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picuinhas do que com a mão na massa. Também se pode perceber que a produção
teológica após o pacto é direcionada na sua grande maioria para rebater críticas e
não para que o povo possa praticar a missão integral sugerida nos documentos.
Assim este estudo tentará dar um panorama de como foi formado, como
aconteceu e como anda sua prática e discurso. Servirá apenas de base para que se
possa ter um olhar mais lúcido sobre o surgimento e o andamento dos documentos.
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Este capítulo visa trazer algumas ideologias e movimentos que deram forma
ao congresso em Lausanne. Enfocaremos a visão do fundamentalismo e do
liberalismo teológico e suas discussões; o ecumenismo como um movimento
introdutório aos ideais de Lausanne; o evangelho social em seus aspectos
constitutivos para missão integral; e o surgimento do Conselho Mundial de Igrejas
como norteador um debate contemporâneo; e o evangélicos e evangelicais como
sendo da mesma substância, mas que agem com ideologias diferentes, pois
enquanto o evangélicos são conservadores o evangélicais são radicais.
O autor inglês I.F Clarke observa que entre 1871 e 1914 raramente houve
um ano em que não se lançasse em algum país da Europa um romance ou
conto focalizando uma futura guerra (ARMSTRONG, 2009, p.192).
como alguns conhecem, causa espanto nos mais tradicionais com sua abertura as
ciências.
Esse termo parecia simbolizar tudo que tinha que errado na modernidade, pois
estava fazendo as velhas certezas caírem por terra. As novas idéias já tinham se
espalhado, fazendo com que as histórias bíblicas perdessem seu valor místico. O
mundo moderno e ideologia liberal foram impedindo que muitos cristãos ocidentais
não compreendessem o valor do mito. A fé se torna racional, é difícil compreender
se não fora através do intelecto e da ciência. Neste tempo parece que
fundamentalistas se calam diante dos liberais, mas “em 1886 o incentivador da fé
Dwight Moody (1837-99) fundou em Chicago o Moody Bible Institute para combater
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Seja como for, o liberalismo, ainda que com remotas raízes grego-romanas
(Péricles e Cícero), surge durante o Renascimento e a Reforma com a nova
concepção de homem, que se desenvolve nessa época e tem sua base na
sua distinção entre público e privado, moral e direito que se desenvolveu ao
tempo. (MACEDO, 1995, p.22).
Surge na Europa e nos Estados Unidos em fins do século XIX, como reação
ao liberalismo teológico e a critica superior, e apresenta-se como esforço de
fidelidade ao sentido literal da Bíblia.
Com a vontade de voltar para as verdades bíblicas houve esse exagero por
parte do fundamentalismo. Começou interpretar os acontecimentos de forma mística
e com base na Bíblia, fazendo com que a razão dos fatos ficasse escondida nas
suas interpretações. Assim esse pensamento foi se espalhando e ganhando cada
vez mais adeptos, se tornando forte no setor teológico.
Sua forma de ver os fatos ganhou espaço na sociedade em guerra, pois
parece que traz a esperança que o liberalismo colocou na modernidade e a guerra e
os conflitos civis levaram embora. A esperança agora não está mais no
materialismo, mas sim em um lugar onde nem a traça nem a ferrugem podem
roubar.
O que no final do século XIX fora uma disputa puramente doutrinária com os
liberais de suas congregações, tornava-se agora uma luta pelo futuro da
civilização. Eles se imaginavam na linha de frente combatendo as forças
satânicas que logo destruiriam o mundo. Os relatos das atrocidades
cometidas pelos alemães, que circularam durante e imediatamente após as
guerras pareciam provar aos conservadores que estavam certos ao rejeitar
o país onde surgiria a critica superior. (ARMSTRONG, 2009, p.238).
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Seu desenvolvimento foi através das associações por eles criadas, desde a
segunda metade do XIX, como a Associação Cristã de Moços e Moças (Inglaterra e
EUA, 1844 e 1854, respectivamente), a Federação Mundial de Estudantes Cristãos
(1895), as Ligas Missionárias que levaram à criação do Conselho Missionário
Internacional, 1921, dentre outras.
