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DIREITO CIVIL

A RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DO ESTADO
POR OMISSÃO
Augusto Vinícius Fonseca e Silva

RESUMO

Trata da responsabilidade civil do Estado por seus atos omissos com base na Constituição Federal de 1988, art. 37, § 6º, e no Código Civil de 2002,
art. 43.
Analisa a controvérsia sobre a natureza da responsabilidade estatal, se objetiva ou subjetiva, bem como expõe as divergências na doutrina e na
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
Propõe a interpretação sistemática das normas que regem o instituto, por propiciar sejam elas tomadas em seu conjunto e em harmonia com todo o
ordenamento jurídico, presidido pela Constituição.
Defende a responsabilidade objetiva do Estado, portanto sem a exigência da caracterização da culpa do agente para o reconhecimento do dever de
indenizar, conclusão a que chega após examinar a necessidade de interpretar o aludido artigo do novo Código Civil à luz da Constituição de 1988, cujos
princípios passaram a permear o Direito Civil.

PALAVRAS-CHAVE
Estado; Responsabilidade – civil, objetiva; omissão; Constituição Federal; Direito Civil; Supremo Tribunal Federal; Superior Tribunal de Justiça;
Código de Defesa do Consumidor.

R. CEJ, Brasília, n. 25, p. 5-11, abr./jun. 2004 5


1 A RESPONSABILIDADES OBJETIVA seus funcionários, nessa qualidade, ponsabilidade objetiva do Estado e,
DO ESTADO causem a terceiros, o que resultou na para que esta aflore, devem ser de-
não-recepção do mencionado dispo- monstrados a conduta estatal (posi-
1.1 EVOLUÇÃO DA sitivo da lei substancial civil de tiva ou negativa), o dano, o nexo cau-
RESPONSABILIDADE ESTATAL antanho, como observa a moderna sal entre tais elementos e a inexis-

