Professional Documents
Culture Documents
Resumo.
O presente artigo tem por finalidade abordar as alterações sobre o rito especial,
Tribunal do Júri, que ocorreram no ano de 2008, com a entrada em vigor da Lei 11.689/ 2008. O
objetivo maior deste estudo é trazer as mudanças relacionadas a primeira fase do rito especial,
visto que aos operadores do Direito, torna-se de suma relevância compreender como é o
procedimento entre o recebimento da denúncia e a decisão que encerra a fase iudicium
accusationis, ou seja, a fase de conhecimento.
1) Introdução.
Com este escopo, a presente abordagem terá como base a Lei 11.689/2008. Nesse
sentido, serão abordadas as principais mudanças referentes à primeira fase do procedimento
especial. Convém ressaltar que o rito especial é divido em duas fases: a primeira fase diz respeito
ao processo de acusação, ou seja, começa com o recebimento da denúncia pelo magistrado e o
término desta fase ocorre com o trânsito em julgado da decisão (pronúncia, impronúncia,
absolvição sumária e desclassificação). Caso o magistrado pronuncie o acusado, dá-se inicio a
segunda fase, que é chamada de judicium causae ou juízo da causa, procedimento, que tem por
finalidade a preparação do júri em plenário, no entanto, a segunda fase, estudaremos em outra
oportunidade.
1
Mestre em Ciências Criminais, Especialista em Ciências Penais, Coordenador do SAJUP e Professor de Processo
Penal e Criminologia nas Faculdades Integradas São Judas Tadeu – Curso de Direito.
2
Acadêmica do 9º semestre das Faculdades Integradas São Judas Tadeu – Curso de Direito.
1
2) Alteração da primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri com o
advento da Lei 11.689/2008.
Entretanto, caso não se aplique nenhuma das causas de rejeição da denúncia, o juiz
receberá a mesma, e com base no artigo 406, caput, através de despacho, citará o réu, para que
no prazo de 10 dias, através de seu defensor constituído, apresente alegações preliminares8.
Neste momento, o acusado terá oportunidade para responder a acusação, sendo importante
constar eventual rol de testemunhas, pois se o juiz der prosseguimento à ação penal, já constará
das testemunhas que deverão ser intimadas. Assim, o §2º, do artigo em questão, limita ao número
3
SILVA, Ivan Luis Marques da. A reforma processual penal de 2008: Lei 11.719/2008, procedimentos penais: Lei
11690/2008, provas: Lei 11689/2008, Júri: Comentados artigo por artigo- São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2008, pg. 88.
4
MACHADO. Antônio Alberto. Curso de processo penal- 2ª ed..- São Paulo: Atlas, 2009, pg. 188.
5
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahi. Tribunal do Júri Lei11.689, de 09-06-2008. In: Maria Theresa Rocha de
Assis Moura (Org.). As reformas no processo penal. As novas leis de 2008 e os Projetos de Reforma. 1ª ed, São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, pg.53.
6
idem, pg. 54.
7
idem, pg. 55.
8
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 10ª Ed. Rio de Janeiro: Lumun Juris: 2008, pg. 567.
2
máximo de 8 testemunhas, tanto para a acusação, quanto para a defesa. A previsão de resposta à
acusação busca proporcionar, pelo menos em tese, maior garantia ao acusado.
No que se refere ao §3º do art. 406 do CPP, na sua resposta, ou seja, na defesa
preliminar, a resposta deverá ser realizada de forma ampla, “devem ser arguidas questões de
mérito e questões processuais. As questões processuais, denominadas preliminares (por
exemplo, inépcia da denúncia), deverão ser alegadas na própria resposta, salvo aquelas
elencadas no art. 95 do CPP, que deverão ser arguidas mediante exceção.”13
O artigo 407 do CPP determina que quando o defensor pretende alegar as exceções
nos termos dos artigos 95 a 112, como por exemplo, suspeição, incompetência, litispendência,
ilegitimidade das partes deverão ser alegadas em apartado, pois não são matérias a serem
arguidas em defesa preliminar15.
9
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahi. Op. Cit., pg. 56.
10
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri.- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. pg. 48.
11
idem, pg. 48
12
MENDONÇA, Andrey Borges de. Nova Reforma do Código de Processo Penal: Comentada artigo por artigo. 2ª
Ed. São Paulo: Método, 2009, pg. 6.
