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AS RELIGIÕES NAS TRANSFORMAÇÕES DA SOCIEDADE.

Francisco Carlos Pereira da Silveira


Profª Enilda Clarindo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Teologia/Bacharel (TEO0071) – Teologia
09/07/2010

RESUMO

“Religião é uma instituição social como muitas outras. Ela não existe apenas na
nossa civilização ocidental, ela existe em quase todas as civilizações, desde as mais
complexas (como a nossa) como as menos complexas (como as ditas "primitivas" ou
"selvagens" – observe que esses termos preconceituosos foram utilizados
primeiramente pela igreja)”.

Palavras-chave: Religião, Influência e sociedade.

1. INTRODUÇÃO

Religião nasceu com os mitos criados pelos homens, pois antes de "nascer" um
conhecimento científico, esses mesmos homens precisavam explicar os mistérios que os
rodeavam, como o nascimento, a morte, o dia, a noite, etc. Para poderem explicar esses
mistérios surgem os mitos, os deuses... Desses, surgem aqueles que detinham o poder de
transmitir essas histórias, receber chamados dos deuses, conhecer a verdade – são eles
os Sacerdotes; os detentores das verdades daquele povo. E daí, com o surgimento desses
sacerdotes é que nascem as religiões, seitas ou qualquer outro nome que se dê.

Daí, vemos que a religião é uma intuição criada pela mente curiosa do ser
humano, e como toda instituição, ela também faz parte do patrimônio cultural de uma
sociedade. Não nego então, que religião faz parte da cultura e que em determinadas
épocas ou em determinadas sociedades, elas foram ou são extremamente importante.

Mas o que fica no ar (e que tentarei descê-lo para o chão), é que: Será que a
religião é importante numa sociedade complexa, onde a razão é extremamente
necessária?

Ora, numa sociedade indígena, por exemplo, a religião ou a sua mística (como
alguns preferem que a chamem assim) é importante para se traçar hierarquias, o grau de
parentesco, as relações sociais o tipo de alimentação, entre muitas outras coisas. E o
mais importante, é que nessas sociedades não existe uma ciência, ou melhor, um
pensamento científico para organizarem sua sociedade, portanto a religião cabe-lhes
para a organização social.

E numa sociedade complexa como a nossa?


Bem, aí a coisa muda de figura, pois desde a Grécia antiga, a civilização
"ocidental" descobriu esse raciocínio científico. Está lá no início da ciência, e lá
também o suposto início do desvinculamento do homem com a religião. Mas na foi isso
que aconteceu, como já sabemos.

Numa sociedade como a nossa é possível vivermos sem acreditar que Deus é
brasileiro, ou que Nossa Senhora vai nos ajudar a ganhar a Copa do Mundo. Portanto,
para organizarmos nossa sociedade não precisamos do místico, pois temos a capacidade
de pensarmos sem eles e organizarmo-nos racionalmente.

E a religião na nossa sociedade como cultura? Bem, ela não deixa de ser
considerada Cultura, porém, a religião nesse caso, observando nossa realidade, é uma
cultura "Canibal", ou seja, tem a capacidade de devorar outras culturas – é o que
chamam de aculturação. Bem, se existem pessoas que crêem que outras culturas devem
ser submetidas à dele, essa pessoa é etnocentrista, um sentimento semelhante ao que
acontece nos sistemas fascistas e em muitos ideais religiosos.

2. CONCEITO

Ao sociólogo não interessa responder à indagação se a religião é ou não


verdadeira; ele se preocupa em analisá-la como fenômeno social que pode ser
encontrado em todas as sociedades, a despeito de ser, entre todas as instituições
existentes nas sociedades humanas, a única que não se baseia apenas em necessidade
física do homem. Tentando explicar este fato, tanto Sumner quanto keller fizeram as
seguintes proposições:

a) As instituições consistem em meios através dos quais o homem procura ajusta-


se ao seu ambiente.

b) Existem três níveis de ambientes: o natural, o social e o sobrenatural.

c) A instituição religião seria o meio pelo qual o homem se ajusta ao seu meio
sobrenatural. O ambiente sobrenatural é obviamente imaginário; entretanto, para os dois
autores, o homem, uma vez que incorreu nessa crença de um mundo de espírito e seres
super humanos, tem a necessidade de a ele se ajustar, da mesma maneira que o faz com
os outros dois ambientes.

Johnson define o sobrenatural como qualquer coisa em cuja existência se acredita,


baseando-se em provas não fundamentadas pela ciência. Assim, as entidades
sobrenaturais são empíricas e a ciência não pode demonstrar que realmente existem ou
não: as idéias religiosa não são científicas. O sobrenatural divide-se em seres (deuses,
anjos, demônios, duendes, fadas), lugares (céu, inferno, limbo, purgatório, éden), forças
(Espírito Santo, carma - lei hindu de causa e efeito, mana - poder mágico em que
acreditam os melanésios), e entidades (almas).

Durkheim, em sua obra As Formas Elementares da Vida Religiosa, definiu a


religião como "um sistema unificado de crenças e práticas relativas a coisas sagradas,
isto é, a coisas colocadas à parte e proibidas - crenças e práticas que unem numa
comunidade mortal única todos os que as adotam".

3. TEORIAS SOBRE A ORIGEM DA RELIGIÃO.

Teoria do medo (sobrenatural). Teoria antiga, mais recentemente definida por


Muller e Giddings, sustenta que o medo das forças naturais levou o homem a crer em
divindades, forças misteriosas, sobrenaturais, com o poder de dirigir a natureza. A
gênese das crenças religiosas seria o medo do sobrenatural.

Teoria animatista (mana). Os povos "primitivos" acreditavam na existência de


poder impessoal, uma espécie de fluido denominado mana pelos melanésios e
polinésios, conforme descrição de Dodrington, capaz de penetrar nos objetos vegetais,
animais e pessoas, conferindo-lhes propriedades superiores. Marrett considerava a
existência do mana fundamental na formação da crença religiosa.

Teoria animista (alma). Spencer e Tylor explicaram a origem das religiões por
intermédio da crença do homem "primitivo" na existência de um outro "eu", com
propriedades espirituais, que seria a alma, dotada de poderes superiores ao homem. Esta
crença era baseada na experiência de formas imateriais, surgida em sonhos, ou na
diferença entre um homem vivo e seu cadáver. A morte ocorre quando a alma deixa o
corpo e volta ao seu lugar de origem, onde residem todos os espíritos dos antepassados.
Estes espíritos desencarnados podiam entrar no corpo dos vivos , aumentando-lhes a
força e a vitalidade, ou provocando doenças e males.