D
doutrina de José dos Santos Carva- tência de causa excludente desse
esde a Constituição Federal de lho Filho: Se comparado esse texto nexo, isto é, fato da vítima ou de ter-
1946, o ordenamento jurídico com o do art. 15 do Código Civil, não ceiro, caso fortuito ou força maior6. Ao
brasileiro optou pela respon- será difícil observar que foram retira- contrário, a teoria do risco integral
sabilização extracontratual do Esta- dos da norma os pressupostos da inadmite que se oponham as exclu-
do pela via objetiva. conduta contrária ao direito e da dentes. E fez bem o legislador cons-
Não chegamos a cogitar da inobservância de dever legal, exata- tituinte brasileiro, senão haveria risco
irresponsabilidade de seus atos, pois, mente aqueles que denunciavam a de todos os danos serem atribuídos
como nos informa Sérgio Cavalieri Fi- adoção da responsabilidade subjeti- ao Estado. E tal não pode ser admiti-
lho, mesmo à falta de disposição le- va, ou com culpa. Resulta da altera- do, sob pena de promovê-lo a segu-
gal específica, a tese de responsabi- ção da norma que o direito pátrio, atra- rador universal. Consoante lições do
lidade do Poder Público sempre foi vés da regra constitucional, passou Ministro Gilmar Ferreira Mendes, o
aceita como princípio geral e funda- a consagrar a teoria da responsabili- Direito brasileiro, como é sabido por
mental de Direito1. dade objetiva do Estado, na qual não todos nós, aceita a teoria da respon-
Mesmo antes desse marco era exigida a perquirição do fator cul- sabilidade objetiva do Estado. Mas,
constitucional, as constituições bra- pa. Interpretação comparativa leva a será que isso quer dizer a responsa-
sileiras jamais se desprenderam da concluir-se que o art. 15 do Código bilidade do Poder Público por qual-
responsabilidade do Estado. Prescre- Civil sofreu derrogação pelo advento quer fato ou ato, comissivo ou
viam as constituições anteriores uma do art. 194 da Constituição de 1946 3 . omissivo no qual esteja envolvido,
espécie de solidariedade estatal em Daí em diante, não mais se re- direta ou indiretamente? Qualquer
relação aos atos de seus agentes. tirou do sistema jurídico brasileiro a acadêmico de Direito que tenha uma
Cuidava-se, até então, de res- responsabilidade civil do Estado. mínima noção dos requisitos para a
ponsabilidade fundada em culpa ci- Como disserta, pontualmente, o cita- configuração dessa responsabilidade
vil (imprudência, imperícia ou negli- do Sérgio Cavalieiri Filho, a partir da sabe que não 7 .
gência), sendo necessária, dessa for- Constituição de 1946, a responsabili- A Carta de 1988 pontificou no
ma, a demonstração da culpa do fun- dade civil do Estado brasileiro pas- art. 37, § 6º: as pessoas jurídicas de
cionário público para tentar obter a sou a ser objetiva, com base na teo- Direito Público e as de Direito Priva-
indenização. ria do risco administrativo, onde não do prestadoras de serviços públicos
O Código Civil de 1916, envol- se cogita de culpa, mas, tão-somen- responderão pelos danos que seus
vido nessa atmosfera subjetiva, tra- te, da relação de causalidade. Prova- agentes, nessa qualidade, causarem
zia em seu art. 15: As pessoas jurídi- do que o dano sofrido pelo particular a terceiros, assegurado o direito de
cas de Direito Público são civilmente é conseqüência da atividade adminis- regresso contra o responsável nos
responsáveis por atos de seus repre- trativa, desnecessário será perquirir casos de dolo ou culpa. Daí se pode
sentantes que nessa qualidade cau- a ocorrência de culpa do funcionário notar, com Hely Lopes Meirelles, que
sem danos a terceiros, procedendo ou, mesmo, de falta anônima do ser- a Constituição seguiu a linha traçada
de modo contrário ao Direito ou fal- viço. O dever de indenizar da Admi- nas constituições anteriores, e, aban-
tando a dever prescrito por lei, salvo nistração opor-se-á por força do dis- donando a privatística teoria subjeti-
o direito regressivo contra os causa- positivo constitucional que consagrou va da culpa, orientou-se pela doutri-
dores do dano. o princípio da igualdade dos indiví- na do Direito Público e manteve a res-
Note-se, pois, que as expres- duos diante dos encargos público 4. ponsabilidade objetiva da Adminis-
sões acima destacadas denotam, às Substanciando a consagrada tração, sob a modalidade do risco
claras, a responsabilidade estatal responsabilidade estatal objetiva, administrativo. Não chegou, porém,
baseada na culpa. veio a teoria do risco administrativo. aos extremos do risco integral 8 .
Mas, na maioria das vezes, Como toda atividade estatal é exer-
nesses casos, como nos informa o cida, direta ou indiretamente, em be- 1.2 O ESTADO COMO PRESTADOR
Prof. Caio Mário da Silva Pereira2, tor- nefício de todos, prega essa teoria DE SERVIÇOS E OS USUÁRIOS –
nava-se difícil – quando não impossí- que, também no caso de dano, o Es- RELAÇÃO JURÍDICA DE NATUREZA
vel – à vítima a demonstração da cul- tado, que representa todos, deve su- CONSUMERISTA
pa do agente público, por se encon- portar o ônus de sua atividade sem
trar em posição de inferioridade dian- que se cogite da culpa de seus agen- No rastro da proteção da parte
te do ente estatal, e, por isso, rara- tes. Donde se pode concluir, junta- mais fraca numa relação jurídica, em
mente atingia tal desiderato e, mente com Carlos Roberto Gonçalves 1990 vem a lume a Lei n. 8.078/90,
comumente, ficava sem ver repara- que, para o dever estatal de indeni- consagrada como Código brasileiro
dos os danos. zar, não se exige, pois, comportamen- de Defesa do Consumidor.
Sensível a tal situação de de- to culposo do funcionário. Basta que Num primeiro instante, define
sigualdade, o constituinte de 1946 haja o dano, causado por agente pú- consumidor como toda pessoa física
resolveu dar acolhida à responsabili- blico agindo nessa qualidade, para ou jurídica que adquire ou utiliza pro-
dade civil estatal sem perquirição que decorra o dever do Estado de duto ou serviço como destinatário fi-
acerca do elemento culpa. Prescre- indenizar 5 . nal (art. 2º, caput).
veu no art. 194: as pessoas jurídicas Risco administrativo não é si- Fornecedor, por sua vez, é
de Direito Público interno são civilmen- nônimo de risco integral. A teoria do toda pessoa física ou jurídica, públi-
te responsáveis pelos danos que os risco administrativo vincula-se à res- ca ou privada, nacional ou estrangei-