13
idem, pg. 59.
14
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., pg. 48.
15
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahi. Op. Cit., pg. 62.
3
prazo não é precluso. Também há a possibilidade de ser nomeado defensor ad hoc, quando o
acusado ao ser citado informa que possui defensor constituído, se esse, no prazo de 10 dias não
oferecer defesa preliminar, poderá o magistrado nomear defensor dativo apenas para esse ato16.
No que tange a forma do interrogatório, deve seguir o que preconiza o artigo 186 e
seguintes do CPP. No entanto, a realização da audiência seguirá a norma proposta pelo “novo
art. 212 do CPP, com a redação dada pela Lei 11.690/2008”22, ou seja, as testemunhas arroladas
pelo Ministério Público começarão a ser inquiridas pelo órgão acusatório, para depois serem
inquiridas pela parte contrária, assim também será quando forem ouvidas as testemunhas
arroladas pela defesa, esses serão inquiridos primeiramente pela defesa, passando depois o
direito de perguntar ao Ministério Público23, quanto ao juiz, “caberá fazer eventuais perguntas
que ainda sejam necessárias para esclarecer pontos relevantes”24Em relação a este tema é
16
ibidem,. pg. 49.
17
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri.- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. pg. 49.
18
, BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahi. Op. Cit. pg. 64.
19
ibidem., pg. 64-65.
20
A previsão de audiência única para produção de prova testemunhal, interrogatório do réu,... é muito criticada, uma
vez que aqueles que conhecem o dia a dia do judiciário afirmam que na grande maioria dos processos questões
“extra-processuais” acabam por impossibilitar tal situação, como por exemplo ausência de determinada testemunha.
21
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahi. Op. Cit.., pg. 66.
22
ibidem., pg. 66.
23
ibidem., pg. 66.
24
ibidem, pg. 66.
4
importante trazer a posição da 5ª Câmara do Tribunal de Justiça gaúcho, que anulou sentença por
entender que o magistrado violou as normas existentes ao indagar as testemunhas diretamente25.
Outro tema importante está previsto no artigo 411, § 1º do CPP, que estabelece que
as provas periciais podem ser esclarecidas pelos peritos pessoalmente em juízo, desde que tenha
prévio requerimento e deferimento pelo juiz. O §2º, do artigo 411 do CPP, determina que as
provas sejam produzidas em uma audiência única, e que o depoimento do réu seja o último ato a
ser realizado. Nesse sentido, “optou-se, também aqui, pela a realização do interrogatório após a
colheita de toda a prova. É ele, portanto, o último ato de instrução probatória, a exemplo do que
ocorre nos Juizados Especiais Criminais (art. 81, §1º da Lei 9.099/95), a confirmar seu perfil de
meio de defesa”26, esse dispositivo tem por objetivo “efetivar a oralidade e a concentração dos
atos probatórios”27.
Quanto à audiência única, há situações que podem exigir o adiamento do ato, sendo
indispensável à suspensão do ato, adiando-o para outra data, em relação a esse tema, assim
preceitua Guilherme de Souza Nucci que “de nada adianta a lei determinar o impossível: “as
provas serão produzidas em uma só audiência” (art. 411, § 2º, CPP), pois a busca da verdade
real, a plenitude de defesa, o contraditório e o devido processo legal precisam efetivar-se. Se
não puder fazê-lo num único ato, pouco interessa o que preceitua a lei ordinária, uma vez que
os princípios constitucionais estão acima disso.”28
5
passou a ser função exclusiva do Ministério Público, não podendo o juiz, nem opinar, nem
sugerir em relação ao aditamento, mesmo, que na instrução probatória surja fato diverso da
denúncia32, assim remete “tanto a formulação da denúncia, quanto o aditamento da denúncia,
passarão a ser atos exclusivos do acusador, e nunca do juiz, nem mesmo na forma de simples
“sugestão”.33
Ainda, referente ao artigo 411 do CPP, o §4º, dita sobre os debates orais, que inicia
logo após o encerramento da instrução probatória, sendo que o representante do órgão ministerial
inicia os debates orais pelo tempo de 20 minutos, podendo ser prorrogado por mais 10 minutos,
passando depois a palavra ao defensor que terá o mesmo tempo34. Convém salientar, que o rito
especial, faz referência, apenas aos debates orais, não consta que os debates orais possam ser
convertidos em memórias escritas, mas sobre esse tema discorre Norberto Cláudio Pâncaro
Avena: “não concebemos qualquer impedimento a que se aplique, excepcionalmente, no
procedimento do júri, por analogia, o permissivo dos arts. 403, §3º, e 404, parágrafo único, até
porque se trata de dispositivos que se inserem no âmbito do procedimento comum ordinário, o
qual possui natureza de rito-padrão”35. Portanto, o juiz com base no art. 403, §3º e 404,
parágrafo único, poderá converter os debates orais em memoriais, sendo que o prazo de entrega
dos memoriais será de cinco dias sucessivamente e o juiz fica adstrito ao prazo de 10 dias para
proferir decisão36.
