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1 INTRODUÇÃO

Este presente trabalho pretende andar na direção do Pacto de Lausanne e de


seus documentos: evangelização e responsabilidade social. Procurará fazer uma
análise anterior para dar uma base melhor para se verificar os fatos internos do
pacto, analisando desta forma ficará mais clara a percepção às ideologias presentes
na formação dos documentos. Elementos que foram essenciais para um olhar mais
holístico, seu esvaziamento e desencantamento com o pacto e seus documentos.
Na medida em que os fatos foram acontecendo durante o século XIX e XX foram
marcando a vida e o jeito de se pensar na missão da igreja, os movimentos davam a
cara para a missão prática no seu tempo. Os movimentos foram importantes, pois
cada um contribuiu para que a missão acontecesse, cada um do seu jeito, uns se
preocupavam mais com a salvação da alma (fundamentalista) e viam na palavra
anunciada a verdadeira missão da igreja, do outro lado aqueles que se
preocupavam não só com a alma, mas com o meio sócio-político que se via,
considerados pelos fundamentalistas liberais. Assim nasceu o movimento
ecumênico com sua preocupação com o meio sócio-político, neste mesmo
movimento uma gravidez acontece, e nasceu filho Evangelho Social, quase que
gêmeo univitelino nasce o Conselho Mundial de Igreja. Do lado evangélico
fundamentalista também nasce um filho chamado de Evangelical, como um
movimento progressista e radical. São esses movimentos que pintam a história do
pacto, de um lado uma ala fundamentalista conservadora do outro seu filho que tem
traços do ecumenismo.
Na formação do documento fica clara a divisão, as tensões de idéias e o jeito
de ver a missão da igreja. A volta para casa evidencia a vontade de cada um desses
grupos de dar corpo ou não, ao que foi discutido em Lausanne.
No primeiro capítulo se fará uma análise do nascimento do fundamentalismo
e do liberalismo com suas implicações na visão de se fazer evangelização e a
responsabilidade social. Também será visto os movimentos, seu nascimento e
implicações na sociedade. Verá o nascimento do movimento evangelical, com uma
ala mais progressista e radical. Esses pontos darão um aceno de como foi antes do
encontro e poderá se perceber as bagagens que cada um leva para dentro de
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Lausanne. Ficando mais claro a percepção da rixas ideológicas e cada jeito


epistemológico de se fazer missão nos continentes representados.
Na seqüência, será analisada a formação da Fraternidade Teológica e o envio
dos seus teólogos para o congresso, percebendo assim a influência Latino-
Americana na formação dos documentos. Também se fará um passeio panorâmico
pelo congresso, percebendo as reações de cada ala. Passará pelo documento
formado e aprovado pelo congresso. Ver-se-á também que anos após o congresso
há um novo encontro para se fazer melhorias no documento e que neste novo
encontro há mais uma briga de ideologias.
Os documentos do Pacto de Lausanne foram forjados a base rixas de entre
norte-americanos e latino-americanos e alguns europeus. Do lado latino um olhar
mais holístico, preocupado em fazer uma missão integral, do outro lado os norte
americanos e alguns europeus que apenas querem fazer do encontro um lugar para
se discutir o crescimento de igrejas e a divulgação do evangelho verbalizado.
Apesar desses desentendimentos, um documento foi formado e ganhou voz e
vez por vários continentes. Foi considerado o Vaticano Segundo dos evangélicos.
Ficou conhecido e se tornou pauta em vários congressos, seu olhar holístico ficou
conhecido como missão integral.
Num segundo momento será analisada sua ascendência e decadência.
Primeiro sua ascendência percebida a partir dos CLADES II e III, seus encontros
tem com tema as bases do pacto, no III um olhar refletido a partir do CLAI gera um
olhar pastoral e da missão, mas com reflexos do pacto, pois se percebe na base
desses encontros o desejo de continuar a idéia prima do documento nas questões
de anunciar o reino de Deus, percebendo assim o homem todo.
Em segundo lugar sua decadência é percebida no segundo encontro
chamado de Lausanne II que acontece em Manila, Filipinas, onde a presença de
latinos e quase que nenhuma. Manila usa outra lente, não está preocupada com
questões basilares que foram discutidas em Lausanne I, mas quer apenas discutir o
crescimento de igrejas e como ganhar mais almas. O segundo congresso não tem
mais o mesmo vigor que o primeiro, as idéias partem da ala conservadora. Assim se
percebe o esvaziamento, tanto de idéias como de congressista. Por último se faz
um panorama geral de como andam o discurso e a prática do Pacto de Lausanne,
percebendo que há mais discurso que a prática e que se gasta mais tempo com
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picuinhas do que com a mão na massa. Também se pode perceber que a produção
teológica após o pacto é direcionada na sua grande maioria para rebater críticas e
não para que o povo possa praticar a missão integral sugerida nos documentos.
Assim este estudo tentará dar um panorama de como foi formado, como
aconteceu e como anda sua prática e discurso. Servirá apenas de base para que se
possa ter um olhar mais lúcido sobre o surgimento e o andamento dos documentos.
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2 PANORAMA DOS MOVIMENTOS ANTERIORES AO PACTO DE


LAUSANNE

Este capítulo visa trazer algumas ideologias e movimentos que deram forma
ao congresso em Lausanne. Enfocaremos a visão do fundamentalismo e do
liberalismo teológico e suas discussões; o ecumenismo como um movimento
introdutório aos ideais de Lausanne; o evangelho social em seus aspectos
constitutivos para missão integral; e o surgimento do Conselho Mundial de Igrejas
como norteador um debate contemporâneo; e o evangélicos e evangelicais como
sendo da mesma substância, mas que agem com ideologias diferentes, pois
enquanto o evangélicos são conservadores o evangélicais são radicais.

2.1 FUNDAMENTALISMO E LIBERALISMO TEOLÓGICO

Os fundamentalistas têm como perspectiva defender as verdades da Bíblia,


ao defender uma leitura bíblica de uma forma literal, contrapondo assim, uma leitura
crítica da “palavra de Deus”. A modernidade e o pensamento científico causam
espanto neste grupo, no qual o racionalismo desfaz o caráter mítico das historias
bíblicas.
O racionalismo científico, fonte do poder e do sucesso ocidentais,
desacreditava o mito e proclamara-se o único meio de chegar à verdade. A
Razão não podia, porém debater as questões essenciais, tal debate nunca
foram das competências do logos (ARMSTRONG, 2009, p. 190).

A razão toma conta da modernidade, traz seus benefícios para a população


européia e norte-americana, mas tira o romantismo de seu olhar para as Escrituras.
Este grupo quer voltar ao período pré-moderno, pois seus olhos vêem a degradação
dos valores bíblicos. O homem com sua mente iluminada criando o poder bélico, se
industrializando, criando grandes construções, tornando a vida mais dependente da
ciência do que de Deus. “Charles Dickens descreveu a cidade industrializada como
um inferno e mostrou que o moderno racionalismo pragmático podia destruir a
moralidade e a individualidade” (ARMSTRONG, 2009, p.191). Por exemplo, as
escolas de pintura com sua arte profetizavam os riscos que a modernidade trouxe
para seu tempo, assim como o movimento fundamentalista e os romances escritos.
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O autor inglês I.F Clarke observa que entre 1871 e 1914 raramente houve
um ano em que não se lançasse em algum país da Europa um romance ou
conto focalizando uma futura guerra (ARMSTRONG, 2009, p.192).

Assim como os europeus, os norte–americanos também enfrentaram a


guerra. Os olhares para a guerra eram parecidos, pois viam no enfrentamento um
jeito de purificação da modernidade.

Viram a Guerra Civil (1861- 65) entre os estados do Norte e do Sul em


termo apocalípticos. Os nortistas acreditavam que a luta purificaria a nação;
os soldados cantavam a “gloria da vinda do Senhor” (ARMSTRONG, 2009,
p.192).

Por mais que houvesse as críticas sobre a modernidade, os fundamentalistas


tinham mais pontos em comum com filosofia secular do que com a mitologia
religiosa. “Hegel, Marx e Darwin também acreditavam que a evolução resultaria do
conflito” (ARMSTRONG, 2009, p.195). No Seminário das Novas Luzes em
Princeton, Nova Jersey, um dos mais conhecidos deste protestantismo científico foi
Charles Hodge que tenta sistematizar o pensamento cristão contra o evolucionismo
darwiniano. Fazendo do pensamento bíblico a explicação para a criação, fazendo
com que o pensamento evolucionista de Darwin fosse questionado e todos tivessem
a certeza de que somente Deus poderia ter criado o homem, e que não teria sido o
acaso que formou a humanidade. “Os homens têm o dever de opor-se a todas as
hipóteses e teorias espetaculares (como a de Darwin) que se choca com verdades
estabelecidas. Trata-se de um apelo ao “bom-senso”. Deus nos dotou de “intuição
infalível”, e se Darwin as contradiz, sua hipótese é insustentável e cabe-nos rejeitá-
la” (ARMSTRONG, 2009, p.199). O protestantismo científico desenvolvido em
Princeton apresenta a dificuldade duplicidade.

Hodge tentou refrear a razão com os velhos conservadores, recusando-lhes


a liberdade característica da modernidade. No entanto, ao reduzir toda a
verdade mítica ao nível do logos, contrariou a espiritualidade do Velho
Mundo (ARMSTRONG, 2009, p.199).

Hogde começa e definir a fé cristã como a crença certa e a destacá-la como a


doutrina verdadeira, perdendo sua credibilidade por tornar o cristianismo anti-
moderno. Já os liberais estavam vendidos a modernas empreitadas científicas como
o darwinismo, aceitavam muito bem a crítica das fontes. O modernismo teológico,
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como alguns conhecem, causa espanto nos mais tradicionais com sua abertura as
ciências.

O modernismo teológico se distinguiu, primeiramente, pela aceitação das


teorias da ciência da natureza a respeito da idade e forma de surgimento do
universo e da vida. Essas teorias  particularmente a de evolução  de
Charles Darwin, que propunha a origem comum de todas as formas de vida
 atingiam decisivamente a doutrina tradicional da criação, baseada nas
escrituras do antigo testamento. (GOUVÊIA e VELASQUES, 1999, p.112).

Na visão liberal Deus é uma realidade afastada e separada, mas está


presente nos processos naturais que acontecem neste mundo, para tanto, pode-se
ver a evolução como preocupação de Deus com suas criaturas. Pois enquanto o
fundamentalismo está preocupado com a correção da doutrina os liberais estão
preocupados com a prática do amor cristão.

Os protestantes liberais continuavam ressaltando a importância de obras


sociais nos cortiços, e nas cidades, convencidos de que, com sua dedicada
filantropia, construiriam neste mundo o Reino justo de Deus.
(ARMSTRONG, 2009, p.200).

A visão liberal é tornar racionais os conceitos bíblicos e perceber que não há


inimizade entre fé e ciência. E perceber cada pulsação na vida palpitante do
universo e ver que em cada um Deus se revela.
O ponto central das discórdias no final do século XIX não era mais a
evolução, mas a crítica superior.

Os liberais acreditavam que, embora as novas teorias sobre a Bíblia


pudessem solapar algumas crenças antigas, em longo prazo elas levariam a
um entendimento mais profundo das Escrituras. Já para os tradicionalistas
“crítica superior” era um termo horripilante. (ARMSTRNG, 2009, p.201).

Esse termo parecia simbolizar tudo que tinha que errado na modernidade, pois
estava fazendo as velhas certezas caírem por terra. As novas idéias já tinham se
espalhado, fazendo com que as histórias bíblicas perdessem seu valor místico. O
mundo moderno e ideologia liberal foram impedindo que muitos cristãos ocidentais
não compreendessem o valor do mito. A fé se torna racional, é difícil compreender
se não fora através do intelecto e da ciência. Neste tempo parece que
fundamentalistas se calam diante dos liberais, mas “em 1886 o incentivador da fé
Dwight Moody (1837-99) fundou em Chicago o Moody Bible Institute para combater
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os ensinamentos da crítica superior” (ARMSTRONG, 2009, p.202). Ele queria fazer


com que houvesse uma ponte entre os ministros e os leigos, com a capacidade de
combater as falsas idéias que haviam levado no seu ponto de vista os países a
ruínas. Esse instituto se tornou indispensável para os fundamentalistas.
No final do século XIX realizaram-se as melhores conferencias sobre Profecia e
Bíblia. Então os protestantes fundamentalistas se reuniram para fazer a leitura literal
da Bíblia e banir da mente a crítica superior e debater suas idéias sobre as
escrituras e escatologia. Passaram a ganhar um identidade, mas os frutos dessa
identidade foram colhidos. Nos Estados Unidos um desejo de ruínas, na Europa um
racismo científico.
Nesta guerra de certos e errados muitos ficaram desolados, duas guerras
romperam na Europa e a guerra fria nos Estados Unidos da America, e as
conseqüências ficaram visíveis para todos. No meio dessa briga de ideologias só
ficaram as marcas, as divisões, as incertezas de futuro. Os séculos passaram, as
idéias ficaram mais afiadas e congressos nasceram no meio dessas tensões.