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ra, bem como os entes desper-
sonalizados, que desenvolvem ativi-
dades de produção, montagem, cria-
ção, construção, transformação, impor-
tação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou pres-
tação de serviços. (art. 3º, caput). A responsabilidade por omissão é responsabilidade por
Mesmo o Estado é considera-
do fornecedor, podendo, pois, figu-
comportamento ilícito. E é responsabilidade subjetiva,
rar no pólo passivo da relação de con- porquanto supõe dolo ou culpa em suas modalidades de
sumo. E nessa qualidade deve forne- negligência, imperícia ou imprudência, embora possa tratar-
cer serviços adequados, eficientes,
seguros e contínuos, no que toca aos se de uma culpa não-individualizável na pessoa de tal ou qual
essenciais. funcionário, mas atribuída ao serviço estatal genericamente.
Logo, se o Estado pode ser
parte de relação dessa natureza, bas-
tando, para tanto, que descumpra
aqueles deveres, pode ser compeli-
do a reparar os danos que venha a
causar, na forma prevista neste Có-
digo. Disso conclui-se que, no cam-
po da reparação desse tipo de dano, Importante enfatizar, contudo, responsabilidade do Estado, no sen-
o Código do Consumidor atua com ainda segundo esses autores, que o tido de sua objetivação, fica ainda
toda a sua força. Não se requer do Estado somente será considerado for- mais evidente quando se constata a
consumidor – a parte vulnerável da necedor e, portanto, estará sujeito às redação (...) do novel Código Civil,
relação de consumo de serviço pú- regras do Código de Defesa do Con- que entrou em vigor no dia 11 de ja-
blico, conforme o art. 4º, inc. I – qual- sumidor (responsabilidade objetiva), neiro de 2003 (...).
quer prova sobre a conduta culposa quando for produtor de bens ou Fica absolutamente claro que
do Estado. A responsabilidade será prestador de serviços, remunerados o legislador contemplou, mais uma
sempre objetiva, segundo o art. 14 por “tarifas” ou “preços públicos”. Por vez, a responsabilidade objetiva do
do diploma em apreço. outro lado, não serão aplicadas as Estado – embora já não fosse neces-
Na mesma linha de raciocínio, normas do CDC aos casos em que sário fazê-lo – , permitindo a per-
assim já decidiu o Superior Tribunal aquele ente for remunerado mediante quirição sobre a presença do elemento
de Justiça: atividade tributária em geral (impos- subjetivo (culpa ou dolo) tão-somen-
Rodovias. Serviços. Acidentes. tos, taxas e contribuições de melhoria). te na ação regressiva (do Estado) em
Usuário. Foro competente. face do (agente) causador do dano13.
A Turma decidiu que o foro 1.3 O ART. 43 DO NOVO CÓDIGO
competente para dirimir ação de in- CIVIL BRASILEIRO 1.4 DANOS DECORRENTES DE
denização por acidentes com veícu- ATOS OMISSIVOS DO ESTADO
los em rodovia, movida por usuário Robustecendo o entendimento
contra a pessoa jurídica – concessio- acima, esposado tanto no ordena- Ainda grassa controvérsia so-
nária de serviços rodoviários – é de- mento positivado quanto na doutrina bre o tema em nosso ordenamento
terminado pelo domicílio do autor e na jurisprudência, o novo Código jurídico, mesmo com a consagração
(CDC, art. 101, I), por se tratar de uma Civil (Lei n. 10.406/02), sem disposi- da responsabilidade objetiva, quan-
relação de consumo9. tivo correspondente em seu ante- do se trata do Estado como causa-
Ante o exposto, com apoio em cessor, consagra a responsabilidade dor de dano.
Zelmo Denari e nos demais autores objetiva estatal no art. 43, que pres- Na defesa da subjetividade na
do CDC, parece razoável concluir creve: As pessoas jurídicas de direi- responsabilização estatal por omis-
que, a partir do evento do Código de to público interno são civilmente res- são, tem-se por arauto o maior
Defesa do Consumidor, a responsa- ponsáveis por atos dos seus agen- administrativista brasileiro da atuali-
bilidade do Estado pelo funcionamen- tes que nessa qualidade causem da- dade, Celso Antônio Bandeira de
to dos serviços públicos não decorre nos a terceiros, ressalvado direito re- Mello, seguido de perto por Maria
da falta, mas do fato do serviço pú- gressivo contra os causadores do Sylvia Zanella di Pietro14 e José dos
blico, ficando evidente que o legisla- dano, se houver, por parte destes, Santos Carvalho Filho15. Desde 1981,
dor acolheu, ineludivelmente, a teoria culpa ou dolo12. quando publicou artigo na Revista
do risco administrativo (...)10. A redação em muito se aproxi- dos Tribunais, edição n. 552, tornou-
Assim, com base na mono- ma daquela inserta na norma do art. se o maior defensor de tal vertente.
grafia precisa de João Agnaldo 37, § 6º, da Constituição Federal e, Sustenta sua posição na dife-
Donizeti Gandini e Diana Paola da Silva ao contrário do que previa o Código renciação preliminar que faz entre
Salomão, não é difícil concluir que, a Civil, nem fumaça de responsabilida- causa e condição e na preexistência
partir do advento do Código de Defe- de subjetiva estatal há, pelo que se de um dever legal de atuação que foi
sa do Consumidor, a responsabilida- pode concluir parcialmente valerem omitido pelo agente estatal, à simi-
de do Estado pelo serviço público para esse dispositivo os mesmos litude da omissão qualificada ou im-
remunerado por tarifa ou preço públi- comentários feitos acima. própria do art. 13, § 2º, do Código
co, é de natureza objetiva, tanto para Adotando idêntica posição, a Penal brasileiro. Assim: Há previsão
as condutas comissivas como para moderna doutrina acerca do novo de responsabilidade objetiva do Es-
as omissivas 11. Código Civil afirma: A evolução da tado, mas, para que ocorra, cumpre