Teoria do totemismo (totem) . Segundo Frazer e Goldenweiser, os complexos


totêmicos variam muito em relação à sua composição concreta. De modo geral, pode ser
considerado como uma crença na descendência comum dos grupos de um antepassado
animal ou vegetal, dando origem a uma atitude de reverência para com todos os
representantes da fauna ou flora específica. O totemismo despertou uma controvérsia
em relação a seu significado, designado por alguns autores como fenômeno social e por
outros como fenômeno religioso. Durkheim observou que o conceito de totemismo e as
cerimônias a ele ligadas são as formas elementares da religião, e com isso deu origem a
uma teoria sociológica da religião.

Teoria sociológica (magia). Iniciada por Smith e amplamente desenvolvida por


Durkheim, essa teoria rejeita o argumento de que a religião se iniciou a partir da crença
em seres espirituais ou deuses; considera que surgiram primeiro os ritos ou cerimônias,
principalmente a dança e o canto, que intensificam as emoções, levando-as ao êxtase.
Essas emoções, difundidas entre todos os participantes, fazem-nos acreditar estarem
possuídos de poderes excepcionais. Essas experiências levaram o homem "primitivo" a
crer na existência de um poder sobrenatural, o mana, simbolizado pelo totem. Outros
autores também procuraram uma explicação sociológica para a origem e
desenvolvimento da religião, como por exemplo, Jane Harrison, Chapple e Coon, Wallis
e, até certo ponto, Weber.

Teoria do elemento aleatório (sorte). Sumner e Keller desenvolveram esta teoria.


Consideravam que as tribos "primitivas" acreditavam ser os poderes sobrenaturais
intimamente ligados ao elemento sorte, devendo o homem atuar no sentido de obter a
atenção favorável desses poderes para evitar a má sorte e propiciar a boa sina. Desta
maneira, a religião surge como resposta a uma necessidade defendida: ajustamento ao
meio sobrenatural. O elemento sorte foi denominado pelos dois autores como elemento
aleatório, sem o qual a religião não poderia ter surgido, ou ter-se transformado em algo
inteiramente diferente.

3 . AS EVOLUÇÕES E FUNÇÕES DA RELIGIÃO NA SOCIEDADE.

. A religião é considerada como a reguladora e mantenedora única (ou quase) das


populações, cujas atividades básicas de subsistência consistem na caça e na pesca,
aliadas a uma agricultura muito rudimentar ou no pastoreio.

Ainda hoje é destacado o papel das religiões em geral, certas sociedades


"desenvolvidas" e, principalmente, em nações cuja economia depende de uma
agropecuária subordinada a processos antiquados. Há poucos anos, com efeito, os
dirigentes de populoso país asiático declaram que, para garantir a ordem, assegurar a
justiça e orientar sabiamente a política, era suficiente o Corão, dispensado-se teorias
modernas.

Verificações históricas e proto-históricas nos mostram que, ao passar do


nomadismo para a agricultura sedentária, os grupos humanos continuaram, por algum
tempo, a ter como legislação as normas ditadas pela religião e por seus representantes, a
estes reconhecendo-se a função de orientar os conhecimentos e a conduta social das
pessoas, embora o poder político, cada vez mais, viesse sendo exercido ou
compartilhado por chefes militares.

À medida, porém, que aumentava a produção agropecuária e os progressos


técnico-artesanais permitiam maiores diferenças de padrões de vida, muitos sacerdotes
aproveitaram-se de seu poder espiritual para, direta ou indiretamente, influir na política
e, ao mesmo tempo, levar vida farta, algumas vezes com marcado exibicionismo de
riquezas. Os ritos e sacrifícios foram freqüentemente encaminhados no sentido de
interesse econômico dos corpos sacerdotais. É outra questão em que a Bíblia presta aos
historiadores e sociólogos precisos serviços, especialmente através das diatribes
gananciosas de alguns sacerdotes, sob pretextos religiosos.

Aos poucos, porém, vão aparecendo "magistrados", isto é, homens encarregados


de cumprir ou mesmo fazer as leis e que, em termos atualizados, poderiam ser
chamados de ''leigos". Surgem, também, dispositivos legais onde não são lembrados
(conquanto freqüentemente influenciados por eles) os preceitos religiosos. A invocação
não se processa através de uma luta "contra a religião", mas à margem dela e quase
sempre sem que haja, quanto a ela, a menor contestação. É por isso, aliás, que as
legislações leigas conseguiram facilmente sobreviver e desenvolver-se.

Tal evolução não é difícil de seguir, pois aparece muito claramente na História
Greco-romana. Entre os helenos, as constituições pioneiras de Draco, Licurgo, Sólon e
outras não atacam deuses, e mesmo a eles podem referir-se com grande respeito. seus
dispositivos, porém, são inspirados em situações objetivas e em interpretações da
realidade político-social praticamente isentas de preconceitos místicos. Pouco depois,
aliás, acentuam-se, na Grécia, movimentos de emancipação da ciência e multiplicam-se
os estudos que, prescindindo da religião (sem, todavia, negá-la), conduzem à ciência
propriamente dita. É verdade que, entre os intelectuais, não tardam a frutificar as
dúvidas quanto ao sobrenatural. Neste particular, julgamos oportuno lembrar as hábeis
concessões de Hipócrates ao misticismo, ao qual, realmente, ele opõe a medicina
baseada na observação sistemática, isto é, na preocupação de objetividade. Obedecendo
a atitudes idênticas, emergiram, entre os helenos da mesma época, as teorias não mística
de política, precursoras das Ciências Sociais. As religiões continuaram a influir na vida
social, mas, pelo menos no Ocidente, iam perdendo terreno, excetuando-se, até certo
ponto, os primeiros séculos da Idade Média. Hoje, o misticismo ainda concorre, direta
ou indiretamente, para a diretrizes a que obedecem as relações humanas. Mas o seu
papel, nas sociedades contemporâneas predominantes, nem de longe se comparar, em
importância, ao que desempenhava e desempenha nos grupos "primitivos".

4. A HISTORIA E INFLUÊNCIA DAS RELIGIÕES NAS SOCIEDADES.

Hoje, as grandes religiões do mundo (Hinduísmo, Budismo, Judaísmo,


Cristianismo, Islamismo e Taoísmo ) substituíram e transformaram de maneira marcante
as crenças e as praticas mágicas. Assim sendo em nossa análise, daremos relevo às
religiões mundiais.

