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TÓPICOS
DE
ÍNDICE
INTRODUÇÃO, 5
01 – O Mundo Helênico, 7
02 – O Mundo Romano, 9
05 – O Período da Renascença, 22
06 – O Regime Colonial, 24
07 – A Escola Fisiocrática, 29
08 – A Escola Clássica, 30
09 – A Doutrina de Malthus, 31
10 – A Teoria da Renda de David Ricardo, 32
11 – A Influência da Escola Clássica, 35
12 – Stuart Mill, 36
19 – A Grande Depressão, 51
20 – A Economia do Pós-Guerra, 55
APÊNDICE, 77
A MOEDA, 79
A RENDA NACIONAL, 81
A FORMAÇÃO DOS PREÇOS, 83
A POLÍTICA DEMOGRÁFICA, 85
QUESTIONÁRIO, 87
BIBLIOGRAFIA, 91
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 5
______________________________________________________________________
INTRODUÇÃO
Em nossa abordagem, não nos furtamos a incluir um breve escorço sobre as Escolas
Econômicas (Fisiocrática e Clássica), cujos conceitos teóricos são indispensáveis para a
compreensão mais exata da evolução dos fatos históricos sob o prisma econômico.
1
Mesmo aqui devemos distinguir entre a história dos fatos econômicos (constituídos pelas ações
realizadas pelos indivíduos), e a interpretação intelectual (muitas vezes a posteriori), destes mesmos
fatos, e que constituem propriamente tanto a teoria econômica (proposta para explicá-los) quanto a
história das (várias) teorias econômicas propostas.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 6
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Quase sempre, os fatos concretos ocorrem no bojo de um substrato teórico que lhes dá
causa.
Além disso, o nosso propósito é o de tentar buscar um entendimento acerca da
evolução do pensamento, da história e dos fatos econômicos, apelando eventualmente
para disciplinas autônomas auxiliares, tais como a História, a Antropologia, Ciência
Política, entre outras, mas apenas com o objetivo de elucidar o modo como se deu tal
evolução.
As leitura complementares têm por objetivo dar um suporte teórico maior, que
permita ao leitor entender e interpretar as causas e motivações econômicas que
conduzem o desenvolvimento da história. O Capítulo IV em especial, bem como as
leituras constantes do Apêndice, ainda que tenham um conteúdo não programático, irão
reforçar este suporte teórico, muitas vezes buscado pelo leitor mais exigente.
Aqueles que desejarem expandir seus conhecimentos para além destes modestos
tópicos, encontrarão na bibliografia uma indicação para auxiliar tal intento.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 7
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CAPÍTULO I
O MUNDO ANTIGO
1 – O Mundo Helênico
O estudo dos povos primitivos levou à conclusão de que a sua conduta, sob o aspecto
das relações econômicas, pautava-se por um primitivo sistema de trocas, inexistindo
qualquer tipo de moeda como base de troca, ou usando-se, para tal finalidade, objetos
tidos como valiosos, tais como dentes ou peles de animais, clavas, arcos e flechas, etc.
Em épocas recuadas, supõe-se que os indivíduos não tinham a capacidade de lavrar
ou de semear a terra, com a finalidade de garantir uma provisão constante de alimentos.
É possível que houvesse inicialmente apenas um sistema simples de coleta de vegetais,
a par de um sistema baseado na caça coletiva de animais, como fonte de alimentação,
pela sua carne, e de proteção contra as intempéries, pela sua pele. A subsistência podia
ser suprida também através da pesca e do consumo de frutos silvestres. Talvez os
alimentos fossem consumidos crus, e, com certeza, não havia como armazená-los para
posterior consumo. Isto transformava a atividade de subsistência em um processo
permanente, causando a necessidade de os grupos estarem em constante deslocamento,
sem se fixarem em definitivo em uma localidade qualquer. Os grupos eram, então,
selvagens e errantes, vagando de região a região, entrando eventualmente em conflito
com outros grupos, quando invadiam sua área de caça.
Aos poucos, os grupos foram se fixando em determinados locais mais amenos, onde
puderam desenvolver um sistema de lavratura da terra; foi onde surgiram as primeiras
comunidades. Surgiu assim a atividade pastoril, com a domesticação de certos animais,
principalmente gado e ovelhas. A nutrição aos poucos mudou para o consumo de grãos
e sementes, o que acarretou diversas conseqüências. Entre elas, a necessidade de usar
instrumentos e utensílios, ainda que rudimentares, seja para arar a terra, seja para a
transformação dos alimentos: trituração; moagem; fermentação; etc. A fixação à terra,
ainda que criando grupos comunais, pode ter levado à necessidade de isolar grupos
familiares em terrenos restritos e vivendo em cabanas, o que terminou por levar ao
conceito de “propriedade”. A necessidade de defender esta propriedade também levou
ao desenvolvimento de armas rústicas de defesa.
Evidentemente, nada causou tanto impacto quanto a domesticação do fogo, ou seja, a
capacidade de acender e manter uma fogueira, sem ter que esperar pela queda de um
raio, que o provocasse. O fogo, que podia ser provocado pelo atrito entre galhos secos,
serviu para cozer alimentos, e com o tempo permitiu o nascimento de uma incipiente
“indústria” de forja, pela manipulação de metais dúcteis e de baixo ponto de fusão:
inicialmente criando instrumentos de cobre, e posteriormente desenvolvendo
ferramentas de ferro.
A partir de 600 a.C., começou a surgir as civilização que mais iria influenciar a
civilização ocidental: a civilização grega. A época mais recuada, ou época de Homero
(que escreveu a Ilíada e a Odisséia), cada aldeia e cidade era bastante independente, e o
tipo de vida econômica e social era bastante simples. A atividade diária de subsistência
consistia em lavrar a terra, colher no tempo certo e trocar as mercadorias no mercado da
cidade.
2 – O Mundo Romano
Roma foi a mais importante cidade dos tempos antigos, em virtude de sua hegemonia
militar. Aproximadamente em 265 a.C., toda a Itália já estava sob o jugo romano, e
Roma encontrava apenas uma cidade que rivalizava com ela em força militar: Cartago.
Ambas eram cidades ricas, prósperas e com grande força militar, e o embate entre elas
durou muitos anos, antes que Roma a vencesse.
As guerras com Cartago obrigaram a que Roma iniciasse uma expansão militar pelo
Mediterrâneo, vencendo e conquistando povos vizinhos. Tais guerras3 tiveram grandes
conseqüências; além de mudar a vida cultural romana, iniciaram uma grande revolução
social e econômica, cujas características principais foram: um grande aumento da
escravidão, como resultado da captura de enorme contigente de prisioneiros de guerra; o
lento desaparecimento dos pequenos lavradores, que não podiam competir com o trigo
mais barato cultivado nas províncias conquistadas; o aumento explosivo de uma classe
de lavradores e camponeses empobrecidos, cujo trabalho fora substituído pela mão-de-
obra escrava; o surgimento de uma classe média formada de mercadores, usurários e
“publicanos”4 ; o surgimento de uma classe opulenta, que enriquecia com os lucros de
guerra.
Estas transformações levaram a contínuos conflitos de classes, em razão do profundo
abismo que passou a separar ricos e pobres. A situação política degenerou a tal ponto
que provocou diversas revoltas dos escravos, sendo que a mais famosa ocorreu quando
um escravo chamado Espártaco5 liderou, em 73 a.C., uma revolta contra o jugo romano,
à frente de 70.000 revoltosos.
Entre os lavradores sem terra, deu-se a chamada “revolta dos Gracos”, que lutavam
contra a aristocracia senatorial. Tibério Graco fazia parte da elite, mas defendia o
interesse dos lavradores, o que deu motivo a que fosse morto a mando da aristocracia.
2
Havia três classes principais: a classe dos esparciatas, dominante; os periecos, intermediária (que viria a
constituir a classe média); os ilotas, classe composta de servos (que eram desprezados pelos seus amos).
3
As famosas Guerras Púnicas.
4
Que detinham o poder de explorar minas, construir e manter estradas e cobrar impostos.
5
Espártaco não era propriamente um escravo, e sim um gladiador que lutava nas arenas romanas. Ele foi
capturado e morto em batalha, e mil de seus adeptos foram crucificados.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 10
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Nove anos depois, o seu irmão, Caio Graco, também foi morto ao tentar defender os
interesses dos desprotegidos.6
Roma, que era uma república, tornou-se politicamente um império. Foi durante esta
época que começou o seu declínio. A manutenção de um extenso império, a luta
contínua contra os bárbaros, a corrupção interna, eram fatores que corroíam os recursos
do Estado e que acabaram levando à sua queda.
Outro fator, de ordem econômica, era a balança de comércio desfavorável, com as
províncias. Aos poucos, com o contínuo escoamento de metais preciosos para fora, o
governo romano, ao invés de incrementar as manufaturas para exportação, optou por
aviltar a moeda. Isto teve graves e drásticas conseqüências: o desaparecimento do
dinheiro de circulação, e o retorno às trocas de mercadorias; o declínio da indústria e do
comércio; o crescimento da escravidão; o aumento da intervenção governamental sobre
a economia, com resultados em geral catastróficos. Além disso, o aumento exacerbado
da carga tributária sobre a classe média desencorajava qualquer novo empreendimento
econômico.
6
Em ambos os casos, eles queriam fazer passar uma legislação que permitisse o acesso dos pobres a um
trigo mais barato.
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LEITURA COMPLEMENTAR
A Economia Primitiva
Aristóteles fez uma distinção bastante precisa (e até hoje usada) quanto às funções da
moeda: ela serviria como intermediária de trocas comerciais; como instrumento de
comparação de valores; e como uma reserva de valor. Ele propôs também uma questão
monetária que só se resolveu em tempos modernos. O valor da moeda depende do valor
do metal precioso de que é feita, ou o seu valor depende da autoridade de quem a coloca
em circulação?7 Platão era de opinião que a moeda tinha um valor nominal, constituído
pelo Estado, talvez porque em sua época as moedas eram cunhadas em metal nobre, de
ouro ou prata (mas as havia, também, de chumbo, cobre e bronze). Para Xenofonte, o
valor da moeda estava no valor do metal precioso que a constituía. Já Aristóteles não se
definiu quanto à questão, admitindo uma posição dúbia intermediária. Aristófanes foi o
primeiro a evidenciar o fato de que a moeda de melhor qualidade é expulsa da
circulação pela moeda de pior qualidade8 (a primeira passa a ser entesourada ou
7
Quando percebemos, nos tempos atuais, que a moeda foi sendo gradativamente substituída por sistemas
cada vez mais abstratos de crédito (os vários tipos de títulos de crédito: o papel-moeda; o cheque, o
cartão, etc.; os créditos interbancários nos quais apenas valores eletrônicos mudam de lugar), percebemos
cada vez mais que a moeda é, em princípio, um acordo em comum acerca de um valor atribuído a uma
ficção monetária instituída pelo Estado (vide A MOEDA, pág. 77).
8
Esta é a chamada Lei de Gresham.
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derretida, pelo seu maior valor). Opunham-se, então, as teorias “nominalista”9 e
“metalista”, com debates acirrados sobre a questão.10
“O romano é consumidor, mas não quer ser produtor. Sem dúvida era
próspera, a princípio, a agricultura romana; mas logo os lavradores
indígenas, pequenos proprietários de suas terras, foram sendo substituídos
por escravos, enquanto a pequena propriedade, de cultura intensiva, cedia
os passos ao latifúndio, de cultura extensiva. Dentro em pouco passaram as
artes e os ofícios industriais e o comércio a ser considerados atividades
indignas de um homem livre. Roma faz com que produzam para ela; as
províncias, conquistadas e escravizadas, abastecem-na do necessário ao
seu consumo.” (HUGON, Paul. Pág. 42).
9
No período medieval a teoria nominalista foi retomada pelos chamados regalistas, e ela é hoje uma das
teorias preferidas pelos economistas. A este respeito, é importante considerar a impossibilidade,
atualmente, de qualquer país ou nação conseguir lastrear os seus ativos circulantes. O montante de moeda
em circulação no mundo, considerando-se apenas o dólar dos EUA, ultrapassa consideravelmente a
quantidade de ouro em estoque, seja em Forte Knox, seja nos cofres-fortes dos Bancos Centrais dos
países mais ricos.
10
Os marxistas, para verem justificada a sua teoria do valor-trabalho, aceitavam a teoria metalista.
11
Estas vias romanas começaram a ser edificadas no século IV a.C., continuando até o século IV d.C. (ou
seja, durante oitocentos anos elas se expandiram, sendo mantidas e cuidadas de forma a permitir um fácil
acesso a todo o império).
12
As quais, curiosamente, ainda prevalecem ainda entre os teóricos modernos, que oscilam entre a duas
tendências apontadas no texto.
13
O individualismo veio, mais tarde, a se desenvolver nas chamadas escolas fisiocrata, clássica e no
moderno neo-liberalismo.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 13
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previsivelmente, foram desastrosas, provocando a derrocada da lavoura.14 Além dessas,
outras leis intervencionistas vieram conturbar o sistema econômico romano, provocando
déficit orçamentário e fraudes sem fim. Quanto maiores se tornavam os problemas, mais
o Estado intervinha, tentando por sob controle a economia. O plantio, a colheita e o
transporte dos grãos era todo colocado sob estrito controle monopolista do estado.
A tendência individualista surgiu sob a ótica jurídica, que veio dar ênfase ao sistema
de propriedade privada, do direito das obrigações, dando um contorno visível à
transmissão da propriedade, seja por meio de venda, seja por meio de sucessão. A obra
dos jurisconsultos romanos veio a lançar as bases doutrinárias da economia política que
começou a se desenvolver no Renascimento, vindo a desembocar nas escolas
fisiocrática e clássica, e no chamado Liberalismo Econômico.
14
Alguns cantos ou hinos desta época foram compostos visando levar os romanos de volta à atividade
rural, pela celebração da vida rústica. Como exemplos, temos os poemas “De re rustica”, de Catão, e “As
Geórgicas”, de Virgílio.
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TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 15
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CAPÍTULO II
DE BIZÂNCIO AO FEUDALISMO
4 – As Invasões Bárbaras
No Império do Ocidente, a invasão dos bárbaros ocorrida entre os anos de 395 d.C. e
571 d.C. deixou terras devastadas e povos trucidados por onde eles passaram. Em sua
esteira ficavam apenas ruínas de povoados, de cidades e de terras de cultivo, numa ânsia
inconcebível de destruição. Os bárbaros invadiram a Trácia, a Panônia, as Gálias, a
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África, a Itália, e finalmente a própria cidade de Roma, jogando abaixo séculos de
refinamento cultural e de civilização. Se é possível situar no tempo o início das trevas
que se abateram sobre o ocidente, dando início à Idade Média, é exatamente no período
destas invasões. O ano de 410 d.C. representa aproximadamente este limite entre idades,
dando fim à idade antiga e iniciando um período que só veio a ter término por volta do
ano de 1300.
Até a época das primeiras cruzadas pouca coisa tinha mudado após mais de
quinhentos anos, no continente europeu. Com o término dos império romanos do
Ocidente e depois do Oriente, um marasmo se instalou por todo lado e a evolução
histórica e cultural dos povos europeus como que estagnou. O feudalismo, regime
estático por excelência, tornou-se dominante. A Idade Média estava começando.
