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RAFAEL DOS SANTOS NORONHA

Ecologia Urbana: Espaços urbanos eficientes por meio do


conhecimento do lugar.

Monografia apresentada como requisito parcial


para obtenção do título de Especialista. Curso
de pós-graduação lato sensu em Reabilitação
Ambiental Sustentável Arquitetônica e
Urbanística. Programa de Pesquisa e Pós-
graduação. Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo. Universidade de Brasília.

Orientadora: Prof. Marta Adriana Bustos


Romero

BRASÍLIA
2011
À minha família, e amigos.

II
Agradecimentos

Agradeço a Deus por ter me colocado em uma família maravilhosa, e sempre rodeado de bons
amigos.

III
Sumário

LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................................... VII

RESUMO................................................................................................................................................. X

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................ 1

2. NOVOS PARADIGMAS EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE ................................................... 3

2.1. A VISÃO SISTÊMICA: A BASE DOS PRINCÍPIOS ECOLÓGICOS ......................................... 4

3. OS PRINCÍPIOS ECOLÓGICOS E A ECOLOGIA URBANA......................................................... 6

3.1. A organização dos seres vivos .................................................................................................. 6

3.1.1. Sistemas fechados: .................................................................................................................... 6

3.1.2. Estruturas dissipativas: .............................................................................................................. 6

3.1.3. Autorreguladores e auto organizadores:.................................................................................... 7

3.1.4. Processos cognitivos:................................................................................................................. 7

3.1.5. Pequena conclusão.................................................................................................................... 7

3.2. Princípios ecológicos (Capra, 1996. pg. 231-235): .................................................................... 8

3.2.1. A interdependência: ................................................................................................................... 8

3.2.2. A parceria: .................................................................................................................................. 9

3.2.3. A Natureza cíclica dos processos ecológicos (reciclagem) ....................................................... 9

3.2.4. Diversidade............................................................................................................................... 10

3.2.5. Flexibilidade:............................................................................................................................. 10

4. ESPAÇOS URBANOS ECOLÓGICOS. ....................................................................................... 12

4.1. A Agricultura Urbana (AU)........................................................................................................ 12

4.1.1. Atividades da Agricultura Urbana (SANTANDREU & LOVO, 2007 p. 12)............................... 13

4.1.1.1. Produção:............................................................................................................................. 14

4.1.1.2. Transformação artesanal ..................................................................................................... 14

4.1.1.3. Comercialização justa e solidária ........................................................................................ 14

4.1.1.4. Auto consumo ...................................................................................................................... 14

4.1.1.5. Prestação de Serviços ......................................................................................................... 14

4.1.2. Parâmetros globais para a inserção da Agricultura Urbana .................................................... 15

IV
4.1.2.1. Objetivos: ............................................................................................................................. 15

4.1.2.2. Diretrizes: ............................................................................................................................. 16

4.1.2.3. Metodologia da inserção da AU........................................................................................... 16

4.2. A permacultura nos espaços urbanos...................................................................................... 18

4.2.1. Estratégias (Rodrigues, 2000; Mollison, 1988) ........................................................................ 18

4.2.1.1. Posição relativa dos elementos: .......................................................................................... 18

4.2.1.2. Cada elemento deve executar diversas funções................................................................. 19

4.2.1.3. Cada função apoiada por diversos elementos .................................................................... 20

4.2.1.4. Utilizar a reciclagem............................................................................................................. 20

4.2.1.5. Utilizar a sucessão natural de plantas: ................................................................................ 21

4.2.1.6. Utilizar a diversidade............................................................................................................ 21

4.2.1.7. Utilizar a complexidade, através da criação de bordas ....................................................... 21

4.2.1.8. Utilizar recursos biológicos (renováveis) ............................................................................. 21

4.3. Pequena conclusão.................................................................................................................. 22

5. O ESTUDO DE CASO: ÁREA VERDE RESIDENCIAL DO PLANO PILOTO, BRASÍLIA/DF. .... 23

6. A ANÁLISE DO LUGAR: ÁREA CENTRAL DA SUPERQUADRA 314 NORTE (BRASÍLIA / DF).


27

6.1. O ESPAÇO (ASPECTOS OBJETIVOS): ................................................................................. 28

6.1.1. Os blocos.................................................................................................................................. 30

6.1.2. Equipamentos Urbanos, vegetação, calçadas, e vias ............................................................. 33

6.1.2.1. Coreto .................................................................................................................................. 34

6.1.2.2. Equipamentos de exercícios físicos mal executados; ......................................................... 35

6.1.2.3. Parquinho / pérgula.............................................................................................................. 35

6.1.2.4. Calçadas e vias.................................................................................................................... 36

6.1.2.5. Vegetação: ........................................................................................................................... 37

6.1.2.6. A Prefeitura .......................................................................................................................... 38

6.2. O CARÁTER (ASPECTOS SUBJETIVOS).............................................................................. 40

6.3. O MAPA COMPORTAMENTAL (SOMMER & SOMMER, 1991) ............................................ 43

6.3.1. METODOLOGIA CENTRADA NO LUGAR ......................................................................... 43

6.3.2. O MAPA ............................................................................................................................... 44

V
6.3.3. DIAGNÓSTICOS COMPORTAMENTAIS ........................................................................... 45

7. UTILIZAÇÃO DE ALGUMAS ESTRATÉGIAS.............................................................................. 48

7.1. ESTRATÉGIA 1 – ZONEAMENTO PERMACULTURAL ......................................................... 48

7.1.1. ÁREAS VERDES PRIVATIVAS: ZONA 1............................................................................ 48

7.1.2. ÁREAS VERDES LIVRES: ZONA 2 .................................................................................... 51

7.2. ESTRATÉGIA 2 – NAS CERCAS DAS ÁREAS VERDES, DOS PARQUINHOS, ETC. ......... 51

8. CONCLUSÕES............................................................................................................................. 53

9. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 55

ANEXO 01 – TABELAS DOS MAPAS COMPORTAMENTAIS .............................................................. 1

VI
Lista de ilustrações

Quadros

Quadro 1 - Listado das experiências focadas na Região Centro Oeste – Brasília (DF), por tipo de ator
que as promove, apóia e/ou financia. (SANTANDREU & LOVO, 2007, pg.22) ................................... 13

Quadro 2 - Tipologias urbanas possíveis para atividades de Agricultura Urbana e Periurbana.


Adaptada (Terrile, 2006 apud SANTANDREU & LOVO, 2007, pg.22)................................................. 15

Tabelas (anexo 1)

Tabela 1 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho): 08:30 às 09:30.................................. 1

Tabela 2 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho): 09:30 às 10:30.................................. 2

Tabela 3 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho): 10:30 às 11:30.................................. 3

Tabela 4 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho): 14:30 às 15:30.................................. 4

Tabela 5 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 15:30 às 16:30................................... 5

Tabela 6 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 16:30 às 17:30................................... 6

Tabela 7 - Continuação da Tabela 6 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 16:30 às


17:30........................................................................................................................................................ 7

Tabela 8 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 17:30 às 18:30................................... 8

Tabela 9 - Continuação da Tabela 8 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 17:30 às


18:30........................................................................................................................................................ 9

Figuras

Figura 1 - Árvores na visão sistêmica. Fonte: Mollison (1988, p. 140). .................................................. 4

Figura 2 - Fluxograma de metodologia para política de AU. Fonte: site da REDE (Rede de
Intercâmbios de tecnologias alternativas (http://www.rede-mg.org.br/index.php?iid=24&p=2&sid=58 –
acesso em 14/03/2011)......................................................................................................................... 17

Figura 3 - Vista aérea da cidade de Brasília. Asa sul. Fonte:


http://h.imagehost.org/view/0784/myaviationnetphotoid009cp5 (acesso:9/5/2011) ............................. 23

Figura 4 - Calçada sombreada com um clima agradável à caminhada................................................ 24

Figura 5 - Situação (localização) da Superquadra Norte 314 (SQN 314). Fonte: Google Earth (com
modificações) ........................................................................................................................................ 27

Figura 6 - Superquadra 314 Norte. Brasília DF. Fonte: Google Earth (com modificações) ................. 28

Figura 7 - Estudo de caso - Área central da Superquadra 314 Norte. Brasília DF. Fonte: Google Earth
(com modificações). .............................................................................................................................. 29

VII
Figura 8 - Acessos à área de estudo .................................................................................................... 30

Figura 9 - Vista do Bloco D ................................................................................................................... 31

Figura 10 - Vista do Bloco E.................................................................................................................. 31

Figura 11 - Foto da relação direta pilotis do prédio / área de estudo ................................................... 31

Figura 12 - Vista do bloco F .................................................................................................................. 32

Figura 13 - Vista Bloco G ...................................................................................................................... 32

Figura 14 - Barreiras ao acesso do Bloco G à área de estudo............................................................. 32

Figura 15 - Mapa esquemático dos equipamentos urbanos e vegetação ............................................ 33

Figura 16 - Vista do Coreto ................................................................................................................... 34

Figura 17 - Conservação ruim das telhas do coreto ............................................................................. 34

Figura 18 – Calçadas quebradas, bancos mal encaixados, e sujeira................................................... 34

Figura 19 - Equipamentos de atividade física precários ....................................................................... 35

Figura 20 - Vista do parquinho - 1......................................................................................................... 35

Figura 21 - Vista do parquinho – 2 ........................................................................................................ 35

Figura 22 - Manutenção precária do parquinho .................................................................................... 36

Figura 23 - Vista do parquinho / pérgula............................................................................................... 36

Figura 24 - Calçadas quebradas e estreitas ......................................................................................... 36

Figura 25 - Via local e contêineres no limite da área ............................................................................ 37

Figura 26 – Vista panorâmica da área na época da seca (setembro 2010) ......................................... 37

Figura 27 - Imagem panorâmica da área no final das épocas das chuvas (abril 2011) ....................... 38

Figura 28 - Jardim cercado do Bloco G ................................................................................................ 38

Figura 29 - Jardim cercado do Bloco E ................................................................................................. 38

Figura 30 - Relação confusa com as vias, facilmente bloqueada e entorno ruim do ponto de vista da
acessibilidade ........................................................................................................................................ 39

Figura 31 - Vista da sede da Prefeitura: arquitetura mal elaborada, com caráter de improviso .......... 39

Figura 32 – A procura pelo conforto. Pessoas que, aparentemente aproveitariam melhor o parque,
vão para outras áreas pelo desconforto ambiental (foto: setembro, 2010). ......................................... 40

Figura 33 - Jardins privativos (bloco E)................................................................................................. 41

Figura 34 - Jardins privativos (bloco G) ................................................................................................ 41

Figura 35 - Jardins produtivos (bloco E) ............................................................................................... 41

Figura 36 - Jardins produtivos (bloco E) ............................................................................................... 41

VIII
Figura 37 - Área um pouco mais afastada do prédio já mostra sinais de descuido, com mato alto e
pouca variedade estética. ..................................................................................................................... 41

Figura 38 - Mapa Base setorizado para o mapa comportamental........................................................ 44

Figura 39 - Aspectos comportamentais da área de estudo .................................................................. 45

Figura 40 - Adulto brincando com as crianças...................................................................................... 47

Figura 41 - Imagem da placa de proibição / restrição do uso............................................................... 48

Figura 42 - Espiral de erva. Fonte: MOLLISON (1988 p. 101) ............................................................. 49

Figura 43 - Corte AA do espiral de erva. Fonte: MOLLISON (1988 p. 101) ......................................... 49

Figura 44 - Horta Mandala. Fonte: Mollison (1988 p. 274) ................................................................... 50

IX
Resumo
A sustentabilidade é a capacidade de vivermos bem o presente, e ao mesmo tempo garantirmos a
possibilidade (pelo menos com o que está ao nosso alcance) de boa vida às próximas gerações. A
visão sistêmica enxerga uma realidade interligada, descoberta pela física quântica, onde tudo está
conectado. Esta realidade da vida possui alguns princípios que servem de diretrizes de ações, na
busca do equilíbrio e sustentabilidade dos ecossistemas urbanos. O sucesso das cidades, na visão
sistêmica, depende desta correta relação entre as cidades, e seus mais variados componentes. A
Ecologia Urbana estuda estas ligações essenciais que as comunidades e cidades humanas possuem
com a natureza, e entre seus componentes internos, por serem ecossistemas integrantes da
realidade interligada. A eficiência delas depende de se comportarem como os organismos vivos e
sadios. Os espaços urbanos são alvos importantes de conceitos científicos, práticas e políticas que
visem dar às cidades mais energia e saúde. A Agricultura Urbana tem uma política internacional de
desenvolvimento da produção alimentar urbana voltada para o consumo local, a justiça social, a
equidade de gênero, etc. Não se limita à produção agrícola, em si, mas no fortalecimento das
relações comunitárias, e autonomia destas, seguindo as recomendações de descentralização da
gestão urbana. Os espaços urbanos produtivos podem ser executados e planejados nos moldes do
que a permacultura recomenda, onde se busca sistemas de produção altamente eficientes, voltadas
ao consumo local, com as características e flexibilidades dos sistemas naturais: biodiversidade, baixa
manutenção, etc. O papel dos técnicos e profissionais é levantar a maior quantidade de informações
possível acerca do espaço em questão, e dialogar com a comunidade, em uma troca de
conhecimentos fundamental para se encontrar a melhor solução possível para cada caso. Isto
estimula a buscada autonomia comunitária e, assim, o desenvolvimento de cada vez mais
conhecimento, pela troca de experiências, e sentimento de colaboração mútua, e parceria

Palavras-chave: Sustentabilidade; visão sistêmica; Ecologia Urbana; espaço urbano; Agricultura


Urbana, permacultura; espaço, caráter, atmosfera e comportamento do lugar.

X
1. Introdução

Este trabalho faz parte da conclusão do Curso de pós-graduação lato sensu em reabilitação
ambiental sustentável arquitetônica e urbanística, da Universidade de Brasília, ano de 2011. O
tema é Ecologia Urbana: Espaços urbanos eficientes por meio do conhecimento do lugar.

A necessidade de melhorar a vida no planeta cresce na mesma medida em que os problemas


aumentam. As cidades estão cada vez mais caóticas, inchadas, e injustas, e a vida dos humanos se
torna insalubre por prejudicar as próprias fontes de seus recursos, poluindo, e consumindo tudo, de
maneira até infantil, e inconsequente.

A cultura humana avança em uma tentativa de garantir que sua vida seja salva, e que as próximas
gerações tenham a possibilidade de viver em melhores condições que as atuais. Os conceitos que
buscam a sustentabilidade surgem como uma tentativa de garantir oportunidades e vida digna às
futuras gerações. Porém, para que se sustente vida digna e oportunidades para as próximas
gerações, é preciso, primeiramente, que estas condições sejam alcançadas no presente, por meio da
contribuição de todos. As mudanças de atitudes são urgentes e necessárias, e a nova sociedade do
futuro – capaz de ser sustentável – está, neste momento, em construção.

Este trabalho trata da Ecologia Urbana, que, por enxergar as cidades integradas à natureza, estuda
princípios ecológicos dos sistemas vivos naturais, a fim de aplicá-los nos meios urbanos. Foram
pesquisados alguns destes princípios, seus contextos científicos, e suas conexões entre as cidades,
e a sociedade, baseados em Capra (1996), Mollison (1988), Maturana & Varela (1995), Andrade
(2005; 2010), Sirkis (1999), e Gouvêa (2002). Alguns dos objetivos são contribuir na divulgação
destes princípios e da chamada “alfabetização ecológica” (CAPRA, 1996), e sua maneira de enxergar
a vida.

O enfoque deste trabalho, na aplicação destas ideias, se deu nos espaços urbanos, por meio de
maneiras de torná-los mais eficientes, produtivos e provedores de qualidade de vida. Foram
pesquisadas duas estratégias: a primeira é a Agricultura Urbana – baseada em Coutinho (2007);
Moreira (2009 – entrevista); no programa Cultivando Cidades para o Futuro, em Belho Horizonte
(CCF-BH, 2008); e no documento Panorama da Agricultura Urbana no Brasil (2007). A outra
estratégia pesquisada para os espaços urbanos foi a Permacultura, baseada em Mollison (1988) e
Rodrigues (2000).