O §5º, do artigo 411 do CPP disciplina que quando houver vários acusados, cada
defensor terá o prazo de 20 minutos, que poderão ser prorrogados por mais 10 minutos, mas o
Ministério Público também terá o mesmo tempo, ou seja, como nos explica Gustavo Badaró
“significa que, por exemplo, havendo dois acusados, a acusação terá 40 minutos e a defesa de
cada um deles, 20 minutos”.37 O artigo 411, §6º aduz em relação ao assistente de acusação, este,
por sua vez, se manifestará após o Ministério Público, pelo tempo de 10 minutos, não podendo
ser prorrogado, e a defesa também terá direito a mais 10 minutos, ou seja, além dos 20 minutos,
que podem ser prorrogados por mais 10 minutos, terá ainda mais 10 minutos, referente ao tempo
concedido ao assistente de acusação, portanto poderá o tempo da defesa ser de 40 minutos em
suas alegações38.
32
idem, pg. 67.
33
idem, pg. 69.
34
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit. pg. 51-52.
35
AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo Penal para concurso público. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÈTODO, 2008, pg. 365.
36
idem, pg. 365.
37
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahi. Op. Cit., pg. 70.
38
NUCCI, Guilherme de Souza. op. Cit,. pg. 52; e AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. op. cit, pg. 365.
39
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahi. Op. Cit., pg. 70.
6
A seu turno, disciplina o artigo 411, §7º “Nenhum ato será adiado, salvo quando
imprescindível à prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva
comparecer”, a primeira parte do artigo, significa que se a prova que falta no momento da
audiência, não for uma prova indispensável pelo seu valor e conteúdo, o juiz poderá dar
prosseguimento a audiência, no entanto, “se a prova for imprescindível, o processo não poderia
prosseguir sem sua realização, até porque o seu indeferimento ou a sua não realização
acarretaria inaceitável violação do direito à prova, com nulidade ao processo”.40 A segunda
parte do artigo faz referência a condução coercitiva das testemunhas que não comparecerem a
audiência e não apresentarem qualquer justificação ou motivo plausível para justificar a sua
ausência, cabe ressaltar que essa determinação do juiz será possível quando as testemunhas
forem da comarca de origem, quando a testemunha for de outra comarca, “não caberá a
condução coercitiva, devendo ter incidência o art. 222 do CPP, que determina a oitiva por carta
precatória”.41
O artigo 411, §8º do CPP, ainda trata da fase probatória, refere-se mais
especificamente a oitiva das testemunhas, portanto, as testemunhas que comparecem, podem ser
ouvidas, desde que se obedeça à ordem que a lei determina (art. 411, caput, do CPP), ou seja, se
para à audiência comparecerem todas as testemunhas de acusação e faltar uma testemunha de
defesa, o juiz dará prosseguimento ao ato, realizando a oitiva das testemunhas de acusação,
posteriormente dando sequência a oitiva das testemunhas de defesa, então poderá suspender a
audiência, remarcando nova data para a oitiva da testemunha faltante42. Convém referir que, caso
falte alguma testemunha de acusação e a defesa não se oponha à oitiva das testemunhas de
defesa, entendemos ser possível essa inversão sem o risco de nulidade, uma vez que ocorreu
concordância das partes. Verifica-se que neste caso, busca-se evitar o deslocamento de
testemunhas presentes em outra data.