Foi com o Papa Urbano II e com Pedro, o Ermitão, que conclamaram à libertação de
Jerusalém e do Santo Sepulcro do jugo muçulmano, que tiveram início as primeiras
cruzadas. Estas foram movimentos militares de inspiração religiosa que lançaram as
bases para uma mudança profunda nas estruturas sociais, políticas e mesmo religiosas
até então vigentes. Seguindo o caminho aberto pelas cruzadas, o comércio intensificou-
se por toda as rotas asiáticas, com o que as cidades portuárias de Pizza, Veneza e
Gênova alcançaram grande poder marítimo. O comércio intensificou-se a tal ponto que
as instituições feudais mostraram-se incapazes de atender a demanda dos territórios
conquistados; esta situação, por fim, conduziu à criação de centros urbanos por todo
lado, sementes das futuras cidades européias, bem como contribuiu decisivamente para
a derrocada do feudalismo e para a ascensão futura de uma nova classe, a burguesia.
O contato dos cruzados com a civilização árabe, bem mais refinada e culta nesta
época, levou por outro lado a mútuos intercâmbios culturais que mais aproveitaram ao
Ocidente. Os árabes tinham traduzido os autores gregos clássicos, os quais chegaram,
via as traduções muçulmanas, às mãos de vários estudiosos ocidentais. Os sistemas de
filosofia, a medicina, a matemática, a geometria, a literatura, a arquitetura, formaram
parte deste legado cultural.
***
15
Região da Europa localizada ao longo do Mar do Norte. Atualmente, está dividida entre a França,
Bélgica e Holanda
16
Região do nordeste da França; no período medieval, foi um importante condado , tendo atingido o seu
apogeu no século XIII, graças às feiras que realizava.
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17
Povo germânico que veio a se fixar na Panônia (atual Hungria).
18
Algumas classes sociais mais elevadas, tais como juizes e eclesiásticos, que costumavam ter uma renda
fixa, ficavam prejudicados por estas mutações de valor na moeda. O povo também via-se despojado,
quando era obrigado a receber moedas de valor nominal muito baixo, em troca de mercadorias de muito
maior valor. Foi o que ocorreu, por exemplo, graças a um edito real de Jaime II, que forçou o
recebimento, sob pena de morte, de moedas de cobre cujo valor aposto era seis vezes maior do que o seu
valor intrínseco.
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CAPÍTULO III
O MERCANTILISMO
***
5 – O Período da Renascença
A partir do ano 1300, as características gerais que definiam o feudalismo começaram a
desaparecer. Novas instituições e novos modos de pensar vieram substituir o
pensamento escolástico e as dogmáticas e esclerosadas instituições políticas, sociais,
econômicas e religiosas que tinham dominado por séculos. A noite prolongada do
período medieval foi sucedida por um período de grandes conquistas em todos os
campos do conhecimento. Até cerca de 1650, houve um súbito renascimento do
interesse pela cultura clássica, caraterizada pelas civilizações grega e romana. O século
XVI, principalmente, foi um século marcado por grandes mudanças sociais, geográficas,
religiosas e políticas. Foi o século das grandes descobertas, das grandes invenções, das
grandes navegações de Magalhães e Colombo, os quais descobriram novos continentes.
Entre as grandes invenções do período, encontra-se a da imprensa, que viria a se tornar
um poderoso fator de difusão das novas idéias.
***
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 23
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19
O fundamento das concepções religiosas do protestantismo baseava-se na doutrina pela qual os homens
se justificam (ou se “salvam”) não pelas obras, mas pela fé. Enquanto esta última favorecia o poder do
clero católico (única via “salvacionista”), a primeira admitia uma “verdade do coração”, tornando-se o
homem juiz de si próprio. Esta doutrina individualista chamou a atenção da nova classe média de artesãos
e negociantes, porque eliminava a culpa que se admitia ser trazida pelo acúmulo de riqueza. Embora a
ética protestante (o chamado “espírito puritano”) atribuísse grande importância ao ascetismo e à
temperança, por outro lado admitia uma valorização religiosa do trabalho (considerado uma forma de
glorificar a Deus) e o próprio lucro, que seria uma mostra da generosidade divina.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 24
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6 – O Regime Colonial
As grandes navegações iniciadas pelos portugueses, espanhóis, ingleses e
holandeses, principalmente, propiciaram o descobrimento de terras desconhecidas fora
do continente europeu, que foram reivindicadas pelas coroas (reinos ou impérios) que as
descobriram (a que se acrescentam a Bélgica e a França). O continente sul-americano,
por exemplo, sofreu colonização espanhola e portuguesa, e foi a fonte de grandes
riquezas minerais, seja de ouro, prata ou pedras preciosas, que enriqueceram o erário
das nações européias.
20
Este interesse tinha por base a necessidade de Cromwell de arregimentar uma nova classe que o
apoiasse contra os interesses da nobreza, que poderia tentar fazer voltar o regime monarquista.
21
Já no século XV a Inglaterra possuía uma grande indústria têxtil, como também a hegemonia do
mercado mundial de produtos têxteis.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 25
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“O início dessa colonização de povoamento no século XVII abre uma etapa
nova na história da América. Em seus primeiros tempos essas colônias
acarretam vultosos prejuízos para as companhias que as organizam.
Particularmente grandes são os prejuízos dados pelas colônias que se
instalam na América do Norte. No êxito da colonização agrícola portuguesa
tivera como base a produção de um artigo cujo mercado se expandira
extraordinariamente. A busca de artigos capazes de criar mercados em
expansão constitui a preocupação dos novos núcleos coloniais.”
(FURTADO, Celso. Pág. 21/22).
22
Em alguns casos, como a colonização do Brasil, por exemplo, as guerras napoleônicas forçaram a
transferência de toda a corte para o território da colônia, mudando drasticamente o seu status político
(entretanto, deve-se à perspicácia e ao gênio do Visconde de Cairú ter convencido D. João VI a abrir os
portos brasileiros ao comércio internacional, em 1808). Antes disso, a colônia não podia comerciar com o
exterior.
23
A disputa entre estas potências, entre outras coisas, levou à criação do Tratado de Tordesilhas.
24
Foi esta política monopolizadora que provocou a revolta de várias colônias. A política de comércio do
sal, por exemplo, deu ensejo às lutas pela independência por parte dos Estados Unidos da América, bem
como foram o motivo unificador da resistência indiana contra a dominação inglesa.
25
Este foi basicamente um fenômeno político (a formação e exploração de colônias), e apenas a forma
como se desenvolveu a exploração econômica nos interessa realmente, no contexto que estudamos este
assunto. Politicamente, a colonização pressupõe uma relação de dependência entre o colonizado – a
colônia – e a metrópole – o colonizador. É um fenômeno que resultou do Mercantilismo, e predominou
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 26
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Os mercantilistas, ainda que pecassem pelo excessivo valor dado aos metais
preciosos como fonte de riqueza, ainda assim tiveram o mérito de ter desenvolvido uma
idéia ou noção nova, qual seja a de economia nacional. Além disso, as formas de
comércio que desenvolveram criaram as bases políticas para as florescentes dinastias da
Áustria, de Florença e de Frankfurt, entre outras. Foi daí também que surgiriam os
modernos e poderosos complexos bancários, base de todo sistema capitalista.
até pouco antes da II Guerra Mundial; após esta, as colônias iniciaram um processo irreversível de
emancipação política e de independência.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 27
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LEITURA COMPLEMENTAR
Não existiu apenas um sistema mercantilista, mas vários, de acordo com o país. A
Espanha, por exemplo, confundia os conceitos de “riqueza” e “metal precioso”, achando
que o mero acúmulo deste levaria àquela. Esta forma rudimentar de mercantilismo era
chamada de “metalista” ou de “bulionista”.26 Criavam-se medidas para impedir ou
restringir a saída ou evasão de metais valiosos; por outro lado, criavam-se mecanismos
para tentar atrair moedas estrangeiras para dentro do país. No comércio entre os países,
regrada pela chamada “balança de contratos”, os navios espanhóis eram obrigados a
levar mercadorias e a voltar com cargas de ouro. Quanto aos navios estrangeiros que
aportavam com suas cargas em portos espanhóis, deveriam voltar com mercadorias, e
não com pagamento em moedas ou em metais preciosos.
Esta concepção mercantilista de “balança de contratos”, devido ao seu caráter
restritivo, veio a evoluir para o sistema denominado “balança de comércio”. Na troca
entre metais preciosos, buscava-se sempre uma condição favorável de superávit, que
assegurasse ao país uma posição de credor. De qualquer modo, concebia-se a riqueza
como resultado do acúmulo incessante de moeda e de metais preciosos.
A França tinha outra posição, denominada mercantilismo “industrialista” ou
“colbertista”.27 Colbert fomentou a indústria, com a finalidade de aumentar a quantidade
de mercadorias exportadas, que seriam trocadas por metais preciosos. Caracterizou-se
pelo intervencionismo de Estado, que outorgava monopólios de produção e
regulamentava a indústria. O preço do trabalho, ou mão-de-obra, era fixado em um
máximo. Também a taxa de juros era determinada pelo Estado. A preocupação
metalista, voltada ao acúmulo de metais pela exportação, além de restringir o consumo
interno, forçou a ingerência do Estado também em outros campos, como a adoção de
uma política demográfica (favorável ao crescimento populacional, que redundaria em
mais gente produzindo) e a organização de um exército poderoso.
A Inglaterra, por sua vez, adotou um sistema mercantilista de moldes
“comercialistas”. Sendo uma grande potência marítima, podia comerciar em grande
escala em todo o mundo conhecido. Para conseguir um saldo favorável na balança de
pagamentos, o Estado regulamentava a produção e controlava as vendas no exterior,
assegurando-se de que a importação de ouro e prata fossem superiores à sua exportação.
26
De bullion, ouro em barras ou em lingotes.
27
De Jean Baptiste Colbert (1619-1683), ministro das Finanças do Rei Luís XIV.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 28
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exportações realizadas. Achava que a simples criação do papel-moeda deveria permitir a
aquisição de mercadorias, por ser o melhor instrumento de trocas.
28
Este tipo de equívoco repetiu-se em diversas oportunidades históricas. Logo após a Revolução
Francesa, a escassez de moedas levou à emissão de papel-moeda cujo lastro seria formado pelas terras
confiscadas da Igreja. Em pouco tempo, a derrocada inflacionária veio mostrar o erro desta concepção.
Também no início da República, no Brasil, cometeu-se o erro (a que se chamou “encilhamento”) de tentar
fomentar a prosperidade econômica através de largas emissões de notas, além da concessão de crédito
fácil e barato. Em breve, percebeu-se que o valor destas notas emitidas, e das ações das sociedades que se
criaram eram apenas fumo, fumaça e vacuidade.
29
Com o economista David Ricardo, percebeu-se mais tarde que esta prosperidade deveria resultar do
aumento do emprego e do aumento da renda suplementar que resultaria deste fato. Esta renda suplementar
aumentaria o consumo, que por sua vez aumentaria a produção. Keynes, futuramente, voltaria a este tema
da multiplicação real da renda.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 29
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CAPÍTULO IV
AS ESCOLAS ECONÔMICAS
7 – A Escola Fisiocrática
A escola fisiocrática surgiu com a obra do médico François Quesnay, que publicou
suas investigações sobre economia na Enciclopédia dirigida por Diderot, a partir de
1756. Para os fisiocratas, as leis que regem os fatos econômicos são leis naturais, e
assim devem ser compreendidas e estudadas. Há uma ordem natural que tudo rege, e
que dá apoio ao direito de propriedade privada. Este direito exercia-se livremente,
proporcionando progresso social e assegurando um preço justo ao produto agrícola. Por
outro lado, afirma que este preço satisfatório também decorre da concorrência.
Os fisiocratas dividem a sociedade em três classes: a classe produtiva, formada pelos
agricultores; a classe de proprietários de imóveis; uma classe não-produtiva, ou
“estéril”, formada por comerciantes, industriais, bem como por profissionais liberais e
outras pessoas que se dedicam ao serviço doméstico.
O sistema de circulação da riqueza proposto tem por base a descoberta realizada por
William Harvey, em 1628, da circulação do sangue no corpo humano. Quesnay
apresenta um sistema de circulação da riqueza análogo à fisiologia humana. A riqueza
originalmente produzida pela classe “produtiva” circula pelas classes sociais conforme a
sua importância, repartindo os bens produzidos. No fim do ciclo, a riqueza volta às
mãos da classe “produtiva”, que volta a reparti-la (seja por pagamentos, ou por custos
de produção – a classe “produtiva” obtém o seu lucro pela diferença entre a venda dos
produtos agrícolas e o seu custo de produção).
Entretanto, este ciclo mostra-se estacionário, pois não há produção de novas
riquezas. Entretanto, ele já dá uma idéia do equilíbrio econômico, idéia que viria a ser
retomada por Léon Walras em fins do século XIX.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 30
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A riqueza somente poderia ser gerada pela produção agrícola, sempre em maior
volume do que a riqueza consumida. O lucro obtido é chamado pelos fisiocratas de
“produto líquido”. Assim, a idéia de valor está ligada à idéia de produção, confundindo-
se riqueza e valor.30
Este erro de concepção levou os fisiocratas a difundirem uma doutrina de aversão ao
comércio, de um modo geral, porque ele não seria criador de riqueza. Este erro apenas
substituiu o erro cometido pelo mercantilismo, o de não dar importância à agricultura.
***
Como já vimos, aceitava-se a existência de uma ordem natural, que Deus criara para
levar a felicidade aos homens. As leis naturais não deveriam tolher a liberdade do
homem, porque esta seria a base do progresso econômico e social. Além disso, este
progresso baseava-se no direito de propriedade privada.
Uma das preocupações dos fisiocratas era com relação ao “bom preço”. Para
Quesnay, “abundância com preço alto é opulência”. O bom preço aproveitaria a todas as
classes, pois elevaria todos os preços, trazendo abundância geral. Com relação aos
impostos, as taxas deveriam incidir unicamente sobre a terra, por ser ela a riqueza real
(dela provinha o “produto líquido”).31
8 – A Escola Clássica
A partir do século XVII, as teorias mercantilistas já vinham sofrendo grandes
críticas; William Petty (1623-1687), por exemplo, apontava que a riqueza provinha do
trabalho, e não do comércio. Os fisiocratas, como vimos, colocavam os bens materiais
como a fonte das riquezas: estes eram extraídos do solo, mediante o cultivo. Assim,
somente da agricultura poderia provir o excedente que seria distribuído entre as demais
classes da sociedade.
A partir de Adam Smith surgiu a denominada “concepção clássica da economia”,
também chamada de Escola Clássica. Em sua obra mais famosa, “A Riqueza das
Nações”,32 publicada em 1776, Smith aponta que a riqueza é constituída pelos valores
de uso (seguindo Petty, ele distingue entre o valor de uso e o valor de troca das
mercadorias). O que determina a riqueza de uma nação é a sua produção total (que
modernamente diz-se: Produto Nacional Bruto, ou PNB).
Uma das análises mais penetrantes de Smith se dá quando ele distingue qual é,
verdadeiramente, o fundamento do valor de troca.33 Este fundamento não está na
utilidade da mercadoria, ou na sua capacidade de satisfação das necessidades humanas;
está, isto sim, refletido no trabalho gasto em sua produção.