A principal intenção das duas estratégias citadas é fortalecer, caso a caso, a comunidade em suas
dinâmicas diversificadas, e provê-las de técnicas e hábitos que as tornem cada vez mais
sustentáveis, parceiras, justas, criativas e dinâmicas. Leva-se em consideração o máximo de
conexões entre as características únicas de cada comunidade: a sua vizinhança, suas necessidades,
e as fontes dos seus recursos, a fim de estabelecer maior capacidade de abastecimento, renovação,
reciclagem, trocas, e evolução dos modos de produção e consumo. Tudo é importante: o meio
ambiente em que se inserem, os costumes, e todo aspecto relevante que seja identificado. Para isso,
são utilizados métodos diversificados de análises e levantamento de dados.

1
No estudo de caso deste trabalho – o espaço público central da Superquadra 314 norte, em Brasília /
DF – foram realizadas análises do espaço urbano, por meio de observação direta. Primeiramente, o
levantamento dos aspectos objetivos (estrutura) e qualitativos (caráter) do local, a fim de
identificar sua atmosfera, ou espírito do lugar, baseados em Romero (2001; 2010). No segundo
momento, foi realizado um mapa comportamental, baseado em Sommer & Sommer (1991), e
Person (2006) a fim de analisar o padrão de comportamento de setores determinados do local
estudado.

A partir deste levantamento, foi possível identificar a utilização de algumas estratégias apresentadas
pela Agricultura Urbana e Permacultura, no local estudado. Entende-se, porém, que estas
estratégias possuem caráter de uma sugestão inicial, pois, seriam necessários diálogos e/ou
campanhas junto à comunidade a fim de clamar por sua participação e envolvimento para encontrar
os procedimentos mais adequados possíveis. Os métodos de análises são, portanto, procedimentos
iniciais, que servem de repertório técnico ao diálogo contínuo com a comunidade estudada, sendo,
portanto, um importante passo na construção da autonomia e evolução desta.

2
2. Novos paradigmas em busca da sustentabilidade

O modo como as cidades e a população mundial crescem, e o ritmo em que destruímos as florestas,
fontes dos recursos, são ameaças não só para a vida da fauna e da flora selvagens (não humana),
como para a nossa própria vida. Simplesmente, em nossa vida desconectada do planeta, estamos,
nós mesmos, acabando com as possibilidades de nossa espécie perdurar, e ameaçando toda a vida
no planeta.

As necessidades de mudanças no modo de vida da humanidade, e em seu desenvolvimento estão


cada vez mais presentes na consciência das pessoas. Na medida em que o tempo avança, novas
ideias surgem, novas tecnologias são postas em prática, novas políticas, e novos hábitos ganham
adeptos na tentativa de fazer o ser humano atual adaptar e/ou transformar seu modo de vida (cultura,
de modo geral). Mostra-se necessária uma relação estável com os recursos e ciclos naturais
oferecidos pelo planeta, e com todos os seres vivos, a fim de que a vida tenha mais chances de
continuar sua bela trajetória, fortalecida pelas atitudes corretas de hoje, que, em constante evolução,
permitirão vida boa para as futuras gerações. Isto é o que podemos chamar de sustentabilidade.
Pensar no futuro da vida, agindo de forma correta no presente.

“Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir
as perspectivas das gerações futuras” (Lester Brown,... apud CAPRA, 1996. pp. 24).
Uns dos principais meios de se alcançar a sustentabilidade são, por exemplo: equilíbrio ambiental, a
justiça social, a diversidade cultural; a autonomia individual de livre pensamento e expressão, e boa
qualidade de vida igualitária, acessível a todas as pessoas. As maneiras de conseguirmos isso estão
além da definição concreta, claramente alcançada, ou um objetivo final. São modelos de vida criativos
e dinâmicos que constantemente buscam os próprios aperfeiçoamentos. Um constante
desenvolvimento humano, nos quais se integram os anseios, realizações, e diferentes culturas (como:
economia, tecnologia, política, arte, religião, etc.) com os ciclos e processos naturais.

A boa qualidade de vida apenas para nós, humanos, não é suficiente, nem mesmo possível. As
nossas vidas dependem de todas as outras espécies vivas do planeta. A sustentabilidade da
sociedade humana, na visão ecológica, passa pelo reconhecimento de que é preciso colaborar entre
si e com toda a natureza. A vida como conhecemos é a própria natureza criando e recriando a si
mesma, constantemente.

3
2.1. A visão sistêmica: a base dos princípios ecológicos

Esta visão foi a nova percepção da realidade descoberta pela física quântica, que trouxa à ciência um
novo paradigma, modificando o pensamento mecanicista de “partes” e “objetos” para um pensamento
sistêmico de relações dinâmicas, em constante evolução, componentes de um todo integrado
(CAPRA, 1996 p. 25).

Esta percepção mudou o pensamento científico do século XX. A visão mecanicista cartesiana, que
procura explicar as partes para entender o todo, se viu como sendo apenas uma pequena fração de
uma realidade muito mais complexa, chamada de visão ecológica, ou sistêmica, que procura analisar,
ao invés dos objetos, as relações complexas entre tudo o que existe. São nestas relações que
acontecem o desenvolver de todos os sistemas vivos, e das condições ambientais que possibilitam a
vida. Por exemplo, uma árvore é muito mais do o conjunto de raízes, caule, folhas, e frutos (ver figura
1).

Figura 1 - Árvores na visão sistêmica. Fonte: Mollison (1988, p. 140).

Ela depende da variadas espécies de animais, fungos, que a fertilizam, espalham suas sementes, e
protegem suas raízes. A árvore é habitat para outras espécies, fonte de alimento para outras, e,
principalmente, componente colaborativo de uma rede de relações que depende dela e, ao mesmo
tempo, possibilita a sua existência. Na visão sistêmica, assim é com tudo o que existe. A vida é
construída nesta relação entre grande quantidade de diversos sistemas vivos. Nós (humanos)
estamos também nesta rede, e só existimos por causa dela. Devemos, então, sermos colaboradores
da vida, se quisermos perdurar.

4
Arne Naess (1970 apud CAPRA, 1996), filósofo norueguês, propõe uma nova visão ética, que
substitui o antropocentrismo – pensamento centrado no homem – pelo ecocentrismo – pensamento
centrado na Terra. Ele a chama de ecologia profunda.

“é uma visão de mundo que reconhece o valor inerente da vida não humana. Todos
os seres vivos são membros de comunidades ecológicas ligadas umas às outras
numa rede de interdependências”. (CAPRA, 1998. pp.28).
A Natureza selvagem passa a ser vista como aliada, e até mesmo professora (Rodrigues, 2000) para
nossas atitudes. Deixa de ser uma barreira ao desenvolvimento econômico, e sim o meio para um
real desenvolvimento humano, com culturas possíveis de serem sustentadas, de desenvolvimento
duradouro, em um planeta com ciclos próprios de renovação e recursos limitados.

5
3. Os princípios ecológicos e a Ecologia Urbana

A visão da natureza como professora traz o conhecimento de como os ecossistemas naturais


funcionam, e como a vida se mantém ao longo das eras do planeta. Os princípios da ecologia são
baseados nesta observação e estudo das relações e conexões entre as espécies, seus recursos, e
seus ciclos. Com foi dito, o principal é entender como são estabelecidas as relações, pois a partir
destas, as condições de vida são mantidas.

A Ecologia Urbana, como vertente da visão sistêmica, estuda as múltiplas relações urbanas
(externas e internas), assim como suas conexões com os meios naturais (ANDRADE, 2010 p. 23). O
gestor ambiental e urbano deve ter este conceito básico de que a cidade faz parte da natureza
(SIRKIS, 1999. pg. 18-19). As cidades, assim como tudo o que existe, fazem parte desta rede de
energia e matéria onde tudo se comunica, e de tudo compartilha.

Os sistemas urbanos, e as comunidades humanas são vistas como ecossistemas vivos e complexos
(CAPRA, 1996; SIRKIS, 1999). Apresentam os princípios básicos de organização que todos os seres
vivos possuem, e, por isso, devem buscar uma organização semelhante de relações, funcionamento /
metabolismo, a fim de se tornarem sistemas equilibrados e saudáveis.

3.1. A organização dos seres vivos


1
Segundo alguns biólogos (apud CAPRA, 1996), estes princípios básicos de organização, consistem
em 4 (quatro) características que definem certos componentes como sistemas ou seres vivos: 1) são
sistemas fechados em sua organização; 2) abertos em sua estrutura (estruturas dissipativas); 3)
autorreguladores / auto organizadores; 4) com capacidade de cognição.

3.1.1. Sistemas fechados:

Esta característica abrange a organização interna dos seres vivos. Possuem limites estruturais que
abrigam, dentro de seus limites, as relações necessárias à manutenção de suas funções. O limite
2
pode ser a pele, a membrana celular, ou a atmosfera . O padrão desta organização interna e das
relações de seus componentes é o que determina a classe do sistema (um cavalo, um cachorro, uma
árvore, o planeta Terra, etc.).

3.1.2. Estruturas dissipativas:

“Um organismo vivo necessita de fluxo contínuo de ar, de água e de alimento vindo
do meio ambiente através do sistema para permanecer vivo e manter sua ordem”
(CAPRA, 1996. pg. 146).

1
Prigogine : estruturas dissipativas; Lovelock : teoria de Gaia , Maturana & Varela: autorregulação e auto
organização (teoria da auto poiese: auto = si mesmo; poiese = poesia, criação); Bateson, e Maturana
(independentemente): vida = cognição e processos mentais. (apud CAPRA, 1996).
2
A teoria de Gaia – a Terra como um ser vivo. (LOVELOCK, 1970 apud CAPRA, 1996).

6
Apesar de serem fechados e manterem o seu padrão de organização em circuitos fechados, os
sistemas vivos são estruturalmente abertos, pela descrição de Prigogine, para permitirem o fluxo de
energia e matéria. Este fluxo constante de energia no interior do sistema vivo é o que possibilita toda
a sua organização. Ao invés de ser um equilíbrio estático, é uma organização altamente complexa e
dinâmica de movimentos de matéria, e processos químicos, nos quais estas relações são em parte,
caóticas, e em outra parte, ordenadas. Prigogine dá um exemplo de um redemoinho ou um furacão.
As instabilidades geram um comportamento inicial caótico, porém o sistema tende a se ordenar e
manter o padrão de movimentação intensa.

3.1.3. Autorreguladores e auto organizadores:

Esta característica é a que permite o sistema organizar os complexos fluxos energia e seus ciclos
internos. Basicamente, cada sistema possui em si a capacidade de se auto organizar, manter seus
padrões. Nas próprias relações entre seus componentes são trocadas informações, enzimas,
proteínas, etc. com o intuito de manter o sistema funcionando bem, em processos contínuos, e se
desenvolvendo nas instabilidades surgidas. Em comunidades ecológicas, integrantes do sistema vivo
“Gaia”, os ecossistemas são mantidos em equilíbrio, onde as diversas espécies se controlam
mutuamente e se relacionam de maneira a manter as condições de continuidade da vida. O próprio
planeta se regula para manter suas condições de vida. Capra afirma que a temperatura do sol, desde
que a vida começou no planeta, já subiu cerca de 25%. Porém, o planeta em sua capacidade de
autorregulação, vem mantendo uma temperatura constante, pela biodiversidade e os diversos
processos químicos, que, de maneira dinâmica, e em conjunto, mantêm as condições ideias para a
vida (LOVELOCK, 1970 apud CAPRA, 1996).

3.1.4. Processos cognitivos:

A mente – percepção, aprendizagem, memória, tomada de decisões, etc. (CAPRA, 1996. p. 144) – é
o próprio processo da vida em si. Nos sistemas vivos há um processo cognitivo de conhecimento que
organiza, e cria os componentes, mantém suas funções em atividade, identifica temperaturas,
nutrientes, diferenças de pressão, etc. De acordo com Bateson (apud CAPRA, 1966), este processo
mental é fenômeno característico dos seres vivos. São através destes processos mentais que os
seres vivos mantêm relação com o seu meio ambiente. Mesmo seres sem cérebros percebem o meio
à sua volta, e seus componentes atuam a favor das necessidades do sistema. Quando existe, o
cérebro é apenas uma das estruturas por meio das quais o processo mental acontece.

3.1.5. Pequena conclusão

Os limites das cidades (fronteiras) e dos ecossistemas naturais (Terra) são claros (sistemas
fechados). Pode-se observar, ainda, que são formados por diversos outros sistemas vivos
(comunidades, famílias, pessoas, fauna e flora), em seu interior, assim como, por exemplo, um
humano organizado por ações bacterianas e atividades celulares, e a atmosfera mantida pelos
processos biológicos de todas as espécies (LOVELOCK, 1970 apud CAPRA, 1996).

As comunidades humanas são abertas com relação ao fluxo de energia e matéria, pois se aproveitam
de recursos externos e dispensam resíduos (estruturas dissipativas). Seus componentes internos

7
(pessoas, infra estrutura, etc.) trabalham para manter o funcionamento do sistema (autorregulação), e
alguns são os responsáveis pela “percepção” e organização da cidade (processos cognitivos).

Nos ecossistemas naturais (inclusive em nosso corpo), as relações entre seus componentes e com os
recursos que os alimentam são benéficas. Todas as espécies (ou componentes) trabalham para
manter as condições de vida, e possibilidades de evolução. Um sistema vivo capaz de perdurar é
aquele que possui uma atividade metabólica que, em rede, contribui de maneira dinâmica para a
manutenção de todo o sistema que o envolve, com suas diversidades e complexidades.

O metabolismo das cidades deve manter relações eficientes entre os seus diversos elementos
internos, e suas conexões externas. Elas se tornarão sistemas vivos mais saudáveis, cheios de vida e
energia pulsante, repleta de recursos, possibilidades, criatividade, e capacidade de evolução.

Para que nossa sociedade se aproxime de tamanha organização complexa, é necessário que haja
uma “alfabetização ecológica” (Capra, 1996. pg. 231), a fim de que nossas culturas escolares,
científicas, políticas, econômicas, etc. percebam como se desenvolver em uma realidade sistêmica, e
ecológica. Assim, os princípios das relações sistêmicas fazem parte de uma tentativa de estabelecer
uma base de consenso de desenvolvimento humano (MATURANA & VARELA, 1995), que se encaixe
em qualquer diversidade cultural, por fazerem parte de princípios da vida.

3.2. Princípios ecológicos (Capra, 1996. pg. 231-235):

Os princípios ecológicos são padrões existentes na vida que refletem a sua capacidade de se
transformar e evoluir, de maneira a perdurar, com muito sucesso pela eras do planeta. Alguns destes
princípios são conhecidos, e servem de modelo para as comunidades humanas sustentáveis: a
interdependência, a parceria, a reciclagem, a diversidade, e a flexibilidade.

3.2.1. A interdependência:

“é a natureza de todas as relações ecológicas” (CAPRA, 1996. pg.231). Como o próprio nome diz, é
uma relação de dependência mútua (mostrada com a árvore da figura 1), onde todos os sistemas
vivos que existem possuem um importante papel de manter a vida de diversos seres, e dependem, ao
mesmo tempo destas e outras espécies para existirem. Este princípio é a base de todos os outros.
Está presente em qualquer escala de análise; seja no planeta todo – a atmosfera mantida pelos
processos biológicos de todos os seres vivos –, seja nos órgãos, e tecidos de um único sistema vivo.

Um dos desafios para nossas cidades é criar e fortalecer estas relações dentro das próprias
comunidades, em cada local, caso a caso. As relações entre as comunidades diferentes também é
essencial nesta realidade de cooperação. A sociedade se nutre com a valorização destas relações
(CAPRA, 1996 p. 232), pois os seus habitantes valorizam as diferentes visões e pontos de vista,
entendendo-os como necessários à melhoria da vida de todos.

Tudo e todos devem ser inseridos nos processos comunitários de gestão da ecologia urbana, a fim de
haver a ciência das dificuldades, troca de ideias, decisões.

“O desenvolvimento sustentável envolve muito mais fatores do que a simples


proteção ambiental. Ele busca a reconciliação entre as pressões, muitas vezes
conflitantes do desenvolvimento econômico, da proteção ambiental e da justiça
social.” (SIRKIS, 1999 p. 170)

8
O conhecimento mais aprofundado da comunidade pode facilitar a identificação dos seus “limites” e
das suas conexões. Quanto mais conhecimento acerca dos mais variados assuntos, maior a precisão
das ações e eficácia da participação comunitária no cuidado próprio. A educação da comunidade e o
contínuo diálogo com os técnicos são essenciais. Com esses fatores cada vez mais desenvolvidos, a
própria descentralização das gestões urbanas e ambientais (CIDADES..., 2000) pode acontecer de
maneira mais natural e eficiente.

