You are on page 1of 7

LITERATURA

A POESIA TROVADORESCA.
CONTEÚDO HABILIDADES
1. A poesia trovadoresca 1. Observar aspectos da cultura medieval portuguesa.
2. Elencar características da literatura medieval
2. Humanismo
portuguesa.
3. Investigar aspectos da história medieval portuguesa.
4. Investigar as origens da literatura portuguesa.
5. Analisar as origens do teatro em Portugal.
6. Comentar a sátira contida na farsa vicentina.
7. Explicar as características do teatro medieval.

1. ASPECTOS DA HISTÓRIA MEDIEVAL PORTUGUESA


Portugal é reconhecido como reino independente em 1143. Quinze anos antes, o
Conde Afonso Henriques de Borgonha já havia sido sagrado rei, depois da batalha de S.
Mamede, em que lutou pela liberdade do Condado Portucalense e da qual saiu vitorioso.
Iniciava-se aí a primeira dinastia portuguesa: a Dinastia de Borgonha.
Essa dinastia tinha origens no sul da França, em Provença, o que explica a
grande influência provençal durante a primeira fase da Era Medieval em Portugal.
Assim, os costumes e a cultura dessa época apresentaram fortes traços provençais,
enquanto a estrutura socioeconômica era marcada pelo feudalismo.
Nesse período, a grande nobreza (composta pelo clero, por duques, marqueses,
condes e reis) tinha o direito de conceder feudos à pequena nobreza, formada por
barões, viscondes e cavaleiros. Um grande número de dependes e de explorados (os
vilões e os servos) subordinava-se a uma série de obrigações para com os senhores. Os
senhores feudais, por sua vez, ligavam-se entre si, travando relações de suserania e
vassalagem.

2. AS ORIGENS DA LITERATURA PORTUGUESA


As primeiras manifestações da literatura portuguesa são em verso, datam do séc.
XII e estão reunidas em três coletâneas: o Cancioneiro da Ajuda (séc. XIII),
o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional (sendo estes cópias
de textos mais tardios).
Os primeiros poetas são João Soares de Paiva e Paio Soares de
Taveirós, sendo da autoria deste último a célebre “Cantiga da Ribeirinha”.
Remetendo, nas suas origens, para a tradição oral, esta produção lírica é difundida por
trovadores (poetas) e segréis (instrumentistas) e jograis.

3. ASPECTOS DA CULTURA MEDIEVAL PORTUGUESA

1
LITERATURA
A POESIA TROVADORESCA.
O Trovadorismo desenvolveu-se num período em que a cultura era
monopolizada pelo clero católico, detentor máximo do poder político e econômico.
Assim, é natural que a visão de mundo da época fosse marcada pelo
teocentrismo — escala de valores determinada a partir dos próprios valores impostos
pela religiosidade. Por essa razão, o homem dessa fase medieval privilegiava os bens do
espírito, da alma, da vida pós-morte, em detrimento do corpo e da vida carnal, terrena.
A pintura era uma forma de “linguagem”, pois faziam “narrativas” de episódios
bíblicos. Durante a Idade Média, a maioria das pessoas era analfabeta, a pintura servia
como instrumento para o ensino religioso. Tudo refletia a espiritualidade, a negação da
carne e daquilo que é terreno.
Fora da pintura, a principal fonte de informações sobre nossa língua nesse
estágio inicial são os Cancioneiros, coleções de cantigas compostas por trovadores. Os
três principais Cancioneiros são: O Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Vaticana e
o Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
O nome cantiga indica tratar-se de composição poética destinada para ser
cantada e acompanhada por instrumentos musicais da época (flauta, harpa. lira, alaúde,
castanholas, pandeiro e guitarra).
Os responsáveis pelas cantigas eram os trovadores. Geralmente pertencentes à
pequena nobreza, embora alguns reis tenham sido trovadores. Os trovadores
compunham sem preocupações financeiras e destinavam suas produções para o jogral,
segrel ou menestrel que saía de palácio em palácio e perambulavam por feiras, aldeias e
vilas apresentando as cantigas junto dos instrumentos musicais e das jogralesas,
soldadeiras ou escudeiras, moças que acompanham com instrumentos de pequeno porte
e fazendo segunda voz.
Nas artes, houve destaque para o desenvolvimento da música e arquitetura, pois
elas serviam ao propósito religioso daquele tempo: a música religiosa podia criar uma
atmosfera extraterrena, envolvendo o fiel, e a arquitetura era empregada na construção
de catedrais.

4. CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA MEDIEVAL

2
LITERATURA
A POESIA TROVADORESCA.

PORTUGUESA
• SUBJETIVIDADE: a poesia medieval portuguesa é lírica, predominando a
função emotiva da linguagem, ou seja, seu conteúdo expressa as emoções, os
sentimentos, a visão de mundo do emissor (do eu-lírico), marcadas no texto
através de palavras na 1ª pessoa (verbos, pronomes), das interjeições, das
exclamações;
• TEOCENTRISMO: o eu-lírico expressa sua religiosidade extrema através da
palavra Deus - sempre presente nas cantigas - dos nomes de santos, de elementos
do Cristianismo, festas e lugares santos, etc.
• CONVENCIONALISMO: todo o convencionalismo social está marcado nas
cantigas medievais por meio da presença de pronomes e verbos na 2ª pessoa do
plural e dos pronomes de tratamento: senhora, dom, dona, amigo, etc.

5. A POESIA MEDIEVAL PORTUGUESA


A produção poética medieval portuguesa pode ser agrupada em dois gêneros: o
lírico e o satírico.
No gênero lírico, o amor é a temática predominante. São divididos em:
• Cantiga de Amor:
É uma cantiga mais "palaciana", desenvolve-se em cortes e palácios. Quanto à
temática, o amor é a fonte eterna, devendo ser leal, embora inatingível e sem
recompensa. O amante deve ser submetido à dama, numa vassalagem humilde e
paciente, honrando-a com fidelidade, sempre, visto que a mulher é socialmente superior,
casada. A vassalagem é amorosa e as cantigas eram de maestria e sem refrão.
O nome da mulher amada vem oculto por força das regras de mesura (boa
educação extrema) ou para não comprometê-la, sendo chamada de "mia senhor".
A beleza da dama enlouquece o trovador e a falta de correspondência gera o
tormento de amor. Além disso, a coita amorosa (dor de amor) pode fazer o eu poético
desejar a morte.

• Cantiga de Amigo:
As cantigas de amigo apresentam o eu poético feminino, embora o autor também
seja um homem (os trovadores exprimem os sentimentos que supunham ter as amadas,
ou que desejam que tivessem por eles). Essa cantiga procura mostrar a mulher
dialogando com sua mãe, amiga ou com a natureza, sempre preocupada com seu amigo

3
LITERATURA
A POESIA TROVADORESCA.
(namorado). Ou ainda, o amigo é o destinatário do texto como se a mulher quisesse
fazer-lhe confidências de seu amor.
As cantigas de amigo apresentam aspectos como: temas mais variados que da cantiga de
amor, linguagem menos rica e mais musical, destinada ao canto e à dança, onde são
configurados os problemas sociais e políticos.
A linguagem, comparando-se às cantigas de amor é mais simples e menos
musical, pois as cantigas de amigo não se ambientam em palácios e sim em lugares
mais simples e cotidianos e a relação amorosa verdadeira.

EXEMPLO DE CANTIGA DE AMOR

Pela sua grandeza


Preguntar-vos quero por Deus, Glossário
senhor fremosa, que vos fez 1 - bem prendada Não sou o único culpado
mesurada e de bom prez (1), 2 - apesar disso, entretanto Disso eu tenho certeza
que pecados foron os meus 3 - arranjar, orientar os
que nunca tevestes por bem acontecimentos Princesa
de nunca mi fazerdes bem. 4 - vos quis Surpresa
Pero (2) sempre vos soub'amar
des aquel dia que vos vi, Você me arrasou
mais que os meus olhos em mi, Serpente
e assi o quis Deus guisar (3)
que nunca tevestes por bem Nem sente que me envenenou
de nunca mi fazerdes bem. Senhora, e agora
Des que vos vi, sempr' o maior
bem que vos podia querer, Me diga onde eu vou
vos quiji (4) a todo meu poder; Senhora
e pero quis nostro senhor
que nunca tevestes por bem Serpente
de nunca mi fazerdes bem. Princesa..."
Fragmento - Caetano Veloso
D. Dinis

“Um amor assim delicado


Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo

4
LITERATURA
A POESIA TROVADORESCA.

"Bailemos nós já todas três, ai amigas,


so aquestas avelaneiras frolidas,
e quen for velida (1), como nós, velidas,
se amigo amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
verrá (2) bailar.
Bailemos nós já todos três, ai irmanas,
so aqueste ramo destas avelanas,
e quem for louçana (3), como nós, louçanas,
se amigo amar,
so aqueste ramo destas avelanas verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr'al (4) non
fazemos,
e quem bem parecer (5), como nós
parecemos Glossário:
se amigo amar, 1- linda
so aqueste ramo so lo que bailemos 2 - virá
verrá bailar." 3 - formosa, louçã
4 - enquanto outras coisas
Airas Nunes 5 – tiver aspecto belo

EXEMPLO DE CANTIGA DE AMIGO

"Vem, meu menino vadio


Vem, sem fantasia
Vem, sem mentir pra você
Que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos..."

