meu ensino, e não a prata, meio às veredas da justiça,
preferi o conhecimento, antes do ouro 21 outorgando riquezas aos que me
puro. amam; oferecendo a estes prosperidade
11 Porquanto, melhor é a sabedoria do sem fim!

eterna ou inferno (2.18; 5.5; 14.12; 16.25; Mt 7.13; 1Co 6.9,10). Graças a Deus temos na pessoa e no sacrifício vicário de Cristo,
a derradeira oportunidade de nos livrarmos das garras do pecado e da morte: a confissão, o arrependimento e o abandono da
prática do pecado em o Nome do Senhor (1Jo 1.9).
Capítulo 8
1 O livro de Provérbios pode ser didaticamente dividido em três grandes capítulos, todos com o objetivo de ensinar à huma-
nidade como viver de forma piedosa (santa e inteligente) diante de Deus: o temor do Senhor é a base de todo o saber e vida
com Deus (1.1 – 7.27). A prática da verdadeira vida espiritual (santidade) só é possível mediante a sabedoria – o conhecimento
vivo do Senhor – (8.1 – 9.18). A piedade (santidade) é o exato oposto da vida mundana desinteressada de Deus – impiedade –
(10.1 – 31.31).
2 Uma das mais evidentes demonstrações da graça de Deus está no fato de que ele mesmo providencia – de todas as formas
– para que sua mensagem de salvação (evangelização) chegue a todos os povos, culturas e indivíduos em todo o mundo, das
ruas e vilas às grandes edificações e centros urbanos. É importante notar que o convite do Senhor vem ao nosso encontro, onde
estivermos, e cabe a nós a decisão final de aceitá-lo de todo o coração ou nos mantermos indiferentes, atitude que tem o mesmo
sentido prático da rejeição (v.7; Lc 19.9,10).
3 O termo original hebraico  peti´ “simples” comunica a idéia de uma pessoa “ingênua, inexperiente, que é facilmente
enganada”, ou seja, “incauta”. “Néscio” ou “insensato” – em hebraico, kesil – tem o sentido de alguém vagaroso na compreensão
das coisas e da vida, mas inclui também a idéia de ser “ímpio, pagão ou ateu” (Sl 49.13; Ec 7.25).
4 A expressão “adúltera” não se aplica somente à perversão sexual, mas a todo tipo de distorção da verdade, falsificação,
corrupção, deturpação e perversidade (Fp 2.15 e Pv 2.15).
5 A “Sabedoria” é personificada e revelada com perfeição em Jesus, o Filho de Deus e o Cristo (o Messias prometido). Nele
reside, corporalmente, toda a plenitude da “Divindade” (Cl 2.9), que é a “Vida” (Jo 14.6) e a “Luz” que veio do céu (Jo 8.12) para
todos os que o aceitam com sinceridade e alegria de coração (Jo 7.17). Só essa sabedoria tem o poder de falar com autoridade
absoluta (vv.22-31; Jo 1.1; 1Co 1.30; Cl 1.17).
6 Aqui podemos reconhecer claramente a voz de Jesus Cristo expressando seu amor incondicional pela humanidade e sua
disposição constante em atender as orações de todos que se achegam a ele (Jo 13.1; Hb 7.25).
PROVÉRBIOS 8, 9 158

A Sabedoria vive para sempre Ele criou, e me alegrando com os seres


22 O SENHOR me possui como fundamento humanos!
do seu Caminho, antes mesmo do princí- 32 Agora, pois, filhos meus, ouvi-me
pio das suas obras mais antigas;7 atentamente, porquanto muito felizes se-
23 fui formada desde a eternidade, desde rão os que guardarem os meus decretos!
a origem de tudo, antes de existir a terra. 33 Ouvi o meu ensino e sereis sábios, não
24 Nasci quando ainda nem havia abis- rejeites a minha instrução.
mos, quando não existiam fontes carre- 34 Bem-aventurado todo aquele que me
gadas de água; dá ouvidos, vigiando dia a dia à minha
25 antes de serem estabelecidos os montes porta, aguardando com esperança às om-
e de se formarem as colinas, eu já existia. breiras da entrada da minha casa.
26 Ele ainda não havia formado a terra, 35 Porquanto, toda pessoa que me en-
tampouco os campos, ou as partículas de contra, acha a vida e ganha o favor do
poeira com as quais fez o mundo. SENHOR.9
27 Quando Ele estabeleceu os céus, lá 36 Todavia, aquele que decide afastar-se
estava Eu; quando delineou o horizonte de mim, a si mesmo se flagela; todos os
sobre a superfície do abismo, que me desprezam, amam a morte!”
28 quando fixou as nuvens em cima e es-
tabeleceu as fontes do abismo, O grande convite da Sabedoria
29 quando determinou as fronteiras do
mar para que as águas não ultrapassas-
sem seu ordenamento, quando assinalou
9 A Sabedoria edificou a sua casa; er-
gueu suas sete colunas.1
2 Charqueou as melhores carnes do re-
as balizas dos alicerces da terra, banho para o banquete, preparou seu
30 então, Eu estava com Ele e cooperei vinho com especiarias e arrumou sua
em tudo como seu arquiteto. Dia após grande mesa.
dia tenho sido o seu prazer, sempre me 3 Já deu ordens às suas servas para pro-
sentindo muito feliz a seu lado.8 clamarem os convites desde o ponto mais
31 Regozijando-me com o mundo que alto da cidade, anunciando:2

7 O trecho dos vv.22-31 veio a se constituir – ao longo da história de Israel e da Igreja – em um hino sobre a personificação e a
obra da sabedoria divina em toda a criação do Universo (1.20-33; 3.15-18; 9.1-12). Portanto, esta e outras passagens semelhantes
podem ser interpretadas como uma antecipação sobre o que o NT descreve quanto a Jesus Cristo como a própria Palavra de
Deus (Jo 1.1-3; 17.5), como também, Sabedoria de Deus (1Co 1.24,30; Cl 2.3; Jo 5.17,18).
8 Deus, em sua plena soberania e eternidade, criou o Universo e tudo o que há, a partir do “nada absoluto”, que é o sentido
exato da palavra “criar” nos originais hebraicos do livro do Gênesis 1.1,21,27. Deus forma do “nada” as partículas básicas do
Universo, moléculas e células, enquanto sua palavra (o logos divino) e sabedoria (seu caráter amoroso e justo), reveladas na
pessoa do seu Filho, e nosso Salvador (Messias), colaboram na maravilhosa ação da Trindade para ordenar tudo de tal forma que
a humanidade possa ter alguma compreensão geral (Jo 1.1-3). E na plenitude dos tempos, no limiar do final das eras, decidiu
Deus tomar plena forma humana (encarnar) na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo; viver e sacrificar-se em benefício da vida eterna
da criação, da qual o homem, feito à imagem de Deus, é obra-prima (Gn 1.26-28).
9 Aquele que é a vida em si mesmo é o único que pode dar a vida (Jo 14.6). E Deus (em Cristo) deseja ansiosamente dar essa
vida a todos aqueles que desejam recebê-la, mediante simples e sincera fé na pessoa e obra vicária do seu Filho, o Cristo (Jo
11.25,26; Jo 3.16-21). A KJ de 1611 traz a seguinte tradução para este versículo: For whoso findeth mee, findeth life, and shall
obtaine fauour of the LORD.
Capítulo 9
1 O convite divino (de Yahweh – o nome hebraico de Deus) sempre se expressou nos termos de um grande, delicioso e alegre
banquete entre amigos de verdade (Is 55.1,2). Somente em Cristo, entretanto, o Evangelho (a Salvação), esse banquete eterno,
tem seu custo total e substância plenamente compreendidos (Jo 6.51-58). Aqui a expressão hebraica  pode ser transli-
terada em hokmôť “a sabedoria” (1.20). As grandes edificações pagãs, como o magnífico templo de Afrodite e o palácio do rei
assírio Senaqueribe, costumavam ser sustentados por sete imponentes colunas. Mas a sabedoria que vem do Senhor revela suas
sete colunas, nos sete dias da criação (8.27), e mais: na Instrução, no Conselho, no Ensino, no Entendimento, na Inteligência,
no Conhecimento Pleno (para receber, no coração, a Sabedoria) e na Prudência (a melhor maneira de se aplicar o saber). Estas
palavras são as chaves para compreensão da Sabedoria e deste livro.
2 A Sabedoria e a Insensatez convidam a humanidade para suas casas (14.7,8; 8.34). Entretanto, a Sabedoria edificou sua casa
pessoalmente (14.1; 31.10-27), não apenas utiliza a casa de outrem, nem fica “sentada” (v.14) recepcionando seus convivas. O
159 PROVÉRBIOS 9, 10

4 “Vinde todos vós, os incautos!” Aos in- que não têm bom senso ela convida:
sensatos e desajuizados conclama: 17 “Aágua roubada é doce, e o pão que se
5 “Vinde, comei do meu pão e bebei do come escondido é ainda mais saboroso!”
vinho que preparei. 18 Contudo, eles nem imaginam que exa-
6 Abandonai a insensatez e vivei; andai tamente ali residem os espíritos dos con-
pelo Caminho do arrependimento!3 denados à morte, que os seus convidados
7 O que censura o zombador traz afronta estão todos nas regiões mais profundas
sobre si; quem repreende o ímpio man- do inferno.4
cha o próprio nome.
8 Portanto, não admoestes o escarnece- A justiça e a malignidade
dor, para que não te aborreça; repreende
o sábio, e ele te amará!
9 Orienta a pessoa que tem sabedoria, e
10 Provérbios de Salomão:1
O filho sábio alegra o coração do
seu pai, mas o filho insensato é a tristeza
ela será ainda mais sábia; ensina o ho- de sua mãe.
mem justo, e ele aumentará em muito o 2 Os tesouros que são fruto da desones-
seu saber. tidade de nada valem, mas a justiça livra
10 O temor do SENHOR é a chave da sabe- da morte.
doria e conhecer a Divindade é alcançar 3 O SENHOR não permite que o justo ve-
o pleno sentido do conhecimento! nha a passar fome, mas abate a ambição
11 Porquanto por meu intermédio os teus dos ímpios.
dias serão multiplicados, e o tempo da 4 As mãos preguiçosas empobrecem o ser
tua vida se prolongará. humano, porém as mãos laboriosas lhe
12 Se fores sábio, o benefício será todo produzem riqueza.
teu; contudo, se fores zombador sofrerás 5 Aquele que faz a colheita no verão é fi-
as conseqüências da tua própria esco- lho sensato, mas aquele que dorme du-
lha”. rante a ceifa é filho que causa vergonha.
6 Sobre a cabeça do justo há bênçãos,
O convite da Insensatez, a louca mas na boca dos perversos reside a bru-
13 A Insensatez é mulher sensual, exibi- talidade.
cionista e ignorante! 7 A memória do justo é abençoada, mas o
14 Sentada à porta de sua casa, no ponto nome dos perversos cai em podridão.
mais alto da cidade, 8 O sábio de coração aceita os manda-
15 propagandeia sua proposta aos que mentos, mas o insensato de lábios vem
transitam por ali em seus caminhos: a arruinar-se.
16 “Vinde todos vós, os incautos!” E aos 9 Quem caminha com integridade anda

banquete preparado pela Sabedoria forma um contraste poético e moral com a cama perfumada da Insensata (7.17). A Sabedoria
oferece o melhor pão (iguarias), um vinho novo e especial, muito mais saboroso (Ct 8.2), ao seu grupo de convidados que proce-
de das ruas e das praças, sendo que a deficiência de tais hóspedes é a única qualificação deles (v.4).
3 As dádivas divinas da Sabedoria à humanidade são apresentadas simbolicamente como um magnífico banquete, semelhante
aos realizados por ocasião das bodas dos grandes monarcas. Cristo (o Caminho – At 19.23; 24.22) retoma esse tema e convida
“seus servos” para seu banquete universal e eterno (Lc 14.15-24; Mt 22.1-14).
4 A expressão hebraica original usada aqui  do she’ôl (sepultura, moradia dos mortos ou inferno) não é uma referência
específica ao futuro eterno, uma vez que a teologia hebraica dessa época tinha mais interesse em conhecer a Deus na terra e
obedecer a Ele, do que em especular sobre os detalhes da vida após a morte. Só com a vinda de Jesus Cristo (o Messias) e seus
ensinos sobre salvação e vida eterna, é que também ficou clara a doutrina da condenação à morte eterna e o aniquilamento de
Satanás e seus seguidores (Jo 3.16-21; Mc 9.44,45; Ap 20.10-14). A KJ de 1611 traduz assim este versículo: But hee knoweth not
that the dead are there; and her guests are in the depths of hell.
Capítulo 10
1 No original hebraico, a soma do valor numérico das consoantes do nome “Salomão”, na expressão  “de Salomão”,
resulta em 375, conforme o antigo costume judaico de atribuir números às letras (Sl 119). Curiosamente, esse é o número total
dos versículos selecionados da imensa obra (1Rs 4.32) do sábio servo do Senhor (28.7; 15.20; 17.21,25; 29.3,15), e que se acham
registrados entre os capítulos 10.1 e 22.16.
PROVÉRBIOS 10, 11 160

em segurança, mas quem segue por tri- 22 A bênção do SENHOR produz riqueza e
lhas tortuosas será descoberto. não provoca sofrimento algum.
10 Aquele que se comunica com olhares 23 Para o insensato, praticar a iniqüidade
maliciosos provoca infelicidades, assim é um divertimento; mas o ser humano
como a boca do insensato o leva à des- verdadeiramente inteligente deleita-se
truição. na sabedoria.
11 Os lábios do justo são fonte de vida, 24 Aquilo que teme o ímpio, isso mesmo
mas a boca dos ímpios abriga a violên- lhe acontecerá; o que os justos esperam
cia.2 lhes será concedido.
12 O ódio provoca contendas, mas o amor 25 Como passa a tempestade, assim desa-
cobre todas as transgressões.3 parece o perverso, mas o justo permane-
13 Nos lábios do prudente se encontra cerá firme para sempre.4
a sabedoria, mas a vara da repreensão é 26 Como vinagre para os dentes e fumaça
para as costas do desajuizado. para os olhos, assim é o preguiçoso para
14 Os sábios acumulam conhecimento, aqueles que o supervisionam.
mas a boca do néscio é um atalho para 27 O temor do SENHOR prolonga os dias
a ruína. da nossa existência, mas o tempo de vida
15 Os bens dos ricos são sua cidade for- dos perversos será abreviado.
tificada, mas a pobreza é a humilhação 28 O objetivo do justo será concluído
dos pobres. com alegria, mas as ambições dos ímpios
16 O salário do justo lhe proporciona darão em nada.
uma vida feliz, mas as rendas do perverso 29 O Caminho do SENHOR é o refúgio dos
o conduzem ao castigo. íntegros, entretanto, será a destruição de
17 Quem recebe bem a disciplina conhece todos os que praticam o mal.
o caminho da vida, mas quem ignora a re- 30 Os justos jamais serão definitivamente
preensão desencaminha a si e aos outros. abalados, mas os ímpios pouco perma-
18 Quem esconde o ódio tem lábios fal- necerão na terra.
sos, e quem espalha calúnia é insensato. 31 A boca do justo produz sabedoria, mas
19 Quando se fala demais é certo que o a língua perversa será extirpada.5
pecado está presente, mas quem sabe 32 Os lábios justos sabem como falar agra-
controlar a língua é prudente. davelmente; entretanto, a boca dos ímpios
20 A língua dos justos é prata da melhor só tagarela perversidades.
qualidade, mas o coração dos ímpios
quase não tem valor. A Integridade e o bom nome
21 As palavras dos justos alimentam mui-
tas pessoas, mas os insensatos morrem
por falta de juízo.
11 Deus tem ódio das balanças de-
sonestas, mas os pesos exatos lhe
dão prazer!

2 Em qualquer situação devemos conversar de maneira controlada e compreensiva, ainda que tenhamos de ser firmes e decisivos. A
conversa torpe, autoritária e abrutalhada coopera na formação de um ambiente beligerante, rixoso, malicioso e odioso (Ef 4.25-32).
3 O verdadeiro amor, em toda a amplitude do seu significado sempre promoverá o perdão e a reconciliação. A expressão he-
braica original kasah “cobrir” comunica o sentido de “expiar”, “apagar”, “cancelar a dívida”. Este versículo foi citado também por
Tiago e pelo apóstolo Pedro no NT (Tg 5.20; 1Pe 4.8). Jesus Cristo foi quem pagou toda a nossa dívida por meio do seu próprio
sangue e nos deixou o maior exemplo prático de amor e perdão (Cl 2.14).
4 O homem prudente constrói sua casa sobre a Rocha (Cristo – 1Pe 2.4-10). Este é um fundamento perpétuo: o justo permane-
cerá vivo e feliz para sempre, enquanto o ímpio e insensato passará de uma hora para outra, e dele ninguém mais se lembrará (Mt
7.24-27; Sl 37.10; 15.5; Is 28.18; 1Co 15.58). A KJ 1611 traduziu este versículo assim: As the whirlewinde passeth, so is the wicked
no more: but the righteous is an euerlasting foundation.
5 A expressão hebraica original , transliterada em hokmâh “a sabedoria”, comunica, nas Sagradas Escrituras, a qualidade
de ser “arguto para o bem”, embora esse mesmo termo fora da Bíblia tenha apenas o sentido de “grande inteligência, perspicácia
e perícia técnica” (Êx 31.3; Ez 27.8). Contudo, a “sabedoria plena” pertence a Deus e é dom de Deus aos amados de seu Filho,
Jesus, o Messias (Jo 12.12-36). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: The mouth of the iust bringeth foorth wisedome: but the
froward tongue shalbe cut out.
161 PROVÉRBIOS 11

2 Em vindo a arrogância, chega logo tam- frerá as conseqüências; entretanto, quem


bém a desonra, mas com os humildes evita assumir a responsabilidade de ou-
está a sabedoria.1 trem estará seguro e em paz.
3 A integridade dos justos os guia, mas a 16 A mulher gentil e honrada alcança o
falsidade dos infiéis os aniquila. respeito de todos, mas os homens per-
4 As riquezas acumuladas não terão valor versos só conquistam bens materiais.
algum no Dia da ira divina, mas a justiça 17 Quem faz o bem aos outros, a si mes-
livrará o fiel da morte.2 mo o faz; a pessoa cruel provoca sua pró-
5 A retidão dos íntegros de coração lhes pria ruína.
descortina o caminho justo, mas os ím- 18 O ímpio recebe pagamentos engano-
pios são abatidos por sua própria perver- sos, mas quem semeia a justiça colhe se-
sidade. gura recompensa.
6 A integridade das pessoas justas as li- 19 Tão certo como a retidão conduz a
vrará, mas em sua malignidade os infiéis uma vida feliz, assim o que segue o ma-
serão apanhados. ligno corre para sua própria morte.
7 Assim que o ímpio morre, toda a sua 20 O SENHOR detesta todas as pessoas
esperança perece com ele; todos os seus perversas de coração, mas aqueles que
planos acabam em nada. andam em integridade de coração são a
8 O justo é salvo das tribulações, e elas sua alegria.
são transferidas para o ímpio. 21 Tendes todos esta certeza: os maus não
9 O ímpio, com sua própria boca, destrói ficarão sem o devido castigo, mas os jus-
o próximo, mas os justos encontram a li- tos serão perdoados!
berdade por meio do real conhecimento. 22 Como anel de ouro em focinho de
10 Com a prosperidade dos justos toda a porco, assim é a mulher bonita, mas in-
cidade fica feliz; quando os ímpios pere- discreta.
cem há música e alegria no ar. 23 As ambições dos justos resultam em
11 Os justos abençoam a cidade por meio bem para muitos; a esperança dos ím-
das bênçãos que recebem, mas pela boca pios, somente em desgosto e ira.
dos perversos é destruída. 24 Quem dá com generosidade, vê suas
12 O que despreza o próximo é falto de riquezas se multiplicarem; outros prefe-
senso, mas a pessoa prudente sabe o mo- rem reter o que deveriam ofertar, e caem
mento de se calar. na pobreza.
13 O fofoqueiro trai a confiança de quem 25 O generoso sempre prosperará; quem
quer que seja, mas aquele que guarda um oferece ajuda ao necessitado, conforto
segredo merece crédito. receberá.
14 Não havendo sábia direção, toda a na- 26 O povo amaldiçoa aquele que esconde
ção é arruinada; o que a pode restaurar é o trigo para alcançar maior preço, mas a
o conselho de muitos sábios. bênção alcança aquele que logo se dispõe
15 Quem serve de fiador com certeza so- a atender o povo.

