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UNIDADE III – PRINCÍPIOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR

1. Regras e princípios
Normas jurídicas: regras e princípios.
Regra: norma cuja hipótese de incidência é facilmente perceptível.
Princípios: normas com alto grau de generalidade que atuam como mandados
de otimização. São normas de interpretação e norma-gênese (dão origem a outras
normas).

2. Princípios do Direito do Consumidor


Os princípios do Direito do Consumidor visam a auxiliar na interpretação das
normas que regulam as relações de consumo e os contratos de consumo.

O art. 4º do CDC trata do sistema de proteção do consumidor. Neste artigo, o


código menciona alguns princípios do Direito do Consumidor, bem como estabelece
programa de ação por parte do Poder Público com a finalidade de proteção do
consumidor.

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua
qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995).
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:
a) por iniciativa direta;
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;
c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de
qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos
quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com
base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus
direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;
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V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de


qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos
alternativos de solução de conflitos de consumo;
VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado
de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e
criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que
possam causar prejuízos aos consumidores;
VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;
VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo.

2.1. Princípio da vulnerabilidade


Art. 4º, I.
Trata-se do princípio base da matéria do Direito do Consumidor, pois a própria
existência da matéria (Direito do Consumidor) e do CDC é pautada no
reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor. Trata-se de uma presunção
legal absoluta, ou seja, todo aquele que se enquadra no conceito legal de
consumidor presume-se vulnerável.
Se a pessoa foi enquadrada no conceito de consumidor, ela é presumida
vulnerável.
Ora, como se vem afirmando o consumidor é a parte mais fraca (vulnerável)
da relação jurídica de consumo. É o consumidor quem está exposto às práticas
comerciais do fornecimento do produto. O fornecedor é quem detém o controle do
mercado, na medida que é ele quem escolhe o que produzir e como produzir. É o
fornecedor quem fixa as margens de lucro. É o fornecedor quem estipula as
condições de venda e crédito. É o fornecedor quem estabelece inclusive as
estratégias de marketing. Assim, nada mais factível que o consumidor esteja à
mercê do mercado, sendo portando vulnerável a todo tipo de prática comercial.
Diante do reconhecimento dessa vulnerabilidade, é que nasce a necessidade
de um ramo do Direito de proteção a esse sujeito vulnerável, que o Direito do
Consumidor. Por isso é que se diz que o princípio da vulnerabilidade consiste na
razão de existência do próprio Direito do Consumidor e do CDC.

a) Espécies de vulnerabilidade:
- Vulnerabilidade técnica: ocorre quando o consumidor não possui
conhecimentos técnicos especializados sobre o produto ou serviço que adquire.
Tem-se, portanto, uma relação jurídica de consumo desigual. De um lado, o
fornecedor que detém o conhecimento técnico e, de outro, o consumidor vulnerável
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ao aproveitamento, por parte daquele, de sua ignorância. Ex: leigo que deseja
comprar um computador; leigo que deseja consertar o carro.
Se o consumidor tem conhecimentos técnicos são poderá, depois, argüir que foi
ludibriado.

- Vulnerabilidade jurídica/ científica: falta de conhecimento pelo consumidor


dos direitos e deveres relacionados à relação de consumo. Falta de conhecimento
acerca das cláusulas do contrato. Muitas vezes, o contrato fornece vários direitos ao
consumidor e este não os utiliza porque não é sabedor dos seus direitos. Muitas
vezes, o consumidor não sabe de seus direitos, porque as cláusulas foram mal
redigidas. A vulnerabilidade aqui também decorre da falta de conhecimento em
economia ou contabilidade, o que dificulta, por isso, o entendimento do contrato.
Ex1: contrato de seguro. Dá direito à assistência de casa. Muitos não utilizam do
serviço porque não sabem. Troca de pneu etc. Ex2: contrato de financiamento de
carro, o consumidor pode ser advogado e entender dos aspectos jurídicos do
contrato, mas não entenderá do aspecto econômico e contábil.
Se o consumidor é um profissional que tem conhecimentos na área que está
contratando, sua vulnerabilidade resta diminuída. Ex: bancário que realiza um
contrato com um banco. Ele sabe perfeitamente quais os reais direitos e deveres
decorrentes daquela obrigação.