Com o encerramento da instrução probatória, se o juiz optar pelos debates orais das
partes, poderá o juiz proferir a decisão na própria audiência, como está disposto no artigo 411,
§9º do CPP, mas se o magistrado preferir poderá apresentar a sua decisão no prazo de 10 dias,
sendo assim, com a publicação da decisão está encerrada a primeira fase do rito especial. Há
também a possibilidade de o juiz converter os debates orais em memoriais escritos, ainda nessa
situação o juiz está vinculado ao prazo de 10 dias (mesmo prazo estipulado pelo artigo 403, §3º
do CPP, que estabelece a substituição dos debates orais por memoriais escritos)44.
40
idem, pg. 71.
41
idem, pg. 71.
42
idem, pg. 72.
43
idem, pg. 72.
44
idem, pg. 73.
7
O artigo 412 do CPP dispõe sobre a duração da primeira fase, judicium
accusationis, que se inicia com o recebimento da denúncia e encerra-se com a decisão
(pronúncia, impronúncia, absolvição sumária e desclassificação) prolatada pelo magistrado, terá
a duração de 90 dias. Convém salientar que o artigo 412 do CPP, não abre precedentes para que
o prazo seja prorrogado, a sua redação está clara, outra observação que merece ser feita, o prazo
estipulado pelo artigo em análise, é o mesmo, tanto para réu preso como para réu solto45. A
grande problemática deste artigo ocorre quando a primeira fase não é concluída no prazo de 90
dias, nessa situação, nos especifica Gustavo Badaró “se o acusado estiver preso cautelarmente, e
o judicium accusationis não estiver concluído em 90 dias, estará configurado inegável
constrangimento ilegal, devendo a prisão ser relaxada. A prisão será legal durante os 90 dias
iniciais. Após o nonagésimo dia, a prisão se torna ilegal, e toda e qualquer prisão ilegal deverá
ser relaxada, nos termos do art. 5º, LXV da Constituição”.46 Visualiza-se que é fundamental que
o Estado, enquanto órgão julgador, respeite o direito a duração razoável do processo. Não
podemos negar que o próprio processo é fonte de angústias e, caso prolongado
injustificadamente no tempo, poderá violar a dignidade do indivíduo.
3) Quanto às decisões
a) Pronúncia
Para que haja um melhor entendimento, convém trazer o conceito dado por
Guilherme de Souza Nucci sobre pronúncia, senão vejamos: “decisão interlocutória mista, que
julga admissível a acusação, remetendo o caso à apreciação do Tribunal do Júri. Trata-se de
decisão de natureza mista, pois encerra a fase da formação da culpa, inaugurando a fase de
preparação do plenário, que levará ao julgamento de mérito”.47
A decisão de pronúncia está disposta no artigo 413 do CPP, estabelece que o juiz,
só poderá pronunciar o acusado, se constar no processo a materialidade do fato (prova real que
existiu um fato, como por exemplo, auto de necropsia) e indícios suficientes de autoria (quando
as provas carreadas aos autos indicam com segurança o autor do fato)48 Assim, “pronuncia-se
alguém quando, ao exame do material probatório levado aos autos, pode-se verificar a
demonstração da provável existência de um crime doloso contra a vida, bem como da respectiva
45
idem, pg. 73.
46
idem, pg. 74.
47
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., pg. 60-61
48
idem, pg. 63-64.
8
e suposta autoria”49. O §1º que se refere sobre a fundamentação da pronúncia, limita-se apenas a
discorrer sobre a materialidade do fato e dos indícios suficientes de autoria, não entrando no
mérito da causa, pois tem por objetivo, como nos explica Gustavo Badaró “evitar que a
pronúncia se transforme em verdadeira peça de acusação, afirmando categoricamente a autoria
delitiva e influenciando o Conselho de Sentença, verdadeiro juiz natural da questão”.50
Quanto ao artigo 413, §2º do CPP “Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o
valor da fiança para a concessão ou manutenção da liberdade provisória”. Nesse caso, convém
ressaltar que a fiança só é cabível por prisão em flagrante. Assim, está vedada a fiança por prisão
preventiva, por força do dispositivo do art. 324, IV do CPP enquanto permanecerem os requisitos
do art. 312 do CPP. No entanto, como salienta Gustavo Badaró “a única forma de interpretar o
novo §2º do art. 413 é admitir que o juiz deverá conceder a fiança, nos casos em que o acusado
estiver preso em flagrante delito, até o momento da pronúncia, mas nessa oportunidade a prisão
cautelar deixasse de ser necessária, por ter desaparecido o periculum libertatis. Assim, por não
mais estarem presentes os requisitos que autorizariam a prisão preventiva, o acusado poderia
passar a ter o direito à fiança (art. 324,IV do CPP)”.52
9
ao longo do processo, isto é, durante o tempo que o acusado ficou preso, traz novos
fundamentos que exigem e autorizam a prisão cautelar”.55
b) Impronúncia
55
idem, pg. 83.