1 A arrogância é o único pecado sem perdão; não porque Deus não possa perdoar o soberbo, mas porque a pessoa altiva
jamais reconhece profundamente seus erros e, portanto, não é capaz de pedir perdão com a sinceridade de quem deseja aban-
donar o erro e obedecer ao Senhor. A expressão hebraica original  zãdôn refere-se a “arrogância” ou “insolência”, que é
sempre causada por um desequilíbrio na balança da auto-estima: desenvolvemos um conceito exageradamente alto de nossa
própria pessoa ou capacidades e um baixo conceito ou desconsideração pelo talento ou virtudes de outrem. Quando esse mes-
mo sentimento se aplica à pessoa de Deus, corremos o risco de cometer o pecado da blasfêmia (16.18). Já o termo hebraico
 cãnüah “os humildes”, em sua forma verbal de “andar humildemente” diante do Senhor, se junta às virtudes paralelas, do
humilde: a justiça e a misericórdia, o fundamento e o âmago da piedade e da verdadeira religião de Deus, descrita no AT (Mq
6.8; Pv 15.33; 29.23).
2 O dia (ou período) do grande e terrível juízo final de Deus sobre a terra e a humanidade é chamado nas Escrituras, de: Dia do
Juízo (Is 10.3; Sf 1.18); Dia da ira (Lm 2.22; Sf 2.2; Rm 2.5); Dia do Senhor (Is 2.12; 13.6; Ez 30.3; Jl 1.15; 2.11); Dia da vingança
(Jr 46.10).
PROVÉRBIOS 11, 12 162

27 Todas as pessoas que procuram o bem lhas mortais, mas, quando os justos fa-
serão respeitadas; porém, o mal atropela- lam, há libertação.
rá aquele que o busca. 7 Os ímpios são derrubados e desapare-
28 Quem deposita confiança em suas ri- cem, mas a casa dos justos permanecerá
quezas certamente se decepcionará, mas indestrutível.
os justos florescerão como a folhagem 8 O homem é honrado de acordo com a
verdejante. sua sabedoria, mas o que alimenta per-
29 A pessoa que causa problemas para sua versidades no coração é desprezado.
família herdará apenas o vento; e o falto 9 É melhor ser uma pessoa comum do
de juízo acabará sendo servo do sábio. povo, porém, que trabalha duro e mes-
30 O fruto da justiça é árvore da vida, e mo assim, tem quem o sirva, do que fin-
toda pessoa que conquista almas é sábio.3 gir ser rico e passar fome.2
31 Se mesmo o justo é corrigido em sua 10 O justo zela com carinho dos seus re-
caminhada na terra, quanto mais o ím- banhos, mas até as atitudes mais amáveis
pio e o pecador! dos ímpios são cruéis.
11 Quem se dedica ao trabalho de sua
As atitudes do justo e do perverso própria terra colherá com fartura, mas o

12 Toda pessoa que deseja o conheci-


mento ama a disciplina; mas aque-
le que odeia a repreensão não tem juízo.
que vai atrás de ilusões é insensato.
12 O perverso cobiça até os despojos sa-
queados pelos maus; a raiz dos justos,
2 O homem bom obtém o favor do SE- entretanto, produz seu fruto no tempo
NHOR, mas o que engendra malignidades certo.
está sob a condenação do SENHOR. 13 O perverso cai em contradição e se en-
3 O ser humano não se estabelece por reda em seu próprio falar malicioso, mas
meio da perversidade, mas a raiz dos jus- o justo não se preocupa por falar fran-
tos é firme e não será arrancada. camente.
4 A mulher virtuosa é coroa de honra para 14 Do fruto da sua boca, o ser humano
seu marido, mas a de atitudes vergonho- conquista o que é bom para si, e o traba-
sas é como podridão nos ossos dele.1 lho de suas mãos será recompensado.
5 Os planos dos justos são honestos, mas 15 As trilhas do desajuizado aos seus pró-
as sugestões dos ímpios são sempre en- prios olhos parecem um ótimo atalho;
ganosas. antes de tudo, porém, o sábio inclina
6 As palavras dos perversos são armadi- seus ouvidos para os conselhos.

3 Todo aquele que por Deus é justificado vive como cidadão do céu e terá novo e eterno acesso à Àrvore da Vida. E a grande
sabedoria desse “novo cidadão” consiste em apresentar o Caminho da Salvação ao mundo perdido (3.18; Dn 12.3; 1Co 9.19-22;
Tg 5.20). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: The fruit of the righteous is a Tree of Life: and hee that winmeth soules, is wise. O
justo é exortado a ser ainda mais sábio (santificado); o ímpio renitente será punido com a destruição eterna (v.31; 1Pe 4.18,19).
Capítulo12
1 O termo hebraico original  havill diz respeito à “força feminina”, ao caráter batalhador, corajoso e determinado das mu-
lheres em geral e especialmente daquelas que temem ao Senhor e, por isso, além de fortes, são “sábias”. Sua atitude delicada,
piedosa e ao mesmo tempo firme, honrada e constante, demonstra suas virtudes ao mundo. Essa é a mulher descrita no capítulo
31 deste livro. Sua intenção é sempre fazer o que é certo e o bem (31.12); trabalha de bom grado sem murmurações (31.13);
procura socorrer quem esteja passando por qualquer situação aflitiva (31.20); exerce diariamente a sabedoria prática (31.26-27);
e o segredo da sua força moral e carisma estão em seu amor ao Senhor (31.30). A mulher virtuosa tem um comportamento
semelhante ao de Rute no AT (Rt 3.11), e proporciona – como a própria sabedoria - honra e muitas alegrias a seu marido (Pv
4.9). Em contraste, a mulher insatisfeita, queixosa, autoritária, escandalosa e agressiva se assemelha a um câncer na vida do seu
marido e familiares (3.8; Hb 3.16).
2 A expressão hebraica original e literal mitkabbēd “aquele que se vangloria”, ou “dá excessiva honra a sua própria pessoa e
a tudo o que faz” traduz o comportamento da pessoa que erroneamente dá mais valor a si e à humanidade do que a Deus (Jo
5.44; Rm 2.29; Pv 12.15; Jó 9.20). Devemos corrigir nossa perspectiva em relação a quem primeiramente é digno do nosso louvor.
Nossa felicidade e glória estão em reconhecer o amor e o poder de Deus em nossas vidas, pois foi o Criador quem nos concedeu
os dons e habilidades que possuímos (Jr 9.23-25).
163 PROVÉRBIOS 12, 13

16 O tolo revela de imediato seu aborre- 26 O homem honesto é um bom guia


cimento, mas a pessoa prudente ignora para seus amigos, mas as trilhas dos ím-
o insulto! pios os induzem ao erro.
17 A testemunha leal dá testemunho sin- 27 O preguiçoso não aproveita bem sua
cero, mas o falso depoente conta menti- caça, mas o diligente dá valor a seus bens.
ras. 28 No Caminho da justiça está a Vida; esse
18 As palavras do tagarela ferem como es- é o Caminho que nos livra da morte.5
pada de dois gumes, todavia a língua dos
sábios promove a cura.3 O tolo não ouve o próprio pai
19 Os lábios de quem diz a verdade per-
manecem para sempre, mas a língua do
mentiroso dura apenas um instante.
13 O filho sábio acolhe a orientação
do pai, mas o insensato não aceita
a repreensão!
20 O engano se apodera do coração dos 2 Do fruto da boca, o ser humano se ali-
que vivem planejando o mal, mas a ale- mentará do bem, entretanto, a ambição
gria habita entre todos os que cooperam dos ímpios é a crueldade.
pela paz. 3 A pessoa que consegue guardar sua boca
21 Nenhum mal abaterá o justo, mas os preserva a própria vida, todavia quem fala
perversos estão cobertos de problemas.4 sem refletir acaba se arruinando.1
22 O SENHOR tem ódio mortal da boca 4 O preguiçoso ambiciona e nada alcan-
mentirosa; mas se compraz imensamen- ça, mas os desejos daquele que se em-
te com os que falam a verdade! penha na obra serão plenamente satis-
23 O homem sábio não alardeia seus co- feitos.
nhecimentos, mas o coração dos sem juí- 5 Os justos odeiam tudo o que se parece
zo é como fonte a jorrar insensatez! com a mentira, mas os perversos produ-
24 As mãos zelosas e dedicadas governa- zem vergonha e desgraça.2
rão, mas os preguiçosos acabarão sendo 6 A justiça guarda o homem íntegro, mas
forçados a trabalhar. a impiedade arruína o que vive pratican-
25 O coração ansioso deprime o ser hu- do o pecado.
mano, mas uma palavra de encoraja- 7 Alguns assumem falsamente o papel
mento o anima. de ricos e prestigiosos, mas nada têm de

3 A expressão “tagarelice”, neste versículo, vem do original hebraico  bôteh e tem o sentido de “falar sem discernimento”,
“entregar-se a conversas tolas, mentirosas e inúteis”, “falar sem refletir sobre as possíveis conseqüências”. Esta curiosa palavra
hebraica ocorre somente aqui, em toda a Bíblia. Contudo, no NT, Jesus resgata o sentido dessa expressão e Mateus usa um termo
grego originado da mesma raiz, battalogein, que se traduz por “usar de vãs repetições” (Mt 6.7). A “tagarelice”, portanto, é a falta
completa de domínio sobre a língua e, conseqüentemente, sobre as atitudes (Tg 3.5-12).
4 Absolutamente nada que venha sob a ordem do mal, “por ou pelo” mal, acontece com o crente fiel. O Senhor, pessoalmente,
é quem cuida dos seus e mesmo as situações difíceis, crises e sofrimentos fazem parte do seu plano de salvação, santificação
e vida eterna (Sl 34.22; 91.10; Rm 8.28). Diferentemente do “tagarela” ou do “ímpio”, a palavra daquele que confia no Senhor
(sábio) realiza um trabalho terapêutico na alma e no corpo dos seus ouvintes (4.22; 15.4). O crente precisa estar sempre em muita
comunhão com o Espírito de Deus, cuidando para não se deixar levar pela carne ou pelas provocações do mundo e perder o
controle da língua (Sl 106.33).
5 Em todo o AT, esta é uma das poucas passagens que afirmam categoricamente a imortalidade da pessoa humana (alma ou
espírito humano). O andar do crente no Caminho (Jesus Cristo, o Messias) reflete, durante sua existência na terra, a luz da sua
fé, por meio das obras que realiza, e aflui para a vida eterna, de maneira que não há, para o que crê no Senhor, morte espiritual
(3.2; 11.4; 1.22; 9.7,8). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: In the Way of rigtheousnesse is Life, and in the Path-way thereof
there is no death.
Capítulo 13
1 O controle sobre o que se fala (conteúdo) e como se fala (comunicação) é uma das evidências mais claras do quanto uma
pessoa é sábia. As Escrituras (o AT e o NT) ensinam que “a língua tem poder sobre a vida e a morte” (18.21; 10.19; 21.23; Tg
3.2). A pessoa que não reflete antes de falar, e tem orgulho de dizer que “fala mesmo, tudo o que sente e deseja”, acabará se
arruinando mais cedo ou mais tarde (12.18; 10.14; 18.7; 2Tm 3.3,4).
2 A expressão original hebraica aqui transliterada como rãsha´ e traduzida por “perversos” comunica a idéia de “algo mal
ligado”, “solto e sem sentido”. Quem não está “ligado” ao Senhor, na mais profunda comunhão espiritual, não tem paz e segu-
PROVÉRBIOS 13, 14 164

fato; outros passam a idéia de que são alegra a alma; o tolo, contudo, jamais se
pobres, mas possuem grandes riquezas! desapega do mal.
8 As riquezas de uma pessoa servem de 20 Aquele que caminha com os sábios
resgate para sua própria vida, mas o po- será cada vez mais sábio, todavia aquele
bre jamais será ameaçado. que anda na companhia dos insensatos
9 O fulgor da luz dos justos brilha esplen- acabará arruinado.
didamente, mas a lâmpada dos perversos 21 A infelicidade persegue os pecadores,
se apagará totalmente. mas a prosperidade é a recompensa dos
10 A arrogância só produz contendas, sábios.
mas a sabedoria está com aqueles que 22 O homem bom deixa sua herança para
buscam conselho. os filhos de seus filhos, mas toda a rique-
11 O dinheiro arrecadado de maneira ines- za dos ímpios é acumulada para ser dis-
crupulosa se extinguirá, mas quem o con- tribuída aos justos.
quista honestamente terá cada vez mais. 23 A boa terra dos pobres produz gene-
12 A expectativa que se adia deixa o co- rosas colheitas, mas por falta de justiça
ração adoecido, mas o anseio satisfeito eles a perdem.
renova o vigor da vida. 24 Quem se nega a disciplinar e repreen-
13 Quem zomba da Palavra pagará caro der seu filho não o ama; quem o ama de
por isso, mas aquele que obedece ao fato não hesita em corrigi-lo.4
mandamento será regiamente recom- 25 O sábio recebe o suficiente para satis-
pensado.3 fazer plenamente seu apetite; a alma dos
14 A instrução dos sábios é fonte de vida, perversos, contudo, sempre está faminta.5
e tem o poder de distanciar o ser huma-
no das ciladas mortais. Homem sábio, mulher sábia
15 O bom entendimento conquista o fa-
vor, mas as estratégias dos ímpios não
permanecerão por muito tempo.
14 A mulher sábia edifica a sua casa,
mas com as próprias mãos a in-
sensata destrói o seu lar.
16 Toda pessoa prudente deve agir com 2 A pessoa que caminha na retidão teme
sabedoria, mas o tolo torna pública toda ao SENHOR, mas o que anda por atalhos
a sua tolice. sinuosos, esse não leva Deus a sério.
17 O mensageiro ímpio tropeça em sua 3 A conversa do perverso traz a vara para
própria malignidade, mas o emissário suas próprias costas, mas os lábios dos
digno de confiança apresenta a salvação. sábios os protegem.
18 Quem despreza a correção cai no es- 4 Não havendo bois, o celeiro fica vazio,
cândalo e na pobreza, entretanto, quem mas por intermédio da força bovina vem
acolhe a repreensão é abençoado com a grande colheita.1
honra! 5 A testemunha verdadeira não usa de ar-
19 A esperança que se realiza satisfaz e dis, mas a falsa transborda em mentiras.

rança. Por isso mesmo, anda atropelando as demais pessoas, sempre buscando desprezar o passado, aflito quanto ao presente
e temeroso em relação ao futuro. “Perverso”, de 12.8, é a tradução de um termo hebraico procedente da raiz ΄ãwâh que significa
“perverter” ou “torcer a verdade”. Em 17.4, o termo original é ΄ãwen cujo sentido é de “pessoa depravada” ou “ímpia”.
3 O termo hebraico original  “a palavra” é uma evidente referência à santidade e ao poder das Sagradas Escrituras (Sl
119). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: Whoso despiseth the Word, shall be destroyed : but he that feareth the commaun-
dement, shall be rewarded.
4 Assim como um bom e responsável pai, que se preocupa com o bem-estar futuro do seu filho, deve dialogar, repreender e – se
necessário – usar a vara da disciplina para expulsar a insensatez dos filhos, Deus – nosso Pai – também prefere nos corrigir seve-
ramente a nos ver perdidos para sempre (Dt 8.5; Jó 5.17; 1Co 11.32; 2Tm 2.25; Hb 12.10; Pv 22.15; 19.18; 23.13,14; 29.15,17).
5 Este versículo revela de forma mais específica os ensinos anteriores de 13.18,21 e 10.3.
Capítulo 14
1 O princípio aqui é de que os sábios devem cuidar bem dos seus meios de produção, para usufruírem de colheitas e indústrias
lucrativas. Na época, os bois eram cooperadores valiosos no trabalho agrícola do arado e na movimentação das cargas (12.10).
165 PROVÉRBIOS 14

6 O escarnecedor busca sabedoria e nada 17 A pessoa que se ira muito rapidamente


encontra, entretanto, o conhecimento faz loucuras, e o homem que vive tra-
chega facilmente ao coração daquele que mando ciladas é odiado.
possui discernimento. 18 Os incautos herdam a insensatez, mas
7 Foge da presença do tolo, porquanto o conhecimento é a coroa dos pruden-
nele não encontrarás qualquer sombra tes.
de juízo e bom senso. 19 Os maus haverão de se humilhar diante
8 A sabedoria da pessoa prudente é dis- dos homens de bem, e os perversos supli-
cernir seu próprio caminho, mas a in- carão misericórdia às portas da justiça.
sensatez dos perversos é absolutamente 20 Os pobres são evitados até por seus
enganosa. próprios vizinhos, mas inúmeros são os
9 Os insensatos zombam do mandamen- amigos dos ricos.
to de reparar o pecado cometido, mas 21 Quem despreza o próximo comete pe-
entre os justos há humildade e correta cado, mas bem-aventurado é quem trata
atitude.2 com bondade todos os necessitados!
10 Cada coração conhece bem suas pró- 22 Acaso, não é certo que pecam os que
prias mágoas, e da sua alegria não parti- tramam o mal? Mas os que planejam o
cipará o estranho.3 bem encontram amor e lealdade.
11 A casa dos ímpios será destruída, mas 23 Em todo trabalho dedicado há provei-
o tabernáculo dos justos florescerá.4 to; meras palavras, contudo, conduzem à
12 Há caminhos que ao ser humano pare- pobreza.
cem ser as melhores opções de vida, mas 24 Os sábios são coroados com riquezas,
ao final conduzem à morte.5 mas a recompensa do insensato são suas
13 Mesmo no riso a alma pode sofrer, e a próprias tolices.
euforia pode acabar em tristeza. 25 A testemunha que fala a verdade salva
14 Os infiéis receberão o devido paga- vidas, mas aquele que declara falsidades
mento por sua conduta, mas o homem é enganoso.
bom será regiamente recompensado.6 26 Aquele que teme ao SENHOR é abençoa-
15 O incauto acredita em toda informa- do com todo amparo e segurança, força e
ção que recebe, mas o homem prudente refúgio também para seus filhos.
observa bem onde pisa.7 27 O temor do SENHOR é fonte de vida, e é
16 O sábio teme o SENHOR e evita o mal, capaz de nos afastar das ciladas da mor-
mas o tolo age com impetuosidade e sem te.
refletir. 28 Na multidão das pessoas que governa

2 Os tolos e perversos não acreditam em pecado, nem no inferno. Mas os tementes a Deus, e justos, quando tropeçam e co-
metem algum pecado, imediatamente devem buscar o perdão do Senhor e, eventualmente, da pessoa ofendida, restabelecendo
sua plena comunhão com o Senhor (Mt 25.41; 18.15-20; 26.41; 1Jo 1.9).
3 Qualquer pessoa, por mais que tenha instrução ou experiência de vida, se não pertence ao rol dos filhos de Deus, não conse-
gue compreender e partilhar dos sentimentos de um pecador arrependido, nem da plena alegria do perdão e reconciliação, que
somente o Salvador pode conceder ao crente arrependido (1Sm 1.10; Mt 26.75; 13.44; 1Pe 1.8).
4 A humilde “tenda” (tabernáculo) dos justos permanecerá inabalável, conforme ilustração ministrada por Jesus Cristo em seus
ensinamentos (Mt 7.24-27 e Lc 6.46-49). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: The house of the wicked shall bee ouerthrowen:
but the tabernacle of the vpright shall flourish.
5 Aqui há uma advertência clara a toda e qualquer religião ou crença que não tenha como fundamento a pessoa e a obra do
Filho de Deus, o Messias, Jesus Cristo (v.13; Sl 25.4; 119.35; Jo 14.6).
6 O termo hebraico transliterado em sügh “infiel” comunica especificamente a idéia de uma atitude contínua e explicitamente
desleal contra Deus. Foi o comportamento descrente e infiel tantas vezes descrito no livro do Êxodo e, especialmente, em Juízes
2.10-19. A “infidelidade ao Senhor” é a disposição íntima de relativizar ou “esfriar na fé” e afastar-se da obediência sincera à
Palavra de Deus (Hb 6.4-8).
7 A expressão hebraica original  “o prudente” refere-se à pessoa “sagaz” (engenhosa, inteligente, esperta), qualidades
que podem ser direcionadas tanto para o bem quanto para o mal (Gn 3.1). Jesus nos ensinou a ser “astutos para o bem” (Mt
10.16; Jó 5.12).
PROVÉRBIOS 14, 15 166

está a glória do rei; sem o povo, o prínci- 4 As palavras bondosas revigoram a nos-
pe não é nada! sa vida, entretanto o falar perverso desa-
29 A pessoa que se mantém calma dá pro- nima o espírito.
va de grande sabedoria, mas o precipitado 5 O tolo despreza as orientações de seu
revela publicamente sua falta de juízo. pai, mas quem compreende bem a repre-
30 A paz de espírito é saúde para o corpo, ensão demonstra sabedoria.
mas a inveja corrói como o câncer. 6 A casa do justo contém grande tesouro,
31 Oprimir o povo é ultrajar o seu Cria- mas os rendimentos dos ímpios lhes tra-
dor, mas tratar com bondade o pobre é zem preocupação.
honrar a Deus. 7 As palavras dos sábios divulgam conhe-
32 Por meio da sua própria malignidade, cimento; mas o coração dos insensatos
o perverso é derrubado; os justos, entre- não procede assim.
tanto, ainda que diante da morte, encon- 8 O SENHOR detesta as ofertas e sacrifícios
tram consolo e esperança. dos ímpios, mas a oração dos justos é o
33 No coração do prudente habita a sabe- seu contentamento.2
doria, mas tudo o que existe na alma dos 9 O SENHOR odeia as trilhas dos perversos,
tolos vem a público. mas ama quem segue a justiça.
34 A justiça engrandece as nações, mas o 10 Há um severo castigo para quem aban-
pecado é uma vergonha para qualquer dona o caminho do bem, e quem não su-
povo.9 porta ser corrigido encontrará a morte.
35 O servo prudente recebe as recompen- 11 O Além e o Inferno estão abertos dian-
sas do rei, mas o que procede indigna- te do SENHOR, quanto mais os corações
mente será alvo do castigo real. dos homens!3
12 O escarnecedor não gosta de quem o
Deus conhece o coração humano corrige, tampouco busca a ajuda dos sá-