A comunidade, a vizinhança e os ecossistemas que os suprem serão valorizados, pois, surge a


compreensão de que tudo é necessário ao desenvolvimento da vida. Quanto mais relações benéficas
uma comunidade realizar, internamente, e externamente, melhor será a sua capacidade de perdurar.

Sirkis (1999) afirma que o papel do poder público não é diminuído. Ao invés disso, é ainda mais
complexo, pois tem que conciliar diversas conexões entre as comunidades, contornando burocracias
e interesses políticos. Os gestores e as comunidades devem ter uma visão generalista, capazes de
enxergar o quadro total, desde o macro, até o micro, evitando erros de medidas especializadas, que
não consideram o contexto complexo em que se inserem.

3.2.2. A parceria:

Este princípio se mostra como essencial para a sobrevivência e evolução dentro desta realidade
interdependente, pois é vista como a capacidade de cooperação mútua. A parceria, por exemplo, é a
condição que permite a coexistência de organismos dentro de outros, etc, de forma que evoluam
juntos.

“...desde a criação das primeiras células nucleadas, há mais de dois bilhões de


anos, a vida na Terra tem prosseguido por intermédio de arranjos cada vez mais
intrincados de cooperação e de coevolução.(...) A parceria é um dos certificados de
qualidade de vida” (CAPRA, 1996. pg.233-234).
As parcerias nas comunidades humanas fortalecem o empoderamento pessoal, e a democracia. São
valorizadas as capacidades de cada pessoa, e a troca constante de habilidades e conhecimentos
(ANDRADE, 2005), favorecendo a evolução e o aperfeiçoamento destes processos e das relações.

Capra (1996, pg. 234) afirma que quanto mais a parceria for verdadeira, e confiante, na qual a
intenção é a evolução de todos, melhor será a combinação das diversidades, pois os parceiros
aprendem, mudam, e, assim, co-evoluem.

3.2.3. A Natureza cíclica dos processos ecológicos (reciclagem)

São os “laços de realimentação dos ecossistemas” (CAPRA, 1996. pg.231). Este princípio mostra,
principalmente, que, em um ecossistema saudável, o que é resíduo para um sistema, é alimento para
outro, e toda a rede se mantém neste processo de transformação e trocas, fortalecendo o fluxo de
matéria e energia e mais possibilidades de vida.

Dentro das comunidades, é necessário conhecer aquilo que é gerado de resíduo, e estabelecer, no
próprio local, o máximo de maneiras de aproveitá-los, tratá-los, e reciclá-los, para que o sistema em
questão tenha este princípio sempre em desenvolvimento.

9
Nas relações externas, este princípio pode ser visto como a capacidade de estabelecer relações com
as diferentes comunidades, para que existam trocas justas de recursos, e energia, baseadas na
parceria legítima.

Quanto maior for o número de componentes aproveitando, utilizando, transformando e alimentando


uns aos outros, maior é a complexidade do sistema, mas também, maior a sua capacidade de
aproveitar as energias que ele mesmo produz, e as que podem chegar até ele. Uma comunidade
repleta de possibilidades tem mais maneiras de estabelecer relações de parceria e aumentar a
reciclagem interna e externa.

“Nossa estratégia é organizar uma rede de intercepção [energética] desde a fonte,


até o despejo. Esta rede é uma combinação entre uma teia da vida [elementos vivos]
e tecnologias, e é desenhada para captar e armazenar a maior quantidade possível
de energia...” (MOLLISON, 1988. pg. 13).
Por exemplo, a energia básica que nutre a vida é a do sol. Portanto, saber aproveitá-la é
fundamental. Ela pode produzir energia elétrica, além de, bem estudada, fornecer conforto climático,
e ainda ser o principal combustível para nossas áreas verdes produzirem mais vegetais e oxigênio;
mais purificação do ar, fornecimento de alimentos, nutrientes para o solo, drenagem urbana,
tratamento alternativo de águas, etc., além de grande deleite estético. Os ventos, e todos os resíduos
orgânicos também podem ser trabalhados no local, de maneira que todos sejam responsáveis, e
participantes desta complexa formação de ciclos de reutilização, reciclagem, etc.

3.2.4. Diversidade

Este princípio segue o raciocínio dos outros acima. Quanto mais diverso for um sistema, ou uma
comunidade, maior será a sua capacidade de reciclagem, e mais parceria estará envolvida
fortalecendo a vida de todos os sistemas interdependentes.

Segundo Capra (1996), a diversidade pressupõe uma sobreposição de funções. Quanto mais
elementos realizando as funções mais essenciais, melhor será a qualidade do sistema.

“quando um determinado componente é destruído por uma perturbação séria, de


modo que um elo da rede seja quebrado, uma comunidade diversificada será capaz
de sobreviver e se reorganizar, pois outros elos da rede podem, pelo menos
parcialmente, preencher a função da espécie destruída.” (Capra, 1996. g. 235).
Esta característica faz o sistema ecológico alcançar uma resistência necessária para quando
ocorrerem as inevitáveis oscilações do ambiente interno e externo.

3.2.5. Flexibilidade:

Este princípio funciona como uma rede. Quando há perturbações, essa rede oscila, mas tende a
voltar ao ponto de estabilidade (lembrando que a estabilidade é dinâmica).

Segundo Capra (1996, pg. 234) “A falta de flexibilidade [de um sistema] se manifesta como tensão”.
Esta tensão ocorre quando as variáveis do sistema são levadas a extremos e geram uma rigidez, que
de maneira temporária, é normal, e faz parte da vida. Porém, a tensão prolongada é destrutiva ao
sistema. Os sistemas devem ser diversos e seus aspectos devem ser variados para que todas as
variáveis sejam interligadas e se aperfeiçoem em conjunto. Sendo assim, no caso das comunidades
humanas, valorizar demais uma ideia, política, ou ideologia, pode gerar um padrão destrutivo à
comunidade.

10
A grande necessidade de desenvolvimento econômico por parte da sociedade é um bom exemplo.
Valorizar demasiadamente tal aspecto torna a sociedade humana negligentes com o meio ambiente,
e com valores sociais como a justiça, a acessibilidade, o amor e o respeito pela vida. Sirkis (1999, pg.
171) afirma que o crescimento econômico não pode ser considerado como um objetivo, e sim,
apenas como uma parte importante do desenvolvimento humano. Segundo ele, algo só pode ser
chamado “desenvolvimento”, realmente, quando melhora a vida de todos.

Dentro de uma comunidade sempre haverá diferentes pontos de vista e conflitos. A flexibilidade pode,
nestes casos, ser vista como uma “flexibilidade mental” por parte das comunidades e dos gestores
urbanos, políticos, economistas, ambientalistas, urbanistas, etc. Com essa flexibilidade em mente, as
melhores soluções tendem a aparecer, pois estarão de acordo com o melhoramento de cada ponto
de vista considerado, e a própria diversidade ideológica, complexa e dinâmica tende a mostrar a
3
melhor solução. Em atividades de curso “permacultural várias decisões que envolviam o grupo eram
tomadas por consenso. Ou seja, um treinamento para as pessoas exercitarem a flexibilidade mental e
perceberem que as melhores ideias surgem em conjunto.

“a alfabetização ecológica inclui o conhecimento de que ambos os lados de um


conflito podem ser importantes, dependendo do contexto, e que as contradições no
âmbito de uma comunidade são sinais de sua diversidade e de sua vitalidade, e
desse modo contribuem para a diversidade do sistema.” (CAPRA 1996, pg.235).
Segundo Maturana e Varela (1995) a base de consenso existente para permitir o diálogo entre as
diferentes comunidades, é a aceitação desta diversidade de ideias, e o entendimento que são estas
diversidades que podem mostrar as melhores soluções, em cada caso. Segundo os autores, é um
abandono das certezas rígidas ou verdades absolutas, e a noção de que a construção de uma
sociedade sustentável ainda está no início, e ninguém sabe como ela realmente será. Devido a isto,
entende-se que é preciso a participação criativa de todos na construção de um mundo mais justo, da
maneira que possamos deixar às gerações futuras o maior patrimônio que existe: a Vida.

3
1º módulo de Curso de design permacultural (PDC) realizado pelo autor, em 2007.

11
4. Espaços Urbanos ecológicos.

Como visto anteriormente, os princípios ecológicos nos fornecem a direção para que a criatividade
conjunta estabeleça o melhor caminho de atuação nas cidades. Porém, um dos trabalhos dos
profissionais é abastecer as comunidades com possibilidades técnicas, através de uma “produção de
informação sobre a realidade em uma linguagem acessível e transparente, democratizando o acesso
à informação.” (BERNARDES, 2010, pg.22).

Os espaços urbanos são elementos muito importantes nas cidades. Suas funções têm papel muito
importante no metabolismo urbano, e suas conexões / relações com a cidade e com a comunidade
usuária devem ser fortalecidas.

Neste trabalho, apresentam-se duas categorias de estratégias que se complementam, e visam tornar
os espaços urbanos em espaços ecológicos e produtivos, contribuindo com um metabolismo mais
diversificado e cíclico das cidades: a permacultura, e a agricultura urbana. Ambas visam uma
produção mais sustentável e descentralizada de alimentos, voltadas para o local, de uma maneira
ecológica, onde os recursos para produção podem ser captados na própria comunidade, de maneira
que a quantidade de resíduos dispensados diminui, favorecendo a conservação e capacidade de a
natureza se renovar. Além disso, contribuem para a inserção de funções diversas nos espaços
públicos, seguindo os princípios ecológicos, como a diversidade (sobreposição de funções). As ações
devem ser adequadas ao meio ambiente, com o uso de materiais e energias renováveis, sistemas
vivos, favorecendo o fluxo energético e de matéria, pela constante renovação, reciclagem, evolução,
etc.

4.1. A Agricultura Urbana (AU)

Ainda é um conceito em construção, definido de diferentes maneiras, embasadas, principalmente,


pelas práticas existentes, espalhadas pelas cidades do mundo todo, na Bolívia, Peru, Cuba, e Brasil,
por exemplo. Devido a essa diversidade de manifestações, expõe-se, aqui, o conceito dado pela
pesquisa Panorama da Agricultura Urbana e Periurbana no Brasil (SANTANDREU & LOVO,
2007):

“A Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) é um conceito multi dimensional que inclui


a produção, o agro extrativismo e a coleta, a transformação e a prestação de
serviços, de forma segura, para gerar produtos agrícolas (hortaliças, frutas, ervas
medicinais, plantas ornamentais, etc.) e pecuários (animais de pequeno, médio e
grande porte) voltados ao auto consumo, trocas, e doações, ou comercialização, (re)
aproveitando-se, de forma eficiente e sustentável, dos recursos e insumos locais
(solo, água, resíduos sólidos, mão-de-obra, saberes etc.). Essas atividades podem
ser praticadas nos espaços intra urbanos ou periurbanos, estando vinculadas às
dinâmicas urbanas ou das regiões metropolitanas, e articuladas com a gestão
territorial e ambiental das cidades.” (SANTANDREU & LOVO, 2007, pp.: 5 )
Esta maneira ecológica de produzir nas cidades vai pelo caminho contrário das grandes produções
agroindustriais. Suas metas são direcionadas para a autonomia e fortalecimento da comunidade
local, que a pratique, e para o desenvolvimento do equilíbrio e da consciência ambiental – produção
agroecológica, que (como é ecológica) estuda as relações da produção com os aspectos sociais,
ambientais, e com o que mais se apresentar. (Altieri, 1986 apud SANTANDREU & LOVO, 2007. p.

12
40). Ou seja, é uma produção alimentar, porém, envolve todo o seu contexto cultural, social,
ambiental, etc.

4.1.1. Atividades da Agricultura Urbana

A pesquisa (SANTANDREU & LOVO, 2007) revela que a AU é uma realidade existente em todas as
regiões brasileiras (pesquisadas 11 regiões metropolitanas): Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR),
Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Brasília (DF) e Goiânia (GO), Belém (PA),
Fortaleza (CE), Recife (PE) e Salvador (BA). No total, identificaram 600 iniciativas (com previsão de
que haja muito mais) cuja grande parte é voltada para o auto consumo e comercialização formal /
informal da produção. Em quase todas as regiões, existem as parcerias com o poder público, porém,
em Brasília, a parceria acontece apenas com o setor privado, sociedade civil ou academia (quadro 1).

Quadro 1 - Listado das experiências focadas na Região Centro Oeste – Brasília (DF), por tipo de ator que
as promove, apóia e/ou financia. (SANTANDREU & LOVO, 2007, pg.22)
Ator que promove ou financia Região Centro Oeste – Brasília (DF)

Associação Assistencial e Habitacional nas Áreas


Urbana, Rural, Comercial e Entorno (AAHCE)
Associação de Agricultura Ecológica (AGE)
Assoc. dos Produtores do Alagado e Santa Maria
Associação dos produtores rurais de Alexandre
Gusmão
Assoc. dos Moradores Organizados para
Habitação Urbana e Rural do DF e Entorno
(AMOR-DF)
Associação dos Produtores Rurais do Núcleo Rural
Tabatinga (APRONTAG)
Assoc. dos Produtores Rurais Hortflorifrutícolas da
Colônia Agrícola do Núcleo Bandeirante 1
(ASCOAGRINB)
Associação dos Produtores Rurais do Núcleo Rural
Boa Esperança
Associação dos Produtores Rurais da Colônia
Agrícola Veredas Samambaia
Sociedade civil, academia e setor privado
Associação dos Produtores Rurais do Núcleo Rural
Córrego das Corujas
Associação das Donas de Casa da Chapadinha
Associação dos Excluídos do Projeto Zumbi
Associação dos Produtores Rurais do Núcleo Rural
Guariroba
Associação do Grupo de Moradores do INCRA 9
Associação dos Produtores do INCRA 7
Associação dos Produtores Rurais do Núcleo Rural
Lajes da Jibóia
Associação dos Participantes do Mercado de
Produtos Orgânicos de Brasília
Associação dos Produtores Rurais Novo Horizonte
- Betinho (ASPRONTE)
Associação dos Moradores e Produtores Rurais
Palmas e Rodeador
Associação dos Produtores Rurais da Reserva A

13
Existem cinco (5) categorias de atividades agroecológicas que auxiliam na compreensão do que é
considerado prática ou iniciativa de AU: a produção, transformação artesanal, comércio justo e
solidário; auto consumo; e prestação de serviços (SANTANDREU & LOVO, 2007).

A diversidade de atividades de Agricultura Urbana visa atender às exigências da abordagem


ecológica desta política. Cada caso merece estudo aprofundado de suas condições e relações
possíveis, para que, as atividades de menor intensidade sejam supridas pelas relações entre
comunidades diferentes que se complementem pela parceria, onde juntas evoluem e criam as
condições para isso.

4.1.1.1. Produção:

Estão incluídos o cultivo agrícola (hortaliças, plantas ornamentais, frutíferas, medicinais, madeireiras)
e criação de pequenos e grandes animais. A produção ecológica também exige que haja a produção
de insumos (sementes, mudas, composto, húmus), reaproveitamento de resíduos e água no loc, para
que a produção seja mais sustentável.

4.1.1.2. Transformação artesanal

Abrange a produção da própria comunidade e a transformação destes produtos de maneira artesanal,


realizadas pelas famílias envolvidas com o processo. Podem ser geléias, doces, etc.

4.1.1.3. Comercialização justa e solidária

Toda a produção e transformação devem ser comercializadas de uma maneira justa com as
comunidades vizinhas, e dentro da própria comunidade, em comércios formais e informais, como os
tradicionais mercados orgânicos

4.1.1.4. Auto consumo

A produção (ou parte dela) pode ser voltada ao consumo da própria comunidade, ou doações a
instituições, além de trocas internas, ou com outras comunidades

4.1.1.5. Prestação de Serviços

Toda a experiência da comunidade pode (e deve) servir de base para novas iniciativas e
capacitações. Esta troca constante de conhecimento é necessária para o desenvolvimento e
divulgação de novas tecnologias, modos de cultivo, etc., de maneira que sigam um caminho de
evolução e aperfeiçoamento.

Percebe-se que, esta atividade propõe ir além de hortas comunitárias. De alguma maneira, ela clama
pelo aumento da participação da comunidade, e dá bases para a sua autonomia. Além disso, abrange
o intercâmbio de informações e experiências que tenham em sua base, uma consciência ambiental e
ecológica em contínua expansão.