30
Apenas em épocas posteriores viriam os economistas a ligar a idéia de valor à satisfação das
necessidades do homem. Desta forma, a indústria e o comércio, além de gerarem utilidade, aumentariam a
utilidade das coisas já existentes.
31
As constantes sugestões modernas a respeito de imposto único têm nos fisiocratas a sua origem
conceitual.
32
Cujo nome correto era: Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações.
33
Valor de troca é a quantidade de mercadorias que se pode obter em troca da mesma.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 31
______________________________________________________________________
Com base nesta concepção, Smith afirma que a riqueza, para crescer, depende
diretamente da produtividade do trabalho. Esta produtividade, por sua vez, depende do
grau de especialização, ou seja, do grau de divisão do trabalho atingido. Esta divisão
depende ainda da extensão do mercado, o qual é normalmente limitado por todo tipo de
obstáculos que se opõem ao comércio interno e externo da nação. A divisão do trabalho,
para acontecer, devia resultar também de uma contínua acumulação de capital.34 Este
aumento de capital deveria se processar em um regime de liberdade (principalmente
sem intervencionismo estatal), e a sua causa imediata seria a poupança.
Para Smith, quando o comércio provoca a expansão da divisão do trabalho, todos
ganham, porque se beneficiam do aumento da produtividade. Ele via, na divisão do
trabalho, a melhor cooperação entre os indivíduos, com vista a um bem comum. Propôs
o câmbio livre, pois que somente este poderia conduzir ao desenvolvimento das forças
produtivas. Era, igualmente, a favor de remover todas as limitações ao comércio
interno.35
A ordem natural defendida pelos fisiocratas é entendida por ele de um modo
racionalista; para ele, o equilíbrio do mercado é regulado por uma “mão invisível”,
capaz de impedir os excessos de exploração econômica por parte das classes mais
favorecidas, ciosas de seus privilégios e voltadas aos seus próprios interesses. Esta “mão
invisível” faria com que a luta pelos interesses de cada um traria, ao final, benefícios a
todos.
Smith mostrou que havia um excedente, ou parte do produto do trabalho. Este
excedente tomaria a forma de lucro e renda da terra. Antecipando-se de certa maneira a
Karl Marx, ele chegou a demonstrar como ocorria uma apropriação deste excedente. Em
oposição aos fisiocratas, afirma que todas as atividades capazes de produzir mercadoria,
também produziam valor. Este valor pertencia, originalmente, ao trabalhador, quando
este possuía os meios de subsistência e de produção (inclusive a terra). Quando
perderam esta propriedade para os capitalistas e para os proprietários fundiários,
puderam ter acesso a estes meios apenas em troca de uma parte do produto do trabalho
(o qual seria exatamente o lucro). Entretanto, por lhe faltar uma melhor perspectiva
histórica, Smith não desenvolveu a idéia, o que viria a ser feito futuramente por Marx. A
renda da terra, por sua vez, decorria da diferença de custos de produção provocados
pelas diferenças de fertilidade e de localização da mesma (terras férteis davam maior
lucro do que terras menos férteis).
9 – A doutrina de Malthus
Robert Malthus foi outro teórico da escola clássica. Basicamente, ele preocupava-se
com a possibilidade de o crescimento populacional atingir um patamar de crescimento
superior à capacidade de produção de alimentos. Em um estudo que realizou, chamado
“Ensaio sobre a População”, ele reflete sobre alguns conceitos demográficos e suas
conseqüências sobre a população.
34
Smith distinguia entre capitais circulantes (que hoje se chamam capital de giro), e capitais fixos, ou
aquele usado para a aquisição de instrumental e maquinaria.
35
Que em sua época caracterizavam-se por regulamentações corporativas; vedação ao exercício de vários
ofícios; proibição de migrações internas; etc.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 32
______________________________________________________________________
Malthus percebera que existia um descompasso entre o crescimento da população e o
aumento dos meios de subsistência. Fazendo uma análise científica, ele demonstrou que,
enquanto o crescimento populacional se dava em proporção geométrica, o crescimento
da produção de alimentos se dava apenas em proporção aritmética. Sendo assim, podia-
se prever uma catástrofe, a qualquer momento.36
Entretanto, ele mostrou ainda que existiam dois tipos de óbices ao crescimento
ilimitado da população: os repressivos e os preventivos. Os primeiros resultavam de
fatos naturais (epidemias, doenças, etc.) ou provocados (guerras, conflitos, etc.). Os
segundos resultariam de um controle espontâneo da natalidade, que entretanto se dava
em menor escala, e que, para Malthus, deveria não somente ser colocado em prática,
como também recomendado enfaticamente.37
David Ricardo foi outro pensador vinculado à Escola Clássica. Foi bastante
influenciado pela leitura da obra de Adam Smith,38 que dirigiu sua atenção para a
economia política. Mas, ao contrário deste e de outros pensadores, Ricardo é menos
acadêmico do que um filósofo prático, com extraordinário talento para os negócios, e
com uma visão bastante abrangente a respeito do fenômeno econômico.
Suas primeiras especulações dirigem-se para a moeda, e ele demonstra que o valor
da moeda metálica deriva do trabalho para produzi-la; quanto à moeda fiduciária, ou
moeda sem lastro, o seu valor depende da quantidade em circulação. Apontou a relação
entre o comércio exterior e o valor desta moeda: se há excesso de moeda, os preços
internos sobem, o que leva ao aumento de importação, que por sua vez acarreta déficit
na balança comercial. Este déficit deverá ser coberto pela saída de ouro, que ao sair do
país, elimina o excesso. Por outro lado, se os preços internos baixam, há um incremento
na exportação, trazendo superávit na balança de pagamentos, e portanto haverá entrada
de ouro país (este equilíbrio somente irá ocorrer se a moeda possuir lastro, ou ouro
bastante que sustente o seu valor de conversão).
36
Chama-se “transição demográfica”, a relação entre mortalidade e fecundidade. No Ocidente, a partir do
século XIX, os índices de mortalidade começaram a declinar lentamente. Mas existe também o chamado
“índice de mortalidade infantil”, que indica a quantidade de óbitos infantis por cada mil nascimentos.
Enquanto o primeiro diminui em função de medidas adequadas de higiene e da melhoria da alimentação,
o último (geralmente endêmico em países do Terceiro Mundo) pode ter causas bem mais complexas.
37
Em países de alta densidade populacional, tais como a Índia e a China, o Estado intervém
vigorosamente com uma política drástica de limitação da natalidade (ou de planejamento familiar). Com
relação aos temores de Malthus, estes não se concretizaram em virtude da criação de métodos de
produção agrícola cada vez mais eficientes (o uso de adubos; técnicas mais eficientes de uso da terra; o
uso de defensivos agrícolas; etc.).
38
Contemporâneo de Ricardo, Jean Baptiste Say também sofreu esta influência; na verdade, ele levou as
idéias de Smith para a França. Deve-se a Say a famosa lei dos mercados, bastante citada nos livros de
texto, até a atualidade. Para ele, da produção de bens provém uma demanda global efetiva, que é capaz de
adquirir a oferta global destes bens. Em outra palavras, jamais pode haver uma escassez de demanda, que
é a contrapartida da superprodução (esta lei, como veremos oportunamente, foi refutada por John
Maynard Keynes, quando ocorreu a Grande Depressão).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 33
______________________________________________________________________
Ricardo elaborou uma teoria geral da renda, que ele baseou em hipóteses
econômicas. Ele considera que em um primeiro momento, haverá um acesso em comum
a terras férteis, que serão cultivadas com o mesmo custo, e vendidas ao mesmo preço;
não há, pois, renda, pois que o lucro é igual para todos.
Com o aumento da população, novas terras deverão ser cultivadas, para suprir a
alimentação dos novos contigentes populacionais. Entretanto, só estarão disponíveis,
nesse instante, terras menos férteis, cujo cultivo terá maior custo. Assim, eleva-se o
preço de venda (admite-se que a produção feita em terras mais férteis terá seu preço
ajustado aos das terras menos férteis; assim, o lucro das primeiras será maior, porque
terão um lucro suplementar, independente do capital e do trabalho dedicado à
produção). O que não se pode admitir, seria vender abaixo do preço de custo.
Em um processo crescente, provocado pelo aumento populacional, novos contigentes
de produtores entram no esquema, em uma escala decrescente de lucros. Haverá sempre
uma diferença de custos entre os primeiros e os últimos produtores, acarretando o que se
denomina renda diferencial.
Levando mais longe o seu raciocínio, Ricardo chega ao momento em que já não
haverá mais terras disponíveis. Mas como a população continua crescendo, os preços
também sofrem aumentos constantes. Esta alta de preços traz uma renda suplementar
àqueles que detêm as menos férteis das terras (terras marginais). Neste caso, não se
chama de renda diferencial, mas de renda de monopólio.
Os proprietários das terras mais férteis, em todos os casos, estarão sempre
aumentado os seus preços (e incrementando a sua produção), para aproveitar o preço
ditado pelo custo de produção das terras menos férteis. Entretanto, esta produção
suplementar exige, por sua vez, quantidades cada vez maiores de trabalho e de capital,
os quais deverão ser remunerados.39
A necessidade progressiva de explorar terras sempre menos férteis altera esta
repartição. Enquanto a renda aumenta sem limite, o salário e o lucro tendem a
diminuir.40 O primeiro, pela crescente oferta de mão-de-obra; quanto ao lucro, tende a
uma margem cada vez menor, devido aos custos crescentes de produção. Mas, ainda que
a renda aumente, haverá uma queda nas taxas de juros, e com isto uma queda na
poupança, o que por fim levaria a uma estagnação na indústria.
Analisando os detalhes práticos da política econômica inglesa, Ricardo se opôs às
restrições legais à importação de trigo, que só poderia ser feita caso o preço
ultrapassasse um determinado patamar. Para ele, o alto preço do produto impunha altos
salários nominais, que traziam redução nos lucros. O acúmulo de capital que se daria a
partir dos lucros vê-se impedido, e até ameaçada a expansão da atividade econômica,
porque a elevação dos preços limitava a acumulação.
39
A remuneração pela venda dos produtos agrícolas tinha três destinatários: a renda, para os proprietários
da terra; o salário, para remuneração do trabalho; o juro (na verdade, o lucro), ou remuneração do
capitalista empreendedor (esta é a teoria da repartição, de Ricardo).
40
O salário nominal, que acompanha a alta de preços, poderia aumentar; não, entretanto, o salário real.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 34
______________________________________________________________________
favorável ao lucro em detrimento da renda. Ricardo tomava, dessa maneira,
posição no conflito de classes a favor da burguesia, o que o levou a entrar
em polêmica contra o seu amigo Malthus, que era partidário dos
proprietários fundiários.” (4)
***
***
Ricardo também fez interessantes estudos a respeito de moeda, crédito e comércio
internacional. Para ele, cada país está, em um determinado instante, em equilíbrio
41
Segundo John Kenneth Galbraith, nos Estados Unidos a civilização e o aumento populacional
pressionaram a que o plantio se deslocasse não para solos mais pobres, mas sim para solos muito mais
férteis (a colonização do território americano deslocou-se progressivamente de leste para o oeste, que
tinha terras mais ricas para o plantio. Estas terras a oeste, posteriormente, devido ao aumento
populacional e às ferrovias, viriam a sofrer extensa valorização, com a conseqüente especulação sobre
elas).
42
A chamada lei do rendimento decrescente proposta por Ricardo, apesar de exata, vem-se se mostrando
inoperante pela força dos fatos históricos mais recentes. O progresso técnico, o aumento do rendimento
ocasionado por novas técnicas de cultivo, o desenvolvimento dos meios de transporte, tem mostrado que
esta lei só tem eficácia em determinados momentos históricos de sistema econômico mais simplificado,
voltado principalmente para a agricultura. Além do mais, a teoria da renda proposta por ele não leva em
conta o fator procura, mas sim a oferta. Stuart Mill, em oposição a este fato, apontou para o fato de que
era perfeitamente possível toda a terra de uma nação ser cultivada (qualquer que fosse a sua qualidade), e
ainda assim proporcionar uma renda.
43
Esta teoria do valor-trabalho, entretanto, carecia de uma maior fundamentação, e mesmo Ricardo tinha
dúvidas a seu respeito. Por exemplo, como explicar o valor de um diamante frente ao trabalho de
extração, ou como explicar que alguns produtos tinham variação de preço de um ano para outro, ainda
que o trabalho não variasse? (era o caso, por exemplo, das safras desiguais de uvas, que alteravam o preço
do vinho).
44
Capacidade inerente a uma coisa, de satisfazer nossas necessidades.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 35
______________________________________________________________________
monetário resultante de sua atividade econômica, do sistema monetário e do sistema
bancário. Este equilíbrio não está relacionado com a quantidade total de moedas e de
metais preciosos que existe em todo o mundo. Admite-se que os metais preciosos
possuem a mesma capacidade de aquisição de mercadorias, em cada país.
Em sua análise, ele afirma que o equilíbrio decorre da relação entre um superávit
inicial, que: 1) provoca a entrada de ouro em função do excedente exportado; 2)
provoca uma alta de preços; 3) provoca um aumento das importações (com a saída de
ouro correspondente); e que, 4) acaba por levar a um déficit na balança na pagamentos,
até que, 5) se atinja o equilíbrio entre os preços e a distribuição do ouro.45
Ricardo notou também que os países de economia mais desenvolvida (e de preços
mais baixos) atraíam moedas e metais de países menos desenvolvidos.46 Ao identificar a
moeda metálica com a moeda bancária (papel-moeda), ele fez várias ilações, das quais
extraiu várias propostas: a criação de um sistema monetário de papel-moeda em
circulação e de conversibilidade em ouro; criação de bancos nacionais; políticas de
deflação; etc.
***
12 – Stuart Mill
John Stuart Mill (1806-1873) é o filósofo da “justiça social”, e, ainda que de
tendência liberal, inicialmente, voltou-se posteriormente para uma corrente de
pensamento de molde socialista e intervencionista. Mill preocupou-se, e fez uma
distinção radical entre os fenômenos da produção e da repartição. Para ele, os primeiros
eram fixos e rígidos, e não podiam sofrer intervenção humana para modificá-los. Já os
segundos, dependiam da vontade humana.
Mill achava que a distribuição da riqueza podia ser submetida a regras da sociedade,
e ele mesmo propôs algumas medidas de organização social, para melhor repartição
desta riqueza. Ele é, a um só tempo, individualista e intervencionista; enquanto defende
a expansão da pequena propriedade agrícola, por outro lado volta-se para medidas
arbitrárias de restrição da prole (neste caso, mostra-se um neomalthusiano convicto).
Propôs o desenvolvimento de cooperativas de produção, pois achava que isto
transformaria a classe obreira em capitalista. Mas não deixa também de ansiar por uma
ordem futura, baseada no comunismo, como ele a definia.
Era, claramente, um reformista social, devido às suas preocupações humanitárias,
mas suas idéias sofrem de freqüente contradição, quando buscava conciliar pontos de
vista opostos, sobre os quais não tinha uma posição definida; nestes casos, seu
pensamento se mostrava nebuloso. 49 Mas suas idéias, principalmente o conceito de
dinâmica econômica (ou transformação econômica) viriam a permitir que se fizesse
posteriormente, em épocas posteriores, uma distinção entre “Economia Pura” (que
lançava mão do método matemático para pesquisar a relação entre os fatos econômicos)
e “Economia Aplicada” (os conceitos e ferramentas teóricas utilizados pelas autoridades
que podem decidir sobre os fatos econômicos).
