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John E. Mack, M. D.
Planeta
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
1. SEQUESTRADOS POR OVNI: INTRODUÇÃO 1
2. SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS: UMA PANORÂMICA 33
3. LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 59
4. «PESSOALMENTE NÃO ACREDITO EM OVNI» 79
5. O VERÃO DE 92 107
6. UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS 131
7. SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTAREM 167
8. LIBERTAÇÃO DO ASILO DE Loucos 207
9. SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 237
10. PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 257
11. A MISSÃO DE EVA 285
12. A MONTANHA MÁGICA 313
13. AViAGEMDEPETER 347
14. UM SER LUMINOSO 397
15. ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 437
16. INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 459
AGRADECIMENTOS
Há muitas pessoas a quem estou grato pela ajuda que me prestaram
neste trabalho. Alguns contribuíram para a preparação do
manuscrito e outros facultaram informações e ideias. Outros presta-
ram-me apoio pessoal directo. Alguns contribuíram de diversas des-
tas formas. Outros fizeram o favor de não me criticarem pelas costas,
quando foram confrontados com um tema susceptível de alterar
radicalmente a sua percepção da realidade. Obviamente, não posso
citar todos estes indivíduos, mas eles saberão reconhecer-se.
Desejo agradecer a Míriam Altshuler, Wait Andrus, Michael e
Isabel Blumenthal, Thomas E. Bullard, John Carpenter, Blanche
Chavonstie, David Cherniak, Jerome Clark, Barbara Corbisier, Joan
Erikson, C. Richard Farley, Penelope Franklin, Mary Westbrook
Geha, Bill Goldstein, David Gotiib, Stanislav Grof, Hugh Gusterson,
Joanne Hager, Richard Haines, Judith Herman, Robert e Joan Holt,
Budd Hopkins, Linda Moulton Howe, Barbara Marx Hubbard, David
Jacobs, Douglas Jacobs, Eric Jacobson, C.B. Scott Jones, Honey
Black Kay, Gurucharan Singh Khalsa, Thomas e Jehane Kuhn,
Roberto Lewis-Fernandez, Robert Jay Lifton, Caroline MacLeod,
John Miller, Malkah Notman, Joseph Nyman, David e Andrea
Pritchard, Joseph Regai, Kenneth Ring, Laurance Rockfeller, Mark
Rodeghier, Rudolf Schild, Timothy Seldes, Vivienne Simon, Karen
Speerstra, Joel Speerstra, Ervin Staub, Myron Stocking, Richard
Tarnas, Keith Thompson, George Vailiant, Jacques Vallee, Roger
Walsh, Kenneth Warren, Karen Wesolowski e Jennie Zeidman.
Desejo agradecer especialmente a Pam Kasey, cuja participação
neste projecto o tornou possível; a Dominique Cailimanopulos, pelo
seu cuidado e apoio em muitos aspectos do meu trabalho; a Pat Carr
e Leslie Hansen, pela sua indispensável colaboração na criação deste
livro; e à minha mulher, Sally, pelo seu amor e apoio durante todo o
tempo que durou a produção deste livro.
Finalmente, e talvez mais importante que tudo o resto, desejo
agradecer aos sujeitos das experiências, tanto àqueles que são
directamente citados nestas páginas, como a todos os que me fala-
ram destes fenómenos, pela notável coragem demonstrada ao par-
tilharem as suas histórias.
PREFÁCIO
Um autor que se lança num empreendimento tão manifestamente
inovador como este tem inevitavelmente de interrogar-se acerca
das possíveis ligações com o seu trabalho anterior. Para mim, a liga-
ção reside no tema da identidade — quem somos nós, no sentido
mais profundo e mais lato. Em retrospectiva, este tema tem estado
comigo desde o início, dominando as minhas abordagens clínicas
dos sonhos, dos pesadelos e do suicídio de adolescentes e as minhas
pesquisas biográficas, bem como os estudos relativos à geração das
armas nucleares e aos conflitos etnológicos e, mais recentemente, a
psicologia transpessoal, com a qual tenho estado envolvido.
Segundo entendi, o fenómeno dos sequestros obriga-nos, se nos per-
mitirmos toma-lo a sério, a reexaminar a nossa percepção da identi-
dade humana — a olhar para o que somos, de uma perspectiva
cósmica.
Este livro não é apenas sobre OVNI ou sequestradores alieníge-
nas. É sobre o modo como estes fenómenos, simultaneamente trau-
máticos e transformadores, podem alargar a nossa compreensão de
nós mesmos e a nossa percepção da realidade e revelar o nosso
potencial oculto como exploradores de um universo rico em misté-
rios, significados e inteligência.
Quando exploramos fenómenos que existem à margem da reali-
dade aceite, as palavras existentes tornam-se imprecisas ou necessi-
tam que lhes seja dado um novo significado. Termos como
«sequestro», «alienígena», «acontecimento» e mesmo «realidade»
necessitam de ser redefinidos, sob pena de se perderem distinções
subtis. Neste contexto, classificar demasiado literalmente as recor-
dações como «verdadeiras» ou «falsas», pode limitar o que podería-
mos aprender sobre a consciência humana, a partir das experiências
de sequestross relatadas nas páginas que se seguem.
Sequestro
CAPÍTULO UM
SEQUESTRADOS POR OVNI:
INTRODUÇÃO
No Outono de 1989, quando uma colega me perguntou se queria
conhecer Budd Hopkins, repliquei:
— Quem é ele?
Ela disse-me, então, que era um artista que vivia em Nova Iorque
e trabalhava com pessoas que diziam ter sido levadas por seres alie-
nígenas para naves espaciais. Na altura, comentei qualquer coisa no
sentido de que ele devia ser doido e todos os outros também. Porém,
ela negou insistentemente, dizendo que se tratava de um assunto real
e muito sério. Em breve chegou um dia em que tive de ir a Nova
Iorque por qualquer outra razão — foi a 10 de Janeiro de 1990, uma
dessas datas que não esquecemos porque marcam uma mudança
decisiva na nossa vida — e ela levou-me a conhecer Budd.
Nada nos meus então quase quarenta anos de experiência no
campo da psiquiatria me tinha preparado para o que Hopkins tinha a
dizer. Fiquei impressionado pelo seu calor, a sua sinceridade, a sua
inteligência e o seu interesse pelas pessoas com quem tinha traba-
lhado. Mas mais importantes ainda foram as histórias que ele me
contou, de pessoas vindas de todos os pontos dos Estados Unidos
que tinham aparecido para lhe relatar as suas experiências, depois de
terem lido um dos seus livros ou artigos, ou de o terem ouvido na
televisão. Estas histórias correspondiam, algumas até ao mínimo
pormenor, às contadas por outros «sequestrados» ou «sujeitos de
experiência», como são designados.
A maior parte das informações específicas que os sequestrados
fornecem sobre os meios de transporte de e para as naves espaciais,
2 SEQUESTRO
as descrições do interior das próprias naves e o procedimento dos
alienígenas durante os sequestros nunca foram veiculadas, quer em
livro, quer por intermédio dos meios de comunicação social. Além
disso, estes indivíduos eram provenientes de várias partes do país e
não tinham comunicado uns com os outros. Noutros aspectos, pare-
ciam bastante sensatos, tinham-se revelado relutantemente, temendo
o descrédito ou a completa ridicularização das suas histórias, com
que se haviam já defrontado no passado. Tinham vindo visitar
Hopkins à sua própria custa e, salvo raras excepções, nada tinham a
lucrar materialmente com o facto de relatarem as suas histórias.
Num caso, uma mulher ficou espantadíssima quando Hopkins lhe
mostrou o desenho de um ser alienígena. Perguntou-lhe como conse-
guira retratar o que ela vira, quando apenas tinham começado a falar.
Quando ele explicou que o desenho tinha sido feito por outra pessoa,
oriunda de outra região do país, ficou muito preocupada, porque,
deste modo, a experiência que ela quisera acreditar tratar-se apenas
de um sonho, parecia agora assumir foros de realidade.
A minha reacção foi, em alguns aspectos, semelhante à desta
mulher. O que Hopkins tinha, sobretudo, encontrado nos mais de
duzentos casos de sequestro, que estudara ao longo de um período de
catorze anos, eram relatos de experiências que apresentavam carac-
terísticas de acontecimentos reais: narrativas altamente pormenori-
zadas, que não apresentavam padrões simbólicos óbvios, choques
traumáticos, emocionais e físicos, por vezes deixando pequenas
lesões nos corpos dos sujeitos da experiência, e grande coerência das
histórias, até aos mínimos pormenores. Mas se estas experiências
eram, em algum sentido, «reais», então estavam em aberto uma série
de novas questões. Qual a frequência destes acontecimentos? Se
existia um grande número de casos destes, quem ajudava estes indi-
víduos a lidar com tais experiências e qual o tipo de apoio ou trata-
mento mais adequado? Qual a resposta dos especialistas em saúde
mental? E, mais basicamente, qual a origem destes encontros? Estas
e muitas outras questões serão abordadas neste livro.
Em resposta ao meu interesse óbvio, embora algo confuso,
Hopkins perguntou-me se eu próprio gostaria de conhecer alguns
destes sujeitos de experiências. Concordei, com uma curiosidade
mesclada de ligeira ansiedade. Um mês mais tarde, Hopkins mar-
cou-me encontro, em sua casa, com quatro sequestrados, um homem
e três mulheres. Todos eles contaram histórias semelhantes dos seus
4 SEQUESTRO
tismo da presença, do apoio e da compreensão necessárias influen-
ciaram a forma como encaro a psicoterapia em geral. Além disso,
acabei por compreender que os fenónemos de sequestro têm signifi-
cativas implicações filosóficas, espirituais e sociais. Sobretudo,
mais do que qualquer outra pesquisa que tenha levado a cabo, este
trabalho obrigou-me a desafiar a visão prevalecente do mundo ou a
realidade consensual, na qual cresci acreditando e que sempre apli-
quei nos meus estudos clínico-científicos. De acordo com esta visão
— diversamente apodada de paradigma científico ocidental, newto-
niano / cartesiano ou materialista/dualista — a realidade baseia-se
fundamentalmente no mundo material ou naquilo que pode ser apre-
endido pêlos sentidos físicos. Nesta óptica, a inteligência é sobre-
tudo um fenómeno do cérebro humano ou de outras espécies
evoluídas. Se, pelo contrário, a inteligência for entendida como
característica do próprio cosmos, a percepção constitui um exemplo
de «subjectivismo» ou uma projecção dos nossos processos mentais.
Aquilo que os fenómenos de sequestro me levaram a entender
(diria, agora, que inevitavelmente) é que participamos num uni-
verso, ou universos, cheios de inteligências, das quais nos separá-
mos, tendo perdido os sentidos através dos quais poderíamos
conhecê-las. Tornou-se também evidente para mim que a nossa res-
trita visão do mundo, ou paradigma, se encontra por detrás da maior
parte dos grandes padrões destrutivos que ameaçam o futuro da
humanidade — cobiça negligente dos grandes grupos de empresas,
que perpetua as diferenças entre ricos e pobres e contribui para a
fome e a doença, violência étnica e nacionalista, que dá origem a
mortes em massa e poderá resultar num holocausto nuclear, e destru-
ição ecológica a uma escala que ameaça a sobrevivência dos ecossis-
temas terrestres.
Existem, evidentemente, outros fenómenos que levaram a ques-
tionar a visão materialista/dualista prevalecente. Entre estes incluem-
-se as experiências de quase morte, as práticas de meditação, o uso de
substâncias psicadélicas, as viagens dos xamãs, as danças de êxtase,
os rituais religiosos e outras práticas, susceptíveis de abrir a nossa
mente àquilo a que, no Ocidente, chamamos estados de consciência
anormais. Mas, segundo penso, nenhuma destas práticas nos fala na
linguagem que melhor conhecemos, isto é, a linguagem do mundo
físico. Porque os fenómenos de sequestro nos atingem, por assim
dizer, no local onde vivemos. Entram abruptamente no mundo físico,
6 SEQUESTRO
nios, gnomos, vampiros e monstros marinhos. De todos eles se disse
que vieram para ensinar, comandar, perturbar ou fazer amizade com
os humanos, com diferentes disposições, motivos e objectivos.
Enquanto muitos destes seres pareciam estar em casa na Terra, a
maioria vinha visitar-nos vinda de outros habitais ou dimensões. O
céu, em especial, tem sido escolhido como abrigo dos seres não
humanos e tornou-se o símbolo da dimensionalidade extraterrestre,
especialmente quando, recentemente, as fronteiras da Terra parece-
ram encolher. Como notou Ralph Noyes, «costumávamos povoar a
Terra de espíritos e deuses. Agora, eles foram expulsos e o céu é o
seu porto de abrigo» (Noyes, 1990).
Em Truk, nas ilhas Marshall, o povo acredita tradicionalmente
num mundo exterior que corresponde em alguns aspectos à
moderna concepção de espaço exterior. É um mundo de mistério e
de poder, um mundo ao qual os seres deste mundo devem a sua pró-
pria existência. Além do mais, existia um constante diálogo entre os
seres deste mundo e os habitantes do mundo exterior dos espíritos
(Goodenough 1986, pág. 558). Da mesma forma, os Índios ameri-
canos da tribo Hopi eram, segundo a tradição, educados pêlos Ka-
chinas, seres espirituais vindos de outros planetas, que lhes
ensinaram técnicas agrícolas e lhes deram as directrizes morais e
filosóficas que enformaram a cultura Hopi (Clark e Coleman 1975,
pág. 215). O povo da Irlanda acreditava que as fadas ou os elfos não
eram terrenos, mas sim originários de outros planetas. Frequen-
temente, as fadas viajam pêlos céus em naves aéreas em forma de
nuvem, chamadas «barcos de fada» ou «navios fantasma» (Ro-
jcewicz 1991, pág. 481).
Mircea Eliade, o famoso mitólogo, documentou amplamente o
significado simbólico da distinção entre céu e terra, como ilustra-
tiva, quer da separação, quer da ligação entre o mundo dos humanos
e o mundo dos espíritos. Segundo Eliade, «os mitos arcaicos de
todo o mundo falam da existência primordial de uma extrema pro-
ximidade entre o Céu e a Terra. In illo tempore, os deuses desceram
à Terra e misturaram-se com os homens, e estes, por seu lado,
podiam ascender ao Céu, subindo uma montanha, uma árvore trepa-
deira ou uma escada, ou mesmo sendo levados por pássaros»
(Eliadel957.pag.59).
Estes mitos de ascensão, afirma Eliade, estas imagens de uma
qualquer ligação entre a terra e os céus, encontram-se em muitas tri-
8 SEQUESTRO
Poderia parecer que os actuais sequestrados por OVNI são os
continuadores de uma tradição vastamente documentada de ascen-
sões e comunicações alienígenas. Porém, os sequestros por alieníge-
nas e os seus efeitos nos sequestrados possuem uma singularidade
própria. Peter Rojcewicz, especialista em folclore, comparou a
experiência dos sequestrados ou sujeitos de experiência de hoje com
outros fenómenos aéreos e de sequestro e alude à possibilidade de
existência de uma inteligência, um espírito, uma energia, uma cons-
ciência, que preside às experiências OVNI e de encontros extraordi-
nários de todos os tipos, cuja forma e aspecto se adaptam ao
ambiente das épocas (Rojcewicz 1991).
Rojcewicz cita a longa história das visões de fenómenos aéreos
invulgares e de seres ou objectos luminosos. Nos tempos antigos,
eram visões de «carros celestiais, carroças que voavam para o céu,
palácios voadores que brilhavam e se moviam pêlos céus... Existem
também muitas descrições diferentes de escudos flamejantes no céu,
como triângulos. Cruzes flamejantes foram também avistadas nos
céus da Europa ocidental.» O mesmo autor nota também a presença
de nuvens ou de luzes nebulosas em torno de objectos invulgares ,
incluindo OVNI, bem como o aparecimento espontâneo de imagens
religiosas luminosas no céu, frequentemente testemunhado por
milhares de pessoas. Nos Estados Unidos, ainda no século passado,
os americanos testemunharam o aparecimento de navios — escunas
e barcos — a navegar no céu (Rojcewicz 1992). Jerome Clark, após
uma cuidadosa investigação das naves avistadas nos anos 1890, con-
cluiu que os veículos espaciais observados frequentemente nos
Estados Unidos poderiam estar relacionados com os OVNI contem-
porâneos, mas interpretados de acordo com a tecnologia e mitologia
da época (Clark 1991).
Segundo Mário Pazzaglini, um psicólogo que, desde há alguns
anos, se tem interessado pelas experiências de sequestro, nos últi-
mos dez mil anos foram registadas manifestações de natureza «rela-
cionada com OVNI», começando com uma gravura de Ezequiel no
Antigo Testamento, que representa uma visão que inclui anjos,
rodas, luz e nuvens (Pazzaglini 1992).
Fenómenos celestes invulgares foram igualmente registados
pêlos Romanos, pêlos Gregos do século IV e na Idade Média. Ma-
nifestando-se por vezes sob a forma de estrelas, fogos no céu, cruzes,
luzes ou raios de luz, era frequente as aparições desaparecerem sim-
10 SEQUESTRO
sequestros por OVNI produto desta consciência colectiva? Se, como
acontece em algumas culturas, a consciência atravessa todos os ele-
mentos do universo, qual o papel desempenhado por acontecimentos
como os sequestros por OVNI e outras experiências místicas nas
nossas mentes e no resto do cosmos?
Não é fácil responder a estas questões. Talvez tudo o que possa-
mos fazer neste momento seja reconhecer as questões, enquanto
escutamos o relato das experiências daqueles que se deslocaram
para além da nossa concepção de «realidade» culturalmente parti-
lhada. A experiência de ser raptado por OVNI, embora única em
muitos aspectos, apresenta algumas semelhanças com outras
experiências dramáticas e transformadoras, sofridas por xamãs, mís-
ticos e cidadãos vulgares, que tiveram encontros com o paranormal.
Em todos estes domínios experimentais, a consciência vulgar do
indivíduo é radicalmente alterada. Ele, ou ela, é iniciado num estado
existencial fora do comum que, no final, dá origem a uma reintegra-
ção do eu, uma concentração espiritual ou entrincheiramento em
estados e/ou conhecimentos até então inacessíveis. Por vezes, o pro-
cesso é desencadeado por uma doença ou por um qualquer aconteci-
mento traumático e, outras vezes, o indivíduo é simplesmente
empurrado para estados existenciais, dos quais ele, ou ela, emerge
com novos poderes e sensibilidades. «Durante a iniciação, o Xamã
aprende a penetrar noutras dimensões da realidade e a permanecer
aí; os seus ritos iniciáticos, seja qual for a sua natureza, dotam-no de
uma sensibilidade capaz de percepcionar e integrar estas novas
experiências... através dos sentidos estranhamente apurados do
Xamã manifesta-se o sagrado» (Eliade 1957, pág. 66). Tal como
muitos dos sequestrados, o iniciado apura a sua nova sensibilidade
ao serviço da sabedoria, que poderá ser utilizada pelo seu povo.
A revelação não está apenas ao alcance daqueles que buscam a
iluminação, mas pode bater a qualquer porta, em qualquer momento.
No início deste século, um certo Dr. Buche descreveu o que parece
ser um certo tipo de experiência arquetípica: «Ele e dois amigos
tinham passado a tarde a ler Wordsworth, Keats, Browning e, es-
pecialmente, Whitman. Encontrava-se num estado de quase gozo
passivo. Subitamente, sem qualquer aviso, viu-se envolvido numa
nuvem cor de fogo... e, quando mal se apercebera, a luz estava den-
tro de si próprio. Imediatamente a seguir foi tomado de um estado de
exaltação, de uma imensa alegria, acompanhada de uma iluminação
12 SEQUESTRO
longo da história. Estes seres apresentam-se aos homens sob milha-
res de formas diferentes; possuem poderes extraordinários e, fre-
quentemente, pretendem compartilhar de e/ou roubar qualquer coisa
pertencente aos humanos, desejam comunicar com eles ou muito
simplesmente pregar-lhes partidas. E Vallee conclui: «Os ocupantes
dos OVNI, tal como os elfos de antigamente, não são extraterrestres.
São habitantes de outra realidade» (1988, pág. 96). Vallee acredita
que a interacção dos sequestrados com os alienígenas faz parte de
«um mito muito antigo e divulgado em todo o mundo, que formou as
estruturas das nossas crenças, as nossas expectativas científicas e a
nossa ideia de nós próprios» (1988, pág. 99). Escreve este autor: «O
poder atribuído aos ocupantes dos OVNI já foi posse exclusiva das
fadas»(l 988,pág. 134).
Vallee traça um paralelo entre as aparições religiosas, a crença
nas fadas, as aparições de seres semelhantes a anões com poderes
sobrenaturais, as histórias de naves espaciais avistadas nos Estados
Unidos no século passado e as actuais histórias de aterragem de
OVNI (1988, pág. 140). Especula largamente:
«Ou devemos levantar a hipótese de que uma raça avançada,
vivendo algures no espaço e no tempo, nos tem vindo a apresentar,
nestes últimos dois mil anos, óperas espaciais tridimensionais, no
intuito de guiar a nossa civilização? Se é assim, eles merecem os
nossos agradecimentos?... Ou, ao contrário, estamos perante um uni-
verso paralelo, uma outra dimensão, habitada por raças humanas e
para onde poderemos viajar à nossa custa, para nunca mais regressar
ao presente? Serão essas raças apenas meio humanas, de forma que
para manterem o contacto connosco têm de miscigenar-se com os
homens e mulheres do nosso planeta? Será esta a origem das muitas
histórias e lendas em que a genética desempenha um grande papel: o
simbolismo da Virgem no ocultismo e na religião, os contos de fadas
envolvendo parteiras humanas e crianças trocadas, as implicações
sexuais dos relatos de discos voadores, as histórias bíblicas de casa-
mentos entre os anjos do Senhor e mulheres terrenas, cujos filhos
eram gigantes? Nesse universo misterioso existirão seres mais avan-
çados que projectam objectos que podem materializar-se e desmate-
rializar-se ao sabor da sua vontade? Serão os OVNI «janelas» e não
«objectos»? Não há nada que possa apoiar estas assunções e, no
entanto, tendo em vista a continuidade histórica destes fenómenos, é
14 SEQUESTRO
com criaturas, aparentemente vindas do espaço ou de outra dimen-
são, não ser provavelmente tão notória como em sociedades em que
a interacção entre o mundo dos espíritos ou «além» e a nossa exis-
tência física seria considerada fora do comum.
A primeira publicação de um caso de sequestro teve lugar no
Brasil, referindo o alegado sequestro do filho de um rancheiro,
António Vilas-Boas, em 1957. Porém, os relatos de aparições de
OVNI em todo o mundo ultrapassam em muito o número de verda-
deiros sequestros. O livro mais abrangente sobre sequestros na
Europa foi compilado em 1987 por Thomas Bullard, um especialista
em folclore da Universidade de Indiana (Bullard 1987). Bullard faz
uma lista de sequestros registados em dezassete países, incluindo a
Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Inglaterra,
Finlândia, França, Polónia, África do Sul, União Soviética, Espa-
nha, Uruguai e Alemanha Ocidental.
Os Estados Unidos aparecem em primeiro lugar com um grande
número de sequestros, imediatamente seguidos da Inglaterra e do
Brasil, em grande parte devido à disponibilidade de hipnotistas e
terapeutas praticantes que, nesses países, têm trabalhado com
sequestrados. Para ilustrar este ponto, a China pode gabar-se de ter o
maior número de testemunhas da aparição de um OVNI — em 24 de
Agosto de 1987, cerca de um milhão de chineses viram simultanea-
mente um OVNI em forma de espiral (Chiang 1993) — mas não há
qualquer registo de um interrogatório subsequente de testemunhas
individuais.