Os profetas bíblicos do Judaísmo, desde o século IX a.C., foram os primeiros


homens de consciência acerca dos quais possui-se documentos literários e
conhecimentos históricos. Permaneceram no decurso da história, como os primeiros
homens prontos a obedecer a Deus, antes que a outros homens. Eram profetas ativos
que se consideravam instrumentos divinos e, como homens inspirados por Deus,
levaram suas revelações e exortações proféticas, em forma de missão iluminada pela
sabedoria divina, a seu povo e a seus reis.

Uma de suas características foi o afastamento da sociedade, para um isolamento


solitário, em êxtases de meditação e transes, para depois retornarem à praça do mercado,
ao Templo de Jerusalém. Aí pregavam seus princípios, como demagogos religiosos, em
favor de um verdadeiro comportamento judaico na vida diária de um isolacionismo
político frente as agressões egípcias e assírias. Max Weber chamou esses homens de
profetas emissários.

Nos livros canônicos do Velho Testamento, Amos representa o primeiro e


Zacarias o ultimo profeta, aquele que profetizou contra todas as profecias. Desde então,
no judaísmo, somente apareceram falsos messias e falsos profetas. Durante certo tempo,
o sacerdócio foi restaurado em Jerusalém; mas sob o imperador romano Adriano, este
segundo templo foi destruído e, desde então, a existência da Diáspora tem sido decisiva
para o progresso do Judaísmo como religião mundial. O Rabino — Mestre religioso —
se tronou o dirigente supremo desta religião. A criação do Estado de Israel marcou uma
nova época para o Judaísmo.

Tanto o Cristianismo como o Islamismo se desenvolveram graças ao legado do


Judaísmo. O acontecimento decisivo para o aparecimento do Cristianismo, a partir de
uma seita judaica , como uma religião mundial, foi o sucesso de Paulo, sobre Pedro, em
definir a "liberdade em Cristo" como a renúncia dos mandamentos ritualistas do
Judaísmo. Isto eliminava do Cristianismo a característica de auto-segregação do
Judaísmo. Na época dos Césares Romanos, o Cristianismo foi propagado com êxito, em
concorrência com o Judaísmo, com inumeráveis cultos antigos, com deidades locais e
funcionais do Olimpo Grego, com o culto egípcio de Ísis e Osíris, e especialmente de
Mitra, e também com a Divindade impessoal de Platão, Aristóteles e os estóicos
romanos. Os seguintes fatores determinaram a vitória do Cristianismo:

• Como profetas do Velho Testamento, os Apóstolos Cristãos viveram para a


religião, antes que da religião.
• O Código Ético dos dez mandamentos — ensinados também, pelos Fariseus e
pela Sinagoga — foi rapidamente transmitido às crianças e às massas incultas, como o
imperativo divino de um Deus invisível, embora pessoal e majestoso.
• Independente de sua simplicidade, a mensagem cristã mostrou-se atraente ao
povo da mais remota antigüidade. O messianismo judaico misturou-se à mitologia grega
e oriental de um Deus morto e ressuscitado ; seu modelo familiar elevou a imagem de
um Deus piedoso, que era Pai Justo e Misericordioso de seus filhos gerais; e sua
concepção majestosa de uma figura onisciente, onipresente e onipotente, oferecia a
salvação eterna à imortal, em uma vida futura bem-aventurada, dos que fossem fiéis,
isto é, aos obedientes e a condenação eterna no inferno, aos descrentes.
• O fim das prescrições rituais como a dieta do Judaísmo, o Sábado e a
circuncisão — características de auto-segregação — tornou a incorporação ao
Cristianismo muito mais acessível para os pagãos.
• Finalmente, durante os séculos de perseguição, quando a missão pública dos
pregadores e figuras proféticas tornou-se impossível, os cristãos conseguiram
transformar cada audiência administrativa e cada exibição pública da morte de mártires
cristãos, numa comovente expressão de fé, num modo sem esperança. A procissão do
sepultamento, constituía um testemunho patente da convicção do homem espiritualista e
consciente que obedecia a Deus e não aos homens, que rejeitava aquele mundo e não
recuava no caminho do sofrimento e que, inclusive, o buscava para, a imitação de Cristo
e para obter a santidade, desejava a salvação eterna na vida futura.

Desde então, com o aparecimento do clero romano e bizantino, o Cristianismo


dividiu-se em igreja Oriental e Ocidental. E desde de Martinho Lutero (1483-1546),
Ulrich Zwingli (1484-1531) e João Calvino (1509-1564), o Cristianismo Ocidental
transformou-se em igreja

Católica Romana, Igrejas Luteranas e Calvinistas, e numerosas seitas protestantes.

O monopólio religioso da Igreja Católica foi quebrado, em parte, pela invenção da


imprensa de tipos móveis, por Gutenberg, por volta de 1450, pois isto tornou possível a
impressão de milhares de edições e cópias da Bíblia. Apareceu, então, uma
intelligentsia que se opôs ao Papa e encontrou adeptos nos príncipes. A crise na Igreja
acarretou movimentos reformistas de frades pobres e cardeais, de estudantes e outros
pregadores migratórios. Surgiram duas camadas urbanas, que seguiram o seu próprio
rumo: os pequenos negociantes de classe média, que defendiam um ascetismo espiritual,
e os pequenos artesãos, que adotaram o misticismo e perfeição contemplativa. Na
Europa Central durante todo o século XIV, os camponeses se revoltaram. Os
assalariados revoltaram-se contra o fechamento das corporações e, como os pobres
pertenciam às mesmas, opunham-se à usura e ao capitalismo político, tomando o partido
dos camponeses. Os príncipes alemães protegeram os movimentos heterodoxos, que
lhes permitiam emanciparem-se do Santo Império Romano, que estava sob o domínio
de Habsburgos e do Papa.

Atualmente, nos Estados Unidos, existem menonitas e católicos, quackers, batistas


e metodistas; os Estados Unidos, de fato excedem todos os demais países no número de
seitas religiosas, que chega a duzentos ou trezentos. A partir da invasão do Exército
Vermelho sobre a Europa Central, o Protestantismo ficou reduzido a uma condição de
minoria do no continente; o Catolicismo, embora sofrendo sérios reveses, tanto na
Europa do Leste como do Sudeste, prevalece desde Hesse, na Alemanha até a Espanha.

Tem sido uma das características da religião ocidental o fato de seus líderes —
santos e fundadores de ordens monásticas, reformadores, profetas populares e os
artesãos evangelistas — democratizarem e reativarem o Cristianismo. As tendências
para um intelectualismo aristocrático por parte dos eruditos, muitas vezes foi sufocadas
e, em virtude disso, o Cristianismo, através de inúmeras transigências e concessões,
penetrou na vida diária das massas, em sociedades diversas. Este é um dos objetivos dos
profetas emissários do Cristianismo que, como ativistas, procuraram transformar o
mundo.