48
Muito do atual comércio mundial se faz em compra e venda de bens futuros (é o chamado mercado de
futuros).
49
A crítica moderna sobre Mill aponta o fato de que ele separou arbitrariamente dois fenômenos
econômicos que são estritamente solidários e interdependentes, e que não podem ser divididos do modo
como ele o fez.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 37
______________________________________________________________________
CAPÍTULO V
50
Foi a época das grandes máquinas a vapor, que vieram substituir extensamente o trabalho humano. Na
verdade, há um paralelo possível entre a industrialização desta época, e a robotização, que é uma
característica crescente das fábricas do final do século XX e início do século XXI.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 38
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indústria têxtil levou ao desenvolvimento da máquina de fiar e do tear hidráulico, e não
tardou a que novas máquinas fossem inventadas para os outros tipos de manufatura.
A Revolução Industrial acelerou a divisão da sociedade em duas novas classes: a
burguesia industrial e o proletariado. A revolução política representada pela Revolução
Francesa já tinha mostrado o abismo existente entre as classes sociais, e os anseios
populares de justiça e de inclusão social. A distribuição (ou repartição) da riqueza se
dava principalmente entre as classes favorecidas, entre as quais a nobreza e os
representantes do clero. A grande massa do povo vivia na miséria, contemplando
impotentes a opulência e o luxo das outras classes. Agora, a emergência desta nova
classe social (a burguesia) mostrava uma dinâmica social cuja causa só poderia estar nos
fenômenos econômicos. Se o fim do feudalismo permitiu maior mobilidade social, o
mercantilismo permitia por sua vez que, através do comércio, novos contigentes sociais
pudessem ascender economicamente, com o conseqüente aumento de status político.
Entretanto, esta ascensão social era privilégio de poucos; o novo liberalismo econômico,
bem como o sistema capitalista que teve início com a Revolução Industrial, apesar de
propiciarem esta ascensão social, por outro lado escancaravam novos abismos entre as
classes, e já em 1848 ocorriam convulsões sociais provocadas pela situação de miséria
das populações, miséria esta basicamente provocada pela exploração dos pobres pelos
novos ricos.
***
***
Como vimos, o liberalismo dos clássicos decorria de uma visão de mundo no qual
pensavam existir uma ordem natural. Este liberalismo batia-se pela liberdade
econômica, pela livre concorrência e pelo individualismo, opondo-se a qualquer
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 39
______________________________________________________________________
restrição legislativa ou regulamentação estatal, somente aceitando a regulamentação do
mercado. Mas contra esta concepção viria a formar-se, no início do século XIX, uma
reação geral provinda principalmente dos pensadores socialistas. Em 1867, Karl Marx
editou a sua obra máxima, “O Capital”, na qual fez uma extensa análise das
conseqüências da adoção deste tipo de concepção econômica (o capitalismo) e suas
conseqüências deletérias sobre o campesinato e sobre o operariado. Antes, contudo,
veremos o que veio antes.
14 – O Socialismo Pré-Marxista
A injustiça flagrante desta nova sociedade fez com que vários filósofos e pensadores
se levantassem contra ela. Os socialistas, por exemplo, que se batiam pela igualdade
entre os indivíduos, 51 vieram propor formas de repartição, tanto da riqueza, quanto dos
meios de produção (que podiam produzi-la). Idéias como participacionismo,
apropriacionismo e coletivismo eram bastante comuns, sempre com a idéia de
compartilhamento da propriedade como fundo comum. Outro ponto característico do
socialismo era a restrição à propriedade; o socialismo não admitia senão um mínimo de
propriedade privada. Mas também a liberdade se restringia (e com ela a livre iniciativa,
característica do capitalismo). Como substituto à livre concorrência, propunha-se a
planificação ou planejamento.52 Os socialistas se dividiam entre voluntaristas (que
acreditavam que as medidas econômicas seriam aceitas pelos interessados) e em
autoritários (que pensavam que se devia lançar mão da coerção, para obrigar a esta
aceitação).53
Contra a ordem natural defendida pelos economistas clássicos, que viam a natureza
como um reflexo das leis divinas, o socialismo propôs o materialismo, segundo o qual a
vida orgânica seria a principal finalidade da vida humana (e que a matéria determinava a
formação da consciência, por ser anterior a ela); contra o livre-arbítrio (que dava
fundamento à liberdade econômica), propôs o determinismo (filosofia coerente com o
ceticismo, para a qual os fatos humanos são determinados pela história ou pelas
correntes sociais preponderantes).
51
A indefinição deste conceito de igualdade provocou extensas polêmicas, tanto entre socialistas quanto
entre os seus críticos. Na verdade, jamais se chegou a um consenso sobre ele, e os regimes políticos que
se diziam “socialistas” mostraram que sua sociedade ideal podia se mostrar extremamente desigual (foi o
caso, por exemplo, da classe burocrática soviética, denominada Nomenklatura, que detinha privilégios
não alcançados pela população em geral).
52
A extinção da União Soviética e a abertura política e econômica decorrente puseram a nu os excessos
do planejamento oficial, que controlava de modo avassalador todos os aspectos da vida econômica.
53
O socialismo marxista sempre teve esta tendência, e os países que adotaram o socialismo tornaram-se
regimes fechados, exatamente para impor suas idéias e reprimir pela força os dissidentes. O Camboja, em
época bem recente, sofreu um mortícinio que eliminou mais de três milhões de pessoas, em nome do
“purismo” marxista. A própria Rússia sofreu tanto nas mãos de Stálin que Khruschev se viu obrigado a
denunciar o “stalinismo”, quando se tornou Primeiro Ministro.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 40
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15 – O Socialismo de Karl Marx
O socialismo pré-marxista era voltado a ideais de uma sociedade onde fossem
abolidas as diferenças sociais, como também a propriedade privada e o princípio do
lucro. Nesta época, tornou-se comum a tentativa de criar comunidades ideais, em que se
voltaria ao “comunismo primitivo”. Cooperativas (ou falanstérios, como foram
denominadas) eram incentivadas, mas todas as iniciativas neste sentido acabaram
redundando em fracasso.54 Mesmo os socialistas mais moderados eram a favor de que o
Estado se apropriasse da administração da produção e da distribuição.
Marx classificava as idéias socialistas anteriores a ele “socialismo utópico”;55 ele
propôs uma nova interpretação tanto das leis econômicas quanto das leis históricas, à
qual deu o nome de “socialismo científico”. Para ele, os socialistas anteriores eram
apenas filantropos, que se indignavam com a exploração desumana que foi uma
característica do início do capitalismo. Muitos pertenciam à própria classe que
abominavam, e os verdadeiros revolucionários seriam poucos.
Marx tinha uma formação filosófica, e foi bastante influenciado por Hegel, um dos
maiores filósofos alemães. Ele aderiu ao materialismo histórico, e usou o processo
chamado de “análise dialética” de Hegel para explicar a História, os sistemas e as
instituições sociais. Para Marx (e seguindo o pensamento de Hegel), a História move-se
dialeticamente, devidos às forças sociais antagônicas que se criam em seu seio: a vida
econômica, social e política estão em constante transformação. Marx dedicou a sua vida
a tentar descobrir quais eram as forças sociais subjacentes a este processo, cujo
resultado era a História. De acordo com a lógica dialética de Hegel (ou dialética dos
opostos), há três elementos da realidade: a tese; a antítese; a síntese.56 Tais elementos
foram apropriados por Marx para a sua explicação da História, que se dava por
movimentos sociais que criavam antagonismos internos (que ele chamava de
contradições); tais contradições resultavam das relações de produção e das forças
produtivas materiais.
Em outras palavras, Marx disse que o que movia a História era a economia. A base
econômica da sociedade (modo de produção) influenciava todas as demais instituições
sociais. Ele a chamou de infra-estrutura. As demais instituições (religião, sistemas
políticos, leis, costumes, etc.), ele chamou de superestrutura. Assim, sobre uma infra-
estrutura econômica erguia-se uma superestrutura jurídica e política.
54
Talvez uma das poucas iniciativas de vida comunal que deram certo foram as comunidades criadas em
Israel, os denominados kibutzim. Kibutz é uma fazenda coletiva, que se baseia no regime de propriedade
comunal e na cooperação voluntária. Tiveram início bem antes da formação do Estado de Israel (que se
deu em 1948), a partir do início do século XX, em terras palestinas (à época). Os moldes pelas quais
foram criados tiveram inspiração nos ideais socialistas dos imigrantes sionistas russos.
55
Entre os nomes mais famosos, representantes de várias tendências do socialismo, temos: Robert Owen;
Charles Fourier; Louis Blanc; Gracchus Babeuf; Michael Bakunin; Eugen Dühring; Auguste Blanqui;
Peter Kropotkin; William Godwin; Henri de Saint Simon; Pierre Proudhon; Thorstein Veblen.
56
De acordo com Hegel, a história se desenvolve assim: em um primeiro momento surge a tese, um
momento da realidade que se impõe; em seguida, surge uma reação, chamada antítese. Posteriormente,
surge uma conciliação entre os contrários, chamada antítese (e que se torna uma nova tese, para
movimentos futuros).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 41
______________________________________________________________________
Marx vê com olhos bastante críticos a fase do capitalismo, que ele coloca como uma
característica da classe “burguesa”,57 classe dominante que detinha o modo de produção
e explorava economicamente a classe de trabalhadores (proletários, operários e
camponeses), que se opunham dialeticamente entre si, dando ensejo a uma interminável
“luta de classes”.58 Este conceito de luta de classes59 foi aproveitado por ele (juntamente
com a análise dialética de Hegel) para definir a História como uma sucessão de
movimentos sociais de oposição entre si, compostos por várias fases: a formação de
uma classe social; o avanço desta classe em direção a novas estruturas sociais, num
movimento contrário às classes já existentes, que buscam o seu status quo; revoluções
sociais como forma de transformar os modos de produção em propriedade social (a
síntese dialética histórica).
57
Que começara a surgir a partir da Revolução Francesa.
58
No Manifesto Comunista, Marx afirma que “a história de todas as sociedades até hoje existentes é a
história das lutas de classes”. Curiosamente, Marx, que era contra a exploração dos trabalhadores pelos
capitalistas, não tinha uma posição clara contra a escravidão negra, ainda imperante em sua época (os
últimos países a aboli-la foram Cuba, em 1880, e Brasil, em 1888).
59
Já conhecido por outros autores anteriores, tais como Maquiavel, Sismondi, Thierry, Thiers, Carlyle, e
muitos outros historiadores e economistas.
60
Dialeticamente, seria a síntese histórica final de todos os movimentos sociais passados, cujas teses e
antíteses (ou contradições internas, como Marx as chamava) redundavam em sínteses insatisfatórias, por
não trazerem o final das lutas de classes.
61
A maioria dos marxistas acreditava que esta fase estaria em um futuro muito distante.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 42
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modos de produção), e que portanto deveriam ser desalojadas (pela força da
revolução).62
Engels, parceiro teórico das idéias de Marx, afirmava por sua vez que o proletariado
deveria se apoderar da força do Estado e começar a transformar e transferir para este os
meios de produção. Somente assim ele iria se destruir como proletariado, pela abolição
de todas as distinções e antagonismos de classe. E somente assim o próprio Estado
poderia ser abolido.
Para Engels, a classe antiga, que se move através dos antagonismos de classe, tem
necessidade do Estado, pois somente através dele pode manter a sua força exploradora e
sua força de opressão contra as classes trabalhadoras.
62
Lênin, a este respeito, manifestou-se assim: “Por dois motivos e em dois sentidos diferentes, a ditadura
é necessária na transição do capitalismo para o socialismo. Em primeiro lugar, a vitória do proletariado é
impossível sem a opressão mais absoluta exercida sobre as classes dominantes, que não querem renunciar
a seus privilégios e que durante muito tempo colocarão todas as forças em movimento para derrubar o
governo proletário que odeiam. Por outro lado, nenhuma grande revolução, sobretudo socialista, é
possível sem guerra civil, mesmo se reina a paz com as potências estrangeiras” (CASTRO, Paulo. Pág.
155.).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 43
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LEITURA COMPLEMENTAR
Marx foi um escritor extremamente prolixo, e sobre economia, suas obras são
inúmeras.63 Para ele, toda mercadoria deveria satisfazer uma necessidade (deveria ter
um valor de uso). Ele identificou o valor de troca da mercadoria, e afirmou que toda
mercadoria acabada (produzida) tinha um valor maior do que o valor dos seus
componentes. Assim, um casaco teria um valor maior do que o valor do tecido utilizado
em sua confecção. Ele explicava este acréscimo de valor como resultante da quantidade
de trabalho. Mas havia o trabalho médio simples, e o trabalho complexo. O primeiro
varia conforme o país, enquanto que o segundo seria uma espécie de múltiplo do
primeiro, com custos mais altos e de maior duração.
A troca de mercadorias se daria através de um equivalente geral, o dinheiro. Este
seria a medida padrão para todas as mercadorias, com “consistência objetiva e validade
social universal”. Produtos diversos de trabalho são equiparados, e o valor da
mercadoria, normalmente, tem o seu valor de troca determinado através do tempo de
trabalho. Este valor da mercadoria não é o seu preço, mas está intrinsecamente ligado a
ele (na troca de mercadorias simples, predomina o valor de uso). Por fim, preços
diferentes podem representar quantidades iguais de trabalho social.
Marx afirma que os meios de produção transferem valor ao produto pela perda do
valor próprio, durante o processo de trabalho. A diferença excedente entre o valor total
do produto e a soma dos elementos que o formam tem origem na força de trabalho
humana, que expende mais esforço do que aquele necessário à própria subsistência.
Quanto ao capital, uma parte se mantém constante (é o chamado capital constante),
quando convertida em instrumentos de produção; já aquela convertida em força de
trabalho muda de valor no processo de produção. Além do próprio valor (que ela
reproduz), há um valor excedente, que Marx chama de mais-valia.64 Esta parte do
capital pode ser maior ou menor; ele a chama de capital variável.
Esta parte do capital (a mais-valia) torna-se objeto de litígio entre o capitalista e o
trabalhador, principalmente pelo que ela representa de diferença entre o tempo de
trabalho excedente e o tempo de trabalho necessário ao sustento da força de trabalho
(materializada na jornada de trabalho. Marx afirma que, na história da produção
capitalista, a regulamentação da jornada de trabalho é um embate incansável entre a
classe capitalista e a classe trabalhadora.65
63
Dos seus vários textos, podemos citar: O Capital; Introdução à Crítica da Economia Política;
Contribuição à Crítica da Economia Política; Salário, Preço e Lucro; Teorias sobre a Mais-Valia; etc.
64
O conceito de mais-valia tem sofrido extensas críticas de vários economistas. Ele não surgiu com Marx;
na verdade, os fisiocratas já utilizavam um conceito semelhante quando acreditavam que somente a
agricultura produzia riqueza, e portanto somente ela produzia um excedente que podia ser tributado.