15 A resposta branda desvia o furor,


mas a palavra ríspida desperta a
violência.1
bios.
13 A alegria do coração ilumina todo o
rosto, mas a tristeza da alma abate todo
2 A língua dos sábios torna o ensino in- o corpo.
teressante, mas a boca dos insensatos é 14 O coração que sabe discernir busca o
fonte de tolices. conhecimento; todavia, a boca dos in-
3 Os olhos do SENHOR estão em toda par- sensatos alimenta-se de tolices.
te: Ele observa atentamente os maus e os 15 Todos os dias são tristes para os que
bons! mantêm o coração aflito, mas a vida é

8 É impressionante o número de pessoas que vivem abaixo do nível de pobreza em todo o mundo. A falta de misericórdia e
cooperação efetiva daqueles que possuem bens e fartura, para com os que não têm a mesma chance, é uma atitude de desonra
ao nome do Senhor. Pois Deus criou tanto os ricos quanto os pobres, à sua imagem (19.17; 22.2; Jó 31.15; Tg 3.9; Mt 25.31-46).
9 Israel foi escolhida para receber as maiores bênçãos de poder, prosperidade e prestígio em todo o mundo, caso obedecesse às
leis de Deus (Dt 28.1-14). Os cananeus chegaram a ser expulsos de suas terras por causa do pecado que cultivavam (Lv 18.24,25).
Israel, contudo, por haver se rebelado contra os mandamentos do Senhor recebeu a mesma sentença (Dt 28.15-68; 2Sm 12.10).
Capítulo 15
1 As palavras pacíficas e sensatas de Gideão acalmaram a fúria dos homens de Efraim (Jz 8.1-3; Pv 15.18; Ec 10.4). Em con-
traste, a palavra ríspida e irônica de Nabal enfureceu Davi (1Sm 25.10-13).
2 Aqueles que estão afastados da verdadeira adoração a Deus também não terão suas orações ouvidas na hora da necessida-
de. O Senhor nem mesmo aceitará qualquer oferta ou sacrifício de pessoas que não o amam sinceramente (21.3,27; 3.32; Ec 5.1;
Is 1.11-15; Jr 6.20; Mt 7.21; 15.8). O Senhor ama e ouve todo aquele que busca a justiça (v.9; 21.21; 1Tm 6.11).
3 Nem mesmo no Além ou Abismo (em hebraico  Abadom), no Inferno ou Destruição – morte eterna - (em hebraico
 Sheol), em nenhum lugar, há qualquer segredo ou pensamento oculto ao pleno onisciente conhecimento do Senhor (Jó
26.6; Sl 88; 44.24; 139.8; Is 14.15; Am 9.2). Abadom é um dos títulos do Diabo em Apocalipse 9.11 (Sheol e Abadom aparecem
juntos novamente em Pv 27.20). Só o Senhor conhece perfeitamente a razão e os sentimentos mais íntimos de cada ser humano
(1Sm 16.7). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: Hell and Destruction are before the LORD: how much more then, the hearts
of the children of men?
167 PROVÉRBIOS 15, 16

agradável para as pessoas que buscam entretanto, mantém intactos os limites


alegrar a alma.4 da propriedade da pobre viúva.7
16 É melhor possuir poucos bens com o 26 Abomináveis são para o SENHOR os
temor do SENHOR do que ser rico e viver pensamentos dos maus, porém Ele se
infeliz. agrada sobremaneira de palavras since-
17 É melhor comer um prato de hortali- ras ditas com bondade.
ças, onde há amor, do que ter um boi ce- 27 O avarento coloca sua própria família
vado acompanhado de ódio na refeição.5 em apuros, mas quem repudia o suborno
18 A pessoa que se irrita facilmente pro- viverá mais e melhor.8
voca dissensão, mas o paciente acalma as 28 O justo medita antes de responder,
discussões. mas a boca dos ímpios faz jorrar o mal.
19 O preguiçoso encontra obstáculos por 29 O SENHOR está longe dos perversos,
onde quer que passe, mas a vereda dos mas seus ouvidos estão próximos à ora-
justos é uma estrada plana. ção dos justos.
20 O filho sábio proporciona alegrias a seu 30 Um olhar amigo consola e anima o co-
pai, mas o insensato despreza sua própria ração; uma boa notícia revigora a alma.
mãe. 31 Quem acolhe bem a repreensão cons-
21 As tolices alegram quem não tem bom trutiva terá sempre lugar entre os sá-
senso, mas a pessoa de entendimento bios!
prefere as atitudes corretas. 32 Quem recusa a disciplina despreza sua
22 Onde não existe conselho fracassam os própria pessoa, mas quem compreende a
bons planos, mas com a cooperação de repreensão adquire ainda mais entendi-
muitos conselheiros há grande êxito. mento.
23 Expressar a própria opinião é motivo 33 A sabedoria ministra o temor do SE-
de alegria; e como faz bem o conselho NHOR, e a humildade antecede a honra.9
certo na hora necessária!
24 A pessoa sábia escolhe o Caminho da O amor e a soberania do Senhor
vida, que conduz para cima, e assim evita
as trilhas que descem para o inferno.6
25 O SENHOR derruba a casa do arrogante;
16 Ao ser humano foi concedida a ca-
pacidade de planejar, entretanto, é
o SENHOR quem dá a palavra certa.1

4 Mesmo sob a cruz da pobreza, enfermidades e aflições, os filhos de Deus podem usufruir a alegria de confiar plenamente no
amor e no poder do Pai (1Pe 1.6-8).
5 A expressão “boi cevado” ou “boi gordo” refere-se às melhores e mais caras partes do boi (bifes suculentos), reservadas
apenas para pessoas e ocasiões muito especiais (7.14; Mt 22.4; Lc 15.23).
6 “O Caminho” e “Caminho da Vida” são também nomes de Jesus Cristo (Jo 14.6). É a obra e a pessoa de Jesus que nos
leva para cima, para os céus e para a plenitude da presença eterna de Deus, nosso Pai. Não são os nossos talentos, virtudes e
obras que nos promovem ao céu e evitam que sejamos atirados ao Abismo (Inferno, morte ou separação eterna de Deus); nossas
atitudes boas são apenas demonstrações práticas da Salvação que recebemos, e da fé que foi implantada em nossos corações
pelo Espírito do Senhor (Ef 2.8-10).
7 Na antiguidade oriental, os proprietários de terras usavam marcar os limites de suas terras com amontoados de pedras. Quem
movesse esses marcos do lugar original estaria correndo o risco de ser condenado por furto de terras (22.28; Jó 24.2; Dt 19.14).
8 O AT conta a história de como a cobiça de Acã foi responsável pela morte de toda a sua família em Jericó, e isso nos serve de
alerta e exemplo contra toda tentação de avareza (Js 7.14-26). Semelhantemente, jamais devemos oferecer ou ceder a subornos:
o final dessas antigas e desonestas práticas é sempre terrível (17.8; 28.16; Dt 16.19; 1Sm 12.3; Ec 7.7; 1Tm 6.10).
9 Os “mansos e humildes” herdarão a terra (Mt 5.5; 23.12; Lc 14.11; 18.14; Tg 4.10; 1Pe 5.6). A sabedoria se expressa de forma
sincera, branda e bondosa (11.2; 13.10).
Capítulo 16
1 A expressão hebraica original  “da língua”, aqui traduzida por “quem dá a palavra certa”, alerta a humanidade para o fato
de que, embora ao ser humano tenha sido dado o talento de “planejar” e a “criatividade”, somente Deus sabe o que é “certo”
e melhor; portanto, toda nova idéia ou bom planejamento deveria conter uma profunda reflexão, mediante oração e consulta às
Escrituras, buscando a direção e aprovação do Senhor (vv. 2,9; 19.21; 20.24; 31.30,31). A KJ de 1611 traduz este versículo assim:
The preparations of the heart in man, and the answere of the tongue, is from the LORD.
PROVÉRBIOS 16 168

2 Todos os caminhos do homem pare- 12 A prática da impiedade é abominável


cem certos aos seus olhos, mas o SENHOR para os governantes, porque com eqüi-
julga as verdadeiras motivações do co- dade deve ser estabelecido o poder.
ração.2 13 Os lábios justos fazem a felicidade do
3 Consagra ao SENHOR todas as tuas obras rei, e ele ama as pessoas que falam a ver-
e os teus planos serão bem-sucedidos. dade.
4 O SENHOR criou tudo o que existe com 14 A ira do rei é prenúncio de morte, mas
um propósito definido; até mesmo os o homem sábio consegue acalmá-lo.7
ímpios para o dia do castigo.3 15 A alegria no rosto do rei é sinal de
5 Abominável é ao SENHOR todo arrogan- vida; seu favor é como generosa nuvem
te de coração; é evidente que não ficará de chuva na primavera.
sem a devida punição. 16 É muito melhor conquistar a sabedo-
6 Por intermédio da misericórdia e da ria do que o ouro puro. É mais proveito-
verdade se faz expiação do pecado; e pelo so obter o entendimento do que a prata
temor do SENHOR, o ser humano evita mais valiosa.
todo o maligno.4 17 O caminho do justo evita o mal;
7 Quando as atitudes de uma pessoa são quem guarda seu caminho preserva sua
agradáveis ao SENHOR, até os inimigos alma!
dessa pessoa vivem em paz com ela, pela 18 A soberba precede a ruína, o espírito
vontade divina.5 arrogante vem antes da queda.
8 É muito melhor possuir poucos bens 19 Melhor é ter espírito humilde entre os
com honestidade do que riquezas com oprimidos do que repartir um grande es-
injustiça. pólio com os arrogantes.
9 Em sua alma, o homem planeja seus 20 Quem considera atentamente tudo o
caminhos, mas o SENHOR é quem deter- que fala, prospera, e feliz é aquele que
mina seus passos. confia no SENHOR.
10 Os lábios do rei falam com grande 21 O sábio de coração é considerado inte-
autoridade; contudo, sua boca não deve ligente; quem fala com equilíbrio tem o
jamais trair a justiça. poder de convencer os outros.
11 Equilíbrio e pesos honestos vêm do 22 O entendimento é fonte de vida para
SENHOR; por isso, Ele deseja que a balança aqueles que o possuem, mas a insensatez
seja usada com justiça.6 traz castigos aos tolos.

2 A compreensão do v.1 é iluminada pelos vv.2,3 e seguintes. Deus avalia as mais secretas e verdadeiras intenções do coração de
cada ser humano (14.12; 24.12; Sl 139.23; 1Co 4.4,5; Hb 4.12). Os alvos e objetivos alinhados com a vontade de Deus serão todos
plenamente alcançados, e haverá grande e permanente felicidade em suas realizações (1Pe 5.7; Pv 3.5,6; Sl 1.3; 55.22; 90.17).
3 Deus é absolutamente soberano, nada escapa ao seu controle pessoal em todo o Universo desde sempre. Portanto, ele
sabe que os ímpios renitentes não permitirão aos seus corações aceitar o dom divino da salvação. O ímpio é aquele que siste-
maticamente zomba do Senhor e de tudo o que se refere à salvação ou religião (do latim religio, como na Vulgata, no sentido de
“religar-se” a Deus – Tg 1.26-27); somente no final da História, o ímpio, o Maligno e a morte reconhecerão o poder e a majestade
do Senhor, mas será tarde demais; serão banidos para o castigo eterno, e nunca mais perturbarão os filhos de Deus (Ec 7.14; Rm
2.5-11; 8.28; Êx 9.16; Ez 38.22,23; Ap 20.14,15).
4 Quando uma pessoa ou todo um povo se arrepende das más escolhas que fizeram e, conseqüentemente, dos maus cami-
nhos pelos quais andaram (em afronta à vontade expressa de Deus em sua Palavra), o Senhor – mediante a pessoa e a obra do
seu Filho, Jesus, o Messias – perdoa todos os pecados e prepara o convertido (aquele que teve a rota da sua vida radicalmente
alterada da morte para a vida) para seu Reino e a vida eterna (1.7; 3.3; Os 4.1; Is 1.18,19; 55.7; Jr 3.22; Ez 18.23-32; 33.11-16;
Os 14.1-4).
5 Assim ocorreu na história dos reis piedosos Asa e Josafá (2Cr 14.6,7; 17.10; Pv 3.17; Rm 12.18; Hb 12.14).
6 Na antigüidade, os comerciantes costumavam levar em suas bolsas de couro, pedras especiais e de vários tamanhos a fim de
pesar e medir quantidades de prata para os pagamentos das mercadorias (Mq 6.11; Pv 21.2; 24.12; Jó 6.2; 31.6).
7 O humor do rei poderia determinar a morte de muitas pessoas que se aproximassem dele na hora errada, ou lhe provocassem
ainda mais a ira por algum motivo (19.12; Et 7.7-10; Mt 22.7; Lc 19.27). Por sua maneira de tratar o rei Nabucodonosor, Daniel nos
revela a atitude correta de uma pessoa sábia: buscar acalmar a alma daqueles que detêm o poder antes de lhes pedir qualquer
coisa (Dn 2.12-16).
169 PROVÉRBIOS 16, 17

23 O coração do sábio ministra à sua boca, A paz de Deus é melhor que o ouro
e seus lábios são hábeis para o ensino.
24 As palavras agradáveis são como um
favo de mel, são doces para a alma e revi-
17 Melhor é um bocado de pão seco
com paz e tranqüilidade do que a
casa repleta de carnes e contendas!
goram a saúde e a alegria de viver. 2 O servo prudente saberá controlar o fi-
25 Há caminhos que parecem certos ao lho de conduta vergonhosa e participará
ser humano, contudo, no final condu- da herança como um dos irmãos.1
zem à morte. 3 O ouro e a prata são provados pelo
26 A fome do trabalhador o obriga a traba- fogo, mas é o SENHOR que revela quem as
lhar; é o seu estômago que o impulsiona. pessoas realmente são.
27 O homem maligno está sempre à pro- 4 Os maus dão grande atenção às más
cura de praticar o mal; até mesmo suas notícias, assim como os falsos apreciam
palavras são como o fogo devorador. ouvir mentiras.
28 O homem perverso vive provocando 5 Quem zomba dos pobres revela des-
contendas, assim como o difamador, que prezo pelo Criador deles; quem se alegra
consegue separar os maiores amigos. com a desgraça dos outros não ficará
29 O homem violento alicia seu próprio muito tempo sem castigo.
amigo e o guia pelas trilhas do mal. 6 Os filhos dos filhos são uma gloriosa
30 Quem faz sinais maliciosos com os honra para os idosos, e os pais são o or-
olhos planeja o mal; quem franze os lá- gulho dos seus filhos.
bios já está a meio caminho da prática do 7 Os lábios eloqüentes não ficam bem ao
que é ruim.8 insensato; muito menos a língua menti-
31 O cabelo grisalho é uma coroa de ex- rosa ao governante.2
periência e esplendor, que deve ser con- 8 O suborno age como pedra mágica aos
quistada mediante uma vida justa.9 olhos de quem o oferece, e causa a ilu-
32 Muito melhor é o homem paciente são de que é possível comprar qualquer
que o guerreiro, mais vale controlar as pessoa.3
emoções e os ímpetos do que conquistar 9 Aquele que perdoa uma ofensa, cobre
toda uma cidade! a transgressão e demonstra amor, mas
33 A sorte é lançada no colo, mas a deci- aquele que a joga no rosto, separa os me-
são correta vem do SENHOR!10 lhores amigos.4

8 Era comum, no oriente antigo, os homens fazerem certas insinuações por meio de “piscadelas”, “acenos com as sobrance-
lhas” ou “franzindo os lábios” (6.13,14).
9 A vontade de Deus é que os idosos sejam pessoas sábias e amáveis, que ofereçam e recebam todo o respeito e consideração
na sociedade (Lv 19.32; Pv 3.1-26).
10 Os antigos judeus usavam certos “jogos sagrados” para compreender a vontade de Deus, especialmente em situações
difíceis de distinguir que decisão tomar. Aqui, vários pedregulhos eram depositados numa das dobras da roupa, em seguida
tirava-se uma das pedras que era atirada ao chão, fornecendo uma determinada interpretação (Êx 28.30; Nm 26.53; Ne 11.1;
Jn 1.7; Sl 22.18). Entretanto, a sorte (o final de determinada situação ou destino) não é fruto do acaso nem de forças cósmicas,
mas simplesmente dos desígnios de Deus para cada pessoa (1.1-7). Normalmente precisamos mais “fazer” o que já sabemos
que é vontade de Deus do que “saber” o que mais Deus tem para nós. Sempre que “fazemos” o que “já sabemos” ser vontade
de Deus (expressa claramente em sua Palavra), temos maior facilidade para compreender “o que mais” nos reserva o Senhor
(Lc 12.31,32).
Capítulo 17
1 José do Egito e Daniel são clássicos exemplos de “servos sábios” em todos os sentidos (Gn 41; Dn 1).
2 A expressão hebraica original  sheqer “da mentira” ou “mentiroso” significa, principalmente, “ser infiel” ou “enganoso”
(31.10). A mentira é, em última análise, “a ação de enganar mediante a palavra falada”; contudo, num sentido ampliado, qualquer
tipo de “comportamento traiçoeiro” se inclui nesta definição (2Sm 18.13).
3 O vocábulo hebraico  shohadh “o suborno” é a raiz da expressão original “dar presentes” como uma demonstração de
amizade e respeito, especialmente nos momentos de alianças políticas (1Rs 15.19; 2Rs 16.18). Contudo, desde o antigo oriente,
a expressão passou a designar “uma gorjeta ou gratificação maliciosa” como incentivo à perversão da justiça e da lei vigente
(Sl 26.10).
PROVÉRBIOS 17, 18 170

10 A repreensão produz marcas indelé- 21 O filho insensato só produz tristeza,


veis na pessoa de entendimento, mais e nenhum contentamento tem o pai do
fortes que cem chicotadas nas costas do que pratica tolices.
insensato. 22 O coração bem disposto é remédio de
11 O perverso só pende para a rebeldia; grande eficácia, mas a alma deprimida
por isso, a morte virá para ele como um consome até dos ossos do corpo todo o
mensageiro cruel.5 vigor.
12 Melhor é encontrar uma ursa da qual 23 O ímpio tem prazer em aceitar às es-
roubaram os filhotes do que um insen- condidas qualquer suborno, a fim de
sato demonstrando todas as suas toli- desviar o rumo da justiça.
ces. 24 A sabedoria é o grande objetivo das
13 A pessoa que costuma retribuir o bem pessoas realmente inteligentes, mas o
com o mal jamais afastará o mal de sua tolo não sabe nem o que o satisfaz de
própria casa. fato.
14 O início de um desentendimento é 25 O filho sem juízo é tristeza para seu pai
como a primeira rachadura numa enor- e amargura para sua mãe!
me represa; por isso resolva pacificamen- 26 Não há bom agouro em castigar o ino-
te toda a questão antes que se transforme cente, nem em açoitar quem merece ser
numa contenda destruidora. honrado.6
15 Há duas injustiças que o SENHOR abo- 27 Quem realmente detém o conhe-
mina: que o inocente seja condenado e cimento é comedido no falar, e quem
que o culpado seja colocado em plena possui o entendimento demonstra alma
liberdade como justo. tranqüila.
16 De que adiantam riquezas nas mãos 28 Até mesmo o tolo passará por sábio, se
do insensato, já que ele não deseja adqui- conservar sua boca fechada; e, se domi-
rir sabedoria? nar a língua, parecerá até que tem grande
17 O amigo dedica sincero amor em to- inteligência.7
dos os momentos e é um irmão querido
na hora da adversidade. Sabedoria para ouvir e ao falar
18 A pessoa sem juízo com um simples
aperto de mão se compromete, e logo se
torna fiador do seu próximo!
18 O solitário busca seu próprio in-
teresse e rebela-se contra a verda-
deira sabedoria.
19 Quem gosta de viver brigando ama o 2 O insensato não tem prazer no entendi-
pecado; quem age com arrogância está à mento, mas sim em fazer valer seu modo
procura da sua própria destruição. de vida.
20 O homem de coração maldoso jamais 3 Vindo a impiedade, vem também o des-
prospera de fato, e o de língua mentirosa prezo; e com a desonra, a vergonha.
logo cai em desgraça! 4 Águas profundas são as palavras articu-

4 A expressão hebraica  pesha tem o sentido de “ultrapassar os limites da justiça”, “rebelar-se” ou “fugir da Lei de Deus”;
errar o caminho proposto pelo Senhor. É a própria descrição da “apostasia” – afastamento deliberado e busca de um estilo de
vida mundano, materialista e impiedoso – (14.14; 16.12). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: He that couereth a transgres-
sion, seeketh loue; but he that repeateth a matter, separateth very friends.
5 A expressão original diz respeito ao “envio de um oficial de justiça ou soldado com ordem de prisão e açoites”. Temos o exem-
plo do envio de Abisai e Joabe para acabar com a rebelião de Sebá contra Davi (2Sm 20.1-22; 1Rs 2.25-46; Pv 16.14).
6 Quem julga ou condena precisa estar muito certo dos seus atos, caso contrário trará todo tipo de angústias, preocupa-
ções e dissabores sobre sua própria vida e família. Os sofrimentos imerecidos de Jeremias, assim como de todos os justos
sobre a terra, não ficarão impunes e jamais serão esquecidos por Deus (v.10; Jr 20.2; Gn 7.1; Dt 25.1; Sl 1.6; Mt 10.41;
23.34,35).
7 Este foi o comentário irônico de Jó com seus amigos, quando se desataram a falar sem conhecimento nem sabedoria, depois
de um bom tempo de empático silêncio (Jó 2.13; 13.5,13).
171 PROVÉRBIOS 18

ladas pelos seres humanos, mas a fonte 15 O coração do que possui discernimen-
da sabedoria é como um ribeiro trans- to adquire conhecimento, e o ouvido dos
bordante.1 sábios anseia por mais entendimento.
5 Não é direito favorecer os ímpios para 16 Um bom presente desobstrui a passa-
privar da justiça o justo.2 gem para aquele que o entrega, e o conduz
6 As palavras do insensato provocam con- à presença das pessoas que decidem.5
tendas, e sua língua clama por açoites. 17 A primeira pessoa a apresentar sua
7 A boca do insensato é sua própria des- causa sempre parece ter razão, até que
graça, e seus lábios, uma verdadeira cila- outra pessoa venha à frente e defenda
da para sua alma. sua tese.6
8 As palavras do caluniador são como fi- 18 Quando os poderosos se enfrentam no
nas iguarias: descem até o íntimo do ser tribunal, lançar as pedras da sorte indica
humano.3 uma decisão para as questões.7
9 Quem é negligente no seu trabalho é 19 É muito mais difícil reaver a amizade
irmão do destruidor. de um irmão ofendido que conquistar
10 O Nome do SENHOR é Torre Forte, sob uma cidade fortificada; e as discussões
a qual o justo busca refúgio e permanece são como as grandes portas trancadas de
seguro!4 um castelo.
11 Os bens dos avarentos constituem sua 20 Do fruto da boca o coração se farta; a
cidade fortificada: eles imaginam que ela língua faz todo o corpo responsável pelas
seja inexpugnável. conseqüências de suas palavras!
12 Pouco antes da sua queda, o coração 21 A língua tem poder sobre a vida e so-
do homem se enche de arrogância; a hu- bre a morte; os que a usam habilmente
mildade, contudo, antecede a honra! serão recompensados.8
13 Quem responde antes de ouvir comete 22 Quem encontra uma esposa descobre
grande tolice e passa vergonha! algo excelente: recebeu uma bênção es-
14 A alma bem disposta sustém o ser hu- pecial do SENHOR.
mano durante sua doença, mas o espírito 23 O pobre se expressa com súplicas, mas
deprimido, quem o pode suportar? o rico avarento responde com arrogância.