2.1.1 Liberalismo Teológico

“A teológica liberal tem seu ponto no encontro com o liberalismo e com a


autoconsciência da burguesia européia do século XIX, com a teologia protestante.”
(GILBELLINI, 2002, p.19). Esse filho que nasce em meio ao desenvolvimento
industrial, de um avanço tecnológico, na medida em que vai se desenvolvendo não
consegue pensar de forma mística a realidade, mas encontra na modernidade uma
forma de ver o reino de Deus em desenvolvimento. Percebendo sua forma de ver o
mundo avançada, não consegue ler a Bíblia de formar literal e desenvolve seu
próprio método de leitura, um método mais arrojado que busca fazer uma
interpretação mais racional do texto, buscando na historia sua interpretação. Causa
espanto para os fundamentalistas esse novo jeito de olhar para o mundo bíblico.
Ganhou espaço em uma Europa intelectualizada e burguesa, logo não cabe mais
apenas no continente europeu, vindo acontecer da mesma forma na América do
Norte.
O liberalismo que também faz parte dos movimentos que agitaram o século XIX
e XX, assim como o ecumenismo.
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Quando, no inicio do século XIX, o liberalismo assumiu seu nome e


individualidade na Europa, veio associado a um novo estilo de vida que se
traduziu no individualismo ligado ao romantismo, embora sua origem o
racionalismo tenha conservado sua originalidade (MACEDO, 1995, p.21).

O liberalismo pode ser olhado também como a ideologia ou a filosofia da


modernidade, sendo complicado falar qual dos dois é resultado do outro.

Seja como for, o liberalismo, ainda que com remotas raízes grego-romanas
(Péricles e Cícero), surge durante o Renascimento e a Reforma com a nova
concepção de homem, que se desenvolve nessa época e tem sua base na
sua distinção entre público e privado, moral e direito que se desenvolveu ao
tempo. (MACEDO, 1995, p.22).

O movimento liberal está aberto às modernas buscas sobre ciência, o


darwinismo com sua idéia de evolução ganha seu espaço dentro do pensamento de
grupo, assim como a crítica superior, pois viram no método e evolução de Darwin
“uma prova incessante de Deus com sua criação” (ARMSTRONG, 2009, p. 200).
Para esse grupo o mais importante que a correção doutrinaria é a pratica do amor.
Então como fruto desse amor surge frentes filantrópicas, um trabalho social e
desenvolvido.

Os liberais continuavam a ressaltar a importância de obras sociais nos


cortiços e nas cidades, convencidos de que, com sua dedicação filantrópica,
construiriam neste mundo o Reino justo de Deus. Trata-se de uma teologia
otimista, apreciada pela próspera classe média que podia usufruir os
benefícios da modernidade. (ARMSTRONG, 2009, p. 200).

Essas diferentes formas de encarar a modernidade forçou a que um outro


grupo se levantasse para defender tanto a palavra de Deus quanto a maneira de
perceber o reino de Deus.

2.1.2 Fundamentalismo Teológico


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Surge na Europa e nos Estados Unidos em fins do século XIX, como reação
ao liberalismo teológico e a critica superior, e apresenta-se como esforço de
fidelidade ao sentido literal da Bíblia.

O nicho do fundamentalismo se encontra no protestantismo norte-


americano surgido em meados do século XIX. O termo foi cunhado em
1915, quando professores da Universidade de Princeton publicam uma
pequena coleção com doze livros que vinha títulos Fundamentais. A
testimony of the truth (1909-1915). Nele propunham um Cristianismo
extremamente rigoroso, ortodoxo, dogmático, mas modernização de que era
tomada a sociedade norte-americana. Não só modernização tecnológica,
mas modernização de espíritos do liberalismo, da liberdade das opiniões,
constatando fundamentalmente com a seguridade que a fé cristã oferece
(BOFF, 2002, p.12).

Nasce em meio ao racionalismo, onde a razão e o centro do pensamento


moderno. Esse grupo procura seu espaço diante da racionalização das verdades
bíblicas, de um cenário de guerra, onde se perde o romantismo pelas verdades
bíblicas. Tudo gira em torno do pensamento racional, a mística perdeu seu espaço.
Não há espaço em meio ao desenvolvimento industrial, comercial, intelectual para
um retrocesso, um anti-modernismo. Mas é no meio desse turbilhão de mudanças
que vai brotar a necessidade de voltar para uma vida mística diante da Bíblia.

Os conservadores horrorizavam-se. Achavam que uma religião sem uma


doutrina infalível não era cristã e sentiran-se obrigados a combater esse
perigo liberal. Em 1910 os presbiterianos de Princeton, que haviam
formulado a doutrina da infabilidade das Escrituras, publicaram uma lista
dos cinco dogmas que consideravam essenciais: (1) a infabilidade das
Escrituras; (2) o nascimento virginal de Jesus; (3) a remissão de nossos
pecados pela Crucifixão; (4) a ressurreição da carne e (5) a realidade
objetiva dos milagres de Cristo (ARMSTROG, 2009, p.237).

Panfletos são fabricados com a ajuda de milionários do petróleo, esses


panfletos estão com uma linguagem fácil de ser entendida. Seu conteúdo é sobre
doutrina da trindade e contra a crítica superior. Foram publicados entre 1910 e 1915,
tinha a intenção de disseminar a ideologia fundamentalista, e fazer uma crítica ao
pensamento moderno de interpretação da bíblia.

Cerca de 3 milhões de exemplares de cada panfleto foram remetidas,


gratuitamente para todos os pastores, professores e estudantes de teologia
dos Estados Unidos. Posteriormente esse projeto se revestiria de grande
simbolismo, pois os fundamentalistas o veriam como o germe do seu
movimento (ARSMTROG, 2009, p. 237).
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Depois desse episódio há uma reviravolta no protestantismo, o


fundamentalismo ganha seu espaço e visão que se cria diante do caos em que a
Europa e os Estados Unidos é que o fim está próximo. A visão literal e a percepção
escatológica que estão sendo feitas diante dos fatos é que Jesus estava voltando.

Entre 1914 e 1918, realizaram-se três grandes Conferências sobre Profecia


e Bíblia, com os participantes vasculhando a Scofield Reference Bible à
cata mais “sinais dos tempos”. Tudo indicava que as previsões estavam se
concretizando. Os profetas hebreus predisseram que os judeus voltariam
para sua pátria antes do fim dos tempos; assim, quando o governo britânico
expediu a Declaração Balfuor (1917), apoiando a criação de um Estado
judeu na Palestina, os pré-milenarelista se amedrontaram e exultaram ao
mesmo tempo. Scolfied identificaria a Russia com o “poder que vem do
norte” para atacar Israel pouco antes de Armagedon; a Revolução
Bolchevique (1917), que fez do comunismo ateu a ideologia de Estado,
parecia confirmar sua interpretação. A criação da Liga das Nações
obviamente representava o cumprimento da profecia do Apocalipse 16:14.
era o Império Romano revivido que em breve seria governado pelo
Anticristo. Observando tias acontecimentos, os protestantes pré-milenaristas
adquiriram maior consciência política. O que no final do século XIX fora
uma disputa puramente doutrinaria com os liberais de suas congregações,
tornara-se agora uma luta pelo futuro da civilização. Eles se imaginavam na
linha de frente, combatendo as forças satânicas que logo destruiriam o
mundo. Os relatos das atrocidades cometidas pelos alemães, que
circulavam durante e imediatamente após a guerra, pareciam promover aos
conservadores que estavam certos ao rejeitar o país onde surgiria a critica
superior (ARMSTRONG, 2009, p. 238).

Com a vontade de voltar para as verdades bíblicas houve esse exagero por
parte do fundamentalismo. Começou interpretar os acontecimentos de forma mística
e com base na Bíblia, fazendo com que a razão dos fatos ficasse escondida nas
suas interpretações. Assim esse pensamento foi se espalhando e ganhando cada
vez mais adeptos, se tornando forte no setor teológico.
Sua forma de ver os fatos ganhou espaço na sociedade em guerra, pois
parece que traz a esperança que o liberalismo colocou na modernidade e a guerra e
os conflitos civis levaram embora. A esperança agora não está mais no
materialismo, mas sim em um lugar onde nem a traça nem a ferrugem podem
roubar.

O que no final do século XIX fora uma disputa puramente doutrinária com os
liberais de suas congregações, tornava-se agora uma luta pelo futuro da
civilização. Eles se imaginavam na linha de frente combatendo as forças
satânicas que logo destruiriam o mundo. Os relatos das atrocidades
cometidas pelos alemães, que circularam durante e imediatamente após as
guerras pareciam provar aos conservadores que estavam certos ao rejeitar
o país onde surgiria a critica superior. (ARMSTRONG, 2009, p.238).
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2.2 MOVIMENTO ECUMÊNICO

Foi à margem da igreja que o movimento ecumênico nasceu, na ação, nos


ideais dos cristãos leigos que ampliaram profundamente o espírito do diálogo e a
vontade de unidade. Bettenson diz:

Desde 1910 – Conferência Mundial em Edimburgo - até 1937 – Conferência


sobre “Vida e Trabalho“, em Oxford, e sobre “Fé e Ordem”, em Edimburgo -
o movimento ecumênico era atuante sob muitos aspectos, mas não tinha
organização central. Por ocasião das conferências de 1937 tornaram-se as
primeiras iniciativas para a fusão de “Vida e Trabalho” e “Fé e Ordem” num
Conselho Mundial de Igrejas. De 1938 e 1948, este permaneceu – devido à
Segunda Guerra Mundial – Oficialmente em “processo de formação”; em
Amsterdam, em 1948, ele foi formalmente estabelecido (BETTENSON,
2001, p.435).

Seu desenvolvimento foi através das associações por eles criadas, desde a
segunda metade do XIX, como a Associação Cristã de Moços e Moças (Inglaterra e
EUA, 1844 e 1854, respectivamente), a Federação Mundial de Estudantes Cristãos
(1895), as Ligas Missionárias que levaram à criação do Conselho Missionário
Internacional, 1921, dentre outras.
A afinidade das igrejas com o movimento ecumênico ocorre num segundo
momento, quando líderes de igrejas se unem na caminhada ecumênica de maneira
laical, envolvendo a totalidade das igrejas.
Um dos movimentos que deu esse impulso foi o Movimento Vida e Ação que
“teve sua primeira reunião em Estocolmo (Suécia) em 1925, que refletiu sobre a
relevância do testemunho social dos cristãos, especialmente num mundo dividido e
quase destruído pela Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918)” (LONGUINI, 2002,
p.36). Este movimento estava preocupado com o cristianismo prático e questões
sociais, assim como paz, direitos humanos, justiça a luta pela liberdade e opressão.
Essas metas os desafiaram a fortalecer a formação do Conselho Mundial de Igrejas,
trazendo assim outra dimensão da missão.

Este movimento, ao integrar-se ao Conselho Mundial de Igreja, manteve


identidade própria no Departamento de Igreja e Sociedade. No movimento
ecumênico contemporâneo, o Departamento de Igreja e Sociedade do
Conselho Mundial de Igreja vem desempenhado um papel fundamental na
20

compreensão da tarefa missionária e ecumênica dos cristãos. (LONGUINI,


2002, p.36).

O Movimento de Fé e Constituição também foi um dos contribuintes para a


ascensão do ecumenismo.

Em agosto de 1910, houve em Edimburgo uma conferência das missões


protestantes durante a um delegado chinês declarou: “O que lhes não são
“ismos”, mas o Evangelho”. Um bispo Anglicano dos Estados Unidos
compreendeu a justeza dessa interpelação. A partir de outubro do mesmo
ano, ele lançou o movimento Ecumênico Fé e Constituição, cuja primeira
assembléia geral ocorreu em Lausanne em 1927. (DELUMEAU, 1991,
p.123).

Havia uma preocupação com a obra missionária e com o testemunho prático


dos cristãos, existia também a necessidade de elucidar questões relativas à doutrina
e à ordem da igreja, com a finalidade de construir uma base de acordo mútuo entre
as igrejas com vistas a participar da unidade.

Esse movimento, ao incorporar-se ao Conselho Mundial de Igreja, recebeu


o nome de Comissão de Fé e Ordem e vem realizando importante trabalho
em quatro áreas: a) A busca da unidade da igreja deve estar vinculada ao
esforço de unidade de todo gênero humano. b) As bases para o diálogo
ecumênico são lançadas a partir de uma “comunidade conciliar”, isto é,
todas as igrejas dialogam entre si em pé de igualdade. c) A implantação de
um diálogo teológico sobre Batismo, Eucaristia e Ministério. d) A busca de
novas propostas a renovação da liturgia. (LONGUINI, 2002, p.37).