56
idem, pg. 83.
57
idem, pg 84-85.
58
MACHADO, Antônio Alberto. Op. Cit., pg. 193.
59
AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Op. Cit., pg. 372.
60
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., pg 85.
61
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. OP. Cit., pg. 573.
10
apelação, “levante, como preliminar, a nulidade da decisão, para que outra seja proferida em
termos sóbrios”.62
c) Absolvição Sumária
62
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., pg 86.
63
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, pg. 595.
64
MACHADO, Antônio Alberto. Op. Cit., pg 193.
65
GOMES, Luiz Flávio. Op. Cit., pg. 72.
66
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., pg 94.
67
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., pg 94.
11
crime foi cometido por outra pessoa. O mesmo ocorrerá se estiver provado que, no caso de
concurso de agentes, o acusado não participou do fato”.68
O inciso III “o fato não constituir infração penal”, essa hipótese é mais complexa,
devendo ser analisada de forma ampla, Guilherme de Souza Nucci faz a seguinte explanação
sobre o tema: “o fato ocorreu, podendo até o réu ser o autor, mas não constitui infração penal.
Em outros termos, cuida-se de fato atípico. Qualquer excludente de tipicidade pode ser aplicada
nesse contexto”.69
Importante destacar também que a última hipótese do artigo 415, o inciso IV, não
traz nenhuma novidade, pois posterior à alteração do rito especial, era a única possibilidade de
postular pela absolvição sumária. A mudança só ficou por conta da redação do artigo, que
suprimiu os artigos, que antes estavam elencados de forma taxativa, no entanto, agora, consta
apenas no inciso IV “demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime”, segundo
Nucci “são os termos da norma penal para indicar, inclusive didaticamente, quando se trata de
uma excludente de ilicitude (exclusão do crime) ou de uma excludente de culpabilidade (isenção
de pena)”.70
d) Desclassificação
68
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahi. Op. Cit., pg 89.
69
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., pg. 95.
70
idem, pg. 95.
71
idem, pg 96.
72
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahi. Op. Cit., pg. 91-92.
12
juiz deverá operar a desclassificação e remeter o processo ao juiz competente”.73 Nesse sentido,
pode o magistrado entender que o crime não é doloso contra a vida74.
73
MACHADO, Antônio Alberto. OP. Cit., pg 190.
74
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. OP. Cit., pg. 571.
75
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO SIMPLES. DECISÃO DE PRONÚNCIA. RECURSOS
DEFENSIVOS POSTULANDO A DESPRONÚNCIA DOS ACUSADOS. ADMISSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
ANIMUS NECANDI. O que se extrai do conjunto probatório é que enquanto os dois acusados e a vítima (companheira de um
daqueles) utilizavam cocaína, a ofendida passou a ter convulsões. Ambos os réus, desesperados, acreditando que a vítima iria
tragar a própria língua ¿ mito popular sobre crises convulsivas, tentaram impedir tal situação, tanto que suportaram diversos
ferimentos em suas mãos, como atestam os autos de exame de corpo de delito. Não obtendo êxito e angustiados diante do estado
da ofendida e por não terem logrado obter socorro em tempo adequado ¿ viaturas policiais e ambulâncias estavam indisponíveis,
como último recurso, foi realizada uma perfuração no pescoço da vítima com uma faca doméstica, sendo objetivado, com isso,
¿garantir-lhe a respiração¿, ou seja, uma espécie de traqueostomia caseira mal sucedida. Porém, tal procedimento acarretou o
óbito da ofendida, consoante os autos de necropsia e de necropsia complementar. Sucede que para os denunciados serem
submetidos a julgamento perante o Tribunal Popular, também hão de ser constatados indícios de que pretendiam, de maneira
intencional ou, ao menos, por terem assumido o risco, matar a ofendida. E salvo melhor juízo, não vejo nenhuma dessas hipóteses
no presente feito. Com efeito, apesar do depoimento da filha da vítima, com 12 anos de idade à época do fato, fruto de
relacionamento entre ela e outro homem, no sentido de que seu padrasto constantemente ameaçava matar a vítima, o que causa
forte impressão, em um primeiro momento, tenho que, diante da análise do conjunto probatório, não resta minimamente
demonstrado animus necandi na conduta denunciada. De fato, em primeiro lugar, urge sublinhar que segundo o quadro
probatório, não teria sido o companheiro da vítima quem perfurou seu pescoço com uma faca, mas o co-denunciado,
circunstância que faz as citadas declarações perderem considerável importância. Segundo, inequívoca a ocorrência do
ataque convulsivo suportado pela ofendida, situação que em tese, máxime pelos fatos de os acusados estarem sob efeito de
drogas e de não terem obtido adequado socorro em tempo, justifica a desesperada tentativa de socorro mal sucedida.