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que os danos ensejadores da repara- diata do não-impedimento do even- considerou presente, no caso, o nexo
ção hajam sido causados por agen- to, como nos casos de morte de de causalidade entre a ação omissiva
tes públicos. Se não foram eles os detento em penitenciária e acidente atribuída ao Poder Público e o dano,
causadores, se incorreram em omis- com aluno de colégio público duran- por competir ao Estado zelar pela in-
são e adveio dano para terceiros, a te o período de aula19. tegridade física do preso22.
causa é outra; não decorre do com- E o Supremo Tribunal Federal Por entender ausente o nexo
portamento dos agentes. Terá sido parece já ter adotado, até há pouco de causalidade entre a ação omis-
propiciada por eles. A omissão have- tempo, essa corrente. Vejamos: siva atribuída ao Poder Público e o
rá condicionado sua ocorrência, mas CONSTITUCIONAL – RESPON- dano causado a particular, a Turma
não a causou. Donde não há cogitar, SABILIDADE OBJETIVA DO ESTA- conheceu e deu provimento a recur-
neste caso, responsabilidade objeti- DO. ART. 37, § 6º, CF. DANOS CAU- so extraordinário para, reformando o
va (...). A responsabilidade por omis- SADOS POR TERCEIROS EM IMÓ- acórdão do Tribunal de Justiça do
são é responsabilidade por compor- VEL RURAL. DESCUMPRIMENTO DE Rio Grande do Sul, afastar a conde-
tamento ilícito. E é responsabilidade ORDEM JUDICIAL. INDENIZAÇÃO. nação por danos morais e materiais
subjetiva, porquanto supõe dolo ou (...) Caracteriza-se a responsa- imposta ao mesmo Estado, nos au-
culpa em suas modalidades de ne- bilidade objetiva do Poder Público em tos de ação indenizatória movida por
gligência, imperícia ou imprudência, decorrência de danos causados por viúva de vítima de latrocínio pratica-
embora possa tratar-se de uma cul- invasores em propriedade particular, do por quadrilha, da qual participa-
pa não-individualizável na pessoa de quando o Estado se omite no cumpri- va detento foragido da prisão há 4
tal ou qual funcionário, mas atribuída mento de ordem judicial para envio meses. A Turma, assentando ser a
ao serviço estatal genericamente. É de força policial ao imóvel invadido. espécie hipótese de responsabilida-
a culpa anônima ou “faute de service” Recursos extraordinários não-conhe- de subjetiva do Estado, considerou
dos franceses, entre nós traduzida por cidos 20. não ser possível o reconhecimento
“falta do serviço”16. AGRAVO REGIMENTAL – da falta do serviço no caso, uma vez
Essa posição se mantém até RESPONSABILIDADE OBJETIVA que o dano decorrente do latrocínio
os dias de hoje: Quando o dano foi GENÉRICA DO ESTADO – OMISSÃO não tivera como causa direta e ime-
possível em decorrência de uma omis- Sendo certo que não se pode diata a omissão do Poder Público na
são do Estado (o serviço não funcio- admitir responsabilidade objetiva ge- falha da vigilância penitenciária, mas
nou, funcionou tardia ou ineficien- nérica do Estado por omissão, quan- resultara de outras causas, como o
temente) é de se aplicar a teoria da to a todos os crimes ocorridos na so- planejamento, a associação e a pró-
responsabilidade subjetiva17. ciedade, no caso, para se chegar à pria execução do delito, ficando in-
Noutra margem situa-se o pro- conclusão contrária à que chegou o terrompida, portanto, a cadeia cau-
fessor Sérgio Cavalieri Filho. Para ele, acórdão recorrido, seria mister sal23.
antes de se afirmar, peremptoriamen- reexaminar os fatos da causa para se Ainda hoje, contrapõem-se a
te, ser subjetiva a responsabilidade verificar se existiu ou não, na hipóte- doutrina e a jurisprudência do Supre-
do Estado por omissão, deve-se dis- se sob julgamento, o nexo de causa- mo Tribunal Federal, o qual possui
tinguir entre omissão genérica e omis- lidade negado pelo acórdão recorri- entendimentos divergentes, como
são específica. Esclarece, baseado do, por não ter havido falha específi- demonstrado.
em monografia de Guilherme Couto ca da Administração, mas, sim, dolo
de Castro, não ser correto dizer, sem- de terceiros, não sendo cabível para 1.5 CONCLUSÃO
pre, que toda hipótese de dano pro- isso o recurso extraordinário. Agravo
veniente de omissão estatal será en- a que se nega provimento21. O Direito Civil está em crise.
carada, inevitavelmente, pelo ângulo Porém, no mês de novembro Essa afirmação já foi feita quando se
subjetivo. Assim o será quando se de 2003, a Suprema Corte, já com- procurou dar nova visão a certos ins-
tratar de omissão genérica. Não quan- posta pelos novos Ministros Carlos titutos que, antes da Constituição de
do houver omissão específica, pois Ayres de Britto, Joaquim Barbosa e 1988, tinham caráter preponderante-
aí há dever individualizado de agir18. César Peluso, promoveu um giro mente privado.
Omissão genérica é a que não paradigmático em seu entendimento, Após a Constituição, neces-
decorreu de inação do Estado, dire- passando a considerar subjetiva a res- sário se fez um giro paradigmático,
tamente. Por exemplo: não se pode ponsabilidade estatal por omissão. de maneira que os institutos civi-
responsabilizá-lo por atropelamento Confira-se: A Turma negou provimen- lísticos passassem a ser vistos por
causado por motorista embriagado, to a recurso extraordinário no qual se outra ótica, com base em princípios
pelo simples fato de encontrar-se nes- pretendia, sob alegação ao art. 37, § constitucionais, de estatura nor -
sa situação. Isso seria omissão ge- 6º da CF, a reforma do acórdão do mativa superior e condicionantes de
nérica e, para haver responsabilida- Tribunal de Justiça do Rio Grande do validade.
de do ente estatal, mister provar a Norte que, entendendo caracterizada Fez-se, assim, oportuna uma
culpa estatal. na espécie a responsabilidade obje- releitura do Código Civil, desta vez
Contudo, se o hipotético moto- tiva do Estado, reconhecera o direito à luz da Constituição Federal. Aliás,
rista houvesse passado por blitz po- de indenização devida a filho de pre- a interpenetração entre o Direito Ci-
licial pouco antes do atropelamento e so assassinado dentro da própria vil e o Direito Constitucional (ou a
os policiais não tivessem notado e cela por outro detento. A Turma, em- despatrimonialização do Direito Ci-
não tivessem investigado o estado bora salientando que a responsabili- vil ou, ainda, a civilização do Direi-
etílico do motorista, aí, sim, poder-se- dade por ato omissivo do Estado ca- to Constitucional ou, mesmo, a
ia falar em responsabilidade objetiva. racteriza-se como subjetiva – não repersonalização do Direito Civil),
No último caso, trata-se de omissão sendo necessária, contudo, a indivi- como nos informa o Prof. Francisco
específica, isto é, quando a inércia dualização da culpa, que decorre de Amaral, é uma das tendências do
administrativa é causa direta e ime- forma genérica, da falta de serviço –, Direito Civil contemporâneo24.