A afinidade das igrejas com o movimento ecumênico ocorre num segundo
momento, quando líderes de igrejas se unem na caminhada ecumênica de maneira
laical, envolvendo a totalidade das igrejas.
Um dos movimentos que deu esse impulso foi o Movimento Vida e Ação que
“teve sua primeira reunião em Estocolmo (Suécia) em 1925, que refletiu sobre a
relevância do testemunho social dos cristãos, especialmente num mundo dividido e
quase destruído pela Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918)” (LONGUINI, 2002,
p.36). Este movimento estava preocupado com o cristianismo prático e questões
sociais, assim como paz, direitos humanos, justiça a luta pela liberdade e opressão.
Essas metas os desafiaram a fortalecer a formação do Conselho Mundial de Igrejas,
trazendo assim outra dimensão da missão.
Sua primeira reunião geral estava marca para 1941, mas a segunda guerra
mundial adiou os planos. Mesmo assim seu comitê provisório continuou trabalhando.
Esse grupo desenvolveu neste período uma ação notável com os refugiados,
perseguidos, prisioneiros destes anos trágicos. Enfim acontece sua primeira
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assembléia logo após a guerra em Amsterdã, Holanda, 1948, seu comitê que era
provisório convoca finalmente a reunião constitutiva do Conselho Mundial de Igrejas.
Houve um culto de abertura, no dia seguinte o pastor francês reformado, Marc
Boegner, apresenta em definitivo a proposta para a fundação do Conselho Mundial
de Igrejas que é aceita por todos os presentes. Em virtude de recusas anteriores a
igreja católica romana não havia sido convidada oficialmente. Mas alguns foram
convidados pessoalmente, pois havia um oficio que proibia a participação de
católicos.
Esse grupo flui de dentro da ala fundamentalista, não querem mais o cabresto
Norte Americano, mas sim começar a produzir de forma latina e independente.
Tudo isso tem seus reflexos dentro do encontro em Lausanne, onde radicais e
conservadores tem um áspero encontro. Mas onde os latinos com seu olhar holístico
influência no documento final.
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Daqui para frente usarei a sigla CLADE para Congresso Latino-Americano de Evangelização.
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Lausanne, por mais que haja uma rejeição por parte do plenário participante neste
evento. Rène Padilha, Samuel Escobar são a maior representatividade da
fraternidade em Lausanne, trazendo para o evento uma proposta de atualização no
pensamento da igreja mundial.
Até o final do século XIV, o movimento cristão não tinha uma visão
fragmentada da responsabilidade geral da igreja para com a sociedade.
Evangelismo e trabalho de transformação do mundo não eram vistos como frentes
de trabalho compatíveis umas com as outras. A igreja sempre buscou formas
práticas de aliviar o sofrimento humano desde os tempos mais remotos, como nos é
relatado no livro de Atos.
Com o aparecimento do liberalismo nas igrejas norte-americanas, no início do
século XX, houve uma forte reação da ala conservadora e, como conseqüência,
surgiu o que ficou conhecido como fundamentalismo. Os fundamentalistas
combateram vários erros doutrinários que as igrejas liberais iam abraçando à
medida que colocava em xeque a maneira tradicional de interpretar a Bíblia.
Entretanto, os fundamentalistas associaram a esse liberalismo uma teologia que na
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Suas crises também são reveladas, a confissão de que no final do século XIX
e inicio do XX, surge o evangelho social que é a grande crise para alguns
evangélicos, em pensar em uma responsabilidade social, pois esse grupo estava
associado aos liberais (evangelho social), e tudo que liberal causa aversão para
grande parte dos evangélicos.