Porém, a exploração terapêutica das experiências de sequestro
está a vulgarizar-se. Em Maio de 1993, a segunda maior cadeia de
televisão alemã apresentou um documentário de quarenta e cinco
minutos sobre o fenómeno dos sequestros, que conquistou o mais
alto prémio televisivo da Alemanha. Apesar de, na sequência desta
transmissão, dois terapeutas terem oferecido gratuitamente os seus
serviços aos sequestrados, só vinte pessoas responderam. Como em
toda a parte, o sequestro continua a ser uma experiência assustadora,
com a qual muitos preferem não ser confrontados, a menos que os
sintomas resultantes do encontro o exijam.
Mesmo os relatos das aparições de OVNI são, em todo o mundo,
rodeados de segredo. Os arquivos respeitantes a OVNI do Ministério
da Defesa espanhol foram divulgados em 1992. Estes arquivos con-
tinham, sobretudo, relatos de visões de OVNI por pessoal da Força
16 SEQUESTRO
das por muitos sequestrados brasileiros depois de um encontro,
incluindo maiores capacidades telepáticas, clarividência, visões e a
recepção de mensagens espirituais, normalmente relacionadas com
a ecologia mundial, o futuro da humanidade e a justiça social.
Muitos dos sequestrados decidem alterar as suas profissões, depois
da experiência (Moura, na imprensa).
É provável que com a divulgação das técnicas terapêuticas e de
hipnose, em experimentação nos Estados Unidos, muitas mais infor-
mações acerca das experiências dos sequestrados na Europa venham
a ficar disponíveis, nos próximos anos. Certamente que, no resto do
mundo, o fenónemo OVNI não é desconhecido, como o prova a pro-
liferação de gabinetes e organizações de pesquisa dedicadas ao
estudo dos OVNI.
OS SEQUESTROS NA ACTUALIDADE
A história moderna dos sequestros começa com a experiência de
Barney e Betty Hill, em Setembro de 1961 (Fuller 1966). Os Hill,
um casal respeitável, inter-racial, com um casamento estável,
vivendo em New Hampshire, há mais de dois anos que sofriam de
sintomas perturbadores, quando, reluntantemente, consultaram um
psiquiatra de Boston, Benjamin Simon. Barney sofria de insónia e
Betty tinha pesadelos frequentes. Ambos se encontravam num
estado de ansiedade tão persistente que a continuação da sua vida
normal se tornou intolerável, sem analisarem as perturbadoras reper-
cussões daquela noite de Setembro em que tinham perdido duas
horas, durante o seu regresso de umas férias em Montreal. À excep-
ção da angústia provocada pelo incidente descrito, o Dr. Simon não
encontrou sinais de qualquer doença psíquica.
Os Hill contaram que, na noite de 19 de Setembro de 1961, o seu
carro foi obrigado a parar por pequenos seres humanóides cinzentos,
com olhos estranhos. Antes disso, tinham reparado numa luz que se
movimentava erraticamente e, em seguida, numa estranha nave.
Com os binóculos, Barney conseguira divisar as criaturas no interior
da nave. Os Hill sofriam de amnésia relativamente ao que lhes tinha
acontecido durante as horas perdidas, até se terem submetido a repe-
tidas sessões de hipnose sob a orientação do Dr. Simon. Nos seus
encontros, o Dr. Simon recomendou-lhes que não revelassem um ao
18 SEQUESTRO
1981, falava dos períodos de tempo perdidos e outros sintomas rela-
cionados que indiciam a ocorrência de experiências de sequestro,
bem como dos pormenores característicos dessas experiências
(Hopkins 1981). Hopkins descobriu também que essas experiências
de sequestro estavam provavelmente ligadas ao prévio apareci-
mento inexplicável de pequenos golpes, cicatrizes e marcas de ins-
trumentos cirúrgicos; as narrativas sugeriam até que pequenos
objectos ou «implantes» poderiam ter sido inseridos nos narizes,
pernas e outras partes do corpo das vítimas. No seu segundo livro,
Intruders, publicado em 1987, Hopkins definiu os episódios sexuais
e reprodutivos que surgiram associados aos fenómenos de sequestro
(Hopkins 1987). O historiador da Universidade de Temple, David
Jacobs, completou o padrão básico dos relatos de uma experiência
de sequestro (Jacobs 1992). Jacobs identifica fenómenos primários,
como sejam o exame manual ou instrumental, a análise visual e os
procedimentos urológicos e ginecológios; fenómenos secundários,
que incluem exames por intermédio de máquinas, visualização e
apresentação de crianças e, finalmente, fenómenos subordinados,
entre os quais várias actividades e procedimentos de carácter físico,
mental e sexual.
A meu ver, nenhum destes trabalhos trata adequadamente das
profundas implicações dos fenómenos de sequestro ao nível da
expansão da consciência humana, da abertura da percepção a reali-
dades situadas para além do mundo físico palpável e da necessidade
de alterar o nosso lugar na ordem cósmica, se pretendermos que os
sistemas vivos da Terra sobrevivam aos violentos ataques do
homem.
Sondagens relativas à predominância dos fenómenos de seques-
tro por OVNI nos Estados Unidos, incluindo um inquérito condu-
zido pela organização Roper entre Julho e Setembro de 1991, que
visou cerca de seis mil americanos, indicam que várias centenas de
milhar, ou mesmo milhões, de americanos poderão ter sido sujeitos a
experiências de sequestro ou relacionadas com sequestros. O inqué-
rito Roper foi criticado, com o argumento de que os indicadores de
possível sequestro utilizados — como, por exemplo, o avistamento
de luzes estranhas, tempo perdido ou uma sensação de voar —
podem, de facto, não significar que tenha ocorrido um sequestro.
Porém, uma dificuldade muito mais séria na determinação da predo-
minância de sequestros decorre do facto de nós realmente não saber-
22 SEQUESTRO
cas, ou o inverso — experiências traumáticas de um certo tipo
(sequestro) abrindo a mente para a lembrança de outros traumas
(abuso sexual) — podem conduzir ao falso empolamento desta
ligação. Por exemplo, trabalhei com uma mulher que consultara um
habilitado psicoterapeuta devido a problemas relacionados com
presumível abuso sexual e incesto. Várias sessões de hipnose não
revelaram quaisquer sinais de tais acontecimentos. Porém, durante
uma das sessões, lembrou-se de um OVNI que aterrara perto da sua
casa quando tinha seis anos de idade e do qual saíram seres alieníge-
nas típicos, que a levaram para bordo da nave. Pela primeira vez
durante o tempo de terapia, mostrou emoções fortes, e especial-
mente medo. O terapeuta que me referiu este caso afirmou estar
«limpo», isto é, não estava directamente familiarizado com os fenó-
menos de sequestro e não suspeitava que ela pudesse ter tal história.
Não existe um único caso de sequestro, de que eu ou outros investi-
gadores tenhamos tomado conhecimento (por exemplo, Jacobs
1992, pág. 285), por detrás do qual se tenha ocultado uma história
de abuso sexual ou qualquer outra causa traumática. Mas o inverso
tem ocorrido frequentemente — histórias de sequestro têm sido
reveladas em casos investigados devido a abusos sexuais ou outros
de natureza traumática.
Aparentemente, o abuso sexual é uma das formas de sofrimento
humano que, pelo menos do ponto de vista dos sujeitos de experiên-
cia, levou os alienígenas a intervir de modo protector ou curativo.
Uma mulher de trinta e cinco anos, por exemplo, lembrava-se cons-
cientemente de ter sido vítima de abuso sexual pelo seu pai quando
tinha quatro anos e de, depois, ter chorado na cave. Vários seres alie-
nígenas familiares — recordava-se de ter encontros desde os catorze
meses de idade — «vieram ter comigo para ver se eu estava ferida,
porque eu tinha dores», arranjaram-lhe roupa interior («não a ade-
quada») e «apertaram-me as sandálias» — disse-me ela.
Também foram desenvolvidos esforços no sentido de relacionar
os fenómenos de sequestro com abusos em rituais satânicos (Dean,
na imprensa; Wright 1993) e com múltiplas desordens da personali-
dade que, à semelhança do abuso sexual, estão relacionadas com
traumas psicológicos em que o mecanismo da dissociação é utili-
zado (Frankel 1993; Ganaway 1989; Spiegel e Cardena 1991).
Porém, é fundamental compreender que a dissociação é um meio do
qual a personalidade se serve para combater a experiência traumá-
24 SEQUESTRO
segundo o pensamento científico ocidental. Então, as minhas opções
eram esticar e torcer a psicologia para além de limites razoáveis,
menosprezando os aspectos do fenómeno que não podiam ser explica-
dos psicologicamente, como as marcas físicas, os acontecimentos
com crianças e mesmo bebés e a ligação aos OVNI, e insistindo numa
explicação psicológica, coerente com a ideologia científica ocidental
predominante. Ou podia deixar em aberto a possibilidade de o nosso
modelo consensual da realidade ser demasiado limitado e de um fenó-
meno como este não poder ser explicado dentro dos seus parâmetros
ontológicos. Por outras palavras, pode ser necessário um novo para-
digma científico, a fim de compreender o que está a acontecer.
TRABALHAR COM OS SEQUESTRADOS
Com este dilema em mente, entrei em contacto com Thomas Kuhn,
autor do clássico de 1962, The Structure of Scientific Revolutions,
que analisa a forma como os paradigmas científicos se modificam,
para ouvir o seu conselho sobre as minhas investigações. Conhecia
Thomas Kuhn desde a infância, porque os pais dele e os meus eram
amigos em Nova Iorque e tinha muitas vezes sido convidado para
festas de Natal em casa dos Kuhn. Achei muito útil o conselho que
ele e a mulher, Jehane, que é altamente especializada nos domínios
da mitologia e do folclore, me deram. O que achei mais útil foi a
observação de Kuhn de que o paradigma científico ocidental tinha
assumido a rigidez de uma teologia e que este sistema de crenças era
mantido por estruturas, categorias e polaridades da linguagem como
real/irreal, existe/não existe, objectivo/subjectivo, intrapsíquico/
mundo exterior e aconteceu/não aconteceu. Sugeriu-me que prosse-
guisse as minhas investigações, até ao ponto de ser capaz de me
libertar de todas essas formas de linguagem, limitando-me a recolher
as informações em bruto, sem tentar integrar o que aprendesse numa
determinada visão do mundo. Mais tarde, poderia analisar o que
tivesse descoberto e verificar se era possível alguma formulação teó-
rica coerente. E este foi, mais ou menos, o método que tentei seguir.
Quando um possível sequestrado vem visitar-me, seja recomen-
dado pela rede OVNI, por outro profissional da saúde mental ou por
inicitiva própria, depois de ter ouvido falar do meu trabalho através
dos meios de comunicação social, explico-lhe que, para mim, ele ou
26 SEQUESTRO
eu não conheça qualquer estudo que tenha feito a comparação com
outros grupos, especialmente de sobreviventes de outros traumas.
Por vezes, a mais simples ou modesta das técnicas de relaxamento é
suficiente para reavivar muitas memórias. É como se a hipnose des-
fizesse, actuando como uma espécie de imagem no espelho, inversa
da alteração original da consciência psíquica, as forças de repressão
que foram impostas na altura do sequestro.
Estas forças repressivas são sentidas pêlos sequestrados como
sendo algo mais do que apenas as suas próprias defesas protectoras.
Podem sentir que cerca de noventa por cento da energia que os impe-
dia de recordar resultava de uma desconexão exterior da memória,
por qualquer meio utilizado pêlos próprios alienígenas. Segundo os
sequestrados, os alienígenas dizem-lhes frequentemente que eles
não se lembrarão, ou não deverão lembrar-se, do que aconteceu. Por
vezes, explicam-lhes que é para a sua própria protecção e, na reali-
dade, especialmente no caso de crianças pequenas, a contínua recor-
dação consciente de experiências dolorosas ou traumáticas poderia
interfir com a vida quotidiana (por exemplo, Jerry, Capítulo 6).
Quando colaboram comigo, recordando os sequestros, os sujeitos
de experiência podem sentir que estão a desobedecer especifica-
mente às recomendações dos seres alienígenas, aos quais muitas
vezes se sentem ligados a um nível muito profundo. Quando assim é,
compete-me assegurar-lhes que, tanto quanto sei, nunca adveio
qualquer mal da recordação destas experiências, quando feita num
contexto de ajuda adequado.
Já tem sido sugerido que os sujeitos de experiência sentem que
«não devem» lembrar-se destes eventos e que a sua ligação aos seres
alienígenas é uma manifestação da «síndrome de Estocolmo»,
segundo a qual um refém ou vítima acaba por simpatizar com o(s)
perpetrador(es), como forma de manter alguma capacidade de inter-
venção numa situação intoleravelmente coerciva. Esta analogia
pode ser útil para explicar as primeiras manifestações de ultraje dos
sujeitos de experiência, mas torna-se ineficaz quando avançamos
para níveis mais profundos de descoberta. Conforme resulta clara-
mente da análise dos casos, os sequestrados acabam por sentir uma
identificação mais autêntica com os objectivos do fenómeno em
geral, do que acontece, por exemplo, na situação dos reféns.
A economia e a história da recordação dos fenómenos de seques-
tro constituem um dos seus aspectos mais interessantes. A recorda-
28 SEQUESTRO
acontecimentos traumáticos, que procuram trazer esses aconteci-
mentos para o nível consciente, os sequestrados querem lembrar-se.
Por vezes, existe o perigo de que o desenrolar da narrativa, a recor-
dação dos acontecimentos que rodearam o sequestro, seja mais
rápido do que a reconstrução das defesas dos sequestrados, o que
pode fazer que se sintam esmagados e traumatizados. Através da
concentração na respiração durante o processo de indução e durante
a própria sessão de hipnose, o sujeito da experiência poderá manter-
-se em terra firme e enfrentar as suas experiências com maior força.
No início da sessão, explico ao sequestrado que estou mais interes-
sado na sua integração das experiências recordadas, do que em
«obter a história». A história, como explico, surgirá por si própria, a
seu tempo.
Tendo alcançado juntos um estado de relaxamento (muitas vezes
algo mesclado de apreensão) e estabelecido os métodos de compassar
e fundamentar a recordação, passamos ao processo de recuperação da
memória. Os capítulos seguintes apresentam pormenorizadamente
vários exemplos desta parte da sessão. Ao ler estes relatos, é útil
notar
a forma como o regresso à concentração na respiração em momentos
difíceis, muitas vezes reduz o medo, radicando a memória na percep-
ção pura e acalmando o pensamento interpretativo. Além disso, em
momentos de especial aflição durante a sessão, posso colocar gentil-
mente a minha mão no ombro do sequestrado, para o assegurar da
minha presença. Mas, ao facultar este apoio, é necessário ter cuidado
para não criar uma réplica confusa da intrusão original, que qualquer
contacto físico com um sujeito de experiência que se encontre nas
profundezas da recordação de um trauma pode originar.
No fim da sessão, o sujeito da experiência pode sentir uma
grande tensão ou espasmos em certos grupos de músculos —
especialmente, não se sabe porquê, nas mãos — e, assim, um método
de exagero de tensão, tal como o desenvolvido pêlos Grof, pode ser
adequado para libertar a tensão ou os espasmos que perdurem. Neste
momento, também dispendemos algum tempo a conversar sobre o
material que emergiu. Esta conversa ajuda a trazer o material mais
completamente para o nível do consciente normal e a incrementar o
processo de integração. E também neste momento que muitos sujei-
tos de experiência começam a debater-se com problemas de precisão
e de significado e, muitas vezes, perguntam-me como deverão enca-
rar as memórias recuperadas por meio da hipnose.
30 SEQUESTRO
agradáveis compatíveis com a sua auto-estima de adolescente.
Quando, com dificuldade, a mesma experiência foi recordada mais
pormenorizadamente sob hipnose, verificou-se ser algo humilhante e
totalmente incompatível com a auto-estima de um adolescente.
A sugestão de que o sequestrado tenta agradar ao hipnotizador
durante a sessão e, por isso, inventa toda a história — porque, presu-
mivelmente, o hipnotizador está ali para descobrir um sequestro _
esquece a grande angústia que os sequestros causam aos sujeitos de
experiência e como é forte a sua resistência a trazer novamente para
o consciente tudo aquilo por que passaram e, mesmo, a aceitar a rea-
lidade do fenómeno. Como poderemos ver nos últimos capítulos
deste livro, por vezes era-me necessário invocar cada pedaço da
nossa aliança e cooperação para convencer o sequestrado a conti-
nuar a penetrar nas profundezas da experiência esquecida. Além
disso, os sequestrados são peculiarmente pouco sugestionáveis. Para
desmentir tais críticas, eu e outros investigadores tentámos repetida-
mente enganar os sequestrados sugerindo-lhes elementos específi-
cos — por exemplo, os alienígenas tinham cabelos ou havia cantos
nas salas das naves — mas fomos sempre confrontados com uma
contradição directa dos nossos esforços. Os defensores da contro-
versa ideia da «síndrome da falsa memória» como explicação para
as recordações de sequestro terão de arranjar uma explicação para
este facto, bem como para os pontos salientados na página 43.
Esta discussão, assim como as minhas conversas com os Kuhn,
levantam interessantes questões epistemológicas, que nos acompa-
nharão ao longo deste livro, especialmente as relacionadas com a
consciência como instrumento do conhecimento. Neste trabalho,
como aliás em qualquer investigação clinicamente sólida, a mente do
investigador ou, mais precisamente, a interacção entre as mentes do
cliente e do clínico, é o meio de obtenção do conhecimento. Porém,
temos então de salientar que, embora a nossa análise e formulação
posteriores sejam feitas tão objectivamente quanto possível, as infor-
mações originais são obtidas de forma não dualística, isto é, através
do desenrolar intersubjectivo da interacção investigador-seques-
trado. Assim sendo, a experiência, o relato dessa experiência e a
recepção dessa experiência através da mente do investigador são, na
ausência de verificação física ou de «prova» (sempre bastante subtil
nos fenómenos de sequestro, como veremos mais adiante), os únicos
meios possíveis de sabermos dos sequestros.
32 SEQUESTRO
sequestrados desenvolvam uma rede própria de entreajuda, que fun-
cione fora das reuniões regulares. Por vezes, isto implica reuniões de
grupos mais pequenos; noutras ocasiões, o contacto telefónico é
suficiente. Como já salientei, os sequestrados normalmente não são
indivíduos mentalmente perturbados. Porém, passaram por experi-
ências fortemente traumatizantes ou desconcertantes, sentem-se iso-
lados perante a estrutura das crenças dominantes na sociedade e
necessitam, frequentemente, de muito apoio das pessoas que conhe-
cem ou estão familiarizadas com o fenómeno dos sequestros.
Muitas vezes, é útil a um sequestrado ter uma relação perma-
nente com um psicoterapeuta, familiarizado com estes fenómenos.
Quando comecei a trabalhar neste campo, existiam muito poucos
profissionais de saúde mental envolvidos no assunto, e alguns esta-
vam a fazer um mal considerável, ao tentarem enquadrar as experi-
ências numa categoria de diagnóstico conhecida, geralmente numa
qualquer outra forma de abuso traumático. Porém, esta situação está
a mudar, e na área de Boston, como em outras áreas metropolitanas,
existe um número crescente de clínicos despertos para a realidade
dos fenómenos de sequestro e aptos a trabalhar com estas pessoas,
embora poucos estejam preparados para levar a cabo a libertação das
experiências dos sequestrados através da hipnose. Programas de for-
mação, iniciados em 1992 sob a liderança e com o apoio de um
empresário de Lãs Vegas, Robert Bigelow, foram organizados em
várias cidades americanas sob a direcção dos investigadores de
sequestros John Carpenter, Budd Hopkins e David Jacobs, e estão a
levar os fenómenos de sequestro ao conhecimento de muitos espe-
cialistas de saúde mental.
Ao falar com outras pessoas que trabalham com sujeitos de
experiência, fui levado a concluir que o mais importante durante
uma regressão, assim como em todas as interacções com os
sequestrados, é a forma de conter as energias dessas experiências.
Isto implica um certo grau de calor e empatia, a crença na capaci-
dade do indivíduo para integrar essas experiências desconcertantes
e retirar delas um significado e, ainda, uma vontade de entrar no
processo de co-investigação e arriscar-se a ser transformado pelas
informações. Evidentemente que se trata de qualidades indispen-
sáveis em qualquer relação, mas que se tornam fundamentais neste
trabalho, onde todos, sequestrado, investigador e terapeuta, somos
levados até ao limite.
CAPÍTULO DOIS
SEQUESTROS POR ALIENÍGENAS:
PANORÂMICA
INDICADORES DE SEQUESTRO
34 SEQUESTRO
dolorosos. Frequentemente, os filhos contam aos pais estes encontros,
que a criança sabe serem reais, mas os pais dizem-lhes que foi apenas
um sonho. Por fim, acabam por aprender a «esconder-se» e, muitas
vezes, resolvem nada dizer a ninguém até que, como adultos, decidem
investigar as suas experiências.
Os sequestros podem ser recorrentes nas famílias, às vezes
durante três ou mais gerações (Howe 1989). Também, neste caso, os
caprichos da memória — a peculiar mistura de defesas psicológicas e
de um aparente controlo das recordações por forças comandadas pêlos
alienígenas — tomam difícil o desenvolvimento de estatísticas signi-
ficativas respeitantes ao número ou percentagem de parentes envolvi-
dos. Nos casos de Jerry e Arthur (Capítulos 6 e 15), por exemplo, os
sujeitos de experiência contactaram-me, depois de uma conversa com
uma criança da família afectada ter despertado as suas memórias. Pais
que, finalmente, acabam por reconhecer o avistamento de OVNI pró-
ximos e mesmo experiências de sequestro, começam sempre por
negar as suas próprias experiências, e mesmo as dos seus filhos, não
desejando ser lembrados dos seus próprios traumas causados pelo
sequestro. Por vezes, as crianças vêem um dos pais na nave, mas
quando confrontam o pai ou a mãe com essa experiência, estes podem
não se recordar de que foram raptados. Ou pode acontecer o contrário
— um pai, como nos casos de Joe e de Jerry, ou qualquer parente mais
velho, pode lembrar-se de ter sido raptado com um filho ou qualquer
parente mais novo e sentir-se profundamente perturbado por não ter
conseguido proteger a criança; inversamente, uma criança também
pode estar zangada com um dos pais ou um parente mais velho, que
podem ou não lembrar-se do sequestro, por este não a ter protegido.
Embora as experiências de sequestro ou relacionadas com
sequestros possam ocorrer durante toda a vida do sujeito, o padrão e
a periodicidade desses encontros não são claros. Alguns sequestra-
dos pensam que eles ocorrem em períodos de tensão ou de especial
abertura ou vulnerabilidade. Mas isto não constitui de modo nenhum
uma certeza. Um dos aspectos mais perturbantes do fenómeno, tanto
para os investigadores como para os sujeitos de experiência, embora
por diferentes razões, é a imprevisibilidade da sua repetição.
Existem outros sintomas que são inconscientemente associados
a determinados elementos das experiências de sequestro. Estes tam-
bém podem indicar uma provável história de sequestro, mas não são
em si mesmos definitivos. Entre eles, contam-se um sentimento
36 SEQUESTRO
tra-se o que poderá ser chamado nível das porcas e parafusos. Diz
respeito a fenómenos como o visionamento ou a localização por
radar de OVNI, fenómenos de luz e som a eles associados, os peda-
ços de terra queimada que por vezes deixam, abortos e lesões ou
implantes deixados nos corpos dos sequestrados a seguir às respecti-
vas experiências. Aparentemente, estes são fenómenos que ocorrem
no universo familiar da ciência ocidental e que podem ser estudados
pêlos seus métodos empíricos. O campo da ovnilogia — o apareci-
mento de OVNI — visava principalmente os fenómenos directa-
mente observáveis, até à descoberta da síndrome do sequestro.
Em segundo lugar, estão os fenómenos que «parecem poder» ser
entendidos dentro do nosso universo espaço/tempo, desde que pos-
suamos os conhecimentos científicos e tecnológicos e a capacidade
para o fazer. Estes poderiam ser «fenómenos extraterrestres», que
sugerem tecnologias milhares de anos mais avançadas que a nossa.