Outro que se destaca é o Movimento da Juventude Cristã que desde sua


primeira assembléia geral em 1939 tem sido importante referência de apoio e
incentivo ao movimento ecumênico, por muitas vezes ele ocupou a vanguarda.

A Federação de Estudantes Cristãos (Fumec) desempenhou, também,


relevante trabalho para o movimento estudantil, especialmente na Europa
após a Segunda Guerra Mundial (1934 -1945), organizando acampamentos
de trabalho para a reconstrução da sociedade e da fraternidade entre as
nações. (LONGUINI, 2002, p.37).

Assim sendo, o Movimento de Juventude Cristã converteu-se no


Departamento Juventude do Conselho Mundial de Igrejas. Outros pontos podem ser
destacados no Movimento Ecumênico, como as guerras mundiais e o Concílio
Vaticano II. Todos esses fatos moldaram o movimento ecumênico.
21

2.3 EVANGELHO SOCIAL

“Nos Estados Unidos, a influência do liberalismo alemão contribuiu para o


surgimento do “Evangelho Social”, cujo principal articulador foi Walter
Rauschenbuch (1861 – 1918), pastor e teólogo batista de origem alemã”. (MATOS,
2005; p.220). O evangelho simples foi a grande inspiração para o surgimento do
evangelho social. Bonino diz “que o evangelho social é visto como uma forma de
modernismo e liberalismo teológico e produz nos setores evangélicos uma rejeição,
pois esses o vêem como a negação de doutrinas fundamentais da fé. (BONINO,
2002, p.36).
O Evangelho Social foi uma resposta à crise urbana ocasionada pelo
crescimento econômico dos Estados Unidos após a Guerra Civil.

O movimento pretendia dar uma resposta bíblica e cristã à situação de


abandono experimentada pelos trabalhadores e imigrantes que viviam nos
cortiços das grandes cidades. Insistia em conceitos como “a implantação do
reino de Deus na terra” e a importância de uma “sociedade redimida”.
(MATOS, 2005, p. 180).

O movimento continuava insistindo em conceitos como a implantação do reino


de Deus na terra e a importância de uma sociedade redimida. A ênfase excessiva
que o Movimento do Evangelho Social dava era a transformação da sociedade,
através da missão cristã principalmente na área de ação social, diminuía a piedade e
a teologias tradicionais e continha um otimismo inseguro em questão ao homem.
Houve uma rejeição por parte dos fundamentalistas caracterizada por uma
forte aversão ao liberalismo. Pela razão da ligação do Evangelho Social com a
teologia liberal e suas ênfases diferentes do protestantismo conservador, os
fundamentalistas recusaram não só o novo movimento, mas também a visão social
como algo diferente da vida cristã e a pregação do evangelho.
Na América Latina o evangelho social fica conhecido parcialmente após o
congresso do Panamá, e com o Comitê de Cooperação na América Latina.

O “evangelho social” fazia parte do pano de fundo ideológico do


pensamento do CCLA. Era uma corrente teológica que chegou a ser
conhecida parcialmente na América Latina após o Congresso do Panamá e
por iniciativa do CCLA. Sua simpatia por essas idéias cresceu à medida que
se perceberam as exigências religiosas nesse continente. De fato, o
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“evangelho social” era visto, em alguns momentos, como uma carta de


apresentação do protestantismo entre os setores instruídos. Essa corrente
de pensamento religioso contrastava muito com o cristianismo, que tanto
católicos como protestantes trouxeram à região. (PIEDRA, 2008, p.187).

Só ganhou notoriedade na medida em que as exigências religiosas


começaram a aparecer no continente. Em alguns casos o evangelho social era
usado como carta de apresentação dos protestantes aos meios mais cultos.
No congresso de Montevidéu (1925) o evangelho social deixou sua marca no
protestantismo que procurava crescer na região. Neste evento a Comissão sobre
Igrejas e Comunidade fez repercutir sua afeição por esse pensamento religioso, que
foi entendido tal qual o compreenderam nos Estados Unidos, devido às decorrências
sociais que o cristianismo poderia ter na sociedade em geral.

O “evangelho social” submetia as ênfases teológicas tradicionais a novas


interpretações a partir de um ponto de vista social. Conceitos com igreja,
missão, reino de Deus, pecado etc. eram permanentemente reinterpretados
a luz da metodologia do “evangelho social” (PIEDRA, 2008, p.187).

Neste mesmo congresso o evangelho social é chamado de “o evangelho em


ação”, ali mesmo foi dito que não apenas o indivíduo, mas a sociedade carecia da
conversão. Já para o Comitê de Cooperação na América Latina apontavam três
fatores:

Primeira: a proposta religiosa desse movimento contrastava muito com a


mensagem cristã que tanto a Igreja Católica como a igreja protestante
introduziram na região. Segunda: ela ajudaria a responder ao materialismo
ideológico que estava atraindo e encantando a intelectualidade latino-
americana. Terceira: em conexão com os dois aspectos anteriores, as idéias
do evangelho social seriam muito mais atrativas entre os grupos que se
desejava conquistar para o protestantismo. (PIEDRA, 2008, p. 187).

Cria-se uma consciência social para a América Latina no congresso de


Montevidéu, e o evangelho social se torna um divisor de águas entre protestantes e
católicos. Encontram outro meio de anunciar o reino de Deus, agora não apenas
com palavras abstratas, mas com atitudes concretas. Esse evangelho não pode se
omitir às necessidades humanas, mas não tinham dúvidas de que, antes de alcançar
as necessidades de dentro, as condições de fora teriam que mudar.
Não que houve só aceitação, mas a grande parte abraçou a causa do evangelho
social na America latina. Um grupo cheio particularidades, que percebem cada um
23

da sua maneira, mas que aceitam o desafio de praticar o evangelho social no


contexto latino.

2.4 NASCIMENTO DO CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS

O Conselho mundial de Igrejas tem seu nascimento na fusão de dois


movimentos que estão lutando para a melhoria do relacionamento dos cristãos. Eles
percebem que sem “Vida e Obra” não pode haver “Fé e Constituição”, e que em
unidade, devem se dedicar ao reino de Deus. Assim começa sua história, na união,
na busca por um diálogo entre as religiões, entre liberais e fundamentalistas.

Nas vésperas das conferências de Vida e Ação em Oxford e de Fé e


Constituição em Edimburgo em 1937, reuniram-se em Londres 35
representantes desses dois e de outros cinco movimentos ecumênicos, mas
importantes, que já estudamos: Aliança Universitária para a Amizade entre
as Igrejas, Conselho Internacional de Missões, Aliança Mundial das
Associações Cristã de Moços, Aliança Mundial das Associações Cristãs
Femininas e Federação Universal dos Movimentos de Estudantes Cristãos.
(HORTAL, 1996, p.191)

Havia uma preocupação em formar um conselho ecumênico de igrejas.


Superando os receios mútuos, se recomendava as duas conferências que estavam
para acontecer e que cada um indicasse sete de seus membros, formando assim o
comitê dos quatorze para que enfim o projeto saísse do papel. Houve algumas
resistências, sobretudo por parte Fé e Constituição, mas o comitê, mesmo assim, foi
formado. Foi convocada uma reunião maior, em 1938, na cidade de Utrecht,
Holanda, onde ficaram definidos os pontos fundamentais do futuro Conselho
Mundial. Ficou claro que não deveria ser uma superigreja, mas um movimento
fraternal de igrejas. Como doutrina ficou a mesma de Fé e Constituição.

Como base doutrinaria adotou-se a mesma de Fé e Constituição: “O


Conselho Mundial de Igrejas é uma comunhão de igrejas que aceitam nosso
Senhor Jesus Cristo com Salvador” (HORTAL, 1999, p.192).

Sua primeira reunião geral estava marca para 1941, mas a segunda guerra
mundial adiou os planos. Mesmo assim seu comitê provisório continuou trabalhando.
Esse grupo desenvolveu neste período uma ação notável com os refugiados,
perseguidos, prisioneiros destes anos trágicos. Enfim acontece sua primeira
24

assembléia logo após a guerra em Amsterdã, Holanda, 1948, seu comitê que era
provisório convoca finalmente a reunião constitutiva do Conselho Mundial de Igrejas.
Houve um culto de abertura, no dia seguinte o pastor francês reformado, Marc
Boegner, apresenta em definitivo a proposta para a fundação do Conselho Mundial
de Igrejas que é aceita por todos os presentes. Em virtude de recusas anteriores a
igreja católica romana não havia sido convidada oficialmente. Mas alguns foram
convidados pessoalmente, pois havia um oficio que proibia a participação de
católicos.

O Santo Ofício, em 5 de junho de 1948, publicou uma severa advertência


(monitun) proibindo a participação de católicos em reuniões ecumênicas, de
acordo com o que estava disposto no Código de Direito Canônico de 1917.
Mas mesmo assim, alguns sacerdotes católicos participaram da Conferencia
de Amsterdã, na qualidade de jornalista. (HORTAL,1999, p.192).

Uma grande parte das igrejas ortodoxas de Moscou esteve ausente da


conferencia constituinte do Conselho Mundial de Igrejas, pois era tempo de guerra
fria e, ouve medo por causa do influxo norte-americano no tratamento dos temas de
estudo, pois haviam declarado que o movimento ecumênico era antidemocrático e
não religioso.
É a segunda guerra que faz brotar o tema do primeiro encontro em Amsterdã,
que leva o tema: “A desordem dos homens é o desígnio de Deus” (HORTAL, 1999,
p. 193). O que fica claro é que não foi canonizado em Amsterdã às Nações Unidas
como movimento ecumênico entre as duas guerras, pois parecia querer identificar-
se com a inexistente sociedade das nações unidas.
Outras assembléias aconteceram, e em um subúrbio de Chicago acontece o
primeiro encontro fora da Europa (1954). Tanto fora do contexto Europeu como
dentro, sempre ouve um embate entre católicos e protestantes. O crescimento do
movimento e percebido no seu terceiro encontro em Nova Déli (1961), pois a
representatividade de igrejas cresce nesse encontro. Neste encontro as portas se
abrem para que outros grupos façam parte desta caminhada ecumênica. A igreja
católica começa a se articular.

2.5 EVANGÉLICOS E EVANGELICAIS


25

O termo evangélico é muito precioso em seu significado histórico. Sua


nascente tem como base o pietismo, que teve seu inicio nos avivamento da Grã-
Bretanha e da América do Norte. Sua base doutrinaria é formada pela “confiança
irrestrita na Bíblia, pregação da salvação, o perdão dos pecados por Jesus Cristo
através da sua obra salvadora e a necessidade da conversão ao evangelho”.
(FERNANDES, 2010, p.80). Sua tradução para o português fez com que houvesse
uma má interpretação, pois quando traduzida do inglês para o espanhol e do
espanhol para o português ficou como evangelista ao invés de evangélico
(LONGUINI, 2OO2, p.21), que tira sua real interpretação.

Há um uso diversificado e, por vezes, equivocado do termo evangélico. No


Brasil, por exemplo, ser evangélico é ser protestante, com se fossem termos
sinônimos, sem considerar os aspectos históricos evolvidos na sua
utilização. Há, no entanto, um consenso nas características teológicas do
evangelicalismo histórico. Elas se referem àqueles que afirmam a
autoridade da Bíblia e sua primazia no fazer teológico. Concebem além dos
pontos já destacados Bonino, a condição pecaminosa do ser humano, a
salvação providenciada por Jesus Cristo por meio da sua obra salvífica, a
necessidade do arrependimento e conversão e a conseqüente necessidade
da evangelização como responsabilidade de todo o cristão.
O evangelicalismo histórico-anglicano, conforme apontado por Latourette,
Boch e Caldas, traz consigo os elementos fundamentais da Reforma
Protestante em sua vertente calvinista, neste caso, sob nova vitalidade no
conjunto dos avivamentos religiosos. Mas, o evangelicalismo que chegou ao
Terceiro Mundo, inclusive na America Latina não foi exatamente aquele
puramente anglicano, mas uma nova forma influenciada pelos avivamentos
religiosos, tanto na Inglaterra com na America do Norte e pelo
denominacionalismo. (FERNANDES, 2010, p.82).

A palavra “evangélica” foi ganhando formas de época em época, foi se


contextualizando com o meio sócio-político de cada ambiente. Sua interpretação na
maioria das vezes estava ligada com o dos fundamentalistas, sua forma exagerada
do comprimento das doutrinas, seu jeito de ver o homem com alvo do pecado e
necessitado de arrependimento, os fazem ser confundidos.
Seu nascimento também é considerando como uma resposta ao
liberalismo e ao evangelho social. Evangelho esse que nos séculos XIX e XX tanto
liberais quanto conservadores praticaram (ARMSTRONG, 2009, p.235) durante a
devastação das guerras. Mas houve um rompimento entre o evangelho social e os
evangélicos conservadores, pois o acusaram de sacralizar os comércios e fábricas
sem Deus.
26

Na América Latina o protestantismo que se desenvolve é caracteristicamente


evangélico, em seu sentido histórico.