Neste sentido, renunciando à aristocracia religiosa do sacerdócio e das ordens


religiosas, o protestantismo eliminou a separação entre profissionais e leigos. O
ascetismo Cristão desenvolveu-se por trás das paredes monásticas, através de elites
especialmente organizadas e democratizou-se pelo código do ascetismo espiritual que
se tornou, de fato, efetivo nas seitas e países regidos pelo puritanismo calvinista.

Em seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Max Weber atribuiu


conseqüências históricas mundiais a esta reviravolta nos conhecimentos. Inaugurando
um dos maiores debates intelectuais das Ciências Sociais, afirmou que o capitalismo
industrial moderno não poderia ter surgido sem o ascetismo espiritual , que contribuiu
para formação da personalidade da classe média empresarial. Nessas camadas o trabalho
vocacional sistemático foi religiosamente consagrado — o sucesso no trabalho era
interpretado como indicação de que o indivíduo passara a fazer parte daqueles
predestinados pela determinação inescrutável de um Deus misterioso. Desta forma, os
temores religiosos, pela própria salvação foram mobilizados para auto disciplina
consciente do homem profissional. Este se propõe a dirigir o mundo que ele ao mesmo
tempo rejeita, com o objetivo de cooperar na criação do Reino que há de vir.

O esquema de Weber para o surgimento do capitalismo entre a burguesia racional


pode ser assim resumindo em detalhes:

As doutrinas religiosas de Lutero, e principalmente as de Calvino, definiram, sob


outra forma, a relação do cristão com seu trabalho diário. Tanto na língua inglesa, como
na alemã — e nestas somente nas traduções protestantes da Bíblia — o termo chamado
Calling, ou Beruf refere-se tanto na à ocupação profissional, como ao destino religioso.
Segundo a doutrina calvinista da predestinação, cada homem será salvo ou condenado
pelo julgamento inescrutável de um senhor inflexível. Esta doutrina lança grandes
ansiedades sobre o crente piedoso, que teme estar entre os condenados. E o que é mais
grave, essas anciedades não serão mitigadas pelo isolamento de uma vida monástica,
nem por uma conduta religiosa exemplar, como a dos santos medievais. Estas vias
foram bloqueadas pela teoria de que Deus colocou o homem no mundo de sua criação,
junto a doutrina de que o Senhor já escolheu ou condenou todos os homens. Portanto, as
obras piedosas, como donativos a igrejas, orações freqüentes e peregrinações, tornaram-
se tentativas sem sentido e inúteis para modificar a vontade impenetrável de Deus.
Existe, de fato, somente um caminho para se obter os sinais do estado de graça, como
um presságio da eleição divina: a adesão metódica ao código de conduta agradável a
Deus, seja qual for a condição em que se encontra o fiel.

Weber denominou este código de conduta, na forma em que surgiu historicamente


através de seitas puritanas, de espiritual ou ascetismo temporal, isto é, a renuncia ao
gozo dos prazeres mundanos dentro do próprio mundo. O puritano procura realizar uma
vida quase monástica sem, no entanto, tornar-se um monge, proclamando as normas
desse ascetismo para, assim, conquistar o mundo, em lugar de abandoná-lo. A
realização deste intento, requer uma auto-observação metódica e sistemática, e uma
disciplina constante. A repressão dos impulsos da desobediência ao código religioso
servia aos puritanos piedosos como uma indicação de sua condição de eleito aos olhos
de Deus. No entanto, o código religioso, negando indulgência com relação às alegrias
proporcionadas por festas e bailes, pela satisfação sexual e até pelo sono ( o ideal de um
longo dia de trabalho) deixava aos puritanos a concentração no trabalho como sua
melhor técnica ascética. O homem piedoso deve renovar sempre seus esforços, pois não
existe para ele qualquer garantia ou segurança de seu destino. Em face de uma possível
condenação, quaisquer esforços e tribulações neste vale de lágrimas serão menos
pesados. Deste modo, a culpa estimula-o a intensificar o seu trabalho: o homem
profissional é, então, aquele que agrada a Deus.

A ética religiosa do puritano o impede de investir os frutos de seu trabalho no


consumo de ostentações, como cavalos e carruagens, mansões e propriedades feudais;
mas por outro lado, ele acredita que aquele que não trabalha, também não deve comer.
Por esta razão, despreza a prática de esmolas aos pobres, vagabundos e similares
defendida pelo Catolicismo. As entidades filantrópicas dos puritanos em favor dos
órfãos, mendigos vagabundos e dos velhos, consistem em instituições que abrigam essas
pessoas, de forma organizada. Existe apenas um meio pelo qual o puritano pode usar a
sua riqueza acumulada: investi-la e reinvesti-la em empresas produtivas, pois isto
permite a extensão das oportunidades de salvação a muitos outros pobres. O negociante
puritano salva, desta forma as almas dos pobres, usando-os como sua mão de obras e
eles, por sua vez, adquirem uma nova disciplina de trabalho, tornando-se confrades de
seu empregador. Com vistas a salvação, eles renunciam a inúmeras festividades alegres,
representações de peças teatrais, em dia que eram feriados para os trabalhadores
católicos da Idade Média. Deste modo, o puritano torna-se um trabalhador incansável,
assegurando seu estado de predestinado e, como um homem santificado, conquistando o
respeito de seus companheiros de crença, quanto mais se expandem os seus negócios.

A análise de Weber revela o impacto que um credo exerce sobre a formação de um


tipo de caráter. A insegurança motivada pela religião, suas fugas, também determinadas
por ela, estabelecem recompensas para atitudes e traços psíquicos específicos, como a
poupança, o trabalho árduo, o controle de conversas ociosas, a humildade, o contínuo
autocontrole a objetividade. Esta estrutura de caráter, por sua vez, torna-se
economicamente importante pelo fato de garantir as vantagens da competição sobre os
agentes econômicos tradicionais e menos frugais.
As idéias religiosas, adquiriram importância psicológica para a estrutura de
caráter; estabelecem recompensas para traços específicos, que se transformam em
incentivos para um novo estilo de administração econômica. Como as organizações
religiosas, as seitas são destinadas a estabilizar tais tipos de personalidade em uma elite
organizada. Sua conduta e religiosidade podem ser propagadas e desenvolvidas. O
resultado final dessas mudanças – isto é, os fatores decorrentes do êxito do capitalismo
moderno – não foi nem o procurado nem o previsto por seus pioneiros puritanos.