Estes fenómenos não são, pelo menos teoricamente, incompatíveis
com uma espécie de extensão das leis físicas definidas pela ciência
ocidental. Esta categoria incluiria o modo como as naves chegam até
nós (os «sistemas de propulsão»), a forma como podem acelerar a
velocidades incríveis, bruxuleando no céu ou desaparecendo subita-
mente de um ecrã de radar, o meio pelo qual os alienígenas fazem as
pessoas «atravessar» portas, janelas e paredes, o desligar da memó-
ria e da consciência dos sequestrados e de potenciais testemunhas e
outras formas de controlo da mente, a criação de fetos híbridos
humanos e alienígenas, vistos ou trazidos aos sequestrados nas
naves, e a criação ou encenação de imagens intensamente vívidas de
paisagens, sentidas pêlos sequestrados como reais (por exemplo,
Catarina, Capítulo 7). Embora não compreendamos os mecanismos
através dos quais estes efeitos são conseguidos, eles não implicam,
em si, uma alteração fundamental do paradigma. Avanços especta-
culares no domínio da física, da biologia, da neurologia e da psicolo-
gia poderiam, provavelmente, explicá-los.
Finalmente, existem fenómenos e experiências relatadas pêlos
sequestrados, para as quais não podemos encontrar qualquer expli-
cação na ontologia espaço/tempo de Newton/Descartes, ou mesmo
de Einstein. Entre estes incluem-se o aparente domínio das viagens
telepáticas pêlos alienígenas e, por vezes, pêlos próprios sequestra-
dos (como Paul descreve no capítulo 10), a sensação dos sequestra-
dos de que as suas experiências não ocorrem no nosso universo
38 SEQUESTRO
de um carro de neve, num dia de Inverno. Algumas crianças foram
levadas do pátio da escola. A primeira indicação de que um seques-
tro está prestes a ocorrer pode ser uma intensa luz branca ou azul
inexplicável, que invade o quarto, um estranho zumbido ou zunido,
uma apreensão inexplicável, a sensação de uma presença não habi-
tual ou mesmo a visão de um ou mais seres humanóides no quarto e,
evidentemente, a visão de uma nave estranha nas proximidades.
Quando um sequestro começa durante a noite ou, como é vulgr,
durante as primeiras horas da manhã, o sujeito da experiência pode
pensar, de início, que se trata de um sonho. Mas perguntas cuidado-
sas revelarão que o sujeito não tinha sequer adormecido, ou que a
experiência começou num estado consciente, depois do despertar.
Quando o sequestro começa, o sequestrado poderá sentir uma subtil
mudança no seu estado de consciência, mas este estado é tão real, ou
ainda mais, do que o seu estado «normal». Por vezes, verifica-se um
momento de choque e de tristeza, quando o sequestrado descobre, na
primeira entrevista ou durante uma sessão de hipnose, que aquilo
que considerava comodamente como sendo um sonho foi, na reali-
dade, um qualquer tipo de experiência bizarra, ameaçadora e vívida,
que então poderão recordar ter ocorrido várias vezes e para a qual
não têm qualquer explicação.
Depois do contacto inicial, o sequestrado é geralmente «levado a
flutuar» (é a expressão mais utilizada) pelo corredor, através da
parede ou das janelas da casa, ou através do tejadilho do carro.
Ficam normalmente atónitos quando descobrem que estão a passar
através de objectos sólidos, experimentando apenas uma ligeira sen-
sação vibratória. Na maior parte dos casos, o raio de luz parece fun-
cionar como uma fonte de energia ou «rampa» para transportar o
sequestrado do lugar onde o sequestro se inicia para um veículo que
está à espera. Normalmente, o sujeito da experiência é acompanhado
por um, dois ou mais seres humanóides, que o conduzem à nave.
Num dos primeiros momentos deste processo, o sujeito descobre
que foi adormecido ou totalmente paralisado por um toque da mão
ou de um instrumento utilizado por um dos seres. Os sequestrados
podem ainda conseguir mover a cabeça e, normalmente, ver o que
está a acontecer, embora geralmente fechem os olhos, a fim de pode-
rem negar ou evitar a realidade da experiência que estão a viver. O
terror associado a este estado de impotência mistura-se com a natu-
reza assustadora de toda a estranha experiência.
40 SEQUESTRO
Hopkins investigou um caso, que é agora muito discutido, em
que uma mulher, sem ser solicitada, lhe relatou como, da ponte de
Brookiyn, assistiu ao sequestro de Linda Cortile, que foi retirada por
seres alienígenas do seu apartamento do décimo segundo andar em
East River e levada para uma nave espacial que em seguida mergu-
lhou nas águas do rio (Hopkins 1992, na imprensa). Este relato cor-
respondia exactamente ao que Mrs. Cortile dissera ter-lhe
acontecido, quando Hopkins lhe recuperou a memória de um
sequestro sucedido em Novembro de 1989. Tanto quanto sei, este é o
único caso em que um indivíduo, não tendo sido ele próprio raptado,
relatou ter testemunhado um sequestro, durante o próprio aconteci-
mento. As testemunhas de um sequestro são frequentemente, tam-
bém elas, raptadas, que podem estar envolvidas no mesmo
acontecimento, o que levanta questões acerca da «objectividade» do
observador. Por vezes, segundo os relatos, a falta do sequestrado
pode não ser notada, pêlos membros da família ou outras pessoas,
durante cerca de meia hora ou mais ou, em casos raros, durante dias,
como aconteceu no famoso caso Travis Walton (Walton 1978;
Tormé 1993). Mas nestes casos ninguém os viu a serem levados para
uma nave espacial e não existe qualquer prova convincente de esse
sequestro ter sido a causa do seu desaparecimento.
Um dos meus primeiros casos, uma jovem de vinte e quatro
anos, foi raptada quando era ainda adolescente, juntamente com uma
amiga, de um quarto na cave da casa dessa amiga, depois da meia-
noite. Os pais das raparigas ficaram em pânico quando não as conse-
guiram encontrar durante a noite. Segundo ambas as raparigas (falei
com a outra rapariga, que confirmou o relato da minha cliente), os
pais foram ao quarto às primeiras horas da manhã e verificaram que
as raparigas não estavam lá. Por volta das seis horas, tinham ambas
regressado ao quarto. Num outro caso, a filha de oito anos de um dos
meus clientes vítima de sequestro, que provavelmente também foi
raptada, verificou que a mãe desaparecera do quarto, quando a pro-
curou durante a noite. A mãe contou-me que tinha tido uma expe-
riência de sequestro no momento exacto em que a filha lhe disse ter
dado pela sua falta. De manhã, a filha disse à mãe: «O papá estava lá
e os cobertores do teu lado estavam puxados para baixo, mas tu não
estavas lá.»
Outra das minhas clientes foi raptada do dormitório da universi-
dade, com uma companheira de quarto. Viu realmente a compa-
42 SEQUESTRO
equipamentos e instrumentos ladeiam as paredes dos quartos, que
poderão ter varandas e vários níveis e alcovas. Nenhum dos equipa-
mentos ou instrumentos é exactamente igual àqueles que conhece-
mos (Miller, na imprensa). A mobília é escassa, compondo-se quase
só de cadeiras que se moldam ao corpo e de mesas de um só pé, que
podem inclinar-se para um lado e para outro durante os procedimen-
tos. O ambiente é geralmente esterilizado e frio, mecanizado e seme-
lhante ao de um hospital, excepto quando ocorre qualquer espécie de
encenação mais complexa. Muitos outros pormenores respeitantes
ao interior das naves, bem como aos próprios processos de seques-
tro, serão facultados nas histórias dos casos.
Dentro das naves, os sequestrados vêem normalmente mais
seres alienígenas, que estão ocupados no desempenho de diversas
tarefas relacionadas com a supervisão do equipamento e com os pro-
cedimentos de sequestro. Os seres descritos pêlos meus clientes são
de diversas espécies. Aparecem como entidades luminosas, altas ou
baixas, que podem ser translúcidas, ou pelo menos não completa-
mente sólidas. Já foram vistas criaturas reptilianas (Carlos, Capítulo
14), que pareciam estar a executar tarefas mecânicas. Por vezes,
auxiliares humanos são vistos a trabalhar em conjunto com os huma-
nóides alienígenas. Mas as entidades mais vulgarmente observadas
são, sem qualquer dúvida, os pequenos «cinzentos», seres humanói-
des com uma altura que varia entre 90 cm e l metro. Os cinzentos
são principalmente de duas espécies — pequenos zangãos ou traba-
lhadores semelhantes a insectos, que se movem ou deslizam como
robôs fora e dentro das naves e executam várias tarefas específicas, e
um líder ligeiramente mais alto ou «médico», como os sequestrados
geralmente lhe chamam. Também são vistas «enfermeiras» fêmeas e
outros seres com funções especiais. Normalmente, sentem que o
líder é homem, embora também tenham sido vistas líderes do sexo
feminino. A diferença de géneros é mais determinada por um senti-
mento intuitivo, que os sequestrados têm dificuldade em traduzir por
palavras, do que pelas características anatómicas.
Os cinzentos têm grandes cabeças em forma de pêra, com uma
protuberância atrás, longos braços com três ou quatro dedos compri-
dos, um torso magro e pernas delgadas. Os pés geralmente não são
vistos directamente e costumam estar calçados de botas inteiras. Os
órgãos genitais externos não costumam ser vistos, salvo raras excep-
ções (Joe, Capítulo 8). Os seres não têm cabelo nem orelhas, as suas
44 SEQUESTRO
pode ser o único submetido aos procedimentos durante um determi-
nado sequestro, ou pode ver um, dois, ou mais seres humanos sendo
submetidos às mesmas intrusões. Os seres parecem estudar intermi-
navelmente os seus cativos, observando-os extensamente, frequen-
temente com os grandes olhos perto das cabeças dos humanos. Os
sequestrados sentem como se o conteúdo das suas mentes fosse
totalmente conhecido e mesmo tomado. Pele, cabelos e outras
amostras do interior do corpo são retiradas, utilizando vários instru-
mentos que os sequestrados, por vezes, conseguem descrever muito
pormenorizadamente.
Os instrumentos são utilizados para penetrar praticamente em
todas as partes dos corpos dos sequestrados, incluindo o nariz, os
seios, os olhos, os ouvidos e outras partes da cabeça, braços, pernas,
pés, abdómen, órgãos genitais e, mais raramente, o peito. Foram des-
critos extensos procedimentos, aparentemente cirúrgicos, executa-
dos dentro da cabeça, que, segundo os sequestrados, parecem alterar
o sistema nervoso. Os mais comuns e, evidentemente, mais impor-
tantes desses procedimentos relacionam-se com o sistema reprodu-
tivo. Instrumentos que penetram no abdómem ou que envolvem os
próprios órgãos genitais são utilizados para retirar amostras de
esperma dos homens e para retirar ou fertilizar óvulos nas mulheres.
Algumas sequestradas sentem ter sido engravidadas pêlos seres alie-
nígenas e, mais tarde, libertadas de uma gravidez alienígena-
humana ou humana-humana. Vêem os pequenos fetos serem
colocados em recipientes nas naves e, durante sequestros posterio-
res, poderão observar as incubadoras em que os bebés estão a ser
criados (tal como Catherine, Jerry e Peter, entre os meus casos). Os
sujeitos de experiência poderão igualmente ver crianças híbridas
mais velhas, adolescentes e adultos, que, segundo lhes é dito pêlos
alienígenas, ou intuitivamente pressentido, são seus filhos. Algumas
vezes, os alienígenas tentam que as mães humanas peguem ao colo e
alimentem estas criaturas, que podem parecer bastante indiferentes,
ou então encorajam as crianças humanas a brincar com as híbridas,
como aconteceu, por exemplo, com Catherine.
É desnecessário dizer como isto é perturbador para os sequestra-
dos, pelo menos a princípio, ou quando recordam pela primeira vez
as suas experiências. O seu terror poderá ser, de algum modo, miti-
gado, quer pela garantia dos alienígenas de que nada de mal lhes
sucederá, quer por quaisquer meios de redução da ansiedade ou
46 SEQUESTRO
compreendam o significado das informações que têm estado a rece-
ber durante os sequestros que tiveram lugar ao longo de muitos anos.
Cenas da terra devastada por um holocausto nuclear, vastos
panoramas de paisagens e águas poluídas e sem vida e imagens apo-
calípticas de enormes terramotos, tempestades de fogo, inundações
e, mesmo, fracturas do próprio planeta, são mostradas pêlos aliení-
genas. Estas imagens são intensamente perturbadoras para os
sequestrados, que têm tendência para as considerar literalmente
como verdadeiras antecipações do futuro do planeta. À medida que
o futuro holocausto é apresentado, são atribuídas tarefas a alguns
dos sequestrados, como, por exemplo, alimentar os sobreviventes,
ou então, como nos livros proféticos da Bíblia, é-lhes dito que alguns
perecerão, enquanto outros serão levados para outro lugar, a fim de
participarem na evolução da vida no Universo.
Alguns investigadores dos sequestros pensam que estas imagens
não são apresentadas com o objectivo de alterar o curso da história
do planeta, de uma forma positiva. Ao contrário, segundo defendem,
os seres pretendem estudar as reacções dos sequestrados e levam-
nos a acreditar que estão preocupados com o nosso destino,
enquanto tentam conquistar o nosso planeta, tendo o seu sido presu-
mivelmente destruído por um apocalipse da ciência e da tecnologia,
semelhante àquele que poderá atingir-nos (várias comunicações pes-
soais, 1990-1993; e também Scott, Capítulo 5). Além disso, defen-
dem ainda que, se os alienígenas estivessem verdadeiramente
preocupados com o nosso bem-estar, se manifestariam de forma
mais imediata e interviriam directamente nos nossos assuntos, a fim
de melhorar a situação.
Os próprios alienígenas, quando confrontados com este argu-
mento, dizem que ainda não estamos preparados para reconhecer a
sua existência e que os trataríamos agressivamente, como inimigos,
tal como fazemos com tudo o que é diferente e que não conseguimos
compreender. Mas o mais importante, dizem os alienígenas, é que os
seus métodos são diferentes. Não desejam impor mudanças coerci-
vamente, mas antes através de uma alteração das consciências, que
nos levem a escolher, por nós mesmos, um outro caminho. Alguns
sequestrados recebem informações sobre futuras batalhas pelo des-
tino da terra e o controlo da mente humana, travadas entre um ou
mais grupos de seres, alguns dos quais são mais evoluídos ou «bons»
e outros, menos evoluídos ou «maus».
48 SEQUESTRO
forma, as sequestradas experimentam frequentemente a sensação de
terem estado grávidas e de terem sido libertadas dessa gravidez durante
um sequestro, mas não existe ainda nenhum caso em que o desapareci-
mento de um feto relacionado com um sequestro tenha sido confirmado
por um médico (Druffel 1991; Miller e Neal, na imprensa; Neal 1992).
Muitos sequestrados repararam que os instrumentos eléctricos ou elec-
trónicos — aparelhos de televisão, rádios, relógios eléctricos,
atendedo-
res de chamadas, luzes eléctricas e torradeiras — funcionam mal em
relação com os sequestros ou simplesmente quando os sujeitos de expe-
riências estão perto. Porém, é quase impossível provar que essas avarias
estejam relacionadas com o processo de sequestro ou, mesmo, que elas
ocorreram.
Os sequestrados sentem muitas vezes que lhes foi introduzido
no corpo uma espécie de objecto auto-direccional, especialmente
na cabeça, mas também noutras partes do corpo, para que os aliení-
genas possam segui-los ou vigiá-los, da mesma forma que nós,
segundo eles próprios dizem, seguimos os animais com o auxílio
de vários dispositivos. Estes chamados implantes podem ser senti-
dos como pequenos inchaços sob a pele e, em diversos casos, fo-
ram recuperados pequenos objectos e analisados bioquimicamente
e com auxílio de microscópios electrónicos. O físico do MIT
David Pritchard, que também analisou um implante retirado do
pénis de um homem, escreveu sobre os critérios para analisar e
determinar a natureza de tais objectos (Pritchard 1992). Eu próprio
estudei um pequeno objecto de arame, com cerca de l a 2 cm de
espessura, que me foi dado por uma das minhas clientes, uma
mulher de vinte e quatro anos, depois de ter saido do seu nariz, a
seguir a um sequestro. Análises elementares e fotografias de
microscópio electrónico revelaram uma interessante fibra entran-
çada composta de carbono, silicone, oxigénio, nenhum nitrogénio
e vestígios de outros elementos. Uma análise de carbono isótopo
não teve resultados significativos. Um colega, biólogo nuclear,
disse que o «espécime» não era um objecto biológico natural, mas
poderia tratar-se de um qualquer tipo de fibra fabricada. Era difícil
saber o que fazer a seguir.
Não há provas de que qualquer dos implantes recuperados seja
composto por elementos raros, ou por elementos vulgares combina-
dos de forma estranha. Em conversa com um engenheiro químico e
outros peritos, afirmaram-me que seria extremamente difícil obter
SEQUESTROS POR ALIENIGENAS:PANORÂMICA 49
um diagnóstico positivo quanto à natureza de qualquer substância
desconhecida, sem possuir mais dados sobre as suas origens. Mesmo
nas melhores circunstâncias, seria difícil provar, por exemplo, que
uma determinada substância não tinha uma origem terrestre ou até
biológica humana.
Partindo do princípio de que, de facto, tais objectos foram dei-
xados no corpo humano por seres alienígenas, o que é virtual-
mente impossível provar, não seria difícil para os alienígenas,
tendo em conta todas as outras coisas miraculosas de que aparen-
temente são capazes, adaptar um pequeno objecto ao corpo
humano, criando-o de acordo com os princípios químicos do pró-
prio corpo. Se fosse este o caso, as análises não revelariam nada de
anormal. Esta foi, na realidade, a minha experiência no caso de
Jerry (Capítulo 6), que sentia intensamente que dois pequenos
nódulos, que apareceram no seu pulso depois de uma experiência
de sequestro, não estavam lá antes. Concordou em que um cirur-
gião meu colega os retirasse, mas o laboratório de patologia não
encontrou nada de especial no tecido.
Houve uma grande agitação entre os investigadores de seques-
tros, quando o primeiro implante foi «descoberto». Finalmente, aqui
estava a primeira prova física e concreta da realidade dos sequestros,
um objecto real proveniente do mundo alienígena, a arma de fogo
capaz de calar os críticos. Agora já não estou tão seguro de que o
fenómeno se vá revelar deste modo. Esperar que assim seja pode
mesmo constituir uma espécie de «erro nos tipos lógicos». Por
outras palavras, pode ser um erro esperar que um fenómeno, cuja
natureza é tão subtil e cujos objectivos poderão ser alargar e expan-
dir os nossos meios de conhecimento para além das propostas pura-
mente materialistas da ciência ocidental, revele os seus segredos a
uma epistemologia ou metodologia que opera a um nível inferior de
consciência (esta ideia é aprofundada no caso de Eva, Capítulo 11).
Assim, uma teoria susceptível de começar a explicar os fenó-
menos de sequestro teria de ter em conta cinco dimensões básicas,
que são:
1. O elevado grau de coerência dos relatos pormenorizados de
sequestros, feitos com a emoção adequada a experiências
reais, por observadores aparentemente de confiança.
2. A ausência de doenças do foro psiquiátrico ou de outros fac-
50 SEQUESTRO
tores psicológicos ou emocionais susceptíveis de explicar o
que foi relatado.
3. As alterações físicas e as lesões que afectam o corpo dos sujei-
tos das experiências e que não seguem qualquer padrão psico-
dinâmico evidente.
4. A ligação com OVNI observados por testemunhas indepen-
dentes, durante a ocorrência dos sequestros (e que o próprio
sequestrado pode não ver).
5. Os relatos de sequestros de crianças com apenas dois ou três
anos de idade (ver Colin no Capítulo 6).
IMPACTO E SEQUELAS DOS SEQUESTROS
É desnecessário dizer que os sequestros afectam profundamente as
vidas daqueles que os sofrem. Estes efeitos são traumatizantes e per-
turbadores, mas também podem ser transformadores, conduzindo a
mudanças pessoais significativas e a um crescimento espiritual.
Saber se este elemento de transformação é intrínseco ao próprio
fenómeno do sequestro, dependendo em parte do trabalho terapêu-
tico de informação com o investigador, ou se é um produto marginal
da aceitação da natureza traumática das experiências, é uma das
questões que serão exploradas neste livro.
TRAUMA
O aspecto traumático tem quatro dimensões. Em primeiro lugar,
estão as próprias experiências. Ser paralisado, levado contra a sua
vontade por seres estranhos para um quarto fechado e sujeito a pro-
cedimentos intrusivos, que se assemelham a uma violação, sendo
alguns deles especialmente humilhantes para a dignidade humana, é,
sem dúvida, altamente perturbador. A esta luz, chega a ser surpreen-
dente que os sequestrados em geral não estejam ainda mais perturba-
dos emocionalmente.
Em segundo lugar, os sequestrados experimentam uma perma-
nente sensação de isolamento e afastamento em relação aos que os
rodeiam. Quer recordem ou não conscientemente todas as particula-
ridades da sua experiência, os sequestrados sentem sempre que são
52 SEQUESTRO
as suas próprias experiências, quando descobrem que um ou mais
dos seus filhos estão a ter experiências de sequestro. A descoberta de
que não conseguem corresponder às suas responsabilidades protec-
toras enquanto pais leva-os a romper com a recusa e a confrontar-se
com as suas próprias experiências, a fim de melhor poderem ajudar
os seus filhos.
Além destes efeitos traumáticos específicos a longo prazo, os
sequestrados também podem sofrer de outros sintomas a longo prazo
que, embora mais subtis, também estão relacionados com as experiên-
cias de sequestro. Estes sintomas incluem vários tipos de fobias, das
quais já falámos anteriormente, como o medo de hospitais e de agu-
lhas, bem como dores de cabeça, dores nasais, dores nas pernas, per-
turbações gastrointestinais e urológicas-ginecológicas e perturbações
sexuais (Jerry, Capítulo 6). Face a estas sequelas patológicas, não
deixa de ser irónico que tantos sequestrados tenham experimentado ou
testemunhado curas de várias doenças, desde pequenas feridas até
pneumonias infantis e, num caso que me foi relatado em primeira
mão, a atrofia muscular de uma perna, resultante de uma poliomielite.
É interessante notar que nem todos os sequestrados são sujeitos
aos procedimentos intrusivos e traumáticos que se considera serem
característicos do fenómeno (por exemplo, Arthur, Capítulo 15).
Não acredito que isto seja simplesmente uma questão de resistência
ou de recusa. Alguns indivíduos parecem ser, à partida, «selecciona-
dos» para serem instruídos, mesmo «iluminados», uma espécie de
«reprogramação», como disse uma mulher, por seres que são, nor-
malmente, de uma espécie mais subtil ou iluminada. Talvez estes
indivíduos, que aparentemente são dotados de qualidades de lide-
rança espiritual, tenham uma consciência diferente, tenham menos
medo — ou estejam dispostos a ficar descontrolados e a ultrapassar
o seu terror — do que os outros sequestrados. É uma questão que
merece um estudo mais aprofundado.
Tal como veremos em vários dos casos apresentados neste livro,
uma história de sequestro pode criar uma situação de grande tensão
numa relação matrimonial ou em qualquer relação intima. Isto é ver-
dade, especialmente, quando um dos membros do casal é um sujeito
da experiência, enquanto o outro, não só não o é, como tem dificul-
dade em aceitar a realidade das experiências do cônjuge. As relações
também podem romper-se quando um dos membros do casal sofre
um desenvolvimento pessoal significativo, directa ou indirecta-
54 SEQUESTRO
riência e os seres alienígenas, para que as informações susceptíveis
de alterarem a consciência possam ser recebidas. Embora a relação
com os alienígenas possa ser amigável ou mesmo íntima na primeira
infância, tende a transformar-se numa relação mais traumática e per-
turbadora quando a puberdade se aproxima e o «projecto» de repro-
dução híbrida tem início. Quando as intrusões traumáticas começam
a ter lugar, os sequestrados tendem a sentir-se vítimas de seres hos-
tis, que os observam friamente ou como meros espécimes de um pro-
jecto que serve exclusivamente as necessidades dos alienígenas. À
medida que a natureza das suas relações se altera, podem sentir-se
traídos pêlos seres alienígenas.