- Vulnerabilidade fática/ sócio-econômica: abrange outras situações concretas,


como por exemplo a vulnerabilidade econômica do consumidor em relação ao
fornecedor. Em virtude dessa vulnerabilidade econômica, o consumidor está sujeito
a abusos por parte do fornecedor. Ex: a pessoa até entende de telefonia do celular,
entende o contrato e suas cláusulas, mas é vulnerável frente ao poder econômico
da operador de telefonia.

b) Vulnerabilidade agravada
Reconhecimento de que determinadas pessoas são mais vulneráveis que outras.
Ex: crianças e idosos.
Diante desse reconhecimento de que crianças e idosos estão mais expostos às
práticas abusivas, é que se deve proteger com mais intensidade essas categorias, o
que é feito pelo CDC em algumas situações.

Exemplos de proteção ao consumidor, por parte do CDC, daqueles que


detém uma vulnerabilidade agravada:
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- Art. 37, § 2°. É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de


qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se
aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança,
desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se
comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
- Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas
abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) IV - prevalecer-se da
fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde,
conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;

Em relação aos idosos, o eventual inadimplemento de cláusulas contratuais


ocasiona danos mais graves do que em outras espécies de consumidores.
Normalmente, os idosos devido ao seu próprio estado de saúde se irritam com mais
facilidade.

Em razão do reconhecimento da vulnerabilidade agravada do idoso é que o Estatuto


do Idoso, em seu artigo 15, §3º, veda a discriminação do idoso nos planos de saúde
e de aumento em razão da idade.
§ 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de
valores diferenciados em razão da idade.

E a própria lei relativa aos Planos de Saúde também veda aumenta em razão da
idade Lei 9656/98:
Art. 35-E. A partir de 5 de junho de 1998, fica estabelecido para os contratos
celebrados anteriormente à data de vigência desta Lei que: (Incluído pela Medida
Provisória nº 2.177-44, de 2001) I - qualquer variação na contraprestação
pecuniária para consumidores com mais de sessenta anos de idade estará sujeita à
autorização prévia da ANS; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

c) Vulnerabilidade X hipossuficiência
- Hipossuficiência: presente no art. 6º, VIII. Trata-se de um critério de avaliação
do juiz para aplicação da inversão do ônus da prova ou não em favor do
consumidor. Hipossuficiência é a debilidade de que dificulta o consumidor de provar
a veracidade de suas alegações (Bruno Miragem, 2008, p. 62).
Hipossuficiente é aquele que não dispõe de meios econômicos para realização das
provas processuais. A doutrina fala ainda que a hipossuficiência não diz respeito
apenas aos aspectos econômicos (ser pobre), mas também à falta de condições de
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realização de prova, pois não tem como obtê-las (ex: consumidor não apresenta o
contrato porque nunca recebeu cópia).
- Vulnerabilidade: reconhecimento de que o consumidor é a parte mais fraca na
relação de consumido, estando, por isso, sujeito a práticas abusivas por parte do
fornecedor. A vulnerabilidade decorre do simples fato de uma pessoa ser
consumidora, já a hipossuficiência decorre de condições pessoais a ser analisada no
caso concreto.
Todo consumidor é presumido vulnerável, mas nem todo consumidor é
hipossuficiente.

2.2. Princípio da intervenção do Estado nas relações de consumo


Para se promover a defesa do consumidor, faz-se necessária a atuação do
Estado, pois o mercado não possui mecanismos, por si só, de se autoregular e, com
isso, efetivar a proteção do consumidor.
Para promover a defesa do consumidor, o Estado passa a ter um papel ativo
no processo econômico e social.