As evoluções religiosas parecem ocorrer por meio de renovações e secularizações


alternadas. Em conseqüência, temos a grande renovação do Protestantismo na
Inglaterra, durante o fim do século XVIII, quando o movimento Metodista surgiu,
pondo fim à alegre Inglaterra do período da Restauração. Também o Catolicismo teve
suas renovações, sem a mais importante o movimento de fervor religioso da Contra-
Reforma, dirigido pelos Jesuítas, que reconquistou os protestantes do Sul e Sudeste da
Europa, deixando apenas grupos dispersos de calvinistas e luteranos na Hungria e na
Romênia, que foram eliminados pelo avanço do Exército Vermelho, durante a Segunda
Guerra Mundial.

Os movimentos renovadores de católicos e protestantes se deram no final da época


napoleônica. Os intelectuais românticos converteram-se ao Catolicismo graças a
Metternich e, atualmente, testemunhamos os esforços bem sucedidos dos católicos no
sentido de conquistarem intelectuais e personalidades influentes da elite.

O comportamento do convertido merece atenção especial, porque seu ardor torna-


se particularmente intenso. Ele pode ser motivado mais pelo ressentimento contra a vida
que abandonou, do que por uma identificação positiva e fraterna com o novo credo que
agora abraça. Tertuliano é sempre citado como exemplo desse cristianismo ressentido.
O conceito de ressentimento, segundo a interpretação de Nietzsche, se baseia na
afirmação de que o cristianismo não é senão a revolta dos escravos da moral, no sentido
de que, uma vez lhes sendo negada a agressão direta, esses escravos deveriam reprimi-la
e, desse modo sublimá-la através de um desejo de agressão retardada ou de vingança.
Por sua vez, este desejo de agressão tornando-se consciente, é reprimido, porém sobre
um outro ponto de vista, isto é, de uma valoração talvez mais elevada, resultante de uma
transposição de valores. Não mais se consideram como tipos de homens de valor, os
fortes, os altivos ou os poderosos, mas os que herdarão a terra, os humildes, os
sofredores e os mansos. São os marginalizados e os desprezados deste mundo os
amados por Deus.

Segundo esta teoria, os virtuosos, por condescendência, podem antecipar a triste


sorte dos ímpios e dos injustos – o destino que Deus lhes está preparando para o Dia do
Juízo Final, ou o Dia do Julgamento cantado pelos Cristãos. Considerando desta forma
a fraternidade e o amor cristão como uma compensação pela agressão coibida,
Nietzsche adota a hipótese de Hobbes, segundo a qual a natureza humana é
originalmente má e agressiva, e que a profissão de amor é uma derivação compensatória
do ódio e da agressão frustrada.

Tanto na tradição judaica, como na cristã podemos distinguir facilmente os traços


do ressentimento humano. Contudo, a explicação de todas as complexidades destas
religiões, em termos de ressentimento, impõe-nos redução dos valores prioritários
específicos e se seus Ethos a uma tendência naturalista relativa à natureza do amor. Max
Scheler justapõe, de forma convincente, a concepção cristã do amor a concepção dos
gregos da Antigüidade sobre o eros. Os filósofos gregos conceberam o amor em termos
da ausência de consciência: os homens deveriam dedicar o seu escasso amor aos
homens e aos valores que mereciam ser amados. Por este motivo, deveriam preferir os
valores mais altos, assim como os mais elevados tipos humanos, em lugar dos
inferiores. O conceito cristão de um Deus amoroso, em contraste, baseia-se na
suposição de que o amor é infinito. Nem o Deus, nem o cristão amoroso estão à procura
de algo superior, de forma competitiva; ambos exaltam e oferecem amor e misericórdia
infinitos à criatura que erra e possui suas fraquezas. Trata-se da concepção prenunciada
pela esperança de Isaías em nova aliança com o Deus misericordioso, que terá em conta
"não a circuncisão da carne, mas a do coração". Isto foi também predito por Isaías em
sua visão do Servo de Jeová. Portanto, o amor, segundo o Cristianismo, não é um
impulso limitado pela natureza, mas um ato espiritual e psíquico.

A importância da ordem religiosa para as demais ordens depende dos princípios


estruturais da religião em questão e, particularmente, da natureza compulsória ou
voluntária da mesma. A sociedade democrática norte-americana, por exemplo, com suas
inúmeras organizações voluntárias, é em grande parte, originária do Puritanismo e da
multiplicidade de seitas. No outro extremo, encontramos o Estado e a Igreja dirigidos
por um único homem, que combina os papéis de sumo sacerdote e imperador. É o
Cesaropapismo exemplificado pelo mikado japonês, pelo imperador confuciano da
antiga China, pelos imperadores romanos depois de Augusto, pelos Czares russos
posteriores a Pedro, o Grande, ou os príncipes luteranos alemães.

A mais antiga e ampla estrutura religiosa do Ocidente, a Igreja Católica Romana, é


dirigida pelo Papa, que é eleito por unanimidade, por um colégio de setenta cardeais. O
Papa justifica seu direito de catolicidade, ou seja, de autoridade universal, pelo dogma
da sucessão apostólica a partir de Pedro, o primeiro Bispo de Roma. A estrutura
autoritária desta organização sacerdotal, entretanto, acomodou-se à democracia
constitucional. Se o Estado ataca a Igreja, esta, provavelmente participará da ordem
política de forma ativa, prestando seu apoio à organização de um Partido Católico,
como ocorre na Alemanha, na Itália, na Bélgica e em outros países europeus. Se o
Estado não institui nas escolas e universidades públicas, o ensino religioso, a Igreja
organiza uma escola paroquial, até em nível universitário, como nos Estados Unidos,
onde 15% da população estudantil está matriculada nessas escolas católicas. Os monges
e as freiras competem em igualdade de condições com os mais custosos professores
leigos. Quando a ordem legal permite a livre acumulação de propriedade, a Igreja pode
fazer crescer a sua riqueza.

Nas cidades grandes, onde a Igreja Católica controla a maioria dos votos, a
"separação oficial entre o Estado e a Igreja" existe, de certo modo no nível municipal.
Os subsídios diretos ou indiretos são distribuídos sob diversos títulos. Nos Estados
Unidos, o Catolicismo foi, a princípio, uma religião de imigrantes plebeus descendentes
de irlandeses, alemães, italianos e polacos. Durante as últimas décadas, entretanto,
incorporaram-se às suas fileiras elementos de instrução e grandes posses, que exercem
enormes influências nas decisões políticas, internas e externas. O acordo entre o Partido
Democrata, o clero católico e os sindicatos, sob a presidência de Franklin Roosevelt, é
uma coalizão política bem conhecida. Diante dos ataques, a Igreja Católica reclama para
si, naturalmente, os direitos e as liberdades democráticas; porém quando representa a
grande maioria da população, não concederá às minorias protestantes o direito ao
proselitismo. As lutas e tensões na Itália, na Espanha e na Colômbia, constituem
exemplos recentes deste fato. Na França, por duas vezes, a Igreja Católica, foi separada
do Estado: primeiro, durante a Revolução Francesa, e depois sob a coalizão de
Millerand entre socialistas e burgueses liberais, em 1904-05. No governo Petain, o
poder da Igreja foi estabelecido, medida esta honrada pelos governos de após-guerra.