Mas à medida que aprofundamos o nosso trabalho, especial-
mente à medida que a inteligência alienígena é compreendida e os
sequestrados começam a aceitar a sua falta de controlo do processo,
a qualidade assustadora e opositora da relação parece ceder lugar a
uma relação de maior reciprocidade, na qual há lugar para uma
comunicação útil entre humanos e alienígenas e de que podem deri-
var mútuos benefícios. Os sequestrados podem mesmo vir a experi-
mentar um amor profundo pêlos seres alienígenas — em certos
aspectos, mais intenso do que o experimentado nas relações huma-
nas — e sentir que este amor é correspondido. A ligação estabele-
cida através do olhar parece desempenhar um papel importante na
evolução deste processo. Por exemplo, ao passo que, inicialmente,
os sequestrados sentem um amargo ressentimento para com os alie-
nígenas por terem utilizado o seu esperma e óvulos no projecto de
hibridização, mais tarde, poderão vir a sentir que estão a participar
num processo fundamental para a criação e evolução da vida.
Alguns poderão argumentar que uma tal mudança na atitude dos
sequestrados face à situação de impotência que o sequestro implica
não passa de uma mudança defensiva. Poderia ser considerada como
uma tentativa do ego para manter uma sensação de domínio, ofere-
cendo voluntariamente o que de qualquer forma seria obtido pela
força, ou uma tentativa de reduzir a dissonância cognitiva, acredi-
tando que os custos emocionais de uma tal experiência traumática
poderiam ser compensados pela dádiva de algo de bom e positivo ao
universo. Por outro lado, é possível que, ao penetrarem na abaladora
experiência do sequestro, os sequestrados consigam ter acesso a
experiências de significado transpessoal, amor universal e ligação,
que tornem possível uma tal compaixão.
56 SEQUESTRO
2. Os alienígenas são reconhecidos como intermediários ou
entidades intermédias entre o estado completamente materia-
lizado dos seres humanos e a fonte primordial da criação, ou
Deus (no sentido de uma consciência cósmica, e não de um
ser personificado). Deste ponto de vista, os sequestrados por
vezes comparam os alienígenas a anjos ou outros «seres da
luz» (incluindo os «cinzentos»).
3. Os sequestrados podem realmente sentir que estão a regressar
à sua origem cósmica ou «Lar», um reino indizivelmente
belo, situado, ou não, para além do espaço e do tempo, tal
como os conhecemos. Quando isto sucede durante uma ses-
são de hipnose, há um sentimento poderoso, de inexprimível
alegria, quase orgíaco. Ao contrário, os sequestrados podem
chorar de tristeza quando sabem que têm de deixar o seu lar
cósmico, regressar à terra e materializar-se de novo.
4. Durante as sessões, as vidas passadas são revividas com
grande emoção, adequada ao que está a ser recordado. E mais
provável isto suceder quando o investigador apresenta suges-
tões, durante as sessões em que estão a ser lembrados encon-
tros da infância. São ouvidas queixas ou simples observações
acerca de estar «novamente» na Terra, estar «de volta» ou ter
«regressado» (acerca das quais faço, então, perguntas). As
vidas passadas recordadas parecem ser relevantes para o
desenvolvimento pessoal e para a evolução do sujeito da
experiência, como observei nos casos de David e de Joe.
5. As experiências de vida passada dão aos sequestrados (e ao
investigador) uma perspectiva diferente sobre o espaço e
sobre a natureza da identidade humana. Os ciclos de nasci-
mento e morte, ao longo de grandes períodos de tempo,
podem então ser revividos, dando um sentido diferente,
menos egoísta, à continuidade da vida e à insignificância do
tempo de vida de um indivíduo, numa perspectiva cósmica. A
consciência é sentida como algo que não morre com o corpo; a
noção de uma alma independente do corpo adquire relevância.
6. Uma vez aduirida a noção de independência entre a consciên-
cia e o corpo, tornam-se possíveis outros tipos de experiência
«transpessoal», nomeadamente a identificação da consciência
com uma quantidade virtualmente infinita de seres e entida-
des, através do espaço e do tempo e ainda mais para além.
58 SEQUESTRO
natural, são experimentadas, juntamente com uma profunda tristeza
pela aparente inevitabilidade da crise ambiental na Terra. Um dos
casos de John Carpenter descreveu-se a si própria como «filha do
universo», depois de ter tomado consciência das suas experiências
de sequestro. O significado e as implicações destas mudanças de
consciência para os futuros possíveis da humanidade serão debati-
das, mais completamente, nos exemplos de casos e no capítulo final.
Os treze casos apresentados neste livro — oito homens e cinco
mulheres — foram seleccionados entre setenta e seis sequestrados.
Procedi às entrevistas com base nos critérios seguintes:
1. As suas histórias, embora complexas em alguns
aspectos, pareceram-me suficientemente claras para
permitir uma narrativa coerente.
2. Cada caso parece ilustrar, de forma profunda, um ou
mais dos aspectos fulcrais do fenómeno dos sequestros.
3. Cada uma destas pessoas estava disposta a deixar
contar a sua história, utilizando ou não o seu
verdadeiro nome.
4. Conhecia estes indivíduos bastante bem. No entanto,
há sequestrados que conheço há mais tempo e com quem
tenho trabalhado mais profundamente. Se optei por não
contar as suas histórias, foi apenas porque não
poderia fazer justiça à riqueza das suas experiências
de uma forma suficientemente clara e concisa.
A sequência dos casos reflecte, em regra, uma espécie de pro-
gressão, de histórias mais simples para narrativas multidimensionais
mais complexas. O último caso sugere o que o fenómeno dos
sequestros poderá vir a significar para a transformação das nossas
instituições e da nossa vida colectiva.
CAPÍTULO TRÊS
LEMBRAR-TE-ÁS
QUANDO PRECISARES DE SABER
E d tem cerca de quarenta e cinco anos, é técnico numa empresa de
alta tecnologia no estado de Massachussetts e é casado com
Lynn, uma escritora com quem partilha um grande interesse pela
ciência e pela tecnologia. Num dia do Verão de 1989, Ed e Lynn pas-
seavam pela Estrada Marginal em Ogunquit, Maine, um caminho
junto aos rochedos, que bordeja a costa rochosa ao longo de vários
quilómetros. Subitamente, Ed sentiu que estava a ficar tenso, melan-
cólico e retraído. Em seguida, começou a transpirar, ficou preocu-
pado e apertou estreitamente a mão de Lynn. Não sabia qual a razão
da sua perturbação. Ed andava a praticar meditação e acredita que
isso pode ter contribuído para a recuperação final de memórias sig-
nificativas. Ed também tivera algumas experiências assustadoras na
infância, provavelmente relacionadas com sequestros. Estas experi-
ências serão comentadas no contexto da sua sessão de hipnose.
Desde criança que tinha um medo invulgar de consultórios médicos
e operações — «tudo o que se relacione com medicina» —, mesmo
antes de uma amigdalotomia, aos nove anos de idade.
Segundo nos diz, certo dia, à beira-mar, um dia ou dois depois do
passeio em Ogunquit, a seguir a um dia de descanso, «lembrei-me».
Ed começou a recordar-se de uma experiência passada no Verão de
1961, quando ainda estava na escola secundária. Ao longo dos
meses seguintes, recordou-se de mais pormenores, através daquilo a
que chamou flashbacks. Ed tinha algum interesse por aquilo a que
chama «inteligência alienígena». Em consequência das suas memó-
rias, passou a interessar-se pelo fenómeno dos OVNI e compareceu
60 SEQUESTRO
a uma conferência da MUFON (Mutual UFO Network, uma organi-
zação não-governamental), em New Hampshire. Várias pessoas que
conheceu através desta rede sugeriram-lhe que me contactasse e,
assim, telefonou-me em Julho de 1992. Desde então, entrevistei Ed e
Lynn durante várias horas e hipnotizei-o, com o objectivo de recupe-
rar mais pormenores da sua experiência da escola secundária. Ele e
Lynn frequentavam também o grupo de apoio.
O caso de Ed é importante, fundamentalmente, por duas razões.
Em primeiro lugar, a periodização da sua experiência da adolescên-
cia e a memória dela indiciam um processo de recepção de informa-
ções, armazenamento, recuperação e integração, com grande
objectivo e poder potencial. Em segundo lugar, a narrativa que Ed
conseguiu recuperar num estado de consciência alterado parece,
pelo que sabemos dos fenómenos de sequestro, ser muito mais plau-
sível do que a história que poderia contar conscientemente. Este
facto serve de suporte ao argumento segundo o qual a hipnose é o
melhor meio para recuperar memórias de sequestros, que sejam
simultaneamente significativas e verdadeiras em relação à experiên-
cia real (seja qual for a origem destas experiências), sugerindo que,
pelo menos no caso dos sequestros por OVNI, a hipnose pode ser
uma ferramenta mais esclarecedora do que falseadora.
Seguidamente, começarei por contar a história do sequestro do
jovem Ed, tal como ele a recordou no nosso primeiro encontro em 23
de Julho de 1992. Em seguida, fornecerei mais pormenores, que Ed
recuperou sob hipnose a 8 de Outubro, e que dão significado e coe-
rência às suas experiências e vida subsequentes. Ed também se
recorda, embora menos claramente, de visitas que aconteceram na
sua primeira infância.
Em Julho de 1961, Ed, o seu amigo Bob Baxter e os pais deste
fizeram uma viagem pela costa do Maine, no carro dos Baxter.
Numa noite húmida de nevoeiro, pararam num local onde a costa era
rochosa, Ed não se lembra exactamente onde, excepto que era para
norte de Portiand. Os Baxter ficaram numa cabana, enquanto os
rapazes dormiram perto, no carro, que tinha bancos rebatíveis atrás.
O carro estava estacionado a cerca de noventa metros do mar. Ed e
Bob tinham estado a conversar acerca de como se sentiam «excita-
dos» e «especularam sobre os grandes encontros que iam ter na
praia». Ed pensava que estava a dormir quando «de repente estava a
pairar sobre o precipício» numa «bolsa» que tinha «uma espécie de
62 SEQUESTRO
não deixou e «trabalhou com a minha percepção por tomada de
consciência, como de mente a mente.» Pressentindo a sua frustração,
ela tranquilizou-o: «Lembrar-te-ás quando precisares de saber».
Nesta entrevista, as recordações de Ed acerca do conteúdo das
informações que esta entidade feminina lhe transmitiu foram apenas
esquemáticas, mas lembra-se de ter ficado «aturdido», «de boca
aberta». Tivera uma educação católica romana tradicional, frequen-
tando a catequese até ao quarto ano, e nada do que lhe tinham ensi-
nado o tinha preparado para receber mensagens de tal importância
espiritual e cósmica. De algum modo, o ser alienígena abriu a cons-
ciência de Ed. «Ela ligou-me às minhas emoções, e num momento
qualquer da primeira parte do encontro, talvez durante o relaciona-
mento sexual, obteve como que uma ideia clínica da minha tipogra-
fia emocional/mental, ou, então, a minha concordância para passar à
segunda parte. Olhou para mim e perguntou: — Bem, achas que
podes aguentar a segunda parte?»
Algumas das informações diziam respeito «à forma como os
humanos se conduziam em termos de política internacional, do
ambiente, da violência em face uns dos outros, da comida e tudo o
mais. Continuava a explicar que as leis do universo são assim, e que
era como se estivéssemos a conduzir do lado errado da estrada, o que
vai acontecer inevitavelmente, sabe?... Como se fosse assim: aqui
estão as leis e esta é a forma como os humanos conduzem os seus
negócios e... pum! pum! é inevitável...» O pai de Ed era engenheiro
mecânico profissional numa grande empresa da região de New
England e a ideia de Ed, inculcada pela sua família «padrão», era vir
a ser «técnico», seguir electrónica e ajudar a «vencer os malditos
comunistas... Temos de desenvolver mais e melhor tecnologia, para
dar cabo dos malditos comunistas, antes que eles dêm cabo de nós.»
Embora as informações fossem praticamente novas para Ed, de
qualquer modo, «faziam sentido para mim». Tinha «uma aproxima-
ção científica face às coisas» e «ela explicava as coisas em termos
lógicos e científicos... esclarecendo uma série de conceitos interrela-
cionados, que estas são as leis do universo, e especificando detalha-
damente estes conceitos. E aqui estão vocês, génios do planeta, a
fazer isto e aquilo e esta é a forma como as coisas deviam funcionar e
vocês estão em desarmonia e num ponto qualquer as coisas entrarão
em desequilíbrio. Mais tarde ou mais cedo. E eu estou ali, oh, meu
Deus. E como se ela me tivesse dado este segundo, este mecanismo
64 SEQUESTRO
semestre, transferiu-se para uma pequena escola de arte, onde tentou
«perceber o que faz evoluir a civilização, tentando compreender a
natureza e a estrutura da civilização humana». Descobriu um inte-
resse pelo «esplendor da história, Roma, Grécia e tudo isso» e pelo
que chama «a busca maior».
Embora Ed não tenha consciência de outros encontros, hoje
sente que a sua experiência de adolescente permaneceu dentro de si
e, por vezes, teve recordações instantâneas ou vislumbres da angra,
ou de outro lugar geográfico, onde tudo aconteceu. Quando tinha
entre vinte e trinta anos tornou-se de certo modo um solitário.
Sentia-se atraído por fotografias de mulheres louras e, por vezes,
quando andava de bicicleta «sempre que via uma mulher delgada
com longos cabelos louros tentava pedalar mais depressa, para a ver
melhor» e pensava «Será ela?». Mas ficava desapontado ao verificar
que «não era ela». Tanto Ed como sua mulher, Lynn, têm ascendên-
cia nórdica. Conheceram-se numa organização cultural onde ambos
estudavam literatura e história do Norte da Europa. Lynn sentiu-se
«como seja o conhecesse há muito tempo». Além do seu comum
interesse pela ciência e pela tecnologia, pela natureza e pela vida ao
ar livre, Lynn tem cabelos louros. Depois de cinco anos a saírem jun-
tos, casaram no fim dos anos setenta. O casal não tem filhos, embora
ainda estejam a tentar tê-los. Têm tido alguns problemas de fertili-
dade, que podem ou não estar relacionados com o sequestro, incluin-
do três ou quatro abortos espontâneos. Lynn também recorda um
episódio de tempo perdido e outras experiências, que a fazem sus-
peitar de que também teve encontros.
Quando conheci Ed, ele estava a tentar encontrar o seu próprio
«nicho», estava «perdido no deserto» e a «bater com a cabeça nas
paredes». Lynn pensa que esta situação pode ter contribuído para a
dificuldade de ter filhos, porque «temos estado numa espécie de ani-
mação suspensa, esperando que a luz se acenda».
Ed sempre se sentiu especialmente próximo da natureza, dos bos-
ques, das árvores e das plantas, e sente que consegue «falar com as
plantas». Sente que está empenhado numa «corrida desesperada pela
terra», uma necessidade de reunir as peças do que sabe ser «uma
construção», e que foi desafiado para o fazer. Praticou meditação e
estudou filosofia oriental, na sua luta para encontrar o caminho certo.
Tanto ele como Lynn sentem que o «tempo de Ed no deserto» pode ter
valido a pena e que entre todas as coisas que experimentou, poderá
66 SEQUESTRO
Depois da indução do estado de relaxamento hipnótico, tentei
obter de Ed mais pormenores sobre os preparativos dos rapazes para
a noite. Ele falou sobre as preocupações maternais de Mrs. Baxter
acerca do calor e do conforto dos rapazes e lembrou-se de ter dor-
mido num saco-cama, enquanto Bob dormira com cobertores.
Recordou novamente a sua conversa sobre raparigas («ainda éramos
virgens». Lembrava-se do ruído dos carros a passar na estrada, do
nevoeiro «a fechar-se» e de que «se sentia ligeiramente desconfortá-
vel lá no fundo, com problemas ou qualquer coisa, não sei». Quando
Ed estava a explicar que estava «a devanear, a mergulhar nos meus
pensamentos», sentiu «uma espécie de zunido» na base da cabeça
ou na parte superior do pescoço e descobriu que estava «a ficar
assustado», à medida que as memórias desse momento começavam
a voltar.
As sensações de zunido aumentaram e Ed disse: « Sinto qual-
quer coisa à volta do carro». Pensa ter estado a dormir, mas não tem a
certeza, talvez a sonhar que «estava a fazê-lo» com uma bela adoles-
cente de uma das praias da área. Mas, então, viu uma ou duas figuras
através das janelas do carro, «um casal de uma espécie de humanos,
mas estranhos, os seus olhos são grandes! Está a ver, não são ara-
nhas, penso que não estou a sonhar». As figuras «não parecem seres
humanos normais». Tinham «grandes olhos cinzento-escuros ou
pretos e bocas pequenas e intensas. Qualquer coisa parecida com
orelhas... Neste maldito nevoeiro não consigo perceber muito bem
qual o vosso aspecto, vocês são espertos. Sabem como utilizar a
camuflagem». Os seres eram de um «tipo ligeiramente diferente» de
tudo o que já tinha visto. Na sessão, o medo de Ed aumentou e lem-
brou-se de se ter sentido «apenas mortificado, como se alguém esti-
vesse prestes a assaltar-me e eu tivesse de lutar como o diabo pela
maldita da minha vida».
Enquanto a sensação de zunido persistia «na base do crânio», Ed
sentiu-se a flutuar para fora do carro. Emitiu uma espécie de gru-
nhido à medida que a sua ira voltava, mas depois sentiu-se relaxado
e mesmo «feliz», o que o surpreendeu. Dois ou três dos seres esta-
vam «a olhar para mim» e Ed experimentou «uma sensação de flu-
tuação e todo o meu corpo está a começar a flutuar. Estou a flutuar,
estou a flutuar, estou a flutuar! Porque é que estou a flutuar?» Neste
momento da sessão, Ed sentiu-se confuso e tentou «manter o con-
trolo do que estava a acontecer». Encorajei-o a ficar com a sua expe-
68 SEQUESTRO
e eu sinto... eu, a minha própria sinceridade diz-me que não estou
apenas a inventar tudo isto. É só que não se enquadra... Quero dizer,
isto parece um argumento do Twilight Zone... Não se parece com
nada que eu tenha visto na televisão ou no cinema.
Ed notou que estava «a aproximar-me dum afloramento de terra
e das ondas e tudo e estou a ver uma espécie de bolha luminosa, em
forma de catedral». E em seguida, «estou a ser arrastado no sentido
de que não tenho controlo sobre o meu corpo... para o fundo... algu-
res no fundo sinto que estou a passar e não sei como atravessei o
fundo, mas aqui estou». Evidentemente, isto era fisicamente possí-
vel porque a nave parecia estar «apenas ali suspensa», salientando-
se do afloramento rochoso. «Algumas partes estão perto da rocha e
outras estão só, como que estão apenas por cima da rocha».
Dentro do veículo, Ed reparou numa luz azul-prateada brilhante.
Sentiu que a sua visão estava limitada e ficou zangado. «Detesto
sentir-me sem qualquer controlo. Detesto isto. Detesto isto, bolas!
Detesto isto! Tão estúpido, tão tremendamente estúpido, meu Deus!
Como poderei explicar isto a alguém?» Sentiu uma dor na parte
frontal da cabeça e ficou confuso, «física e mentalmente desorien-
tado... A minha carteira está em casa. Não tenho nenhuma identifica-
ção.» Teve também uma erecção, que o embaraçou: «isto não fez
parte da minha educação».
Havia «pelo menos meia dúzia» de seres no quarto, a que cha-
mou «anfiteatro» e «uma espécie de sala de operações» e «há umas
luzes brancas em volta». Um dos seres parecia ser «o médico-chefe,
o que mandava». Aquele «transmite vibrações que indicam tratar-se
de uma fêmea». Aos outros chamou «zangãos» ou «pessoal auxiliar
que andava de um lado para o outro a fazer isto e aquilo». O ser femi-
nino tinha longos cabelos prateados e grandes olhos negros, sem
pupilas nem íris. Estava a olhar para Ed «com aqueles grandes olhos
temos e sensuais, que transpiram uma sexualidade amável, como se
ela fosse uma mulher muito sensata e madura, dizendo-me telepati-
camente 'Eu controlo a situação'. Ela vestia uma «espécie de cami-
sola, parecida com um vestido», aberta no pescoço e que lhe cobria
os braços e os ombros. Reparou que «tinha seios... Talvez tenha uma
espécie de pendente ou medalhão pendurado numa cadeia em volta
do pescoço, ou um alfinete, não percebo muito bem».
O ser feminino transmitiu-lhe o nome pelo pensamento e Ed per-
guntou-lhe: «Como é que me conheces?» e observou «Acho que és
70 SEQUESTRO
pletamente atónito, acrescentou: «Nunca me aconteceu nada assim
na minha vida».
Neste momento, a cena mudou e Ed sentiu-se como se «estivesse
num espaço diferente... Antes era mais como uma sala de opera-
ções», mas «agora, subitamente» estava na «bolha de paredes trans-
parentes», da qual se tinha lembrado conscientemente, antes da
sessão de hipnose. Não se lembrava de «como fui de um sitio para
outro». A entidade feminina «quer falar comigo» e Ed sentiu medo
do que se iria seguir. «Sinto que estou a ficar sério. E assim como
quando o médico ou o professor chega e diz 'agora vamos ao que
interessa... agora é a parte séria... achamos que agora já podemos
dizer-te como as coisas são'». Reparou que o ser feminino, «a pessoa
que fala», vestia uma «túnica prateada, que parecia de metal. É uma
espécie de tecido, entrançado ou tricotado, com qualquer coisa bri-
lhante por cima, e consigo ver os seus seios a sobressair por baixo».
Ela tinha «uma expressão suave» e «olhava para mim de forma
muito carinhosa». Ed sentiu que o interior da sua cabeça e os seus
olhos «ardiam e giravam», quando ela começou a falar com ele,
mostrando-lhe várias coisas.
Os restantes quarenta a quarenta e cinco minutos da nossa
regressão hipnótica foram preenchidos com as recordações de Ed
das informações recebidas durante o sequestro. É possível que a
sequência do nosso diálogo não reproduza exactamente a ordem
pela qual estes pensamentos e imagens lhe surgiram nesse momento.
A narrativa estava cheia de imagens apocalípticas. O ser comu-
nicou-lhe telepaticamente, por meio daquilo a que Ed chama «ter-
mos alegóricos», uma mensagem de «instabilidade do nosso
planeta, instabilidade eco-espiritual e emocional... As erupções vul-
cânicas são um sinal... São uma alegoria de colunas de raiva a subir.
Não são ejaculações de êxtase, mas erupções de angústia. Tem cui-
dado. Ondas de erupção, a bater, a inundar, a engolir tudo à tua
volta». Ed protestou: «Porque é que me falas em alegorias? Não sou
poeta.»
Porém, a comunicação prosseguiu inexoravelmente. «Ondas
altas, a bater, placas que se deslocam, instabilidade, a Terra a tremer
de angústia, a gritar, a chorar diante da estupidez dos humanos ao
perderem o contacto com a sua alma mais profunda». Ela disse-lhe:
«Tu ainda tens uma hipótese, Ed. Tens uma profunda sensibilidade».
Ele protestou novamente: «Mas os professores sempre me critica-
72 SEQUESTRO
seu sarcasmo e dizendo-lhe que tinha deveres para com os dons
com que tinha nascido.