As maiores partes dos missionários que vieram à America Latina pertenciam


a um setor do protestantismo europeu ou norte americano que em inglês se
descreve com o termo Evangelical e que na Europa se costuma descrever
como “pietista”. (FERNANDES, 2010, p 82,83)

Elementos do evangelicalismo se fundiram ao contexto sócio-político e


cultural latino. Desta mistura surge um tipo contextualizado de movimento
evangélico, que se vê apropriado para o contexto.

O evangelicalismo é um movimento teológico, não se reduz a uma ou outra


denominação protestante, mas se envolve segmentos dentro delas. Os que
se confessam evangelicais, afirmam os princípios de fé da sua
denominação e aqueles outros propósitos do movimento históricos já
citados, na medita em que é possível a conciliação. (FERNANDES, 2010,
p.83).

Os evangelicais brotam de dentro do termo evangélico. Criaram esse novo


nome para se fazer distinção entre a ala radical e fundamentalista. A ala radical tem
uma proposta mais ecumênica, querem desenvolver um evangelho que atinja o
homem todo, enquanto a ala fundamentalista esta preocupa em criar novas igrejas e
cuidar apenas da alma, os evangelicais que surgem com resposta na América
Latina, resposta ao movimento evangélico, forjado em verdade de um passado e em
outra realidade, realidade essa que não cabe mais no contexto latino. Esse nascente
grupo tem a preocupação de produzir sua própria teologia, seu jeito de ver seu
continente, não querem mais usar lentes que não são suas.

Perguntava-se se o jeito de ser evangélico precisava refletir a cultura dos


Estados Unidos ou se era possível haver uma contextualização da fé para a
realidade de cada país; na década de 1960, falou-se bastante em
contextualização entre os evangélicos. Assim, uma crescente resistência ao
domínio dos Estados unidos na formação do ethos evangélico demarcou o
surgimento de uma teologia latino americana. Alguns passaram a Seminario
Fuller. Pastores latino-americanos propuseram um estilo de vida simples,
obviamente contrapondo a riqueza das grandes instituições protestantes,
que na época de 1960 e 1970 gastavam milhões com eventos
evangelísticos que objetavam salvar almas, as chamadas cruzada. Alguns
evangélicos começaram a perceber a necessidade de trazerem algum tipo
de “agiornarmento” diante da realidade do continente. Realizou-se a I
Consulta Evangélica sobre Ética Social em Lima, em 1972, com a presença
de latino-americanos com José Miguez Bonino, Orando Costas, Justo
27

González, Pedro Arana, Samuel Escobare René Padilha. O grupo tentava


dialogar com as tensões ideológicas, fortíssimas no contexto de
enfrentamento dos regimes totalitários que dominavam o continente.
(GONDIN, 2010, p. 56,57).

Esse grupo flui de dentro da ala fundamentalista, não querem mais o cabresto
Norte Americano, mas sim começar a produzir de forma latina e independente.
Tudo isso tem seus reflexos dentro do encontro em Lausanne, onde radicais e
conservadores tem um áspero encontro. Mas onde os latinos com seu olhar holístico
influência no documento final.
28

3 RESPONSABILIDADE SOCIAL E EVANGELISMO NA PERSPECTIVA DE


LAUSANNE

Neste capítulo falaremos das contribuições da Fraternidade Teológica e


colaboração dos seus teólogos com seu olhar holístico para formação dos
documentos de Lausanne e suas reuniões e documento formado no encontro:
evangelização e responsabilidade social. Na formação perceberemos dois
momentos o primeiro discutido dentro do congresso de Lausanne e um posterior que
fará a revisão dos documentos.

3.1 NASCIMENTO E CONTRIBUIÇÕES DA FRATERNIDADE TEOLÓGICA


LATINO AMERICANA PARA O CONGRESSO DE LAUSANNE
Seu nascimento acontece nos corredores do primeiro Congresso Latino
Americano de Evangelização Clade I1 em Bogotá (Colômbia, 1969), evento que é
filho do congresso de Berlin (1966) patrocinado e dirigido pela revista Christianity
Today (LONGUINI, 2002, p.153). O movimento do evangelho social já pensava em
missão integral, mas era mau visto pelo movimento evangélico como anti-bíblico.
Um livro distribuído nos corredores deste congresso instiga a criação de uma
fraternidade, onde teólogos sentariam à mesa para repensar melhores caminhos
para a teologia e a igreja da América Latina. Peter Wagner, autor do livro e
missionário em Bogotá, faz uma crítica sobre o dualismo de ideologias e questiona
se a teologia da América Latina era esquerdista ou evangélica. Quando ele fez essa
pergunta, o autor do livro estava fazendo uma crítica àqueles que são de esquerda.
Neste meio havia um grupo que estava preocupado em criar uma plataforma de
diálogo entre estes grupos, mas que não tivesse comprometida com o
fundamentalismo norte-americano. Nas palavras de um dos articuladores
percebemos essa tendência.

Não nos sentíamos representados pela teologia elaborada na America do


Norte e imposta por meio de seminário e institutos bíblicos dos evangélicos
conservadores, cujo programa e literatura eram tradução servil e repetitiva,
forjada em uma situação totalmente alheia á nossa. Tampouco nos
sentíamos representados pela teologia elitista dos protestantes ecumênicos,
geralmente calcada em modelos europeus e alienada do espírito
evangelizador e das convicções fundamentais das igrejas evangélicas
majoritárias do continente americano. (LONGUINI, 2002, p.160).

1
Daqui para frente usarei a sigla CLADE para Congresso Latino-Americano de Evangelização.
29

Nos corredores do Clade I criou-se um grupo, que usando uma plataforma do


diálogo, visando uma fraternidade de teólogos, formada por: “Plutarco Bonilha,
Rubéns Lores, Osvaldo Motessi, Orlando Costas, René Padilha e José Camacho”
(LONGUINI, 2002; p. 163). Outros nomes também são citados: “Emilio Antonio
Nuñez, Héctor Espinosa e Ismael Amaya e mais tarde a entrada de: Pedro Savage,
Ricardo Struz e Peter Wagner” (LONGUINI, 2002, p.163).
Não se pode deixar da informar que o congresso que está acontecendo é
patrocinado pelos fundamentalistas norte-americanos, e que o grupo que está
articulando a formação do grupo de fraternidade faz parte de contexto, um grupo que
quer pensar de forma latina, sem ser mais influenciado pelos países norte-
americanos.
Anos mais tarde em Cochabamba, Bolívia, 1970, a informalidade dos
corredores leva Pedro Savega a proporcionar mais um encontro com caráter de
fraternidade, onde seria discutida a unidade dos teólogos.

O evento foi caracterizado como uma consulta, cujo objetivo, também


detalhado um pouco desde Clade I, era busca um “consenso evangélico
básico e lançar bases para o futuro esforço teológico cooperativo”. O tema
central foi a palavra de Deus e na agenda inclui-se também uma
assembléia de cunho deliberativo para dar continuidade ao processo.
Samuel Escobar, que foi consultor do evento e uma espécie de cronista,
relata que dos trinta teólogos convidados, vinte e cinco participaram. Havia
uma representação de nove denominações, da quais a metade era de
igrejas independentes. Escobar classifica as várias tendências dos
participantes. Por denominação: Wesleyana (metodista nazareno e
anglicano evangelical); Calvinista (presbiterianos); Batista; Luterana; (IEBL);
Dispensacionalista; Pentecostal. Por inserção no movimento estudantil.
Por inserção na educação teológica; e por inserção nas missões
independentes e interdenominacionais. (LONGUINI, 2002, p. 169).

Neste encontro então nasce a FTL2, em meio a tensões. As tensões que


estão presentes neste rompimento da bolsa são fatores externos e de cunho
ideológico.

A primeira é uma tensão externa. A FTL nasce como uma alternativa ao


movimento ISAL3, foi uma alternativa ao movimento do teólogos
ecumênicos, nasceu militante, critica, polemica e apologética. A FTL,
naquele momento, não criava uma terceira via, veio a sê-la como o passar
dos anos. Naquele momento desejava estabelecer como uma plataforma de
dialogo entre os mesmos, e ainda assim, não o foi. Essa tensão Foi sendo
2
Daqui pra frente usarei a sigla FTL para Fraternidade Teológica Latino-Americana.
3
Daqui para frente usarei a sigla ISAL para Igrejas e Sociedade na America Latina.
30

equacionada com o passar do tempo, o diálogo está se construindo e a


polarização hoje entre ecumênicos e evangélicos é extremamente palatável.
A segunda vertente da “tensão fundante” relacionava-se com o diálogo entre
os fundamentalistas e os evangelicais. O conflito nessa área ficou
caracterizado já na percepção da consulta de Cochabamba e na
participação dos convidados. Lamenta-se que não houve participação de
pessoas do Seminário Bíblico Latino-Americano, leia-se Oralndo Costas,
Plutarco Bonilla e Rubén Lores. (LONGUINI, 2002, p.169).

Com seu surgimento há uma renovação no pensamento teológico-evangélico,


sua produção teológica ganha notoriedade pelo mundo. A educação no âmbito
religioso ganha um forte aliado, uma vasta produção teológica é feita. O olhar
holístico traz novas reflexões para a teologia latina. Há uma preocupação por parte
dos teólogos da FTL em não importar teologia, mas produzir a partir da realidade
latina seu próprio pensamento teológico, como por exemplo, percebendo e se
envolvendo com a realidade sócio-política em que a América Latina se encontrava.
Seu papel para a renovação intelectual é importantíssimo no contexto latino.
Seus desafios e suas articulações dão para o continente latino “pernas próprias”.
Quanto aos seus objetivos pode-se perceber uma amplitude como um olhar mais
holístico.

(a) Promover a reflexão acerca do evangelho e o seu significado para o


homem e a sociedade na America-Latina. Trata-se de estimular o
desenvolvimento de um pensamento evangélico atento á palavra de Deus e
que leve a sério as perguntas suscitadas pela vida na America Latina.
Aceita, para sua reflexão, o caráter normativo da Bíblia como palavra escrita
de Deus, e se esforça para escutar, sob a direção do Espírito Santo, a
mensagem bíblica em sua relação com a relatividade da situação concreta.
(b) Constituir-se em plataforma de diálogo entre pensadores que
confessem a Jesus Cristo como Senhor e Deus, e que estejam dispostos a
refletir à luz da Bíblia, a fim de constituir uma ponte entre evangelho e a
cultura latino-americana.
(c) Contribuir para a vida e missão da igreja de Cristo na America Latina,
sem pretender falar em nome da igreja, nem assumir a posição de porta-voz
teológico do povo evangélico no continente latino-americano. (È uma
comunidade de pensadores que estão a serviço de Cristo e de sua igreja,
convictos do valor da reflexão teológica em relação ao ser e o fazer da
igreja. (LONGUINI, 2002, p.172).

Todo esse caminho de renovação leva alguns teólogos a participarem do


“Marco Evangélico” ou “Vaticano II dos protestantes” assim chamados pela história
protestante. Suas reflexões sobre o evangelho e uma melhor responsabilidade social
da igreja os levam a fazer parte dos documentos do Pacto de Lausanne. A
importância das reflexões feitas por seus teólogos dão o tom do congresso em
31

Lausanne, por mais que haja uma rejeição por parte do plenário participante neste
evento. Rène Padilha, Samuel Escobar são a maior representatividade da
fraternidade em Lausanne, trazendo para o evento uma proposta de atualização no
pensamento da igreja mundial.

3.2 PACTO DE LAUSANNE

No ano de 1974 encontram-se em Lausanne, Suíça, aproximadamente 3.000


líderes e evangelistas de igrejas de cerca de 150 países. Reuniram-se para orar,
estudar, debater e planejar um evento que mudou a história da ação social no
mundo, o primeiro Congresso Internacional de Evangelização Mundial. O Congresso
foi planejado para debater sobre o papel que deve ter a igreja na sociedade
moderna, cumprindo assim a urgente necessidade de evangelização e
responsabilidade social. O slogan do embate foi movido pela leitura do livro do
profeta Isaías, conclamando: Que o mundo ouça a voz de Deus. Termo de abertura:

Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150


nações, participantes do Congresso Internacional de Evangelização
Mundial, em Lausanne, louvamos a Deus por sua grande salvação e
regozijamo-nos com a comunhão, que por graça dele mesmo, podemos ter
com ele e uns com os outros. Estamos profundamente tocados pelo que
Deus vem fazendo em nossos dias, movidos ao arrependimento por nosso
fracasso e desafiados pela tarefa inacabada da evangelização (STOTT,
2003, p. 25).