1 O coração e os pensamentos humanos são complexos e obscuros (20.5); a ministração do sábio, entretanto, refrigera a alma;
e suas palavras são como fonte inesgotável de vida e criatividade (1.23; 10.11; 13.14).
2 Todas as pessoas, independentemente de classe social, raça, cor, credo e cultura, devem ter pleno acesso ao direito e a
um julgamento justo. Qualquer tipo de favoritismo foi expressamente condenado na Lei do Senhor (Lv 19.15; Dt 1.17; 16.19; Pv
17.26; 31.5; Ml 3.5).
3 As conversas do caluniador ou difamador se apresentam deliciosas como os mais saborosos petiscos; chegam a parecer
palavras de sabedoria (16.21,23), mas acabam promovendo grandes discórdias e dissensões (11.13; 26.20-22). Alojam-se no
íntimo das pessoas e, mesmo após sua digestão, continuam vivas e ativas no organismo.
4 Na tradição judaica, a expressão “o Nome” significa a própria pessoa, sua presença e personalidade, pois diz respeito à
sua natureza e qualidades (caráter). Em sentido “lato” (amplo), “o Nome” quer dizer “a Palavra de Deus”, “a Verdade”, “o Todo-
poderoso”. Esses são alguns dos sentidos da expressão literal hebraica   “é o Nome de Yahweh”, ou seja, “Jeová, Javé ou
Iavé”. Esses são os nomes nos quais confiamos e somos seguros. Nossa torre forte e nosso castelo inexpugnável é o nosso Deus
(Êx 3.14,15; Sl 18.2; 27.5; 91.2; 144.2; Pv 29.25). Os ímpios elegem seus bens, talentos e riquezas, como seu deus (v.11; Mt 6.24).
A KJ de 1611 traduz este versículo assim: The name of the LORD is a Strong Tower, the righteous runneth into it, and is safe.
5 O autor deste provérbio apenas está relatando uma prática que começava a se tornar rotineira em sua época: presentear
as pessoas responsáveis por selecionar aqueles que teriam o privilégio de expor suas causas diante dos supremos juízes ou,
eventualmente, do próprio monarca, ou seu representante direto (17.8). Deus, entretanto, é insubornável e está sempre disponível
para nos receber e ouvir atentamente, em sessão exclusiva e particular (2Cr 7.14,15).
6 Uma advertência aos juízes, magistrados, senhores, pastores, conselheiros, pais e educadores em geral: é sempre fundamen-
tal ouvir bem, e sem preconceitos, todas as partes envolvidas numa questão a ser dirimida (Dt 1.16).
7 Lançar as pedras da sorte ou “dados sagrados” era uma antiga e tradicional prática judaica quando se desejava determinar
que direção ou qual a melhor decisão a ser tomada, e evitar contendas prolongadas e desnecessárias (16.33; Mt 27.35).
8 A língua é uma bênção quando usada sob o controle do Espírito de Deus, de outra forma, pode ser um desastre e motivo de
grandes desgraças (Tg 3.1-12; Mt 5.22).
PROVÉRBIOS 18, 19 172

24 Cuidado! As muitas amizades podem trolar seu gênio, e sua grandeza está em
levar à ruína, mas existe amigo mais che- ser generoso e perdoador com quem o
gado que um irmão. ofende!2
12 A ira do rei é como o rugido de um
O pobre sábio e o rico avarento leão enfurecido, entretanto sua bondade

19 Melhor é o pobre que vive com


integridade do que o insensato
que só fala tolices.
é como o orvalho que desce suave sobre
a relva.
13 Um filho sem juízo pode levar seu pai
2 Não é proveitoso ter zelo sem discerni- à desgraça; a esposa murmuradora e bri-
mento, nem ser precipitado e desviar-se guenta é como uma goteira que não pára
do Caminho.1 de gotejar.
3 A perversidade do ser humano corrom- 14 Um homem pode herdar dos seus pais
pe sua vida, mas é contra o SENHOR que casa e dinheiro, mas somente o SENHOR
sua alma se rebela. pode conceder uma esposa sábia.
4 A fortuna produz muitos amigos, mas até 15 A indolência conduz ao sono profun-
o melhor amigo do pobre o abandona! do, e o preguiçoso passa fome.
5 A testemunha falsa não permanecerá 16 Quem obedece às Leis do SENHOR vive
sem o devido castigo, e aquela pessoa mais e melhor; quem despreza a Palavra
que ventila mentiras não escapará im- de Deus certamente encontrará a morte
pune. eterna.
6 São muitos os que têm prazer em adu- 17 Quem trata bem os pobres empresta ao
lar os governantes, e todos são amigos de SENHOR, e Ele o recompensará regiamente!3
quem dá valiosos presentes. 18 Disciplina teus filhos enquanto eles
7 O pobre é desprezado por todos os seus têm idade para aprender; não cooperes
parentes, quanto mais por seus amigos! para a morte deles!
Ainda que os procure para lhes pedir aju- 19 A pessoa iracunda tem de sofrer as
da, não os encontra em lugar nenhum. conseqüências do seu mau gênio; por-
8 O que adquire entendimento ama sua quanto, se tu a livrares, virás a ter de re-
própria alma; o que preserva a inteligên- petir tal ajuda vez após outra.
cia encontra o bem. 20 Presta bastante atenção aos sábios con-
9 A falsa testemunha não viverá sem cas- selhos, e recebe de coração a orientação,
tigo, e o que profere mentiras perecerá. assim alcançarás a sabedoria.4
10 Não fica bem que os tolos vivam luxuo- 21 O ser humano pode fazer muitos pla-
samente; mais ridículo ainda é o servo do- nos; contudo, quem decide é Deus, o SE-
minar os príncipes. NHOR!
11 Sábio é o homem que consegue con- 22 O que se espera do ser humano é seu

1 O religioso fundamentalista precisa ter cuidado em não confundir “zelo” com “legalismo”. O apóstolo Paulo, por exemplo, foi
“zeloso”; porém – quando seu coração foi convertido por Jesus, o Caminho (At 19.23; 22.4; 24.22) – ele reconheceu que neces-
sitava “nascer de novo” para poder ver a História e o Reino com “discernimento” e “real conhecimento espiritual” (Rm 10.2; At
9.1-19; Jo 3). Em hebraico, “desviar-se do caminho” tem muitas vezes a conotação de “pecar”.
2 A expressão hebraica original transliterada em shēkhel, proveniente da raiz shãkhal, significa “ser hábil”, “perspicaz” ou “sá-
bio”. Em sua forma causativa, produz o vocábulo moskil, cuja amplitude semântica engloba as idéias de “ensinar com esmero”,
“ter perícia e maestria”, “ser amoroso e compreensivo” (3.4; 16.20). Saber controlar os impulsos agressivos, retardar a ira e man-
ter a calma é ser “longânimo” (em grego no NT makrothumia), virtude gerada pelo poder do Espírito Santo (Gl 5.22).
3 Deus considera todo o bem, ajuda e cooperação prestada aos pobres, como uma oferta (presente) entregue a ele pessoal-
mente (Mt 25.40; Lc 12.33; Pv 14.21,31). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: He that hath pity vpon the poore, lendeth vnto
the LORD, and that which he hath giuen, will he pay him againe.
4 O substantivo hebraico original transliterado em müsar, derivado da raiz yãsar “repreender”, “castigar”, em sua forma cau-
sativa tem o sentido amplo de “ensino, disciplina e castigo para correção de erro”. A amplitude semântica do termo engloba as
idéias de “instrução bíblica sobre a vida; conhecimento, disciplina, entendimento, discrição e inteligência”, todos componentes
do “sábio conselho” (17.18; 19.11; 21.30; 29.15).
173 PROVÉRBIOS 19, 20

amor leal; é muito melhor ser conhecido meçar uma briga; quem consegue por fim
pelos poucos recursos conquistados do às contendas é que merece honrarias.
que pelas muitas mentiras ditas!5 4 O preguiçoso não ara a terra por causa do
23 O temor do SENHOR conduz à Vida; clima frio; no entanto, na época da colhei-
quem ama sinceramente a Deus viverá ta procura por frutos, mas nada encontra.
em paz e segurança! 5 Como águas profundas são os propósitos
24 O preguiçoso põe a mão no prato, e do coração humano; todavia, quem tem
não se dá ao trabalho de levar o alimento discernimento sabe como trazê-los à tona.
até à boca! 6 Muitos proclamam sua própria benig-
25 Açoite o rebelde e zombador, e os nidade; contudo, o homem fiel, quem o
desajuizados aprenderão a prudência; achará?
repreende o homem que possui discer- 7 O justo caminha na sua integridade; fe-
nimento, e ele ganhará ainda mais enten- lizes serão os filhos de sua descendência.
dimento! 8 Assentando-se o rei em seu trono, para
26 O filho que é capaz de roubar o pai, e julgar, com apenas um olhar discerne o
que expulsa a mãe de casa, não tem ver- que está ocorrendo de mal.
gonha nem qualquer valor humano.6 9 Quem pode declarar: “Tenho consciên-
27 Filho meu, se deixas de ouvir a instru- cia limpa! Estou livre de todos os meus
ção, logo te afastarás dos ensinos capazes pecados”?2
de te dar a verdadeira inteligência! 10 Dois pesos e duas medidas; pesos
28 A testemunha corrupta zomba da jus- adulterados e medidas falsificadas são
tiça, e a boca dos ímpios tem fome de desonestidades abomináveis ao SENHOR.
iniqüidade. 11 Até mesmo uma criança revela sua
29 Preparados estão os juízos para todos personalidade mediante suas ações; seu
os rebeldes e escarnecedores, assim como procedimento demonstrará o quanto ela
os açoites para as costas dos perversos! é sincera e bondosa.
12 Os ouvidos que ouvem e os olhos que
A sabedoria vale mais que ouro puro vêem foram feitos pelo SENHOR.

20 O vinho é escarnecedor e a bebida


alcoólica induz a brigas; não é in-
teligente deixar-se dominar por elas!1
13 Não ames o sono, para que não empo-
breças; abre os olhos e te fartarás do teu
próprio alimento.
2 O medo que o rei provoca é como o 14 “Não vale tudo isso! Não tem esse
bramido de um leão; quem o irrita colo- valor!”, exclama o comprador; contudo,
ca em risco a própria vida. quando se vai, gaba-se de ter realizado
3 Qualquer pessoa tola tem o poder de co- um ótimo negócio.3

5 A expressão hebraica original , transliterada em hesedh, comunica a “graça fiel de Deus que perdoa e transforma”. É o
“amor leal” que tantas vezes aparece nos textos do profeta Oséias, e que pode ser traduzido em português como “misericórdia”
ou “benignidade” (14.22; 20.6; Mt 5.7; 18.23-35; Lc 6.36; 11.4).
6 Segundo a Lei e a tradição judaicas, os filhos devem cuidar dos pais idosos com todo carinho e respeito (Is 51.18). Assim como
os pais devem abençoar seus filhos com a sabedoria e os bens que acumularam durante a vida (Gn 31.14; Nm 27.8; Sl 127.3; Pv
13.22). Furtar, enganar ou agredir os pais eram considerados crimes graves (Jz 17.1,2; Êx 21.15,17; Pv 10.5; 13.5; Mc 7.11-13).
Capítulo 20
1 O livro de provérbios associa embriaguez a pobreza (23.20,21; Os 7.5), a desavenças e crimes (23.29,30) e a injustiça (31.4,5).
O sábio não se deixa dominar por nada, a não ser pelo Espírito de Deus (Gn 9.21; Is 28.7). O álcool é a droga mais vendida em
todo o mundo, em nossos dias. Na fermentação alcoólica das bebidas, o ácido pirúvico (3C) é descarboxilado e, dessa maneira,
liberta CO2 e origina uma molécula de etanol (C2H5OH).
2 Nenhum ser humano está completamente isento de pecado (Jó 14.4; Rm 3.23), mas aqueles cujos erros e pecados foram
perdoados podem se considerar justificados e, portanto, limpos diante do Senhor e da humanidade (Sl 24.4; 51.1-10; Mt 5.8; Jo
13.8,9; 15.3).
3 Pechinchar exaustivamente, a ponto de se ridicularizar o valor real do produto que se deseja comprar, com o fim de pagar o
menor preço pelo objeto desejado, é um antigo costume nascido no oriente médio, ainda em voga em muitos países, especial-
mente ao norte da África e no mediterrâneo.
PROVÉRBIOS 20 174

15 Mesmo onde existam muito ouro e pe- 22 Não murmures: “Eu te farei pagar pelo
dras preciosas, os lábios que comunicam mal que me fizeste!” Entrega a tua vindi-
sabedoria são mais valiosos que uma jóia cação ao SENHOR, e Ele te dará a vitória!9
rara.4 23 O SENHOR detesta quem se utiliza de
16 Tomem-se as vestes de quem serve medidas e pesos desonestos!
de fiador ao estranho; sirva sua própria 24 Os passos do ser humano são dirigi-
roupa de penhor àquele que der garantia dos pelo SENHOR. Como seria possível a
a uma mulher leviana.5 alguém discernir perfeitamente seu pró-
17 Deliciosa é a comida conquistada por prio destino?
meio de ardis e mentiras, contudo, em bre- 25 Cuidado! É uma cilada consagrar algo
ve ela se transforma em areia na boca!6 como Santo, mediante uma declaração
18 Os planos realizados mediante sábios irrefletida, e só mais tarde pensar em to-
conselhos têm bom êxito; mesmo na das as conseqüências do voto feito.10
guerra é necessário uma boa estratégia. 26 O rei sábio descobre quem está pra-
19 Quem vive contando casos sigilosos ticando perversidades e o castiga com a
não sabe guardar segredos; portanto, evi- máxima severidade.11
ta a companhia de quem fala demais. 27 O espírito do homem é a lâmpada do
20 Se amaldiçoares o teu pai e a tua mãe, SENHOR, a inteligência e o discernimento
a luz da tua vida se extinguirá na mais humano revelam tudo o que se passa no
profunda das trevas.7 corpo.
21 A conquista gananciosa e antecipa- 28 A bondade e a lealdade preservam o
da de uma herança não terá um final rei; por sua benignidade, ele dá firmeza
abençoado!8 ao seu trono.12

4 Aqui os termos “sabedoria”, “instrução” e “conhecimento” podem ser intercambiáveis, assim como a expressão original e lite-
ral “rubis” ou “pérolas” tem o sentido ampliado de “jóia rara e muito valiosa” (3.14,15; 8.10,11). A KJ de 1611 traduz este versículo
assim: There is gold, and a multitude of Rubies: but the lips of knowledge are a precious iewell.
5 A lei judaica da época facultava ao credor tomar as roupas de um devedor inadimplente como pagamento ou garantia de
dívida. O fiador de uma pessoa que não conhece bem (no caso judaico, de um gentio ou estranho), ou de uma mulher de má
reputação e, portanto, de confiabilidade duvidosa, poderá ficar sem suas próprias roupas para saldar a responsabilidade de uma
dívida (fiança) assumida (Dt 24.10-13).
6 No Brasil há um dito popular que afirma: “tudo que é gostoso faz mal, engorda ou é pecado”. A verdade não está longe da
sabedoria popular, neste caso. A “Insensatez” ou “a mulher adúltera” são um exemplo claro de quanto o mal e o erro parecem
atraentes e prazerosos; entretanto, logo essas experiências se tornam em sofrimento e amargura, como bem ilustra a metáfora
neste versículo: “mastigar areia” (9.13-18). Zofar faz observação semelhante em Jó 20.12-18, cerca de 2000 a.C.
7 Atitudes de violência física ou verbal (palavras cruéis e amaldiçoadoras) contra os pais eram crimes sujeitos a pena de morte
entre os antigos judeus (Lv 20.9; Pv 13.9; 30.11,17).
8 Em geral, as pessoas mais ávidas por dinheiro são as que mais o perdem de um modo ou de outro. Essa foi a triste opção
do “filho perdulário”, mas que – depois de muita humilhação e sofrimento – encontrou o perdão e a plena acolhida do pai, para
recomeçar sua vida em bases mais justas e sábias (Lc 15.11-32).
9 A vingança, mesmo no AT, é prerrogativa exclusiva de Deus, pois ele é o único que retribui a cada um com amor e justo rigor,
sempre com o objetivo de instruir, corrigir e salvar o faltoso e perdido. A vingança humana é uma punição destrutiva, pois sempre
emprega maior força e intensidade do que o mal recebido e, portanto, acaba tornando-se também injusta. Assim, o mais sábio é
entregar toda a vindicação (reclamação; exigência de direitos e juízo) aos cuidados do Senhor, e esperar com fé por sua resposta.
Há uma clara promessa de “vitória” para quem confiar na vingança do Senhor contra os perversos, por suas ações malignas (Dt
32.35; Sl 27.14; 37.34; 94.1).
10 Era um costume judaico, especialmente no AT, os crentes em Deus fazerem votos ou consagrarem (santificar) determinados
objetos ou lugares (e até mesmo as próprias pessoas e familiares), como um “presente” ao Senhor, por uma bênção especial
recebida (Lv 27.1-25; Dt 23.21; Jz 11.30-35; 1Sm 1.11). Contudo, a “Sabedoria” – conhecedora que é das fraquezas e leviandades
humanas – prefere aconselhar ao homem que não faça votos ou consagrações alopradas, sem uma séria e profunda reflexão,
evitando erro ainda maior do que seria o não cumprimento de uma promessa pessoal a Deus (Ec 5.4-6).
11 A KJ de 1611 apresenta a tradução literal deste versículo: A wise king scattereth the wicked, & bringeth the wheele ouer them.
“O rei sábio joeira os ímpios e faz passar sobre eles a roda.” A “roda” refere-se ao trilhador que separava os grãos da palha. Os
ímpios serão peneirados, e devidamente castigados no fogo, no Dia do Juízo (28.27,28; Ap 14.7,8).
12 Ao contrário do que diria Maquiavel, muitos séculos mais tarde, a verdadeira benevolência, honestidade e generosidade é
que tornam um rei ou qualquer governante muito querido por seus súditos ou eleitores, e proporcionem grande e efetivo incentivo
175 PROVÉRBIOS 20, 21