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Para o referido autor, significa
isso dizer que as matérias tratadas
pelos civilistas entraram na Constitui-
ção (...), representando a substituição
dos fundamentos constitucionais do
A conquista da responsabilidade objetiva do Estado, quer por
Direito Civil pelos fundamentos civis atos comissivos, quer por atos omissivos, não pode ser
do Direito Constitucional, tudo isso tra- deixada de lado. A vulnerabilidade da parte mais fraca é
duzindo, de imediato, a superação da
clássica dicotomia Direito Público/Di- reconhecimento da cidadania e concretizante do princípio da
reito Privado. Na verdade, o Direito igualdade material.
Civil constitucional é materialmente
Direito Civil contido na Constituição e (...), se é inserido o elemento culpa como necessário à
só formalmente Direito Constitucional. caracterização dos elementos de responsabilidade estatal por
E a Constituição Federal preside, por
sua própria natureza, a ordem jurídi- omissão, faz-se distinção onde a Carta Magna não faz, o que
ca brasileira. Portanto, não é precipi- é fortemente inadmitido.
tado dizer que, hoje, toda interpreta-
ção da lei civil deve principiar pela
ótica constitucional.
Não só a interpretação da lei
civil, mas de todas as normas jurídi-
cas “normas-regras” e “normas-prin- se. É importante constatar que os prin- Alfredo de Oliveira Baracho: A inter-
cípios” deve estar em concerto com cípios são normas. pretação jurídica é uma atividade que
a Constituição, pois, como afirma Não existem, portanto, argu- se desenvolve em duas formas: de
Amir José Finocchiaro Sarti, não há mentos que contrastem a aplicação um lado representa o Direito, do ou-
como deixar de reconhecer que “tan- direta: a norma constitucional pode, tro indica o caso a ser regulado de
to o direito privado – sem exceção também sozinha (quando não existi- acordo com o Direito. A interpretação
de quaisquer de suas disposições rem normas ordinária que disciplinem jurídica é uma atividade eminentemen-
legais – não pode entrar em choque a “fattispecie” em consideração), ser te prática, no sentido de que juridifica
com a Constituição, também a inter- fonte da disciplina de uma relação de e condiciona os casos práticos e a
pretação que dele se faz deve ser Direito Civil. Esta é a única solução finalidade de sua resolução. Normal-
conforme a Constituição” e que, afi- possível se se reconhece a preemi- mente, a interpretação procede do
nal, “a locução ‘Direito Civil constitu- nência das normas constitucionais e caso. Só na interpretação científica,
cional’ é um tanto equívoca, à medi- dos valores por elas expressos – em da ciência do Direito, a atividade
da que conduz à idéia de um possí- um ordenamento unitário, caracteriza- interpretativa procede por meio inver-
vel Direito Civil inconstitucional, o que do por tais conteúdos 26. so, isto é, do Direito ao caso, modifi-
é, obviamente, um contra-senso. Afi- Antes de tudo, é importante a cando a ordem da prioridade dos fa-
nal, desde Marshal e a supremacia contextualização do tema, o que só tores da compreensão jurídica.
da Constituição, o Direito tem de ser será possível se ele for inserido num Enquanto atividade teórico-prá-
constitucional, caso contrário ou será sistema, entendido este, conforme o tica, a interpretação jurídica está
nulo ou inexistente, conforme se ado- citado Francisco Amaral, como um adstrita a dois pólos: o caso a regu-
te uma ou outra teoria a respeito do conjunto unitário e coerente de ele- lar e a norma reguladora30.
fenômeno da inconstitucionalidade” 25. mentos harmonicamente conjugados, A questão, portanto, não esca-
Contudo, já há algum tempo, com relações de subordinação e coor- pa da interpretação jurídica. Mas esta
tal era pregado pelo professor italia- denação entre si27, ou, mais precisa- não pode tomar-se insuladamente;
no Pietro Perlingieri, cujas linhas, de mente, como um complexo axiológico deve ser analisada dentro do todo
precisão irrefutável, merecem trans- e hierarquizado de normas jurídicas unitário e harmônico em que se as-
crição: (normas-regras e normas-princípios) senta o sistema jurídico, donde de-
As opções feitas no plano que, superando e evitando antinomias, corre tratar-se de interpretação siste-
normativo superior refletem-se na ati- colima atingir as metas características mática.
vidade hermenêutica, nos conteúdos do Estado democrático de Direito, re- Denomina-se “técnica sistemá-
e significados das normas de nível alizando a paz social28. tica de interpretação” a que leva o
ordinário. Certamente, o caráter sis- A interpretação, nesta seara, intérprete ainda mais fundo no
temático da interpretação, que encerra assume valor fundamental, portanto, ordenamento jurídico, pois, como dis-
em si a própria atividade cognitiva, como nos informa Ronald Dworkin, serta com brilhantismo o Prof. Juarez
enquadrando cada normativa no pa- importa o relato de um propósito; ela Freitas, em obra ímpar, interpretar uma
norama geral do ordenamento, deve pressupõe uma forma de ver o que é norma é interpretar o sistema inteiro:
inspirar-se nas normas constitucionais interpretado – uma prática social ou qualquer exegese comete, direta ou
(...). As normas constitucionais – que uma tradição, tanto quanto um texto obliquamente, uma aplicação da to-
ditam princípios de relevância geral ou uma pintura – como se este fosse talidade do Direito31.
– são de direito substancial, e não o produto de uma decisão de perse- Pelo método sistemático se
meramente interpretativas; o recurso guir um conjunto de temas, visões ou desatarão os nós que, porventura,
a elas, mesmo em sede de interpre- objetivos, uma direção em vez de venham a aparecer. O intérprete par-
tação, justifica-se, do mesmo modo outra29. te do pressuposto de que uma lei não
que qualquer outra norma, como ex- E a interpretação jurídica, que, existe isoladamente no ordenamento
pressão de um valor do qual a pró- neste conjunto, é explicada de ma- e, por isso mesmo, não pode ser con-
pria interpretação não pode subtrair- neira completa pelo professor José siderada sozinha, sob pena de não