Neste sentido, a própria Constituição Federal trata dessa intervenção do


Estado no já estudado art. 5º, inc. XXXII.
No mesmo sentido, o CDC prevê a atuação estatal no art. 4º, inc. II, in verbis:

II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:


a) por iniciativa direta (Estado intervindo no mercado de consumo como
agente econômico – Ex: correios – e como fiscal, aditando resoluções e portaria –
Ex: portarias das agências reguladoras);
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas
(ong’s – Ex: IDEC, Associações de Vítimas de acidente de consumo etc.);
c) pela presença do Estado no mercado de consumo (PROCON, DECON etc.)
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de
qualidade, segurança, durabilidade e desempenho (fiscalização- EX: INMETRO).

2.3. Princípio da harmonia


Art. 4º, III, 1ª parte.
O objetivo do Direito do Consumidor consiste na harmonia entre os interesses
do Consumidor e dos fornecedores.

2.4. Princípio da Boa-fé objetiva


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Art. 4º, III, 2ª parte.


O princípio da boa-fé objetiva é considerado um princípio social do contrato.
Não havia previsão expressa pelo Código Civil de 1916, o que foi corrigido pelo
novel Código, mais precisamente pelo artigo 422, in verbis:
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios da probidade e boa-fé.
Atualmente, portanto, o princípio da boa-fé objetiva regula não apenas o
contrato de consumo, mas todo e qualquer contrato.
Mas o que é boa-fé objetiva?
Boa-fé objetiva: consiste em um dever jurídico de lealdade e respeito para
com o outro sujeito. Importa conduta honesta, leal, correta. Boa-fé de
comportamento. Aqui, será observada a conduta leal e não a intenção da parte. Por
mais que a intenção seja boa, se no mundo dos fatos a conduta for considerada má,
considera-se que houve um desrespeito a boa-fé objetiva. Não importa se a pessoa
não tinha a intenção de prejudicar, o que importa é que ela prejudicar e, por este
fato (o prejuízo), considera-se que feriu a boa-fé objetiva.
Boa-fé objetiva consiste em uma conduta normal, que se toma como padrão,
como paradigma. Comportamento reconhecido no mundo social. A pessoa deve
se comportar dentro desse padrão de normalidade. Ainda que a intenção
seja boa, se não se comportar dentro do padrão, não foi atendida a boa-fé
objetiva.
Vale mencionar que a boa-fé objetiva vincula, além do fornecedor, o próprio
consumidor. Boa-fé importa lealdade, inclusive por parte dos consumidores. Ex: o
consumidor que força uma barra para pleitear danos morais ou materiais não age
com boa-fé.
A boa-fé objetiva deve ser respeitada antes, durante e depois do contrato.
Antes: oferta. Durante. Depois: guardar sigilo, por exemplo.

O princípio da boa-fé objetiva possui três funções, quais sejam:


1ª função: função interpretativa.
O princípio da boa-fé objetiva determina uma interpretação do contrato de
consumo de modo a desconsiderar a malícia de alguma das partes, o que é mais
comum, por parte dos fornecedores. Ex: contrato de plano de saúde. É muito
comum que as empresas de plano de saúde coloquem cláusulas lacunosas que
esvaziam a própria razão de existir do contrato. Por exemplo, dizer que o contrato
não cobre o tratamento de doenças infecto-contagiosas, quando o correto seria
elencar as doenças que o contrato não cobre. Isso é má-fé pois o consumidor pensa
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que estaria coberto pelo plano quando não está. Assim, a aplicação do princípio da
boa-fé objetiva afastaria essa cláusula.

2ª função: função integrativa ou criadora de deveres anexos.