A versatilidade que está presente nesta visão ecológica (sistêmica) da produção agrícola e pecuária,
nos meios urbanos, permite à Agricultura Urbana inserir-se nos mais diversos locais, e contextos
podendo ser fonte de renda, justiça social e dignidade para muitas famílias, se receber a devida

14
valorização e importância que ela tem. Os locais urbanos que são aptos a receber a Agricultura
Urbana são muito variados, necessitando de estudo e aprofundamento de caso. estão no quadro 2:

Quadro 2 - Tipologias urbanas possíveis para atividades de Agricultura Urbana e Periurbana. Adaptada
(Terrile, 2006 apud SANTANDREU & LOVO, 2007, pg.22)
Tipologias possíveis para atividades de AUP
Tipologias Espaços característicos

Lotes vagos; Terrenos baldios particulares ou com


dúvidas sobre a propriedade; Lajes e tetos;
Espaços Privados
Quintais ou Pátios; Áreas periurbanas; Áreas
verdes em conjuntos habitacionais.

Terrenos de propriedade Municipal, Estadual e


Federal com espaços possíveis de utilização de
Espaços Públicos
acordo com a caracterização feita nas linhas
abaixo:

Verdes urbanos Praças e parques.

Escolas e Creches; Posto de Saúde; Hospitais;


Institucionais
Presídios; Edifícios Públicos e privados.

Laterais de vias férreas; Laterais de estradas e


avenidas; Margens de cursos d’água; Áreas
Não edificáveis
inundáveis; Faixa sob linhas de alta tensão;
Ambientes aquáticos (rios e lagoas).

Áreas de Proteção Ambiental; Reservas


Unidades de conservação Ecológicas; Outras unidades desde que seja
permitido o manejo e uso de potencialidades.

Áreas de tratamento Aterro sanitário; Lagoas de oxidação.

4.1.2. Parâmetros globais para a inserção da Agricultura Urbana

“todas as ações desenvolvidas, tanto pelo governo, como também pela sociedade
civil precisam ser cada vez mais unificadas; achar os caminhos de encontro, e
crescerem como um processo para traçar uma política pública organizada”
(ILZINHO, 2008 - entrevista: vídeo internet).
A grande quantidade de práticas e a necessidade de valorização Agricultura Urbana, levaram as
ONG´s, e associações, juntamente com o poder público, ao estabelecimento de parâmetros globais
para a execução, organização e fortalecimento das iniciativas, organizando, assim, seus objetivos,
diretrizes e metodologia de inserção nas comunidades. A continuidade das iniciativas e a
comunicação entre as comunidades visam aperfeiçoar a prática. Percebe-se que a intenção é
estabelecer conexões, relações de parceria, continuidade e evolução nos processos de produção
agroecológica local e urbana, voltada para o seio da comunidade envolvida. Atualmente, a política de
Agricultura Urbana conta com uma lista de objetivos e diretrizes (SANTANDREU & LOVO, 2007), e, um
fluxograma metodológico que auxiliam nessa padronização e organização (site REDE).

Os objetivos são:

4.1.2.1. Objetivos:

“Promoção da Agroecologia, do Consumo de Hábitos Saudáveis, da Construção de


Conhecimentos Respeitando o Diálogo de Saberes, ao Respeito à Diversidade
Étnica, Racial e Cultural;

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Promoção da Equidade de Gênero, Justiça Sócio-ambiental e a Solidariedade;
Promoção da Soberania Alimentar e Segurança Alimentar Nutricional;
Promoção da Economia Justa, Solidária e Familiar e o Consumo Responsável;
Promover a Participação, Empoderamento e Autonomia do(as) Agricultores(as)
Urbanos e Periurbanos.” (SANTANDREU & LOVO, 2007)

4.1.2.2. Diretrizes:

“Fortalecer a consciência cidadã em torno dos benefícios da AUP;


Desenvolver capacidades técnicas e de gestão dos e das agricultoras urbanas e
periurbanas;
Fortalecer cadeias produtivas locais e regionais, fomentando a produção,
comercialização e o consumo;
Facilitar o financiamento para atividades de AUP;
Promover a intersetorialidade e a gestão descentralizada e participativa e;
Fortalecer a institucionalização para o desenvolvimento da AUP.” (SANTANDREU &
LOVO, 2007).

Devido à necessidade de maior organização desta política, Clair Ilzinho, da prefeitura de Belo
Horizonte, um dos coordenadores do CCF-BH, esclarece:

4.1.2.3. Metodologia da inserção da AU

O programa Cultivando Cidades para o Futuro – Belo Horizonte, 2008 (CCF-BH, 2008) teve como um
dos objetivos estabelecer uma metodologia de inserção da prática de AU nos espaços públicos.

A metodologia alcançada no programa visa estabelecer uma comunicação constante com a


comunidade, de forma que esta sempre participe de todos os processos, desde o diagnóstico, até as
conclusões e lições aprendidas, com o decorrer das atividades. Veja a figura 2, que ilustra o
fluxograma a ser seguido:

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Figura 2 - Fluxograma de metodologia para política de AU. Fonte: site da REDE (Rede de Intercâmbios de
tecnologias alternativas (http://www.rede-mg.org.br/index.php?iid=24&p=2&sid=58 – acesso em
14/03/2011).

Observa-se que a primeira fase é formar uma equipe local de trabalho. Esta atitude visa a
aproximação fundamental com a comunidade na agroecologia. Fortalece as relações de
interdependência e parceria no interior da comunidade, como vimos nos princípios ecológicos.

O diagnóstico – a segunda fase –, então, é feito por todo o grupo (desde os coordenadores, técnicos
e comunidade). Através de trocas de informações empíricas, locais; repertórios técnicos, e educação
ambiental, o sistema (comunidade e parceiros) fica mais capacitado e ciente do perfil, necessidades,
desejos, anseios, possibilidades, e potencialidades da própria comunidade, e de seu meio ambiente.
As intervenções são criadas em conjunto. O objetivo final do diagnóstico é produzir um documento
estratégico, e, a partir dele, realizar nova capacitação da equipe (técnicos e comunidade), e prepará-
la para as próximas fases, que consistem em estabelecer o plano estratégico de atuação em curto e
longo prazo, e, posteriormente, executar as práticas das ações planejadas e, a institucionalização de
políticas. Todo o processo deve ser monitorado e, dada atenção especial para a busca da equidade
de gênero.

Pode-se perceber que a prática da AU, devidamente valorizada, tem grande contribuição na busca de
cidades mais sustentáveis. Ao contribuir com a diversidade de funções aos espaços públicos, e
valorização da comunidade local, promove a justiça social, o acesso a alimento de qualidade,
embelezamento da cidade, conforto bioclimático, cidades vivas, etc.

Pode-se entender que, quanto mais produção agroecológica uma cidade realizar, menor será a
necessidade de novos campos agroindustriais, que devastam a biodiversidade de nossos
ecossistemas; maior será a autonomia e dignidade das pessoas, pois estas participarão e serão

17
capacitadas para evoluírem em suas relações internas externas. Devido a isso, a valorização desta
política contribui na transformação do metabolismo de nossas cidades.

Importante ressaltar que a produção agroecológica visa a manutenção da vida humana e não-
humana, pela sua visão sistêmica (relações e conexões) de produção. A permacultura com suas
estratégias complementa a Agricultura Urbana, pelo seu método criativo de gerar em cada
componente do sistema diversas funções, utilizando-se, para isso, sistemas vivos; a observação dos
padrões ambientais; recursos renováveis de energia, e estratégias de desenho / projeto que buscam
alta eficiência e baixo impacto, capazes de gerar, em um local específico, sistemas vivos ecológicos e
produtivos que se autorregulam, dinâmicos, com pouca necessidade de gastos com manutenção, e
simplicidade de produção, facilmente abraçada pela comunidade.

4.2. A permacultura nos espaços urbanos


“Permacultura (agricultura permanente) é um método de desenho (projeto) e
manutenção de ecossistemas produtivos de forma consciente, nos quais existe a
diversidade, a estabilidade e a resiliência (capacidade de recuperação) dos
ecossistemas naturais.” (MOLLISON, 1988. pg. IX).
Aplicar a permacultura nos espaços urbanos é torná-los vivos, e produtivos. A sua maneira de pensar
a ocupação humana é criativa e aumenta a capacidade cognitiva da comunidade (tópico 3.1.4), pela
conexão que cria com os princípios e padrões da natureza. Todo e qualquer elemento tem valor e
serve como importante componente na criação das relações de parcerias, das transformações,
reciclagens e produções necessárias dentro do sistema. Em uma cidade, envolve desde as
construções, as vias, as caçadas, as pessoas, o sol, a chuva, o vento, etc. Tudo o que for possível
deve participar deste sistema contínuo e dinâmico de relações de parceria e evolução mútua.

Os três pilares básicos da permacultura são o Cuidado com o planeta, a fim de garantir a
continuação da vida; o Cuidado com as pessoas, para que acessem os recursos necessários à sua
própria existência; e o Estabelecimento de limites para a população e o consumo, a fim de
garantir o atendimento aos dois princípios anteriores (MOLLISON, 1988).

Existem diversas estratégias que criam, nas ocupações humanas, as condições de se conectarem
mais ainda com o seu meio ambiente natural, e desenvolverem uma consciência ecológica cada vez
mais apurada. Aqui são apresentadas algumas destas. São estratégias gerais, e podem servir em
diversas escalas de análise.

4.2.1. Estratégias (Rodrigues, 2000; Mollison, 1988)


“A permacultura, como um sistema de projeto, não contém nada novo. Ela organiza
o que sempre esteve ali, mas de uma maneira diferente, de forma que todos
[elementos] trabalhem para conservar energia ou para produzir mais energia do que
é consumido.” (Mollison, 1988. p.9 – com adaptações).
4.2.1.1. Posição relativa dos elementos:

Envolve a análise das necessidades e dos produtos que cada elemento gera. Abrange tanto os
elementos construídos, quanto os naturais. Pode-se entender que,quanto mais elementos inserirmos,
mais produtos e necessidades vão aparecer, abrindo espaço para novos componentes, e

18
aperfeiçoamento dos que já estiverem ali. Assim, o planejamento de todo o espaço deve ser feito com
base nestas relações entre as necessidades da comunidade, e os produtos e combustíveis de seus
componentes produtivos. Esta estratégia estabelece um padrão de posicionamento dos tipos de
produção de maneira que o aproveitamento energético seja otimizado, e o gasto minimizado. A
intenção é que o próprio sistema se realimente pelo correto posicionamento e criação de fluxos de
energia e matéria ao longo deste.

Mollison (1988) estabelece um sistema de zoneamento que vai desde a zona 0 até a zona 5, e
sugere o caráter das atividades praticadas em cada um:

• Zona 0: onde se localiza o projeto da moradia integrado a componentes naturais como estufas, e
telhados verdes, pérgulas com videiras, potes de plantas, e animais de companhia.

• Zona 1: Componentes que necessitam observação continuada, visitas freqüentes, necessidades


de cuidado especial, como viveiros de plantas, e pequenos animais; horta, reservatórios de águas
da chuva precisam estar bem próximos à moradia. Nesses locais, também se realizam a
reciclagem dos resíduos orgânicos. Aqui se organiza a natureza para que sirva às nossas
necessidades.

• Zona 2: Componentes que necessitam menos trabalho de acompanhamento. Pomares,


pequenos depósitos de produção, pequenas lagoas, etc.

• Zona 3: Onde se localizam as produções maiores, para comércio de produtos e animais.


Grandes reservatórios de água, armazéns, ou seja, sistemas agrícolas da grande escala,
manejados com adubos naturais, ou esterco vindo da Zona 1 e 2.

• Zona 4: Área que faz limite com os ecossistemas selvagens, porém, ainda passível de manejo
para coleta, a fim de atender às necessidades domésticas. Voltada para árvores resistentes, sem
podas, e/ou voluntárias. Nesta zona, pode-se praticar a silvicultura (manejo sustentável de
florestas)..

• Zona 5: Ecossistema selvagem, natural. Voltado para recreação ocasional, ou simplesmente para
deixá-lo se desenvolver sozinho. Neste local, é onde devemos aprender as regras a serem
seguidas em nossas comunidades.

Tratando-se de espaços urbanos (vazios) dentro da malha urbana, percebe-se mais possibilidades de
tratá-los até a Zona 2. De acordo com Rodrigues (2000), as outras zonas (3 e 4) poderiam ser
inseridas nos arredores da cidade e/ou nos parques urbanos.

4.2.1.2. Cada elemento deve executar diversas funções

Com uma boa posição estabelecida, um elemento tem a possibilidade de criar conexões mais
variadas e assumir diversas funções dentro de um sistema. A autora dá um exemplo de um lago que
possa servir de reservatório de água para irrigação, criação de peixes, habitat para pássaros, refletor
de luz para amadurecimento de frutas e área de recreação.

No enfoque urbano, um dos objetivos é tornar os espaços urbanos (públicos, particulares, etc.) mais
eficientes. Ao analisar os excessivos espaços gramados em nossas cidades, pode-se perceber que
estes poderiam servir para a produção ecológica de alimentos, e, ainda, abrigar pequenos viveiros de

19
animais, voltados para o consumo e aproveitamento da própria comunidade, e ainda auxiliarem na
infraestrutura urbana, dependendo das necessidades locais (Mollison, 1988. pg. I). Isto é, delegar
mais funções a esses espaços, na tentativa de distribuir em nossas cidades, diversas funções
realizadas pelo maior número possível de componentes.

Os equipamentos urbanos podem ter variadas funções como um abrigo, piso, ou viveiro de plantas
que sejam, também, um reservatório de água, ou um captador solar, por exemplo. Os espaços
urbanos podem se tornar locais lúdicos para as crianças, que, ao mesmo tempo em que divertem,
aprendem a importância da produção alimentar, e da consciência ecológica. Observam a
biodiversidade, e a beleza do lugar, em espaços de convívio, e reuniões comunitárias.

A produção agroecológica ainda fortalece a organização da comunidade, que se torna o principal


“elemento” a realizar mais funções. Desta forma, é possível que cada vez mais pessoas se envolvam
e produzam o que forem comer.

4.2.1.3. Cada função apoiada por diversos elementos

As necessidades da comunidade devem ser atendidas das mais variadas formas, por exemplo, água,
produção de energia e alimentos são necessidades básicas. Para serem atendidas, podem ser
produzidas de diferentes maneiras, integradas aos equipamentos urbanos, de maneira criativa.
Assim, como visto anteriormente, esta sobreposição de diversas funções gera um sistema mais
flexível, e forte pela diversidade de práticas, e as diferentes relações que elas geram dentro do
sistema.

Analisemos, por exemplo, a captação de água da chuva. Esta necessidade pode ser apoiada pelos
mais diversos elementos, bastando para isso, reservatórios estrategicamente locados na área. Uma
via urbana, por exemplo, pode servir como um poderoso captador, que ao longo de seu caminho, vai
distribuindo as águas pelas áreas verdes das cidades. Estas, por sua vez, necessitam estar
preparadas para receber o fluxo de água, com espécies arbóreas que “bebam” muita água, como
eucaliptos. Os edifícios em podem estar preparados com reservatórios, e etc. Desta maneira, a
irrigação de jardins ornamentais, ou as águas dos vasos sanitários, e limpeza de pisos são garantidos
pela atitude de captar a energia que entra no sistema, e é utilizada, transformada, etc. Quanto mais
reservatórios, e tratamentos alternativos de águas, melhor para os mananciais, pois a reutilização das
águas é aspecto essencial em uma comunidade mais sustentável.

Desta forma, cada função pode ser pensada desta maneira, aliando diversos elementos que
trabalhem em conjunto e alimentem o sistema por meio da diversidade de opções.

4.2.1.4. Utilizar a reciclagem

Quanto mais reciclagem praticarmos, melhor. Nossos lixos orgânicos servem de adubo para os
nossos jardins; alguns restos de materiais podem ser úteis como materiais de construção de jardins,
hortas, etc. As relações com outras comunidades são fundamentais e podem estabelecer trocas de
materiais, produtos, de forma que o que é resíduo para um seja recurso para o outro. Estas relações
podem ser tanto externas, quanto internas, dependendo do nível e do tipo das atividades existentes
na comunidade, e nas vizinhanças.

20
4.2.1.5. Utilizar a sucessão natural de plantas:

“Aceleração do sistema”. Aumentar os níveis orgânicos do solo, utilizando os processos que já


estejam em desenvolvimento no local, mesmo que seja o crescimento de espécies consideradas
“daninhas”. Pode-se utilizar, também, restos de madeiras, serragens, folhas secas, palhas, etc., para
proteger o solo e enriquecê-lo de nutrientes.