Muitos economistas criticam a noção de que a produção, de algum modo, possa criar um excedente de
receita, que é acumulado por determinadas classes.
65
Marx previu que o conceito de mais-valia deveria sofrer revisão em uma época de automatização (como
é o caso cada vez mais comum na atualidade). Para ele, o tempo de trabalho poderia deixar de ser a
medida da riqueza, se a própria forma de trabalho se modificar (vide nota 130).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 44
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Para Marx, o trabalhador sentia-se alienado de seu trabalho, do seu meio cultural e
até de seus próprios companheiros. Alienação, no contexto em que ele emprega o termo,
significava que o trabalhado era externo ao trabalhador, não lhe pertencia. O seu
trabalho não era voluntário, e sim forçado; quando trabalhava, não o fazia para si, mas
para outrem. Por isso, por não poder desenvolver livremente a sua energia física e
espiritual, o trabalhador era infeliz, e sentia-se degradado e desumanizado. Por ter sido
transformada em mercadoria a sua atividade necessária de subsistência, ele sofria uma
deformação no desenvolvimento da sua personalidade. A única forma de eliminar a
alienação seria fazendo a propriedade dos meios de produção mudar de mãos.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 45
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CAPÍTULO VI
A EXPANSÃO DO CAPITALISMO
Entre 1840 e 1873 houve uma rápida expansão econômica em toda a Europa. O
processo de industrialização iniciado na Inglaterra teve prosseguimento nos países do
continente, que importavam os bens de capital deste país. Entre 1840 e 1860 as
exportações inglesas atingiram níveis incríveis, que levaram a um tremendo progresso
interno. A produção de ferro, aço e carvão aumentou consideravelmente, e extensas
linhas ferroviárias foram construídas.
Este período, caracterizado pela livre concorrência,66 levou também a uma grande
concentração de capital, e em pouco tempo as empresas menores sucumbiram às mais
poderosas, que se fundiam em cartéis e trustes monopolistas. O mercado se expandiu
ainda mais, e surgiram grandes sociedades anônimas e corporações, que controlavam
um grande volume de capital. Ao final do século XIX, o excesso de concorrência em
um mundo dominado por estas gigantescas corporações forçou a uma maior associação
entre elas, como forma a eliminar a concorrência predatória. Companhias ainda maiores
começaram a surgir como resultado das concentrações e fusões, e com isto surgiram
enormes monopólios e oligopólios, que controlavam instituições financeiras, bancos e
grupos industriais.
66
O capitalismo, como doutrina econômica, sempre pressupôs a existência de alguns princípios: o direito
à propriedade individual; a livre-iniciativa; a concorrência livre; a busca do lucro. Caberia ao Estado
normatizar alguns parâmetros, tais como, entre outros: o câmbio; as taxas de juros; a emissão e o controle
de moedas; o exercício do fisco. Somente em épocas posteriores o Estado preocupou-se em criar uma
legislação voltada à proteção do trabalhador (assistência médica, previdência, aposentadoria, etc.). O
controle fiscal e financeiro da economia pelo Estado é, também, característica das modernas economias
capitalistas
67
O nome imperialismo, que obteve uma conotação depreciativa graças às invectivas marxistas, na
realidade tem sua origem no fato de que uma grande parte das ricas nações européias do início do século
XX ainda eram estados imperiais, no sentido de que eram governados por um imperador (como era o
próprio caso do Brasil).
68
Ainda que o capital das sociedades anônimas que operavam no país não ultrapassasse 36 milhões de
libras, calcula-se que entre 1757 e 1815 os ingleses tenham retirado do país entre 500 e 1000 milhões de
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 46
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A partir de 1857, para poder atingir e explorar o restante do território, os ingleses
começaram a construir uma extensa malha ferroviária.69 O governo assegurava aos
investidores ingleses um retorno mínimo de 5% para o dinheiro investido nas estradas
de ferro, prometendo que, se os lucros caíssem abaixo deste limite, a diferença seria
coberta por meio de impostos lançados sobre o povo indiano.
libras (em especiarias, jóias, ouro e pedras preciosas). A corrupção interna dentro desta empresa atingiu
níveis inauditos, com os funcionários lutando entre si para explorar a miséria dos nativos indianos.
69
Que viria a se tornar uma das maiores do mundo.
70
O Congo, uma das mais lucrativas possessões, fornecia diamantes, urânio, cobre, algodão e derivados
do coco.
71
Atual Vietnã. Obrigada a retirar-se em 1957, a França cedeu o seu lugar aos Estados Unidos, que tinha
uma política asiática de aconselhamento militar, visando rechaçar o comunismo. Aos poucos, este
envolvimento transformou-se em uma guerra não declarada (em 1964), na qual os Estados Unidos
chegaram a enviar cerca de um milhão de soldados para esta região. Em 1975, a tomada da capital sul-
vietnamita, Saigon, pelas forças comunistas levou ao fim da guerra e à retirada americana.
72
A Primeira Guerra Mundial (1914) surgiu dos embates e oposições políticas que ocorriam
constantemente entre os impérios austro-húngaro e prussiano-alemão, que disputavam a hegemonia
imperialista.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 47
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***
17 – Anarquistas e Sindicalistas
Ao tempo em que a agitação marxista-leninista tomava conta da Europa, já existiam
outros movimento paralelos que os combatiam, geralmente radicais de outras
tendências. Entre 1860 e 1870, o movimento anarquista (membros da Associação
Internacional dos Trabalhadores, ou Primeira Internacional)75 lutava por um ideal que se
expressava por um tipo de coletivismo não submetido a qualquer controle
governamental; eles se batiam pelo fim do Estado e do Capital.76 Na esteira do
anarquismo surgiu outro movimento trabalhista que viria a redundar, em 1895, na
criação do chamado “sindicalismo revolucionário”,77 por Fernand Pelloutier. Pela sua
fórmula, o sindicato operário devia ser utilizado como instrumento da luta de classes por
melhores condições de vida, entre cujas armas ele apontou a greve geral e a violência.
Nos Estados Unidos, o sindicalismo floresceu entre 1905 e 1920 através da IWW
(Industrial Workers of the World). Este sindicato organizava os trabalhadores por
73 Em 1929, apenas 5% da população controlava 34% das rendas. Isso, apesar de o Estado ter feito
aprovar uma legislação anti-truste já desde o final do século XIX (a Lei Sherman). Outras se seguiram,
tais como a Lei Clayton, e a lei que criou o Federal Trade Commission.
74
Esta concepção se devia basicamente às obras de três economistas de final do século XIX: William
Stanley Jevons; Karl Menger; Léon Walras.
75
Foram, entretanto, expulsos em 1872.
76
Os anarquistas mais radicais foram os primeiros a usarem bombas para criar o terror e para matar
governantes e autoridades (foi um ato terrorista anarquista executado na região dos Bálcãs que levou à
deflagração da Primeira Guerra Mundial).
77
No início do século XIX, punia-se, na Inglaterra, com prisão e deportação, para a Austrália, quem
procurasse criar sindicatos trabalhistas. A Revolução Industrial recente tinha provocado desemprego, pela
introdução de máquinas; entre 1811 e 1818, os inconformados com esta situação chegaram mesmo a
iniciar uma campanha de destruição destas máquinas, no movimento que ficou conhecido como ludita
(Luddites, devido ao seu inciador, Ned Ludd). A partir de 1824, a persistência dos trabalhadores levou à
revogação dos Combination Acts, que eram leis que proibiam a organização sindical.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 48
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indústrias, e não por profissão. Em 1935 foi fundado o Congresso das Organizações
Industriais (CIO), que viria a fundir-se futuramente (em 1955) com a Federação
Americana do Trabalho, AFL, que já existia desde 1886,78 criando a AFL-CIO.
Chegaram a congregar 125 sindicatos, representando 15 milhões de trabalhadores.
No final do século XIX e início do século XX as lutas sindicais estiveram
principalmente sob a égide do movimento anarquista internacional. Aos poucos,
contudo, este movimento foi desaparecendo (muitos de seus membros foram se
convertendo ao socialismo), e a condução do movimento trabalhista mundial passou a
ser regido pelos vários partidos comunistas dos vários países, que seguiam a orientação
central de Moscou.
18 – O Comunismo Soviético
A Rússia, que desde o início da Primeira Guerra Mundial estivera em grande
agitação interna, viu uma revolução acabar (em 1917) com o império czarista e alçar em
seu lugar um governo que tomaria tendência socialista. Os mencheviques (que também
lutavam pelo poder) deram lugar aos bolchevistas, que, com Lênin à frente, iriam
adaptar as idéias de Marx para eliminar os resquícios da burguesia e do feudalismo que
caracterizavam a sociedade russa.
Nos anos subseqüentes, a Rússia bolchevista começou a formar um novo império ao
espalhar a agitação política pelos países asiáticos vizinhos. Logo conseguiram o
controle dos governos da Ucrânia, Azerbaijão, Armênia e Geórgia. A partir de 1923,
este bloco de países formou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Cada república, dominada basicamente pelo partido comunista, era formada tendo à
frente um Comissariado do Povo, que respondia ao Comitê Executivo Central.
Antigos aliados, os Estados Unidos e Rússia iriam passar os próximos quarenta anos
em uma corrida armamentista que teria fortes reflexos na economia mundial como um
todo.81
79
De um modo ingênuo, muitos dirigentes bolchevistas acreditavam que a abolição do dinheiro estava
dentro da política marxista mais ortodoxa, e nada fizeram, de início, para controlar a inflação.
80
Polônia, Hungria, Bulgária, Tcheco-Eslováquia, Alemanha Oriental, Romênia, Iugoslávia, (estes dois
últimos foram os únicos países que conseguiram manter uma certa autonomia frente ao intervencionismo
soviético). A Ucrânia, Bielo-Rússia, Azerbaijão e outros países asiáticos já estavam sob o domínio da
União Soviética de Stálin.
81
Os negócios mundiais que movimentaram maior quantidade de dinheiro nas quatro últimas décadas do
século XX foram: petróleo, armas e fretes marítimos (o comércio mundial de armas sempre esteve por
trás das principais revoluções políticas em todo o mundo). Na década de 1960, os Estados Unidos
gastaram cerca de vinte bilhões de dólares (em valores da época) em seu programa espacial de conquista
da Lua, mas quando saíram do Vietnã em 1973, já tinham gasto cerca de dez vezes este valor, em
equipamento bélico e com suas forças de ocupação.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 50
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TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 51
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LEITURA COMPLEMENTAR
Os Neoclássicos
82
Estas técnicas deram origem à economia matemática, ou econometria.
83
Na atualidade, a preocupação com o meio-ambiente levou à criação de uma legislação para proteção
ecológica, que restringe ou penaliza fortemente as indústrias poluidoras.
84
Através de práticas extremamente desleais, John D. Rockefeller chegou a dominar ente 90 a 95% da
produção de petróleo refinado. A maioria de seus concorrentes foi simplesmente esmagada.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 52
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estar e prosperidade, com o mínimo de esforço. 2) lei da livre concorrência. Em um
regime de liberdade individual, cada indivíduo é livre para escolher o que mais lhe
agrade.85 3) lei da oferta e da procura. Talvez a mais famosa e mais popular, estabelece
que o valor de troca de uma mercadoria varia na razão direta da procura, e na razão
inversa da oferta. Já Stuart Mill tinha compreendido que esta relação não tinha um
caráter matemático rigoroso; entretanto, alguns neoclássicos procuram submetê-la a
uma forma matemática, representando de forma gráfica a evolução entre os dois fatores
(a oferta e a procura).86
A questão da estabilidade da moeda e dos preços também foi uma fonte de perenes
discussões entre os economistas clássicos e neoclássicos. O desenvolvimento das
operações a crédito e os contratos a prazo levaram a se estabelecer medidas de previsão
de preços mais seguras; na Inglaterra, usava-se um sistema no qual tomava-se a média
de preços das mercadorias de maior consumo (no atacado), em um determinado ano, e
os anos subseqüentes eram referidos a este ano base (este sistema era chamado de
“números índices”).87
Quanto à moeda em si, havia a mentalidade predominante pela qual ela deveria ter
um lastro de metal precioso, de ouro ou de prata, e o seu valor deveria ser tomado em
relação a um deste metais.88 O montante de moeda (papel-moeda) em circulação jamais
deveria ultrapassar o lastro disponível, se se quisesse manter a estabilidade da moeda e
da economia como um todo. Antes da Segunda Guerra Mundial, existia uma constante
drenagem de ouro (em razão dos sistemas de comércio mundial): ora esta se fazia para a
Inglaterra, ora para os Estados Unidos,89 ora para a França. Até mesmo quando em 1931
a Inglaterra abandonou o padrão ouro, houve uma grande afluência deste metal para os
seus depósitos.
Alguns economistas temiam que este excesso de ouro pudesse provocar uma alta
excessiva de preços, levando a uma especulação exagerada e a um estado de otimismo
infundado. Na verdade, foi o que aconteceu em outubro de 1929, com a quebra da Bolsa
de Nova Iorque, que levou os Estados Unidos, e todo o mundo junto, à Grande
Depressão.
85
Este princípio aplica-se a todos os aspectos práticos da vida diária, como a procura do melhor trabalho
ou o estabelecimento da livre concorrência. Insurge-se contra o intervencionismo de Estado e contra todas
as medidas de tutela e de proteção por parte do governo.
86
Outros conceitos também foram desenvolvidos ou melhor teorizados, tais como as noções de riqueza,
utilidade, necessidade, valor; renda; moeda; crédito; circulação; consumo. Estes e outros conceitos
formam o substrato teórico da moderna teoria econômica.
87
Entre 1845 e 1850 tomaram-se os preços de 45 mercadorias (depois reduzidas a 22).
88
Modernamente, usa-se o chamado deflator implícito, que é um método matemático para calcular o
valor real da moeda. Esta medida costuma ser o mais preciso indicador da inflação, em um período
determinado (o ano-base tomado para essas medidas, no Brasil, é 1949).
89
Em 1937, os estoques de ouro do Tesouro americano representavam a metade dos estoques mundiais.
Isto se devia à pujança do parque industrial dos Estados Unidos, que fornecia mercadorias para o mundo
todo.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 53
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CAPÍTULO VII
A CRISE DO CAPITALISMO
19 – A Grande Depressão
A Grande Depressão econômica surgida a partir de 192990 podia fazer supor o fim do
capitalismo.91 Esta crise econômica afetou todo o mundo, pondo fim à crescente pujança
econômica característica dos anos 1920 e 1930.92 Nenhum país escapou desta crise, e o
comércio mundial caiu enormemente.93 Internamente, o desemprego em massa, as
falências sucessivas e as perdas de fortuna da noite para o dia trouxeram uma dramática
mudança de cenário na vida econômica.94
Não existe uma razão ou motivo único que tenha causado esta crise. Uma série de
fatores foi se acumulando e criando o cenário para que ela acontecesse. Em 1929, havia
pouco conhecimento econômico teórico sobre mercados de capitais, e sobre a
necessidade de regulação governamental sobre este mercado. A euforia da expansão
econômica na década de 192095 deixou mais ousadas as pessoas, que arriscavam suas
economias em quaisquer papéis que prometessem um enriquecimento rápido. O
consumo em massa veio acompanhar este cenário de fartura, através do crédito fácil e
rápido. Entretanto, quando em 24 de outubro de 1929 o valor dos títulos negociados na
Bolsa de Nova Iorque iniciou uma trajetória descendente, isto veio abalar a confiança
nos negócios, e o otimismo foi substituído rapidamente pelo pessimismo. Os
90 A Grande Depressão americana não foi nem de longe semelhante à crise econômica ocorrida na
Alemanha na década de 1920. Enquanto que nesta a inflação atingiu níveis estratosféricos, numa rápida
deterioração da moeda, a depressão nos Estados Unidos provocou uma deflação, ou queda de preços, que
solapou a indústria e a agricultura. Em certos momentos, apesar de os juros estarem praticamente a níveis
nominais, quem possuía alguma poupança não desejava consumir, o que fazia retrair ainda mais a
economia.
