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Texto 5

Por um mundo ecologicamente justo


Luiz Carlos Susin
Secretário executivo do Fórum Mundial de Teologia e Libertação

O sonho de um mundo azul e verde, com florestas e rios como pulmões e veias
saudáveis de um corpo gerador de vida, não é apenas um sonho. Por outro lado, não se
reduz à política ou à economia. Para manter a saúde do planeta é necessário tornar
saudável a nossa mente, atingindo os arquétipos mais profundos que a constituem. Se
não houver uma mudança de rumo urgente e planejada na educação e na sensibilidade
humana, o sonho de um futuro bom para o planeta se arruína. A psique humana, de fato,
tem recursos para que o ser humano seja na terra anjo guardião da vida ou se torne o
demônio devorador de toda forma de vida. Os sinais de agonia cada vez mais globais da
terra revelam o lado terrível e demoníaco do ser humano. Mas precisa ser assim?

É claro que o Fórum quer ser um espaço de convergência de palestras, oficinas,


comunicações de experiências e estudos que revelem as possibilidades de um mundo
ecologicamente justo, sustentável. A sustentabilidade não pode ser, no entanto, pensada
somente em termos de economia e de política. Necessita de espiritualidade que atinja a
psique humana e a transforme de diabólica em angélica, portadora de cuidados e não de
violação. Há povos, culturas, tradições, mesmo sob as cinzas da cultura ocidental
dominante e predatória, que sabem manter equilíbrio e harmonia com as suas ecologias.
O retorno da sacralidade e da inviolabilidade, dos limites e das necessárias renúncias,
que as tradições religiosas sedimentaram na psique humana, se torna agora um retorno
necessário. Pode parecer uma mistificação ou alguma forma de impostura e barganha
por parte das religiões, mas, na verdade, é a sua contribuição para um “re-
encantamento” absolutamente necessário.

Em Belém, os participantes do Fórum vão escutar alguns conferencistas: os


brasileiros Leonardo Boff e Marina da Silva, os cientistas franceses Michel Dubois e
Patrick Viveret, as americanas da teologia feminista Emilie Townes e Mary Hunt, a
coreana Chung Hyun Kyung, o indiano Felix Wilfred, o sul-africano Steve DeGruchy, a
matriarca de Gana, Mercy Odudoye, o uruguaio Gillermo Kerber por parte do conselho
Mundial de Igrejas. De diferentes denominações cristãs, teólogos e teólogas, cientistas,
pesquisadores, militantes políticos, o que une a todos é uma espiritualidade conectada a
conhecimentos que podem inspirar formas de vida ecologicamente justas e saudáveis. O
fórum é constituído principalmente de quarenta oficinas e comunicações simultâneas
lideradas por grupos e organizações que se inscreveram e as oferecem à escolha dos
participantes. Nelas é possível uma participação mais interativa, um exercício do que se
sonha e se quer para corresponder a uma criação divina. Cultura amazônica, tendas de
rituais, café teológico para múltiplas iniciativas complementam o conjunto do fórum.
Quem for não só verá, poderá levar adiante o que verá.

É que o Fórum é um processo em forma de teia, uma integração na grande teia


que desenha o novo paradigma de comunicação, de pensamento e de ação atualmente.
Quem participa do Fórum Mundial de teologia e Libertação é convidado a participar
também ativamente no Fórum Social Mundial para integrar energia e convergir esforços
para as mudanças necessárias. Vai ser necessário continuar acreditando que outro
mundo é possível, que o mundo que somos atualmente precisa se transformar. Somente
os “vencedores”, os que lucram com a situação atual do mundo, podem pretender
desacreditar que outro mundo é possível. Mas a atual crise global deixa claro que não
haverá vencedores se continuarmos pelo atual caminho. Hoje a grande oprimida que
precisa ser liberta por primeiro, que se tornou sinal – “sacramento” – de salvação ou
perdição, é a Terra com toda a teia ecológica que a compõe. A teologia não poderia ficar
do lado de fora. Seria infiel a si mesma e ao seu sagrado “objeto” de conhecimento, o
próprio Criador, se ficasse indiferente à Criação.

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