4.2.1.6. Utilizar a diversidade

Utilizar ao mesmo tempo espécies vegetais frutíferas, de hortas, de diferentes ciclos. Este princípio
está presente em todos os outros, seja nos elementos e suas funções, seja nos diferentes tipos de
produção (frutíferas, hortaliças, etc.). Nos cultivos vegetais, devemos usar as espécies
companheiras, parceiras, consorciadas, a fim de criar, mesmo em pequenos espaços, “um sistema
evolutivo diversificado” (Rodrigues, 2000. pg. 32). A autora (Rodrigues, 2000) recomenda utilizar
variedades de espécies que: a) sejam úteis e possam ser armazenadas; b) fixem nutrientes no solo,
como as leguminosas; c) sejam inseticidas e/ou atrativas a predadores; d) sejam adaptadas ao local,
e sobrevivam em condições adversas. Importante ressaltar a importância dos conhecimentos mais
variados que permitam a construção de sistemas, também, variados.

Segundo a autora (Rodrigues, 2000), o uso de vegetação nativa deve se estender em todos os tipos
de produção (paisagismo ornamental, alimentar, produtivo), pelas espécies da região serem mais
adaptadas e fortalecerem a estabilidade do sistema por manterem seus ciclos de energia e matéria
com uma manutenção muito baixa.

4.2.1.7. Utilizar a complexidade, através da criação de bordas

Os limites entre dois meios diferentes e antagônicos, inicialmente, (calçadas e gramados; espelhos
d’água e terreno, por exemplo) servem como espaços de transição que possibilitam a inserção de
mais espécies, configurando cercas vivas, por exemplo, que se utilizem, ainda, de duas ou mais
espécies produtivas, que sigam formatos sinuosos, a fim de aumentar a “área de contato” do limite, e
maior quantidade de espécies. Quanto mais o limite for sinuoso, criam-se maior quantidade de nichos
diversificados, com diferentes condições de iluminação, ventilação, umidade, etc. Desta forma,
possibilita o abrigo para maior diversidade de espécies, pois, os micro climas diferenciados permitem
o desenvolvimento de diferentes tipos de micro ecossistemas, controlados e limitados pelo próprio
desenho dos limites. Esses espaços servem como transição e devem servir com elementos parceiros
de ambos os meio a que se propõe integrar. A intenção desta estratégia é acabar com a
incompatibilidade entre diferentes meios e maximizar a sua interdependência

4.2.1.8. Utilizar recursos biológicos (renováveis)

Segundo a autora (Rodrigues, 2000), o uso de combustíveis fósseis é aceito somente nas fases
iniciais de implantação do sistema permacultural, para escavar, e formar espaços de reservatórios e
condutores de águas, por exemplo. Depois de consolidado, os animais, o sol, os ventos, a água, e as
plantas são as fontes de recursos do sistema, sendo essencial o correto manejo destas, para o
desenvolvimento continuado, flexível e dinâmico. Pode-se entender que, dentro das possibilidades
apresentadas, o uso de materiais renováveis como o bambu e a madeira nos equipamentos urbanos

21
é de grande utilidade, e ainda podem ser produzidos próximos ao local, a fim de servirem para os
próximos equipamentos, ou para a manutenção e evolução facilitada dos que já existirem.

4.3. Pequena conclusão


“Definição do desenho permacultural: sistema conceitual, material e estratégico
de montagem de componentes em padrões que funcionam para beneficiar a vida em
todas as suas formas. Busca prover sustentabilidade e lugares seguros para tudo o
que é vivo nesta Terra.”
“Projeto funcional: Todo componente de um desenho deve funcionar de várias
maneiras. Toda função essencial precisa ser realizada por vários componentes.”
“Princípios de Autorregulação: O propósito de um projeto funcional e
autorregulador é posicionar os componentes de modo que cada um atenda às
necessidades, e aceite produtos de outros elementos.” (MOLLISON, 1988 p. 69)

A quantidade de estratégias permaculturais é imensa. Estas estratégias muitas vezes se sobrepõem,


ficando difícil estabelecer onde uma começa e a outra termina, assim como as complexas conexões
que elas buscam estabelecer, espelhadas nos sistemas vivos. Mollison (1988) esclarece que o limite
para a utilização de estratégias, e até a criação de novas, está na criatividade, e disposição dos
envolvidos.

Aliar as políticas de Agricultura Urbana com a permacultura, em nossas cidades, é algo quase
automático, pois seus conceitos acabam se sobrepondo, também. Ambas não se restringem à
produção alimentar ou de produtos agropecuários. Preocupam-se, principalmente com as pessoas
envolvidas e a qualidade de suas vidas, tendo como requisito para isto, o desenvolvimento de uma
consciência ambiental, e comunitária, com diálogos compreensivos, que se fortalecem nas
diversidades e usam isto para ser a base de suas ações. Buscam, também, um mundo mais vivo,
diversificado onde cada pessoa tem a oportunidade participar dos processos que envolvem suas
necessidades, de maneira justa, e inclusiva, além de adquirirem a consciência ambiental de
responsabilidade sobre si mesmas.

22
5. O Estudo de caso: área verde residencial do Plano Piloto,
Brasília/DF.

A metodologia de aplicação da Agricultura Urbana (tópico 4.1.2.3 - figura 2), compreende uma fase
de diagnóstico que requer um levantamento das possibilidades de terrenos viáveis de receberem a
produção agroecológica. De acordo com o quadro 2, as áreas verdes públicas estão incluídas. Na
cidade de Brasília, os espaços verdes públicos são abundantes, porém, não apresentam muita
atividade social, nem atividades diversificadas que estabeleçam mais funções e flexibilidade a estas
áreas.

Figura 3 - Vista aérea da cidade de Brasília. Asa sul. Fonte:


http://h.imagehost.org/view/0784/myaviationnetphotoid009cp5 (acesso:9/5/2011)

Brasília é uma cidade tombada pela UNESCO como patrimônio da humanidade. Foi construída nos
moldes do movimento modernista, e projetada por Lucio Costa. Como Romero (2001) afirma, existem
diversas abordagens sobre esta cidade, onde as descrições já são amplamente divulgadas e
conhecidas, portanto, não realizaremos neste trabalho um detalhamento de suas conhecidas formas,
e sim aspectos de suas áreas verdes que pedem por um cuidado mais elaborado, a fim de se
tornarem espaços mais sustentáveis e ecológicos.

As áreas verdes de Brasília se configuram em grandes espaços gramados com espécies arbóreas
nativas ou exóticas distribuídas pela cidade. Logicamente não se pode deixar de destacar suas
qualidades. A beleza estética do verde, o silêncio, e o frescor de suas sombras, remetem àqueles que
com elas se relacionam, o quanto é necessária esta relação humana com o meio natural. A ideia
modernista de cidade parque possibilita esta maior relação, e maior tranqüilidade de seus moradores,
pois nos arredores de suas moradias, impera o silêncio e a pouca “atividade” urbana. Pode-se até

23
dizer que é como se houvesse um pouco do campo dentro da cidade, aspecto importante em uma
cidade sustentável (Andrade, 2010).

Figura 4 - Calçada sombreada com um clima agradável à caminhada

No período da noite, o silêncio é constante na maior parte da cidade; na parte da manhã, é comum
acordar com as revoadas dos pássaros. Estas qualidades podem e devem ser preservadas para que
o futuro também possa vivenciar essas sensações, e dar continuidade a essa características
agradáveis de um meio urbano.

Como a cidade possui forte caráter patrimonial, entende-se que todo o cuidado é necessário para que
medidas de intervenção em seus espaços não prejudiquem a morfologia da cidade, nem as suas
características tão importantes, de cinturões verdes, e arquitetura moderna. Quanto maior o debate
de diferentes disciplinas, e conhecimento mais abrangente sobre cada local específico, as
intervenções podem ser aliadas da preservação.

Preservar um patrimônio não quer dizer distanciamento deste ou estagnação. Ao contrário, existem
as mais diversas abordagens de valorização e manutenção dos bens patrimoniais, que visam se
adequar às economias, e costumes locais. Além disso, como visto nos princípios ecológicos (tópico
3), os sistemas que costumam perdurar pelo tempo são dinâmicos, e flexíveis, continuamente em
evolução para que se mantenham vivos, e interconectados com toda a teia da vida. Um dos objetivos
deste trabalho visa contribuir com a aproximação entre os princípios da ecologia e a preservação de
Brasília.

Os espaços verdes de Brasília são considerados espaços de pouco uso ou atividade, sem o
dinamismo e diversidades das cidades tradicionais. Isto, porque, de maneira geral, a morfologia da
separação das atividades torna os espaços vazios quando não se realizam tais atividades
(TUKIENICZ, 1985 apud ROMERO, 2000), com algumas poucas exceções de atividades
espontâneas não planejadas.

24
A história de criação da cidade também contribui para esta pouca atividade nos espaços urbanos, e
relação distante com a sua população.

“a (...) rígida estrutura de espaço funcional, [do] (...) plano [de Lúcio Costa] não
estava preparado para abrigar as manifestações reinvidicatórias de uma população
sem história comum. Por esse motivo, o plano não possui espaços nem para a
reunião programada nem para o encontro furtivo e fugaz das massas recém
liberadas.” (ROMERO, 2000. pg.133 ).
Holanda(2002), por meio de pesquisas nas Superquadras 405/406 Norte e 102/302 sul constatou
essa falta de uso nas áreas verdes das Superquadras, e além disso, expõe o caráter de
segregação que estes apresentam, por servir apenas à classe média, moradora do local,
uniformizando os usuários.

Os princípios ecológicos, como os vistos anteriormente, pedem uma abordagem diferenciada para a
sobrevivência e boa saúde dos sistemas. As comunidades devem ser participativas, diversificadas e
os componentes urbanos devem ser eficientes, nos quais, quanto mais atividades, melhor a vida da
população envolvida.

Este é mais um desafio a ser encarado pelas comunidades em Brasília. Como configurar a cidade de
maneira em que seus espaços de alta qualidade sejam justos, socialmente? Uma pergunta para
reflexão...

Baseado nos princípios da Ecologia Urbana, esta característica monótona presente nos espaços
urbanos das áreas residenciais do Plano Piloto de Brasília, pode, em si mesma ser a sua própria
ameaça. O risco de apropriações sem estudos e planejamentos existe. Holanda (2002, pg 356)
constata que, principalmente na Asa Norte, existem diversos “bocados de urbanidade”, ou seja,
apropriações espontâneas, que fogem ao controle da legislação, ou do plano original de Lucio Costa,
como as fachadas das comerciais que deveriam se voltar para dentro das Superquadras, mas se
voltam para as ruas externas. Isto, segundo o autor (HOLANDA, 2002 p. 356), pelo fato de o Plano
Piloto ter “engordado” de uma maneira não prevista e o tráfego de veículos intenso nestas vias atrai
mais o olhar dos consumidores motorizados do que dos poucos pedestres que transitam pelo
interior da superquadra. Os famosos “puxadinhos” das comerciais e das casas das 700 também são
comportamentos que, pela falta de usos habituais nos gramados, cria-se a permissão coletiva para tal
atitude.

“O plano não previa (e nem poderia prever) nem os detalhes urbanísticos, nem a
infra estrutura necessária para uma sociedade que cresceu de modo vertiginoso e
que, além disso, precisou imitar apressadamente o que as imagens de mídia
impunham como condição essencial de qualidade de vida” (ROMERO, 2001. pg.
133)
A rigidez excessiva na manutenção e gestão destes espaços ignora a incapacidade de evitar as
ocupações e manifestações espontâneas. Por esta razão, estas são feitas sem uma capacitação
adequada ou acompanhamento do poder público. Com o passar do tempo, podem descaracterizar as
malhas verdes da cidade, e prejudicar a qualidade de vida das pessoas, moradoras do local.
Estabelecer funções nas áreas verdes baseadas na permacultura e agricultura urbana é uma maneira
de proteger o verde, e, além disso, aproximá-lo mais ainda de seus moradores, por meio de espaços
de lazer, contemplação e descanso, altamente produtivos, dinâmicos, educativos, e feitos pela própria
criatividade coletiva, aliada aos conhecimentos técnicos, necessários a intervenções adequadas. A
permacultura e a Agricultura Urbana enxergam, nos espaços sem uso e sem atividade social, alto

25
potencial de abrigar uma vida comunitária intensa, de fortalecer a gestão urbana e ambiental
descentralizada e coletiva, pela autonomia e capacitação local, aliada à visão global do poder público
de realizar políticas de integração dos diferentes grupos.

De acordo com as ideias da Ecologia urbana, pensar os detalhes urbanos é fundamental, e disso
depende o sucesso de uma comunidade. Portanto, justamente na diversidade de usos e apropriações
que os gestores urbanos devem trabalhar, ao invés de tentar uniformizar, ou industrializar uma
população como se fosse uma máquina. Somos sistemas vivos, então, que nos administremos como
tais, não como máquinas, ou peças destas. Conhecer a diversidade de usos, atividades, pessoas,
pensamentos, expressões, etc. possibilita a criação das conexões adequadas entre os componentes
urbanos do local com as comunidades, e com as redes interdependentes das quais todos fazem
parte, e, assim, colaboram mutuamente na saúde do grande sistema vivo que é a cidade, inserida na
natureza e no planeta, como um sistema flexível, resistente e, dessa forma, duradouro e mais
sustentável.

A preservação de Brasília, pela visão flexível da ecologia urbana, agricultura urbana e permacultura,
precisa do maior número possível de estudos pormenorizados de seus espaços – população,
ambiente, etc. – para dar mais fluxos energéticos e produção de recursos que atendam as
necessidades mais básicas de seus moradores, vizinhos mais próximos, e contribuam para que
outros espaços produtivos se desenvolvam pela relação de parceria verdadeira.

Neste estudo de caso serão realizadas análises baseadas na observação, com o intuito de levantar
dados sobre o local, e contribuir com este conhecimento detalhado, que deve ser feito da maneira
mais aprofundada possível. A intenção é identificar algumas particularidades, como espaço de
permanência, de passagem, de lazer, manutenção, exercícios físicos, etc.

Mesmo com toda a aparente uniformidade espacial de Brasília, a cidade é formada por pessoas
diferentes, e por mais que não pareçam, as configurações espaciais, edifícios, equipamentos urbanos
e vegetação, são organizados de diversas maneiras diferentes, que configuram diferentes
microclimas, padrões de iluminação solares, percursos de ventos, etc.

“(...) por mais que dois lugares possuam similaridades do ponto de vista da geografia
física, a atividade humana sobre aquele suporte geográfico caracterizá-lo-á como
uma paisagem singular.” (ROMERO, 2010 p. 9).
No contexto da produção agroecológica urbana, cada local possui diferentes possibilidades de
produção e formas de abordagem, padrão estético, etc. O conhecimento destas variáveis possibilita
inserções que fortaleçam a identidade comunitária, e seja maior sua participação e apropriação das
decisões coletivas e responsabilidade pelo destino do grupo.

26
6. A análise do lugar: Área central da Superquadra 314 norte
(Brasília / DF).

A escolha do local se deu da forma mais conveniente para o autor, por ser morador da Superquadra
há oito anos. Trata-se da Superquadra Norte 314 (SQN 314), localizada na Asa Norte, plano piloto,
Brasília / DF (figura 5).

Figura 5 - Situação (localização) da Superquadra Norte 314 (SQN 314). Fonte: Google Earth (com
modificações)

A área de estudo é uma área pública externa localizada no setor central da Superquadra (figura 6).

27
Figura 6 - Superquadra 314 Norte. Brasília DF. Fonte: Google Earth (com modificações)

Na área escolhida, utilizamos metodologias de análise urbana baseadas na observação direta:


análise do espaço e do caráter, e mapa comportamental. Estas visam encontrar o espírito ou
atmosfera do lugar (genius locci); Segundo Romero (2010), para entendermos o lugar onde
pretendemos intervir, é preciso que identifiquemos esse espírito, também chamado de memória do
local, que direciona o planejamento de maneira mais integrada às características já existentes,
reforçando a identidade da população, e, consequentemente, aumentando as chances de
apropriação coletiva do espaço. Nas áreas previamente identificadas pelo quadro 2 (tipologias
urbanas), essa análise auxilia em diretrizes e estratégias mais precisas, pois, quanto melhor
entendidas as memórias e costumes do local, mais claras e eficientes serão as soluções da
intervenção.