Nesta análise histórica que está sendo feita pelo grupo, se percebe as
desculpas que foram usadas anteriormente para que não se pensasse na
responsabilidade social da igreja. Percebem-se as tensões, a dicotomia que se
desenvolveu no pensamento evangélico. Entre grupos que formulam o documento
se percebe que a ideologia fundamentalista esta entranhada na comissão do norte e
alguns da Europa, enquanto alguns latinos que fazem parte da comissão têm uma
visão holística, uma visão de evangelho social. E é por essa razão que os latinos
que fazem parte do movimento de missão integral quase não são ouvidos. Não
como deveria, pois ainda mesmo afirmando que e necessário que a igreja se
envolva com o social o evangelho anunciado tem sua primazia. Em todo documento
do pacto fica muito claro essa tendência do corpo a corpo, de um evangelho que
precisa ganhar forma de palavras. Por mais que se encontre nos documentos
frases que colocam responsabilidade social e evangelização juntas, como: “a ação
social e a evangelização são como duas lâminas de uma tesoura, ou como duas
asas de um pássaro” (STOTT, 1983, p.21). Ainda se faz necessário ouvir o que o
pacto diz a repetido da ação social e evangelização e vice e versa.
Ação social e evangelização:
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Esses relatos são da revisão do pacto em Grand Rapids (1982) dez anos
depois de o pacto ter acontecido em Lausanne. Apenas as definições do começo do
texto são de 1974, pois não recebem nem uma alteração. Faz-se necessário
perceber que os documentos iniciais estão cheios de ideologias que provinham do
grupo latino americano, em sua maior parte Teólogos da missão Integral. Ideologias
que são frutos de uma percepção teológica sócio-política da realidade latina. E são
essas que são carregar para dentro do congresso, fazendo se então ecoar suas
vozes que se preocupam não só com o estado religioso, mas como o homem todo.
Apesar de a segunda revisão ter acontecido dez anos depois e ter a
representatividade latina americana diminuída, seu eco pode ser ouvido pelos
participantes reunidos com o propósito de reescrevê-los. Os documentos de
Lausanne sobre responsabilidade social e evangelização estão cheios da identidade
ideológica latina americana.
Ainda olhando para o desdobramento do pacto, vendo que anos após seu
encerramento, outra reunião fez com que os documentos fossem revistos, outros
objetivos são indicados, mas o que permanece é o enfoque nas Sagradas
Escrituras. Há um olhar para cultura, percebendo as diferenças que outrora foram
suas rinhas. Agora esse aspecto pode ser percebido com mais clareza.
O assunto que antes causava uma dicotomia entre os participantes vem
agora sendo observado com uma ótica do ser diferente a ser normal; o diálogo fica
mais claro, as asperezas ficam amenas. Como já foi dito, não que as discordâncias
acabaram, mas ficaram, mas fracas.
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Uma nova geração foi formada a partir desse novo olhar para a missão da
igreja. Reflexos foram percebidos, um novo jeito de se fazer missão foi pensado no
pacto e um olhar holístico se tornou a nova lente de se ver e fazer teologia. Os
Clades posteriores a Lausanne dão o tom dessa nova lente.
1974, em Lausanne (Suíça) teve como tema “Para que o mundo ouça a voz
de Deus”. Identificou-se, também, com o que se convencionou chamar de
“espírito de Lausanne”, ou ainda movimento de Lausanne. O epicentro
desse compromisso foi o próprio pacto e “exigiu-se” que os participantes de
Clade II aceitassem como pré-requisito para participação no congresso, os
termos dele. (LONGUINI, 2002, p.187).
Foi produzido um documento, não como o pacto, mas uma carta rica em
conteúdo debatido no congresso.
A partir desse encontro novos rumos são tomados na teologia latina, uma
nova epistemologia começa a ser desenhada. Surge um ar de esperança para as
áreas pastoral e missão.
A força de Clade III foi sentida pela presença e representatividade dos seus
participantes, ajuntado as mais belas tradições latinas. As liturgias contagiaram uma
autonomia e deram um clima comemorativo ao congresso e deram um ambiente de
profunda espiritualidade. Esse encontro foi de grande importância para a missão e a
pastoral.