O princípio da boa-fé objetiva impõe “deveres anexos” ou “deveres laterais”
ao dever principal do contrato. A violação desse deveres anexos é chamada de
“violação positiva do contrato” ou “inadimplemento ruim”. Ou seja, o objeto
principal do contrato é cumprido, mas os deveres anexos (decorrentes da boa-fé
objetiva) não, o que pode ensejar resolução do contrato.
Deveres anexos: 1) dever de informação; 2) dever de cooperação; e 3)
dever de proteção ou cuidado.
1) Dever de informação: o fornecedor deve informar o consumidor sobre o
produto ou serviço e sobre os seus direitos e obrigações. É a boa-fé objetiva que
impõe um dever de informar qualificado. Informações sobre os riscos, dever de
esclarecimento e de aconselhamento. Ex: indústrias de cigarro.
Exemplo de violação ao dever de informação: compra de TV de plasma. Os
fornecedores não costumam informar que em caso de TV por assinatura com
sistema analógica cria-se uma imagem preta na tela. O consumidor pensa que é
defeito, mas não é. Detalhe o consumidor em muitos casos não é previamente
informado desse efeito, pois se o fosse não efetuaria a compra. Neste caso, houve
uma violação à boa-fé objetiva.
2) Dever de cooperação: o fornecedor deve cooperar com o consumidor no
sentido de mitigar os seus prejuízos. É o chamado “duty mitigate the loss”. Ex1:
nos contratos bancários, em que há altas taxas de juros, o banco não deve
incentivar a inadimplência por parte do consumidor/ devedor. E constatada a
inadimplência, o banco deve cooperar com o consumidor para que suas perdas não
sejam ainda maiores. Ex2: inércia do banco ao constatar a falta de movimentação
bancária do consumidor (cancelamento da conta) em providenciar o encerramento
da conta.
3) Dever de proteção/cuidado: é o dever que pode ensejar a
responsabilidade civil. Ex: aquele que oferece o serviço de estacionamento gratuito
tem a obrigação zelar pela sua segurança.

3ª função: função de controle ou limitadora de direitos


O princípio da boa-fé objetiva controla, limita o exercício de direito. O agente
não pode extrapolar o exercício de seus direitos, sob pena de cometer um abuso de
direito que, atualmente, encontra-se dentro do conceito de ato ilícito (o abuso de
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direito constitui hoje ato ilícito indenizável). Ex: no âmbito das relações de
consumo, o direito de contratar e de estipular cláusulas contratuais é limitado pelo
CDC. Existem cláusulas consideradas abusivas justamente por violarem a boa-fé
objetiva.

2.5. Princípio do equilíbrio


Art. 4º, III, 3ª parte.
Trata-se da busca pelo reequilíbrio da relação jurídica de consumo. A justiça
contratual depende do equilíbrio entre direitos e deveres.
Neste sentido, existem várias normas que visam a restabelecer o equilíbrio.
Normas que elencam as cláusulas abusivas, normas que visam a coibir as práticas
abusivas, normas de interpretação dos contratos em favor do consumidor, normas
relativas à responsabilidade civil.
O princípio do equilíbrio prima pela análise da justeza do contrato. Analisa-se
se a execução do contrato não sobrecarrega uma das partes em detrimento de
outra.

2.6. Princípio da informação/ transparência – relação da informação com a


educação
Art. 4º, IV.
O princípio da informação é indispensável à relação de consumo, pois é ele
que vai assegurar o exercício de vários direitos do consumidor, dentre os quais, o
direito à livre escolha, o direito de acesso à justiça etc. Nesta mesma linha de
raciocínio o princípio da informação consiste em um pressuposto do princípio da
liberdade.
O princípio da informação, como o próprio nome indica, determina que o
fornecedor preste todas as informação necessárias para que o consumidor exerça a
sua liberdade de contratar. Por isso é que se afirma que o princípio da informação é
decorrência do princípio da boa-fé objetiva. Ora, o dever de informar é essencial
para a harmonia das relações de consumo.
O princípio da informação/ transparência pode ser vislumbrado em várias
passagens do CDC. Exemplos: art. 4º, IV; art. 6º, III; art. 31 e outros vários. Na
verdade, o princípio da informação é um guia do CDC.
Para realização do princípio da informação, importante papel possui a
educação. É exatamente por este motivo que a informação é colocada ao lado da
educação do art. 4º, IV, do CDC. Assim, a educação tem um papel preponderante
para auxiliar os consumidores a tomarem conhecimento de seus direitos e, com
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isso, efetivá-los. A educação do consumidor pode ser realizada mediante a