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conseguir jamais o hermeneuta apre- Além do mais, se é inserido o DJ 2/8/1996, p. 25785; Revista de Direito
ender seu verdadeiro significado. Por elemento culpa como necessário à ca- Administrativo. v. 137, p. 233.
umas vezes, terá de utilizar o proces- racterização dos elementos de respon- 7 MENDES, Gilmar Ferreira. Perplexidades
acerca da responsabilidade civil do Estado:
so dialético; por outras, o processo sabilidade estatal por omissão, faz-se
União “seguradora universal”? Disponível
silogístico; e, cada vez mais, terá de distinção onde a Carta Magna não faz, em <http:// www.idp.org.br.> Acesso em:
usar sua flexibilidade mental e seu o que é fortemente inadmitido. Tal con- 28 jul. 2002.
conhecimento para desvendar a real clusão é decorrência direta do bro- 8 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Adminis-
prescrição normativa. cardo ubi lex non distinguit, nec trativo brasileiro. 21. ed. São Paulo:
Não é por outra razão que interpres distinguere debet, assim ex- Malheiros, 1996. p. 564.
Juarez Freitas escreve, com proprie- plicado pela doutrina sempre técnica 9 STJ-RESP. Recurso Especial n. 467.883-
RJ. Relator: Ministro Carlos Alberto
dade: não se deve considerar a inter- de Carlos Maximiliano: Quando o tex- Menezes Direito. Brasília, 17 de junho de
pretação sistemática como simples to dispõe de modo amplo, sem limi- 2003.
instrumento da interpretação jurídica. tações evidentes, é dever do intérpre- 10 DENARI, Zelmo. Código brasileiro de defesa
É a interpretação sistemática, quan- te aplicá-lo a todos os casos particu- do consumidor comentado pelos autores
do entendida em profundidade, o pro- lares que se possam enquadrar na do anteprojeto. 6. ed. São Paulo: Forense
cesso hermenêutico por excelência, hipótese geral prevista explicitamen- Universitária, 2000. p. 192. Nesse sentido,
de tal maneira que ou se compreen- te; não tente distinguir entre as cir- também, a posição de CARVALHO FILHO,
op. cit., p. 258. Contra, entendendo não
dem os enunciados prescritivos nos cunstâncias da questão e as outras; poder haver equiparação entre usuário de
plexo dos demais enunciados, ou não cumpra a norma tal qual é, sem acres- serviço público e consumidor: AMARAL,
se alcançará compreendê-los sem centar distinções novas, nem dispen- Antônio Carlos Cintra do. Distinção entre
perdas substanciais. Nesta medida, sar nenhuma das expressas 34. usuário de serviço público e consumidor.
mister afirmar, com os devidos tem- Por fim, valendo-se das pala- Revista Diálogo Jurídico, n. 13, abr./maio
peramentos, que a interpretação jurí- vras de Anderson Sant’ana Pedra, um 2002. Disponível em: <www.direitopublico.
com.br>. Acesso em: 8 nov. 2002.
dica é sistemática ou não é interpre- chamado àqueles que se aventuram
11 GANDINI, João Agnaldo Donizeti;
tação32. no árduo caminho da interpretação sis- SALOMÃO, Diana Paola da Silva. A
Vê-se a importância da interpre- temática do Direito: à mercê da vigên- responsabilidade civil do Estado por
tação sistemática para o desate da cia do novo Código Civil, chegou a conduta omissiva. Jus Navigandi, Teresina,
questão. A norma do art. 43 do Códi- hora de o aplicador-intérprete da nor- a. 7, n. 106, 17 out. 2003. Disponível em:
go Civil de 2002 deve ser lida a partir ma alterar o foco do direito civil, dei- <http://www1.jus.com.br/doutrina/
do art. 37, § 6º, da Constituição, e não xando que este se ilumine pelos va- texto.asp?id=4365>. Acesso em: 5 nov.
pode ou não deve o intérprete fazer lores contidos na Constituição de 1988 2003.
12 Idem, p. 22.
distinções e acréscimos não-inseridos a fim de conseguir um novo contorno 13 GANDINI, op. cit.; SALOMÃO, op. cit., p.
na lei, sob pena de subversão das re- do Direito Civil, agora à luz do Texto 21.
gras hermenêuticas acerca da interpre- Constitucional vigente35. 14 PIETRO, op. cit., p. 508.