Importante ressaltar que são necessárias muitas outras etapas como consulta e debates com a
comunidade, auxílio do poder público local, campanhas educativas e, ainda diversas metodologias de
pesquisas que auxiliam na leitura mais precisa possível das condicionantes, como avaliações de pós
ocupação, cartas bioclimáticas, análises do solo, levantamento de espécies vegetais, fauna já
existentes, carta solar, etc. Como visto anteriormente, quanto mais informações tivermos disponíveis,
maior será a eficiência das medidas e maior adequação ao contexto local, aceitação e apropriação da
comunidade.

6.1. O Espaço (aspectos objetivos):


“O espaço: é a forma concreta e material dos elementos definidores do lugar. Deve
ser entendido como a organização tridimensional dos elementos, o que proporciona,
a partir da localização, da orientação do indivíduo.” (ROMERO, 2010. pg. 6. grifo
nosso).

28
O espaço, com uma área de, aproximadamente, 4.180 metros quadrados, se localiza na região
central da Superquadra norte 314. Este é circundado por estacionamentos, e vias ao sul, e a leste, e
quatro edifícios: bloco E, ao norte; bloco F, ao sul; bloco D, a leste; bloco G, a oeste.

Figura 7 - Estudo de caso - Área central da Superquadra 314 Norte. Brasília DF. Fonte: Google Earth (com
modificações).

Há a presença de alguns equipamentos e mobiliários urbanos, como o parquinho integrado com a


pérgula, o coreto, alguns bancos, e lixeiras.

Os acessos à área podem ser feitos de diversas maneiras (figura 8): o bloco D apresenta um acesso
direto ao local, a leste da área, porém, o estacionamento, que se localiza entre ele e a área estudada,
possui mais algumas opções; o Bloco E possui o pilotis diretamente ligado a área, configurando
múltiplos acessos, sem uma definição clara de percurso. Além disso, a calçada que circunda o prédio,
faz limite com o pilotis, e cria dois outros acessos: um a nordeste, e outro a oeste, que liga a área ao
bloco G, sendo o único acesso deste prédio a área de estudo. O bloco F não possui um acesso direto
ao local, sendo limitado pela via local da Superquadra e estacionamento, que se tornam passagem
obrigatória na ligação entre a parte sul da Superquadra e sua área central (estudo de caso).

29
Figura 8 - Acessos à área de estudo

6.1.1. Os blocos

O Bloco D possui uma fachada de cor marrom, orientada a oeste, voltada para a área de estudo, com
diversos toldos instalados para proteção solar (figura 9). O transição para a área de estudo se dá por
um estacionamento e o único acesso mostrado na figura 8.

30
Figura 9 - Vista do Bloco D
O bloco E possui uma fachada vinho, com varandas brancas, voltada para a o local estudado (figura
12). Seu pilotis tem formatos arqueados.

Figura 10 - Vista do Bloco E


Este bloco ainda possui diversos jardins à sua frente, que abrigam espécies ornamentais, árvores e
palmeiras (figuras 10 e 11), e delimitam os fluxos de acesso, configurando a transição para área
central da Superquadra.

Figura 11 - Foto da relação direta pilotis do prédio / área de estudo

31
O bloco F participa da composição visual da área, sem relação direta com o local (figura 12).

Figura 12 - Vista do bloco F

O bloco G apresenta, em sua fachada voltada para a área de estudo (fachada norte do prédio),
superfície branca, com alguns detalhes em azul claro. Alguns toldos realizam a necessária proteção
solar dos apartamentos (figura 13).

Figura 13 - Vista Bloco G


A transição deste prédio para área estudada acontece com áreas verdes cercadas, a entrada da
garagem do edifício (figura 15), e somente por um acesso, como visto na figura 8.

Figura 14 - Barreiras ao acesso do Bloco G à área de estudo

32
6.1.2. Equipamentos Urbanos, vegetação, calçadas, e vias

Os equipamentos urbanos da área se localizam mais próximos ao bloco E. O espaço possui bancos,
parquinho, pérgula, e coreto. A vegetação arbórea também se concentra nesta região, porém, as
cercas vivas são utilizadas também próximas ao bloco G (figura 15).

Figura 15 - Mapa esquemático dos equipamentos urbanos e vegetação

33
6.1.2.1. Coreto

O coreto é feito de madeira pintada nas cores azul e branca. Possui telhado colonial com seis águas
por configurando um espaço hexagonal (figura 16).

Figura 16 - Vista do Coreto

Todos os materiais apresentam estados de conservação precários, ou com prováveis erros de


execução (figuras 17 e 18). As calçadas no abrigo também estão em situação ruim, quebradas e,
muitas vezes, sujas (figura 18).

Figura 17 - Conservação ruim das telhas do coreto

Figura 18 – Calçadas quebradas, bancos mal encaixados, e sujeira.

34
6.1.2.2. Equipamentos de exercícios físicos mal executados;

Os únicos equipamentos de atividade física do local são mal executados, em terreno desnivelado, e
sem calçamento adequado e acessível (figura 19).

Figura 19 - Equipamentos de atividade física precários

6.1.2.3. Parquinho / pérgula

O parquinho possui boa quantidade de brinquedos, e bom sombreamento, realizado, em grande parte
pelo bloco E, e vegetação próxima (figuras 19 e 20).

Figura 20 - Vista do parquinho - 1

Figura 21 - Vista do parquinho – 2

35
O limite do parque se dá por telas de arame; seu piso é de areia, porém, com pouca manutenção,
mistura-se com o mato que cresce no local.

Figura 22 - Manutenção precária do parquinho

O parquinho se integra com a pérgula, de madeira, pintada nas cores azul e branca (como o coreto).
Esta, de maneira geral, apresenta bom aspecto, mas podem ser observados alguns pontos de
descuido, ou deterioração natural da estrutura, como observado nas vigas desgastadas, e no mato
que cresce nas bases dos pilares (figura 22).

Figura 23 - Vista do parquinho / pérgula

6.1.2.4. Calçadas e vias

As calçadas da área, de maneira geral, são estreitas (figura 23 e 24) e mal cuidadas. Em alguns
pontos, o calçamento já está acabado e o mato toma conta do percurso (figura 23).

Figura 24 - Calçadas quebradas e estreitas

36
A via local compõe os limites horizontais, com estacionamentos (ao sul ao leste da área), e, ainda,
com abrigos improvisados dos contêineres de lixo dos blocos F e G.

Figura 25 - Via local e contêineres no limite da área

6.1.2.5. Vegetação:

A vegetação é feita pelo paisagismo padrão da cidade, com espaços gramados e algumas espécies
arbóreas. Existe um gramado central, maior, com calçadas em seus limites (leste, norte, oeste), e
estacionamento ao sul. Neste gramado, existe apenas uma árvore pequena, como se pode observar
na figura 26. Nos outros espaços com mais calçadas diversificadas (ver mapas), a vegetação se
apresenta em “ilhas” de gramas, com algumas árvores.

Figura 26 – Vista panorâmica da área na época da seca (setembro 2010)

Na época mais úmida, os gramados ficam mais verdes e vistosos, porém, nas horas mais quentes do
dia, a falta de árvores, seja nas secas ou nas chuvas, é evidente, causando muito desconforto
durante a permanência na área, pois o sol incide diretamente sobre toda a área (figura 26 e 27).

37
Figura 27 - Imagem panorâmica da área no final das épocas das chuvas (abril 2011)

Nos espaços de transição entre os blocos E e G, encontram-se os jardins cercados por cercas vivas,
e arames. Estes delimitam um espaço personalizado com o cultivo de plantas ornamentais, cuidadas
por cada prédio, separadamente (figuras 28 e 29).

Figura 28 - Jardim cercado do Bloco G

Figura 29 - Jardim cercado do Bloco E

6.1.2.6. A Prefeitura

O edifício da prefeitura tem proximidade com a área, mas a sua relação com o centro da Superquadra
é confuso, atravessada por uma via e estacionamentos, diminuindo a acessibilidade e a relação com
espaço (figura 30).

38
Figura 30 - Relação confusa com as vias, facilmente bloqueada e entorno ruim do ponto de vista da
acessibilidade

A arquitetura da Prefeitura possui uma composição simplória, com um acabamento e manutenção


que parecem ser de improviso (figura 31).

Figura 31 - Vista da sede da Prefeitura: arquitetura mal elaborada, com caráter de improviso

Apresenta a melhor relação com a área. O seu pilotis tem ligação direta com o local. Diversos
acessos; Percebe-se que a área mais próxima a ele é a que mais possui calçadas, e equipamentos;

o Próximo do parquinho de areia: cercado com telas de arame, e pérgula de madeira;

o Bancos, e lixeiras espalhados em volta do parquinho;

o Boa quantidade de vegetação próxima ao Bloco.

39
6.2. O Caráter (aspectos subjetivos)
“O caráter: é a atmosfera do lugar, um fenômeno totalmente qualitativo que não
podemos reduzir à soma de seus elementos constitutivos. O caráter é determinado
por fatores como proporções, materiais, cores, estratégias de composição. Também
pela forma como os edifícios se encontram com o céu, a terra e outros edifícios,
quer dizer, com a configuração do lugar.” (ROMERO, 2010. pg. 6).

A composição dos edifícios configura um espaço central de maior visibilidade da Superquadra


estudada. Pode ser visto como o cartão de visita dos moradores, aos visitantes da quadra. Por ser
uma área central, possui a capacidade de ser um espaço agregador e convidativo ao convívio
comunitário, essencial em uma comunidade sustentável.

Os equipamentos existentes (parquinho, bancos, coreto) contribuem com um caráter de lazer na


área. As crianças e seus responsáveis são, visivelmente, os maiores usuários do local. Apesar de o
Bloco “E” estabelecer uma conexão mais íntima com a área, observa-se rapidamente, que grande
parte de seus usuários se deslocam de outros prédios (além dos citados no trabalho – D, E, F, G)
para utilizar o parquinho. Em grande medida porque este é o único da quadra, e pela falta de opções,
as crianças aproveitam um parquinho, no mínimo, razoável, em termos de instalações físicas.

O gramado verde central se configura como um espaço de brincadeiras livres das definições dos
brinquedos de parquinhos, onde as pessoas podem jogar futebol, andar de bicicleta e cuidar de seus
cachorros, ou simplesmente, descansar. Porém, a vegetação está claramente em pouca quantidade.
Nas horas mais quentes do dia, o local fica mais vazio, e se configura como espaço rápido de
passagem. No período seco (analisado em agosto de 2010), o gramado se apresenta muito seco, e o
ambiente se torna muito mais desagradável. O piso gramado ofusca a visão pela coloração
esbranquiçada e parece refletir o calor, também, perdendo a sua função de conforto térmico. A
sensação em alguns momentos é até de abandono do local, ou de um deserto. Quando está mais
quente, as pessoas, naturalmente, procuram outros espaços com maior conforto, como os pilotis dos
prédios e outras áreas sombreadas (figura 32).

Figura 32 – A procura pelo conforto. Pessoas que, aparentemente aproveitariam melhor o parque, vão
para outras áreas pelo desconforto ambiental (foto: setembro, 2010).

Percebe-se nos Blocos “G” e “E”, que ambos delimitam jardins privados (prática constante nas áreas
verdes de Brasília), por meio de cercas vivas próximas aos edifícios, que, cercados, refletem uma

40
intenção de personalizar o local, ou estabelecer território. Nestes locais, podam a grama, cultivam
plantas ornamentais de maneira livre, em vasos de plantas, etc. Percebe-se bastante cuidado dos
Blocos com seus jardins “particulares”.

Figura 34 - Jardins privativos (bloco G)

Figura 33 - Jardins privativos (bloco E)

Figura 35 - Jardins produtivos (bloco E) Figura 36 - Jardins produtivos (bloco E)

Por outro lado, nos espaços mais livres, e impessoais, estas atividades de manutenção independente
não acontecem. O cuidado com as áreas verdes depende do poder público, e, na falta de atividade
deste, o espaço acaba se tornando mal cuidado (figura 37).

Figura 37 - Área um pouco mais afastada do prédio já mostra sinais de descuido, com mato alto e pouca
variedade estética.

41
As pessoas cuidam daquilo que podem, e conseguem bons resultados com atitudes que refletem que
a autonomia e descentralização das gestões urbanas e ambientais geram cuidados maiores nos
detalhes urbanísticos impossíveis de serem previstos na visão macro da cidade. Ao invés de o poder
público lutar contra essa característica, deve capacitar as comunidades para que suas intervenções
sejam adequadas e sustentáveis – saudáveis para a cidade e, consequentemente, benéficas para a
vida.

A maior vida social orbita em torno do parquinho, nas imediações do Bloco “E”. Algumas vezes
parece se refletir para o coreto. Isso mostra, inicialmente, que se houver maior cuidado arquitetônico,
urbanístico, e paisagístico, a interação entre os moradores da quadra e suas áreas verdes pode
aumentar, fazendo com que aproveitem mais ainda estes espaços, melhorando a qualidade de vida e
a qualidade do próprio espaço, que se torna cheio dela.

As calçadas e algumas áreas verdes mantêm a linguagem da cidade, de maneira geral, com espaços
verdes livres, que servem de cenário, e passagem, sem muita atividade. Percebem-se baixas
condições de acessibilidade, com calçadas estreitas, quebradas, contêineres de lixo,
estacionamentos e vias como barreiras. Neste aspecto, a área se torna injusta, pois não permite que
os deficientes ou pessoas com dificuldade locomoção se sintam convidadas ou mesmo confortáveis
em usufruir dos espaços coletivos.

À noite, toda a área é iluminada pelos postes públicos (iluminação padrão de balizamento), e também
pela luz vinda debaixo dos pilotis. O espaço se apresenta escuro, e, mesmo com uma iluminação
mínima, o parquinho é utilizado pelas crianças. Claramente, com maior cuidado do local, o uso seria
de maior qualidade.

Importante ressaltar que à noite, o silêncio e a penumbra do espaço configuram um convite ao


recolhimento e descanso no lar. O espaço fica vazio e sem iluminação. O silêncio é um aspecto
valioso no sossego e descanso dos que estão a relaxar nos apartamentos. O único som que parece,
algumas vezes, “poluir” o silêncio é o som de automóveis e motocicletas. Porém, essa característica
gera insegurança para os outros moradores ou pedestres que escolhem passear a pé pela cidade
para espairecer, fazer um exercício físico, etc.

Inicialmente, percebe-se uma leve conexão com a prefeitura da quadra, porém a via, o
estacionamento e os contêineres parecem aumentar a distância entre a área e a edificação. Como
caráter de observação, a prefeitura parece estar sempre fechada e não é muito participativa na vida
da superquadra. O símbolo da vida comunitária, e autonomia social é mal cuidado e não se conecta
de maneira clara com o espaço que apresenta maior potencial coletivo da Superquadra.

A infra estrutura do espaço atua fortemente no comportamento da sociedade que se relaciona com
ele. A sensação de segurança, a acessibilidade, os equipamentos (abrigos, parquinhos, quadras de
esportes, etc.) a vegetação, configuração espacial dos edifícios, a relação entre os componentes do
espaço podem melhorar a vida das pessoas se forem corretamente tratados. Conhecer a comunidade
local se mostra essencial no processo de intervir nas cidades, e torná-las mais saudáveis. O
aprofundamento das questões pode identificar aspectos antes não analisados, e fortalecer a
identificação da comunidade com as propostas e campanhas educativas realizadas pelos gestores,
na tentativa de cultivar a autonomia e a responsabilidade de todos perante a vida.

42
6.3. O mapa comportamental (Sommer & Sommer, 1991)
O Mapa comportamental consiste em uma “técnica de observação do
comportamento das pessoas em seus ambientes. Qual o lugar onde elas passam o
tempo, e como estes espaços afetam em seu comportamento?” (SOMMER &
SOMMER, 1991. pg. 62).
A intenção de utilizar esta ferramenta é conhecer de maneira mais detalhada o comportamento da
comunidade diante do espaço estudado. Quais atividades são realizadas? Onde são realizadas?
Quem as pratica? Qual a idade? Estas são algumas perguntas que podem ter uma resposta mais
próxima da realidade.

Para realizar um Mapa comportamental, é necessário observar somente o que é facilmente


identificado (SOMMER & SOMMER, 1991), pois, a metodologia não consiste em entrevistas ou outras
coisas do gênero. Esta prática é fundamentada na observação direta e anotação rápida dos pontos
identificados.

