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Coapitutor2 (onde — eter spies enaainde ita decade Conn dtm pertamonces porcine ete 80. Arlt oo qu sa come dr) Copituto 13 (ond ragivm gran dels not deci do Por atrsmo ede Sibel, prelim tengo ests do qe se 56 66 74 7 Capitulo 1 (onde se poem algumes cortas ne meso, tiram-se outras da mange, funde-se o Clube dos Leitores Anénimos, e se per- gunta: 0 que & literatura?) Dro dobar esta pagina, Wada temas poeta E soum sono poema. Mas ela mudou. ~ Mudou muito: Oe a Mudou de cara; de enderego e até de familia. "© E tem. quem nao a reconhega no novo enderego, tem. quem desfaca da parentela que veio de longe.Tem uma voz ali atrds, resmungando: entio misica popular é poesia? Tele~ novela tem tanto valor quanto romance? Folheto de cordel _ tema mesmaimportincia estética que a epopéia...? Sao vozes ~~ rabugentas, mas paciéncia, que nesta conversa volta © meia vamos ter de dialogar com estes € com outros resmungos semelhantes? ‘Sao resmungos de alto coturno: os donos dessas vozes dio aulss,escrevem livros imensos, do entrevista 20s jornais. Quando |Jé nfo vestem, pretendem vestr 0 fardio da academia,e nem se incomodam que do traje engalanado se desprenda um leve cheiro de mofo... 'Na semana passada, um jornal de grande tiragem publicou uum artigo que dizia muito do que essas vozes dizem: EM QUADRINNOS, E YA AGORA TamBén EM vi IADA NA TELEVISAO & EM HISTOMIAS DEOGANES, A JUVENTUDE DE HOE £ POUCO AMI” GA DOS LIVROS E 04 AS COSTAS A LEMTURA, DONA 0E UM VOCARULARIO MUITO PARCO, SUA FaALA & AINDA CORROMPIDA *ELA GIRIA OAS RUAS E PE LOS ESTRANGEIRISMOS OUE AMEAGAM A SOBE* ANIA DA LINGUA NACIONAL. MESMO NOS CUR 808 DE LETRAS, Mio POUCA veres OS cLASSICOS OA LiTeRATURA SKO SUBsTITUIOOS POR AUTORES MENORES, ESTETICAMENTE INEX: PRESSIVOS, QUE NADA TEM EM COMUM COM A ESTIAPE DE UM MACHADO DE ASSIS OU DE UM GRACILIANO RAMOS (...) ‘nada de novo. Salvo raras excegdes, intelectuais ¢ professores fo- am sempre do contta quando se trata de novidades culturais, Ba literatura hoje ganhou cara nova: ‘A literatura hoje no é mais artesanal nem ¢ produzida por ums poucas indistrias ou escrita por uns poucos escritores que tém 0 monopélio do mercado ¢ da opinio. Hoje a litera= tura é produzida por uma indéstria tio sofisticada quanto a inddstria de alimentos, que oferece motho de tomate para to- dos 08 gostos, com coentro ou sem cebolinha, com pedagos grandes de tomate ou como creme homogeneizado, Macarronada per Quando Castro Alves (187-1871), grande poeta brasileiro, descrevia — ha bem mais de um século — seu sonho de um mundo onde houvesse livros, livras a mancheias, etava profeti- zando 0 nosso hoje. Pois os livros,a partir de meados do século \iplicaram-se vertiginosamente, inclusive no Brasil ivros de todo feitio, para todo feitio de leitores. Re de amor beijos interminaveis e quen se amarra em hist6rias de trifico, bandi as com que se garg lado, A literatura fala de varios mundos: alguns pareci- dissimos com o nosso, onde, por exemplo, tem gente que mor~ re de fome nas ruas,e de mundos muito diferentes, onde vivem ceratura hoje traz para fa quem custe his “Mas que ninguém se asuste. Ese pessimismo todo nao tem = _Fomances esoftricos, da poesia de auto-ajuca, da ficcio cienti- fica e do romance policial, continuam a ser lidos e apreciados ‘05 romances de antigamente, as novelas de cavalaria, os chama~ dos clissicos, a poesia, Talvez \iteratura os resmungos mal-ht 508 ouvidos. : © que quer dizer que Homero (sé. X 2.C.), Dante Alighi- istintas do que escrevem hoje os Titis, Paulo Coelho, Rodolfo Cavalcanti e Grisham. Mas diferente no quer dizer pior. S6 quer dizer diferente. ‘Mas, geralmente, as vozes donas da verdade usam éculos que véem o diferente como pior e estio habituadas a terem sempre razio, Por mais divergentes e contraditérios que sejam seus pontos de vista sobre a literatura, eles acabam recaindo Sempre no mesmo universo. Universo imenso, mas com fron- teiras: imitado por Marcel Proust (1871-1922) a0 Norte, Jorge Luis Borges (1899-1986) ao Sul, Clarice Lispector (1 Leste e... quem mesmo a Oeste? Edgard Allan Poe (1809-1849)? T.S, Eliot (1888-1965)? Poe e Eliot a Oeste, certo! Além de te~ que retomiem e atualizem tudo 0 19j¢ jf foi escrito sobre o assunto, Mas essa tradigio cultural que os apéia, se tem o respaldo de muitos séculos, tem também a civilizagio burguesa por ho- rizonte.A civilizagio burguesa é branca, masculina e bem alfi- betizada, no ¢ mesmo, leitores proletirios,¢ leitoras negras? Aquém e além dos que resmungam, uma multidio de gen- te, vocé, eu, todos nés, sécios entusiasmados do Clube dos Lei- tores Andnimos, eventualmente j& nos perguntamos e j nos respondemos o que é literatura? Perguntas permanentes, respos- tas provisérias. TZo permanentes umas ¢ provisorias outras quan- to 0 sio as perguntas ¢ respostas com que lidam os intelectuais do time dos que reclamam e resmungam. Sé que sem o teflexo do espelho, das citagdes, dos interlocutores. Entio, em igualdade de condigdes, é arregacar as mangas agar pra ver.

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