tação de normas públicas. À vista do exposto, da neces- 15 CARVALHO FILHO, op. cit. Sua posição
Confirma tal idéia Sérgio sidade de interpretar o art. 43 do novel sobre a responsabilidade subjetiva do
Cavalieri Filho, salientando ser regra Código Civil a partir da norma consti- Estado por atos omissivos é mais marcante
a partir da 9ª edição de seu livro, ano de
superior de interpretação que as nor- tucional do art. 37, § 6º, como forma
2002, p. 444-445.
mas inscritas no corpo da Constitui- de reler o Direito da Responsabilida- 16 MELLO, Celso Antônio Bandeira de.
ção subordinam a aplicação de todos de Civil, é forçoso concluir que a res- Responsabilidade extracontratual do Estado
os textos infraconstitucionais compre- ponsabilidade do Estado, inclusive por comportamentos administrativos.
endidos na matéria a que elas se re- por atos omissivos, é objetiva, dis- Revista dos Tribunais, n. 552, p. 13.
ferem, de vez que indicam os valo- pensando-se, assim, qualquer análi- 17 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso
res superiores eleitos pelo constituin- se acerca do elemento culpa36. de Direito Administrativo. 11. ed. São Paulo:
Malheiros, 1999. p. 672.
te (...). Em suma, quem interpreta a 18 CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 247.
lei para aplicá-la, deve fazê-lo de NOTAS BIBLIOGRÁFICAS 19 Idem. STF: RE 109.615-2/RJ – Rel. Min.
maneira que esta resulte conforme a Celso de Mello – DJ de 2/8/1996, p. 25785;
norma constitucional a que está su- RE 170014-9/SP – Rel. Min. Ilmar Galvão
bordinada33. 1 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de – DJ de 13/2/1998, p. 12.
Se se exige a demonstração de responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: 20 STF – RE 282989/PR – 1ª Turma - Rel. Min.
culpa para a configuração da respon- Malheiros, 2003. p. 240. Ilmar Galvão - DJ de 13/9/2002, p. 85.
21 STF – AI 350074AgR/SP – 1ª Turma -
sabilidade estatal por atos omissivos, 2 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Respon-
sabilidade civil. 8. ed. Rio de Janeiro: Rel. Min. Moreira Alves – DJ de 3/5/2002,
como quer o insigne Celso Antônio p. 15.
Forense, 1996. p. 131.
Bandeira de Mello, data venia, res- 22 STF – RE 372472/RN – Rel Min. Carlos
3 CARVALHO FILHO, José dos Santos.
taura-se a situação de desigualdade Manual de Direito Administrativo. 8. ed. Rio Veloso – Julgado em 4/11/2003 – Infor-
da vítima/usuário do serviço público de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p. 415-416. mativo n. 329 STF.
danoso, além de constituir a exigên- 23 STF – RE 369820/RS – Rel. Min. Carlos
4 CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 242.
Veloso – Julgado em 4/11/2003 – Informa-
cia verdadeiro retrocesso na escala 5 GONÇALVES, Carlos Roberto. Respon- tivo n. 329 STF.
evolutiva da responsabilidade civil sabilidade civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva,
24 AMARAL, Francisco. Direito Civil: intro-
estatal. A conquista da responsabili- 2003. p. 171. dução. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar,
dade objetiva do Estado, quer por atos 6 MORAES, Alexandre de. Constituição do 2003. p. 155.
Brasil interpretada e legislação consti- 25 SARTI, Amir José Finocchiaro. A consti-
comissivos, quer por atos omissivos,
tucional. São Paulo: Atlas, 2002. p. 899; tucionalização do Direito Civil. Revista
não pode ser deixada de lado. A PIETRO, Maria Sylvia Zanella di. Direito Jurídica, n. 312, out. 2003, p. 33.
vulnerabilidade da parte mais fraca é Administrativo. 12. ed. São Paulo: Atlas, 26 PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito Civil:
reconhecimento da cidadania e 2000. p. 507. É também a posição pacífica introdução ao Direito Civil constitucional.
concretizante do princípio da igualda- no Supremo Tribunal Federal: RE n. Tradução: Maria Cristina de Cicco. 2. ed.
de material. 109.615-2/RJ – Rel. Min. Celso de Mello – Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 11.

