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Introdução:

O texto que segue é relacionado ao livro apresentado em sala


sobre Culturas Hibridas: Estratégias para entrar e sair da
modernidade. Tem como objetivo apontar as principais idéias do autor a
respeito do assunto, e revelar também as maneiras para entrar e sair da
modernidade.

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Texto (vol.1)
Culturas hibridas

Apresenta uma importante reflexão sobre a problemática da


modernidade na América latina. A modernidade já não é mais uma via sem
saída, é possível entrar nela, assim com é possível e preciso sair dela. Como
saída,mostra questões como: pós-modernidade, hibridação, poderes oblíquos,
descoleção e desterritorialização, as quais se configuram, de uma forma muito
peculiar, no processo de modernização, estabelecido e estabelecendo-se, mais
tarde do que se esperava , no chamado Terceiro Mundo latino.A analise das
estratégias de entrada e saída da modernidade, partindo do princípio de que na
América latina não há uma firme convicção de que o projeto moderno deva ser
o principal objetivo ou o algo a ser alcançado, "como apregoam, políticos,
economistas e a publicidade de novas tecnologias". Essa convicção tão
presente e relevante para o crescimento econômico das chamadas potências
mundiais, desestabilizou-se a partir do momento em que se intensificou as
relações culturais com países recém independentes do continente americano,
na medida em que se cruzaram etnias, linguagens e formas artísticas. Essa
nova situação são denominadas intercultural de hibridação em vez de
sincretismo ou mestiçagem, porque abrange diversas mesclas interculturais -
não apenas as raciais, às quais costuma limitar-se o termo 'mestiçagem' - e
porque permite incluir as formas modernas de hibridação, melhor do que
'sincretismo', fórmula que se refere quase sempre a fusões religiosas ou de
movimentos simbólicos tradicionais.
Esses estudos são baseados entre as diferentes manifestações culturais e
artísticas (muitas delas anônimas): desde passeatas reivindicatórias, passando
pela pintura, arquitetura, música, grafite e histórias em quadrinhos até a
simbologia dos monumentos. Começa-se a refletir sobre o que chamamos de
migrações multidirecionais, relativizadoras do paradigma binário que tanto
balizou a concepção de cultura e poder na modernidade. Esse setores, aliás,
perdem suas antigas fronteiras, misturam-se, confundem-se, em consonância
com as novas tecnologias comunicacionais da atualidade.

O autor fala da linguagem das manifestações híbridas que nascem do


cruzamento entre culto e o popular através de um videoclipe. Dessencializa,
assim, tanto a idéia de uma tradição autogerada, construída por camadas
populares, quanto a noção de arte pura, ou arte erudita. A linguagem paródica,
acelerada e descontínua do videoclipe representa a desconstrução das ordens
habituais, deixando que apareçam as rupturas e justaposições, entre essas
duas noções tradicionais de cultura, que culminam em um outro tipo de
organização dos dados da realidade. Por fim de conter as formas dispersas da
modernidade, foi investigado o fenômeno da cultura urbana, principal causa da
intensificação da heterogeneidade cultural. É na cidade, portanto na realidade
urbana, que se processa uma constante interação do local com redes nacionais
e transnacionais de comunicação.
Dissolver-se na massa e no anonimato é apenas uma das facetas da
metrópole, a outra é das comunidades periféricas que criam vínculos locais de
afetividade e de condescendência e saem pouco de seus espaços. A questão é
que essas estruturas microssociais da urbanidade - o clube, o café , a

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associação de vizinhos, o comitê político etc. - que antes se interligavam com
uma continuidade utópica dos movimentos políticos nacionais, estão cada vez
mais desarticuladas enquanto representação política. Isso se deve, dentre
outros fatores, às dificuldades dos grupos políticos para convocarem trabalhos
coletivos, não rentáveis ou de duvidoso retorno econômico - e é cada vez mais
imperativo o adágio : "tempo é dinheiro". Os critérios mais valorizados são os
que se ligam à rentabilidade e eficiência. O tempo livre dos setores populares,
coagidos pelo subemprego e pela deteriorização salarial, é ainda menos livre
por ter que preocupar-se com o segundo, ou terceiro trabalho, ou em procurá-
los. A maior relevância da mídia, hoje, nesse sentido, é por se tornar a grande
mediatizadora ou até substituta de interações coletivas. A participação de
camadas periféricas relaciona-se cada vez mais com uma espécie de
"democracia audiovisual", em que o real é produzido pela imagens da mídia.
Da idéia de urbanidade e teleparticipação, o autor passa a investigar a questão
da memória histórica, desfazendo a perspectiva linear de que a cultura massiva
e midiática substitui a herança do passado e as interações públicas. Nesse
sentido, investiga a presença dos monumentos e a sua relação ambivalente em
meio as transformações da cidade. O monumentos não são mais
os cenários que legitimam o culto do tradicional, abertos à dinâmica urbana
facilitam que a memória interaja com a mudança, que os heróis nacionais a
revitalizam graças à propaganda ou ao trânsito: continuam lutando com os
movimentos sociais que sobrevivem a eles.