Quando as autoridades religiosas assumem a administração do Estado, tem lugar


uma teocracia. Exemplo famoso no mundo são as teocracias da antiga Jerusalém, sob a
direção de Esdras e Neemias, e mais tarde sob os Fariseus; o governo de Calvino, em
Genebra, o dos Puritanos nas colônias da Nova Inglaterra e o governo jesuítico no
Paraguai, durante os séculos XVII e XVIII.

O cristianismo Ocidental caracteriza-se pela freqüentes tensões com as autoridades


políticas, com os poderes econômicos e com os movimentos militares, científicos,
filosóficos e artísticos, em várias épocas. Assumiu posições tanto revolucionárias como
conservadoras, em períodos e contextos distintos. Por isso, as generalizações sobre as
orientações políticas do cristianismo negligenciam ou ignoram os aspectos e
ramificações importantes de suas várias adaptações às estruturas sociais do ocidente.
Como observou Hegel:

"A religião Cristã tem sido reprovada e exaltada por sua compatibilidade com os
mais variados costumes, personalidade e instituições. Nasceu na corrupção do Estado
Romano; tornou-se dominante quando da agonia de seu declínio, e é difícil entendermos
como o Cristianismo suportou esse queda. Pelo contrário, a queda de Roma expandiu o
âmbito do domínio Cristão, aparecendo na mesma época como a religião dos bárbaros,
totalmente ignorantes e selvagens, mas completamente livres, e também dos romanos e
gregos que nessa época eram supercivilizados, subservientes e imersos nos subterrâneos
do vício. Foi a religião dos Estados italianos, no período mais refinado de sua licenciosa
liberdade, na Idade Média; das sóbrias e livres repúblicas suiças; das monarquias mais
ou menos moderadas da Europa moderna; igualmente dos servos mais oprimidos e dos
seus senhores que freqüentavam uma só Igreja. Guiados pela Cruz, os espanhóis
assassinaram gerações inteiras na América, pela conquista da Índia, os ingleses
cantavam ações de graça cristãs. O Cristianismo foi a fonte dos mais notáveis
movimentos das artes plásticas, e deu origem ao grande edifício da ciência. Ainda em
sua honra, as belas artes foram banidas e o desenvolvimento da ciência foi considerado
uma heresia. Em todos os climas, a árvore da Cruz cresceu, criou raízes e frutificou.
Cada alegria na vida tem sido ligada a esta fé, ao mesmo tempo em que a mais
miserável tristeza nele tem encontrado seu alimento e a sua justificação".

5. O FENÔMENO RELIGIOSO, COMO FATO SOCIAL.

Nenhuma ciência, nem se quer empírica, pode iniciar seu trabalho sem ter antes de
tudo delimitado o campo da sua observação científica ou – o que diz a mesma coisa –
sem ter dado uma definição ao menos provisória, nominal do fenômeno por ser
estudado. Assim, também a organização dos estudos sociológicos sobre a religião está
condicionada pela necessidade primordial de procurar estabelecer quais fenômenos
devem ser considerados como religiosos, isto é, traçar uma linha de demarcação
preliminar entre fenômenos religiosos e não religiosos, o que, porém, não se dá sem
uma definição histórica, objetiva e nominal da religião em si. Convém salientar, neste
lugar, a importante diferença que distingue a definição preliminar de religião da
determinação do fato social religioso, que é um dos objetos principais da sociologia. Até
aqueles sociólogos que não querem discutir a tese, segundo a qual a sociedade seria o
valor supremo ou a fonte primária dos valores, sustentam que é na vida e pela vida em
sociedade que os valores humanos se determinam. "A sociedade não é a fonte dos
valores; é a fonte da emergência dos valores e da sua chegada à consciência."

Neste sentido a definição puramente provisória da religião fornecerá uma simples


hipótese de trabalho, que poderá ser corrigida, confirmada ou completada durante e
após os estudos sociológicos sobre uma das religiões. Aliás, esta é uma razão a mais
para propormos, como ensaio, a elaboração da sociologia de cada religião ou a
sociologia de diversas religiões e não da religião em si, porque a definição nominal de
religião não pode ser tomada como sinônimo em todas, pois o máximo que tal definição
poderá indicar são os elementos primários e secundários, não porém os elementos
essências e acidentais dela. De outro lado, porém, não podemos ocultar a nossa
convicção e esperança de que a elaboração minuciosa da sociologia, bem como da
história e da psicologia, de cada religião, poderá contribuir poderosamente para uma
definição real e essencial da religião em si (papel primordial da metafísica) que, com
toda certeza, levará em conta na redação de suas conclusões últimas a hipótese –
segundo a nossa fé: a certeza de uma revelação sobrenatural. Por enquanto, "somente
em dois casos, a expressão 'história da religião’ou outra formulada deste gênero poderia
ser empregada sem pressupor uma solução filosófica: a saber, se se estabelecesse que
todas as religiões derivam de uma religião única, cujas transformações a história se
proporia a demonstrar – ou ainda se se demonstrasse que todas, embora independentes
quanto às suas origens, tem o mesmo princípio, o mesmo fundo; brevemente: sejam na
realidade uma única e mesma coisa. Pode-se deixar as suas ilusões caras e a seus
métodos que estimariam desde agora, estas duas questões reguladas por uma
afirmativa". A sociologia comparativa da religião somente pode ser concebida como a
coroa das sociologias especiais de cada religião. Sugerimos escolher, antes de tudo, uma
definição nominal prudente, mas bastante larga e compreensiva, aplicável a todas as
religiões, na moldura da qual cada religião, cada fórmula de religiosidade individual ou
social possa reivindicar para si a definição que seus distintivos característicos indicam.
Aliás, é condição da ciência empírica: aceitar o testemunho dos fatos, no nosso caso a
consciência que cada religião tem de si mesma e da importância que atribui a seus
elementos e suas diversas formas de manifestação.