10 R. CEJ, Brasília, n. 25, p. 5-11, abr./jun. 2004


27 AMARAL, op. cit., p. 39.
28 SILVA, Augusto Vinícius Fonseca e. O Direito
enquanto ciência e a hermenêutica do
Direito: importância e atualidade dos temas.
Disponível em: <www.praetorium.com.br>;
<www.ihj.org.br> e <www.pjf.mg.gov.br/
procuradoria> – Acesso em: 18 ago. 2003.
29 DWORKIN, Ronald. O império do Direito.
São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 71.
30 BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria
geral da cidadania. São Paulo: Saraiva,
1995. p. 49-50.
31 FREITAS, Juarez. A interpretação siste-
mática do Direito. 3. ed. São Paulo:
Malheiros, 2002. p. 70.
32 Idem. p. 74.
33 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Responsa-
bilidade civil constitucional. Disponível em:
<www.forense.com.br>.
34 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e
aplicação do Direito. 9. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1979. p. 247.
35 PEDRA, Anderson Sant’ana. Interpretação
e aplicabilidade da Constituição: em busca
de um Direito Civil Constitucional. Jus
Navigandi, a.7, n. 99, out. 2003. Disponível
em <http://www1.jus.com.br/doutrina/
texto.asp?id=4266>. Acesso em: 10 out.
2003.
36 MORAES, Alexandre. Constituição do
Brasil interpretada e legislação consti-
tucional. São Paulo: Atlas, 2002. p. 899.

Artigo recebido em 4/2/2004.

ABSTRACT

The author deals with the State civil


responsibility for its omissive acts based on the
Brazilian Constitution of 1988, article 37,
paragraph 6th, and on the Civil Code of 2002,
article 43.
He analyses the controversy about the
nature of the public responsibility, if it is an
objective or subjective one, as well as he
explains divergences within the doctrine and
the jurisprudence of the Brazilian Supreme
Court.
He proposes the systematic
interpretation of the norms that rule the institute,
because it allows them to be taken as a whole
and in harmony with all of the legal system,
presided by the Constitution.
He defends the State objective
responsibility, therefore without requiring the
characterization of the party’s guilt for the
acknowlegment of the duty to indemnify. He
concludes this, after examining the need to
interpret the mentioned article of the new Civil
Code in the light of the Constitution of 1988,
whose principles started permeating the Civil
Law.

KEYWORDS – State; Resposibility –


civil, objective; omission; Brazilian Constitution;
Civil Law; Brazilian Supreme Court; Superior
Court of Justice; Consumer’s Defense Code.

Augusto Vinícius Fonseca e Silva é Pro-


curador do Município de Juiz de Fora/MG.

R. CEJ, Brasília, n. 25, p. 5-11, abr./jun. 2004 11

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