Até o final do século XIV, o movimento cristão não tinha uma visão
fragmentada da responsabilidade geral da igreja para com a sociedade.
Evangelismo e trabalho de transformação do mundo não eram vistos como frentes
de trabalho compatíveis umas com as outras. A igreja sempre buscou formas
práticas de aliviar o sofrimento humano desde os tempos mais remotos, como nos é
relatado no livro de Atos.
Com o aparecimento do liberalismo nas igrejas norte-americanas, no início do
século XX, houve uma forte reação da ala conservadora e, como conseqüência,
surgiu o que ficou conhecido como fundamentalismo. Os fundamentalistas
combateram vários erros doutrinários que as igrejas liberais iam abraçando à
medida que colocava em xeque a maneira tradicional de interpretar a Bíblia.
Entretanto, os fundamentalistas associaram a esse liberalismo uma teologia que na
32

época vinha ganhando destaque: o chamado evangelho social. Na ânsia de


combater o liberalismo, eles começaram a combater também os defensores do
evangelho social e passaram a criticar severamente qualquer prática que se
parecesse com aquelas defendidas por eles. Resumindo: a ação social do cristão foi
posta em dificuldade, pois passou a ser vista com desconfiança no meio evangélico.

Nos primeiros anos do século os conservadores estavam tão engajados em


programas sociais quanto os liberais, mas tinham uma ideologia diferente.
Talvez vissem suas cruzadas sociais como a guerra contra o demônio ou
como um desafio espiritual ao materialismo predominante, porem se
preocupava tanto quanto Stelzle com salários baixos, trabalho infantil e más
condições de trabalho. Posteriormente criticariam o Evangelho social e
diriam que era inútil tentar salvar o mundo condenado. (ARMSTRONG,
2009, p.235, 236).

A importância do trabalho de transformação social por meio de ações práticas


só começou a ser resgatada em escala mundial em 1974, após celebração do Pacto
de Lausanne, que celebra a missão integral revigorada em seus propósitos.
O curioso é que esse documento foi grandemente influenciado por teólogos
latino-americanos, como René Padilha e Samuel Escobar. Os dois levaram para o
congresso suas convicções de que Deus não abandonou este Mundo e que ainda é
sua vontade que a igreja tenha uma ação não só redentora, mas também
preservadora e transformadora de tudo o que ele criou, incluindo a sociedade.
A partir desses fatos, há no congresso um espírito de arrependimento, de
fracasso por parte dos participantes e é nesse clima que começa o congresso. John
Stott disse que “o Congresso de Lausanne foi um momento em que o mundo ouviu a
voz dos teólogos latino-americanos, tomando expressões de suas palestras e
citando-as literalmente no Pacto de Lausanne”.
Esse Congresso foi convocado pela Associação de Evangelização Billy
Graham, tento em vista outros congressos que não tiveram tanto sucesso como este
na área de evangelização e ação social. Em outros congressos como o de Wheaton
(1966), os evangélicos enfatizaram a criação de novas igrejas, deixando de lado o
homem. Eles estavam interessados apenas em construir igrejas e o Pacto de
Lausanne deu outro sentido, ele se preocupa com a condição do homem. A América
Latina, com seus teólogos, dá uma grande contribuição para essa nova leitura.
Samuel Escobar e René Padilha são por isso símbolos dessa leitura.
33

O encontro na Suíça vai do dia 16 a 25 de julho de 1974, tendo mais de 4.000


participantes, apenas alguns países como União Soviética e China continental não
mandaram representantes. Vários oradores deram voz à esperança de que o
congresso fosse marcado pelo arrependimento do que pelo triunfalismo
evangelístico.
É nesse entusiasmo que começa o Pacto de Lausanne, a caminhada dos
seus participantes os leva para a leitura da necessidade de um evangelho todo para
o homem todo. John Stott vai dizer que “há um reconhecimento por parte dos
participantes sobre a diversidade racial e cultura e que eles tinham pela consciência
que eram membros da Igreja de Jesus Cristo, mas reconheciam que não podiam
chamar Jesus Cristo de Senhor sem serem membros responsáveis de sua nova
comunidade” (2003, p.25, 26). Lausanne vai sendo desenhado pelas confissões de
seus participantes, as cores vão se misturando e dando o tom para o Pacto. Com
algumas cores mais fortes querendo se sobressair, mas vão se moldando ao
desenho.
Segundo Stott (2003: p.26), o espírito de Lausanne foi mais tangível do que
em outros. Para ele os participantes se sentem tocados pelo que Deus vem fazendo
em seus dias:

“Vários oradores deram voz à esperança de que o congresso fosse marcado


mais pelo arrependimento do que pelo triunfalismo evangélico” (STOTT,
2003, p.26).

Segundo John Stott, o espírito que Lausanne teve foi um espírito de


humildade e arrependimento, o que se é percebido e denotado através do desejo
dos participantes do congresso, apesar da humildade, de que o evangelismo ainda é
prioridade sem muito foco na Ação Social.
O fundo que está sendo colorido pelos Latinos tem tonalidades diferentes.
São cores mais fortes, que destacam a importância de se olhar holisticamente para
o assunto evangelização e ação social. Padilha segundo Gondin (2010, p.64)
“abordou o conceito de pecado social reaquecendo um antigo nervosismo do
fundamentalismo, que rejeita a posição dos liberais quanto ao Evangelho Social” e
“Escobar afirma que o pecado (singular) não é a soma total dos pecados (plural) do
homem” (ESCOBAR, em: GONDIN, 2010, p.64).
34

Essa fissura entre evangélicos e evangelicais vai sendo percebida na medida


em que os assuntos vão surgindo dentro do congresso. Mas a maior divergência
surge quando se é abordado o assunto Ação Social que é defendida por um grupo,
porém não tão bem visto por outro e é nesse contexto que se produz o pacto. John
Stott vai dizer que para se chegar até a redação final os textos, os mesmos passam
por várias mudanças. São tais como várias revisões, pois são muitos os textos que
vão se anulando até que se chegasse a um consenso.
Lausanne, como já foi dito, tem representantes de vários lugares do mundo
que trazem suas percepções sobre o mundo a partir da sua realidade. Com os
Latinos não é diferente, entretanto são eles que levam um olhar mais amplo para
Lausanne na questão evangelismo e ação social. Gondin vai falar que “a delegação
latino-americana do Movimento Evangélico, que se posicionou no Congresso de
Evangelização em Lausanne, em 1974 e causou impacto, chegou com uma
expressiva bagagem conceitual e com aspirações diversas ao próprio congresso”
(GONDIN, 2010, p.63).
Em congressos anteriores ao Pacto o assunto girava em torno da criação de
novas igrejas, deixando de lado o social do evangelho. Havia uma desconfiança dos
fundamentalistas em questão a área social.

Stott lembra que, durante cerca de cinqüenta anos (1920-1970) os


evangélicos, tentando defender a fé histórica bíblica contra os ataques do
liberalismo, reagiram em oposição ao seu "evangelho social", concentrando-
se na evangelização. (ROCHA, 2003, p. 9).

Esse pensamento é tomado nos congressos anteriores através de um olhar


conservador dos fundamentalistas, que faz com que o foco central seja apenas na
ampliação e edificação de novos templos. Sendo assim, apenas em Lausanne o
olhar é ampliado para o homem como um todo, mas com um olhar ainda
conservador; tem como papel de fundo as almas, almas essas que carecem ouvir a
voz de Deus. Ainda esta entranhada na leitura dos idealizadores do congresso
apenas a alma do ser, sem muito se preocupara com o físico.
Já os latinos levam o lado físico como sendo tão importante quanto a alma
que precisa ser cuidada. Assim, nasce Lausanne em meio ao arrependimento e
controvérsias ideológicas.
35

Os evangélicos brasileiros são descendentes históricos das igrejas


conservadoras, em sua maioria, fundamentalistas.

3.3 CONCEPÇÃO DE EVANGELIZAÇÃO E AÇÃO SOCIAL NOS DOCUMENTOS


DE LAUSANNE

John Stott, um dos redatores do pacto, fala sobre a natureza da


evangelização:

Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por


nossos pecados e ressuscitou segundo as escrituras, e de que, como
Senhor e Rei, ele agora ofereceu perdão dos pecados e dom libertador do
Espírito a todos os que se arrependem e crêem. (STOTT, 2003, p.41).

E sobre a definição de evangelização ele diz:

A palavra “evangelização” deriva de um termo grego que significa


literalmente “trazer ou difundir boas novas”, portanto, é impossível falar
sobre evangelização sem se referir ao conteúdo das boas novas. (STOTT,
2003, p.41).

Já para a Ação Social, que no pacto é chamado de responsabilidade social,


Stott diz:

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto,


devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela reconciliação em toda
a sociedade humana e pela libertação dos homens de todo tipo de
opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa,
sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade
possui uma dignidade intrínseca em razão da qual de ser respeitada e
servida, e não explorada. (STOTT, 2003, p.41).

O pano de fundo aonde se chega a essas conclusões passa por várias


correções. Dez anos após o congresso, os documentos são mais uma vez
estudados, pois há uma desculpa dizendo que não ficaram muito claros em
Lausanne os conceitos de Evangelização e Ação Social. Essa nova consulta em
1982 é feita a partir da leitura de outros congressos, não apenas Lausanne. John
Stott diz “as teses e as reações às vezes distribuídas de antemão eram críticas dos
posicionamentos mútuos, às vezes de forma áspera. (Stott, 1983, p.8). Logo após
Stott vai falar que se encontram face a face, e não se limitaram apenar em ouvir os
36

argumentos, mas também escutaram as profundas confecções, e nesse momento


cria-se entre todos uma nova compreensão. Não que isso significasse que ouve uma
concordância geral sobre o relatório, mas significa que as concordâncias são bem
maiores que as discordâncias”.
Estavam presente Gottfried Osei-Mensah (da África) e Bong Rin Ro (da Ásia),
co-presidente da consulta, David Wlles (EUA), Samuel Olson (América Latina) e
John Stott a responsabilidade escrever o relatório. O manuscrito foi aprovado pelos
participantes e logo após levado às sessões plenárias. Assim o documento foi
revisado e enviado pelo correio aos participantes de Lausanne, mas com algumas
alterações no texto. Esse fundo é o que leva ao documento final e é daí que sai os
conceitos definidos acima.
O pacto de Lausanne aproxima a natureza do evangelho de responsabilidade
social, mas, também, coloca lado a lado essas duas obrigações sem, no entanto,
definir que semelhança existe entre um e outro; definições essenciais à prática do
evangelho de Jesus, sem chegar a nenhuma definição, exceto quando diz “Na
missão de serviço sacrifical da igreja, a evangelização é prioridade”.
Anos após o congresso na Suíça, ficou evidente cada vez mais a necessidade
de completar o documento de Lausanne, definindo mais confessadamente o que se
deve entender por responsabilidade social, de quem é essa responsabilidade e
como ela se inclui com a evangelização. Isto porque muitos temem que quanto mais
nós, os evangélicos nos empenhar com um, tanto menos estaremos comprometidos
com o outro, e que, caso nos empenharmos com ambos, um dos dois com certeza
sairá lesado; e, especialmente, que uma preocupação com a responsabilidade social
certamente acabará embotando o nosso zelo evangelístico.
Parece-nos que a evangelização e a ação social sempre tiveram uma relação
íntima em toda a história da igreja, embora essa relação se tenha evidenciado de
várias e diferentes maneiras. Os cristãos sempre tiveram naturalmente engajados
nas duas atividades, sem sentirem qualquer necessidade de definir porque estavam
fazendo assim. Logo, o problema dessa relação, que resultou na convocação para
essa consulta é relativamente novo, e, por razões históricas é de particular
importância para os cristãos evangélicos.
Ouve uma análise da história social dos evangélicos.
37

O Grande Despertamento na América do Norte, O Movimento Pietista na


Alemanha e o Reavivamento Evangélico na Inglaterra, nos dias dos irmãos
Wesley, todos eles ocorridos nas primeiras décadas do século XVII, foram
um grande incentivo tanto para filantropia quanto para a evangelização. OS
evangélicos da Grã-Bretanha da geração seguinte fundaram sociedades
missionárias e prestaram serviços notáveis à vida pública, merecendo
destaque a atuação de Wilberforce na abolição do tráfico de escravos e da
própria escravidão, assim como Shaftesbury, que promoveu a melhoria das
condições de trabalho nas fabricas. (STTOT, 1983, p.18).

Suas crises também são reveladas, a confissão de que no final do século XIX
e inicio do XX, surge o evangelho social que é a grande crise para alguns
evangélicos, em pensar em uma responsabilidade social, pois esse grupo estava
associado aos liberais (evangelho social), e tudo que liberal causa aversão para
grande parte dos evangélicos.

Alguns deles confundiram o reino de Deus com a civilização em geral, e


com a democracia social em particular, e começara a pensar que, através
de seus programas sociais, poderiam construir o reino de Deus na terra.
(STTOT, 1983, p.18).