As maneiras de observar podem ser diversas e dependem de cada situação, da facilidade de campo
visual, da quantidade de pessoas, do tamanho da área, etc. Podem ser utilizadas câmeras
4
filmadoras, ou fotográficas “time lapse” , ou diagramas das áreas preparados para serem preenchidos
pelos pesquisadores.

Os Mapas comportamentais podem ser utilizados pela metodologia centrada na pessoa, ou centrada
no lugar. A metodologia centrada na pessoa observa um indivíduo, ou grupo, e como ele se
comporta. A metodologia centrada no lugar mostra como as pessoas se comportam em um local, ou
locais observados (SOMMER & SOMMER, 1991). Neste trabalho, utilizamos a metodologia centrada
no lugar.

6.3.1. Metodologia centrada no lugar

O observador se fixa em um local que o possibilite enxergar as ações em determinado local. Neste
trabalho, a posição de observação foi privilegiada, na cobertura do Bloco F.

Ele anota o local e a atividade exercida pelas pessoas em áreas do mapa base. Para isso, utilizamos
uma planilha que lista as atividades com relação ao local, o sexo, e a idade do indivíduo observado
(anexo 1). A análise foi feita em um dia inteiro: 22/04/2011 das 08:30 às 11:30, e das 14:30 às 18:30.

4
“Fotografia Time-lapse é um processo cinematográfico onde cada fotograma ou quadro (frame) de filme é
tomado a uma velocidade muito mais lenta do que aquela em que o filme será reproduzido. Quando visto a uma
velocidade normal, o tempo parece correr mais depressa e assim parece saltar (lapsing). A fotografia Time-lapse
pode ser considerada a técnica oposta à fotografia de alta-velocidade. Alterações que normalmente surgem
como sutis aos nossos olhos, como o movimento do Sol e das estrelas no céu, tornam-se evidentes. O Time-
lapse é a versão extrema de uma técnica cinematográfica de manipulação lenta e pode ser por vezes confundida
com animação de paragem de movimento (stop motion).” (Fonte: wikipédia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Time-
lapse acesso em 11/05/2011).

43
6.3.2. O Mapa

O Mapa base apresenta á área subdividida em dezoito setores, e alguns elementos arquitetônicos
para facilitar a identificação dos comportamentos. O intuito é detalhar os comportamentos presentes
nos locais (figura 38). Este mapa serviu para a anotação das planilhas (anexo 1) na pesquisa de
campo.

Figura 38 - Mapa Base setorizado para o mapa comportamental

44
6.3.3. Diagnósticos comportamentais

A partir das análises das tabelas (anexo 1), foi possível criar um mapa o Mapa Comportamental da
área utilizada (figura 39).

Figura 39 - Aspectos comportamentais da área de estudo

As atividades identificadas no espaço foram: a) passagem a pé; b) passeando com cachorro; c)


andando de bicicleta; d) brincando; e) atividade física; f) regando plantas; g) manutenção; h)

45
passeando com carrinho de bebê; i) conversando; j) vigiando as crianças; k) sentado; l) passeando de
skate (tabelas 1 a 10, anexo 1).

A passagem a pé foi considerada quando pessoas atravessavam os setores sem realizar mais
nenhuma atividade, apenas passando, de maneira clara, muitas vezes indo ao parquinho, ou, na
maioria das vezes, atravessando o local.

As atividades “passeando com cachorro”, “passeando com carrinho de bebê”, considerou pessoas
que estavam de passagem pela área, ou mesmo aquelas que ficavam rodeando a área. Para cada
pessoa, só se marcava uma vez o setor pelo qual passava, mesmo que essa passasse pelo local
diversas vezes, pois a intenção principal era identificar o uso daquele local e não os percursos de
cada pessoa. Porém, se a pessoa saísse da área e depois retornasse, era realizada a marcação.

As outras atividades são mais claras em suas definições, e são claramente entendidas.

Percebe-se pelas tabelas do Mapa comportamental (anexo 1), que o espaço estudado é utilizado, em
sua maior parte como espaço de passagem de pessoas a pé, que passam pelo local de maneira
rápida. Os percursos mais utilizados, percebidos de maneira clara, estão identificados no mapa
(figura 39). Os setores que formam estes percursos foram os mais presentes em todos os horários.
Porém, em alguns momentos de mais sol, (tabela 4, anexo 1), os setores que serviram de maior
passagem foram S6 e S10, que são espaços com maior quantidade de vegetação e sombreamento.

A segunda atividade mais percebida nas tabelas (anexo 1) é um passeio mais localizado, com
cachorros, onde as pessoas vai e vêm, e interagem mais com o espaço estudado; param, observam,
se sentam nos bancos, conversam de maneira rápida, porém, sem tempos prolongados. Diversas
pessoas aproveitam a qualidade climática da manhã e do final da tarde para um passeio com seus
amigos caninos, observado nas tabelas 3 (8:30 à 9:30) e 10 (17:30 às 18:30), e ainda encontram
seus vizinhos. Nessa atividade de passeio canino, observa-se que as pessoas utilizam mais o
gramado, utilizando os setores S8, S13 e/ou o S17 (tabelas 1, 2, 3, 5, 6 e 8), caminhando pela trilha
ou não.

No dia da pesquisa foi percebido pouco aproveitamento das áreas verdes livres, sem cercas. Porém,
em outros dias aleatórios de observação, existem usos como o futebol, bicicletas, etc., sempre
realizado pelas crianças, nos horários mais agradáveis de conforto bioclimático. As áreas S3 (parte
gramada), S8, S13, e S17 (gramado maior), parecem abrigar este uso mais livre, e espontâneo.

As outras áreas verdes chamadas “restritas” apresentaram atividades de manutenção, e rega de


plantas, em alguns momentos (ver tabela 1, anexo 1). Como visto na análise do caráter, elas se
configuram como espaços privados dos edifícios, sendo que cada um cuida do espaço à sua
maneira. Esta atitude se mostra importante quando observamos as outras áreas verdes livres com
gramados mal cuidados, e sujos (figuras 18, 24 e 37).

As atividades de permanência se localizaram, no dia da pesquisa, ao redor do parquinho, em seus


bancos, e espaços mais sombreados pelo bloco E, e pela vegetação um pouco melhor no local.

Essas atividades de permanência são, na grande maioria, realizadas nas brincadeiras das crianças
no parquinho, e nas proximidades (setores S4, S5, S6, e S10). Seus responsáveis, que ficam a vigiá-
las, ou mesmo brincando com elas também configuram maior vida ao espaço (figura 40).

46
Figura 40 - Adulto brincando com as crianças

As crianças brinca, os adulto interagem com elas ou entre si, ficam sentados, conversam, lêem
alguma coisa, ou simplesmente observam as brincadeiras infantis. Essa situação favorece maior
interação e atividades de convívio social, essenciais para uma comunidade saudável. As crianças e
seus “cuidadores” (pais ou babás) são os grandes responsáveis por deixarem algum movimento
constante na área.

O fato de o espaço se configurar, principalmente, como espaço de passagens e passeios, as


condições da calçadas, como medida inicial, deveriam ser melhores, e, mais largas para permitir
maior conforto no fluxo de pessoas com cachorros, crianças, skate, carrinhos de bebê, etc.

Nos horários mais quentes (tabela 4), o volume de todas as atividades caiu. A falta de vegetação ou
outros atenuadores solares se mostra como uma barreira à utilização da área nestes horários.

47
7. Utilização de algumas estratégias

Visando contribuir de uma maneira mais prática, existem algumas estratégias expostas
anteriormente, que se encaixam no contexto identificado neste trabalho. Embasados nos princípios
ecológicos organizados por Capra (1996) na permacultura, na Agricultura Urbana: flexibilidade,
diversidade, complexidade, reciclagem, espécies parceiras, etc. (ver nos tópicos anteriores)

7.1. Estratégia 1 – Zoneamento permacultural

7.1.1. Áreas verdes privativas: Zona 1

No local, as áreas verdes “privativas” já costumam apresentar práticas de Agricultura Urbana. São
jardins ornamentais, e, em alguns casos, muito bem cuidados.

A lei considera estes como espaços públicos, porém, a própria sociedade não reconhece desta
forma. Como visto anteriormente, as manifestações espontâneas da população nas cidades
extrapolam o planejado, ou o desejado mesmo pelos melhores pensadores urbanísticos. A vida das
cidades parece estar nas mãos de cada pessoa. Nestes locais, existem placas de “proibido pisar”, ou
“proibido cachorros”, em uma atitude clara da tentativa do controle, personalização, e cuidado sobre
este espaço (figura 41).

Figura 41 - Imagem da placa de proibição / restrição do uso

Os jardins cercados podem representar uma atitude de autonomia comunitária, que pode ser
valorizada, ao invés de combatida, seguindo as ideias de fortalecimento da diversidade dentro das
cidades. Aproveitar-se desta característica pode ser bastante produtivo para a comunidade de cada
bloco, e, assim de toda a Superquadra, e por conseqüência, de toda a cidade de Brasília, e suas

48
áreas verdes. A permacultura e a agricultura urbana trabalham desta forma, se adaptando e
organizando da melhor maneira, do ponto de vista ecológico, os componentes presentes em uma
área que se pretenda tornar saudável.

A estratégia identificada para estas áreas verdes privativas, é aplicar a Zona 1 da permacultura,
entendendo estes espaços como próximos à moradia e de fácil acesso pelos moradores. Neste nível
do zoneamento produzem-se componentes que precisam de cuidado constante, como viveiros de
plantas, e pequenos animais; horta, reservatórios de águas da chuva, reciclagem dos resíduos
orgânicos, em uma produção agroecológica dos recursos essenciais da comunidade.

Os reservatórios de água alternativos podem ter um papel muito positivo nas épocas mais secas do
ano, onde o tempo maltrata a vegetação existente, e todos os usuários da área. Dependendo da
quantidade, as áreas podem se manter bem irrigadas, e sem gasto dos mananciais longínquos da
cidade, apenas armazenando as águas das chuvas, que hoje em dia passam pelo local sem nenhum
cuidado, e acabam alagando as partes mais baixas da cidade, em dias de chuvas fortes.

Outra opção para se utilizar nestes locais de zona 1, seriam os minhocários. Estes sistemas utilizam
minhocas e terra para o tratamento dos resíduos orgânicos no próprio local, e produzem adubo para
as hortas, os pomares, etc.

Os espirais de erva de Mollison (1988) (figuras 41 e 42) podem servir à produção de espécies
variadas de ervas de temperos, utilizadas para a culinária, que podem ter dimensões variadas, e por
estarem próximos da moradia, ajudam na preparação das refeições de maneira direta.

Figura 42 - Espiral de erva. Fonte: MOLLISON (1988 p. 101)

Figura 43 - Corte AA do espiral de erva. Fonte: MOLLISON (1988 p. 101)

49
Seu formato cria diferentes condições de iluminação e umidade em um pequeno espaço, podendo até
produzir espécies aquáticas na parte de baixo do espiral, por acumular, em um pequeno reservatório,
o excesso de água de desce pelo percurso. As espécies que precisam de mais sol e menos água são
plantadas em cima, e as que precisam de sombras ficam nos locais protegidos do sol, etc.

Outra técnica de cultivo da permacultura no auxílio da agricultura urbana, que pode ser utilizada na
Zona 1, é a horta mandala (figura 44).

Figura 44 - Horta Mandala. Fonte: Mollison (1988 p. 274)

Esta técnica consiste no cultivo de diversas espécies, em um espaço reduzido. No centro, se


encontra o círculo de bananeiras que abriga uma composteira (A) para o tratamento de resíduos
orgânicos. As letras B e C do desenho consistem nas áreas de circulação no interior da horta. A letra
D, divida em a, b, e c, é o espaço de cultivo das espécies; a letra E compõe os limites da horta, que
podem ter outras espécies como mandioca, vagens, mamão, e até animais, como galinha d’angola. A
letra L consiste em árvores ou palmeiras que servem de sombreamento em locais muito quentes.

50
Essas e outras técnicas devem ser corretamente direcionadas, e incentivados pelo poder público,
com capacitação e repertórios técnicos e possibilidades para bom aproveitamento energético,
iniciativas mais sustentáveis, e criatividade ecológica, colaborando mais na qualidade da vida do
local.

7.1.2. Áreas verdes livres: Zona 2

Partindo da ideia da Estratégia 1, onde as áreas cercadas próximas aos blocos “G” e “E” são Zona 1,
as áreas verdes livres podem se configurar como Zona 2, e receber pomares frutíferos, ou mesmo
espécies de madeira para o consumo no próprio local. Nesta zona, o cuidado já não precisa ser tão
cuidadoso, mas demanda um bom acompanhamento das relações estabelecidas entre as espécies,
para que o sistema seja cada vez mais autônomo em seus processos.

Segundo Rodrigues (2000), o plantio de espécies nativas é fundamental, seja em quais forem os
zoneamentos. Entende-se que estas espécies são realmente adaptadas ao clima, e padrões naturais
do local e vão fortalecer o sistema, com trocas de nutrientes, e protegendo o solo, nos períodos mais
secos, e de perturbações mais extremas. O importante é aliar bem as espécies nativas com outras
espécies que se desejem produzir no local para atender às necessidades da comunidade.

A produção de madeira ou bambu no local para a construção de equipamentos urbanos pode servir
para a construção e manutenção facilitada de equipamentos e mobiliários urbanos, feitos destes
materiais renováveis. Esta facilidade dá possibilidades de evolução, e melhoramento dos
equipamentos, caso surjam novas ideias e demandas para tornar o espaço cada vez mais saudável,
com muita energia a circular e a se transformar no local.

Na área estudada, o local foi identificado como de bom potencial de uso recreativo, utilizada por
crianças. Uma boa saída seria o uso de equipamentos lúdicos com materiais renováveis, produzidos,
ao máximo, pelo paisagismo produtivo do próprio local. Toda área pode ser um lugar de brincadeira,
e descontração, integrando as funções produtivas com diversão, e semeando o aprendizado natural
da comunidade pela vivência direta dos processos naturais necessários para o atendimento às suas
mais diversas necessidades.

7.2. Estratégia 2 – Nas cercas das áreas verdes, dos parquinhos, etc.

Quando se utilizar de cercas, utilizar a complexidade, como afirma Rodrigues (2000). Desta forma, a
estratégia é cultivar mais espécies em contornos (ou cercas) funcionais (com mais funções) e
produtivos.

Os limite com cercas vivas para a Zona 1 das hortas pode ser sinuoso e, com isso, alargar as
calçadas de maneira bonita, viva, com formas dinâmicas, e maior biodiversidade. As espécies
plantadas podem servir para nutrir o solo, e fortalecer a saúde das hortas da Zona 1. Nos limites
diversificados, surgem diversos nichos que podem abrigar bancos de madeira, ou abrigos, e etc. A
intenção é estabelecer a diversidade de funções, explorando os limites entre diferentes meios, de

51
forma a serem espaços de transição altamente energéticos, que integrem as diferentes funções, com
mas vida e produção, e transformação de energia.

No parquinho, por exemplo, as “cercas” podem funcionar como bancos confortáveis, para os pais e
responsáveis poderem cuidar de suas crianças de maneira confortável. Ao mesmo tempo, os bancos
podem servir para o cultivo de plantas parceiras das hortas, e dos pomares (as leguminosas, que
nutrem o solo – RODRIGUES, 2000). A execução destes equipamentos com madeira ou outros
materiais renováveis auxiliam, mais ainda, na continuação do fluxo de energia e matéria pelo local.

Estas e outras estratégias podem ser amplamente utilizadas. A sociedade/comunidade precisa estar
envolvida no processo para que as soluções sejam assimiladas pela maior quantidade de pessoas e
o cuidado com a área seja feito pelos seus usuários, da maneira como deve ser.

52
8. Conclusões

O caminho da ecologia profunda (respeito à todas as formas de vida) parece ser o da educação, da
ética, da justiça e do amor pela vida. Fortalecer e preservar essas atitudes podem nos manter atentos
ao outro, para ajudá-lo, e compreendê-lo, em um modelo de vida tão simples de cooperação, que
ainda não somos capazes de entender, mas, segundo Maturana e Varela (1995), este é o desafio
para a nossa sociedade atual. Tornar nossas cidades ecológicas é muito mais complexo do que
qualquer um de nós pode pensar, é por isso, talvez, que ainda não existam tais cidades.

Os princípio ecológicos, alguns expostos neste trabalho, servem de espelhos para que as
comunidades humanas ajam de acordo com a realidade interligada em que vivem, e caminhem ao
encontro desta nova sociedade ecológica, com possibilidades de perdurar junto com a vida, e seus
processos de bilhões e bilhões de anos.