91
Uma das manias mais freqüentes de Marx era a de prever a derrocada do sistema capitalista (ele
afirmava constantemente que “a economia capitalista contém em si o germe de sua própria destruição”).
A crise de 1929 não foi a primeira das crises do capitalismo (houve crises em 1825, 1836, 1847, 1857 e
1866), mas talvez tenha sido a mais importante, pelas suas conseqüências políticas e sociais (deve-se a
ela o surgimento dos regimes fascistas da década de 1930). Em 1937, uma nova crise foi chamada de
recessão.
92
O sistema capitalista nos Estados Unidos, em razão de sua extensa base industrial, permitiu o
progressivo crescimento do poder aquisitivo dos operários da indústria. O advento das linhas de
montagem, com o aumento explosivo da produção em massa, trouxe a necessidade de aumentar os
salários, para que os produtos pudessem ser consumidos (foi o caso, por exemplo, da indústria
automobilística; Henry Ford aumentou os salários de seus trabalhadores para que estes pudessem comprar
os carros que fabricavam).
93
Entre 1929 e 1932 o comércio exterior dos Estados Unidos caiu em mais de dois terços.
94
Era comum encontrar pessoas bem vestidas (ricos que tinham perdido tudo) nas filas de instituições
caritativas, à espera de uma sopa.
95
De 1914 a 1929, o produto nacional bruto americano (índice que avalia todos os bens e serviços
produzidos no país) crescera 62%. Em 1929, o desemprego estava em 3,2% da população ativa, e o
número de veículos vendidos já atingira a cifra recorde de 26 milhões de unidades.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 54
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empresários começaram a fazer cortes na produção e nos investimentos, o que por sua
vez acarretou novo declínio da renda nacional e do nível de emprego. A corrida aos
bancos, por sua vez, provocou uma “quebra” generalizada no sistema financeiro e
bancário.
De 1929 a 1932, o cenário econômico americano virou um verdadeiro pandemônio;
85.000 empresas foram à falência e mais de 5.000 bancos fecharam, levando ao
desemprego cerca de 12 milhões de pessoas. A renda agrícola reduziu-se a menos da
metade, e o produto industrial reduziu-se em cerca de 50%. A crise atingiu
indistintamente ricos e pobres; enquanto que muitos dos primeiros foram levados ao
suicídio pelo desespero de terem perdido suas fortunas, não coube outra solução aos
últimos senão conformar-se com a própria miséria. As minoria raciais sofreram ainda
mais, sendo mais intenso o desemprego entre elas. A cadeia de inadimplência estendeu-
se por todos os segmentos econômicos e afetou um grande contingente de pessoas, e o
espectro da fome levou à necessidade de que entidades assistenciais providenciassem
uma ajuda humanitária em massa.
A pior parte deste cenário é que ele não tinha solução pela economia ortodoxa,
representada pelos economistas clássicos e neoclássicos. Nos Estados Unidos, esta
ortodoxia, que aceitava em todos os seus termos a famosa Lei de Say (vide nota 38),
queria que o governo se mantivesse ao largo dessa crise, esperando que ela
desaparecesse por si só.96 O governo de Herbert Hoover caracterizou-se pela inércia,
pois amparava a sua política econômica nos conceitos ortodoxos do esquema clássico, e
com isso nada fez para intervir na economia. Foi somente com a posse de Franklin
Roosevelt que novos conceitos econômicos vieram a ser adotados no combate à
depressão; tais conceitos surgiram basicamente a partir dos estudos econômicos de John
Maynard Keynes.
***
96
Até esta época, não existiam estudo consistentes sobre ciclos econômicos, matéria considerada
excessivamente “esotérica”, para ser estudada seriamente nos centros acadêmicos. Apenas o economista
Wesley C. Mitchell (1874-1948) chegou a realizar um estudo sobre o assunto (Marx acreditava que o
capitalismo estava sujeito a crises cíclicas, cuja causa, ele acreditava, decorreria basicamente da
introdução de maquinaria pelos capitalistas, propensos a compensar qualquer diminuição de seus lucros).
Atualmente, aceita-se a realidade dos ciclos econômicos. Um ciclo econômico é definido como a
sucessão de períodos de auge e depressão sofridos pelo sistema econômico. Entende-se por depressão um
período de baixa de preços, escassez de negócios e desemprego generalizado. O auge se caracteriza por
alta de preços, grande produção, grande consumo, pequeno ou nenhum desemprego. Não há uma
explicação plausível para a existência destes ciclos, mas há várias teorias que tentam fazer isso. Algumas
delas referem-se a ciclos climáticos; outras, a diferenças entre a demanda de bens de capital (que é
indireta) e bens de consumo (que é direta). Outras ainda apelam à flutuação periódica dos preços,
suscetíveis de variar em função de vários fatores: inovações tecnológicas; mudanças políticas; erros na
política fiscal; políticas recessivas propositais; gastos governamentais excessivos; desequilíbrios
cambiais; desequilíbrios da balança de pagamentos; desequilíbrios do mercado resultante de fatores
exógenos (por exemplo, se o mercado interno não for protegido, o excesso de importações de mercadorias
mais baratas pode destruí-lo).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 55
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percebido que, na maioria das grandes empresas americanas (da época), os acionistas já
não exerciam qualquer função prática e significativa. Isto significava que quem
realmente tomava as decisões eram os administradores (que não eram proprietários das
empresas que administravam), e que respondiam unicamente a uma diretoria (conselho
diretor) que eles próprios escolhiam.97 Isto conduzia naturalmente ao oligopólio, mais
do que à livre concorrência. Este estudo foi ignorado pelos economistas da época, pelo
seu conteúdo heterodoxo.
A crença predominante na Lei de Say e nas teorias clássicas, juntamente com a
ausência de estudos ou teorias a respeito de crises econômicas fazia acreditar que a crise
realmente terminaria por si própria. De acordo com a ortodoxia clássica, a economia iria
encontrar o seu equilíbrio no pleno emprego, do qual viria o fluxo de demanda capaz de
sustentá-lo. Keynes refutou esta crença, quando afirmou que a economia moderna não
encontra o seu equilíbrio, necessariamente, no pleno emprego. Ela pode também
encontrar este equilíbrio no desemprego. Mas Keynes tinha outras afirmações
revolucionárias. Além de mostrar o equilíbrio do desemprego, a teoria keynesiana
apelava a que o governo empreendesse gastos sem ter as receitas necessárias para cobri-
los, a fim de manter o nível de demanda.
20 – A Economia do Pós-Guerra
No cenário do pós-guerra, após 1946, as economias européias estavam
completamente destruídas.98 A Inglaterra, em razão do esforço de guerra, estava
praticamente falida, e os Estados Unidos emergiu deste período como a principal
potência econômica do mundo. O fato da antiga aliada, a União Soviética, ter se
expandido politicamente pela Europa oriental, na esteira do Exército Vermelho, que
vinha ocupando sistematicamente os países a propósito de “libertá-los” do jugo nazista,
alertou os americanos para a necessidade de uma reconstrução econômica da Europa e
do Japão.99
97
Posteriormente, os gerentes receberam um respaldo oficial dos empresários. Em 1956, por iniciativa da
Universidade de Colúmbia, promoveu-se um ciclo de conferências no qual se abordava em profundidade
a ideologia gerencial. Os empresários, em geral, viam o gerente como um “profissional”, que se
preocupava “com os consumidores, os empregados, os acionistas, os fornecedores, as instituições
educacionais, as instituições de caridade, o governo e o público em geral, tanto quanto com as vendas e
com os lucros”. (HUNT & SHERMAN, pág. 188).
98
Também os países da América Latina, Oriente Médio e Extremo Oriente tiveram as suas economias
arrasadas em virtude da guerra. Nem todos, entretanto, chegaram a receber a ajuda americana para a sua
reconstrução. A ameaça comunista tornou prioritária a ajuda a aliados (Inglaterra e França,
principalmente), mas também a ex-inimigos (Alemanha, Itália e Japão).
99
Durante a guerra (a Segunda Guerra Mundial), os Estados Unidos foram os grandes fornecedores de
material bélico para os países que lutavam contra o Eixo (formado pela aliança entre Alemanha, Japão e
Itália). O ataque japonês a Pearl Harbor levou os Estados Unidos a entrarem na guerra, e a invasão, por
Hitler, da Rússia (tomando completamente de surpresa Stálin, que não acreditava nesta possibilidade),
colocou esta última entre os chamados “Aliados”. As perdas em equipamento militar da Inglaterra, Rússia
e China foram repostas maciçamente graças à enorme produção industrial americana (que Roosevelt
chamava de “o Arsenal de Democracia”), que desviou todo o seu parque industrial para a produção de
armas.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 56
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Para reerguer estas economias, os Estados Unidos criaram um plano econômico
chamado de “Plano Marshall”100 Este plano de auxílio econômico destinava cerca de 22
bilhões de dólares (entre 200 a 250 bilhões de dólares, a preços atuais) para a
reconstrução econômica e política dos países europeus. A recém formada Organização
das Nações Unidas (ONU), criada em 1945, tornou-se o fórum de debates econômicos;
a chamada “Carta de Havana” (com todas as suas deficiências e cláusulas duvidosas)
tornou-se, na prática, o código de comércio internacional para o pós-guerra.
100
George Catlett Marshall foi chefe do Estado-Maior do exército americano entre 1939 e 1945. Era
altamente respeitado, tanto como militar quanto estadista. Como Secretário de Estado do governo
Truman, deu início ao Programa de Recuperação Européia, também chamado Plano Marshall. Participou
da criação da Organização do Tratado Militar do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar ocidental
criada em oposição ao Pacto de Varsóvia.
101
Estes pactos comerciais nem sempre ajudavam aos participantes, principalmente os de economia
menos desenvolvida. O Brasil, que tem uma participação mínima no comércio internacional (menos de
3% do total), ainda assim sofre constantemente a retaliação por parte dos Estados Unidos, que o acusam
de dumping (exportação de mercadorias com preços artificialmente baixos). Por outro lado, este país do
norte, além de abusar da proteção alfandegária, recusa-se a admitir que o Brasil crie barreiras
alfandegárias contra os seus produtos.
102
Na única, o único país que resistiu a esta tentativa de desenvolvimento segmentado foi a Romênia.
Resistindo às pressões soviéticas, optou pelo que chamou de desenvolvimento multilateral, ou
industrialização completa.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 57
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LEITURA COMPLEMENTAR
A Teoria Keynesiana
103
As idéias de Keynes, apresentadas na Conferência de Bretton-Woods, em 1944 (que iria definir o
futuro econômico do pós-guerra) serviram de base à criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e
do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento Econômico (BIRD – mais conhecido como
Banco Mundial).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 58
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TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 59
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CAPÍTULO VIII
104
Apesar de uma recessão quase endêmica que o assolou, a economia do Japão ainda é a segunda do
mundo, com uma produção nacional de cerca de 10 trilhões de dólares por ano. A renda per capita
japonesa, atualmente, é uma das maiores do mundo.
105
O comércio do Japão com o resto do mundo, extremamente favorável para a sua balança de
pagamentos (constantemente superavitário), tem permitido a que este país acumule uma grande
quantidade de moedas fortes (as reservas monetárias). Este fenômeno, ainda que aparentemente benéfico,
talvez explique a paralisia econômica que assolou o país. Com um excesso de poupança, os
consumidores, ainda que com dinheiro nas mãos, recusavam-se (tal como na época da Grande Depressão
americana) a consumir, agravando o problema e causando desemprego crescente (o Japão sempre se
orgulhou de seus níveis de emprego, pois é – ou era – uma característica, da maioria das empresas
japonesas, a de jamais demitir).
106
A União Européia é formada por vinte e sete países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária. Chipre,
Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália,
Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda), Polônia, Portugal, Reino Unido,
República, Romênia e Suécia Inicialmente, doze países se uniram economicamente (Alemanha, Áustria,
Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e Portugal), com a
condução da economia sendo feita por um banco central europeu. Macedônia, Croácia e Turquia
caminham para esta integração econômica. Os tratados que definem a União Européia são: Tratado da
Comunidade Econômica Européia (CEE); Tratado da Comunidade Européia do Carvão e do Aço
(CECA); Tratado da Comunidade Européia da Energia Atômica (EURATOM); Tratado da União
Européia (UE), o Tratado de Maastricht, que estabeleceu os fundamentos da futura integração política.
Neste último tratado, fizeram-se acordos mútuos de segurança e política exterior, bem como a
confirmação de um Constituição Política para a União Européia. A integração monetária foi realizada
através de uma moeda única, o Euro.
107
A produção de riqueza deste bloco europeu é calculada em cerca de mais de 10 trilhões de dólares por
ano.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 60
______________________________________________________________________
No continente americano, os projetos de unificação comercial (ALCA e Nafta)
esbarram na exagerada desproporção econômica dos países centro e sul-americanos
frente ao gigante do norte. Problemas políticos e econômicos sempre foram a regra no
chamado Cone Sul, e o crescimento econômico sempre foi descontínuo (o México,
ainda que tenha passado recentemente por graves problemas, apresenta atualmente uma
economia em franco progresso).
108
Os países socialistas sempre se caracterizaram por uma agricultura extremamente pobre, incapaz de
produzir para as próprias necessidades. Desde os tempos de Stálin, a Rússia sempre foi um grande
importador de grãos e cereais do ocidente, por não poder produzi-los em quantidade suficiente. Em 1958,
na sessão plenária do Comitê Central, foi lida a seguinte declaração de Khruschev: “o principal objetivo
da União Soviética consiste em desenvolver, por todos os meios, o caráter mercantil da economia
agrícola, o progresso de relações mercantis, conduzindo à abundância de produtos agrícolas para o
mercado (...)”. Isto ocorreu depois de 41 anos de sucessivas planificações econômicas. Apesar da retórica
marxista, os sucessivos planos econômicos sempre redundaram em fracasso. O sucesso conseguido na
indústria militar e espacial, por sua vez, se deu à custa de um limitado atendimento às necessidades do
mercado interno (produzia-se “mais canhões, e menos manteiga”).
109
Revolta esta que se justificava, tendo em vista unicamente a perspectiva histórica que a criou. Mas
Marx jamais foi capaz de aceitar que o capitalismo seria capaz de propiciar um bem-estar aos
trabalhadores, como realmente acabou acontecendo. Ele não poderia prever que os novos acionistas das
grandes corporações seriam exatamente os trabalhadores, cuja riqueza cresceria na proporção do
crescimento da empresa (pela distribuição dos dividendos dos lucros acionários).