Terceiro, e último, a meu juízo, o depoimento da filha da vítima evidencia possíveis atritos decorrentes de um
relacionamento amoroso, especialmente por se tratar de pessoas que corriqueiramente faziam uso de substâncias
entorpecentes, que sabidamente causam alterações no comportamento de seus usuários, mas não vejo, ante a análise do
conjunto probatório, que o réu efetivamente aspirasse matar sua companheira, até por que se assim intentasse, não
haveria razão para ter tentado desesperadamente socorrê-la, suportando inclusive diversas lesões em suas mãos. Por essas
razões, sequer vislumbro animus necandi na conduta sub judice, e inexistindo indícios de intenção de matar, não é o
Tribunal Popular competente para julgar o feito, nos termos do § 1º do art. 74 do Código de Processo Penal. Logo,
desclassifico o delito denunciado para outro que não da competência do Tribunal do Júri, com fundamento no art. 419 da
Lei Adjetiva Penal. Recursos defensivos providos. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70027926377, Terceira Câmara Criminal,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antônio Ribeiro de Oliveira, Julgado em 08/05/2009) (grifo nosso)
76
AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. OP. Cit., pg. 373-374.
77
idem, pg 374.
78
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit., pg. 91.
13
4) Dos recursos cabíveis face às decisões que encerram a primeira fase
processual
Quando o juiz proferir sua decisão, dentre as quatro hipóteses dos arts. 413, 414,
415 e 419 do CPP poderão as partes, o Ministério Público e a defesa, interpor recurso contra as
decisões. No caso de a decisão ser de pronúncia (art. 413 do CPP) é cabível o recurso previsto
no art. 581, IV do CPP, Recurso em Sentido Estrito, pois “no que se refere à pronúncia, o art. 2º
da Lei 11.689/2008, que conferiu nova disciplina do júri, manteve expressamente o recurso
strictu juris que, nesse passo, não suportou qualquer mudança em relação à legislação
original”79.
Podemos destacar outra grande mudança no rito especial: a extinção do Protesto por
Novo Júri. Esse recurso estava disciplinado nos arts. 607 e 608 do CPP, trata-se de recurso
exclusivo do réu, sendo que só poderia ser utilizado caso o réu fosse condenado a pena igual ou
superior a 20 anos de reclusão82. Convém salientar que o Protesto por Novo Júri era cabível
quando o réu fosse condenado com pena igual ou superior a 20 anos de prisão por um único
crime, vedado o protesto por novo júri, quando a pena alcançava esse patamar com a soma de
dois crimes.
79
GOMES, Luiz Flávio. Op. Cit., pg 66.
80
idem, pg 76.
81
MACHADO, Antônio Alberto. Op. Cit, pg 190.
82
NUCCI, Guilherme de Souza. Op. Cit.. pg. 407.
14
vigência desta lei. Questiona-se se a norma é puramente processual ou norma penal. A doutrina
diverge nesse aspecto, portanto há dois entendimentos, entendo alguns doutrinadores que se trata
de norma puramente processual, e, portanto de aplicação imediata.
Essa corrente invoca o art. 2º do CPP “A lei processual penal aplicar-se-á desde
logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob vigência da lei anterior”, para demonstrar
não ter mais aplicabilidade o recurso de Protesto por Novo Júri, nem mesmo nos crimes
cometidos anteriormente a vigência da Lei 11.689/2008, pois esse recurso é definido como
norma puramente processual.