Neste momento, Ed recorda-se de ter, realmente, visto os espíri-
tos, sob a forma de «pequenas criaturas alegres e brincalhonas, que
andavam por ali, saltando de um lado para o outro». Pedi-lhe que os
descrevesse «São como formas de energia... de diversos tipos dife-
rentes. Há muitas formas e cores» (neste ponto, Ed riu-se). Achava
«hilariantes» as «contorsões» e «coisas divertidas» que eles eram
capazes de fazer. Pedi-lhe que me desse um exemplo. Eles podem
«voar», disse ele, e «alterar as leis da natureza», com o que parecia
querer significar que podem mudar de forma. Um dos espíritos «está
a falar comigo». Tinha cabelos longos e prateados e uma cabeça
demasiado grande e media apenas 30cm ou 40cm, como um «micro-
anão». O espírito disse.»Bem, sabes, eu assumi esta forma para que
pudesses ver-me e falar-me. Mas se não quiser, não tenho que ter
esta forma e posso transformar-me de múltiplas formas... Assumi
esta forma mais ou menos engraçada, para que te sintas divertido e à
vontade junto de mim, porque eu conheço certo tipo de criaturas das
quais tens medo, como as aranhas e, em especial, as cobras. Por isso,
apresentei-me assim!»
Em seguida, Ed compreendeu que, de certa forma, também ele e
os outros seres humanos «tinham poder para alterar as leis da natu-
reza, desde que tenham acesso a certas partes do seu ser», o que o
assustou. Perguntei-lhe de que é que tinha medo. «Oh, meu Deus, se
eu estrago tudo e uso este poder no momento errado...»
«Tens razão, Ed, tens razão», disse-lhe o ser feminino. E ele con-
tinuou a repetir as suas palavras. «Tens de aprender como, quando e
onde utilizar este poder, de outra forma mandar-te-ão embora, vão
internar-te! Dão-te um nome e internam-te, internam-te, internam-
-te. E dirão aos teus pais que o pobre Ed era muito promissor, mas
aconteceu qualquer coisa, que pena». «E ela repetiu estas palavras,
de forma a metê-las na minha cabeça». O ser falou-lhe ainda do
modo de cultivar a sua mente, avisando-o, por exemplo, do perigo
que podia representar para os seus poderes intuitivos o estudo da
ciência na sua forma académica ortodoxa. «O processo tradicional e
racional de educação da mente obliterará estas outras coisas, cujas
infinitas possibilidades vislumbraste», disse ela.
Pedi a Ed que me dissesse mais acerca do que lhe tinha sido dito
ou mostrado relativamente a estas possibilidades. Ele falou de ter visto
LEMBRAR-TE-ÁS QUANDO PRECISARES DE SABER 73
«como são feitas as leis do universo» e «qualquer coisa acerca do
momento em que o universo é criado». Mais uma vez ela o avisou
sobre o mau uso da sua compreensão. «Vês agora a emboscada do pla-
neta», disse ela. Neste momento da sessão, Ed sentiu-se «impedido de
ver» mais. Perguntei-lhe o que tinha visto da criação do universo.
Ed: Uma luz branca, incrivelmente ofuscante e ardente.
JM: Ela mostrou-lhe isso?
Ed: Sim.
JM: Como foi para si?
Ed: Quase demasiado. Mas foi como... merda! Há um certo
acorde ou passagem na Décima Sinfonia de Mahier, que é
assim como uma abertura, e já está. É como o nascimento
de uma galáxia. E mesmo, é mesmo... é mesmo isso. «Mas»,
disse ela, «não quero que vejas demais. Tens de saber. Tens
de ser sensato sobre como, onde e quando falas sobre isto.
Existem aqueles que poderiam utilizar a tua mente com
objectivos insensatos».
Guiei-o novamente para os vislumbres que tivera da angústia
dos espíritos. Além da «inocente brincadeira com a natureza, a
forma como deveríamos ser», Ed lembra-se de ter visto «entidades
de formas distorcidas, espíritos que estão agora aqui, porque o
homem tem causado tanto mal e tanta dor, a si mesmo, aos outros e à
Mãe Natureza». Foram-lhe mostradas «formas grotescas...
Horrorosas. Há formas escuras, cinzentas e malignas que eles estão a
tentar curar e equilibrar. Foi preciso um grande esforço (da parte dos
espíritos sãos), para impedir estas formas malignas de crescer, em
tamanho e em maldade». A entidade feminina continuou: «Vocês
estão a distorcer, a criar uma grande maldade, a tentar... Nós estamos
a tentar controlá-los e levá-los outra vez a brincar. Já viste como são
deformados e malignos, Ed. São massas horrendas, cinzentas e dis-
torcidas. Já viste como estas formas de energia são tão simpáticas e
alegres, parecem tão saudáveis e, depois, temos estas outras aqui».
Ed falou ainda das informações que recebeu sobre as consequên-
cias de estarmos «a pilhar o planeta». As formas malignas, destruti-
vas, foram criadas pelo desequilíbrio da «mente humana colectiva...
entes escuros e cinzentos que apenas chegam, engolem e destroem
tudo. Ficam frenéticos e varrem tudo no seu caminho, tudo que esti-
74 SEQUESTRO
ver ao seu alcance». Perguntei-lhe se lhe tinham dito qual seria o
resultado final. «Eles continuarão o seu caminho», disse ele, «até
conseguirem eliminar toda esta energia negativa e regressar ao
estado normal de felicidade. Têm de os eliminar do seu sistema, tal
como se retira o pus de uma ferida. Enquanto o pus não for total-
mente retirado, não se curará».
Perguntei-lhe o que seria necessário fazer, o que lhe disseram
que deveria fazer. Ele respondeu de modo pessoal, em termos do que
lhe fora dito sobre a sua própria sobrevivência, em face das futuras
«mudanças cataclísmicas da terra». «Ela diz-me, mostra-me, que
tenho dentro de mim os instrumentos necessários à minha sobrevi-
vência. Tenho mais esta dimensão. Posso optar por escutá-la ou
não... Devo escutar a minha alma interior e profunda e escutar a
terra.» Ed compreendeu que a sua companheira, Lynn, sabia intuiti-
vamente o que o ser lhe dissera e «isso não a perturba nada».
Perguntei-lhe se a mulher da bolha sabia que, um dia, Lynn aparece-
ria na vida dele. «Ela sabia», disse ele. «deu-me a sensação de que
um dia uma certa coisa não falada iria acontecer,» e que a sua tarefa,
e de Lynn, seria «ensinar os outros seres humanos que poderiam
ouvir... Há aqueles que vão ouvir antes de alguma coisa acontecer e
que se prepararão».
Perguntei-lhe se lhe tinham sido dadas algumas informações
sobre se ainda era possível evitar o cataclismo. «Não, não, não»,
disse ele, «não há suficientes. Só muito poucos escutarão, mas aque-
les que escutarem e puderem trabalhar de acordo com as leis da natu-
reza sobreviverão, para ensinar outros, do outro lado, que então
escutarão e dirão: 'Oh, caramba, fomos tramados naquela altura!'»
Expressei as minhas dúvidas quanto ao que ele queria dizer quando
falava em «cataclismo» — seria no sentido literal, físico ou num
sentido metafórico? Ele respondeu que haveria «uma série de con-
vulsões geológicas e metereológicas». Achando tudo isto bastante
deprimente, perguntei-lhe como é que estas informações sobre os
espíritos poderiam ajudá-lo, a ele e a outras pessoas, a sobreviver.
Sem hesitação, ele respondeu que «os espíritos da terra criarão paraí-
sos seguros» para os sobreviventes. Perguntei-lhe qual seria a utili-
dade, uma vez que tudo ia ser destruído. Ele disse que se tratava mais
de uma reconstituição, e não apenas de destruição, um reequilíbrio, e
repetiu que «os humanos têm de aprender a trabalhar neste planeta
de acordo com as leis da natureza e a não pilharem a terra», a utilizar
76 SEQUESTRO
tinha frequentado o meu grupo de apoio a outros sequestrados algu-
mas semanas antes), que foram usadas como cobaias.
Pelo contrário, sentia como se «uma grande nuvem, um véu,
tivesse sido retirado da minha consciência, que sempre lá tivesse
estado». Depois, conversámos ambos sobre a forma de, como disse
Lynn, «agir de modo responsável». Uma coisa em que concordámos
foi na necessidade de Ed conversar com outros sujeitos de experiên-
cia, a fim de partilhar informações e estreitar as relações dentro da
sua comunidade crescente.
COMENTÁRIO
Embora não seja invulgar que um sujeito de experiência se lembre
de um único encontro principal, é curioso que o de Ed tenha ocorrido
quando era ainda adolescente e que não tenha sido recordado
durante quase trinta anos. As forças envolvidas na implantação,
armazenamento e recuperação de informações permanecem como
um dos mistérios centrais de todo o fenómeno dos sequestros. Como
vimos, o sequestro de Ed quando era adolescente parece ter traba-
lhado subtilmente na sua mente ao longo de toda a sua vida, tor-
nando-o de certo modo diferente, talvez mais intuitivo ou
sintonizado com a natureza, do que os seus coetâneos. Contudo,
continuamos sem saber qual a causa e qual o efeito, se não foi a sua
própria receptividade natural que o predispôs para ser escolhido
como sujeito de sequestro, o que quer que isso signifique. Também
não compreendemos inteiramente porque é que muitas das memó-
rias dessa anterior experiência regressaram subitamente. Contudo,
parece que, enquanto homem amadurecido, ele está agora em
melhor posição para aplicar os seus conhecimentos a qualquer forma
de chamamento da terra, combinando as informações relacionadas
com o sequestro com os seus dons psicológicos e com a sua capaci-
dade profissional. Ainda não sabemos como é que ele e Lynn o farão.
A doação forçada de esperma para um qualquer programa de
reprodução inter-espécies, ainda mal compreendido, é característica
dos sequestros masculinos. A mensagem sobre o desastre ecológico
acompanhada de poderosas imagens apocalípticas também é vulgar-
mente transmitida pêlos alienígenas a sujeitos humanos. O que é de
certo modo invulgar no caso de Ed é a quantidade de pormenores
78 SEQUESTRO
neta, estes espíritos tinham ficado aborrecidos e irritados e estavam a
causar «perturbações negativas». Uma figura espiritual, líder entre
os tibetanos, também encara os alienígenas como espíritos, que fica-
ram tão pertubados quando o Homem destruiu os reinos que habita-
vam, que foram obrigados a vir para o meio de nós, em busca da
nossa compaixão e transformação.
Finalmente, é necessário ainda dizer uma palavra sobre o uso da
hipnose no caso de Ed. Antes do meu primeiro encontro com ele, Ed
tinha-se recordado de muito do seu sequestro de adolescente. Mas a
sua memória consciente anterior à regressão tendia a simplificar a
experiência e, ainda mais significativo, a dourar a narrativa de forma
mais conforme com a auto-imagem e os desejos de um adolescente,
do que aquela que recordou penosamente durante a nossa sessão de
hipnose. Muitos dos pormenores mais embaraçosos, relativos à
impotência e à perda de controlo, só foram lembrados sob hipnose.
Em especial, o feliz episódio das agradáveis relações sexuais manti-
das com uma fêmea alienígena, cooperante e sexualmente activa,
deu lugar à retirada, forçada e bastante humilhante, de uma amostra
de esperma, enquanto o ser assistia aprovadoramente. Este segundo
cenário, obviamente mais perturbador, é muito mais típico das expe-
riências masculinas de sequestro e, portanto, mais credível.
Tudo isto sugere que, pelo menos no caso de Ed, as informações
penosamente recordadas sob hipnose são mais fiáveis do que a histó-
ria contada conscientemente, que parece ter sido inconscientemente
retocada para se adaptar aos desejos e à auto-estima de Ed. Há ainda
outros pormenores obtidos durante a sessão de hipnose, relaciona-
dos com o transporte para a nave, o número de alienígenas (o líder
feminino e os seus assistentes, em vez de uma única «mulher» alie-
nígena), as duas salas (a sala semelhante a uma sala de operações e o
quarto em forma de bolsa) em vez de uma bolsa só, e a grande quan-
tidade de informações transmitidas pela fêmea alienígena, que tor-
nam a história obtida durante a regressão mais credível, ou pelo
menos mais coerente, com outras histórias de sequestros.
CAPÍTULO QUATRO
«PESSOALMENTE,
NÃO ACREDITO EM OVNI»
Sheila N. era uma assistente social de quarenta e quatro anos
quando foi encorajada a contactar-me no Verão de 1992 por um
psiquiatra do hospital onde estivera internada pouco tempo antes.
Procurava compreensão e alívio da tensão causada por aquilo a que
chamava «sonhos eléctricos», que tinham começado há mais de oito
anos, a seguir à morte da sua mãe. O psiquiatra que assistira Sheila
durante sete anos encorajou-a a consultar-me, mas foi o conheci-
mento e interesse que o psiquiatra do hospital tinha no meu trabalho
que nos aproximou. O caso de Sheila ilustra alguns dos problemas
que os psiquiatras e outros profissionais da saúde mental enfrentam
ao trabalhar com sequestrados.
Sheila era muito ligada à mãe e, por isso, a sua morte e os aconte-
cimentos que rodearam os sete dias de hospitalização que a precede-
ram, em Janeiro de 1984, foram profundamente perturbadores para
ela. A mãe de Sheila tivera um ataque de coração cinco anos antes e,
em 1984, foi hospitalizada para ser submetida a uma arterioctomia,
uma operação cirúrgica destinada a limpar o fluxo de sangue arterial
para as coronárias. De início, tudo correu bem, mas depois sobreveio
uma hemorragia cerebral, que levou à sua morte alguns dias mais
tarde. Sheila não conseguiu compreender qual a relação entre a ope-
ração cirúgica e as suas implicações fatais e sentia que os médicos
tinham sido rudes e pouco cuidadosos com a mãe. Sentia também
que a vida da mãe fora artificialmente mantida por tempo desneces-
sário, depois de já não haver esperanças e que, deste modo, lhe
tinham roubado a dignidade. Este tratamento insensível era especial-
80 SEQUESTRO
mente perturbador para Sheila devido à história de incesto entre a
sua mãe e o seu avô. Segundo Sheila, a mãe tinha sido «roubada da
sua dignidade na infância pelas exigências sexuais do pai». Sheila
também estava zangada e triste porque, três dias após o enterro, a
campa da mãe ainda se encontrava aberta, com a tampa do caixão à
vista e apenas coberta de terra. Depois da morte da mãe, deu-se um
afastamento entre Sheila e o marido, que ela considerava incapaz de
a consolar no seu desgosto.
— O Jim não sabe lidar com a doença. Ele tem de ser feliz —
disse ela.
Nos dias que se seguiram ao funeral da mãe, Sheila sofreu muito.
Andava pelas ruas à noite, sentindo-se muito irritável, como se
«nada pudesse doer tanto», mas incapaz de chorar. No dia 9 de
Fevereiro, quatro semanas depois da operação da mãe, Sheila escre-
via no seu diário que havia muita actividade nos céus à noite: «há
mais aviões do que carros». Também começou a ter sonhos que se
repetiam e nos quais se sentia aterrorizada, incapaz de se mover, e o
seu corpo vibrava, como se estivesse «cheio de electricidade». Ao
princípio, chamava-lhes «sonhos espirituais» e faziam-na sentir-se
como se alguma coisa ou alguém controlasse o seu corpo, como se
estivesse «possuída» por demónios. Mais tarde, passou a encarar os
sonhos como sequestros.
— Agora (mesmo antes de nos conhecermos), descrevo-os
como se todo o meu corpo fosse atravessado por electricidade.
Independentemente do nome, a experiência destes sonhos não
mudou.
Segundo Sheila, os sonhos vulgares são «mais fragmentados»,
enquanto nos sonhos em que via seres alienígenas parecia existir
«uma progressão natural em determinada direcção.»
Um dos sonhos, que Sheila pensa ter ocorrido em Março de
1984, cerca de dez semanas após a morte da mãe, foi diferente dos
outros, relativamente a determinados pormenores de que se recorda.
Antes do nosso primeiro encontro, Sheila escreveu-me acerca dele.
Acordei com um grande ruído e luzes intermitentes. O ruído era
um som extremamente agudo e permaneceu assim durante todo o
tempo. Fui surpreendida pela precisão das luzes vermelhas intermi-
tentes. As outras portas do quarto, bem como a porta da casa de
banho, estavam abertas. Podia ver toda a extensão do corredor e
82 SEQUESTRO
Sheila comprou uma embalagem de aspirinas e ingeriu vinte com-
primidos «com a intenção declarada de os tomar todos». À excep-
ção de um desconforto físico generalizado e de um zumbido nos
ouvidos, Sheila não sofreu quaisquer outros efeitos secundários.
Pouco tempo antes de eu a ver pela primeira vez, Sheila escreveu-
me: «O suicídio não é a minha forma habitual de enfrentar as situa-
ções» e «quero garantir-lhe que não tenho intenção de desistir em
nenhuma circunstância».
Imediatamente a seguir a este episódio, Sheila começou a con-
sultar um psiquiatra, o Dr. William Waterman. Embora parecesse
ter resolvido o seu desgosto pela morte da mãe, Sheila continuava
a sentir-se incapaz de entender ou obter alívio quanto aos sonhos
eléctricos, que continuavam a atormentá-la. Um deles, particular-
mente perturbador, ocorreu na Noite de Ano Novo de 1989.
Estivera a dormir no andar de baixo, enquanto a filha, Beverly, e
Jim dormiam lá em cima, nos respectivos quartos. Tal como em
1984, ouviu um grande ruído e sentou-se na cama sentindo o corpo
«cheio de electricidade... Alguma coisa me obrigou a deitar de
novo,» mas não se lembra de ter visto novamente os pequenos
seres semelhantes a pessoas. Seis meses depois do episódio da
Noite de Ano Novo, Sheila escreveu ao Dr. Waterman: «Antes de l
de Janeiro de 1990, pensava que todas «aquelas coisas» que entra-
vam no meu quarto eram apenas símbolos de um sonho. Desde
então, acabei por reconhecer que a hostilidade e a agressividade
que experimentei estão relacionadas com os repetidos 'sonhos
espirituais'. No meu sonho, 'aquelas coisas' não estavam a brincar,
e eu também não.»
Um artigo que Sheila encontrou no jornal local em 1985, e que
mais tarde recuperou, falava do aparecimento de OVNI na cidade
em que a sua mãe tinha sido enterrada. Como escreveu ao Dr. R., um
dos médicos que consultou para fazer terapia por hipnose: «Este
artigo levou-me a perguntar qual o envolvimento que a minha mãe
poderia ter com tudo isto». Mais tarde, Sheila começaria ajuntar as
peças, os aparecimentos com tudo o que tinha ouvido, lido ou visto
sobre sequestros, e começou a perguntar-se se, na verdade, os seus
sonhos eléctricos seriam realmente sonhos e se, na realidade, o seu
persistente medo da noite estaria ainda relacionado com o desgosto
pela morte da mãe. A 14 de Julho de 1990, Sheila escrevia ao Dr.
Waterman: «Há muito tempo que lhe disse acreditar firmemente que
84 SEQUESTRO
que Mrs. N. é uma mulher extremamente inteligente, com um nível
acima da média.» O estudo completo de uma noite de sono revelou
«nada de assinalável, excepto ansiedade e insónia».
De acordo com os seus registos, entre Agosto de 1990 e Julho de
1992, Sheila teve vinte e quatro consultas com o Dr. R. e/ou o Dr. G.,
que incluíram pelo menos sete sessões de hipnose. As consultas
tinham geralmente a duração de uma hora e as sessões de hipnose
entre quinze e vinte e dois minutos.
Numa carta que me escreveu, o Dr. G. falava da preocupação de
Sheila, quando a viu pela primeira vez, pelo facto de o túmulo ter
ficado aberto durante a noite e referiu que ela expressara a sua tris-
teza pela morte da mãe e outros aspectos da história aqui registada.
No seu diário, Sheila escreveu que, em 1991, o Dr. G. lhe dissera
que, embora a hipnose pudesse ser útil na «produção de novo mate-
rial», não «garantia recordações exactas» e «pode ser um prolonga-
mento de uma fantasia ou experiência pessoal». O tratamento
centrava-se sobre o impacto sofrido com a operação, a morte e o
funeral da mãe e em métodos cognitivos/comportamentais destina-
dos a diminuir a angústia dos seus «sonhos», especialmente conven-
cendo-a de que «não eram reais».
«Nunca me senti segura», disse Sheila deste processo de tratamento.
Em Maio de 1992, Sheila aceitou uma receita de Klonopin,
5 mg, para combater a ansiedade, e em Junho, outra de um antide-
pressivo, Wellbutin, 100 mg, para tomar ao deitar. Continuou a
tomar ambos os medicamentos até ao princípio de Agosto. No
entender de Sheila, o Dr. G. continuou a ligar os seus sonhos à
depressão. Na carta que me dirigiu, o Dr. G. sublinhou que a hipnose
pode não revelar memórias exactas e escreveu também que «é difícil
saber se ela está sujeita a ilusões ou tem convicções religiosas pro-
fundas». Disse que a minha prontidão em aceitar o que pessoas
como Sheila dizem vai «muito para além da neutralidade» e comen-
tou que, apesar da minha gentileza, simpatia e apoio para com Sheila
poderem ter conduzido a uma melhoria terapêutica, isso «não con-
firma necessariamente as teorias em torno dos OVNI e dos seques-
tros». Discuti todos estes assuntos com o Dr. G., que concordou
generosamente em marcar uma série de Sessões Plenárias no seu
hospital, para continuar a discuti-los num ambiente médico acadé-
mico. Durante as Sessões, muito frequentadas, foram discutidos os
temas suscitados pelo caso de Sheila. O Dr. G., com base nas suas
86 SEQUESTRO
corteses e francas. Ao Dr. G. falava de «momentos em que senti uma
falta de compreensão e de aceitação... Com o tempo», afirmava ela,
«acabei por concluir que existe uma relação entre o sonho único e
aqueles que se repetem. Eu desejava desesperadamente acreditar que
não era assim. Isto simplesmente não faz sentido no mundo tal como
eu o conheço. Sinto que uma compreensão clara desta relação é a
única maneira possível de eu me libertar de tudo isto». Sheila reparou
também num paradoxo em relação ao sonho de Março de 1984 e per-
guntou: «Porque é que eu adormeci quando todos os outros sonhos
aterrorizadores me despertam? Porque é que o cenário deste sonho
era o meu próprio quarto, se era precisamente aí que me encontrava?»
E, finalmente, a questão fundamental: «Foi uma experiência real e, se
foi, o que aconteceu que me é tão doloroso recordar?»
Na sua carta ao Dr. R., Sheila agradece-lhe o sentimento de segu-
rança que a sua presença lhe transmitia durante as sessões de hipnose
e, em seguida, vai ainda mais além do que na carta ao Dr. G., ao falar
da sensação de realidade que tinha acerca da presença dos seres no
seu quarto no episódio de 1984 e do padrão aparentemente inten-
cional do seu posicionamento no quarto. Também ela ecoava a expe-
riência de tantos sequestrados, ao escrever: «Que pensamento
terrível e assustador o de que não podemos proteger a nossa própria
filha (referindo-se à suspeita de que Beverly também tinha tido
experiências de sequestro) na privacidade do nosso próprio lar». E,
ao despedir-se, Sheila concluía: «Penso que o nosso trabalho em
conjunto acabou realmente no dia em que o Dr. G. disse: 'Pessoal-
mente eu não acredito...' Eu sei o que vi e só posso dizer que esta
experiência mudou a minha vida... uma das primeiras perguntas que
o Dr. G. me fez», continuou ela, «foi se eu tinha uma imaginação
criativa. Levei oito anos para chegar aqui, portanto, acho que a
minha resposta é 'NÃO'... Eu vou compreender isto», terminava,
«ou morrerei tentando». Ao responder, cuidadosamente, à carta de
Sheila, o Dr. G. desejava as melhoras e aconselhava-a a esquecer os
seus sonhos mais perturbadores e a tomar um tranquilizante fraco, a
fim de obter «algum repouso» da sua angústia.