110
Que se faz normalmente pela elevação do poder aquisitivo. Isto pressupõe a existência de outros
fatores, como pleno (ou quase pleno) emprego, bons salários, boa educação, sistemas adequados de
previdência e de aposentadoria, etc.
111
Nos pretensos “paraísos” socialistas, era considerado como dissidência política achar que o sistema era
menos que perfeito, e o infrator era geralmente punido com o exílio para a Sibéria. A falsificação dos
fatos históricos tomou tais rumos na União Soviética, que a sua historiografia, mesmo nos dias de hoje em
que se tem acesso aos arquivos oficiais, já não é mais possível distinguir entre a falsificação e a verdade.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 62
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considerado falta gravíssima, punida com o exílio na Sibéria. Além disso, o Estado
soviético não tinha nenhum respeito pelo trabalhador. Em vários momentos, cogitou-se
da substituição do salário por bens “úteis”.
***
O sistema capitalista, por sua vez, após ter passado pela fase “selvagem” (que foi a
que Marx conheceu), começou gradativamente a mudar. Não foi uma mudança rápida;
entretanto, já em 1880 o cenário social alemão viu surgir uma nova mentalidade, que
viria a se traduzir no moderno Estado do Bem-Estar. O chanceler Bismarck, temeroso
que a ordem do Estado fosse afetada por revoluções sociais,114 começou a exortar para
que se atenuasse a face mais cruel do capitalismo. Seu poder de convencimento levou o
Reichstag alemão a aprovar, em 1884 e 1887, leis que, ainda que de forma rudimentar,
viriam a prover aos trabalhadores proteção e assistência nos casos de doença, acidentes,
incapacidade, bem como ampará-los na velhice. Medidas similares foram adotadas na
Áustria, na Hungria e no resto da Europa. Na Inglaterra, por volta do final do século
A historiografia “oficial” mudou tantas vezes (naquele estilo descrito no romance de George Orwell,
1984), que é quase impossível encontrar documentos idôneos nos arquivos russos.
112
Não se pode afirmar, contudo, que o socialismo tenha morrido (exceto o socialismo “marxista”). Antes
de Marx já existiam outros socialistas (que foram menosprezados por ele), cujas teorias sociais ainda
continuam válidas, em sua maioria (não é o caso da prática social, que na maioria dos casos redundou em
fracasso).
113
Também Stálin procedeu a grandes expurgos entre as suas próprias fileiras: “As primeiras vítimas da
repressão stalinista foram todas as organizações populares de caráter esquerdista que não se dobraram
ante os fundadores das ‘democracias populares’ ”. Citação extraída de: Planificação – Desafio do Século
XX, por Maurício Tragtenberg. Pág. 128.
114
Em vista das agitações promovidas pelas internacionais socialistas, dominadas por Marx e seus
seguidores.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 63
______________________________________________________________________
XIX e início do século XX, homens e mulheres115 socialmente engajados, bem como os
sindicatos (que já eram poderosos e bem organizados), fizeram aprovar leis (em 1911)
que instituíam proteção contra doença e invalidez, e mais tarde, contra o desemprego (o
seguro-desemprego). Para sustentar todas estas medidas, novos impostos foram criados,
que agora alcançavam uma classe que jamais os pagara: os ricos.116
Quando o presidente Roosevelt subiu ao poder em 1933, e tendo como tarefa vencer
a Grande Depressão, ele tomou medidas econômicas117 visando combater o marasmo
econômico e a queda de produção e de renda nacional. Apesar de que tenha ocorrido
outra crise (uma recessão) em 1937, suas medidas118 levaram pouco a pouco o país a
recuperar-se, e lançaram as bases da prosperidade que se seguiria à Segunda Guerra
Mundial.
115
Que já se batiam pelos seus próprios direitos (eram as chamadas sufragistas, que defendiam o direito
de voto da mulher, proibida de manifestar seu direito de escolha política).
116
A legislação social aprovada sofreu forte oposição das classes mais privilegiadas, que se opunham a
ser taxados. Conflitos políticos e tumultos criaram uma crise sem precedentes, e em 1910, a Câmara dos
Lordes somente aprovou a lei a contragosto. A instituição destes impostos não tinha uma sustentação
teórica de fundo clássico; na verdade, a ortodoxia clássica se opunha à redistribuição de renda, porque
acreditava que a utilidade marginal do dinheiro para o indivíduo que o adquire não diminui (sua
satisfação não é reduzida com cada unidade adicional). Afirmava também que não era possível comparar
utilidades interpessoais (não se podia dizer que alguém com mais bens obtinha menor satisfação dos
incrementos do que alguém com menos bens). Assim, não havia uma justificativa econômica para a
transferência de renda de ricos para pobres. Em 1920 o economista Arthur Pigou demonstrou que desde
que a produção global não diminuísse devido às medidas tomadas, o bem estar econômico aumentava,
com a transferência de recursos de ricos para pobres. Mas a adoção de uma legislação que assegure
proteção aos pobres, seguro-desemprego e pensões de aposentadoria continua sendo condenada por
economistas aferrados às concepções clássicas (por exemplo: Ludwig von Mises e Friedrich Hayek). Para
eles, a única coisa que se conseguiria com isto seria a destruição do capitalismo. Ainda que radicais, suas
idéias são válidas até um certo ponto. Os países escandinavos, por exemplo, foram obrigados a limitar a
sua política pública social devido ao esgotamento atingido (crescentes benefícios sociais que já não
podiam ser cobertos por novos impostos, que já estavam em um patamar altíssimo).
117
Com base nas teorias de Keynes. As características mais perversas da Depressão (a deflação, o
desemprego e a privação trazida aos desfavorecidos) foram combatidas com medidas amplas, algumas de
alcance restrito, outras de alcance a longo prazo. As medidas adotadas para amenizar o sofrimento dos
grupos mais vulneráveis do sistema econômico lançaram a gênese do Estado do Bem Estar (welfare).
118
Entre as várias medidas econômicas adotadas, criou-se uma política de preços mínimos para os
principais produtos agrícolas, políticas de limitação (se necessário) da produção, e a criação de estoques
de regulação do mercado. Tais medidas acabaram sendo adotadas pela maioria dos países industriais.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 64
______________________________________________________________________
produtividade. Contudo, a canalização do potencial produtivo para a
criação de bens de capital exigiu que uma parte relativamente menor deste
potencial fosse dedicada à produção de bens de consumo. A aquisição de
bens de capital fez-se, portanto, a um custo social elevado, resultando em
grandes privações para as massas”. (HUNT & SHERMAN. Pág. 71).
“Os direitos e liberdades que foram fatores assaz vitais nas origens e fases
iniciais da sociedade industrial renderam-se a uma etapa mais avançada
desta sociedade: estão perdendo o seu sentido lógico e conteúdo
tradicionais. Liberdade de pensamento, liberdade de palavra e liberdade de
consciência foram – assim como o livre empreendimento, que elas
ajudaram a promover e proteger – idéias essencialmente críticas destinadas
a substituir uma cultura material e intelectual obsoleta por outra mais
produtiva e racional. Uma vez institucionalizados, esses direitos e
liberdades compartilharam do destino da sociedade da qual se haviam
tornado parte integral. A realização cancela as premissas”. (MARCUSE,
Herbert. Pág. 23).
Entretanto, uma nova consciência vem surgindo por entre os benefieiários desta
sociedade de opulência, representada por uma atitude crítica frente ao preço a pagar por
ela. Cada vez mais se levantam críticas, oposições e movimentos organizados contra a
ação predatória e poluidora120 característica do sistema industrial. Atualmente, aumenta
cada vez mais a preocupação pelo equilíbrio ecológico do planeta, ameaçado pela
exploração desenfreada de seus recursos. Por todo o mundo, grupos se organizam
visando defender não apenas o futuro, mas o próprio presente ameaçado.
119
O grosso da produção industrial de países tais como EUA, Japão, Inglaterra, França e Alemanha, entre
os de economia mais desenvolvida, volta-se principalmente para o mercado interno. Apenas o excedente
da produção (que por si já é bastante elevado) é exportado. Tal política não é seguida pelos países
periféricos (ditos em desenvolvimento), que privilegiam a exportação, em detrimento do seu mercado
interno. Ao mesmo tempo, a dificuldade econômica crônica destes países leva-os a ter que seguir as
determinações do FMI, cuja orientação econômica volta-se claramente para uma ortodoxia clássica.
120
A poluição trazida por empresas de alta tecnologia não atinge a atmosfera, mas sim a terra e os lençóis
freáticos. O chamado “Vale do Silício”, região de tecnologia de ponta localizada na Califórnia, é
atualmente o lugar onde o meio-ambiente está mais exposto. Para produzir os chips e outros componentes
usados intensivamente em computadores, são necessárias substâncias extremamente tóxicas. Estas
substâncias, de acordo com a Enviroment Protection Agency, são: xilênio (que pode causar defeitos em
fetos); compostos de chumbo (cancerígeno); ácido nítrico e compostos do nitrato (envenena os pulmões e
corrói a carne); éter glicólico (afeta o sistema nervoso e pode interromper a gravidez); ácido
hidroclorídrico (corrói a pele e provoca choque anafilático). As empresas que industrializam a celulose
(base para a produção do papel, indispensável por formar o substrato físico da civilização intelectual) são
as maiores poluidoras dos rios.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 65
______________________________________________________________________
“A questão política mais básica, ( ... ) não é quem controla os últimos dias da
sociedade industrial, mas quem modela a nova civilização que surgirá
rapidamente para substituí-la. Enquanto as escaramuças políticas de curto
alcance esgotam a nossa energia e atenção, uma batalha muito mais profunda já
está tomando lugar sob a superfície. De um lado estão os guerrilheiros do
passado industrial; do outro, crescentes milhões que reconhecem que os
problemas mais urgentes do mundo – a comida, a energia, o controle da armas, a
população, a pobreza, os recursos, a ecologia, o clima, os problemas da idade, o
colapso da comunidade urbana, a necessidade de trabalho produtivo e
compensador – não mais podem ser resolvidos dentro da estrutura da ordem
industrial”. (TOFFLER, Alvin. Págs. 30/31).
A obra de Toffler que citamos acima tem uma penetrante visão sobre o modo como
se desenvolveu a nossa civilização. Para este autor, este desenvolvimento pode ser
dividido em três fases: a Primeira Onda, de características essencialmente agrícolas; a
Segunda Onda, especificamente industrial; e a Terceira Onda, que apenas iniciamos, e
que se caracteriza pela desurbanização, des-industrialização e por formas de produção
econômicas totalmente novas.121 Para Toffler, a atual revolução está se processando em
um eixo cujo motor é a tecnologia, transportes aperfeiçoados e as comunicações.
121
É o caso do surgimento de empresas “virtuais” na Internet, cujo valor não pode ser avaliado por um
patrimônio “visível”, como é o caso das empresas tradicionais. Isto não impede que elas atinjam um valor
de mercado impressionante.
122
Alguns autores, por sua vez, criticam esta nova sociedade tecnológica. De um modo geral, esta crítica
aponta para o fato de que, nas nações industrializadas, o homem moderno tornou-se escravo desta
tecnologia, e o vício do conforto material apenas esconde as profundas deficiências e a injustiça social
desta sociedade. Além disso, a tecnologia trouxe poluição, envenenamento do solo por defensivos
agrícolas e o perigo nuclear. Para Robin Clarke, autor inglês, esta análise é injusta, por não levar em
consideração que a tecnologia traz mais benefícios reais do que malefícios. Para ele, a tecnologia pode
evoluir para formas não poluentes e menos perigosas para o meio-ambiente. O erro está no modo como se
trata a tecnologia. A própria forma de ajuda dos países ricos aos mais pobres mediante o fornecimento de
tecnologia avançada, além de ser extremamente dispendiosa, nem sempre resolve os problemas
econômicos dos últimos. Além disso, para Clarke, sempre se encontram, integrados na tecnologia, os
valores e os ideais da sociedade que a criou. Em contato com outras culturas, esta tecnologia geralmente
tem um efeito perverso, capaz de deformar o seu sistema de valores (inclusive a sua atitude frente à
natureza e à sociedade). O mau uso da tecnologia poderia decorrer destes equívocos culturais e da
assimilação deturpada do conhecimento tecnológico (por exemplo, os conhecimento tecnológicos
relativos à pesquisa de defensivos agrícolas podem ser desviados para a pesquisa de armas químicas e
biológicas).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 66
______________________________________________________________________
composição básica da força de trabalho se altera, à medida que os processos
automáticos reduzem o número de operários industriais necessários à produção. Como
conseqüência mais importante, Bell aponta o fato de que as indústrias passariam a se
localizar distantes das grandes cidades, mais perto das fontes de matéria-prima e
combustíveis.
A descentralização industrial, além de revolucionar a topografia social, tornaria
indistinta as orlas radiais das metrópoles e das fronteiras entre urbano e suburbano. Sob
o domínio da automação, a depreciação do maquinário representaria um custo maior do
que o dos salários da mão-de-obra; assim, para neutralizar o alto investimento de
capital, cada vez mais as fábricas automatizadas passariam a funcionar 24 horas por dia.
Como conseqüência, ficariam alteradas todas as formas conhecidas de “turnos de
trabalho”, trazendo como conseqüência novas relações trabalhistas, nova legislação e
novas formas sociais e jurídicas de interpretação do trabalho.123
123
Esta análise de Bell foi feita na década de 1970, e mostrou-se extremamente profética quanto às atuais
formas de trabalho nos Estados Unidos e no Japão, principalmente.
124
Marx já havia previsto que, no futuro, o advento de instrumentais criados pela ciência e pela técnica
iria modificar a relação entre o tempo de trabalho (e da quantidade de trabalho) e a criação da riqueza
real. Desta forma, o trabalho humano já não estaria incluído no processo de produção; o homem apenas se
relacionaria com este processo como supervisor e regulador. Na verdade, é isto que vem acontecendo nas
empresas de alta tecnologia e elevada robotização, onde o trabalho humano está exatamente neste nível
previsto por Marx (entretanto, mesmo assim ele condenou esta forma de trabalho, porque, dizia, se
apropriava da produtividade universal do homem).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 67
______________________________________________________________________
participantes deste processo tenham uma economia aberta, permitindo um maior fluxo
tanto de capital quanto de mercadorias e serviços – seja na exportação, seja na
importação). Isto implica na necessidade de limitar o controle alfandegário, diminuindo
(ou mesmo abolindo) tarifas protecionistas sobre mercadorias.
O próprio fato de que a maioria das mercadorias atualmente fabricadas em qualquer
país surge da montagem de peças provindas dos mais variados pontos do globo obriga a
esta abertura. A característica mais marcante da globalização é o surgimento do
chamado “produto mundial”, uma mercadoria que tem basicamente as mesmas
características em qualquer dos mercados nacionais onde seja fabricada e vendida. O
produto mundial (que surgiu da necessidade de diminuir custos de produção, e da
concorrência enorme no mercado) decorre da padronização das linhas de montagem e
da unificação e diminuição das peças básicas usadas no produto (ou seja, diminuição do
número de fornecedores).125
A globalização, apesar da grande oposição que tem levantado, tem mostrado ser um
fenômeno irreversível. Os países que tentaram fechar a sua economia ao comércio
mundial regrediram a um nível vegetativo de crescimento, com fome e miséria interna
(é o caso da Coréia do Norte e da Albânia).