Esse encontro é marcado pelo ecumenismo, onde a voz a ser ouvida não fica
somente com uma ala, mas se faz ser ouvida e olhada por vários ângulos.
Um dos pontos altos do Clade III foi, sem duvida alguma, o diálogo em Clai
e Conela. Da mesa-redonda participaram o bispo Federico Pagura e o
reverendo Felipe Adolf, respectivamente presidente e secretário-executivo
do Clai, e o pastor Jean Terranova e o presbiteriano Alfonso de Los Reyes,
respectivamente presidente e vice-presidente do Conela. (LONGUINI, 2002,
p. 201).
Outro encontro do CLAI foi a Huampaní Lima, Peru em 1982, agora com mais
consistência e com propostas melhores elaborada para aera da pastoral. Neste
encontro estabeleceram-se os marcos teóricos da pastoral, a qual vinha sendo
formada pelo CLAI.
Com as rédeas nas mãos a ala conservadora deu outra cara para o segundo
congresso, fazendo com que a voz da proclamação fosse central no discurso, o
pensamento fundamentalista ganha voz e vez para discutir o que se pretendia
discutir no primeiro.
Um banho de água fria foi jogado sobre a Missão Integral: “ao contraio da
emoção, do senso de se estar fazendo História, do olhar para o futuro, com
em Lausanne, o que se viu em Manila foi um ato frio a mais no programa,
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Manila deu um passo atrás, pois não fez nem uma ponte e nem dialogou
como o primeiro fez. Suas preocupações eram outras, não havia mais preocupação
com o homem todo, mas sim apenas com o pensamento sobre o céu, ou sobre o
metafísico e como estava sua vida aqui financeiramente. Esse anticlímax fez com
que Lausanne I primeiro fosse perdendo suas forças.
Ao final do congresso um Pacto foi feito e ganha força para entrar em lugares nunca
antes imaginados, a missão integral parece que vai ganhar espaço e vez entre os
fundamentalistas que tem uma visão apenas o crescimento em massa.
Fundamentalista esses que estão ali, vendo todo acontecer. Entre eles estão Billy
Graham como patrocinador do congresso que em sua fala deixa claro sua
preferência pele verbalização da palavra.
Sua chegada aos continentes fez uma reviravolta, quando chega a América
latina principal colaboradora para a formação do documento, a leitura sugerida para
se fazer missão ganha espaço, mas ao mesmo tempo resistência, pois havia a ala
fundamentalista querendo fazer um boicote ao pacto.
O grupo que mais se resistiu com o congresso e com o Pacto foi o dos
fundamentalistas norte-americanos, que haviam levado propostas
pragmáticas para a evangelização mundial e estava ligado à “Escola de
Crescimento da Igreja”, liderada por McGavran. Eles sentiram-se frustrados
uma vez que o congresso permitiu questionamentos teológicos profundo,
questionou a missão e as agencias missionárias, rejeitou transformar-se
numa plataforma mundial para divulgar o pragmatismo norte-americano e
suas agencias de evangelização. O boicote ao Pacto de Lausanne
aconteceu, deste então, articulado por grupos fundamentalistas que o
achavam extremamente progressista. Dentre esses grupos podemos citar: a
Associação Evangelística de Luiz Palau; a Cruzada Estudantil e Profissional
para Cristo; e a Escola de Missões do Seminário Fuller, cujo líder é Peter
Wagner.(LONGUINI, 2002,p.188).
5 CONCLUSÃO
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GILBELLINI, Rosino. A Teologia do Século XX. Ed, Loyola. São Paulo, 1998.
MACEDO, B. Ubiratan. Liberalismo e Justiça Social. Ed. Ibrasa, São Paulo, 1995.
______. Pacto de Lausanne. Ed 2ª, Ed ABU e Visão Mundial, São Paulo e Belo
Horizonte, 2003.