29 O esplendor dos jovens está na sua for- 8 O culpado adiciona erros ao seu cami-
ça; e a glória dos idosos, nos seus cabelos nho tortuoso; no entanto, a conduta do
brancos. inocente é reta.
30 As marcas e os ferimentos eliminam o 9 É melhor morar só, no fundo de um
mal; as provações e os açoites purificam quintal, do que dentro de uma mansão
as profundezas da alma.13 com uma mulher murmuradora e bri-
guenta!
Deus controla o coração dos reis 10 A alma do ímpio anseia por praticar

21 O coração do rei é como um ri-


beiro de águas caudalosas nas
mãos do SENHOR; este o inclina para onde
o mal; aos seus olhos ninguém merece
bondade.
11 Quando o zombador é castigado, a
deseja.1 pessoa inexperiente ganha sabedoria;
2 Todo caminho do homem é reto a seus quando o sábio recebe instrução, obtém
próprios olhos, mas Yahweh, o SENHOR, é pleno conhecimento.
quem julga suas motivações mais íntimas.2 12 O Justo observa a atitude dos ímpios e
3 Praticar o que é justo e certo é mais os faz cair em desgraça!
aceitável ao SENHOR do que o ofereci- 13 Quem fecha os ouvidos às súplicas dos
mento de sacrifícios.3 pobres, um dia também clamará e não
4 Olhar altivo, coração arrogante são os receberá qualquer resposta!
sinais mais claros da vida pecaminosa 14 O presente que se entrega em segre-
dos ímpios.4 do acalma a ira, e o suborno oferecido às
5 Os projetos bem elaborados do homem ocultas apazigua os maiores acessos de
trabalhador redundam em fartura; o de- fúria.
sesperado acaba sempre na miséria. 15 Quando se faz justiça, os justos ficam fe-
6 As riquezas conquistadas mediante lín- lizes, entretanto isso apavora os perversos!
gua mentirosa são ilusão passageira e ci- 16 A pessoa que se desvia do caminho da
lada que pode levar à morte. sensatez na assembléia dos mortos per-
7 A própria violência dos ímpios se en- manecerá.
carregará de destruí-los, porque se ne- 17 Quem se entrega desvairadamente aos
gam a fazer o que é certo. prazeres passará necessidade; quem se

ao desenvolvimento real da cidadania e do senso de cooperação social e comunitária. A pátria deve, de fato, ser “mãe gentil”
(3.3; 14.22; 16.12; 29.14).
13 Muito se pergunta sobre o porquê de pobreza, doenças, guerras, cataclismos e sofrimentos sobre a terra. Uma das respostas
é a sabedoria divina clamando às consciências dos povos para que se voltem para Deus, o Criador do Universo, e o adorem
com sinceridade de coração, obedecendo à sua Palavra e a seus mandamentos. Os ímpios, perversos e tolos, apesar de tudo,
não aprendem; justamente porque são insensatos (10.13; 14.3; 19.29; 17.10; 27.22). Esses males não podem ser considerados
“castigos” sobre os filhos de Deus, mas provações, uma vez que o “castigo” dos crentes estava sobre Jesus, o Messias (Is 53.5;
Rm 1.16,17; 10.10; 11.11; 13.11).
Capítulo 21
1 Nada e ninguém resiste ao controle soberano de Deus; portanto, quando alguma coisa ou pessoa parece impedir nosso
progresso, apesar do nosso esforço e trabalho, o melhor é entregarmos esse caso ao Senhor em oração (20.22). Até mesmo
reis ímpios e poderosos, como Nabucodonosor e Ciro tiveram suas vontades controladas pela ação do Espírito de Yahweh (Dn
4.31-35; Is 45.1-3; Ed 6.22).
2 Transliteração do tetragrama hebraico  YHWH em Yahweh (Iavé, Javé ou Jeová) – Nome (que na tradição hebraica revela
o próprio caráter do seu possuidor) Santo e impronunciável de Deus (Gn 12.8; 13.4; 26.25; Êx 3.11-15), traduzido em toda a Es-
critura e, especialmente no AT, como “Senhor”. Neste capítulo, a KJ faz constar a transliteração ao lado da tradução adotada em
português, com o intuito de salientar esse esclarecimento. Os pensamentos e intenções dos seres humanos parecem coerentes
e justificáveis para cada pessoa, mas somente o Senhor julga perfeitamente, e seu Espírito pode nos revelar se estamos agindo
corretamente (14.12; 16.2; 24.12; Jó 31.6; Sl 139.23; 1Co 4.4,5; Hb 4.12).
3 Esta foi a advertência que os profetas nos deixaram (Os 6.6; Mq 6.7,8), que o profeta Samuel repete ao infiel, prepotente e
tresloucado rei Saul (1Sm 15.22,23) e com que Jesus, o Messias nos admoesta (Mc 12.33).
4 A arrogância, própria dos ímpios, tira a fé devida a Deus e a coloca erroneamente no “eu” humano (Sl 18.26-28; Hb 11.6).
PROVÉRBIOS 21, 22 176

apega ao vinho e à carne gorda jamais ouvir e se informar poderá falar para
será rico!5 sempre.
18 O perverso servirá de resgate para o 29 O ímpio finge que é confiante, mas
justo, e o traidor, no lugar do fiel.6 somente o justo permanece firme no Ca-
19 Melhor é morar numa região deserta minho!
do que na companhia de uma mulher 30 Não há inteligência alguma, nem co-
amargurada e briguenta. nhecimento algum, nem estratégia al-
20 Na casa do sábio há riquezas poupadas guma que consiga opor-se à vontade do
e alimentos armazenados; o insensato, SENHOR.
entretanto, engole tudo o que pode num 31 Os homens podem preparar seus ca-
instante. valos para o dia da batalha, mas somente
21 Quem busca a retidão e o amor leal Yahweh, o SENHOR é quem dá a vitória!10
terá vida longa e será tratado com respei-
to e justiça. O bom Nome vale mais que prata
22 O sábio conquista a cidade dos valentes
e destrói a fortaleza em que eles confiam.7
23 Quem reflete antes de falar evita mui-
22 A boa reputação é mais importan-
te que muitas posses; desfrutar de
boa estima vale mais que prata e ouro.
tos dissabores e sofrimentos. 2 O rico e o pobre têm algo precioso em
24 Insolente, soberbo, seu nome é “zom- comum: o SENHOR é o Criador tanto de
bador”! Ele sempre age no ardor de sua um quanto do outro.
arrogância. 3 O prudente percebe o perigo e busca
25 O preguiçoso é aquele que morre “de- refúgio; o incauto, contudo, passa adian-
sejando”, mas nunca põe de fato as mãos te e sofre as conseqüências.
no trabalho!8 4 A recompensa ao temor do SENHOR e ao
26 Os dias se passam, e ele “desejando” comportamento humilde são a riqueza, a
mais e mais, enquanto o justo reparte honra e a vida!
sem parar o que granjeia.9 5 Nas trilhas dos perversos existem espi-
27 Os sacrifícios dos ímpios já por si são nhos e ciladas; quem deseja proteger a
absolutamente inaceitáveis; tanto mais própria vida deve afastar-se deles.
quando oferecidos com más intenções. 6 Ensina a criança no Caminho em que
28 A testemunha falsa acabará sendo con- deve andar, e mesmo quando for idoso
denada à morte, mas a pessoa que sabe não se desviará dele!1

5 A expressão hebraica literal   “o vinho e o ungüento” fica melhor traduzida para o português como “o vinho e os
alimentos gordurosos” ou “carne gorda”. O vinho e o ungüento (azeite) faziam parte dos festejos suntuosos da época (23.20,21;
Am 6.6). O azeite puro era também empregado na produção de preciosos bálsamos, loções e perfumes (Jo 12.5).
6 Na antigüidade, Deus entregou três nações à Pérsia, em troca da liberdade dos exilados de Judá (Is 43.3,4; Pv 11.8).
7 Conforme os originais, uma outra maneira de dizer: “a sabedoria é mais operosa e eficaz que a força bruta” (24.5; Ec 9.16).
O apóstolo Paulo ensinou a Igreja de Cristo a usar as armas da espiritualidade para derrubar todas as fortalezas do pecado e do
maligno (2Co 10.4).
8 Aqui temos dois personagens muito comuns: o “zombador” e o “desejando”; o primeiro, que vive escarnecendo de Deus e de
todos que têm fé, é motivo de riso e desprezo de Deus (1.22; 3.34; 19.25,29; 21.11). O “desejando” é o preguiçoso que sempre
tem uma boa desculpa para relaxar e descansar em vez de dedicar-se a qualquer trabalho digno (6.6; 13.4).
9 O justo e prudente é aquele que não enjeita trabalho, ainda que mal remunerado; não esbanja o que recebe e procura poupar
para o futuro. Apesar de toda essa dedicação, não é avarento, pois movido pelo Espírito de Deus, usa de generosidade para com
os necessitados e coopera alegremente com os mais pobres que se esforçam (Sl 37.26; 112.9; Ef 4.28).
10 Por toda a Escritura há advertências do Senhor quanto a colocarmos nossa total confiança em pessoas e coisas, mesmo nas
mais sofisticadas tecnologias. Nossa fé deve ser oferecida em sua plenitude somente a Deus, Yahweh, e nele devemos descansar
nossa alma, por ele movendo nossa mente e força de trabalho operoso (Sl 3.8; 20.7; Os 1.7; Dt 17.16; 1Sm 17.47).
Capítulo 22
1 Os pais que são crentes em Deus e andam no Caminho (segundo o Espírito e a Palavra do Senhor Jesus, o Messias – 2Sm
22.31; Is 40.3; Jr 32.39; Mt 7.13; 11.10; Lc 20.21; At 9.2), devem ensinar (inclusive mediante o testemunho pessoal de uma vida
regenerada) seus filhos, desde a mais tenra idade, a amar e obedecer à Palavra de Deus, pois assim como são instruídos na
177 PROVÉRBIOS 22

7 O rico domina sobre os pobres, o que Os trinta ditados dos Sábios


toma emprestado se torna servo do que 17 Inclina teu ouvido e presta toda aten-
empresta. ção aos ditados dos sábios; aplica teu co-
8 Quem semeia injustiça colherá desgraça, ração ao meu ensino,
e o castigo de sua soberba será completo. 18 porquanto terás grande satisfação em
9 O homem generoso será abençoado, por- guardá-los em teu íntimo!
quanto reparte seu pão com o necessitado.2 19 Para que a tua confiança seja deposi-
10 Lança fora o escarnecedor, e com ele tada toda no SENHOR, vou instruir hoje
irá a contenda; cessarão as demandas e também a ti.
a ignomínia. 20 Porventura, não te escrevi trinta ditados
11 O que ama a sinceridade de coração e é com orientações e conselhos excelentes,5
grácil no falar será amigo do rei!3 21 com o objetivo de te ensinar princípios
12 Os olhos do SENHOR protegem o verda- dignos de confiança, para poderes res-
deiro conhecimento, mas Ele confunde ponder com verdade ao que te envia?6
os discursos dos traidores. 22 Não explores o pobre, por ser fraco,
13 O preguiçoso sempre alega: “Há um nem oprimas os necessitados no tribu-
leão lá fora! Serei morto se sair à rua!”4 nal,
14 A conversa da mulher imoral é uma ci- 23 pois o SENHOR será o Advogado de-
lada profunda; nela permanecerá quem les, e despojará a vida dos que os
estiver sob a ira do SENHOR! defraudaram!7
15 A tolice mora naturalmente no cora- 24 Não te associes com quem vive de mau
ção das crianças, mas a vara da correção humor, nem caminhes em companhia da
as livrará dela! pessoa iracunda;
16 Quem enriquece à custa de oprimir 25 para que não te acostumes com seus
o pobre, assim como quem adula, com modos, e não acabes caindo em uma ci-
presentes, os ricos, certamente passará lada mortal.8
necessidade! 26 Não imites a pessoa que com um sim-

meninice é de se esperar que cresçam e gerem muitos discípulos na graça e no conhecimento do Senhor. A instrução e a dis-
ciplina (ou correção) andam sempre juntas em benefício do sábio, desde a infância até a vida madura (Gn 18.19; 1Rs 8.63; Pv
1.8; 4.11; 22.15).
2 O vocábulo “generoso” vem da expressão hebraica e literal “bons olhos”, que se refere à pessoa que consegue olhar as
qualidades, talentos, bens e bênçãos do seu próximo “com alegria sincera” (1Co 13.6). A inveja é um sentimento maligno e
exatamente contrário a este, considerado pelos antigos judeus como ayin horeh, em hebraico, e ayin harsha em aramaico, “mal
do olho” ou “mau olhado” (23.6).
3 Uma das características dos sábios não é a exaltação, muito menos qualquer manifestação de descontrole emocional ou ira,
mas elegância, educação e habilidade em se expressar com calma, clareza e argumentos conclusivos (Ec 10.12). Os “puros” não
são aqueles que nunca se sujaram, mas os que foram “limpos eternamente” pela ação poderosa do sangue vicário do Messias,
aspergido na Cruz do Calvário (Mt 5.8; Hb 9.14; Sl 24.4).
4 O preguiçoso é pródigo em boas desculpas para driblar o trabalho, as responsabilidades, e continuar a fazer o que alguns
chamam de “ócio criativo”, ou seja, “nada” (6.6).
5 A expressão hebraica , transliterada em šlšwm, tem sido alvo de vários estudos exegéticos. Muitos lingüistas a tradu-
zem como “cousas excelentes”; na Septuaginta (LXX – a mais antiga e prestigiada tradução grega do AT) e na Vulgata (tradução,
de Jerônimo, do AT para o latim), aparece a expressão “triplamente” ou “trinta ditos”. De fato, aqui começa uma seção (de 22.22
a 24.22) que pode ser dividida em 30 tópicos específicos sobre atitudes sábias fundamentais. Alguns arqueólogos e biblistas
acreditam que esse conjunto de princípios seja uma resposta ou diálogo com o antigo livro egípcio “Sabedoria de Amenemope”,
sábio gentio muito conhecido entre os intelectuais judeus na época de Salomão. Era comum os judeus admirarem a sabedoria de
outros povos e promoverem reuniões de intercâmbio cultural, embora, evidentemente, não pudessem apoiar a religiosidade nem
os profetas pagãos. Salomão e Daniel foram considerados muito mais excelentes do que todos os sábios de Israel e dos países
vizinhos (1Rs 4.30-34; 10.1-13,24; Dn 5.11,12).
6 Era costume um sábio ser enviado para algum projeto missionário por seu pai ou mestre superior (1Pe 3.15).
7 O Espírito do Senhor é o grande advogado dos oprimidos e daqueles que não têm acesso à justiça plena, por serem pobres
(Êx 22.22-24; Sl 12.5; 140.12; Is 3.13-15; Ml 3.5; Pv 23.10,11).
8 Provérbio que gerou o conhecido dito popular: “Dize-me com quem andas, e te direi quem és” (1Co 15.33; Pv 5.22; 12.13;
13.14; 29.6).
PROVÉRBIOS 22, 23 178

ples aperto de mãos empenha-se com ou- tampouco cobices as iguarias que lá são
tros e se torna fiador de dívidas; servidas;4
27 se tu não tens com que pagar, por que 7 porquanto o miserável só pensa nos
correr o risco de perder até a cama em gastos. Ele diz: “Come e bebe!”, entretan-
que dormes? to não fala com sinceridade.
28 Não desloques os marcos antigos que 8 Vomitarás o bocado que comeste, e des-
limitam as propriedades e que foram co- perdiçarás a tua cordialidade.
locados ali por teus antecedentes. 9 Não vale a pena conversar com o insen-
29 Já observaste uma pessoa zelosa em seu sato, pois ele despreza a sabedoria que há
trabalho? Pois será promovida ao serviço nas tuas palavras.
real; não trabalhará para gente obscura!9 10 Não mudes os antigos marcos divisó-
rios de propriedade, nem invadas as ter-
Conclusão dos 30 ditos dos Sábios ras dos órfãos,

23 Quando te assentas para uma re-


feição com alguma autoridade,
presta atenção em quem está diante de ti;
11 porquanto o Redentor dos direitos dos
órfãos é poderoso, e se colocará contra ti
por causa deles!5
2 põe uma faca à tua própria garganta, se 12 Submete teu coração à disciplina e in-
estiveres com grande apetite.1 clina teus ouvidos à Palavra de sabedoria!
3 Não cobices todas as iguarias que te são 13 Não hesites em disciplinar a criança;
oferecidas, porquanto podem ser enga- ainda que precises corrigi-la com a vara,
nosas. ela não morrerá.
4 Não chegues à exaustão na tentativa de 14 Castiga-a, tu mesmo, com a vara, e as-
conquistar a riqueza; tem bom senso!2 sim a livrarás do Sheol.6
5 Os bens e o prestígio desaparecem 15 Filho meu, se o teu coração agir com
como num piscar de olhos; criam asas e sabedoria, o meu coração se alegrará.
voam pelos céus como a águia.3 16 Grande será o meu regozijo quando os
6 Não aceites comer na casa do invejoso, teus lábios se expressarem com retidão.

9 Os mestres, artífices e técnicos eram considerados sábios (8.30; Êx 35.30-35). Todo profissional que se dedica a seu trabalho,
com amor e louvor a Deus, será guindado a posições mais destacadas e, eventualmente, a liderança geral. As Escrituras revelam
os exemplos de José, administrador geral do Egito (Gn 41.46), dedicado pastor, legislador e líder (Êx 3;4); de Davi, grande poeta,
músico e governador (1Sm 16.21-23) e de Hurão, especialista em arte no bronze (1Rs 7.14).
Capítulo 23
1 Muita comida e bebida entorpecem o raciocínio e nos deixam vulneráveis e propensos a aceitar propostas que poderiam
ser rejeitadas, ou melhor negociadas, se a mente não estivesse tão ocupada com a beleza da mesa e a digestão das variadas
iguarias. Uma refeição de negócios deve ser encarada como um momento de trabalho e não um descontraído piquenique em
família (v.6; Sl 141.4).
2 O desejo de progresso e eventual enriquecimento é legítimo e sadio; contudo, a obsessão por poder, prestígio e riquezas
pode arruinar uma pessoa, física e espiritualmente (1Tm 6.10; Hb 13.5; Pv 15.27; 28.20).
3 Os bens e o dinheiro são voláteis, e a fama e o prestígio são ilusões passageiras. Tudo passa muito rápido, menos nossos
investimentos no amor a Deus e em seu Reino (Jr 17.11; Lc 12.21; 1Tm 6.17).
4 O “invejoso” é, literalmente, em hebraico, uma pessoa de “olho mau”; antônimo de “generoso” ou “pessoa de olhos abenço-
adores” (22.9). Essa maneira de as Escrituras definirem o “mesquinho” e a “inveja” foi incorporada por Jesus em suas homilias
e parábolas (Mt 20.15).
5 O vocábulo hebraico original  gõ´el, “seu redentor”, comunica a idéia de alguém que “redime plenamente”, pagando
o valor total exigido por um resgate. Também expressa a agonia e a dor de um parente que suplica “retribuição” ou “vingança”
em nome de um parente injustiçado. Essa é a expressão que descreve o “Redentor” de Jó (19.25; Is 44.6; Jr 14.18). É também
o “vingador de sangue” descrito no AT (Nm 35.12). É o ministério perfeito e absoluto que somente a pessoa de Jesus Cristo, o
Messias, cumpriu com efeito eterno no NT (1Pe 2.21-25). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: For their Redeemer is mighty;
he shall plead their cause with thee.
6 Como já visto anteriormente, a expressão hebraica original  do Sheol, que nos melhores manuscritos do NT corres-
ponde ao termo Hades (Ap 20.14,15), tem uma amplitude semântica muito grande, podendo – em cada caso e de acordo com
o contexto – significar: volta do corpo humano ao pó de onde foi criado por Deus; simplesmente um estado da morte enquanto
aguarda a volta do Cristo e o Dia do julgamento final; o lado do repouso no lugar para onde vão as almas dos mortos depois que
deixam o corpo humano mortal; um lugar celeste chamado pelos judeus de seio de Abraão (Lc 16.22; Jo 1.18); simplesmente
179 PROVÉRBIOS 23, 24