Se a globalização tem uma faceta ruim, ela pode estar no fato de que os governos
nacionais vêm perdendo sua autonomia interna (e, em certos casos, até mesmo uma
parte de sua soberania), pelo fato de terem de se submeter aos ditames do capital
internacional.130 A quebradeira generalizada de vários países deu-se em função,
basicamente, da sua incapacidade de controlar os capitais voláteis.131
Reservas de mercado, legislação reguladora, controle de preços, proteção
alfandegária, são medidas inócuas e até mesmo deletérias, em uma economia
globalizada.132 E se o país tenta simplesmente fechar suas fronteiras, fatalmente deixará
de ter acesso aos capitais externos e a novas tecnologias. Caminhando para trás, seus
produtos acabam por perder competitividade, a indústria sucateia, e a inflação acaba
vindo como corolário deste estado de coisas.
129
Para Kenichi Ohmae, autor do livro “O Fim do Estado Nação”, “trata-se de uma nova espécie de
processo social, uma civilização genuinamente transnacional, alimentada pela exposição à tecnologia e
pelas mesmas fontes de informação”.
130
Marx afirmava que a concorrência entre os capitalistas levando ao esmagamento dos menores pelos
maiores, bem como o aperfeiçoamento da tecnologia (que levaria, segundo ele, a que as empresas
precisassem ampliar a produtividade do trabalho, com aumento da escala de produção) levavam
inexoravelmente à concentração da riqueza e do poder econômico em um número cada vez mais restrito
de capitalistas. A par desta concentração cresceria a miséria e a exploração econômica. Como corolário de
sua análise, Marx exortava a que as massas se unissem e se organizassem contra o sistema capitalista.
131
Se o país desvaloriza a moeda tentando proteger a sua economia, estes capitais se volatizam da noite
para o dia, pulverizando as suas reservas internacionais.
132
Não significa que a economia não possa ter segmentos protegidos, principalmente nos países de
economia mais vulnerável. E no entanto, esta também é uma prática comum nos países mais fortes
economicamente. O aço, por exemplo, é um produto que volta e meia entra na pauta de produtos
protegidos pelos Estados Unidos (como proteção, é claro, à sua siderurgia). No entanto, sempre que isto
ocorre, algum outro segmento da economia americana sofre as conseqüências (quase sempre, a indústria
automobilística).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 69
______________________________________________________________________
133
Os exemplos mais flagrantes são a Índia e a China, que adotaram uma via própria de desenvolvimento,
pressionados pelo seu gigantismo demográfico.
134
No Brasil, é comum encontrarmos equipamentos tecnológicos, que foram fornecidos (e muitas vezes,
comprados), ainda encaixotados, enferrujando e tornando-se obsoletos, simplesmente porque não há
quem possa montá-los e operá-los.
135
Na década de 1970 o Brasil assinou contratos de ajuda para a implantação de usinas nucleares com a
Alemanha Ocidental que vieram a se mostrar extremamente prejudiciais ao país. Paralelamente, e em
segredo, havia um projeto secreto de pesquisas que foi capaz de, realmente, fazer o Brasil adquirir know-
how neste campo de pesquisas. Infelizmente, no Governo Collor, o excesso de demagogia fez interromper
estas pesquisas, as quais tornavam o país autônomo, nesta área. No campo da exploração espacial, o
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 70
______________________________________________________________________
***
Brasil tem um projeto completo, inclusive com veículos lançadores de satélites (na base de Alcântara),
que sofrem a mesma miopia demagógica, pois restringem-se cada vez mais as verbas, o que provoca a
dissolução de sofisticados grupos de pesquisa, graças aos baixos salários e à falta de motivação.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 71
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***
25 – Tecnologia e Desenvolvimento
136
“Calcula-se que, atualmente, os negócios são responsáveis por mais de 25 bilhões de toneladas de
poluentes, dispersos no ar e lançados na água e na terra; cerca de 125 toneladas de dejetos, anualmente,
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 73
______________________________________________________________________
possíveis, pode conseguir a atenção do habitante deste mundo novo, e será capaz de
lançar os modelos para uma nova sociedade, modelos estes calcado em novas teorias
sociais e econômicas capazes não só de trazer prosperidade e eliminar o fosso existente
entre as classes privilegiadas e as classes desfavorecidas, mas principalmente trazer
condições não apenas para que este mundo novo seja, além de próspero e feliz, também
mais equilibrado e mais racional.
LEITURA COMPLEMENTAR
A Nova Economia
Para o neoliberalismo, este controle é daninho para a economia, porque eles não
podem ser usados para aferir o mecanismo da oferta e procura. Assim, a única
intervenção que aceitam é no sentido de o Estado intervir com uma função reguladora
(impedindo cartéis) ou mesmo reformando instituições ineficientes. Aceitam também a
possibilidade de vir o Estado a exercer de uma forma permanente uma atuação em
certos setores da economia, tomando medidas econômicas que visem reduzir ao mínimo
as injustiças sociais, aceitando mesmo uma legislação social para isso.
Os neoliberais mais radicais, por seu lado, acreditam que o Estado é perdulário,
incompetente e corrupto, e por isto incapaz de intervir de forma eficiente na economia e
no sistema econômica; sua tese é a de que os indivíduos deste sistema econômico são
capazes de encontrar suas próprias soluções para sanar todos os problemas.138
***
para cada homem, mulher e criança nos Estados Unidos. Incluídos nessa quantidade estão cerca de 150
milhões de toneladas de fumaça que escurece o céu e envenena o ar, 22 milhões de toneladas de produtos
de papel jogados fora, 3 milhões de toneladas de sobras de fábricas, e 50 trilhões de galões de líquidos
aquecidos e poluídos que são despejados em rios, cursos d’água e lagos, todos os anos”. (HUNT &
SHERMAN. Pág. 216).
137
Especificamente, foi com Jacques Rueff, economista francês, que surgiu inicialmente a fundamentação
teórica do neoliberalismo.
138
Enquanto os socialistas acreditam que a intervenção do Estado visa tão somente garantir sua
sobrevivência, pela manutenção das formas de produção e das relações tradicionais de dominação, os
neoliberais mais radicais possuem as suas próprias razões para não quererem esta intervenção.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 74
______________________________________________________________________
Com relação à doutrina econômica neoclássica, a crítica que se faz a ela não ataca os
problemas práticos enfrentados pelo Estado e pela sociedade moderna. Não enfrenta
desigualdade de crescimento, ou defasagem de crescimento entre segmentos diversos;
não ataca a crescente desigualdade na distribuição da renda; não explica porque o
abismo entre ricos e pobres aumenta cada vez mais, ainda que aumente a produção geral
de riqueza; não explica, nem apresenta alternativas aos problemas de decadência urbana
e de poluição ambiental.
O atual cenário apresentado pela economia internacional faz crer que as atuais
teorias econômicas, apresentadas nos manuais acadêmicos, são apenas adaptações das
antigas teorias. Na verdade, desde Keynes não surgiu uma teoria abrangente capaz de
explicar o atual panorama econômico, em toda a sua complexidade. As modernas
teorias matemáticas que procuram explicar o comportamento econômico apresentam o
ranço histórico de sua origem. Nenhuma nova teoria tem ousado ir além dos moldes
capitalistas e socialistas tradicionais, em busca de um novo mundo econômico.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 75
______________________________________________________________________
CAPÍTULO VIII
O PROBLEMA BRASILEIRO
O Brasil possui atualmente uma economia estabilizada, com uma inflação sob
controle, situação esta surgida após um dramático período caracterizado por índices
elevadíssimos de inflação.
Entretanto, de um modo paradoxal, os remédios econômicos adotados à época, ainda
que pouco ortodoxos (correção monetária; câmbio fixo; etc.) permitiram um
crescimento relativamente alto durante este período.
Por outro lado, a situação atual caracteriza-se por índices nominais de juros
altíssimos; elevada distorção na distribuição de renda; um apetite fiscal insaciável e um
nível ainda baixo de crescimento econômico.
Ainda assim, a economia brasileira apresenta um potencial de crescimento geral,
com segmentos da economia apresentando bom desempenho (safra regular e produção
industrial estável, por exemplo).
139
Uma forma de protecionismo é feita através de barreiras não tarifárias, como por exemplo a criação de
subsídios agrícolas. Políticas locais de lobby também são responsáveis pela adoção de medidas
antidumping, geralmente através de legislação específica. Medidas compensatórias também costumam ser
tomadas pelo país que se julga prejudicado por medidas tais como a desvalorização da moeda.
140
Os Estados Unidos costumam criar barreirar alfandegárias contra determinados produtos brasileiros,
tais como suco de laranja, aço, produtos siderúrgicos, calçados e fumo. Até bem pouco tempo, o Brasil
costumava proteger o seu mercado de eletrônica e de informática. A importação de produtos chineses
tem afetado bastante certos setores industriais brasileiros.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 76
______________________________________________________________________
Talvez um dos grandes problemas relativos à integração (ou não) do Brasil e de
outros países latinos ao ALCA seja a tremenda diferença que separa estes países da
dinâmica economia americana (incluindo a economia do Canadá). Enquanto que a
integração econômica na Ásia e Europa se deu entre países de mesmo nível
(relativamente) econômico, a integração a ser realizada pela ALCA poderia levar a um
desequilíbrio econômico insuportável pelos países latino-americanos, que poderia vir a
favorecer a economia norte-americana (e inclusive provocar uma ênfase indesejável na
produção de produtos primários, pelos países abaixo do Equador), pelo aumento da
dependência dos países mais fracos economicamente.
APÊNDICE
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 78
______________________________________________________________________
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 79
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A MOEDA
Até por volta do início da segunda metade do século XX, a maioria dos países
procurava ter um lastro para a sua moeda, lastro esse baseado no ouro ou na prata. Isto
significava que a moeda era conversível, ou seja, que o Banco Central trocaria aquele
papel (o papel- moeda) por ouro (foi o que fez a França de De Gaulle, que levou
grandes quantidades de ouro dos EUA, em troca do dólar em papel. Isto mudou quando
os EUA tornou a sua moeda inconversível. Sendo, entretanto, um país de enorme
quantidade de riqueza produzida anualmente (o PNB, ou Produto Nacional Bruto) e
com uma gigantesca participação no comércio mundial, isto não teve qualquer
conseqüência na aceitação e circulação do dólar-papel em todo o mundo. Atualmente,
na verdade, costuma-se basear a quantidade de moeda em circulação já não mais no
ouro, e sim nesta riqueza nacional produzida anualmente. Dentro de uma economia em
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 80
______________________________________________________________________
crescimento, procura-se medir a produtividade do trabalho, que se considera um índice
seguro da relação entre produto social, renda distribuída, uso de mão-de-obra, know-
how e capacidade de aproveitamento dos recursos naturais.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 81
______________________________________________________________________
A RENDA NACIONAL
A renda nacional costuma ser calculada pelo valor líquido das mercadorias e serviços
produzidos, e a sua flutuação normalmente141 se reflete na quantidade de moeda
existente. Quanto ao poder aquisitivo do indivíduo, este aumenta na relação direta da
produção de bens (desde, é claro, que estes bens sejam destinados ao consumo interno).
O dinheiro é a expressão material desse maior ou menor poder aquisitivo.
Todas as tentativas feitas por diversos governos para aumentar artificialmente esta
renda redundaram em total fracasso. Durante o governo Blum, na França, em 1936, e
posteriormente no governo de Roosevelt, foram feitas experiências cujo escopo era dar
dinheiro a certas classes sociais para que pudessem gastá-lo (e que, achavam os
governantes, provocaria um aumento de produção). 142 Todas estas experiências
redundaram em retumbante fracasso.143
141
Entre 1933 e 1934 a quantidade de moeda em circulação na Inglaterra diminuiu um pouco, apesar do
aumento sensível da renda nacional, no mesmo período.
142
No Canadá, chegou-se, inacreditavelmente, a distribuir somas de dinheiro entre os cidadãos, para
compensar o dinheiro que estes entesouravam.
143
A experiência histórica não impede que novas iniciativas neste sentido sejam tomadas, seja por
governos clientelistas, seja por socialistas que vêm propor renda mínima, como se isso resolvesse os
problemas econômicos.
144
Esta teoria é atribuída a John Locke (1632-1704).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 82
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145
Alguns economistas dizem jocosamente sobre isso que “não existe lanche grátis” (alguém sempre
paga por ele).
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 83
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A FORMAÇÃO DOS PREÇOS
146
O surgimento dos buracos na camada ionizada da atmosfera terrestre são um terrível alerta neste
sentido.
147
Atualmente (2008), cresce o espectro da fome. Na disputa entre bio-combustíveis e alimentos, a
produção agrícola tende gradativamente para os primeiros, diminuindo a produção de alimentos (em área
plantada e colheita). Além disso, o aumento da renda per-capita em países como China e Índia, de enorme
contingente populacional, tem pressionado o consumo geral de bens e insumos não-renováveis e de
alimentos, aumentando ainda mais o problema.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 86
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mesmo índice entre os habitantes dos países mais pobres.148 Desta forma, o rápido
crescimento demográfico entre estes últimos os afasta cada vez mais de uma
prosperidade econômica.149
De qualquer forma, os neomalthusianos afirmam que, seja como for, qualquer
aspiração de riqueza dos países pobres é irrealizável, devido à insuficiência de recursos
naturais capazes de sustentar uma industrialização em grande escala. Para alcançar o
patamar de prosperidade e o padrão de vida apresentado pelos europeus, por exemplo,
estes países iriam consumir um volume de recursos que levaria rapidamente ao
esgotamento todas as reservas mundiais.150
148
O pequeno índice de crescimento demográfico entre países ricos traz, por outro lado, conseqüências
imprevistas. O aumento da idade média da população tem reflexos na política previdenciária, de
aposentadoria e de bem-estar social. De um modo geral, a política interna desses países oscila entre a
necessidade de abrirem-se para a imigração de mão-de-obra, e a rejeição à invasão (via esta mesma
imigração) de culturas indesejáveis. Atualmente, a maioria dos países europeus que fechar os seus países
a esta imigração (o Canadá tem uma política voltada para admitir novos imigrantes – preferencialmente,
altamente qualificados).
149
De 1970 para cá, os índices de natalidade tem caído com rapidez em vários países. O declínio da
fecundidade tem se apresentado em países tão diversos quanto a China, Coréia do Sul, Formosa,
Singapura, Malásia, Chile, Costa Rica, Brasil, Porto Rico, Jamaica, e um longo número de pequenos
países. Política de controle demográfico apenas tinham se iniciado nesta época em países de alta
densidade demográfica, tais como Índia, Bangladesh, Paquistão, Indonésia, Nigéria e México.
150
A própria crise de energia que assola atualmente todos os países decorre desta exploração. A demanda
incessante por petróleo e por gás natural levaram ao encarecimento destes recursos, utilizados como
armas estratégicos pelos países produtores. As sucessivas crises no Oriente Médio levaram os preços do
barril de petróleo a preços cada vez mais altos (cerca de 114 dólares o barril, em 2008). Por outro lado, a
opção da energia atômica traz os seus próprios problemas, tais como contaminação ambiental e ausência
de lugares seguros para depositar os resíduos tóxicos provenientes deste tipo de energia.
TÓPICOS DE HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL 87
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QUESTIONÁRIO
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