Pouco depois de ter escrito estas cartas, Sheila falou com o psi-
quiatra e amigo, Dr. T, que a encorajou a contactar-me. Em Maio,
tinha gravado a mini-série da CBS sobre sequestros, Intruders
(Intrusos). Embora ela própria não tivesse sido capaz de a ver, trouxe
consigo a fita para o encontro com o Dr. T., que supostamente seria
88 SEQUESTRO
aéreas comerciais e, quando Sheila era pequena, estava muito tempo
ausente. Embora reformado, ainda viaja muito, agora especialmente
entre o Maine e a Florida. Não admite ter alguma vez visto um
OVNI, disse Sheila, «e também não acredita neles». «Quando éra-
mos jovens, a minha mãe nunca perdia uma oportunidade de nos
ensinar as regras de etiqueta», escreveu-me Sheila, depois de ter
revisto o primeiro rascunho do meu resumo do seu caso. «Era uma
verdadeira senhora e sempre se esforçou por nos dar bons exem-
plos». Na opinião de Sheila, a mãe «protegeu-nos muito», quando as
crianças estavam a crescer, o que pode estar relacionado com o caso
do incesto.
Em pequena, Sheila frequentava a igreja presbiteriana, depois a
igreja congregacionista e, na escola secundária, começou a ir com os
amigos à igreja metodista, onde conheceu o pastor que seria o pri-
meiro a aconselhar-lhe ajuda psiquiátrica após a morte da mãe. Em
criança, frequentou a escola dominical e a Bíblia tornou-se impor-
tante para ela. Hoje, Beverly frequenta uma escola cristã. Sheila
sempre encarou Deus como uma «fonte de energia», mas as expe-
riências de sequestro ou, mais precisamente, a forma como essas
experiências complicaram o desgosto após a morte da mãe, desafia-
ram a sua fé. Segundo a Bíblia, disse-me Sheila pouco depois da pri-
meira regressão, «amarás a Deus mais do que a teus pais. Eu estava
zangada comigo mesma, porque não era isso que eu sentia».
Na infância e na adolescência, Sheila gostava de música e de
desportos e tinha uma vida social activa. «Gosto de estar com as pes-
soas», disse ela. Conheceu o marido, Jim, que é agora professor,
quando era ainda aluna do segundo ano da escola secundária e ele já
estava na faculdade. Depois da faculdade, Jim alistou-se no Exército
por três anos e encorajou Sheila a sair com outros homens, o que ela
fez, mas «o meu coração não estava lá». Perseguiu Jim activamente,
escrevendo-lhe todos os dias, enquanto ele estava na tropa. «Ele ten-
tou passar-me para o irmão», mas «eu continuei ali». Bastante
depreciativamente, afirma que quando Jim saiu da tropa «todos os
seus amigos da escola secundária e da faculdade estavam espalhados
por aí e eu era a única que ficara». Casaram-se em 1970 e Beverly
nasceu em 1975. Sheila afirma que tinham um bom casamento, até à
morte da mãe e ao começo dos sonhos eléctricos. Sheila frequentou
a faculdade e a escola de assistência social no Massachusetts,
obtendo o seu primeiro diploma em 1980. Com persistência caracte-
92 SEQUESTRO
quarto em que nos encontrávamos. Mais tarde, ela escreveu-me:
«A maior vantagem disto foi obter a certeza de que não estava só.
Eu sabia que você estava lá».
Sentindo-se confusa, Sheila levantou-se sobre os cotovelos e viu
diversas «daquelas coisas» a caminharem pelo corredor. Um deles
ergueu a mão, como para fazer sinal aos outros. Com a respiração
ofegante, e encorajada por mim a respirar profundamente e a con-
centrar-se em si própria, Sheila descreveu três figuras com «braços e
pernas delgados» que entraram em fila no seu quarto. Dois deles
ficaram aos pés da cama e as luzes intermitentes e o ruído cessaram
quando estes dois seres a fitaram, «apenas a olhar». Com um terror
crescente, Sheila disse-me que se queria deitar novamente, para que
os seres não a vissem, mas compreendeu que era inútil. «Eu sei que
eles virão ter comigo. Sinto-o», disse ela. Dois dos seres vieram para
junto dela e outro ficou a vigiar Jim. Ela olhou para os olhos deles e
viu «poder», mas não conseguiu falar mais disso.
Sheila compreendeu, então, que grande parte do seu terror provi-
nha do facto de já ter visto antes os seres («Eu conheço-os»). O medo
pareceu atingir um crescendo, enquanto o seu corpo estremecia em
horríveis convulsões e as coxas rolavam, ora tensas, ora distendidas.
Os seus olhos são «tão feios», disse ela e referiu que tinha medo de
que os seres lhe tocassem. Agitando-se e voltando-se de um lado
para o outro, Sheila viu uma luz branca mesmo por cima dela e sen-
tiu que os braços eram mantidos aos lados.
«Isto não é o meu quarto», anunciou ela e gemeu, «Quero ir para
casa. Não sei como vim até aqui». Havia, agora, muitos seres «indo e
vindo. E difícil contá-los, porque estão por toda a parte.» Sentiu que
tinha sido obrigada a «deitar-se» e disse que os seres «tiraram a
minha energia...Há poder naqueles olhos», declarou ela. Qualquer
coisa lhe tocou no abdómen e «eles não me largam os braços. Fazem
sempre isso». A seguir, sentiu uma «pressão horrível» e a dor de
«qualquer coisa quadrada» a penetrar no corpo através da parte infe-
rior da parede abdominal. «O assustador é que não temos o con-
trolo», diz ela. Com a minha ajuda, Sheila fez o possível para
esquecer os seus modos senhoris e exprimir toda a raiva e humilha-
ção que obviamente estava a sentir. Mas tudo o que conseguiu foi
dizer que gostaria de dar pontapés aos seres, atá-los e «mandá-los
para casa». Descreveu as suas «cabeças gordas», sem cabelos e «de
formato estranho» e afirmou: «Eles não gostam de nós».
94 SEQUESTRO
tarde, Sheila escreveu-me, dizendo como a primeira regressão tinha
quebrado o seu isolamento, validado a sua experiência e alimentado
a sua força e determinação. Ao rever o que tinha acoontecido
durante a primeira sessão, disse: «Não me interessa o que os outros
possam pensar. Sei o que vi». Falou, com desapontamento, de um
amigo em quem confiava e a quem tinha contado as suas experiên-
cias de sequestro. Mas o amigo «não acredita em mim», disse
Sheila, e lamentou que «as pessoas tenham um universo distinto
que conhecemos e não queiram trabalhar com nada que vá para
além desses limites».
Passámos em revista a primeira sessão, que ela recordava de
modo bastante exacto, excepto que, agora, achava que o instrumento
quadrado introduzido na sua parede abdominal era «rectangular»,
medindo aproximadamente 2,5 cm por 5 cm. Conscienciosa como
habitualmente, Sheila assegurou-me que não tinha tido intenção de
«mentir», mas estava tão desconcertada pela dor que não conseguia
falar claramente. Pediu-me «uma direcção, um objectivo» e sugeri-
-lhe que explorássemos mais aprofundadamente o incidente de
Março de 1984, recomeçando no ponto em que tínhamos ficado.
Sheila descreveu novamente as luzes intensas, o ruído, o seu
medo e confusão e como se sentira frustrada por não conseguir acor-
dar o marido. Falou de seres a entrarem no quarto e virem para junto
da sua cama e concentrou-se, mais uma vez, nos olhos do chefe. «Ele
assusta-me», disse ela, mas «tenho de vê-lo melhor». Agora, os
olhos pareciam pretos, e não castanhos, e olhar para eles fazia-a sen-
tir que «há todo este negro à minha volta». Sentia que «não podia
respirar», estava «manietada (sem poder mover-se)» e «coberta de
matéria negra... sentia-me como se estivesse dentro de uma caixa
preta». Teve a sensação de ter adormecido durante «dois segundos»
e «a seguir, vi uma luz, só branca, no topo... é demasiado intensa».
Depois, estava em cima da mesa, «sinto-me óptima» por um mo-
mento, antes de ficar muitíssimo assustada, quando lhe mostraram
«agulhas... pêlos olhos».
Os movimentos do corpo de Sheila e outros comportamentos,
descritos por Pam Kasey nas suas notas, contam a história desta
experiência revivida, muito mais poderosamente do que as palavras.
Abria e fechava as mãos e esticava os braços. As pernas contraíam-
-se e as sobrancelhas franziam-se. Os ombros ficavam tensos e tre-
mia quase convulsivamente. A respiração tornava-se ofegante e, em
96 SEQUESTRO
Neste momento, a cena mudou e foi mostrada a Sheila qualquer
coisa que se assemelhava a uma enorme janela de vidro colorido ver-
melho, com vigas cruzadas castanhas e douradas a separar as vidraças,
que se arredondavam vastamente na direcção de uma cúpula; estas
janelas cobriam todo o comprimento de uma extensa parede. A sensa-
ção que teve foi: «Estou realmente aqui». A cúpula em forma de cone
era tão pavorosa em toda a profundidade que se erguia acima de Sheila
que, «assusta-me olhar para ela». Ao mesmo tempo, a imagem parecia
muito bela, como «as luzes do norte... uma fonte de ouro puro». A sen-
sação de profundidade parecia ser dada por encaixes em forma de
disco que se erguiam em espiral. Quando perguntei a Sheila o que tor-
nava isto tão assustador, ela só conseguiu dizer: «É como um poder.
Não posso dizer mais nada». Ela disse: «Quero ir para casa», e não se
lembrava de mais nada. «Eles tiraram-me a memória».
Depois de sair da regressão, Sheila disse que se sentia triste, o
que a princípio atribuiu ao facto de se sentir «como se não estivesse
vestida» e de estar tão descontrolada. Tentanto recuperar os seus
modos senhoris, Sheila disse: «O desodorizante não serviu de nada
nestas circunstâncias. Estou encharcada». Mas, muito mais signifi-
cativamente, comentou como era perturbador descobrir que «o meu
corpo não me pertence».
O dr. Waterman ficou impressionado com o poder e a aparente
autenticidade daquilo porque Sheila passara durante a sessão e, no
decurso das semanas seguintes, lutou com a sua mudança de opi-
nião acerca do caso de Sheila, de forma a poder ajudá-la melhor,
«juntando-se a nós no mistério». Numa chamada telefónica de
acompanhamento, Sheila exprimiu a sua gratidão pelo nosso traba-
lho, falou do isolamento que sentira devido ao facto de ninguém
acreditar nela e manifestou a sua determinação «de forçar um sen-
tido de responsabilidade» na profissão psiquiátrica relativamente
às experiências de sequestro. Falou também do seu desejo de reali-
zar investigações, no sentido de integrar a sua experiência com os
prestadores de cuidados médicos relativamente ao sequestro com a
satisfação do paciente.
Vários dias depois da regressão, Júlia e Sheila mantiveram uma
longa conversa telefónica. Sheila queria saber se eu acreditava nela e
tinha várias questões sobre hipnose e sobre os processos de recorda-
ção e de esquecimento. Queria saber se poderia haver distorções na
hipnose e o que impedia as suas memórias de virem à superfície por
98 SEQUESTRO
perguntava: «De onde vêm eles?» E o mais perturbador para
Sheila, «pior do que o leque e a agulha e o tubo e a máquina de bar-
bear e que as agulhas na minha cabeça, era a escuridão... É uma
terrível experiência do negro», disse ela. «Olhar para os olhos
deles para tentar perceber como tinham ido ali parar e, em seguida,
ficar tudo coberto de negro».
Sheila tinha decidido aprofundar a experiência da Noite de Ano
Novo de 1989, na qual tinha experimentado a «electricidade» e sen-
tido que «algo me obrigou a deitar de novo», mas não tinha visto os
seres. Antes de começarmos a hipnose, recordou-se de ter acordado
por volta da meia-noite e novamente ao quarto para a uma, a ouvir
um ruído e sentido «como se alguém tivesse posto as mãos nos meus
braços e pernas». Estenderam-me de barriga para baixo no sofá,
estenderam-me. Sentei-me e não vi nada. Fiquei louca de medo.
Estava aterrorizada por estar sozinha.»
No princípio da regressão, revimos os acontecimentos dessa
Noite de Ano Novo. Numa entrada do seu diário de 12 de Janeiro de
1990, Sheila escrevera: «Desde então fico sempre aterrorizada à
noite. Foi o pior (sonho) que tive em muito tempo». Nessa noite, o pai
de Sheila, a sua irmã Melissa e a filha de Melissa, Kimberley, tinham
vindo passar a noite com Sheila, Jim e Beverly. Saíram por volta das
onze horas e Sheila foi para a cama às onze e meia «porque estava
zangada». Beverly tinha acabado de convencer Sheila a trocar os
quartos, porque o de Sheila era maior e tinha telefone. Explicando
que não tivera tempo de preparar o anterior quarto de Beverly para ela
própria dormir, Sheila decidiu dormir no andar de baixo num grande
sofá, no solário. Trouxe uma almofada do andar de cima e tapou-se
com uma manta afegã, sentindo-se triste por a sua mãe já não estar ali.
Sheila escreveu no seu diário que enquanto se preparava para se
deitar «estava louca de medo. Estava aterrorizada por estar sozi-
nha». O solário, que fica destacado num dos lados da casa, estava
«tão longe de Jim e Beverly». Lembrou-se do zumbido do humidifi-
cador e de ouvir o balouçar do pêndulo de um relógio do andar de
baixo. Crê que, apesar do medo, conseguiu adormecer. Foi acordada
cerca da meia-noite — o relógio do vídeo marcava 12.02, segundo as
suas notas de 12 de Janeiro de 1990 — e assustada por «fogos de
artifício», que pareciam provir do outro lado da rua, onde «havia
visitas. Estavam a receber nessa noite». Em seguida, foi assustada
por uma luz que entrava no quarto e disse: «É demasiado brilhante».
100 SEQUESTRO
— Onde? — perguntei-lhe.
— Junto da coisa cinzenta — seguiu-se uma luta, na qual Sheila
se sentia compelida a olhar para os olhos deles, mas também os evi-
tava e desejava «mandá-los embora». Comentou como os olhos
eram «grandes» e «intensos» e «nunca os vejo pestanejar».
Compelida a olhar para eles, reconheceu: «Eu vi os olhos». Embora
esta admissão, ou o facto de olhar para os olhos, ou ambas as coisas,
a fizessem sentir mais relaxada, Sheila sentiu, simultaneamente, que
isto a fazia «sentir-se como se estivesse louca, como se não soubesse
o que estou a fazer, como se fosse psicótica ou qualquer coisa do
género, como se estivesse desligada da realidade».
Quase a chorar, Sheila descreveu o terror de perder o controlo.
«Eles estão a controlar-me», disse ela. «Tenho de me render».
Sentia-se «explorada» por eles, mas ao mesmo tempo «que depen-
diam uns dos outros». Os seus pensamentos regressaram à luz
«demasiado intensa» que a aterrorizava. Então, Sheila viu qual-
quer coisa «cor-de-laranja» do lado de fora da janela, «muito perto
do chão». Com muita dificuldade, apesar de muito encorajada por
mim, só conseguiu dizer: «Vi uma grande massa oval, cor-de-
-laranja».
Sheila pediu «para voltar aos olhos e falar de como era depender
deles... Eles acabaram de dizer-me isto», disse ela depois de ter per-
dido o controlo. Reconhecendo que nem ela nem eu entendíamos
realmente o que.isso significava, Sheila disse: «dependemos um do
outro. Tenho de aceitar a sua (do ser) presença na minha vida» ou,
pelo menos, «que ele venha visitar-me durante a noite». Sheila não
acredita que ele possa «vir visitá-a durante o dia». Quando lhe per-
guntei como é que estas informações lhe tinham sido comunicadas,
disse: «Sei apenas. Sei o que ele pensa. Ele comunica, nas não sabe
dizer como». Ela não estava satisfeita com isto — «Não gosto dele
ali» — mas aceita a verdade que acabou de percepcionar.
Sheila teve grande dificuldade em se acalmar e sentar-se, de-
pois do fim da hipnose. Era evidente que ligava os olhos à escuri-
dão que tinha experimentado nas regressões anteriores. «Os olhos
são assustadores. Bem, eu estava a olhar para os olhos deles e, de
repente, estava rodeada de escuridão. Estava tudo negro». Desta
vez, não se sentiu rodeada de escuridão quando olhou para os
olhos; achou mesmo que tinha ficado mais tranquila, mas achou a
ideia de que «dependemos um do outro» assustadora, porque «não
102 SEQUESTRO
grandes mudanças de perspectiva do dr. Waterman: «opiniões muda-
das — algo está diferente». Vi-a no grupo de apoio a 14 de De-
zembro, três semanas depois da última sessão. Parecia mais
enérgica, com um olhar brilhante e directo e disse que se sentia mais
esperançada. Falámos dos seus esforços para ajudar outra seques-
trada, que, ao começar a compreender a sua experiência, se debatia
com um sentimento de impotência, tal como sucedera a Sheila.
COMENTÁRIO
E difícil para nós admitir que não sabemos alguma coisa. Em psi-
quiatria há uma tendência, talvez bastante natural, para tentar enqua-
drar os dados psicológicos e os fenómenos emocionais nas
categorias conhecidas. A absoluta incerteza é muito desagradável.
No caso de Sheila, o aparecimento dos «sonhos eléctricos» e de
outras características típicas dos estados traumáticos, a seguir à
morte da mãe, originaram uma certa lógica, que apontava para uma
explicação do seu caso baseada na não aceitação do desgosto,
depressão ou uma situação de stress pós-traumático relacionado
com a morte da mãe, de quem se sentia, realmente, muito próxima.
No entanto, diversos esforços terapêuticos orientados neste sentido
não conseguiram aliviar a perturbação de Sheila e, no final do Verão
de 1992, ela estava cada vez mais desesperada.
Em retrospectiva, o caso de Sheila apresentava várias caracterís-
ticas que não se enquadravam no diagnóstico de uma reacção retar-
dada ao desgosto ou de depressão, por si sós. Embora ansiosa
relativamente aos perturbadores e intrusivos sonhos eléctricos, o seu
principal sintoma, nada neles apontava para uma preocupação com a
perda, a separação ou outras características do desgosto pela morte,
nem estavam presentes a profunda perda da auto-estima e o senti-
mento de culpa que normalmente acompanham a depressão clínica.
Mesmo a impulsiva tentativa de suicídio em Julho de 1985 foi provo-
cada por um verdadeiro problema de confiança num terapeuta, num
momento em que se sentia particularmente desesperada e solitária.
Na realidade, Sheila apresentava características de uma situação
de stress pós-traumático, com ansiedade generalizada, sonhos per-
turbadores e dificuldade em dormir. Mas a questão a resolver diz res-
peito à origem destes problemas. A morte da mãe perturbou Sheila,
104 SEQUESTRO
anos, considerou autênticas as suas respostas sob hipnose, reflec-
tindo fortes experiências traumáticas, sem qualquer outra origem
aparente, além da relatada por Sheila durante as sessões.
Os fenómenos de sequestro desafiam as noções de real da comu-
nidade científica ocidental. Para nós, estes acontecimentos simples-
mente não são possíveis. No entanto, até ao momento, não dispomos
de qualquer explicação convencional para as experiências vividas
pêlos indivíduos como Sheila. A própria Sheila escreveu ao dr. G.
sobre o seu caso: «Simplesmente não faz sentido no mundo tal como
eu o conheço». Mas como Freud disse uma vez, a teoria não impede
que os factos aconteçam. Tudo o que nós, que nos dedicamos à saúde
mental, podemos exigir de nós próprios neste momento é manter as
nossas mentes abertas, quando tivermos de lidar com fenómenos que
não compreendemos, como a síndrome do sequestro por alieníge-
nas, e tentar não dar explicações prematuras. Faríamos bem em
seguir o mote de Sheila, como ela escreveu ao dr. Waterman em
1991: «Deixei para trás o meu DSM III-R». Ouvir, mesmo sem
saber, mas com vontade de explorar pode ser uma grande ajuda.
Embora Sheila tenha mais dificuldade do que outros sequestra-
dos em recuperar a memória das suas experiências e em ultrapassar o
seu conteúdo traumático, demonstra estar no início de um processo
de transformação, com o qual já estou familiarizado. Em associação
com a sua própria cedência de controlo, começa a reconhecer as con-
sequências negativas para si própria enquanto indivíduo, e para o
equilíbrio ecológico do planeta, que a nossa luta pelo poder e pelo
domínio provocaram. Ainda não sabemos se esta alteração da sua
consciência é simplesmente um produto marginal da sua tentativa de
ultrapassar as experiências traumáticas ou se é intrínseco ao próprio
fenómeno do sequestro. A este respeito é interessante que a expe-
riência de Sheila ao aceitar a sua interdependência em relação aos
seres alienígenas, seguida da sua preocupação pela ecologia da terra,
tenha ocorrido quando foi obrigada a fitar os olhos do chefe aliení-
gena e a ceder o controlo.
O fenómeno dos sequestros por alienígenas constitui um manan-
cial de informações potencialmente rico para a nossa compreensão
de nós mesmos e do universo que nos rodeia e do qual participamos.
Mas para disponibilizar estes conhecimentos, temos primeiro de
admitir a nossa grande ignorância acerca da natureza e dos seus
segredos. Tal como Sheila escreveu ao dr. R.: «Um dia, talvez oiça
«PESSOALMENTE, NÃO ACREDITO EM OVNI» 105
outra pessoa contar-lhe uma experiência semelhante. Também não
tenho qualquer explicação 'científica' para isto, mas isso não signi-
fica ignorância. Podemos admitir que a psiquiatria não tem todas as
respostas para a compreensão das doenças mentais; então, porque
deveríamos acreditar que a ciência tem capacidade para explicar
tudo o que acontece neste mundo?»
CAPÍTULO CINCO
O VERÃO DE 92
Scott tinha vinte e quatro anos quando nos encontrámos pela pri-
meira vez, depois de ele ter manifestado interesse em juntar-se ao
meu grupo mensal de apoio aos sequestrados. Na altura, estava em
tratamento com uma psicoterapeuta devido aos estados de ansiedade
resultantes das suas experiências de sequestro, e ela pensou que o
grupo poderia ajudá-lo, dando-lhe oportunidade de conhecer outros
sujeitos de experiência e permitindo-lhe partilhar os conflitos decor-
rentes dos seus encontros. Então como agora, a minha política é
encontrar-me pessoalmente com os sequestrados, antes de os incluir
no grupo. O caso de Scott ilustra as dramáticas transformações pes-
soais possíveis, quando um sequestrado se defronta com a realidade
das suas experiências de sequestro e com as poderosas emoções que
lhe estão ligadas. Scott também faz parte do número crescente de
sequestrados que descobrem uma dupla identidade humana e aliení-
gena, no decurso do seu trabalho exploratório.
Scott é um jovem alto, robusto e franco, cujos modos levemente
joviais escondem um cuidado e uma sensibilidade subjacentes, quali-
dades que se tinham expandido na altura em que o conheci. Embora
Scott tenha resistido à educação formal, manifesta uma inteligência
forte e indisciplinada. Scott trabalha como actor e realizador e cola-
bora com o pai no seu negócio de reparação de automóveis; é ainda
um construtor talentoso, tão capaz de reparar pianos, como automó-
veis. Toca piano desde criança e pretende ser autor de canções.
Também desejava ser piloto, mas «todos os tratamentos médicos» a
que foi submetido em consequência das experiências de sequestro
108 SEQUESTRO
dificultaram a realização desse desejo. «Sempre me mantive ocu-
pado», diz Scott, «para tirar da ideia o que 'me tem acontecido'».