Nesta análise histórica que está sendo feita pelo grupo, se percebe as
desculpas que foram usadas anteriormente para que não se pensasse na
responsabilidade social da igreja. Percebem-se as tensões, a dicotomia que se
desenvolveu no pensamento evangélico. Entre grupos que formulam o documento
se percebe que a ideologia fundamentalista esta entranhada na comissão do norte e
alguns da Europa, enquanto alguns latinos que fazem parte da comissão têm uma
visão holística, uma visão de evangelho social. E é por essa razão que os latinos
que fazem parte do movimento de missão integral quase não são ouvidos. Não
como deveria, pois ainda mesmo afirmando que e necessário que a igreja se
envolva com o social o evangelho anunciado tem sua primazia. Em todo documento
do pacto fica muito claro essa tendência do corpo a corpo, de um evangelho que
precisa ganhar forma de palavras. Por mais que se encontre nos documentos
frases que colocam responsabilidade social e evangelização juntas, como: “a ação
social e a evangelização são como duas lâminas de uma tesoura, ou como duas
asas de um pássaro” (STOTT, 1983, p.21). Ainda se faz necessário ouvir o que o
pacto diz a repetido da ação social e evangelização e vice e versa.
Ação social e evangelização:
38

O outro tipo de responsabilidade é a busca da justiça social, que trata não


somente de pessoas, mas de estruturas; não só da reabilitação dos presos,
mas da reforma do sistema penitenciário; não apenas da melhoria das
condições de trabalho, mas da transformação do sistema econômico
(qualquer que seja ele) e do sistema político (qualquer que seja), facilitando
a libertação da pobreza e da opressão. Essas mudanças sempre requerem
ação política (pois política e poder estão muito ligados); e alguns
evangélicos têm muito medo disso, imaginando que acabará em conflito civil
e até mesmo em revolução. Mas não é isto que queremos dizer com
“envolvimento sócio-político”. Estamos pensando, sim, em processos
políticos compatíveis com os princípios bíblicos, como os direitos do
individuo e das minorias, o respeito pelas autoridades civis, o bem-estar de
toda a comunidade e a justiça para os oprimidos. A Bíblia dá muita ênfase,
tanto na justiça (ou retidão) quanto à paz. Deus é o autor de ambas, e elas
são características essenciais do seu reino. Portanto, nós, que dizemos
participantes do reino, não podemos apenas buscar justiça para os outros,
mas devemos antes “praticar a justiça” (Mq. 6:8) em nossa família, com
nossos colegas de trabalho e qualquer servo ou emprego e qualquer servo
ou empregado que tivermos. Da mesma forma, não basta apenas “buscar a
paz e procurar segui-la”; precisamos “viver em paz com todos”, no que
depender de nós (1 Pe. 3:11; Rm 12:18). Isto se aplica tanto as igrejas
como aos cristãos. Se a discriminação e a desunião são toleradas na igreja,
com podemos denunciá-las na nação? Antes, são as igrejas que
demonstram de modo visível a justiça de e a paz do reino que farão maior
impacto neste mundo. O sal deve conservar o seu sabor, disse Jesus; e, se
isto não acontecer, para nada mais presta (MT. 5:13). (STOTT, 198; p.40).

E a outra visãoque é a Evangelização e ação social:

A ação social pertence à ação da igreja como tal, ou é prerrogativa dos


indivíduos que formam uma igreja, e de grupos cristãos? Não temos dúvida
quanto a isso. A igreja deve encorajar seus membros a se tornarem
cidadãos conscientes, a tomarem a iniciativa de fundar e administrar
programas sociais, de se informar a respeito de assuntos políticos,
defendendo-os ou discordando deles, de acordo com sua própria
consciência. Uma vez que a ação social individual possui efeitos
geralmente limitados, os cristãos devem ser incentivados a formar grupos
ou unir-se a grupos ou movimentos já existentes, que esteja, preocupados
com as necessidades especificas das sociedade, promovendo pesquisas a
respeito de temas sociais e agindo de maneira apropriada. Nós apoiamos a
existência e a atividade desses grupos, pois eles complementam o trabalho
da igreja em muitas áreas importantes. Os cristãos também devem ser
encorajados a participar de forma responsável nos seus partidos políticos,
sindicatos ou associações de classe e outros movimentos semelhantes.
Sempre que possível, eles devem formar um grupo cristão ali dentro,
iniciando ou unindo-se a um partido cristão, a um sindicato ou movimento
cristão, a fim de desenvolverem políticas cristãs especificas. Da atividade
individual ou conjunta, voltamos á igreja. Deve ela envolver-se em política
ou ficar de fora? Alguns dizem que as igrejas que se envolvem em
atividades sócio-políticas, principalmente em temas controvertidos, perdem
seus membros e seus missionários, pois esse tipo de atividade gera
controvérsias. Outros já pensam que são outros fatores, como o liberalismo
teológico e a falta de confiança no evangelho, que causam as baixas nos
números de membros. Mas este assunto não e apenas pragmático; ele é
essencialmente teológico. Por de trás da controvérsia estão as nossas
eclesiologias bem diferentes e, particularmente, os nossos pontos de vista
diversos sobre a relação entre a igreja e o estado, o reino de Deus e aquilo
que se chama de “reino de Cezar”. Estiveram representadas em nossa
39

consulta pelo menos três tradições diferentes a respeito do envolvimento


político cristão, todas elas frutos da Reforma Protestante na Europa. Todos
nós concordamos na distinção entre reino de Deus e o domínio político. No
entanto, uma dessas correntes vê o reino como contrario a esse domínio,
pleiteando para a comunidade cristã um testemunho independente de
instituições políticas. Uma segunda tradição vê o reino como separado do
domínio político, embora paralelo a este; e afirma que os cristãos devem
participar dele, não como membros da igreja, mas como cidadãos guiados
por princípios morais cristãos. A terceira corrente vê o reino de Deus
penetrando e transformando o domínio político não só dos cristãos
individualmente, mas dos grupos e também das igrejas. Esta discussão de
maneira alguma é irrelevante para a evangelização. Os corações das
pessoas estão sempre abertos para o evangelho quando elas vêem que nos
preocupamos com elas como pessoas, e não simplesmente com almas.
Quando elas percebem que o evangelho trata de misericórdia e da justiça
de Deus, reconciliadas na cruz de Cristo, e vêem a sua misericórdia e
justiça presente ainda nos dias de hoje, elas naturalmente se mostram
prontas para virem a Cristo. (STOTT, 1983, p.42).

Esses relatos são da revisão do pacto em Grand Rapids (1982) dez anos
depois de o pacto ter acontecido em Lausanne. Apenas as definições do começo do
texto são de 1974, pois não recebem nem uma alteração. Faz-se necessário
perceber que os documentos iniciais estão cheios de ideologias que provinham do
grupo latino americano, em sua maior parte Teólogos da missão Integral. Ideologias
que são frutos de uma percepção teológica sócio-política da realidade latina. E são
essas que são carregar para dentro do congresso, fazendo se então ecoar suas
vozes que se preocupam não só com o estado religioso, mas como o homem todo.
Apesar de a segunda revisão ter acontecido dez anos depois e ter a
representatividade latina americana diminuída, seu eco pode ser ouvido pelos
participantes reunidos com o propósito de reescrevê-los. Os documentos de
Lausanne sobre responsabilidade social e evangelização estão cheios da identidade
ideológica latina americana.
Ainda olhando para o desdobramento do pacto, vendo que anos após seu
encerramento, outra reunião fez com que os documentos fossem revistos, outros
objetivos são indicados, mas o que permanece é o enfoque nas Sagradas
Escrituras. Há um olhar para cultura, percebendo as diferenças que outrora foram
suas rinhas. Agora esse aspecto pode ser percebido com mais clareza.
O assunto que antes causava uma dicotomia entre os participantes vem
agora sendo observado com uma ótica do ser diferente a ser normal; o diálogo fica
mais claro, as asperezas ficam amenas. Como já foi dito, não que as discordâncias
acabaram, mas ficaram, mas fracas.
40

4 ENCANTOS E DESENCANTOS COM O PACTO DE LAUSANNE

Este capítulo tentara mostrar o volta com seus encantos e desencantos do


Pacto de Lausanne. Passara pelo Clade II e III com a pastoral e missão percebida a
partir dos documentos produzidos em Lausanne; Lausanne II em Manila como
esvaziamento e perda força; tentara fazer um analise entre a pratica a teoria dos
documentos evangelização e responsabilidade social.

4.1 VOLTA PARA CASA

Vários eventos foram realizados após o congresso de Lausanne, procurando


aprofunda os temas discutidos. Esses encontros buscaram aprofundar questões e
definir a agenda específica de cada contexto.

Após o congresso de Lausanne foram realizados varias consultas


internacionais, com o propósito de aprofunda a discussão sobre os diversos
aspectos da missão integral e evangelização. Essas consultas deram
origem a vários relatórios de grande importância teológica e pratica. A ABU
editora, em conjunto com a Visão Mundial, publicou livretos sob o titulo
Série Lausanne, abordando os seguintes temas: 1. Tive fome – um desafio
a servir a Deus no mundo – Samuel Escobar, Jhon Sttot, Valdir
Steuernagel,Calyle C. Dewey. (publicado apenas em português). 2.
Evangelização e Responsabilidade Social–Consulta de Grand Rapids,1982.
3. O Evangelho e Cultura – Consulta de Willowbank (Bermudas) 1978. 4.
Jonh Sttot Comenta o Pacto de Lausanne. Jonh Sttot. 5. Viva a simplicidade
– Consulta de Hoddesdon (Inglaterra) 1980. 6. O Evangelho e o homem
secularizado – Consulta de Pattya (Tailândia), junho de 1980. 7. O
Evangelho e Marxista - Consulta de Pattya, junho de 1980. 8. Os Desafios
das Novas Religiões - Consulta de Pattya, junho de 1980. 9. Chama-se
Cristão - Consulta de Pattya, junho de 1980. 10. Testemunho Cristão junto
aos Mulçumanos - Consulta de Pattya, junho de 1980. Desses dez livretos,
oito representam as quatro grandes consultas internacionais patrocinada
pela Comissão de Lausanne de Evangelização Mundial. A primeira, nas
Bermudas, 1978, teve como relatório Willowbank, sobre “O evangelho e a
cultura”. No ano 1980 ocorrem mais duas consultas: uma no mês de março,
em Hoddesdon, na Inglaterra, e a grande consulta em Pattya, na Tailândia,
em junho, com o tema “Como Ouvirão?”. Durante a consulta de Pattya
foram realizadas várias miniconsultas, que resultaram em cinco diferentes
relatórios diretamente relacionados à estratégia e evangelização mundial.
(RAMOS E CAMARGO E AMORIM, 2009, p.37)

A América Latina também pôde ouvir o eco que o congresso de Lausanne


produziu.

No contexto da América Latina, as seqüências dos congressos Latinos-


Americanos de Evangelização (Clade II, 1979; Clade III 1992; Clade IV
41

2000) deram continuidade à influência do espírito de Lausanne em nosso


continente. Sob os temas “Para que a América Latina Ouça a Voz de Deus”
( Clade II), “Todo o Evangelho a partir da América Latina para Todos os
Povos” (Clade III) e “ O Testemunho Evangélico para o Terceiro Milênio:
Palavra, Espírito e Missão” (Clade IV), ficou evidente a agenda da reflexão e
formação em torno do conceito de missão integral da igreja. (STTOT, 2003,
p. 17).

Uma nova geração foi formada a partir desse novo olhar para a missão da
igreja. Reflexos foram percebidos, um novo jeito de se fazer missão foi pensado no
pacto e um olhar holístico se tornou a nova lente de se ver e fazer teologia. Os
Clades posteriores a Lausanne dão o tom dessa nova lente.

4.1.1 Clade II.

O Clade II foi realizado na cidade de Lima (Peru) e foi convocado e


organizado pela FTL, sob o tema “Para que a América Latina ouça a voz de Deus”.
Esse segundo encontro e reflexo da necessidade de se pensar uma teologia
holística, uma teologia que faça uma leitura sócio-política da realidade, mas é ao
mesmo tempo um grito de independência das garras norte-americanas. Em seu bojo
esse segundo encontro reafirma a necessidade de um ecumenismo para
caminhada, uma análise mais profunda nos campos sociais.

A América Latina passa por momentos turbulentos, em especial nos campos


sociais, político, cultural e religioso. A inquietação sobre o papel do
protestantismo, a missão da igreja, a natureza da evangelização e a
formação de uma nova liderança era compartilhada por membros da FTL.
(LONGUINI, 2002, p. 182).

Outro fator que reflete a capacidade, maturidade e espírito de conversa no


Clade II, evidentemente como fruto da FTL, foi o fato de que as palestras principais
do encontro tiveram dois articuladores para o mesmo tema, procurando equilibrar os
valores “entre evangelicais radicais e evangelicais moderados, fundamentalistas e
ecumênicos”. (LONGUINI, 2002, p. 186).
O Pacto de Lausanne reforçou os congressos Latino-Americanos,
principalmente os Clades.