Fragmento - Chico Buarque de Holanda

Para melhor entender e distinguir as cantigas lírico-amorosas observe o quadro


abaixo:

Cantigas de Amor Cantigas de Amigo


Origem Provençal Origem popular ou peninsular
Autoria masculina Autoria masculina (nesse período as

5
LITERATURA
A POESIA TROVADORESCA.

mulheres não escreviam)


Sentimento masculino (eu-lírico Sentimento feminino (eu-lírico
masculino) feminino)
Ambientação palaciana Ambientação popular (natureza, rio,
campo, lago, mar festas religiosas)
Amor cortês em que há vassalagem Amor real (saudades de quem ela
teve)
Mulher idealizada, inacessível Sentimentos de saudade do "amigo"
Vassalagem Linguagem mais simples
Coita (sofrimento de amor) Temática variada
Mulher socialmente superior e casada Composições com diálogo (mãe,
amigas, natureza)
Cantigas de refrão Cantigas de refrão
Cantigas de maestrias, sem refrão Cantigas com paralelismo

O Teatro Medieval Português


A origem do teatro português está relacionada à figura de Gil Vicente que é
considerado o fundador do teatro lusitano. Antes dele, parece ter havido uma produção
de caráter religioso, mas não há registros devidamente documentados. O estudo que
desenvolveremos agora colocará as obras de Gil Vicente como representantes das
manifestações dramáticas da Idade Média.
Humanismo
Costuma-se enquadrar Gil Vicente na segunda época da literatura medieval
portuguesa, uma época de transição da idade média para o renascimento, denominada de
Humanismo.
Humanismo é o nome que se dá a um movimento intelectual, um
comportamento e uma postura artística que representa a transição entre cultura européia
medieval e a cultura do Renascimento. Teve o seu início na Itália, entre o fim do século
XIII e o início do século XIV.
Os humanistas acreditavam que a natureza como testemunho da grandeza e da
bondade de Deus, como elemento digno de ser valorizado e estudado racionalmente.
Aprenderam também a reconhecer no homem qualidades superiores: a razão, a
iniciativa, a capacidade de transformar a história e a natureza, o seu poder de influência
na construção de seu próprio destino. Esta visão de mundo otimista, assimilada de
grandes clássicos da Antiguidade, foi o germe do antropocentrismo, que viria a

6
LITERATURA
A POESIA TROVADORESCA.
caracterizar o Renascimento.
Acreditavam também na busca de retorno ao cristianismo original, daí advém a
crítica ao comportamento da Igreja Romana. Os humanistas repugnavam ao
autoritarismo e aos desvios em relação às fontes da doutrina cristã (os Evangelhos) que
igreja medieval praticava.
Além disso, a difusão dos estudos clássicos (a língua, a literatura, a filosofia, a
religião e a história da antiguidade greco-romana) despertou o interesse pela
investigação da natureza e o gosto pela investigação racional (racionalismo).
Os humanistas trouxeram de novo uma atitude de liberdade intelectual de que a
escolástica não dispunha. Essa independência levou a conquistas que abalaram o
teocentrismo. Dentre elas, uma das mais expressivas é a valorização da ação e da
necessidade que o homem possui em dominar a natureza (valorização do homem e da
natureza).
A mentalidade humanista impregnou todas as artes de novos valores e formas de
expressão, preparando o terreno para a virada estética do Classicismo renascentista.

Humanismo e a Farsa do Velho da Horta


O drama “VELHO DA HORTA” revela influência dos princípios adotados pelos
humanistas na medida em que apresenta:
• Influência das encanações litúrgicas – caráter moralizante – as peças tem
como objetivo reformar os comportamentos;
• Uso de redondilha de e rimas – o teatro poético vicentino visava facilitar
a memorização dos assuntos tratados;
• Temas que exploram os costumes humanos em fatos que buscam a
conscientização da degeneração moral – o homem tomando consciência
de seus defeitos morais;
• Humor e Ironia / crítica e ridicularizarão – uso do lema clássico: ridendo
castigat mores – rindo mudamos os maus hábitos.
• Teatro popular: feito para agradar aos populares, daí a musicalidade e o
humor, serem elementos importantes.
• Tipos Sociais: personagens que revelam tipos muito comuns da
sociedade.
• Linguagem híbrida: Mistura do idioma lusitano, à época o português
arcaico, com uma modalidade do castelhano, também arcaico.

You might also like