Analisando ainda a problemática da cultura urbana,o autor estuda dois


processos diferenciados e complementares de desarticulação cultural: o
descolecionamento e a desterritorialização. O primeiro envolve a recusa pós-
moderna de se produzir bens culturais colecionáveis, o que seria uma sintoma
mais claro de como se desconstituem as classificações que distinguiam o culto
do popular e ambos do massivo. Desaparece cada vez mais a possibilidade de
ser culto por conhecer apenas as chamadas "grandes obras"; o ser popular não
se constitui mais a partir do conhecimento de bens produzidos por uma
comunidade mais ou menos fechada. O intelectual pós-moderno se constitui a
partir de sua biblioteca privada, onde livros se misturam com recortes de
jornais, informações fragmentárias no "chão regados de papéis disseminados",
conforme Benjamim.
A partir dos novos dispositivos tecnológicos como a fotocopiadora, o
videocassete e o vídeo game que não podem ser considerados como cultos ou
populares, as coleções se perdem e com elas, as referências semânticas e
históricas que amarravam seu sentido. No primeiro dispositivo há a
possibilidade do manejo mais livre e fragmentário dos textos e do saber, no
segundo é permitido a reorganização de produções audiovisuais
tradicionalmente opostas: o nacional e o estrangeiro, o lazer e o trabalho a
política e a ficção etc. O terceiro, enfim, desmaterializa e descorporifica o
perigo dando-nos unicamente o prazer de ganhar dos outros ou a
possibilidade, ao sermos derrotados, de que tudo fique na perda de moedas
numa máquina.
Segundo processo da desterritorialização, se constitui como mais radical
significado de entrada e saída da modernidade. Para ilustrar isso, ele analisa
primeiro a trasnacionalização dos mercados simbólicos e as migrações. Nesse
sentido desconstrói os antagonismos : colonizador vs. Colonizado e

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nacionalista e cosmopolita, ao enfatizar a descentralização das empresas e a
disseminação dos produtos simbólicos pela eletrônica e pela telemática, o uso
de satélites e computadores na difusão cultural também impedem de continuar
vendo os confrontos dos países periféricos como combates frontais com
nações geograficamente definidas. É importante esclarecer, para destituir a
idéia de maniqueísmo, que a difusão tecnológica também permitiu a países
dependentes registrarem um crescimento notável de suas exportações
culturais, basta lembrar do crescimento da produção cinematográfica e
publicitária do Brasil nos últimos anos.

Outro fator importante para a desterritorialização, é o que o autor chama


de migrações multidirecionais, a constância cada vez maior da realidade
diaspórica. Tal realidade é muito bem ilustrada pelo seu estudo sobre os
conflitos interculturais em Tijuana, fronteira entre o
México e os Estados Unidos. Ele afirma: "várias vezes pensei que essa cidade
é , ao lado de Nova Iorque, um dos maiores laboratórios da pós-
modernidade"(p. 315) . O caráter multicultural desse local não se expressa
apenas no uso do espanhol e do inglês, mas nas relações divergentes e
convergentes que se dão entre uma cultura e outra. Ao mesmo tempo há uma
tentativa de retorno ao tradicional, ou pelo menos, uma tentativa de reinventá-
lo. Em Tijuana, a busca pelo autêntico atende também aos interesses do
mercado turístico. Visitantes tiram foto em cima de burros pintados que imitam
zebra, ao fundo imagens de várias regiões do México: vulcões, figuras astecas,
cactos etc.
Por outro lado, em conseqüência ao processo da descoleção, como já fora
explicitado, o artista perde sua áurea como fundador da gestualidade e das
mudanças totais e imediatas. As práticas artísticas carecem agora de
paradigmas consistentes: o cânone, a genialidade e a erudição são idéias
ultrapassadas e pretensiosas. Ao artista ou ao artesão (categorias cada vez
menos diferenciadas) restam às vezes as cópias, a possibilidade de repetir
peças semelhantes, ou a possibilidade de ir vê-las num museu ou em livros
para turistas.Como proposta de uma prática artística híbrida, o autor finaliza
seu texto, falando do grafite e dos quadrinhos, gêneros impuros que desde o
nascimento abandonaram o conceito de coleção patrimonial, e se estabelecem
como "lugares de interseção entre o visual e o literário, o culto e o popular". A
ambivalência do grafite se constitui, quando, ao mesmo tempo, que serve para
afirmar territórios de grupos étnicos ou culturais, também desestrutura as
coleções de bens materiais e simbólicos da chamada "alta cultura". Os
quadrinhos contribuem para mostrar a potencialidade de uma nova narrativa e
do dramatismo que pode ser condensado em imagens estáticas. É o estilo
mais lido e o ramo da indústria editorial que produz maiores lucros; por sua
relação constante com o cotidiano, acaba por revelar referências e
contradições da própria contemporaneidade.

Para ilustrar essas manifestações deslocadas, o autor fala de uma


famosa tira de Fontanarrosa, em que um personagem "contrabandista de
fronteira" foge da polícia "de 15 países"- o personagem não contrabandeia
através de fronteira, mas a própria fronteira: balizas, barreiras, marcos, arames
farpados etc. Após vender uma defeituosa, ele tem que se esconder para não
ser preso pela Interpol. No final, quando estava sendo perseguido, o

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personagem acaba por entrar numa manifestação popular, pensando se tratar
de uma procissão, porém, na verdade, se tratava de um movimento grevista de
policiais. A frase conclusiva que encerra a tira, dita por outro personagem que
presencia toda a aflição do protagonista, é emblemática do momento pós-
moderno: "A gente nunca sabe onde vai estar metido no dia de amanhã".

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