Este trabalho trouxe uma pesquisa sobre algumas iniciativas para melhorar a eficiência dos espaços
urbanos: a agricultura e a permacultura. Ambas visam um novo modo de ocupação onde a
responsabilidade pela produção de recursos é de cada pessoa, e de todos nós, e, assim, as cidades
devem ter nos seus processos de gestão territorial, social, e ambiental a prática da agricultura
descentralizada, feita nos moldes da agroecologia, que visam justiça social, educação ambiental,
equilíbrio ambiental, autonomia comunitária, consciência coletiva, etc.

Os princípios da parceria, interdependência, diversidade, flexibilidade, e reciclagem pressupõem


grande participação da comunidade e profundo respeito às diversidades culturais, sociais,
econômicas, e ambientais. Quanto maior o aprofundamento acerca de uma comunidade, melhores
serão os debates e o encontro de soluções equilibradas com as diversas maneiras de enxergar a
vida.

O conhecimento do espírito do lugar pode ser entendido como passo inicial neste diálogo contínuo
que deve ser estabelecido no interior da comunidade. A parceria com o poder público é fundamental
para que as relações externas, com outras comunidades, também sejam complementares aos
processos internos da comunidade.

O conhecimento acerca do local a receber intervenções, quaisquer que sejam elas, é processo
fundamental para um bom aproveitamento e sucesso das intenções iniciais de projeto, seja ele qual
for. As atividades ali praticadas, as suas estruturas físicas possibilitam um repertório de percepções
que permitem o reconhecimento de algumas dimensões de sua atmosfera, e a identificação de
limitadores, barreiras ao convívio social, à justiça e à qualidade de vida.

A Superquadra estudada neste trabalho, aparentemente apresenta uma qualidade de vida muito boa,
por fazer parte de Brasília, capital do Brasil e patrimônio da humanidade. Porém, somente pelo fato
de suas calçadas serem mal cuidadas, revela-se a injustiça de acesso aos deficientes e pessoas com
dificuldade de locomoção. As grandes áreas gramadas requerem um grande gasto do poder público
com combustíveis fósseis nos motores dos aparadores de gramas, sendo que todo esse gasto não é
traduzido em boa utilização, ou melhor aproveitamento da área, como foi visto nas análises
comportamentais.

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A produção agroecológica nos espaços verdes de Brasília podem servir não só para o atendimento
das necessidades alimentares de sua comunidade, mas também para auxiliar na preservação deste
patrimônio da humanidade, que vem sendo castigado pelo descaso, e falta de atitude das autoridades
competentes. Uma produção agroecológica em escala urbana nas suas áreas verdes gera empregos,
acessibilidade, saúde e vida para os espaços da cidade. Porém, esse caminho deve ser trilhado
levando em consideração as particularidades, e detalhes de cada local, em um profundo respeito à
vida de todas as pessoas, que devem participar, e não apenas, observar de maneira passiva o
desenvolver de sua própria vida.

A diversidade de percepções é uma realidade que não deve ser diminuída por intenções de domínio e
poder sobre o outro e sobre a natureza. Ao contrário! Quanto mais diversidade, maior a criatividade
coletiva, e quanto mais vidas beneficiadas pelas ações humanas, mais possibilidade de perdurarmos
junto com a longa evolução da vida.

54
9. Referências

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• http://www.dailymotion.com/video/xa2dkw_belo-horizonte-cultivando-para-o-fu_tech (acesso
em 11/03/2011) - CCF - BH

• http://www.dailymotion.com/video/xa2gpa_agricultura-en-la-ciudad-una-realid_tech (acesso
em 11/03/2011) - Agricultura Urbana: uma realidade

Referência de outros sítios da rede

• wikipédia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Time-lapse (acesso em 11/05/2011).

56
ANEXO 01 – TABELAS DOS MAPAS COMPORTAMENTAIS
Tabela 1 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho): 08:30 às 09:30.
Mapa comportamental
8:30 às 9:30

Mapa comportamental (Baseado em Sommer & Sommer, 1991 / Person, 2006)


local: Superquadra 314 norte - área central clima do dia: ensolarado, poucas nuvens
data: 22/04/2011 hora: 8:30 - 9:30 nome do Observador: Rafael dos Santos Noronha
SETORES
ATIVIDADES
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18
0 X X 0 X X 0 0 X 0 0 X 0
0 0 0 X 0 0 X 0 0 X X 0 X
0 X X 0 X X X X X 0
0 0 0 0 0 X 0 X X X
X X 0 0 X 0 X 0
0 0 X 0 X X 0
X 0 0 0 X
0 0 0 0
PASSAGEM A
PÉ 0 0 0
0 0 0
X X 0
X X
X X
0 X
0 0
X 0
X
X X X 0 0 0 0 0 X X 0 0 X X X
0 0 X 0 0 X 0 0 X X 0
PASSEANDO 0 0 0 0 0 0 X 0 0
COM
CACHORRO 0 0 0 0
X X
X 0
X X X X X
ANDANDO DE
BICICLETA X X X X
X X
X
BRINCANDO X
X
ATIVIDADE
X
FÍSICA
REGANDO
0
PLANTAS
MANUTENÇÃO X X
LEGENDA X - homem / 0 - mulher
criança (1-4 anos) = X ou 0 adolesc. (14-18) = X ou 0 adulto (25-60) = X ou 0
criança (5-14 anos)= X ou 0 jovem (18-25) = X ou 0 idoso (60-...) = X ou 0

1
Tabela 2 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho): 09:30 às 10:30.

Mapa comportamental
9:30 às 10:30

Mapa comportamental (Baseado em Sommer & Sommer, 1991 / Person, 2006)


local: Superquadra 314 norte - área central clima do dia: ensolarado, poucas nuvens
data: 22/04/2011 hora: 9:30 - 10:30 nome do Observador: Rafael dos Santos Noronha
SETORES
ATIVIDADES
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
X X 0 0 0 0 0 X 0 0 X X 0 X
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
X 0 0 0 0 X 0 X X 0 X 0 0 X
0 0 0 0 0 0 X 0 0 X X 0 0 X
0 X 0 0 0 0 X X 0 X X 0 0
0 0 0 0 X 0 X 0 0 0 0
PASSAGEM A
PÉ 0 0 0 X 0 X 0 0 X 0 X
0 0 0 X 0 0 0 0
X 0 0 0 0 0
0 0 X 0 0
0 0 0 X
0 0 0
0 0 0
X 0

PASSEANDO 0 X 0 0 0 0 0 0 0
COM X X X X 0
CACHORRO
0 X
PASSEANDO
CARRINHO DE 0 0 0 0
BEBÊ
0
0
0
0
0
BRINCANDO
0
X
X
0
X
VIGIANDO AS
CRIANÇAS
0
CONVERSA
X

MANUTENÇÃO X

LEGENDA X - homem / 0 - mulher


criança (1-4 anos) = X ou 0 adolesc. (14-18) = X ou 0 adulto (25-60) = X ou 0
criança (5-14 anos)= X ou 0 jovem (18-25) = X ou 0 idoso (60-...) = X ou 0

2
Tabela 3 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho): 10:30 às 11:30.

Mapa comportamental
10:30 às 11:30

Mapa comportamental (Baseado em Sommer & Sommer, 1991 / Person, 2006)


local: Superquadra 314 norte - área central clima do dia: ensolarado, poucas nuvens
data: 22/04/2011 hora: 10:30 - 11:30 nome do Observador: Rafael dos Santos Noronha
SETORES
ATIVIDADES
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18
X 0 0 0 0 0 X 0 0 0 0 0 0 0
0 X 0 X 0 0 X 0 X X X 0 X
0 0 0 0 0 X X 0 0 0 0 0 X
0 0 X 0 0 X 0 0 X 0 0 0
X 0 X X X 0 0 X X X 0
X X X 0 X X X X 0 0 X
PASSAGEM A X 0 X 0 X X X X

X X 0 X X 0
0 X X X
0 0
0 X
X
0
X
X 0 X X X 0 X 0 0 0 0 0 0 0
PASSEANDO X X X X 0 X X
COM X X X
CACHORRO X 0
0
0 0 X X
0 X X X
0 X
X X
X 0
0
BRINCANDO
0
X
0
0
0
X
0 X X X
0 X
VIGIANDO AS
CRIANÇAS 0 0
0 0
X
ANDANDO DE
X X X X
BICICLETA
ATIVIDADE
X
FÍSICA
LEGENDA X - homem / 0 - mulher
criança (1-4 anos) = X ou 0 adolesc. (14-18) = X ou 0 adulto (25-60) = X ou 0
criança (5-14 anos)= X ou 0 jovem (18-25) = X ou 0 idoso (60-...) = X ou 0

3
Tabela 4 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho): 14:30 às 15:30.

Mapa comportamental
14:30 às 15:30

Mapa comportamental (Baseado em Sommer & Sommer, 1991 / Person, 2006)


local: Superquadra 314 norte - área central clima do dia: ensolarado, poucas nuvens
data: 22/04/2011 hora: 14:30 - 15:30 nome do Observador: Rafael dos Santos Noronha
SETORES
ATIVIDADES
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18
0 X X 0 X X 0 X X X 0 0 X 0
0 0 0 0 0 0 0 0 X 0 0
0 X 0 X 0 X X X X
PASSAGEM A X 0 0 X X X
PÉ 0 X 0 X
X 0
X
X
PASSEANDO
COM 0 0 X X X
CACHORRO
PASSEANDO
CARRINHO DE 0 0 0 0 0 0
BEBÊ
PASSEANDO
X X X
SKATE
0 0
0 0
X X
BRINCANDO
X 0
X
0
VIGIANDO AS X 0
CRIANÇAS X
SENTADO 0
X
CONVERSANDO
X
LEGENDA X - homem / 0 - mulher
criança (1-4 anos) = X ou 0 adolesc. (14-18) = X ou 0 adulto (25-60) = X ou 0
criança (5-14 anos)= X ou 0 jovem (18-25) = X ou 0 idoso (60-...) = X ou 0

4
Tabela 5 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 15:30 às 16:30.

Mapa comportamental
15:30 às 16:30

Mapa comportamental (Baseado em Sommer & Sommer, 1991 / Person, 2006)


local: Superquadra 314 norte - área central clima do dia: ensolarado, poucas nuvens
data: 22/04/2011 hora: 15:30 - 16:30 nome do Observador: Rafael dos Santos Noronha
SETORES
ATIVIDADES
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18
0 0 0 0 X X 0 0 X 0 0 0 X X
X X X X X X X X X X X 0 X
0 X 0 0 X 0 0 X 0 0 X
X X X X X 0 X X 0 X 0
0 X 0 X X X 0 X X X
PASSAGEM A 0 0 X X 0 X X X
PÉ X X X X X X
0 0 0 0 X
X X X
X X
X
X
PASSEANDO 0 0 X 0 X X X X X
COM X X 0 X 0
CACHORRO X X
0 0 0 0 0 0 0
PASSEANDO 0 0 0 0 0 0
CARRINHO DE 0 0 0 0
BEBÊ 0 0
0 0
PASSEANDO X X X X X X
SKATE X X X X X
X 0 0 0
X X
BRINCANDO X
0
X
VIGIANDO AS
0 0 0
CRIANÇAS
ATIVIDADE
X
FÍSICA
X
SENTADO X
0
0 0
CONVERSANDO
0 X
LEGENDA X - homem / 0 - mulher
criança (1-4 anos) = X ou 0 adolesc. (14-18) = X ou 0 adulto (25-60) = X ou 0
criança (5-14 anos)= X ou 0 jovem (18-25) = X ou 0 idoso (60-...) = X ou 0

5
Tabela 6 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 16:30 às 17:30.

Mapa comportamental
16:30 às 17:30

Mapa comportamental (Baseado em Sommer & Sommer, 1991 / Person, 2006)


local: Superquadra 314 norte - área central clima do dia: ensolarado, poucas nuvens
data: 22/04/2011 hora: 16:30 - 17:30 nome do Observador: Rafael dos Santos Noronha
SETORES
ATIVIDADES
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18
X X X 0 X X X 0 0 X 0 X X 0
X X 0 X 0 X 0 0 X X X 0 0 X
0 X 0 X X X 0 X X X X 0 0 X
X X X X X 0 X X X X X X
X X 0 X X X 0 X X 0 0 X
X X 0 X X 0 X X X X
X 0 0 X X 0 0 X
PASSAGEM X X X X X
A PÉ 0 0 0 X X
X X X 0 X
X 0 X X
X X 0 0
0 X 0
X 0 0
X
X
0 0 0 0 0 0 0 0 X X X X X
PASSEANDO
X X X X X X X X X X X
COM
CACHORRO X 0 0 X
X 0 X
X X 0 0 0 0 X 0 0 X X 0
0 0 X X 0 0 0 0
ANDANDO
DE BICILETA 0 0 0 X 0 X 0
X 0 X
0
0
0
X
0
0
X
0
0
X
BRINCANDO 0
X
0
0
X
X
0
0
X
X
Continua...

6
Tabela 7 - Continuação da Tabela 6 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 16:30 às 17:30.

Mapa comportamental
16:30 às 17:30 - CONTINUAÇÃO

Mapa comportamental (Baseado em Sommer & Sommer, 1991 / Person, 2006)


local: Superquadra 314 norte - área central clima do dia: ensolarado, poucas nuvens
data: 22/04/2011 hora: 16:30 - 17:30 nome do Observador: Rafael dos Santos Noronha
SETORES
ATIVIDADES
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18
X 0 0 0 0
0 X 0
VIGIANDO AS
CRIANÇAS 0 X
0
0
X 0
0 X
SENTADO
0
X
0 X X
0 0 X
CONVERSANDO
0
0
LEGENDA X - homem / 0 - mulher
criança (1-4 anos) = X ou 0 adolesc. (14-18) = X ou 0 adulto (25-60) = X ou 0
criança (5-14 anos)= X ou 0 jovem (18-25) = X ou 0 idoso (60-...) = X ou 0

7
Tabela 8 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 17:30 às 18:30.

Mapa comportamental
17:30 às 18:30

Mapa comportamental (Baseado em Sommer & Sommer, 1991 / Person, 2006)


local: Superquadra 314 norte - área central clima do dia: ensolarado, poucas nuvens
data: 22/04/2011 hora: 17:30 - 18:30 nome do Observador: Rafael dos Santos Noronha
SETORES
ATIVIDADES
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18
X X 0 X 0 X X X 0 X X X 0 0 X 0
0 0 0 0 X 0 X X 0 X X X X 0
X X X X 0 X X 0 X 0 0 0
X X X 0 0 0 0 0 0 0 0 X
0 0 0 X X X X X 0 0 0
X 0 X 0 X 0 0 X 0 0 X
PASSAGEM A PÉ
0 0 X 0 0 0 0 0 0 X
0 0 X 0 0 X 0 0
X 0 0 0 0 X
X 0 X 0 X 0
0 0 X
X
X X X X X 0 0 0 0 X 0 0 0 0 0 0
X 0 0 0 0 0 0 0 0
0 X 0 0 0 X 0 0
PASSEANDO 0 0 0 0 0 0 0
COM CACHORRO 0 X X X 0 X 0
X 0 0 0 0 X
0 X X 0
X X
PASSEANDO
X X
SKATE
X
X
0
X
0
BRINCANDO
X
0
0
0
X
Continua...

8
Tabela 9 - Continuação da Tabela 8 - Mapa Comportamental (área de estudo do trabalho) 17:30 às 18:30.

Mapa comportamental
17:30 às 18:30 - CONTINUAÇÃO

Mapa comportamental (Baseado em Sommer & Sommer, 1991 / Person, 2006)


local: Superquadra 314 norte - área central clima do dia: ensolarado, poucas nuvens
data: 22/04/2011 hora: 17:30 - 18:30 nome do Observador: Rafael dos Santos Noronha
ATIVIDADES SETORES
S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18
VIGIANDO AS
0 0 0
CRIANÇAS
SENTADO 0 0
X 0
0 0
0 0
0
0
CONVERSANDO X 0 0 X 0 0 X 0 0
0 0 0 0 X 0 0
0 0 X 0
0 0 0
0
LEGENDA X - homem / 0 - mulher
criança (1-4 anos) = X ou 0 adolesc. (14-18) = X ou 0 adulto (25-60) = X ou 0
criança (5-14 anos)= X ou 0 jovem (18-25) = X ou 0 idoso (60-...) = X ou 0

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