No Verão de 1992, Scott atravessou um período em que o seu
habitual sentido de auto-defesa, vigilante, animal e carregado de
medo (chamando a si próprio um «maníaco da segurança» e
temendo todas as noites ser raptado, Scott electrificou a casa onde
vive sozinho, com um alarme rádio que activa à noite, instalou
câmaras de vigilância em vários locais como «meio de intimidação»
e um microfone na porta da frente com um altifalante junto da cama,
para poder vigiar durante a noite), deu lugar a sentimentos de vulne-
rabilidade, impotência e afastamento da sua família. «Sentia-me
completamente aberto para qualquer um me derrubar, ou fazer o que
quisesse». Em vez da pessoa controlada que sempre fora, Scott des-
cobriu que «o 'verdadeiro' era o indivíduo descontrolado... Fiquei
assustado», disse ele. «Quero dizer que senti que podia ser des-
truído. Não me sentia nada seguro... O chão que eu pisava era terri-
velmente escorregadio». Foi esta abertura, a entrega do controlo,
que preparou o caminho para a transformação da relação de Scott
com as suas experiências de sequestro e para mudanças profundas na
sua forma de sentir a sua própria consciência e identidade.
A irmã de Scott, Lee, dezanove meses mais nova, é também uma
sequestrada, embora tenha sido mais lenta a recuperar as memórias
das suas experiências. Durante muitos anos, agarrou-se à possibili-
dade de que o seu medo da intimidade sexual fosse resultante de
abuso sexual por parte do seu pai ou outra pessoa. Uma história cui-
dadosa tornou impossível consubstanciar qualquer possibilidade de
abuso sexual que pudesse explicar os seus medos, enquanto uma
sessão de hipnose, que realizámos em Novembro de 1992, revelou
uma experiência perturbadora, ocorrida durante os primeiros anos
da adolescência, durante a qual Lee foi transportada para bordo de
um OVNI por seres alienígenas, uma sonda foi introduzida na sua
vagina e retirado um qualquer tecido, talvez um óvulo. Dez dias
depois desta sessão, Lee embarcou para uma viagem de vários
meses à Índia, previamente planeada, com o objectivo de alcançar o
desenvolvimento espiritual e, especialmente, para estudar o
budismo tibetano.
Depois de ler o meu relato do caso do irmão, que a mãe lhe tinha
enviado para a índia, Lee pensou que o meu breve resumo das suas
experiências a apresentasse demasiado como uma vítima. «Eu
O VERÃO DE 92 109
quero ajudar dando a conhecer a minha história, para que as pessoas
sejam informadas». Gostaria de ver um relato «melhor aperfei-
çoado» para «retratar uma série de encontros que, não só originaram
traumas físicos e sexuais, como oferecem uma oportunidade única
de desenvolvimento espiritual e de sensibilidade face a todos os
seres sensitivos, desde os insectos até aos seres de outras dimensões
e sistemas planetários... Este ajustamento», continuou ela, «far-me-
-ia sentir menos como uma vítima de violação intergaláctica e mais
como eu a entendo (presentemente): uma experiência de algo que
quase fez explodir a minha cabeça com a expansão da consciência.
Sinto-me estranhamente grata». Num ponto anterior da carta, Lee
escrevera: «O budismo tibetano enquanto filosofia reconhece
grande parte dos encontros espirituais e «consciência» que os
sequestrados experimentaram».
A mãe de Scott e de Lee, Emily, de quarenta e oito anos, trabalha
em compra e venda de propriedades e apoia o negócio do seu
marido, Henry. É possível que seja também uma sequestrada, mas o
mais notável acerca de Emily, e este é um aspecto importante deste
caso, é a extraordinária firmeza e apoio que deu aos seus filhos. E a
única mãe que assiste regularmente às reuniões do meu grupo de
apoio e, embora tenha sofrido profundamente com as perturbações
relacionadas com o sequestro dos seus filhos, Emily aceitou total-
mente a realidade daquilo que eles contam. Além disso, tem um sen-
tido profundo e intuitivo de que o processo que estão a sofrer é um
processo de desenvolvimento pessoal e de iluminação final. Esta ati-
tude, seja qual for a sua razão última, é única na minha experiência
com os pais dos sequestrados.
O pai de Scott, Henry, é mecânico há vinte anos e iniciou recen-
temente um outro negócio. Henry é cauteloso ao falar dos seus senti-
mentos e opiniões, mas também apoia os filhos. Acredita naquilo
que eles contam, mas tem uma atitude do tipo «provem-me», perante
o fenómeno dos OVNI e dos alienígenas. Scott tem um irmão,
Robert, que não declarou qualquer envolvimento com os fenómenos
de sequestro. Emily conta que Robert ouve de forma «desligada»,
mas atenta, quando o assunto é abordado em casa. Robert é casado e
tem três filhos, duas raparigas gémeas de três anos e um rapaz de ano
e meio (em Janeiro de 1993), nenhum dos quais parece estar envol-
vido no fenómeno dos sequestros. Scott sente-se grato pela sua vida
familiar de modo geral positiva, e não consegue ligar as suas expe-
110 SEQUESTRO
riências de sequestro a quaisquer traumas ocultos ou outros aspectos
com ela relacionados. «Olho para a minha família e para o modo
como cresci e não encontro nenhuma ligação», diz ele.
Quando encontrei Scott pela primeira vez, ele debatia-se há
vários meses com um trauma relacionado com uma experiência de
sequestro ocorrida em Abril de 1990, na qual viu conscientemente
pequenos seres («os tipos pequeninos») no seu quarto. Ligou esta
experiência com a recordação de ter visto esses mesmos seres no seu
quarto e um «disco voador» lá fora, quando tinha dez anos. Através
de organizações ligadas aos OVNI e de uma longa cadeia de reco-
mendações, foi finalmente aconselhada a Scott uma terapeuta. Ela
ajudou-o bastante e, no decurso do seu trabalho, que incluiu várias
sessões de hipnose, ele recuperou a memória de experiências de
sequestro ocorridas quando tinha apenas três anos. Desde Novembro
de 1991 que Scott assiste regularmente às reuniões do grupo de
apoio e temo-nos mantido em contacto, mesmo fora destas reuniões.
Realizámos duas sessões de hipnose em Março e Dezembro de
1992, em que Scott procurava descobrir e exprimir mais intensa-
mente as suas emoções ocultas e explorar um modelo de cura mais
investigante e menos terapêutico.
Pormenores da história dos primeiros anos de Scott foram obti-
dos a partir dos registos clínicos do Centro Médico do Hospital
Infantil de Boston, desde que aos catorze anos foi examinado
devido a «episódios confusos anteriormente classificados como ata-
ques». Quando tinha seis meses, a mãe participou que ele sofrera um
ataque associado a uma febre e afirmou que no seu quinto aniversá-
rio tivera um «ataque generalizado», sem febre, mas acompanhado
de dores de ouvidos. Nessa altura, não foi observado por um médico,
mas telefonaram ao seu médico assistente e o ataque foi atribuído à
«excitação» do dia. Agora, Scott vê esse momento como um «ataque
de pânico posterior ao sequestro».
A primeira experiência de sequestro da qual Scott se recordou
ocorreu quando tinha três anos. No Verão de 1991, com a ajuda de
hipnose, ele e a sua terapeuta estavam a explorar acontecimentos
relacionados com o período em que tinha nove anos, quando «saltei
para trás, para quando tinha três anos e estava a brincar lá fora na
lama... e de repente... bum! Voltei-me, estava a brincar com os meus
camiões, e eles estavam ali.» Pelo canto do olho, viu dois seres apa-
recerem do nada e, em seguida, uma espécie de barra «cobriu-me».
O VERÃO DE 92 111
Lembra-se de correr para a mãe. Depois de ter sido devolvido, sen-
tiu-se frustrado porque não conseguia contar o que tinha acontecido.
«Vi umas formigas grandes lá fora», disse ele. Ao recordar esta
experiência, Scott estava tão alarmado («Saltei literalmente para
fora do sofá»), que interrompeu as sessões de hipnose até à sua pri-
meira sessão comigo.
A partir dos oito anos, Scott foi levado repetidamente a médicos,
especialmente neurologistas, para análise e tratamento de frequentes
dores de cabeça latejantes, que começaram quando tinha seis anos, e
de uma espécie qualquer de «indisposições» ou «ataques», que
foram muito mal explicados como ataques de «estranhos sintomas»,
«devaneios» ou «episódios confusos». Inicialmente, Scott foi des-
crito como «um inquieto rapaz de oito anos». As dores de cabeça
foram diagnosticadas como «enxaquecas atípicas» e tratadas com
analgésicos fracos (para aliviar as dores). Um primeiro electroence-
falograma (EEG), durante este período, mostrou uma ligeira anor-
malidade, mas os que se lhe seguiram estavam todos normais. No
decurso dos anos seguintes, Scott foi tratado com doses substanciais
de vários medicamentos anti-convulsivos, que deram poucos resul-
tados. Uma anotação de doente externo do hospital regista «alucina-
ções visuais» desde os doze ou treze anos, em que Scott afirma ter
visto um triângulo colorido a girar e «imagens como a de uma
mulher ('figura feminina', segundo Scott) inclinada sobre a sua
cama, carros, cenas exteriores, etc».
Quando Scott tinha dezasseis ou dezassete anos, o diagnóstico
dos ataques deu lugar a «componentes psicoemocionais», as dores
de cabeça tinham-se tornado originariamente em «tensão» e as alu-
cinações foram descritas como «sentimentos paroxísticos»; os elec-
troencefalogramas continuavam normais. Aos dezoito anos foi
considerado como sofrendo de depressão e «indiferença». Aos deza-
nove anos, a medicamentação anti-convulsiva foi interrompida e ter-
minaram as consultas médicas. Scott ressentia-se daquilo que mais
tarde veio a considerar como procedimentos médicos inadequados e
desnecessários. «É simplesmente incrível a quantidade de tretas
médicas», disse ele quando nos encontrámos pela primeira vez, e no
grupo de apoio, um ano mais tarde, pôs objecções ao que chamava
de «medicação ao calhas».
A excepção dos medos nocturnos, da melancolia, da dificuldade
de concentração e outros sintomas, que levaram os pais a consultar
112 SEQUESTRO
tantos médicos para tentar compreender o que se passava, Scott
sente que teve uma infância feliz, com muitos amigos e actividades.
Os sintomas de base de Scott têm uma relação complexa, mas
não muito clara, com as experiências de sequestro da sua infância.
Scott pensa que eram «instantâneos», memórias revividas dos
sequestros anteriores. Emily perguntou-se repetidamente «Onde é
que eu estava?», quando Scott e Lee sofriam os sequestros; no
entanto, em comparação com a maioria dos pais de crianças seques-
tradas, Emily e Henry foram particularmente protectores.
«É espantoso», escrevia-me Emily em Fevereiro de 1993, uma
semana depois da sua própria primeira sessão de hipnose, na qual a
profundidade da sua dedicação aos filhos foi confirmada, «que tudo
isto estivesse a acontecer mesmo debaixo dos nossos olhos, por
assim dizer, e que aparentemente não tenhamos dado por isso —
pelo menos, conscientemente — e lembrar os comentários de Scott
acerca de vê-los no seu quarto, um disco voador lá fora, o cão posto a
dormir, correndo para o nosso quarto e Henry a ir lá fora, com a
arma, para ver o que se passava. Lembramo-nos disto tudo, mas
estava no fundo da memória até que tudo ressurgiu, há alguns anos
atrás, quando Scott perguntou: 'Lembram-se de quando eu era
miúdo?' e nós respondemos: 'Claro que sim!'». Mais tarde, Emily
escreveu-me que ela e Henry receavam um assaltante ou um intruso
e também que pensaram que Scott tivera um pesadelo.
Scott lembra-se que os encontros da sua infância tendiam a ocor-
rer quando ele e Lee estavam a brincar lá fora, ao passo que Lee se
lembra de «uma pequena fossa» junto à casa, onde ela e Scott costu-
mavam brincar frequentemente e que, agora, ela crê ter sido um dos
locais dos sequestros. Lee diz que «costumávamos gostar muito
daquele sítio», mas quando era adolescente deixou de ir lá. «Pensava
naquele lugar como um lugar especial». Quando Pam Kasey visitou
a família na sua casa do Massachussets, em Março de 1992, Scott e
os seus pais falaram do aparecimento de vários OVNI, testemunha-
dos por toda a família ao longo dos anos. Scott lembra-se de «ter
visto uma nave» quando tinha oito ou nove anos e de o ter contado ao
tio. Mas uma experiência de sequestro, que ele qualifica de «grande»
e que tinha permanecido «enterrada» na sua memória até surgir
numa sessão de hipnose com a sua terapeuta, começou no seu
quarto, quando ele tinha dez anos.
Scott viu um «disco voador lá fora» e, em seguida, viu vários
O VERÃO DE 92 113
seres entrar no quarto. Puseram o cão, que estava no corredor, a dor-
mir, «de qualquer forma, com o bastão... Depois de terem acabado
comigo», Scott ficou com medo «porque sabia que eles iam subir
para o quarto dos meus pais». Scott recorda: «Corri lá para cima —
depois do acontecimento — e contei-lhes o que tinha sucedido e
disse que estava um disco voador lá fora e o meu pai foi buscar a
arma. Estava cheio de medo — todos estávamos — pegou na arma e
foi lá fora e não havia nada, para além da natureza». Scott recorda,
ainda: «Quando era criança, tinha muito medo de que matassem os
meus pais». Para ele, os seres pareciam «ter um poder maior que os
pais». Apesar dos seus temores, Scott também sentia que os seres
eram «mais sábios do que os pais», embora não tenha a certeza se
isto se referia «aos próprios seres» ou «à sabedoria criada por toda a
experiência». Scott descreve a «telepatia» que experimentava
durante os encontros como «um canal de dois sentidos. Eles lêem os
nossos pensamentos e nós podemos ler os deles. É bastante traumati-
zante devido à estranheza da sensação».
A experiência de sequestro seguinte de que Scott se recorda
refere-se a uma figura feminina inclinada sobre a sua cama, quando
ele tinha doze ou treze anos, e que foi mencionada mais atrás na
ficha de paciente externo do hospital. Mais ou menos por esta altura,
Scott foi aconselhado a consultar um psicólogo, para determinar se
existia alguma causa emocional que justificasse as suas perturba-
ções. Mas mesmo através de uma demorada psicoterapia, não foi
possível determinar a sua origem. O encontro com a figura feminina,
que foi parte de uma experiência de sequestro, será relatado em por-
menor, quando falarmos da segunda sessão de hipnose comigo.
Scott não se lembra de quaisquer outras experiências de sequestro,
até Abril de 1990, quando viu conscientemente várias entidades no seu
quarto, depois de, previamente, ter sentido a presença delas na sua
mente. «Quem quer que fossem essas pessoas, não eram deste mundo»,
afirmou ele no nosso primeiro encontro. «Eram os mesmos. Eu sabia-
o», disse ele, que tinham estado no seu quarto quando tinha dez anos.
Alarmado com a experiência, procurou ajuda, tal como foi anterior-
mente explicado. Em várias sessões de hipnose com a sua terapeuta,
Scott recordou-se de ter ficado aterrorizado, quando um instrumento
semelhante a uma torneira foi colocado no seu pénis, «fios» ou «cabos»
ligados aos testículos e uma amostra de esperma retirada, enquanto ele
jazia, aterrado e paralisado, numa mesa dentro de um OVNI.
114 SEQUESTRO
Depois da nossa consulta inicial e depois de Scott ter assistido a
várias reuniões do grupo de apoio, a sua curiosidade acerca das pró-
prias experiências de sequestro aumentou e pretendeu explorá-las
mais profundamente, porque «afectaram tanto a minha vida».
Entretanto, a sua vida pessoal estava a complicar-se. Quando o
conheci, Scott falou-me de uma situação de tensão na sua relação
com a namorada, da sua tendência para «se agarrar» e «não largar».
Na reunião do grupo de apoio de Janeiro de 1992, Scott disse que
embora inicialmente o tivesse apoiado em relação às suas experiên-
cias de sequestro, deixara de o fazer «quando realmente foi necessá-
rio». Mais ou menos nesta altura, Scott teve a oportunidade de
partilhar o seu conhecimento directo dos sequestros, ao vivo, na
cadeia de televisão CBS de Los Angeles, onde o documentário dra-
matizado em dois episódios sobre este fenómeno, Intruders, estava a
ser filmado, para ser exibido em Maio. Durante duas semanas, no
mês de Fevereiro, Scott ia ao estúdio todos os dias, o que achou bas-
tante estimulante. Deu uma valiosa contribuição para a compreensão
dos fenómenos de sequestro a todo o elenco e a toda a equipa de fil-
magens e travou amizade com uma actriz, cuja filha poderá ter tido
encontros.
Na reunião do grupo de apoio de 24 de Fevereiro, Scott, acabado
de regressar de Los Angeles, falou do pressentimento de que estamos
a ser «preparados para» qualquer coisa, que talvez existisse um
«plano» qualquer, que nós não dominamos e que «outros» estão a
«dirigir o espectáculo... Ultrapassar a fase do trauma revelou as verda-
des, o lado espiritual oculto sob as experiências», e continuou a falar
de «um poder superior» que operava nas suas experiências. Scott
recordou que «mesmo quando me acontecia em criança» sentia que
tinha de tentar «ser capaz de ficar no mesmo quarto sem entrar em
pânico, sem ter medo». O episódio de Abril de 1990, disse ele, «foi um
passo em frente em termos de intensidade, sobretudo, e quase como
um teste, mas existe declaradamente essa raiva, meu Deus... uma
raiva de lutar contra ser tocado, ser controlado por outrem».
Nesta reunião, Scott falou ainda de ultrapassar «a parte traumá-
tica» e de desenvolvimento pessoal. As suas experiências de seques-
tro, segundo ele, tinham-no feito compreender que existe «uma
quantidade considerável de informações na minha cabeça que não
consigo compreender». Sugeriu que os alienígenas nos estão «a aju-
dar a crescer de forma a podermos compreendê-las... Estão a for-
O VERÃO DE 92 115
mar-nos até chegarmos ao ponto em que possamos compreendê-las
e lidar com elas». Depois desta reunião, Scott optou por realizar a
sua primeira sessão de hipnose comigo, a fim de ultrapassar definiti-
vamente e, conforme esperava, ir para além da dimensão traumática
dos sequestros e descobrir o seu significado mais profundo, tanto
para ele, como para os outros.
Scott chegou a minha casa no dia 16 de Março com Ann, a actriz
que conhecera em Los Angeles. Antes de Scott entrar, comigo e com
Pam, no quarto do andar de cima, onde, nessa altura, eu efectuava as
regressões, conversámos um pouco na sala sobre o que a experiência
de desempenhar tal papel significara para Ann, a sua oposição às
partes sensacionalistas e inexactas do argumento e os seus delicados
esforços no sentido de manter a integridade do papel desempenhado.
Antes de iniciar a regressão falámos dos temores de Scott e das
suas possíveis experiências de sequestro posteriores aos aconteci-
mentos de Abril de 1990, na qual concordámos em nos concentrar.
Não tinha recordações de sequestros distintos, mas falava de uma
vaga «coisa de tipo nebuloso», de uma luz azul que entrara uma
noite no seu quarto, inexplicáveis marcas como que de agulhas que
apareciam frequentemente nos seus braços e a forma como, em
diversas manhãs, lhe faltava misteriosamente a peúga esquerda.
Scott falou do medo da morte e da solidão e de se sentir como «algo
fechado numa gaiola, um animal, uma cobaia». Passámos em revista
os pormenores da experiência de Abril de 1990 e Scott resumiu mais
uma vez os pormenores mais assustadores das sessões de hipnose
anteriores com a sua terapeuta. Assegurei-lhe que o não deixaria
quando estivesse a sentir-se enjaulado e só durante a nossa sessão.
Depois da indução hipnótica, Scott começou quase imediata-
mente a dizer que se sentia «zangado». Em seguida, reviu os aconte-
cimentos daquele fim de tarde de Abril, antes de o sequestro
começar. Tinha bebido um par de vodcas com laranja, tocado piano e
falado da sua vida em geral com o pai e a mãe, que estavam na sala a
ver televisão (na altura ainda vivia com os pais). Foi para a cama um
pouco mais cedo do que o habitual — às dez horas — porque se sen-
tia frágil e vulnerável acerca do curso da sua existência. Enquanto se
preparava para dormir e «se enfiava na cama», Scott sentiu-se ansi-
oso sobre a filmagem de uma nova cena que estava planeada para o
dia seguinte.
Scott lembra-se de estar a ler uma revista e, antes de adormecer,
116 SEQUESTRO
sentir que os seres estavam «lá, no meu pensamento». À medida que
o seu medo aumentava na nossa sessão, Scott falou de perda da inti-
midade mental e de como tais sentimentos eram familiares. O quarto
não tinha porta e uma luz inexplicável provinha da vizinha sala de
lavagem e secagem de roupas. A respiração de Scott era agora alta e
ofegante, enquanto falava de «seis deles» com cabeças «direitas» e
«angulares» que «me perseguiam». Em seguida, viu uma «vareta de
ponta redonda» aproximando-se na sua direcção, que Scott relaci-
ona com a forma como foi anestesiado. «Eles sabem que estou
consciente», disse Scott, e «puseram-me a dormir», tocando-me
com uma vareta atrás da orelha, para que «não pudesse mover-me».
Neste momento, o «zumbido» que soava aos seus ouvidos tornou-se
num som de campainha e «perdi o controlo do meu corpo». A
seguir, tudo o que Scott viu foi um aparelho de televisão «a fritar».
Recordações da sua vida passaram-lhe rapidamente diante dos
olhos, como «tantas vezes» sentira acontecer durante os sequestros,
e sentiu que lutava para proteger a sua mente «para que não pudes-
sem tocá-la». Depois disto, perdeu literalmente a consciência,
embora estivesse a repetir «o mais rápido possível 'Tenho de me
lembrar, tenho de me lembrar'».
A seguir, Scott lembra-se de estar deitado numa mesa, na pre-
sença de duas figuras que pareciam médicos, com uma estranha pele
matizada de branco e moreno, usando «óculos» e vestindo batas
brancas, e vários seres mais pequenos, vestindo «fardas do exér-
cito». Os seres tinham olhos profundos e escuros, ligeiramente oblí-
quos, contornados de cinzento. «Odeio-os» porque «me tiraram à
minha mãe quando eu era pequeno», disse Scott e «por não me dize-
rem quem são». «Eles têm curiosidade acerca de mim» e «eu tenho
curiosidade, mas odeio o que me fizeram».
—O que fizeram?—perguntei.
— Usaram-me.
A seguir, os seres colocaram uma «coisa parecida com uma tor-
neira, com força de sucção» sobre o pénis de Scott. Este instrumento
estava ligado, por meio de um tubo, a uma caixa que se encontrava
ao lado da mesa. Neste momento, Scott estava com tanto medo que
teve uma espécie de experiência fora do corpo, uma vez que se viu a
si próprio deitado, a cabeça sobre uma almofada que parecia um
bloco e quatro dentes a serem premidos contra o seu pescoço,
mesmo abaixo da nuca, que ele também sentia que estavam a ser
O VERÃO DE 92 117
empurrados. Scott pensa que eram uma espécie de «eléctrodos», uti-
lizados para controlar e manipular os seus movimentos e sentimen-
tos. Nesta altura da nossa sessão, tal como no mesmo momento da
experiência, Scott sentia-se calmo, embora zangado, quando pen-
sava naquilo que lhe tinham feito.
Encorajei Scott a concentrar-se através da respiração e a expri-
mir todos os sentimentos que estivessem perto da superfície. Soltou
um longo rosnido, enquanto falava do puro terror que sentira, da sen-
sação de violação e do medo de ser magoado fisicamente. Reparou
na sua tendência para construir rapidamente muros de protecção. O
quarto estava agora mais iluminado e, pela primeira vez nesta ses-
são, falou dos «fios» ligados aos seus testículos. Eram estes «fios»,
observou Scott, combinados com o instrumento de sucção colocado
no pénis, que estavam a estimular a erecção e «estavam a fazer que
acontecesse» e a «tirar coisas», ou seja, o seu «esperma». «Toda esta
experiência», disse Scott, «parece inacreditável».