Nesse sentido, salienta Guilherme de Souza Nucci “a sua extinção, em boa hora
determinada pelo legislador, confere modernidade ao sistema recursal no processo penal
brasileiro e a norma puramente processual tem, indubitavelmente, aplicação imediata, colhendo
todos os efeitos em andamento, pouco importando quando o fato criminoso foi cometido”.83
Entretanto, a posição contrária define o recurso de Protesto por Novo Júri, como
norma processual material. Conforme Luiz Flávio Gomes “é norteada pelos princípios penais
relacionados com a lei penal no tempo, ou seja, norma processual material, com reflexos diretos
na ampla defesa ou na liberdade do agente, somente pode retroagir quando benéfica. Se a lei
nova extingue um determinado recurso (protesto por novo júri), é claro que não pode retroagir
(porque prejudicial ao direito de ampla defesa do agente)”.84
Corroborando com o entendimento que a lei processual não deve retroagir, sob a
alegação de estar confrontando nossa norma constitucional. Destaca-se o entendimento de
Tourinho Filho quando afirma que “se a lei processual penal nova coarcta a Defesa,
suprimindo-lhe, por exemplo, recurso, proibindo-lhe esta ou aquela prova, obstaculizando,
enfim, aquela ampla defesa a que se refere a Lei das Leis, é óbvio que tal norma não poderá ter
aplicação. Não pelo fato de ser mais severa, que seria irrelevante, mas pela circunstância de ser
supinamente inconstitucional”85
É importante verificar algumas situações para melhor compreender o tema.
Conforme Paulo Rangel “se o réu fosse julgado no dia do fato, teria direito ao recurso, mas
como o processo se desenvolve normalmente através dos seus diversos atos a prestação
jurisdicional leva um certo tempo e quando é dada o réu não pode ser surpreendido e,
consequentemente, prejudicado com uma lei nova.”86. E se fossem dois réus e um fosse a
julgamento antes da vigência da lei e o outro depois?
Para não restar nenhuma dúvida, quanto ao entendimento da segunda corrente, Luiz
Flávio Gomes conclui que “o Protesto por Novo Júri, com a entrada em vigor da nova lei, acha-
se automaticamente extinto. Não mais subsistirá- insistimos – para os crimes perpetrados em
data posterior a vigência da lei. Mas para os delitos cometidos anteriormente, deve-se garantir,
ao seu autor, o direito ao mencionado recurso, desde que, evidentemente, preenchidos os
requisitos que o autorizam”.87 Assim, “a lei 11.689/08, em seu art. 4º, quando revoga o recurso
83
idem, pg 410.
84
GOMES, Luiz Flávio. Op. Cit., pg 257.
85
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal, 30.ed., São Paulo, Saraiva, 2008, v. I, pg. 114.
86
RANGEL, Paulo. Op. Cit., pg. 869.
87
GOMES, Luiz Flávio. Op. Cit., pg 261.
15
de protesto por novo júri é lei processual penal material prejudicial e não poderá retroagir para
alcançar os fatos que lhe são pretéritos”88.
Assim, sem ter por escopo esgotar o tema, busca-se apenas situar o leitor a respeito
da discussão sobre a impossibilidade de utilização do Protesto por Novo Júri atualmente. Como o
tema é novo e nem todas as obras adentram na temática, é importante que o acadêmico domine
as posições ou discussões existentes sobre a matéria.
6) Conclusão
Nesse sentido, merece elogio toda e qualquer mudança que vise melhorar a
legislação processual. No entanto, as mudanças não podem parar onde estão. Novas adequações
são necessárias, até pelo fato de algumas situações presentes na nova legislação serem
equivocadas. Enquanto não for editado um novo Código de Processo Penal, mas apenas
“retalhos” como ocorreu, jamais teremos uma legislação eficaz. Quanto mais evoluída e bem
construída a legislação de um país, mais confiável e justo será o resultado obtido em seus
processos.
88
RANGEL, Paulo. Op. Cit., pg. 869.
16
REFERÊNCIAS
AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo penal para concursos públicos. 4.ed.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2008.
MACHADO, Antônio Alberto. Curso de processo penal. -2.ed.- São Paulo: Atlas,
2009.
NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri.- São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2008.
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 10ª Ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris: 2008.
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009.
SILVA, Ivan Luís Marques da. A reforma processual penal de 2008: Lei
11.719/2008, procedimentos penais: Lei 11.690/2008, provas: Lei
11.689/2008, júri: comentados artigo por artigo- São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2008.
17