17 Jamais invejes os pecadores em teu co- suas vítimas, e multiplicam entre os ho-
ração; é muito melhor temer o SENHOR mens o número dos infiéis!
para sempre! 29 Para quem são os ais de pesar? Para quem
18 É certo que sempre haverá um futuro, as expressões de profunda tristeza? Para
e tua esperança não será aniquilada! quem as brigas e inimizades? Para quem os
19 Ouve, filho meu, e torna-te sábio, e di- ferimentos desnecessários? De quem são os
rige teu coração pelo Caminho. olhos embaçados e vermelhos?
20 Não caminhes com os que se enchar- 30 Para todos aqueles que gastam horas
cam de vinho, tampouco com os que se se encharcando de vinho, os que andam
empanturram de comida, em busca de bebidas fortes e misturas al-
21 porquanto os bêbados e os glutões se coólicas!
empobrecerão, e a indolência os vestirá 31 Não te entregues a contemplar a tintura
de trapos! avermelhada do vinho, quando cintila pro-
22 Ouve o teu pai, pois ele te gerou, e não vocante no copo e escorre suavemente!
desprezes tua mãe, quando for idosa. 32 No fim, ele ataca como a serpente e en-
23 Compra a verdade, a sabedoria, a dis- venena como a víbora!8
ciplina e a inteligência, e não as vendas 33 Teus olhos verão coisas horríveis e tua
por preço algum! mente entorpecida te fará dizer tolices.
24 O pai do justo vai saltar de júbilo; 34 Serás como alguém que dorme no
quem tem a felicidade de gerar uma pes- meio do mar agitado ou deita-se sobre as
soa sábia com ele muito se alegrará. cordas de um alto mastro.
25 Que teu pai e tua mãe sejam muito 35 E dirás: “Feriram-me, mas eu nada
felizes contigo, que exulte aquela que te senti! Bateram em mim, contudo eu
deu à luz! nada percebi! Quando despertarei para
26 Filho meu, dá-me o teu coração, e que que possa voltar a beber?”
teus filhos apreciem também os meus
caminhos,7 A fé em Deus inspira e fortalece
27 pois as mulheres imorais e insensatas são
como uma armadilha profunda e mortal.
28 Como um assaltante elas espreitam
24 Não tenhas inveja dos ímpios,
tampouco queiras caminhar na
companhia deles;1

uma referência à sepultura; as profundezas e o inferno, o lado atormentador do Hades conhecido como Gê­hinnõm em hebraico,
ou Geena em grego (Lc 16.23). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: Thou shalt beate him with the hod, and shalt reioyce
deliuer his soule from Hell. A idéia geral dessa instrução proverbial é que a verdadeira educação cristã, disciplina e correção da
criança, poderá contribuir decisivamente – ainda que seja na vida adulta – para ajudá-la a tomar uma decisão sincera, pessoal e
profunda de entrega do seu coração a Deus, mediante a aceitação consciente da morte vicária do Senhor Jesus Cristo, o Messias
(Jo 1.12; 3.16).
7 O termo hebraico original  lēbh “coração”, cuja raiz verbal significa “adquirir compreensão” ou “desenvolver o discerni-
mento”, aparece nas Escrituras como “órgão físico” (2Sm 18.14); “centro do corpo humano” (Is 1.5); “centro das forças espiri-
tuais” (Lm 3.41); “força íntima do ser” (Jr 17.10); “força da mente” (Ec 2.20); “poder da memória” (Sl 31.12), e a própria “razão
e consciência” (Jó 27.6).
8 O texto se refere às bebidas alcoólicas, mas podemos aplicar o mesmo princípio a todas as demais drogas da atualidade cha-
madas lícitas ou não, como o fumo, por exemplo. Hoje em dia, há muitas pessoas “viciadas” que ainda não se deram conta disso,
pois consomem todos os dias, sem orientação médica e exageradamente, uma série de alimentos não saudáveis: refrigerantes,
suplementos vitamínicos, estimulantes, analgésicos, xaropes e remédios em geral, produtos que agem como as serpentes mais
sagazes (Nm 21.6); espreitam e atacam, preferencialmente, na calada da noite, envenenando suas vítimas e aguardando que,
atordoadas, cambaleantes e trêmulas caiam absolutamente aniquiladas ao longo do caminho para que as possam devorar (v.29-
35; 20.1; Dt 21.20; 1Sm 25.36; Sl 75.8; Is 5.11,22; 56.12; Mt 24.49; Lc 21.34; Rm 13.13; Ef 5.18; 1Ts 3.3).
Capítulo 24
1 A palavra hebraica original, transliterada em rã´ãh, e aqui traduzida por “ímpios”, tem o sentido de “maligno” e comunica a
idéia de “destruir e arruinar”. O “mal” moral é tudo quanto causa “dano” (Mq 2.1-3). Há uma outra expressão, que também pode
ser traduzida por “Maligno”, cuja raiz hãwwãh revela “uma vontade concupiscente” ou “cobiça incontrolável” (17.4; 24.1). Assim,
podemos compreender melhor o caráter do Maligno, o Diabo, que incapaz de controlar sua volúpia, sagacidade e inveja, incita o
ser humano a também pecar contra Deus (Gn 3.6; 1Jo 2.12-17).
PROVÉRBIOS 24 180

2 pois o coração dos perversos intenta 14 Sabe, também, que a sabedoria é boa
violência o tempo todo, e seus lábios só para a alma; se a encontras, com certeza
murmuram malignidades. haverá futuro para ti.
3 Com sabedoria se constrói uma casa, e 15 Não te embosques, como faz o ímpio,
com inteligência ela se consolida. junto à morada do justo, nem destruas o
4 Mediante discernimento seus cômodos seu local de repouso,3
são mobiliados com todo tipo de bens 16 pois ainda que um justo caia sete vezes,
preciosos e agradáveis. sete vezes tornará a se erguer; os ímpios,
5 Um homem sábio é poderoso, e quem todavia, são arrastados para a desgraça!4
possui entendimento potencializa sua 17 Se teu inimigo cai, não te alegres com isso,
força; e não exulte teu coração se ele tropeça,
6 quem parte para a guerra necessita de 18 para que Yahweh, o SENHOR, não veja
orientação estratégica, pois com muitos isso, fique aborrecido contigo, e retire de
conselhos se conquista a vitória! sobre ele o seu castigo.
7 A sabedoria é virtude elevada demais 19 Não te aflijas por causa dos maus, tam-
para o perverso; por isso ele fica sem pa- pouco tenhas inveja dos ímpios.
lavras nas assembléias. 20 Pois não existe futuro para o perverso:
8 Quem urde o mal o tempo todo será co- a lâmpada dos ímpios está simplesmente
nhecido como mexeriqueiro! se extinguindo.
9 A intriga do perverso é pecado, e o escar- 21 Teme a Yahweh, o SENHOR, filho meu, e
necedor é detestado por todas as pessoas. ao rei; não te associes aos revoltosos,
10 Se te mostras vagaroso para ajudar teu 22 pois terão repentina destruição, e
próximo, pouca força terás no dia da an- quem pode calcular a ruína que o SENHOR
gústia.2 e o rei podem provocar?
11 Liberta os que estão sendo conduzidos
à morte, salva os que são arrastados ao Outros provérbios de sabedoria
suplício! 23 Aqui segue uma outra seleção de ditos
12 Porquanto, ainda que alegares: “Eis dos Sábios: Agir com parcialidade nos
que não sabíamos o que ocorria!” Aquele julgamentos não é nada prudente.
que investiga todos os corações não per- 24 Quem declarar ao ímpio: “Tu és justo!”
ceberia a verdade? Não saberia Aquele será amaldiçoado pelos povos e sofrerá a
que preserva a sua vida? Não retribuirá indignação das nações!
Ele a cada um segundo a sua atitude? 25 Entretanto, para os que punem o cul-
13 Come o mel, filho meu, porque é bom, pado haverá paz e conforto, e sobre eles
o favo de mel é doce ao paladar. virão muitas outras bênçãos.

2 Neste versículo, nos manuscritos hebraicos, há um jogo enigmático de palavras: o termo  çãrãh “angústia” e o vocábulo
 çar “pouco”, “pequeno” ou “restrito”, derivam de uma mesma expressão que significa “cingir”, “constringir”, “apertar-se”. Os
antigos sábios judeus costumavam usar o curioso recurso das charadas e frases capciosas, além das parábolas e histórias com
fim moral, para ensinar àqueles que realmente desejavam aprender, confrontar o mal e esquivar-se de possíveis perseguidores.
Jesus, o Messias, foi o grande mestre na arte de combinar a amplitude semântica, sonora e gráfica das palavras em hebraico,
aramaico, latim e grego, a fim de comunicar seus mais profundos e amplos ensinamentos (Mc 7.26-30; Jo 12.20-26; 19.20,21).
3 A palavra hebraica, aqui transliterada em çaddiq “reto”, deriva da raiz çãdaq “ser justificado e vitorioso”. A combinação desses
significados pode ser traduzida no termo português “justo”, compreendendo que a santidade e o amor leal e permanente de Deus
é que conquistam a “vitória” sobre todas as nossas tendências pecaminosas. Essa expressão, portanto, refere-se à “justificação”
pela fé em Jesus, o Messias, capaz de vencer os propósitos e artimanhas do Diabo, cancelando a sentença de morte que todo
ser humano carrega e quaisquer acusações que o Inimigo possa apontar contra os filhos de Deus, no dia do julgamento final
(Rm 3.23; Hb 9.27,28).
4 O “justo” ou “justificado” não é a pessoa que sofre queda, mas aquela que, quando tropeça, tem a humildade de reconhecer seu
erro, pedir sincero perdão a Deus e a quem mais possa ter ofendido e retornar à absoluta e perfeita comunhão com o Pai (1Jo 1.9). O
número “sete” na tradição cultural e religiosa oriental e israelita refere-se ao “número integral”, “completo”, “perfeito”, “infinito em sua
abrangência”. Portanto, o perdão de Deus é sem limites (6.16; Jó 5.19; Mt 18.21-22). Os ímpios, em sua empáfia e arrogância, são
aqueles que não pedem nem aceitam o perdão; esses, infelizmente, terão o fim que escolheram (v.22; 4.19; 6.15; 11.3,5).
181 PROVÉRBIOS 24, 25

26 A resposta franca é prova de sincera e Outros conselhos de Salomão


fraternal amizade!5
27 Forma primeiro a tua lavoura e levanta
a tua casa, então, estarás à vontade para
25 Estes são outros provérbios de
Salomão, os quais foram trans-
critos pelos servos de Ezequias, rei de
constituir a tua família.6 Judá:1
28 Não testemunhes sem motivo contra o 2 A glória de Deus é ocultar certos conhe-
teu próximo, tampouco fales mal dele! cimentos; tentar desvendá-los é a glória
29 Jamais digas: “Segundo me fez, assim dos majestosos!2
lhe retribuirei! Devolverei a cada um con- 3 A altura do céu, a profundidade da ter-
forme o mal que lançou contra mim!” ra e o coração dos soberanos, são lugares
30 Passei junto ao campo do preguiçoso, insondáveis.
pela vinha de um homem sem juízo: 4 Tira as escórias da prata e ela ficará ab-
31 Eis que tudo estava cheio de urtigas, solutamente pura;
sua superfície coberta de espinhos, e seu 5 tira o ímpio da presença do rei e seu
muro de pedras, em ruínas. trono se firmará na justiça.3
32 Ao observar tudo isso, comecei a refle- 6 Não te vanglories diante do rei, nem
tir, vi e tirei uma lição: reivindiques um lugar entre as pessoas
33 “Dormir um pouco, cochilar um pouco; mais importantes;
um pouco cruzar os braços e deitar-se, 7 pois é muito melhor que o próprio rei
34 e a pobreza te sobrevirá como um as- te convide: “Sobe até aqui!”, do que seres
saltante, a tua mendigação como um la- humilhado na frente das autoridades.4
drão armado!” 8 Não conduzas precipitadamente alguém

5 Este versículo pode ser traduzido, literalmente, assim: “Beijados serão os lábios de todo homem que responde com palavras
retas”, semelhante ao que apresenta a KJ de 1611 – Every man shall kisse his lippes that giueth a right answere. Melhores recursos
exegéticos, entretanto, possibilitaram uma melhor compreensão acerca dessa metáfora, pois “as palavras sábias e sinceras ditas de
forma agradável são doces como o mel” (16.13; 16.24). O beijo fraternal na tradição das culturas orientais representava, especial-
mente nas saudações, uma demonstração de humildade, paz, respeito, amizade e lealdade. Por isso, o conhecido beijo de Judas
passou para a História como um dos mais repugnantes gestos de traição (Lc 22.47,48). Mesmo o beijo romântico era comumente
compreendido como um sinal ou expressão do compromisso de amor leal que se estabelecia entre pessoas que se amavam. Com
o passar dos séculos, especialmente nas culturas ocidentais, ocorreu uma banalização do beijo, e, hoje em dia, seu profundo e vir-
tuoso simbolismo deu lugar à sensualidade ou a mera cordialidade. O mesmo acontece com o gesto universal do “aperto de mãos”
ou do insosso e comercial “bom dia” que, muitas vezes, nada têm a ver com seus mais éticos e fraternos significados originais.
6 Aqueles que confiam em Deus, especialmente os jovens, não devem ser fatalistas, muito menos, acomodados. Os sábios
bíblicos ensinam que devemos calcular bem todos os nossos projetos e procedimentos (Lc 14.28). A expressão literal hebraica
“casa” também significa “família” e, por isso, constituir uma família requer planejamento e preparo, a fim de que esse empreendi-
mento possa ser concluído com felicidade (v.3; 9.1).
Capítulo 25
1 Salomão foi o último rei a governar o reino unificado de Israel; o primeiro monarca a reinar sobre todo o Israel (agora restrito
ao Reino do Sul, logo após a destruição do Reino do Norte). Foi no reinado de Ezequias (aproximadamente entre os anos 715
e 686 a.C.), que ocorreu um maravilhoso reavivamento espiritual em todo o território israelense remanescente. O rei Ezequias
restaurou o cântico dos hinos ao seu devido lugar (2Cr 29.30). Seu profundo interesse pela Palavra e pelos documentos bíblicos
escritos por Davi explica seu apoio a uma compilação dos provérbios de Salomão (1.1; 10.1). Sua atitude lembra a decisão do
rei King James em 1607, também um apaixonado pela Palavra de Deus, ao acatar a sugestão de vários líderes cristãos da época
e coordenar uma acurada compilação e tradução dos melhores manuscritos disponíveis nas línguas originais, para a publicação
de nova edição da Bíblia em inglês, e que tem servido de referência na tradução das Escrituras para todas as demais línguas e
culturas do planeta, em todas as épocas.
2 Deus reserva para si a plenitude do poder e do saber, e recebe toda a glória que lhe é devida, pois o homem não consegue
compreender a Criação, o Universo nem o modo como Deus o governa. O rei e os intelectuais (majestosos) obtêm glória quando
lhes é facultado o dom de conhecer a verdade e governar com justiça (1Rs 3.9; 4.34). O homem domina o que explica.
3 A expressão hebraica, transliterada em çedhãqâh “justiça”, tem o sentido de “aquilo que é reto, exato, direito, limpo, honesto,
inocente, sem tortuosidade, perversão ou adulteração alguma”. É o antônimo do termo ´ãwâh “perverter” (13.5; 16.12; 20.26;
28.10; Is 1.22-25; Ez 22.18; Ml 3.2,3).
4 Cerca de 1000 anos mais tarde, Jesus Cristo faria referência a essas e outras palavras de Salomão e dos demais sábios
citados no livro de Provérbios, numa demonstração clara e prática da inerrância, poder, e sabedoria perpétua das Escrituras
Sagradas (Lc 14.7-11; Is 22.15-19).
PROVÉRBIOS 25 182

ao tribunal, pois como agirás caso teu ou uma flecha aguda, é o perigo daquele
oponente te desminta? que diz mentiras contra o seu próximo.
9 Busca resolver tua causa diretamen- 19 Dente que balança e pé deslocado são
te com o teu próximo, mas não reveles atitudes semelhantes a confiar no traidor
qualquer segredo de outra pessoa,5 no dia da aflição!9
10 caso contrário, quem te ouvir poderá 20 Como tirar a própria roupa num dia de
te difamar e jamais recuperarás tua re- frio, ou derramar vinagre numa ferida é ter
putação! de cantar com o coração entristecido!10
11 Maçãs de ouro com enfeites de prata é 21 Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de
a palavra falada em tempo oportuno. comer; se tiver sede, dá-lhe de beber.
12 Anel de ouro ou colar de ouro fino é a 22 É procedendo assim que amontoa-
censura do sábio para o ouvido atento. rás brasas vivas sobre a cabeça dele, e
13 Como o frescor da neve num dia de Yahweh, o SENHOR, te recompensará!11
ceifa é o mensageiro fiel para quem o en- 23 Como o vento norte traz chuva, assim
via: ele reconforta a vida do seu senhor.6 a língua fingida provoca olhar irado.
14 Nuvens e ventos e nada de chuva, assim 24 Melhor é viver solitário, num canto
é a pessoa que promete mas não cumpre.7 sob o telhado, do que repartir a casa com
15 Com paciência dobra-se um magistra- uma mulher briguenta.
do, e a língua macia pode quebrar ossos.8 25 Como água fresca para a garganta se-
16 Encontraste mel? Come o suficiente, denta é a boa notícia quando chega de
para que não fiques enjoado e o vomites. uma terra distante.
17 Teu pé seja raro na casa do teu pró- 26 Fonte turvada e nascente poluída é o jus-
ximo, para que ele não se enjoe de ti, e to que se amedronta na frente do ímpio.
venha a te odiar. 27 Não é bom comer muito mel nem bus-
18 Assim como uma arma, uma espada car glória sobre glória!12

5 Devemos agir com calma, prudência e sabedoria, mesmo quando temos, em nossas mãos, os meios de promover a justiça
(17.14; 24.28). Não é aconselhável divulgar as atitudes de nossos inimigos, sob o risco de cometermos o pecado da difamação
(11.13; 31.8,9; Tg 4.11).
6 Os reis orientais já haviam descoberto o prazer das bebidas refrescantes. Como não costumava nevar nas terras de Israel nos
períodos de colheita, blocos de gelo eram trazidos das montanhas para resfriar as bebidas dos monarcas (10.26; 13.17; 26.1).
7 Mais de 1000 anos se passariam até que Judas, irmão de Jesus Cristo e Tiago, fizesse referência a essa passagem do AT em
sua epístola canônica à Igreja no NT (Jd 12).
8 Para lidar com a justiça e seus dignos representantes, em todas as instâncias, deve-se agir com muita paciência, perseveran-
ça e boas palavras (14.29; 15.1; Lc 18.2-5).
9 Este dito sapiencial era também aplicado aos vizinhos pagãos: “depender do Egito é o mesmo que apoiar-se numa cana
rachada”, não apenas pela fragilidade de sua sustentação, mas também pelo risco de ferir a mão, ao se firmar sobre sua ponta
lascada (Is 36.6). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: Confidence in na vnfaithfull man in time of trouble, is like a broken
tooth, and a foot out of ioynt.
10 Os exilados hebreus não sentiam a menor motivação para cantar os cânticos de Sião, especialmente para entretenimento
dos seus dominadores (Sl 137.3,4).
11 Mais de 1000 anos após a publicação desta passagem, o apóstolo Paulo usaria o mesmo conceito bíblico para ensinar a
jovem e florescente Igreja de Cristo a vencer o mal, fazendo o bem (v.15; Rm 12.20,21). Havia um ritual egípcio, de expiação de
culpa, segundo o culpado se obrigava a caminhar pela cidade com uma bacia de carvões em brasa sobre a cabeça. Sendo assim,
essa metáfora, especialmente na época de Salomão, podia ser compreendida perfeitamente: a bondade pode fazer o papel das
brasas vivas na consciência de uma pessoa culpada, fazendo que ela se dobre à verdade e abrace a sensatez (Êx 23.4,5; 2Rs
6.21-23; 2Cr 28.15; Pv 20.22). Essa metáfora ainda aponta para o juízo final, quando o Senhor colocará as derradeiras e intermi-
náveis brasas do arrependimento sobre as cabeças dos ímpios (Sl 140.10). Mesmo que o inimigo ou opositor permaneça hostil e
rebelde, agindo, o crente, com misericórdia e bondade, o Senhor o recompensará (11.18; 19.17).
12 A expressão hebraica transliterada em kãbbôdh “glória” ou “honra” comunica originalmente a idéia de “valor real”, “algo bem
pesado e valioso, como o ouro puro”. Assim, quem busca avidamente sua própria “honra” e “valor” diante dos homens, corre o
risco do enfado como acontece quando se come muito mel. A “desonra” ou a “desvalorização” é expressa por meio do vocábulo
qãlôn que ainda pode significar “inutilidade”, “desprezo” e “vergonha” (11.2). Ser avaliado pela sociedade é suportar complexos,
angústias e aflições, mas ter o coração “pesado” (verificado) por Deus e achado sem o Espírito Santo, portanto, sem o perdão
redentor de Jesus, o Messias, é a condenação final e separação eterna do Pai (Dn 5.27-30; Mt 25.26-30).
183 PROVÉRBIOS 25, 26

28 Uma cidade aberta, sem muralhas, tal 8 Como prender uma pedra à atiradeira é
é o homem sem autocontrole!13 conceder honra ao tolo.
9 Galho de espinhos na mão de um bê-
Atitudes do sábio e do insensato bado é o provérbio ao entendimento dos

26 Como neve no verão e chuva na


colheita, assim a honra não fica
bem ao insensato.1
insensatos.3
10 Um arqueiro que fere a todos: tal é o
patrão que dá emprego ao insensato e ao
2 Como o pardal que foge sem rumo e bêbado que passam por sua porta.4
a andorinha que esvoaça veloz, assim a 11 Como um cão que torna ao seu vômi-
maldição jamais cairá sobre quem não to é o insensato que repete suas tolices.5
merece.2 12 Vês uma pessoa sábia aos seus pró-
3 Assim como o chicote foi feito para o prios olhos? Certamente há mais espe-
cavalo, e o freio, para o jumento, a vara rança para o tolo do que para essa pes-
da disciplina é para as costas de quem soa.
não tem juízo. 13 O preguiçoso alega: “Há uma fera vio-
4 Não respondas ao insensato com seme- lenta no caminho, um leão feroz rondan-
lhante insensatez, para não te igualares a do pelas ruas!”
ele. 14 Assim como a porta gira em suas do-
5 Responde ao insensato conforme a toli- bradiças, assim o preguiçoso se revira so-
ce dele, para que ele não fique pensando nolento em sua cama!
que possui alguma sabedoria. 15 O preguiçoso até consegue colocar a
6 A pessoa que pede a um tolo para mão no prato; contudo, levá-la à boca é
transmitir uma mensagem se arrisca a para ele um esforço extenuante!
ter muitos problemas; é como se tivesse 16 A pessoa indolente se acha mais esper-
seus pés amputados ou tomasse vene- ta do que sete homens que respondem
no. com bom senso.
7 Como pendem inúteis as pernas do 17 Como alguém que decide pegar um
coxo, assim é a palavra de sabedoria na cão pelas orelhas, assim sofre aquele que
boca do insensato. se mete em discussão alheia!