Clade II identificou-se com o Pacto de Lausanne não somente no tema do


congresso – “Para que a America Latinha ouça a voz de Deus” ----, uma vez
que o Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado em
42

1974, em Lausanne (Suíça) teve como tema “Para que o mundo ouça a voz
de Deus”. Identificou-se, também, com o que se convencionou chamar de
“espírito de Lausanne”, ou ainda movimento de Lausanne. O epicentro
desse compromisso foi o próprio pacto e “exigiu-se” que os participantes de
Clade II aceitassem como pré-requisito para participação no congresso, os
termos dele. (LONGUINI, 2002, p.187).

O Clade II foi realizado sob o entusiasmo do espírito de Lausanne e teve


como grande bandeira o Pacto de Lausanne. Acontece que nesta caminhada, teve
inicio em “Berlim, 1966, foi “revisada” no Clade I, 1969, e contextualizada no Clade
II, 1979”. (LONGUINI, 2002: p.190). O congresso realizado em Lima deu uma nova
postura pastoral, e missiologica no evangelicalismo Latino Americano.

Sob a influência do Congresso de Lausanne, Clade II fez um balanço da


situação do continente e dos setores conservadores do protestantismo e,
com coragem, traçou novos planos, estabeleceu novas metas e, sobretudo,
reconheceu o atraso, o descompasso, a omissão e a falta de compromisso
de setores evangélicos com o sofrido povo latino-americano. (LONGUINI,
2002, 191),

Foi produzido um documento, não como o pacto, mas uma carta rica em
conteúdo debatido no congresso.

No documento do Clade II transparece a consciência dos problemas reais


da America-Latina, e o desejo expresso de agir em prol da sua
transformação. O caminho proposto é o da evangelização integral, visto ser
o tema da evangelização a razão do próprio evento e a preocupação do
evangelicalismo. A teologia latino-americana estava se definindo como uma
teologia da missão. (FERNADES, 2009, p. 101).

A partir desse encontro novos rumos são tomados na teologia latina, uma
nova epistemologia começa a ser desenhada. Surge um ar de esperança para as
áreas pastoral e missão.

4.1.2 Clade III: Pastoral e Missão.


Clade III acontece em 1992, com o tema “Todo o evangelho para todos os
povos” demonstrou a grande quantidade e diversidade do mundo evangélico latino-
americano.

De 24 de agosto a 4 de setembro de 1992, os 1,080 participantes de Clade


III tiveram a oportunidade de conviver com um multifacetado “ mundo
evangelical latino-americano” A presença foi representativa: mulheres, 30%;
pastores 35%; leigos 35%; representantes da hierarquia eclesiástica, 5%;
43

acadêmicos 5%; observadores e jornalistas, 5%. Devemos destacar, além


disso, a participação feminina e de uma expressiva delegação indígenas
cristãos de alguns países do continente. (LONGUINI, 2002, p. 197).

A força de Clade III foi sentida pela presença e representatividade dos seus
participantes, ajuntado as mais belas tradições latinas. As liturgias contagiaram uma
autonomia e deram um clima comemorativo ao congresso e deram um ambiente de
profunda espiritualidade. Esse encontro foi de grande importância para a missão e a
pastoral.

Os significados históricos do Clade III para missão e a pastoral em nosso


continente fez com que estudiosos do protestantismo afirmassem ter sido,
Clade III, a mais significativa reunião dessa natureza em solo latino-
americano. René Padilla destaca a contribuição do congresso em três
aspectos: unidade da igreja; missão integral e sacerdócio universal de todos
os crentes. Samuel Escobar analisa o evento apontado seis diferentes
novos enfoques para a missão: a presença indígena; os variados modelos e
projetos de missão integral; o movimento missionário a partir da América
Latina, a crescente participação de evangélicos na política dos seus países;
o novo espírito de cooperação evangélica; e a emergente liderança
feminina. (LONGUINI, 2002, p. 199 e 200).

Esse encontro é marcado pelo ecumenismo, onde a voz a ser ouvida não fica
somente com uma ala, mas se faz ser ouvida e olhada por vários ângulos.

Um dos pontos altos do Clade III foi, sem duvida alguma, o diálogo em Clai
e Conela. Da mesa-redonda participaram o bispo Federico Pagura e o
reverendo Felipe Adolf, respectivamente presidente e secretário-executivo
do Clai, e o pastor Jean Terranova e o presbiteriano Alfonso de Los Reyes,
respectivamente presidente e vice-presidente do Conela. (LONGUINI, 2002,
p. 201).

O encontro fica marcado pela pluralidade, a visão pastoral e a missão


percorrem novos rumos, entram em púlpitos antes considerados inimigos. A missão
ganha força, pois se une a uma visão mais ampla dos campos brancos que estão
prontos a serem ceifados. Como espelho esse encontro reflete no Conselho Latino
Americano de Igrejas que traz em seu bojo a tentativa de unidade. A proposta do
encontro em 1978 em Oaxtepec (México) como tema “Unidade e Missão na
America- Latina”, faz-se a mesma proposta que o Clade III resgata anos depois.
Quer regatar a unidade e cooperação perdida, também se busca uma agenda
pastoral, ao enfatizar uma necessidade de ação urgente das igrejas.
44

A fundação, em 1978, do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI)


proporcionou uma boa integração entre as cento e cinqüenta Igrejas
evangélicas, inclusive pentecostais que o compõem, além de prestar
assessoria pastoral, especialmente no campo social. (HACKMANN, 2000, p.
85).

Outro encontro do CLAI foi a Huampaní Lima, Peru em 1982, agora com mais
consistência e com propostas melhores elaborada para aera da pastoral. Neste
encontro estabeleceram-se os marcos teóricos da pastoral, a qual vinha sendo
formada pelo CLAI.

Na Pastoral vamos respondendo no nome do Senhor e assumindo,


compromissos ao lado dos que sofrem opressão. Nossa tarefa tem sido
estar ao lado daqueles a quem faltam o pão e o vinho, apoiando aspirações,
compartilhado recursos, consolando aos aflitos e também chorando com os
que choram. A Pastoral de Consolação e Solidariedade trabalhava com os
seguintes objetivos: (1) Incitar a participação dos cristãos e das igrejas na
defesa dos direitos humanos. (2) Ajudar as igrejas a descobrirem as causas
que geram violações dos direitos humanos. (3) Ajudar as igrejas a
exercerem uma pastoral profética de denuncia e de solidariedade como os
desvalidos. (4) Promover ações concretas de presença solidaria ali mesmo
onde as pessoas sofrem a repressão e marginalização. (5) Reforçar um
processo de reflexão bíblico-teologico continuado que manifeste a ação de
Deus em favor dos direitos humanos. (LONGUINI, 2002, p.256)

As ideologias que o CLAI veio trabalhando podem ser percebidas no CLADE


III, sua lente, sua forma de perceber a missão e a pastoral esta carregada de
congressos e assembléias anteriores. O espírito de Lausanne é percebido nos
encontros promovidos para que haja uma integração na missão latina americana,
para que se possa caminhar em uma missão que de falto seja integral. O ar que vem
sendo respirado é o que o pacto de lausanne soprou sobre os continentes. Assim
tanto a pastoral quanto a missão discutida neste congresso e assembléias carregam
o ar do pacto, carregado pelo documento elaborado que cheira a integração do
evangelho todo para o homem todo.

4.2 ESVAZIAMENTO EM MANILA


45

A comissão montada em Lausanne (Suíça) para fazer caminhar os encontros


foi perdendo seu espaço a partir 1983, o comitê formado era de uma ala mais
progressista, radical que aos poucos foi sendo substituída por conservadores.

No mundo protestante evangélico, os progressistas que articulam uma


hegemonia no Comitê de Lausanne para Evangelização Mundial (LCWE)
foram perdendo terreno para os conservadores a partir do 1º Congresso
Internacional de Evangelização Itinerante (Amsterdã, Holanda, 1983). Um
segundo congresso foi realizado no mesmo local, 1986. A culminação do
processo foi 2º Congresso Mundial de Evangelização, o Lausanne II
(Manila, Filipinas, 1988). (CAVALCANTI, 2002, p. 173).

Com as rédeas nas mãos a ala conservadora deu outra cara para o segundo
congresso, fazendo com que a voz da proclamação fosse central no discurso, o
pensamento fundamentalista ganha voz e vez para discutir o que se pretendia
discutir no primeiro.

O congresso pretendia reunir evangélicos desejosos de afirmar a autoridade


da Bíblia. John Sttot afirma a razão que para tanto foi, pelo menos em parte,
a existência de uma crise de confiança em relação ao Conselho Mundial de
Igrejas – CMI. (ROCHA, 2003, p 8).

O discurso toma outra direção à forma de se pensar a missão tem uma


profunda regressão. Ha mais luxo, o capitalismo está nas veias da ala organizadora.
O terceiro mundo é acusado de por “Luiz Palau, evangelista argentino, americano
naturalizado que no congresso prega: O terceiro mundo é pobre porque é idólatra”.
(LIBÂNIO, 1996, p. 23). Há um afastamento das premissas do primeiro encontro, os
latinos americanos quase não participam neste segundo encontro.

Enquanto o Primeiro Mundo os hippies eram substituídos pelos yuppies


(jovens executivos e empresários buscando a riqueza e vivendo do luxo), a
America latina, como exceção, conhecia o avanço político, com o fim do
ciclo da ditadura militares da Doutrina da Segurança, redigindo novas
constituições e realizando eleições direta nos vários níveis. (CAVALCANTI,
2002, p. 174)

Lausanne em Manila representou assim marco do esvaziamento da Missão


Integral.

Um banho de água fria foi jogado sobre a Missão Integral: “ao contraio da
emoção, do senso de se estar fazendo História, do olhar para o futuro, com
em Lausanne, o que se viu em Manila foi um ato frio a mais no programa,
46

com a maior parte da platéia cansada, bocejando ou cochilando, enquanto


Leighton Ford arrastava sua falação (GONDIN, 2010, p. 93).

Manila deu um passo atrás, pois não fez nem uma ponte e nem dialogou
como o primeiro fez. Suas preocupações eram outras, não havia mais preocupação
com o homem todo, mas sim apenas com o pensamento sobre o céu, ou sobre o
metafísico e como estava sua vida aqui financeiramente. Esse anticlímax fez com
que Lausanne I primeiro fosse perdendo suas forças.

4.3 ENTRE A PRÁTICA E O DISCURO

O Pacto de Lausanne ficou conhecido como o Vaticano segundo dos


evangélicos por sua importância nas áreas de evangelização e responsabilidade
social. Sua relevância fez ecos em todos os cantos, sua voz se tornou conhecida.
Seus documentos redigidos formaram um verdadeiro arcabouço para o
evangelicalismo mundial, dando direção para que uma nova leitura que pudesse
alcançar o homem por completo. É inegável a clara participação dos latinos com seu
olhar holístico, nos documentos redigidos no pacto. Uma das grandes influências
nas deliberações do congresso veio através das contribuições de oradores do
terceiro mundo. Oradores latino-americanos como René Padilla, Orlando Costas e
Samuel Escobar proferiram as declarações mais fortes no sentido de que a
preocupação com as necessidades sociais da humanidade e o envolvimento com as
mesmas é uma parte necessária do testemunho e da responsabilidade dos cristãos
em favor do mundo. René Padilha com o tema “A Evangelização e o Mundo”,
afirmou:

Nossa maior necessidade é um evangelho mais bíblico e uma igreja mais


fiel. Poderemos nos despedir deste congresso com um belo conjunto de
papéis e declarações que serão arquivadas e esquecidas, e com lembrança
de um grande e impressionante encontro de âmbito mundial. Ou poderemos
sair daqui com a convicção de que temos fórmulas mágicas para a
conversão das pessoas. Eu pessoalmente espero em Deus que possamos
sair daqui com uma atitude de arrependimento no que diz respeito à nossa
escravidão ao mundo e ao nosso arrogante triunfalismo, com os sensos de
nossa incapacidade de sermos libertos dos grilhões a que estamos atados,
e, apesar disso, com grande confiança em Deus, o Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, que “é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo
quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a
ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para
todo o sempre". Amém. (PADILHA, 1982, p. 171)
47

Samuel Escobar afirmou:

Uma espiritualidade sem discipulado nos aspectos diários da vida —


sociais, econômicos e políticos —, é religiosidade e não cristianismo... De
uma vez por todas, devemos rejeitar a falsa noção de que as preocupações
com as implicações sociais do evangelho e as dimensões sociais do
testemunho cristão resultam de uma falsa doutrina ou de uma ausência de
convicção evangélica. “Ao contrário, é o interesse pela integridade do
Evangelho que nos motiva a acentuarmos a sua dimensão social”.
(ESCOBAR, 1997, p. 98).

Os assuntos da pauta do congresso ganharam força e se tornam um pacto,


base para o novo jeito de se fazer missão. Missão que percebe não apenas a
angustia da alma, mas que atende as necessidades fisiológicas do ser, fazendo
assim uma missão integral. O documento produzido tenta resolver a dicotomia entre
responsabilidade social e evangelização.