Preocupados por encontrar a definição nominal, empiricamente objetiva da


religião, devemos abordar, exclusivamente, a questão de fato e deixar de lado as
questões de direito da religião, recorrendo ao sentido que lhe dava o uso geral de outras
épocas, em foco, por disputa, os grandes problemas de direito, como a origem, a
essência e o valor da religião, ofuscando, dessa maneira, o sentido comum.
Reconhecemos que o uso não revela todos os aspectos e matizes do fato religioso,
principalmente aqueles que estão escondidos nas profundezas psicológicas da alma
humana. Mas no momento não se trata de descobrir os traços mais sutis e finos; trata-se
apenas de discernir, grosso modo, os comportamentos religiosos dos não religiosos.
Para cumprir esta tarefa servem otimamente a linguagem e o uso, pois que "por novas
atitudes se criam novas palavras e, sem saber ainda se umas e outras são racionais ou
ilógicas, sãs ou mórbidas, pode-se ter certeza sobre tudo se o uso lhes opões com
insistência, que elas são propriamente revertidas.
Portanto, a primeira indicação do sentido tradicional histórico da religião pode vir
da etimologia. É interessante notar que as línguas modernas não têm palavra própria
para designar a noção de religião, muito provavelmente por causa da dificuldade de
achar uma expressão adequada do todo deste fenômeno complexo e sublime. Mesmo a
significação da palavra original latina "religio" que passou a ser adotada em todas as
línguas modernas é discutida ainda hoje e parece exprimir univocamente a essência do
fenômeno religioso.

A etimologia indica um aspecto subjetivo e objetivo da religião e alude a natureza


individual e social da obrigação religiosa, contudo deixa aberta a questão sobre a
natureza do objetivo da ligação. O fato de o Cristianismo ter endossado a palavra
"religião demonstra, segundo F. Koenig, que o Cristianismo quis dar-lhe um sentido
essencialmente outro que tinha na civilização romana: a piedade e a devoção dos
homens para com as potências sobrehumanas do além". Este fato diz ainda mais para
nós: na moldura de uma definição nominal, provisória e histórica mesmo as supremas
formas da religião podem encontrar seu lugar, aprofundando, alargando e esclarecendo
ou especificando seus termos. Com efeito, a contribuição do Cristianismo para o
aprofundamento desta definição nominal consiste, justamente, em especificar o objeto e
a natureza da ligação religiosa, estabelecendo a dependência total do homem em relação
a Deus pessoal pela sua doutrina sobre a criação do homem a imagem e semelhança de
Deus.

Sendo a significação de religião a questão fundamental de todas as disciplinas das


ciências religiosas, cuja literatura é enorme e cujos problemas são os mais complicados,
cumpre notar, que nós a abordamos aqui apenas para fundamentar metodologicamente a
organização dos estudos sociológicos sobre as religiões. Para tais finalidades basta
mencionar que o uso geral, como o atesta, de um lado, a nossa própria consciência em
constante intercomunicação e interdependência com a consciência do nosso ambiente e,
de outro lado, a história das religiões sob a noção da religião entende "a relação entre o
homem e a potência sobrehumana "ou "a comunicação com o mundo sobreterreno,
como a intromissão acreditada e compreendida de uma nova, completamente outra
realidade na nossa vida". Esta potência sobrehumana, o objeto da ligação religiosa
segundo Fr. Koenig, "não é impessoal" e segundo Pinard de la Boullaye é "uma
realidade objetiva ou, ao menos, concebida como tal, única ou coletiva, mas suprema
em alguma medida e pessoal de alguma maneira, que, conseqüentemente, introduz uma
relação de dependência a ser reconhecida individual e socialmente da mesma forma. A
esta afirmação que envolve diversos problemas de alcance, relativos à organização dos
estudos sociológicos sobre as religiões, devemos parar por um momento. É interessante
notar que mesmo Pinard de la Boullaye, na primeira edição de sua obra clássica ainda
concedeu que o objetivo da ligação religiosa pode ser uma realidade objetiva pessoal ou
impessoal. Até mesmo, na segunda edição revista da sua obra não existe mais de que "o
divino seja concebido em alguma maneira segundo o tipo da pessoa humana"
declarando-se estar de acordo com os etnólogos segundo os quais a noção de
personalidade não implica, de maneira alguma, do ponto de vista psicológico, a da
espiritualidade, nem a da imaterialidade, no sentido destas duas palavras". Pinard de la
Bollaye chegou à conclusão de que não se poder deixar incluir a noção de
personalidade, ao menos nesta forma menos apurada, na definição do divino, porque a
noção da superioridade, do extraordinário, do sobrenatural, do sagrado pode ainda
suscitar as idéias e sentimentos de respeito, admiração dependência; mas se se eliminar
a noção da personalidade, desaparecerá a do dever e da obrigação, - notas distintivas da
atitude religiosa – que não podem existir senão entre sujeitos conscientes. Além do
mais, desaparecem, neste caso, as relações de benevolência, de amizade ou as relações
contrarias que apresentam às almas religiosas nas religiões mais caracterizadas, os
atrativos ou estimulantes manifestadamente mais poderosos. Segundo Pinard de la
Boullaye a noção da personalidade, na sua definição do divino, implica em suma duas
coisas: a individualidade e a consciência (religiosa).

O nosso problema no momento, é de tentar discernir, empiricamente, através de


uma definição provisória, nominal, histórico-tradicional o fato religioso dos demais
fatos sociais para sabermos qual é o fenômeno por ser submetido aos métodos da
investigação. Se aceitamos a tese, segundo a qual o divino, isto é, o objeto da ligação é
uma realidade suprema em alguma medida e pessoal de certa maneira, então, devemos
excluir do domínio religioso, tomado a rigor, não somente a magia, mas também tais
fenômenos primitivos em cuja companhia a magia geralmente aparece como o
animismo, totemismo; e além desses tais fenômenos como o budismo, na sua forma
autêntica e primitiva, que não passa de uma "filosofia prática, uma espécie de
terapêutica mental ou de 'Mind cure', e todas as formas da 'Ersatzreligion' que
pretendem substituir as religiões tradicionais pelo culto da beleza, da humanidade, da
ciência, do progresso, da raça, da classe."