13 Cada dia mais, em nossa sociedade pós-moderna, o descontrole emocional revela as angústias, frustrações e as aflições da
humanidade. Este versículo pode ser assim traduzido, literalmente, do original hebraico: “conservar o espírito dentro dos limites
da sensatez bíblica”, e comunica a idéia de uma abstinência auto-imposta não apenas em relação aos vícios e imoralidades, mas
às emoções desenfreadas e aos pensamentos sórdidos e negativos de toda espécie. No NT, essa capacidade de “autocontrole”,
em grego transliterado enkrateia “manter sob controle” ou “dentro dos limites da sabedoria bíblica” é um dom oferecido a todo
crente sincero, como um dos gomos do fruto do Espírito Santo (Gl 5.23).
Capítulo 26
1 As colheitas em toda a região da Palestina costumam acontecer, ainda hoje, entre os meses de junho e setembro; nessa época é
rara a ocorrência de chuvas (1Sm 12.17,18). Não há razão nem bom senso em honrar uma pessoa insensível e perversa. Ela poderá
conquistar a obediência das pessoas pelo medo que impõe, mas jamais pelo respeito amoroso que inspira (11.18; 19.17).
2 As pragas, sentenças, maldições e maus agouros, proferidos por quem quer que seja, não podem se concretizar na vida de
quem caminha no temor do Senhor e, portanto, em justiça. Davi foi amaldiçoado por Simei, mas nada de mal aconteceu a Davi,
pois estava inocente quanto à acusação de ter assassinado membros da família de Saul (2Sm 16.8,12).
3 Assim como a bebida alcoólica e as drogas entorpecem os sentidos e o corpo de seus usuários, o perverso e insensato
são também indolentes (insensíveis) ao profundo, libertador e maravilhoso conteúdo dos provérbios e parábolas de sabedoria
bíblica.
4 A segunda metade deste versículo pode ser traduzida literalmente por: “quem dá salário ao perverso é como quem confia em
qualquer transeunte”. Abimeleque contratou pessoas desocupadas e vadias para ajudá-lo a matar seus próprios meio-irmãos, a
fim se assumir um governo que se caracterizou por brevidade e insucesso total (Jz 9.4-6).
5 Mais de 1000 anos após a publicação deste provérbio, o apóstolo Pedro refere-se a esta passagem das Escrituras para ad-
vertir os falsos mestres que perturbavam a boa doutrina neotestamentária da Igreja primitiva (2Pe 2.22). O insensato repete suas
tolices, assim como o viciado tende a retornar à dependência do álcool ou das demais drogas, se não permitir que seu coração
seja absolutamente controlado pelo Espírito Santo (23.35; 2Ts 3.5). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: As a dogge returneth
to his vomite: so a foole returneth to his folly.
PROVÉRBIOS 26, 27 184

18 Como um demente que espalha brasas revelada em público.9


e atira flechas mortais,6 27 Quem cava uma armadilha, nela aca-
19 assim é a pessoa que engana seu pró- bará caindo; quem rola uma pedra sobre
ximo e depois alega: “Mas eu só estava os outros será atropelado pelo retorno da
brincando!” mesma pedra que havia empurrado.10
20 Sem lenha o fogo se apaga, sem o calu- 28 A língua mentirosa destila ódio sobre
niador encerra-se a briga. aqueles a quem fere, e a boca bajuladora
21 Carvão para as brasas e lenha para a provoca destruição!
fogueira, assim é a pessoa briguenta para
atiçar as contendas. As várias expressões da sabedoria
22 As palavras do difamador são como pe-
tiscos apetitosos, descem com delicioso sa-
bor até o íntimo de quem lhes dá atenção.
27 Não te felicites pelo dia de ama-
nhã, pois não sabes o que o hoje
vai gerar.1
23 Como uma camada de esmalte de pra- 2 Seja outra pessoa quem te elogie, e não
ta sobre vaso de barro, também os lábios a tua boca; um estranho e não tuas pró-
diplomáticos podem esconder um cora- prias palavras!
ção maligno.7 3 A pedra é pesada e a areia um fardo,
24 Quem alimenta a perversidade procu- mas a irritação provocada pelo tempe-
ra disfarçar suas intenções com os lábios, ramento incontrolável dos insensatos é
pois em seu íntimo mora a Falsidade;8 muito superior às duas, juntas.
25 portanto, se a voz dessa pessoa for ele- 4 O furor é cruel e a ira destruidora, mas
gante e bem articulada, não confies nela, quem resistirá diante do ciúme?2
porquanto há sete abominações em seu 5 Melhor é a reprimenda feita com fran-
coração! queza do que o amor não revelado!3
26 Essa pessoa poderá fingir e camuflar o 6 Quem fere por amor demonstra lealda-
ódio, porém toda a sua malignidade será de, mas falsos são os beijos do inimigo!4

6 A expressão original hebraica  “como um enlouquecido” (ou como no vocábulo transliterado em mithlahlēah) tem
sua origem em uma raiz que só consta nesta forma intensiva e reflexiva, com o sentido de “louco”, doença mental motivada por
algum tipo de insolação. Curiosamente, a palavra traduzida por “loucura” em algumas passagens do livro de Eclesiastes advém
de outra raiz que significa “fingir que se possui um brilho extraordinário” ou “tentar refletir um falso carisma” (Ec 1.17; 2.2; 7.25).
Uma outra raiz ainda shãga´ descreve esse estado de neurose, como “delírio” (1Sm 21.12; Jr 50.38).
7 Jesus, o Messias, também fez uso do significado desta passagem bíblica para repreender muitos religiosos e mestres da Lei
de seu tempo, mais preocupados com as formalidades exteriores e tradições ritualísticas do que em amar a Deus e ao próximo
com plena sinceridade de coração (Mt 22.36-40; 23.27; Lc 11.39).
8 A conversa gentil e amistosa pode ocultar planos enganosos, intenções utilitaristas e maldosas, como a sedução da mulher
imoral (2.16; 5.3). Personalizando as qualidades morais na figura de duas mulheres bonitas e perspicazes, a Falsidade é a grande
inimiga da humanidade e da Sabedoria (1.20; 12.20). Há sete atitudes que o Senhor detesta (6.16-19; Jó 5.19; Jr 9.8).
9 Jesus Cristo fez menção ao conteúdo deste versículo, ao lembrar que as pessoas não serão julgadas por seu exterior: por
suas ofertas, rigor religioso, legalismo ou práticas cerimoniais, mas pelo que de verdade habita o seu íntimo. As mais íntimas
intenções, motivadoras das boas e das más obras serão todas trazidas a público. Deus é quem observa e avalia o coração de
cada ser humano (5.14; Lc 8.17; Nm 35.24,25).
10 Não se deve buscar a vingança, pois não temos condição de ser justos no propósito da punição corretiva contra quem nos
prejudicou; nossa tendência é sempre devolver muitas vezes mais pelo mal que sofremos. Tampouco devemos pensar em atentar
contra alguém, pois com a mesma violência e sordidez com que planejamos qualquer mal contra o próximo, também seremos
“esmagados” pelo efeito reverso. É como tentar resolver os problemas de um país mediante um ataque nuclear: toda a terra seria
afetada, inclusive o agressor (Sl 7.16; 7.15; Ec 10.8,9; Et 7.10; Pv 1.18; 28.10; 29.6).
Capítulo 27
1 Cerca de 1000 anos após a publicação deste provérbio, Jesus Cristo, o Messias contextualiza, em sua época e discípulos, o
conteúdo desta palavra de sabedoria, na parábola do “rico insensato” (Lc 12.16-20; Tg 4.13-16; Is 56.12; Pv 16.9).
2 A expressão hebraica original  “os ciúmes” (6.32-35) não ocorre comumente nas Escrituras com o significado negativo
que há em 14.30, por exemplo. Existe um sentido bem diferente e positivo para esse vocábulo na expressão em português “zelo-
so” que, em vez de se referir aos “ciúmes de” (inveja), diz respeito aos “ciúmes em prol de” (Ct 8.6,7), portanto, um sinal de amor
e não de indiferença ou rancor (Êx 20.5; 1Rs 19.10; Zc 8.2).
3 Esta é a verdadeira “crítica construtiva” (15.31; Gl 2.14).
4 Amor sem lealdade é paixão sem compromisso, por isso a expressão em hebraico transliterado em hesedh “amor”
185 PROVÉRBIOS 27, 28

7 Quem está satisfeito despreza o mel, 17 Assim como o ferro afia o próprio ferro,
mas para quem tem fome até o amargo as pessoas aprendem umas com as outras.
é saboroso. 18 Quem cuida bem da sua figueira co-
8 Como ave vagando longe do ninho, assim merá dos seus frutos, e quem trata bem
é o homem perambulando longe do lar! o seu patrão será recompensado.
9 Perfume e incenso promovem alegria 19 Assim como a água reflete o rosto, o
no coração; o conselho sincero de um coração revela quem somos nós!
amigo dá encorajamento para viver. 20 O Sheol e o Abadom são insaciáveis,
10 Não abandones o teu amigo, tampou- assim como nunca se fartam os olhos da
co o amigo do teu pai, nem vás à casa do humanidade.6
teu irmão no teu dia atribulado: mais 21 O crisol é para a prata e o forno é para
vale o vizinho próximo do que o irmão o ouro, mas o que prova o ser humano
distante! são os elogios que recebe.7
11 Filho meu, sê sábio! Assim eu encon- 22 Mesmo que você espanque o perverso,
trarei a felicidade e saberei dar uma boa como grãos num pilão, a sua insensatez
resposta a quem me criticar.5 não se separa dele!8
12 A pessoa perspicaz percebe o perigo e 23 Conhece bem o estado das tuas ove-
busca refúgio; o incauto segue adiante e lhas, e presta atenção aos teus rebanhos;
sofre todas as conseqüências. 24 porque as riquezas não são para sem-
13 Quem concorda em ser fiador de uma pre, e nada garante que uma coroa seja
pessoa que não conhece, deve dar sua pró- transmitida de geração em geração.9
pria roupa como garantia de pagamento! 25 Quando o feno for cortado, surgirem
14 Se acordas teu próximo logo ao romper novos brotos, e o capim das colinas for
da aurora com um grito de “bom dia”, este apanhado,
teu cumprimento soa como maldição! 26 as ovelhas te fornecerão lã para as tuas
15 Goteira pingando sem parar em dia de roupas, e poderás comprar mais terras
chuva e a mulher ranzinza são irritações com a venda de teus cabritos.
muito parecidas; 27 Tuas cabras fornecerão leite com far-
16 detê-la é como tentar frear o vento, tura para que alimentes a ti mesmo, tua
como conter o óleo com as mãos! família e todos os teus servos.10

(14.22) é a mesma expressão que se traduz por “misericórdia”, “lealdade” e “benignidade” (19.22; 20.6). Significa bondade
para com os que passam por provações e angústias, amizade fiel, boa vontade, abnegação e graça. É a palavra-chave na
mensagem profética de Oséias (Os 2.2-23; Rm 8.28-30). O pior dos inimigos é o adulador, dissimulado e mentiroso (Sl 141.5;
Mt 26.49; Pv 5.3,4).
5 Um filho ou aluno (discípulo) sábio serve de poderoso testemunho de que os pais ou mestres que lhe deram educação e
formação são pessoas dignas de grande honra (10.1).
6 Como já temos visto em várias passagens na KJ, a expressão hebraica She’ôl e sua correspondente em grego, Hades, podem
ser traduzidas como “inferno”, “sepultura”, “além” ou “condição ou lugar dos mortos” em comparação aos “vivos na terra”; o
mundo da “invisibilidade” dos que deixam a carne pelo efeito transcendental da morte do corpo físico (9.18; Ez 31.15-18). O termo
‘Abhaddôn significa, literalmente, “destruição” ou “lugar de perecer”, mas neste versículo e contexto funciona como sinônimo
retórico de “Sheol” (15.11). No NT, o vocábulo “Abadom” é usado como nome próprio do “anjo do Abismo”, em grego Apoliom
(Ap 9.11). O apetite da “morte” e da “ambição humana” são insaciáveis (Jó 26.6; Is 5.14; Ec 4.8).
7 A prosperidade e o sucesso devem ser aceitos com humildade, como graça de Deus, e jamais com a arrogância dos per-
versos que, insanos, se iludem com a força de alguns de seus dons e se esquecem do Doador. Cerca de 1000 anos após a
publicação deste provérbio, Jesus, o Cristo, faz menção desse princípio de sabedoria bíblica ao precaver seus discípulos contra
os perigos da lisonja e da soberba (Lc 6.26; Pv 12.8; Is 1.25; Ml 3.3).
8 Assim como o trigo e outros grãos eram moídos no almofariz, a fim de que a palha e toda impureza fossem separadas do me-
lhor das sementes, ainda que o insensato seja submetido aos mais severos castigos, sua empáfia, opulência e soberba teimosia
não lhe permitem observar suas atitudes más e reconhecer que necessita de uma mudança radical (20.30; 26.11; Jr 5.3). Por isso,
na vida de todos nós, a Salvação é dom imerecido e milagre do Senhor (Jo 1.12; 3.16-19).
9 Até mesmo os reis e governantes poderosos podem perder suas riquezas, prestígio e poder de um momento para outro (Jó
19.9; Lm 5.16).
10 Na Palestina da época, o feno era retirado entre os meses de março e abril. A economia agrícola da antigüidade é refletida
PROVÉRBIOS 28 186

Ditos de sabedoria em antíteses próprios olhos, mas o pobre que é inteli-


28 O ímpio foge, mesmo que nin-
guém o persiga, mas as pessoas
honestas são valentes como um leão.
gente o conhece muito bem.
12 Quando os justos triunfam, há grande
glória; quando os ímpios tomam o po-
2 Quando um país está em revolta, os der, o povo corre em busca de um lugar
chefes se multiplicam, mas apenas um para se esconder.
líder sábio consegue manter a ordem! 13 Quem camufla suas faltas jamais al-
3 Um pobre que sobe ao poder e oprime cançará o sucesso, mas quem as reconhe-
os pobres é como um furacão que chega ce, confessa e abandona, recebe toda a
de súbito, acaba com a plantação e des- compaixão de Deus!2
trói tudo à sua volta. 14 Feliz a pessoa que vive sempre no te-
4 Os que abandonam a Lei louvam o ím- mor do SENHOR, mas o indiferente e o
pio, os que observam a Lei o repreendem! que se revolta contra o SENHOR cairá em
5 As pessoas más não entendem o sentido desgraça.
do direito, mas os que buscam Yahweh, o SE- 15 Leão rugindo e urso feroz: é o ímpio
NHOR, o compreendem perfeitamente! governando um povo enfraquecido.
6 É melhor o pobre que se mantém ín- 16 Um príncipe sem inteligência multiplica
tegro que o de atitudes perversas, ainda as extorsões; mas aquele que detesta a de-
que rico.1 sonestidade governará por muito tempo!3
7 Quem guarda a Lei é filho inteligente, 17 Um homem culpado de assassinato fugi-
mas o que anda em más companhias en- rá até a sepultura; que ninguém o proteja!4
tristece e envergonha seus pais. 18 Quem procura caminhar de maneira
8 Quem aumenta seus bens, por meio de honesta viverá seguro, mas quem pro-
juros escorchantes, ajunta para alguma cede com perversidade subitamente en-
outra pessoa que será bondosa para com contrará a desgraça.
os necessitados! 19 Quem cultiva sua terra sacia-se do pão,
9 O que desvia o ouvido para não ouvir a quem persegue ilusões se fartará de mi-
Lei, até mesmo sua oração se torna abo- séria.
minável. 20 O homem leal receberá muitas bên-
10 Quem engana um homem honesto e o çãos, mas quem se apressa para enrique-
induz a praticar o mal cairá em sua pró- cer não ficará impune.
pria armadilha; entretanto quem é justo 21 Não é justo fazer acepção de pessoas,
será grandemente recompensado! mas alguns juízes procedem assim por
11 O rico arrogante é poderoso a seus um pouco de dinheiro.

nesta passagem (23-27). O trabalho diário, de sol a sol é uma maneira de manter a subsistência no presente, enquanto o futuro
está absolutamente associado à graça e mercê de Deus (Gn 31.38-40). As ovelhas e cabritos eram utilizados como meio de
pagamentos (2Rs 3.4). O leite forte de cabra era misturado ao das vacas (Dt 32.13,14; Is 7.21,22; Pv 31.15).
1 A expressão hebraica original  “em sua integridade” deriva da raiz transliterada em tãmam “um ser completo”, “bem
acabado”; e significa, também, “de atitude justa”, “impecável”, “honesto e sem falsidade”. Em 11.3 observamos a forma tummâh,
com o mesmo sentido. Portanto, “ser íntegro” é a decisão humana de entregar-se voluntariamente ao processo de transformação
divina, como o barro se deixa moldar sob as mãos competentes e talentosas do oleiro (Jr 18.1-10).
2 A expressão hebraica transliterada rãhãm significa o ato de misericórdia de socorrer os aflitos, angustiados, fracos e pobres,
com o objetivo primeiro de revelar a graça do Senhor aos que foram feitos cativos das artimanhas do maligno e do pecado. Muito
sofrimento psicológico e físico advém das tentativas inúteis de esconder, da própria consciência, os erros cometidos, e de furtar-
se à confissão (especialmente a Deus em oração sincera). A outra palavra hebraica traduzida por “amor leal” ou “misericórdia” é
hesedh, e pode ser analisada em 19.22 (3.7,8; Sl 32.3-11).
3 A expressão hebraica transliterada em beça’, aqui traduzida por “desonestidade”, tem o sentido literal de “pegar um lucro
injusto de cada assunto que necessita passar por nossas mãos”. Pode-se traduzir ainda por “avareza” ou “ganho perverso”. Um
ditado em português nos ajuda a compreender o sentido da expressão original: “quem parte e reparte, fica com a melhor parte”
(Gn 37.26; Êx 18.21).
4 Desde os primórdios, assim como na época de Salomão, a Lei era rigorosa em relação a crimes de homicídio, entre outros,
e punia com a morte seus culpados (Gn 4.14; 9.6; Êx 21.14).
187 PROVÉRBIOS 28, 29

22 O homem de olho ávido corre atrás da 5 O homem que bajula seu próximo está
riqueza, e não sabe que a necessidade vai apenas construindo uma armadilha para
cair sobre ele. si mesmo.
23 Quem repreende um homem depois 6 Os ímpios são capturados nas artima-
achará favor, mais do que aquele que o nhas de seus próprios pecados, mas os
bajula com palavras vãs. justos andam livres e felizes!
24 Quem rouba seu pai e sua mãe, e ale- 7 O justo se interessa em militar pela cau-
ga: “Isso não é errado!”, é comparsa do sa dos necessitados, o ímpio não tem a
Destruidor!5 inteligência para dedicar-se a isso.3
25 A pessoa gananciosa provoca conten- 8 Os zombadores alvoroçam toda uma
das o tempo todo, mas quem confia no cidade, mas os sábios conseguem apazi-
SENHOR prosperará em paz! guar grandes conflitos.
26 Quem confia apenas em si mesmo é in- 9 Quando um sábio se dispõe a discutir
sensato, porém quem caminha de acordo com um tolo, quer se zangue quer ria, ja-
com a sabedoria, não corre perigo. mais terá descanso!
27 Quem dá aos pobres não viverá em ne- 10 Os assassinos detestam a pessoa ín-
cessidade, mas quem esconde seus olhos tegra, mas os homens retos protegem a
dos que precisam de ajuda sofrerá muitas vida de quem vive em integridade.
maldições. 11 O insensato expande todas suas paixões,
28 Quando os perversos sobem ao poder, o mas o sábio as reprime e acalma sua alma!
povo se esconde; mas quando eles encon- 12 Se um chefe dá atenção às palavras
tram a destruição, os justos florescem! mentirosas, seus auxiliares todos se tor-
nam perversos.
Outros provérbios antitéticos 13 O enfraquecido e o opressor se encon-