Outra causa do divorcio entre evangelização e responsabilidade social é a


dicotomia que se desenvolveu em nosso modo de pensar. Nossa tendência
é contrapor totalmente as idéias de corpo e alma, individuo e sociedade,
redenção e criação, graça e condição natural, céu e terra, justificação e
justiça, fé e obras. A Bíblia certamente faz distinção entre essas idéias, mas
faz também uma relação entre elas, instruindo-nos a manter cada um
desses pares em equilíbrio dinâmico e criativo. É um erro separá-los, como
faz o “dualismo”, como também é um erro confundi-los, como faz o
“nominismo”. E é por esta razão que o Pacto de Lausanne, ao falar sobre
evangelização e envolvimento sócio-político, afirma que ambos são “parte
nosso dever cristão (Parágrafo 5). (STOTT, 1983, p.18).

Ao final do congresso um Pacto foi feito e ganha força para entrar em lugares nunca
antes imaginados, a missão integral parece que vai ganhar espaço e vez entre os
fundamentalistas que tem uma visão apenas o crescimento em massa.
Fundamentalista esses que estão ali, vendo todo acontecer. Entre eles estão Billy
Graham como patrocinador do congresso que em sua fala deixa claro sua
preferência pele verbalização da palavra.

As preocupações de Billy Granhan ficam mais explicitas quando ele busca


traçar uma linha divorciada entre evangelização e responsabilidade social:
“A evangelização tem sido reinterpretada em alguns círculos como sendo
“mudança das estruturas da sociedade no sentido da justiça, retidão e paz
” . Afirma-se que a evangelização na industria, por exemplo , consiste não
em levar trabalhadores a abraçar a fé redentora de Jesus Cristo, mas em
melhor condições de trabalho dos operários”. Billy Granhan reconhece que
isso é importante, mas “não constitui evangelização”, entendida com
anuncio de Jesus para a Salvação das almas --- tema central do encontro.
48

Ao mesmo tempo, ele mostra ter esperança de a relação adequada entre


evangelização e ação social seja explicitada no congresso. (RAMOS E
CAMARGO E AMORIM, 2009, p. 23).

Sua chegada aos continentes fez uma reviravolta, quando chega a América
latina principal colaboradora para a formação do documento, a leitura sugerida para
se fazer missão ganha espaço, mas ao mesmo tempo resistência, pois havia a ala
fundamentalista querendo fazer um boicote ao pacto.

O grupo que mais se resistiu com o congresso e com o Pacto foi o dos
fundamentalistas norte-americanos, que haviam levado propostas
pragmáticas para a evangelização mundial e estava ligado à “Escola de
Crescimento da Igreja”, liderada por McGavran. Eles sentiram-se frustrados
uma vez que o congresso permitiu questionamentos teológicos profundo,
questionou a missão e as agencias missionárias, rejeitou transformar-se
numa plataforma mundial para divulgar o pragmatismo norte-americano e
suas agencias de evangelização. O boicote ao Pacto de Lausanne
aconteceu, deste então, articulado por grupos fundamentalistas que o
achavam extremamente progressista. Dentre esses grupos podemos citar: a
Associação Evangelística de Luiz Palau; a Cruzada Estudantil e Profissional
para Cristo; e a Escola de Missões do Seminário Fuller, cujo líder é Peter
Wagner.(LONGUINI, 2002,p.188).

O dinheiro investindo na produção teológica seca, os congressos ficam


vazios, com isso o pacto vai perdendo o entusiasmo e gradualmente fica sufocado
pela necessidade financeira, para a produção e divulgação de material teológico.
Anos depois alguns líderes convocam um encontro para ver como estava sendo o
impacto de Lausanne na América Latina.

No ano de 1988, alguns líderes eclesiásticos solicitaram ao Celep que


promovesse uma consulta sobre o impacto do Movimento de Lausanne na
America Latina, demonstrando uma preocupação legítima, uma vez que a
intuição daqueles líderes estava correta: havia realmente um boicote ao
Pacto de Lausanne na America Latina. No Brasil, uma publicação que traz o
sugestivo título “Depois de Lausanne o Evangelismo na América Latina”
apresenta um relatório e mensagens do 1º e 2ª Encontro de lideres
Evangelicos na America Latina. Este material foi auspiciado por um “Comitê
pós-Lausanne” em junho de 1977 e tinha como presidente o pastor batista
Nilson do Amaral Fanini, que atualmente preside a Convenção Batista
Brasileira. O único mérito da publicação, que a identifica com o espírito de
Lausanne, é apresentar o pacto; o restante é quase uma traição aos
princípios estabelecidos por ele. (LONGUINI, 2002, p. 188).

A evangelização e responsabilidade social pregada no pacto ficam presas por


brigas ideológicas e não ganham pratica, pois se perde tempo discutindo sobre e
como defender as idéias pensadas no pacto. O que se produz é para dar respostas
49

e não para ajudar a comunidade a praticar as idéias firmadas no documento. Assim


no caminho do documento e apenas discutido e não vivido, fica com a ala intelectual
os leigos quase que não tem acesso ao material e quanto se tem a linguagem e
acadêmica. A idéia primária que fica estabelecida no pacto onde diz que “a ação
social e a evangelização são como duas lâminas de uma tesoura, ou como as duas
asas de um pássaro” se perdem nas lutas internas. (STOTT, 1983, p.21). Desta
forma o que se foi pensado e discutido no pacto fica apenas no papel sem prática,
sem uma leitura feita no convivo com realidade latino- americana.
Lausanne como documento tem sua importância para o evangelismo e ação
social, pois abre as portas para se pensar de um jeito arrojado o jeito de fazer
missão. Fazer uma missão sem medo de se perder no dualismo, sem medo tocar
nas feridas abertas pela sociedade. Mas a prática ficou apática pela falta de tempo
dos teólogos, que preferiram fazer congresso e assembléias ao invés de sair para o
campo para colocar em pratica o que discutiram no Pacto de Lausanne.
50

5 CONCLUSÃO

O estudo tentou traçar uma caminhada para se chegar ao Pacto de Lausanne


e seus documentos sobre evangelização e responsabilidade social, também mostrou
como ficou depois do encontro na Suíça, principalmente no contexto latino
americano. Essa caminhada mostrou os movimentos que desenharam as ideologias
internas do congresso, mas que não acabam dentro do congresso, continua na
caminhada do pacto.
O surgimento do movimento fundamentalista nos Estados Unidos, no final do
XIX, faz com que a leitura da realidade mude de lente, pois existe neste mesmo
tempo outro grupo chamando de liberais que já não conseguem ver a palavra de
Deus de forma literal e propõe outro jeito de se ler, jeito esse de forma científica que
busca dar de forma racional uma interpretação da Bíblia. Então neste momento dois
grupos surgem para dar visões diferentes do mesmo assunto, essa briga ideológica
rompeu para dentro do século XX.
Na carona desses grupos surge, em 1910, em Edimburgo e se oficializa o
movimento ecumênico, um organismo paralelo a igreja, mas que já trabalhava com
os leigos, seu objetivo era para buscar unidade e diálogo. Assim, este movimento
estava preocupado como uma forma prática de se fazer missão, estava preocupada
com questões sócias, com a paz, pois não se pode esquecer que em 1914 estoura a
primeira guerra mundial. Outros movimentos com o mesmo intuito brotam de dento
desse movimento primeiro, cada broto cresce e dá bons frutos para sua época.
Nasce também outro movimento que foi chamado de Evangelho Social, que
sofre, pois na briga de ideologias é acusado pela ala fundamentalista de liberal.
Esse evangelho foi uma resposta à crise citadina pelo crescimento econômico dos
Estados Unidos depois da guerra civil. O que se pretendia era dar uma resposta
bíblica e cristã à deprimente situação de abandono em que se encontravam os
trabalhadores e imigrantes que em péssimas condições viviam. Este movimento
chegou a América Latina e mudou paradigmas, pois cria uma nova consciência
social, também e um divisor de águas entre protestantes e católicos.
Na luta por um melhor diálogo entre as igrejas surgem o Conselho Mundial de
Igrejas, que pretende melhorar o relacionamento dos cristãos. Sua luta por unidade
também fica prejudica pela briga ideologia entre fundamentalistas e liberais.
51

Outro movimento que teve um papel fundamental para a discussão foi o


evangélico que em sua grande parte é fundamentalista e sua preocupação é com
almas e não com questões socais, mas dentro deste movimento surge outro que é
chamado de evangelical e é um grupo que para os conservadores é progressista.
Esse novo grupo em sua maior parte é formado por latinos, que influenciados pelo
evangelho social fazem uma leitura diferente, uma leitura onde o homem tem que
ser alcançado por completo, pois a dicotomia precisava ser resolvida. Anos mais
tarde em um congresso em (Bogotá) Clade I nasce de mais uma briga de idéias um
grupo chamado em princípio de fraternidade, mas que depois se formaliza sendo
chamado de Fraternidade Teológica. Esse grupo assim como o movimento
ecumênico, o conselho mundial de igrejas, tem a intenção de diálogo, de unidade.
Esse novo grupo é em sua grande parte formado por evangélicos, que querem dar à
missão um jeito novo de ser praticada.
Todas essas rixas desembocam no encontro em Lausanne e fica clara a
divisão de foco. Assim então acontece em Lausanne (Suíça) em 1974 o congresso
patrocinado por um fundamentalista chamando Billy Grahan. A maciça participação
de latinos faz com que o foco integral ganhe notoriedade. Sua visão de fazer missão
é trazida para dentro do reduto fundamentalista, onde há desavenças, mas um
espírito contrito toma conta dos participantes fazendo que o olhar holístico proposto
pela ala evangelical seja a força motriz do encontro. Ao final desse congresso nasce
o que ficou conhecido com Pacto de Lausanne, que para alguns é como se fosse um
segundo vaticano. Sua importância ganhou eco por partes do mundo. O documento
produzido sobre evangelização e responsabilidade social foi um grande avanço para
a o jeito de se ver a missão. Esse novo olhar produziu congressos pelo mundo, mas
na América Latina junto com seus representantes, René Padilha, Samuel Escobar e
outros que no congresso foram importantíssimos, formam um segundo Clade II para
discutir a caminhada e como estava sendo a relevância do pacto para os latinos.
Assim Lausanne foi se espalhando, criando raízes, ganhado espaço, mas ao
mesmo tempo críticas por parte de fundamentalista que não aceitavam esse olhar
de missão como sendo integral. A missão integral proposta pelo pacto, fez discípulos
principalmente na América Latina, como ganhou inimigos. Outro ponto analisado foi
que anos depois houve uma revisão deste documento, e essa revisão acontece em
terras norte-americanas.
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Houve altos e baixos, nunca foi de aceitação unanime no meio protestante os


documentos produzidos em Lausanne. O Clade II e III podem ser considerados
como pontos altos, pois ainda respiram as propostas dos documentos. Suas pautas
ainda carregam Lausanne, seu jeito de ver a missão, a pastoral, o tom de um
evangelho todo para o homem todo e característica da produção teológica dos
documentos do pacto. Os baixos se percebem na mudança feita no comitê que
discutia e faziam os congressos que discutiam o pacto. Em Manila se percebe esse
esvaziamento, poucos latinos foram a esse congresso, pois ao que parece não
houve interesse dos organizadores em chamá-los. Neste encontro outros assuntos
entram, não se consegue perceber a mesma preocupação com a missão integral,
antes ponto alto das discussões, o que se pôde perceber é a ênfase na salvação de
almas e no evangelho verbalizado, deixado de lado a responsabilidade social da
igreja.
Fica evidente que ao passar dos anos, os fundamentalista ganharam a queda
de braço com ala mais progressista e que a dependência econômica foi um forte
fator para que essa luta fosse ganha. Ao olhar para a produção teológica pode-se
perceber que o material que está sendo produzido é apenas resposta a ataques
ideológicos, não há uma preocupação com os leigos. O que produz tem um viés
acadêmico e linguagem acadêmica. Essa queda de braço mostra que em todos os
tempos houve essa dicotomia de pensamento entre conservadores e progressistas.
Quando se buscou um diálogo sempre houve os que tivessem mais razão, é por
essa e outras razões que os documentos que foram produzidos nunca puderam ser
de fato práticados como deveriam.
Assim podemos chegar à conclusão de que o Pacto foi de fato importante
para o meio protestante, mas que ele por falta de prática ficou marcado por rixas
ideológicas e quase nunca chegou ao povo, apenas ficou nos círculos acadêmicos,
hora respondendo críticas, hora sendo produzido para o povo. E quando era
produzido para o povo não tinha a sua linguagem.
A intenção deste trabalho é apontar alguns altos e baixos, não tendo
tendência de esgotar que existam mais possibilidades de se ver a trajetória do pacto
de Lausanne e dos documentos que tratam da evangelização e responsabilidade
social.
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