Não há dúvida a cerca do caráter não religioso da magia, porque essa, ao menos na
época histórica, aparece em relação não com Deus ou com deuses superiores, mas com
poderes sub alternos e, por isso, produz no homem não o reconhecimento da sua
dependência, muito pelo contrário, o induz a aproveitar essas forças difusas e ocultas
para diversas manipulações, no sentido de assegurar o seu destino temporal e eterno.
Essa distinção da magia e religião ficou reconhecida aliás, também, pela escola
sociológica francesa. De outro lado, porém, vale a pena lembrar o que Paul Schebesta
escreve: "Realmente, ninguém argumentou contra o dinamismo(magismo) com tanta
erudição e perspicácia como W. Schmidt pelo que ele podia corrigir em certas teorias
falsas. Ele incontestavelmente tem razão quando recusa aceitar a magia como a origem
da religião; entretanto, se deve reconhecer aos teoréticos da magia, que a crença na
nessa estende-se até as raízes da humanidade ou, como nota com muito acerto Sidnei –
Hartland, que a magia e a religião são dois lados de uma medalha. Os fatos etnológicos
mostram que a crença na magia existe já entre os povos mais antigos , embora a
importância dela seja variada. Por tanto achamos que a magia, fenômeno por excelência
areligioso, mas que acompanha muitas vezes a religião dos primitivos, não pode ser
negligenciada por aqueles que pretendem instituir um inquérito completo sobre todas as
religiões. Em todo caso, o professor Gabriel le Bras sugerindo seu plano geral para um
inquérito sobre os sistemas religiosos, na categoria de "forças", distingue forças
"pessoais" como Deus, divindades, gênios e "difusas": no ar, na terra, um mundo animal
e vegetal e na categoria de "contratos" indica, no primeiro lugar um estudo sobre a
"exploração do oculto(magia)." Muitas vezes um lado da medalha pode esclarecer
aspectos menos claros da significação do outro.

Além do mais, a indicação acima citada de Gabriel le bras dificilmente permite


deixar de lado, nas análises comparativas e sociológicas do fato religioso, tais
fenômenos como o animismo e o totemismo. Onde o animismo é um fenômeno
secundário, complementar e emprestado, que se esgota na crença das almas, ao
conhecimento das quais chegam pela observação da morte e dos sonhos e na concepção
da esfera dos mortos. E o totemismo é uma crença especial, encarnada em certos usos
coletivos especiais, a crença, familiar em certas sociedades de civilização inferior, em
virtude da qual um grupo de homens se considera solidário com uma classe determinada
de objetos naturais, cujo nome usa geralmente.

Esta nossa opinião vale ainda mais no que diz respeito ao budismo original. Neste
contexto vale a pena lembrar que a posição das ciências religiosas, relativa à forma
original do budismo na nossa época, não é mais tão clara e unânime como tinha sido
anteriormente, no sentido de recusar aceita-la como religião por faltar nela a noção de
Deus. W. Koppers e C. Regamey, por exemplo representam a opinião segundo a qual
seria necessária certa reabilitação do budismo original e mais aprofundada análise das
inscrições do tempo de Rei Asoka (séc.II a.C.), o que poderia provar que as concepções
carentes sobre a doutrina de Buda ficavam alteradas e desfiguradas pelo bramismo-
hinduísmo. Regamey não acha improvável que o budismo original tenha conhecido uma
espécie de crença num deus superior. Entretanto, mesmo se o budismo original não
tivesse passado de uma simples terapêutica mental seria interessantíssimo submetê-lo a
uma análise sociológica, porque fatores sócio-religiosos da sociedade indiana e chinesa
contribuíram para a sua transformação no sentido de um politeísmo sincretista. Este
também é o caso das assim chamadas "Ersatreligions" substitutivos da religião ou
religiões análogas que – como o mesmo nome indica – não podem ser consideradas a
rigor religião; mesmo assim, são capazes de mobilizar as forças religiosas, individuais e
sociais do homem, justamente porque aparecem em formas individuais e sociais,
análogas às da religião. Uma vez que não podemos excluir a hipótese de que a
sociedade, quer primitiva, quer mais civilizada,seja capaz de desvirtuar o fenômeno
social da religião o conteúdo propriamente religioso, tomado a rigor (animismo,
totemismo) e revestir de formas analogicamente religiosas idéias filosóficas e sociais, a
definição nominal e provisória da religião, que tem de servir de base aos estudos
sociológicos sobre a mesma, deve ser bastante larga e elástica. Tais estudos sociológicos
iluminam a estrutura e a vitalidade de cada religião, formadas parcialmente em função
da sociedade, explicando através das formas também analógicas da religião as causas
sociais das desfigurações estruturais e vitais do fenômeno religioso. De outro lado,
temos a forte convicção de que os trabalhos sociológicos iniciados, tendo como base
uma definição nominal e provisória larga, contribuirão para a definição real, discernindo
o elemento humano, psicológico e social do divino, do sagrado, no sentido de uma
potência verdadeiramente sobrehumana e pessoal. Portanto, se não quisermos
abandonar a definição por normas metafísicas, que poderia otimamente servir de base
para os estudos sociológicos sobre a religião, devemos aplica-la com certa elasticidade,
para a qual encontramos pontos de indicação nela.
6.CONCLUSÃO.

Concluímos percebendo que a existência de um deus é uma necessidade ao ser


humano que vê na crença religiosa uma fuga à sua própria imperfeição; uma tentativa de
explicar suas limitações quanto ao conhecimento e ao controle da natureza e dos
fenômenos naturais. ‘Há um ser perfeito, mas não sou eu!’

Aos poucos, essas explicações foram adquirindo mais e mais características


peculiares e difusas, gerando ramificações e dicotomias que resultaram em instituições
fortes e dogmáticas cujo poder chegou a dominar nações inteiras durante séculos.

Assim, as ordens religiosas abrangem todas as instituições pelas quais os homens


organizaram um culto coletivo a um ou mais deuses, em ocasiões regulares e locais
fixos. No comportamento religioso, os homens usam meios sobrenaturais, como orações
e sacrifícios, na tentativa de alcançar fins igualmente sobrenaturais. Promovendo, a
religião, a salvação pelo sofrimento ou, como nas religiões orientais, o misticismo, uma
fusão com o ser supremo.

Percebemos também que, embora a influência das religiões sobre a sociedade


venha sobrevivendo aos avanços científico-tecnológicos, muitos de seus dogmas vêm
sendo contestados; o que muitas vezes gera adaptações, além de a criação de inúmeras
novas seitas que melhor correspondam aos anseios dos fiéis. E que, ao longo de toda sua
história, a Religião diversificou-se tanto, que não encontra para si uma definição
nominal; sendo necessária uma viagem no tempo para tentar compreender de fato qual o
significado desta instituição e o porque de seu poder; já que ainda, em muitos lugares,
ela é considerada algo supremo e incontestável que, por ela, fiéis matem e morram sem
pestanejar.
REFERÊNCIAS

1. http://ceticoslivresateus.forumeiros.com/a-influencia-das-religioes-na-
sociedade-f1/
2. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
85872009000200009&script=sci_arttext
3 http://sociologando.wordpress.com/2008/06/04/religiao-e-sociedade/
4 www.renascebrasil.com.br/f_religiao.htm
5 http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/cr

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