Professional Documents
Culture Documents
Maio/2011
1 DADOS GERAIS SOBRE O AUTOR E A OBRA
LUTERO, MARTINHO. Nascido Escravo. São José dos Campos: Fiel, 2007.
2 ANÁLISE DA OBRA
2.1 Resumo
Esta obra é uma versão condensada do livro "A Escravidão da vontade", escrito por
Martinho Lutero e publicado pela primeira vez em 1525. A questão central gira em torno
da existência ou não do livre-arbítrio,ou seja, poderia o ser humano voltar-se para Cristo
de forma voluntária e, sem qualquer ajuda, ser salvo de seus pecados? Esta questão foi
tema da discussão entre Desidério Erasmo (1466-1536, monge agostiniano por sete anos,
estudioso do grego, que rejeitou muitas das superstições da Igreja Católica e tinha uma
filosofia mais voltada para o humanismo) e Martinho Lutero (1483-1546, monge
agostiniano, pastor, teólogo, estudioso fluente em grego e hebraico, ele compreendia que
quaisquer crenças e experiências precisavam ser testadas à luz das escrituras). Erasmo
defendia a idéia do livre-arbítrio, ao passo de que Lutero refutava de forma vigorosa os
argumentos lançados por ele.
A obra é iniciada com a exposição dos ensinamentos bíblicos, na visão de Lutero,
que podem ser utilizados para discussões sobre a questão do livre-arbítrio. Vários pontos
são abordados, como a culpa universal da humanidade, a salvação ocorre pela graça de
Cristo e exclusivamente mediante a fé, o homem é incapaz de crer no evangelho e por
isso todos os seus esforços não podem salvá-lo, dentre outros, mas tudo culminando na
máxima de que o homem possui uma natureza carnal e que as melhores obras da carne
são hostis è Deus, ou seja, sendo o livre-arbítrio é uma obra carnal, não pode levar o
homem a justificação perante Deus.
Com base em seus argumentos iniciais, Lutero parte para o embate contra seu
oponente, expondo as idéias de Erasmo, mostrando as incoerências e contradições de
suas conclusões, as falhas de sustentação e interpretação bíblica, bem como refutando
cada uma delas com referências e comentários sobre a interpretação mais correta do
texto sagrado. Ao final, critica ainda o posicionamento de Erasmo com relação aos textos
bíblicos que negam a existência do livre-arbítrio.
O reformador realiza toda a sua defesa de forma ávida e vigorosa, muitas vezes
sendo até ser áspero em suas palavras para com Erasmo, mas em sua conclusão ele
expressa o seu verdadeiro anseio: "nesta controvérsia, não quero gerar mais calor do que
luz".
2.2 Principais pontos de vista do autor
• O homem não pode nada por si mesmo. Em verdade, até para que o Evangelho
faça efeito em sua vida e ele seja justificado, o homem depende do toque do
Espírito Santo. Ninguém consegue voltar-se para Cristo e ter a consciência de seu
pecado sem que isso lhe seja revelado através do Evangelho. A visão que a Boa
Nova dá ao ser humando é muito mais abrangente e profunda – a qual não pode
ser alcançada através da simples consciência humana. Isso ficou bem expressado
quando Lutero diz que "as nossas fraquezas pertencem a nós mesmos e nossa
capacidade nos é dada através da graça de Deus" (pg 61);
• O senso de dever não é evidência da capacidade de cumprí-lo, com isso o autor
mantém sua posição de que a lei revela o pecado (sem lei não há pecado), mas o
fato de o homem receber a lei não significa que ele tem a capacidade de cumprí-la.
Desta maneira, a lei não nos foi dada como um manual que nos mostra como
podemos fazer as coisas da maneira correta, mas sim para nos mostrar no que
consiste o pecado e quais são as suas consequências;
• Todos pecamos e merecemos a condenação, com base nas palavras de Paulo em
Romanos "todos pecaram e destituídos estão da graça de Deus". Lutero trabalha
muito a questão da "graça divina";
• Deus é bom, justo e soberando. Ele não pode fazer o mal – isso seria negar a sua
própria natureza;
2.3 Opiniões do autor que poderiam ser absorvidas para sua vida (de caráter geral
ou particular)
No que diz respeito a vontade revelada e a vontade secreta de Deus (pg 56 e 57,
59 e 60), acredito que o esclarecimento de Lutero sobre este assunto não deixa mais
margem para questionamentos filosóficos sem base bíblica. O reformador diz que "de
acordo com a sua vontade secreta planejou aqueles que receberiam sua misericórdia".
Concordo com seu ponto de vista, pois afirma que não cabe a nós questionar a vontade
secreta de Deus, pelo contrário, devemos adorá-lo reverentemente e nos interessar por
aquilo que Ele nos tem revelado.
Outro ponto diz respeito a uma linha de pensamento que é muito utilizada hoje nas
igrejas é a de se "fazer algo bom somente para que você tenha mais uma esmeralda na
sua coroa de glória". A linha de pensamento de Lutero, de que "um cristão não faz algo
para obter vantagens, mas o faz porque é correto perante o Senhor" pode ser bem
utilizada para corrigir este pensamento que hoje assola boa parte das igrejas.
Também deixamos de lado muitas vezes o princípio básico da graça divina
constantemente presente em nossa vida: todos pecamos e merecemos a condenação!
Isso é algo para ser relembrado a cada momento e foi bem expressado por Lutero: "se a
minha salvação fosse deixada ao meu encargo [...] eu jamais poderia ter certeza do
sucesso [...] por meio do livre-arbítrio, ninguém poderá ser salvo. Mas por meio da livre
graça muitos serão salvos".