educação formal (escolas e faculdades) ou informal (campanhas publicitárias,
políticas públicas de educação do consumidor mediante o uso de cartilhas, debates
etc.).

2.7. Princípio do Incentivo ao Autocontrole


Art. 4º, V.
De acordo com este princípio o Estado deve incentivar que os próprios
fornecedores tomem medidas de exercer um controle de qualidade de seus
produtos ou serviços (1º aspecto), bem como tomem medidas de solucionar os
conflitos com os consumidores (2º aspecto).
Ex: SAC, recall, solução dos problemas mediante simples reclamação dos
consumidores.
Vale mencionar que, hoje, o conceito de qualidade não consiste em tão
somente na adequação às normas de fabricação; qualidade, hoje, consiste em
algo mais amplo, consiste na satisfação dos consumidores.
Hoje também existem os programas de qualidade total (ISO’s), que devem ser
incentivados pelo Estado. É disso que o princípio do Incentivo ao Autocontrole trata.

2.8. Princípio da coibição e repressão de abusos no mercado


Art. 4º, VI.
Este princípio consiste, na verdade, na consagração de todos os princípios da
ordem econômica (art. 170, CF). Trata-se de um princípio de proteção ao mercado e
não do consumidor propriamente dito. Ocorre que a proteção do mercado, em
última instância, finda por proteger o próprio consumidor.
- Coibir concorrência desleal: protege o mercado, mas o consumidor ganha
com isso, pois a estabilidade do mercado faz com que os preços tendam ao
equilíbrio.
- Proteção das marcas: protege a propriedade industrial, mas o consumidor
também é favorecido por evitar “comprar gato por lebre”. Uma empresa não pode
usar uma marca semelhante a de outra, ao ponto de ludibriar o consumidor.
- Quando se evita e se pretende coibir abuso do poder econômico protege em
última instância o consumidor.

2.9. Princípio da racionalização e melhoria dos Serviços Públicos


Art. 4º, VII.
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O Poder Público quando atua como fornecedor de um produto ou serviço


(transporte público, energia, correios etc.) deve respeitar os direitos dos
consumidores.

2.10. Princípio do Estudo das Modificações do Mercado


Art. 4º, VIII.
Em virtude da permanente evolução social, faz-se necessário o constante
estudo das modificações do mercado, com fins a proteger o consumidor. Ex:
mercado eletrônico.

2.11. Princípio da solidariedade/ função social dos contratos


O princípio da solidariedade está previsto expressamente no novo Código Civil
e implicitamente no CDC. Vale lembrar que a construção de uma sociedade
solidária consiste em um objetivo da República Federativa do Brasil, elencado pelo
art. 3º, da CF. Assim, a solidariedade consiste em um dever ético imposto a todos
os membros da sociedade brasileira.
Paulo Lôbo considera que o CDC é a própria regulamentação da função social
do contrato.
Este princípio impõe a necessidade de se observar os reflexos da atuação
individual perante a sociedade. Determina o princípio da função social do contrato
que os interesses individuais das partes sejam exercidos em conformidade com os
interesses sociais. Neste sentido, a defesa do consumidor tem reflexos sociais que
vão além da proteção do mais fraco na relação jurídica de consumo.
Por este princípio, deve-se observar os efeitos do contrato não apenas em
relação aos contratante, mas também em relação a terceiros e em relação ao
mercado.

Direitos fundamentais do consumidor que são normas principiológicas, as


quais serão estudadas oportunamente. EX: acesso à justiça.

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