29 Quem retesa a nuca diante das


repreensões será quebrado de re-
pente, e sem remédio!1
tram: é Yahweh, o SENHOR, quem deu a
cada um o dom de enxergar.
14 O rei que julga o pobre; com verdade
2 Quando os justos se multiplicam, o estabelecerá seu trono para sempre.
povo se alegra; o povo se aflige, quando o 15 A vara da disciplina e as palavras da
perverso governa.2 repreensão dão sabedoria, mas o jovem
3 O filho que ama a sabedoria é o orgu- abandonado à sua própria sorte envergo-
lho do seu pai. Quem anda com mulhe- nhará sua mãe.4
res imorais dá fim a tudo o que possui. 16 Quando cresce o número dos ímpios,
4 Quando o governo é honesto, o país multiplicam-se as transgressões; contu-
tem segurança; mas, quando o governo do, os justos viverão o suficiente para ver
cobra impostos demais, a nação acaba a queda dos perversos!
em desgraça! 17 Corrige o teu filho, e ele te dará des-

5 Quem rouba ou engana seu pai ou sua mãe não pode estar ao lado de Deus; sua companhia, por certo, será o Diabo ou algum de
seus asseclas. Mais de 1000 anos depois desta declaração, Jesus, o Messias, usou o mesmo conceito bíblico para repreender muitos
mestres judeus de seu tempo que estavam questionando seus discípulos quanto à cerimônia de lavar as mãos antes das refeições,
mas não respeitavam nem eram honestos com seus próprios pais (Mt 15.4-6; Mc 7.10-12; Pv 19.26). Na KJ de 1611, este versículo foi
assim traduzido: Who so robbeth his father or his mother, and saith, it is no transgression, the same is companion of a Destroyer.
Capítulo 29
1 A pessoa que não ouve os conselhos dos pais e dos sábios na Palavra de Deus pode se preparar para grandes infortúnios.
Assim sucedeu aos filhos de Eli, que morreram por causa de teimosa rebeldia (1Sm 2.25; Dt 9.6,13; Pv 1.22-27; 6.15).
2 Os israelitas aprenderam desde muito cedo na História o que significa submeter-se a um governo pagão, ímpio e corrupto
(Êx 2.23,24; Jz 2.18; Pv 28.12).
3 Os justos e honestos se preocupam com o bem-estar dos pobres (v.14; 19.17; 22.22; Jó 29.16).
4 A expressão original hebraica  , transliterada em tôkēhehâh “a repreensão” ou “a disciplina”, nas Escrituras do AT é
usada exclusivamente para descrever um tipo de “punição” usada por Deus, para corrigir e ensinar seu povo ao longo da pere-
grinação. As expressões como a raiz yãkhah “julgar” ou “pronunciar sentença” e müsãr “instrução” (19.20) são outras formas de
se referir à atitude de oferecer educação e disciplina, especialmente aos filhos jovens. A expressão mēbhish “dando motivos de
PROVÉRBIOS 29, 30 188

canso; trará delícias para ti. 26 Muitos procuram o favor das pessoas
18 Um povo que não aceita a revelação do importantes, mas o SENHOR dá o que cada
SENHOR é uma nação sem ordem. Quem um merece!7
obedece à Palavra de Deus é feliz!5 27 O homem iníquo é abominável para
19 Meras palavras não são suficientes os justos, o de caminho reto, entretanto,
para disciplinar um escravo; mesmo que é amedrontador para os ímpios!
as compreenda, não conseguirá reagir
positivamente!6 Palavras proféticas do sábio Agur
20 Vês uma pessoa precipitada ao falar?
Pois espera-se muito mais de um insen-
sato do que de alguém com essa atitude.
30 Palavras de sabedoria divina pro-
clamadas por Agur, filho de Jaque:
Este homem declarou a Itiel; a Itiel e a
21 Se alguém mima seu escravo desde a in- Ucal:
fância, este, por fim, se tornará ingrato! “Ó Deus, fatiguei-me! Fatiguei-me, ó
22 A pessoa de mau gênio sempre causa meu Deus, e exausto estou,1
algum tipo de problema e discórdia. 2 porquanto sou demasiadamente tolo
23 O orgulhoso sempre acabará sendo para ser homem, não tenho a inteligên-
grandemente humilhado; em contraste, cia humana,2
chegará o dia em que o humilde receberá 3 não aprendi a sabedoria, nem tenho o
honra e glória. conhecimento do Santo!3
24 O comparsa de um criminoso é sem- 4 Quem subiu ao céu e de lá retornou?
pre o pior inimigo de si mesmo: se dian- Quem reúne o poder dos ventos em uma
te das autoridades ele disser a verdade, das mãos? Quem represa as águas do mar
será castigado; se não disser, Deus o numa túnica? Quem determinou todos
punirá! os limites da terra? Qual é o seu Nome, e
25 O medo humano sempre arma suas o Nome do seu Filho? Respondei-me, se
ciladas, mas quem confia em Yahweh, o é que o sabes!4
SENHOR, vive em segurança! 5 A Palavra de Deus é comprovadamente

vexame” é a forma causativa do vocábulo bush “envergonhar-se”. Filhos disciplinados, respeitadores e bem educados proporcio-
nam grandes alegrias e muitas honras a seus pais e mestres (31.23; 1Tm 3.2-5).
5 A “revelação” é a mensagem de Deus ou “visão profética” oferecida ao povo, por meio da meditação nas Escrituras ou de
um profeta (aquele que prega a Palavra de Deus). O povo de Israel desviou-se da Palavra e pecou terrivelmente contra Deus,
quando o profeta do Senhor, Moisés, havia se retirado para o monte do Sinai por um breve tempo (Êx 32.25; 1Sm 3.1; Is 1.1;
Am 8.11,12; Pv 8.32; 28.4-14). A KJ de 1611 traduz assim este versículo: Where there is no vision, the people perish: but he that
keepeth the Law, happy is he.
6 Os servos, assim como os próprios filhos, devem ser educados mediante uma sábia combinação de ministração verbal,
ensino, acompanhamento, advertência, correção (disciplina) e punição diante dos erros cometidos. Apenas uma punição clara e
específica por falta cometida; sem xingamentos, agouros, ódio ou mágoas (vv.15,17; 22.6).
7 O mesmo Deus que controla os reis de toda a terra, zela, todos os dias, pelo direito dos justos e dos pobres e indefesos
(21.1; Jó 36.6; 1Rs 10.24).
Capítulo 30
1 Estes dois capítulos finais de Provérbios são apêndices canônicos à obra sapiencial de Salomão. O capítulo 30 apresenta os
“oráculos” de Agur, filho de Jaque, um sábio ligado ao povo ismaelita e ao grupo dos “Sábios” (22.17; 24.23). Itiel e Ucal eram
alguns de seus discípulos mais chegados (Gn 25.13,24). Agur foi mestre de grande sabedoria, como Etã e Hemã (1Rs 4.31). A
palavra “oráculo ou sentença de provação” pode ser aqui interpretada como o nome próprio do lugar onde viveu Agur:  Mãssã
ou Massá (Jr 23.33-38; Is 13.1). No capítulo 31, o rei de Massá, Lemuel, registra as exortações (oráculos ou mensagens de Deus)
ministradas por sua mãe.
2 Mais de 1.000 anos depois da publicação deste provérbio, o apóstolo Paulo chegaria à mesma conclusão diante do Espírito
de Deus (1Tm 1.16).
3 A expressão “Santo” é uma maneira muito peculiar de Salomão e dos “Sábios” se referirem ao Nome do Senhor, no livro de
Provérbios (9.10).
4 Desde a antigüidade, os sábios hebreus costumavam usar vários recursos lingüísticos, como as perguntas retóricas, metá-
foras e figuras de linguagem diversas, com fins estéticos e didáticos. Aqui a grandeza de Deus como Criador supremo é o ponto
enfatizado pelo autor, assim como ocorre no livro de Jó (Is 40.12; Jó 26.8; 38.4-11; Sl 135.7). Hoje, é evidente para nós que o
Nome de Deus é Yahweh e seu Filho, Jesus Cristo, o Messias (Mt 1.21; Hb 1.1-4).
189 PROVÉRBIOS 30

pura, Ele é um escudo para quem nele 15 A sanguessuga tem duas filhas que se
confia totalmente.5 chamam: ‘Me dá!’ e ‘Me dá!’ Há três gran-
6 Não acrescentes nada às suas palavras; des demandas que jamais estão completa-
jamais declare algo que Deus não disse, mente satisfeitas, quatro que nunca decla-
para que Ele não te contradiga e passes ram: ‘É o bastante!’:
por mentiroso.6 16 O Sheol, a mulher sem filhos; a terra
7 Duas bênçãos peço a Ti que me dês, não seca que precisa sempre de chuva; e o
mas negues, antes que eu morra:7 fogo de um incêndio!12
8 Afasta de mim a falsidade e a mentira; 17 Os olhos de quem ridiculariza seu pai,
também não me permitas viver em ex- ou de quem trata sem consideração e
trema pobreza nem em grande riqueza; obediência a própria mãe serão arranca-
concede-me o sustento diário necessário. dos pelos corvos do vale, e serão devora-
9 Para que não ocorra que, tendo em de- dos pelos filhotes dos abutres!
masia, venha eu a imaginar que não pre- 18 Há três caminhos misteriosos demais
ciso do Senhor. Ou, passando miséria, para a minha compreensão, quatro que
acabe roubando e envergonhando o teu não consigo entender:
Nome, ó meu Deus!8 19 O caminho do abutre pelo céu, o
10 Não calunies o servo diante de seu pa- caminho da serpente sobre a rocha,
trão; ele te amaldiçoará, e serás castigado.9 o caminho do navio em alto mar, e o
11 Há quem amaldiçoa o pai e não aben- caminho do homem com sua mulher
çoa a mãe; amada!13
12 há quem se considera puro e não se 20 Entretanto, o caminho da mulher imo-
lava de sua imundície;10 ral é assim: ela pratica adultério, toma
13 há pessoas de olhares altivos; e de sem- banho e logo em seguida alega: “Não fiz
blantes arrogantes; nada de errado!”
14 há quem ostente dentes como espadas 21 Três eventos abalam as estruturas do
afiadas, cujas mandíbulas estão sempre mundo, quatro a terra não pode suportar:
armadas de facas com o objetivo de de- 22 O escravo que se torna rei, o insensato
vorar os fragilizados desta terra e os po- que se satisfaz com sua refeição,
bres da humanidade.11 23 a mulher de mau gênio que consegue

5 Deus e, paralelamente, sua Palavra são denominados o nosso escudo (Gn 15.1; Sl 3.3; 7.10; 18.2,30; Pv 2.7; 14.32; 18.10). A
KJ de 1611 traz a seguinte tradução: Euery Word of God is pure: he is a shield vnto them that put their trust in him.
6 Advertência proclamada pelo profeta Moisés aos israelitas da antiguidade assim como a todos os teólogos e pregadores
de hoje (Dt 4.2; Ap 22.18-19). Nem o Senhor nem Sua Palavra precisam de qualquer ajuda; a humanidade é que carece de
obediência às Escrituras.
7 O estilo poético e profético do sábio Agur é marcado pela composição de listas com cifras características (vv.
15,18,21,24,29).
8 O próprio Moisés previu que Israel desprezaria o Senhor quando passasse a ter fartura em alimentos, grandes rebanhos e
muito conforto material (Dt 8.12-17; 31.20). O Nome do Senhor aqui é Elohim – o Santo (v.17; 2.5; 3.4; 25.2; Gn 2.4). Mais de 1.000
anos depois desta declaração, o apóstolo Paulo ensinaria que conhecer o Nome do Senhor é participar dos seus sofrimentos e
da sua Glória (Fp 3.10).
9 É preciso muito cuidado para não mentir. As falsas acusações provocam fortes reações, e as maldições que são rogadas
contra quem processa calúnias e difamações surtirão seu efeito (26.2). Jamais se deve tirar qualquer proveito da falta de instrução
ou da condição pobre e fragilizada de uma pessoa ou de um povo.
10 Mais de 1000 anos depois desse dito, Jesus Cristo adverte os mestres e teólogos de seu tempo sobre o perigo das dissimu-
lações e arrogâncias (Lc 18.11; Is 65.5).
11 Os perversos se assemelham muito às bestas feras em sua sagacidade, volúpia e violência por devorar suas presas (Sl 14.4;
Jó 29.17; Mq 3.2,3).
12 Como já vimos em outras passagens, a expressão hebraica Sheol pode ser traduzida por “sepultura, profundezas, pó, morte e,
eventualmente, inferno” (27.20; Is 5.14; 14.9,11; Hc 2.5; Ap 20.14). No antigo Oriente e, especialmente, entre o povo de Israel, a espo-
sa sem filhos era marginalizada, desprezada pela comunidade e vivia desolada (Gn 16.2; 30.1; Rt 1.11-21; 1Sm 1.6-11; 2Rs 4.14).
13 É difícil compreender o caminho traçado por quaisquer desses viajantes; a total liberdade, a sinuosidade quase ilógica dos
movimentos (marchas e demarchas), a falta de rastros perceptíveis quando passam (Jó 39.27; Jr 48.40).
PROVÉRBIOS 30, 31 190

se casar, e a serva que toma o lugar de 3 Não entregues a tua força às mulheres,
sua senhora! nem o teu vigor aos que corrompem os
24 Quatro seres da terra são muito peque- que governam.
nos e, contudo, admiravelmente sábios: 4 Escutai, Lemuel! Não é prudente que
25 As formigas, criaturas de pouca força, os reis bebam muito vinho, tampouco
entretanto, conseguem armazenar todo aqueles que têm a responsabilidade de
o alimento de que necessitam no verão; governar se entreguem também às outras
26 os coelhos, animais sem nenhum po- formas de embriaguez;3
der, contudo, habitam nas alturas dos 5 porquanto quando não estão sóbrios se
penhascos; esquecem do bom siso e das leis, e não
27 os gafanhotos, que não têm rei, mas são solidários aos direitos dos fracos e
ainda assim conseguem trabalhar unidos dos pobres.
e avançam em fileiras em direção a um 6 Dá licor ao moribundo, e vinho aos
objetivo; amargurados;
28 a lagartixa, que qualquer pessoa pode 7 bebam e esqueçam-se da miséria, e não
pegar com a mão, contudo, habita tam- se lembrem de suas aflições.
bém nos palácios dos grandes monarcas! 8 Abre a tua boca em favor dos que não
29 Há três seres de andar elegante, quatro podem se defender; sê o protetor dos di-
que se locomovem majestosamente: reitos de todos os desamparados!
30 O leão, que é o mais poderoso de todos 9 Ergue a tua voz e julga com justiça, de-
os animais, e nada o intimida; fende o pobre e o indigente.”4
31 o galo de andar altivo; o bode; e o rei à
frente do seu exército! Acróstico da mulher virtuosa
32 Se procedeste como um tolo em te 10 Mulher virtuosa, quem a achará? O
exaltares ou se tramaste o mal, tapa a seu valor em muito ultrapassa os das
boca com a mão. mais finas jóias!5
33 Pois assim como bater o leite produz  Alef
manteiga, da mesma forma, uma pan- 11 O seu marido tem plena confiança nela,
cada no nariz faz jorrar muito sangue e e a miséria jamais chegará à sua casa.
provocar a raiva de alguém só produzirá  Bet
uma grande briga! 12 Essa esposa exemplar faz ao seu mari-
do sempre o bem e nunca o mal.
Palavras proféticas do rei Lemuel  Guimel

31 Oráculos de Lemuel, rei de Massá,


os quais sua mãe lhe ministrou:1
2 “Que tens, amado filho meu? Filho de
13 Escolhe a lã e o linho e com alegria tra-
balha com as próprias mãos.
 Dalet
minhas entranhas, resposta às minhas 14 Como os navios mercantes, ela traz de
orações!2 longe as provisões para seu lar.

1 No antigo sistema monárquico hebraico, a rainha-mãe exercia grande influência nas decisões do marido e dos filhos, especial-
mente em relação ao filho mais velho e futuro monarca (1Rs 1.11-13; 15.13). Essa tradição passou para a cultura israelense e, hoje em
dia, é mundialmente conhecida a influência das mães judias em suas famílias. Todo o livro de Provérbios é poeticamente povoado de
personagens femininos disputando a atenção e o coração do homem (a Sabedoria, a Insensatez, a Adúltera, a Virtuosa etc...).
2 Um exemplo de Ana, mulher que buscou, na fé e em suas orações ao Senhor, a realização do seu sonho de ser mãe e liber-
tação da ignomínia que a tradição judaica impunha às esposas sem filho, de sua época (1Sm 1.11).
3 Pobre da casa ou da nação onde seus líderes são dependentes do álcool ou de algum outro tipo de droga (20.1; Ec 10.16,17;
Os 7.5). Governantes imorais e viciados afastam-se de tudo o que é justo e verdadeiro, desprezando as necessidades básicas
do seu povo e país (5.23; 10.2; 30.14).
4 O líder maior de uma nação recebe de Deus a responsabilidade de zelar pela edificação espiritual, cultural e bem-estar do seu
povo (16.10; Lv 19.15; Sl 82.3; Jó 29.12-17; Is 1.17).
5 No original hebraico, este poema foi composto em acróstico, no qual as primeiras letras de cada parágrafo (versículo) seguem
a ordem alfabética judaica. Esta peça literária é uma apologia à “esposa exemplar” (12.4; Rt 3.11) e uma personificação da própria
191 PROVÉRBIOS 31

 He seu marido toma assento entre as autori-


15 Antes do romper da aurora, ela se le- dades de sua terra, ele é respeitado.
vanta a fim de preparar a comida para  Nun
todos os de casa e dar ordens às suas co- 24 Ela produz roupas de linho e as vende,
laboradoras. fornece também cintos de couro aos co-
 Vav merciantes.
16 Ela sabe avaliar a conveniência de um  Samek
campo agricultável e o compra com o 25 Sua melhor roupa consiste de força
seu salário; planta nessas terras sua pró- e dignidade; é otimista em relação ao
pria vinha. futuro!7
 Zayin  Ayin
17 Dedica-se com prazer a seu trabalho; 26 Abre a boca com sabedoria, e sua língua
seus braços são fortes e vigorosos. sabe ensinar com bondade e paciência.8
 Het  Pê
18 Administra com sabedoria, e seus ne- 27 Acompanha seus servos e cuida dos
gócios produzem lucros; mesmo tarde da negócios de sua casa sem dar lugar à pre-
noite sua lâmpada não se apaga. guiça.
 Tet  Tsade
19 Com talento e delicadeza prepara os 28 Seus filhos fazem questão de elogiá-
fios de lã e de linho para tecer as roupas la e seu marido proclama suas virtudes,
da família.6 afirmando:
 Yod  Qof
20 Coopera com os pobres e necessitados. 29 “Muitas mulheres são notáveis, tu, po-
 Kaf rém, a todas sobrepujas!”
21 Quando chega o inverno rigoroso, ela  Resh
não se preocupa, pois todos em sua casa 30 A beleza é uma ilusão, e a formosura é
têm agasalhos para vestir. passageira; contudo, a mulher que teme a
 Lamed Yahweh, o SENHOR, essa será honrada!
22 Tece cobertas para sua cama e tem  Shin
condições para se vestir de linho e púr- 31 Seja essa mulher virtuosa recompen-
pura. sada por seus merecimentos, e suas boas
 Mem obras, proclamadas à porta da cidade!9
23 Nas assembléias à porta da cidade, onde  Tav

“sabedoria”. Evidentemente, quem a encontra é porque recebeu de Deus essa graça, bênção e presente mais rico do que muitos
diamantes, rubis e esmeraldas (vv.1-7; 3.15; 8.11,35; 18.22; 19.14). Maria, de Betânia, foi considerada por Jesus, o Messias, uma
“mulher exemplar” (Lc 10.38; Jo 11.1-14). A mulher  “de ânimo esforçado” (notável), assim como o homem sábio aprendeu o
que significa o “temor do Senhor” (1.7). A KJ de 1611 traduz este versículo assim: Who can finde a virtuous woman? for her price
is farre aboue Rubbies.
6 Este versículo tem sido traduzido literalmente por “Ela estende as suas mãos ao fuso, e suas mãos pegam na roca”, como na
KJ de 1611: She layeth her handes to the spindle, and her handes hold the distaffe. Expressões ligadas à cultura hebraica agrícola
e mecânica, da época, hoje pouco conhecidas da maioria dos falantes de língua portuguesa.
7 A mulher exemplar, além de ser empreendedora, não deixa de ser feminina, delicada e de dar atenção a sua beleza exterior e
modo de vestir (vv.19-22,30; Gn 41.42; Jz 8.26; Ct 3.10; 2Sm 1.24; Ap 18.16; Pv 3.14; 6.9,10; 20.13; 27.27; Lc 12.42). Entretanto,
é na força do seu amor sincero a Deus que seu caráter é lapidado como o mais belo ornamento (Is 52.1; 1Tm 2.9,10; 1Pe 3.1-6;
Sl 35.26; Jó 16.20; 39.7; Pv 14.21; 22.9).
8 Ensina com amor, dedicação e paciência a seus filhos e amigas. Aprendeu a aconselhar mediante a Palavra do Senhor que
aplica à sua própria vida e cujos resultados avalia, com humildade e misericórdia para com o próximo (1.8,21; 6.20; 22.4; Gn
30.13; Sl 72.17; Ct 6.9; Ml 3.12; Rt 4.14,15).
9 A mulher notável, assim como o homem sábio aprenderam o que significa o “temor do Senhor” e, por isso, serão grandemen-
te recompensados; aqui, agora e eternamente (1.7,21; 12.14; 22.4; Mt 25.21,34).

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