Os seres informaram Scott telepaticamente de que estavam a
«retirar mais liquido branco» com um objectivo. Estavam a utilizá-
lo «como pai... a tirar os meus qualquer coisa... os meus bebés».
Scott sabia que «todo o líquido» que lhe retiraram seria utilizado
para «fazer bebés». Neste momento, Scott foi tomado de uma
intensa vergonha e eu expliquei-lhe que não tinha nada de que se
envergonhar, porque se vira confrontado com poderes ou formas de
energia contra os quais era totalmente impotente. «Estou zangado»
disse ele, gemendo de novo, mas «não posso lutar... Eles sabem
muito precisamente o que estão a fazer», salientou Scott, «é por isso
que o encobrem. Não querem que nos recordemos».
Fiz Scott regressar novamente ao aspecto traumático e vergo-
nhoso da experiência. Mais uma vez, ele vacilou ao reviver a sua
humilhação. «Não me lembro. É demasiado doloroso», disse ele,
«demasiado emotivo... Não tive escolha», admitiu, «a culpa não é
minha». Mas acrescentou rapidamente: «Eu devia ter...»
— Disparate — disse-lhe eu e repeti o que já lhe tinha dito sobre
os poderes do universo que estão para além do nosso controlo. Mais
uma vez, Scott expressou a sua raiva e eu assegurei-lhe que «não
havia nada que pudesse ter feito».
Depois disto, Scott recorda-se de ter sido «deixado na cama» no
seu quarto, sentindo-se assustado e também zangado, mas não se
lembrava como tinha regressado. Tinha a sensação de que os seres
118 SEQUESTRO
tinham estado «a mexer na sua cabeça», deixando informações de
um tipo a que ele não tinha acesso. Depois de sair da regressão, Scott
foi surpreendido pelo poder das emoções experimentadas. «Nunca
senti essas emoções antes, nunca, nunca». «Soube bem», disse ele,
exprimir com a sua própria voz e o seu próprio corpo emoções tão
fortes e reprimidas. A intensidade da sua raiva preocupava-o um
pouco. «Tenho um medo de morte dos danos que possa causar»,
disse ele. «Toda a experiência», afirmou, «quando é novamente
vivida pelo corpo liberta estas coisas. Nós somos os padrões emo-
cionais que estruturam as coisas e as nossas reacções». Também
estava intimidado com a intensidade e luminosidade da luz que tinha
visto, quando se encontrava sobre a mesa. Em consequência da
regressão, sentia que tinha mais acesso, a partir desta realidade
(«normal»), às experiências vividas durante o sequestro. Scott ficou
também com a sensação, vulgar entre os sequestrados, de que a sua
mente tinha sido manipulada «electricamente» ou que tinham inter-
ferido nela. Tinha consciência de que ainda havia «muros por toda a
parte» e de que havia muito mais coisas dentro dele, de que gostaria
de recordar-se.
O período de nove meses entre as nossas duas regressões foi,
para Scott, um tempo de rápidas mudanças. Trouxe Ann, que ainda
estava em Boston uma semana depois da primeira regressão, à reu-
nião do grupo de apoio realizada a 23 de Março. Informaram o grupo
acerca do progresso da mini-série. Durante a reunião, Scott manifes-
tou um interesse crescente por temas filosóficos e religiosos, tais
como «quem controla» e as possíveis ideias de Deus. Por essa
mesma altura, Scott apareceu várias vezes na televisão, incluindo
um horrível espectáculo num canal de Boston, em que foi humi-
lhante, mas não invulgarmente, apresentado como um jovem que
tivera relações sexuais com alienígenas. No decurso da Primavera,
Scott começou a ter grandes dificuldades em conciliar o estímulo e a
tensão relacionados com as suas múltiplas aparições em público e
teve reuniões mais frequentes com a sua terapeuta, a propósito desta
situação. A sua terapeuta e eu discutimos o caso e eu recomendei
Scott a uma psiquiatra do meu hospital, para que lhe receitasse um
tranquilizante fraco, para ajudar a reduzir a tensão. Ela descreveu
Scott como inicialmente deprimido, ansioso, «muito vulnerável» e
confuso acerca daquilo que lhe acontecera. Pareceu-lhe ser uma pes-
soa traumatizada, que tinha sofrido «uma espécie diferente de
O VERÃO DE 92 119
trauma», manifestando a hipervigilância e a dificuldade de relaxa-
mento «característicos dos sobreviventes de outros traumas».
Relativamente à história do sequestro, «Não sei o que pensar», disse
ela. «É óbvio que qualquer coisa de mau lhe aconteceu».
Uma das consequências da crise de impotência e vulnerabili-
dade de Scott no Verão de 1992 foi reunir o apoio da sua família,
especialmente da mãe e da irmã, que começaram a assistir às reuni-
ões do grupo de apoio. Em Setembro, Scott sentia-se claramente
melhor, falava, no grupo de apoio, da necessidade do sentido de
humor, e continuava a queixar-se da constante intrusão da presença
alienígena na sua mente, uma espécie de perda de privacidade.
Emily, de forma comovente, contou ao grupo «como dois dos meus
filhos foram afectados» e falou da pouca compreensão que tivera do
«extremo terror» que Scott vivera durante os sequestros. Em
Outubro, Scott falava mais corajosamente de afastar o medo e da sua
luta para «aceitar» as suas experiências.
Durante o Outono de 1992, Scott falou cada vez mais da dimen-
são espiritual das suas experiências de sequestro. Na reunião do
grupo de apoio de 9 de Novembro contou como «o contacto com
eles» tinha «aberto qualquer coisa em mim... É quase como se nos
fosse dada a possibilidade de saltar para um reino espiritual, para o
qual nem sequer estamos preparados — como os Yogis, que têm de
executar tantas tarefas para alcançar um determinado ponto». Lee,
que estava prestes a partir para a Índia, falou dos «sofrimentos que as
pessoas frequentemente experimentam às mãos dos seus professores
espirituais». A reacção instintiva de medo que Scott experimentava
relativamente aos encontros com os alienígenas era uma «reacção
natural» ao «nível da espécie», quando confrontada com algo tão
profundo e estranho. Não podia «imaginar ninguém a reagir de
modo simpático ou a sentir-se seguro», pelo menos inicialmente.
Mas para o fim da reunião, Scott perguntou: «Quais são as minhas
opções?» e disse ao grupo: «Mesmo assim, o que eu penso muitas
vezes é no quanto estou zangado e preocupado e no quanto o meu
ego foi afectado ou afastado e, então, a única maneira de pensar
sobre isto se quisermos sobreviver é procurar ou encontrar o que
possa haver de positivo na experiência, mas, meu Deus, como é difí-
cil para mim nesta altura... Mas esta parece ser a única pista capaz de
me manter vivo».
A 16 de Dezembro de 1992, encontrei-me com Scott a seu
120 SEQUESTRO
pedido, para rever o seu percurso e, de acordo com o estado das coi-
sas, planear outra regressão. Nessa sessão, Scott disse-me que uma
noite, cerca de dez dias antes, como parte da sua crescente receptivi-
dade à presença alienígena, tinha pedido aos seres para «me darem
um sinal» de que realmente existiam. Cerca das duas ou três horas da
manhã, num estado de semi-consciência, experimentou a sensação
de que «alguém estava a tocar-me por trás». Ficou extremamente
assustado, mas o toque continuou — «quase como se estivessem a
brincar comigo». A materialidade da resposta ao seu pedido alarmou
Scott: «Pedi-lhes que me mostrassem alguma coisa e eles fizeram-
no... de certo modo», disse ele. Discutimos — as conversas com os
sequestrados encaminham-se frequentemente nessa direcção — a
questão de saber se os seres humanos em geral estavam preparados
para se aperceberem da presença alienígena. Tal como muitos
sequestrados, Scott sentia que a nossa atitude destrutiva face a qual-
quer coisa desconhecida ou estranha tornaria perigoso para os aliení-
genas manifestarem-se mais obviamente.
Muitos sequestrados começam a seguir um caminho espiritual
mais explícito, à medida que se conseguem abrir à profundidade e
significado das suas experiências. O próprio Scott, além da sua
curiosidade crescente acerca da dimensão espiritual do fenómeno,
tinha começado a consultar um perito em acupunctura e, mais recen-
temente, um curandeiro xamã. Estava também a desafiar cada vez
mais claramente o modelo tradicional de tratamento. Sobre alguns
dos terapeutas que consultara, Scott disse: «Eu sentia que podia
curar, que podia ajudá-los mais do que eles a mim, embora isto
pareça uma total arrogância». O seu pedido de realizar outra sessão
de hipnose fazia parte do desejo de Scott ultrapassar os traumas cau-
sados pêlos sequestros e estabelecer uma relação mais recíproca e
mutuamente comunicante com os seres alienígenas. Marcámos a
sessão para daí a cinco dias.
No início da sessão, falámos mais uma vez de como Scott se
sentira assustado, carente e vulnerável, mas no entanto mais vivo,
durante o Verão. Embora tivesse tido recentemente uma experiên-
cia de sequestro, resolvemos fazer uma regressão de «fim aberto».
Nos últimos meses, eu tinha chegado à conclusão de que, durante o
transe, a sabedoria da própria psique levaria o paciente onde ele
necessita de ir e de que o processo de cura, aceitação e reunião de
informações é melhor alcançado se não tomarmos como objectivo
O VERÃO DE 92 121
um dado sequestro. Antes da regressão, Scott falou do seu «medo
de se deixar ir» e da sua determinação de não se «conter» durante
esta sessão.
No começo da regressão, depois de diversas pausas de cerca de
trinta a sessenta segundos, Scott disse sentir a presença de «um
deles», de pé junto a uma mesa sobre a qual estava deitado de costas.
Tinha treze anos e disse que nunca tinha encarado ou recordado o
que lhe acontecera nessa idade. Apercebeu-se de um tubo cilíndrico,
que calculou medir cerca de 10 cm de diâmetro e que fazia parte de
uma máquina colocada junto a uma parede. A imagem do tubo, que
parecia apontado ao seu peito, era perturbadora e apresentava-se
alternadamente mais ou menos esbatida na sua consciência.
Também vislumbrava imagens de outras «ferramentas», como por
exemplo um instrumento em forma de banana, que se encontrava
numa mesa próxima.
Em breve se recordou de ter visto uma figura feminina não
humana transportando um tabuleiro com vários cilindros, cada um
deles contendo um pequeno bebé... «em tubos de ensaio... Estou ver-
dadeiramente furioso», disse Scott, «não sei o que eles estão a
fazer». A «mulher», que se tinha aproximado bastante dele (lem-
bremo-nos da «alucinação» que Scott tivera aos doze ou treze anos
de uma figura feminina inclinada sobre a sua cama), saiu do quarto e
Scott compreendeu que os alienígenas — provavelmente esta figura
— tinham estado a retirar as suas «sementes», para fazerem os bebés
que lhe tinham sido mostrados.
Scott compreendia agora que o medo o impedira de olhar direc-
tamente para os seres, embora tivesse atribuído este facto aos seus
artifícios. Também especulou se, caso se tivesse recordado de ter
visto os seres durante esta (ou estas) experiência(s), o teria podido
contar aos pais, quando os alienígenas lhe disseram para não o fazer.
Porque ele fazia «parte da família», explicara um dos seres.
— Se faço parte da família deles, porque é que estou aqui? —
perguntou Scott. Encorajei-o a explorar essa questão. Ele continuava
a obter imagens de um cilindro oco, com cerca de 15 cm de diâmetro
e 30 cm de comprimento, com um fluído claro lá dentro. «Quero ser
um deles» e «quero ser eu mesmo», disse Scott, «mas não posso ser
ambos».
— Porque não? — perguntei.
— Porque então não me sentiria em casa em nenhum dos lugares.
122 SEQUESTRO
A seguir, Scott lembrou-se de ter sido levado para uma enorme
sala subterrânea com paredes de rocha, num dos «muitos» elevadores
rápidos. Estava calor ali, mas «era melhor do que o lar», porque «eles
sabem tudo sobre mim. Não há segredos». No entanto, «é assustador»
e dá uma «sensação esquisita». Nesta altura, senti que Scott estava a
avaliar a realidade do que estava a acontecer com a sua mente analítica
e encorajei-o a limitar-se a contar a história em bruto, deixando os
juí-
zos de valor para mais tarde. «Não consigo simplesmente acreditar
que eles estão aqui», disse Scott. «Quando me vêm procurar sabem
tudo o que eu sei». Disse ainda que se sentia mal porque eles não o dei-
xavam falar destas experiências. «Porque é que eles não ficam?», per-
guntou-se ele. Não recebeu qualquer resposta a esta pergunta, excepto
que eles e nós «ainda não estamos preparados». Disse que os seres
estão a atravessar um processo de mudança física, «a fim de poderem
respirar aqui. Eles não respiram da mesma forma que nós.»
Scott revelou outros problemas que resultariam para ambas as
espécies, se a presença maciça dos alienígenas se manifestasse
demasiado cedo.
— Ainda não atingimos a velocidade deles — disse ele. — Eles
pensam muito mais depressa do que nós e vão fazer tudo para não
nos magoarem.
— Como é que o facto de pensarem mais depressa nos poderia
magoar?
— É confuso quando eles nos falam com as mentes — respon-
deu ele — demasiada informação. As nossas mentes não são utiliza-
das para esse tipo de contacto. Seria uma sobrecarga sensorial.
A partir deste momento, a sessão teve uma viragem interessante.
Scott admitiu que ele próprio insistira em negar a existência dos alie-
nígenas e eu pedi-lhe para averiguar exactamente o que é que estava
a negar. Para minha surpresa, ele respondeu «negar que sou um
deles». Admitir a existência dos seres significava que ele teria de
experimentar uma espécie de sentimento «vazio», uma nostalgia de
outro domínio. «Eu sempre soube», disse ele «que era diferente, que
não era deste mundo». Quando era criança, recorda Scott, «estava
sempre a querer fugir. Não conseguia entender. Podia fugir para
qualquer lugar, mas nunca lá chegava». Sabia que os seres não habi-
tam o nosso sistema solar.
Foi então que Scott entendeu porque nunca quisera olhar direc-
tamente para os seres. Com algum esforço, disse:
O VERÃO DE 92 123
— O meu lado humano não quer ver isto.
— Isto, o quê? — perguntei.
— Eles... O lado humano — continuou ele — não consegue enca-
rar o outro lado. O ser humano que há nele tem uma reacção de medo
«como um animal... Eles parecem animais e nós agimos como animais
amedrontados. É o instinto. No entanto, sublinhou ele, os homens têm
de «parar» e compreender que os alienígenas, a quem em criança cha-
mava «tintos» devido aos seus grandes olhos pretos, «estão vivos»
como nós. Temos de entender que, apesar de «parecermos diferentes»
e «pensarmos de modos diferentes... somos todos vida.»
A memória de Scott passou, então, para a visão apocalíptica de
que os sequestrados falam cada vez mais. O mundo conhecerá em
breve grandes mudanças. Os alienígenas só virão «quando for mais
seguro». Mas isso não acontecerá enquanto não houver «cada vez
menos» seres humanos, que morrerão de doença, especialmente for-
mas mais contagiosas de SIDA que atingirão as proporções de uma
peste. Estas coisas eram aterrorizadoras e muito tristes para Scott e
também sentia que não «lhe era permitido» falar sobre elas. Embora
se mostrasse firme nas suas convicções acerca disto, disse: «só
espero estar errado».
Nesta altura da sessão Scott passou a percepcionar as coisas do
ponto de vista dos alienígenas e viu a terra como um corpo azul,
abaixo dele. Tinha escolhido vir à Terra, vindo de outro planeta, por-
que «estava mais perto do nosso mundo». Não sabia o nome desse
planeta, mas era amarelo, em grande parte desértico e com falta de
água. Outrora, houvera árvores e água, mas qualquer coisa relacio-
nada com a «ciência» — não sabe bem o quê — «correu mal» e o seu
povo «foi para os subterrâneos». Scott sentiu-se «indisposto» por
dentro e soluçou, enquanto contava como a ciência tinha «destruído
o nosso planeta». Naturalmente, senti curiosidade em saber se Scott
tinha mais informações sobre o que acontecera e como. Mas ele não
sabia mais nada, excepto que a espécie alienígena «sabia o que ia
acontecer» antes da destruição ter lugar, mas parece ter sido impo-
tente para a impedir. Depois da regressão, Scott lembrou-se que a
destruição tinha ocorrido «devido a qualquer coisa que construíram,
mas não puderam deter» e que, no seu planeta, os alienígenas vivem
num «ambiente artificial».
Depois de alguma resistência, Scott acabou por admitir que a
intenção dos alienígenas era «viverem aqui» (na Terra), mas sem
124 SEQUESTRO
nós, a menos que «os homens mudem», caso em que «talvez seja
possível vivermos juntos». Em seguida, comparou os costumes dos
humanos com os dos alienígenas. Os seres humanos «são solitários»
e «não partilham». No reino alienígena «ninguém está no seu pró-
prio mundo» e «todos sabem tudo, não há segredos». Fiz-lhe per-
guntas acerca de si próprio. «Eu sou um deles», disse ele, mas
quando veste a sua identidade humana limita a sua capacidade de
amar e partilhar, devido à «sua própria ignorância».
— E que mais? — perguntei.
«Tradição», todo o «centro da minha vida, da minha indepen-
dência», disse ele. Devido ao «medo de serem magoados, não obte-
rem aquilo que desejam, medo de não receberem», os seres
humanos têm dificuldade em se «abrir e acreditar que é bom dar e
sentir amor.»
A mudança «tem de começar por algum lado», disse Scott, e eu
perguntei-lhe se tinha algum papel de chefia a desempenhar, como
intermediário entre as duas espécies. «Vai haver tanto para fazer»
disse ele e vai «levar tanto tempo». Perguntei-lhe se pensava que
ainda havia tempo. «Sim, penso que sim», respondeu ele. Scott
estava a ficar cansado, por isso, perguntei-lhe se havia mais alguma
coisa que quisesse dizer antes de terminar.
— Terá de ser feito de uma forma ou de outra — disse ele.
— O que é que tem de ser feito?— perguntei.
— Se não mudarmos, as coisas mudarão sem nós — e em
seguida acrescentou, muito triste: — Não me parece que possamos
viver com elas.
Depois da regressão, Scott sentiu-se atrapalhado, por causa do
que tinha revelado. Tinha dificuldade em acreditar nas informações
que recebera, porque «não há nada que as reforce enquanto estamos
a crescer». Um reino «não tem nada a ver com o outro», disse ele e só
muito raramente, se é que alguma vez, somos «confrontados» com a
existência do lado dos alienígenas. O medo simplesmente não existe
na «consciência» desse «lado» e, assim, lá existe uma maior liber-
dade. No entanto, é difícil para Scott e faz que se sinta triste e
assus-
tado «admitir alguma coisa sobre» o mundo alienígena,
especialmente que faz parte dele. Porque isso significa que «não sou
um de nós (humanos)». Então, conversei com Scott acerca da possi-
bilidade de conciliar as suas identidades humana e alienígena e ele
recordou-se de como «não funcionou quando eu era criança... Não é
O VERÃO DE 92 125
assim que as pessoas vivem», disse ele. «As pessoas são diferentes».
Falei-lhe de quatro ou cinco outros «agentes duplos» com quem
estava a trabalhar e da possibilidade de se juntarem todos num
grupo, o que ele achou uma boa ideia.
Depois desta sessão, Scott sentiu um grande alívio, como se lhe
tivessem tirado de cima um enorme peso. Lembrava-se de que,
desde a mais tenra infância, sentia que tinha «duas personalidades» e
falou de como isso sempre o fizera pensar que era «doido».
Presentemente, acredita que as suas dúvidas e a sua recusa das expe-
riências alienígenas foi um processo destrutivo na sua vida e inter-
roga-se acerca do papel que a telepatia poderá desempenhar na
existência da dupla identidade.
Antes de concluirmos, Scott, Pam e eu falámos ainda de qual
poderia ser o objectivo do projecto alienígena/humano. «Não acho
que eles queiram ver-se livres de nós. Penso que estão a conquistar
uma parte de nós». Então, «eles terão tudo o que nós temos e tudo o
que eles têm». Mas há dificuldades na conciliação das nossas duas
espécies, porque «você e eu, tal como somos, talvez não possamos
miscigenar-nos».
Em seguida, especulámos acerca da relação entre a presença
activa dos alienígenas no nosso planeta e a destruição acelerada e
catastrófica do ambiente da vida na terra. «Não é uma mera coinci-
dência», disse Scott. Dadas as informações recebidas, Scott duvida
que possamos sobreviver à «nossa catástrofe» tão bem como os alie-
nígenas sobreviveram à sua. «Para eles não se tratava dos primeiros
passos da ciência. Quero dizer, a sua ciência já estava bastante avan-
çada quando aquilo aconteceu, o que quer que fosse... Eles tinham os
recursos necessários» para sobreviver. Pressionei Scott para que dis-
sesse mais do que sabia acerca da relação entre as nossas duas espé-
cies. «Não é apenas preto e branco», disse ele, «os dois lados. Há
uma correspondência entre os dois».
A minha última questão estava relacionada com a sua relutância
em olhar para os olhos dos alienígenas. Ele respondeu-me que
quando estava a experimentar a perspectiva alienígena, sentia que
estava a ver a realidade através dos olhos deles. Mas como humano
«estava assustado porque estaria a olhar para mim mesmo».
— Para si mesmo, quem? — perguntei-lhe.
— Como um deles — replicou. Pressionei-o para dizer o que é que
isso tinha de tão assustador, mas ele não sabia. Limitou-se a
acrescentar:
126 SEQUESTRO
— Toda a minha vida tem sido inútil. Quero dizer, tudo o que fiz
foi insignificante.
— Comparado com quê? — perguntei-lhe.
— Se eu tivesse compreendido isso (a sua complexa dupla iden-
tidade) há muito tempo — respondeu ele.
No dia seguinte à regressão Scott disse-me que se sentia «em
paz» e que «todas as minhas perguntas simplesmente desapareceram
muito depressa. É espantoso». A 8 de Fevereiro disse ao grupo de
apoio que «agora se sentia bastante auto-suficiente». A 23 de
Dezembro escreveu-me uma carta, acompanhada de um cartão de
Boas Festas. Depois de escrever enfaticamente acerca do «enorme»
peso que pensava estar associado ao «que você sabe», punha-me a
par de outras informações, que haviam surgido depois da regressão.
«O sucesso na terra implicaria uma incrível mudança», escrevia
ele, «uma mudança da gratificação do ego para o desejo de ser bem
sucedido, mas um desejo de nos libertarmos da falha humana». A
dificuldade está, continuava ele, em «erradicar as falhas humanas
sem destruir a própria máquina. Estão muito estreitamente ligadas.
As dores do crescimento são intensas, mas necessárias». Falando
com a sua voz alienígena, escrevia em seguida: «As nossas capaci-
dades intelectuais e o âmbito da nossa visão são demasiadas para os
humanos compreenderem. Os tradutores, como eu próprio, são
necessários para estabelecer o contacto... Sempre soube. Sempre
neguei (a sua identidade alienígena). Sempre quis esquecer, mas não
é o que sou. A realidade chega através da espessa muralha das defe-
sas humanas. O estudo da luta entre a consciência humana e aliení-
gena prossegue. Estão a conciliar-se, cada uma delas a aprender com
a outra... Agora estou em paz. Compreendo que o conflito continu-
ará dentro de mim, mas atingi o ponto de viragem em que o meu
poder de não controlar vence o da minha natureza humana».
E a carta prosseguia: «Temo os humanos mais do que qualquer
outra coisa. Tentámos muitas vezes mudar-vos. Muitos membros da
nossa espécie foram destruídos nesse processo... Devo dizer que o
ser humano tem emoções muito elevadas, por vezes demasiado para
que eu possa processá-las. Somos muito sensíveis, mas as nossas
emoções não são tão primitivas como as vossas. Num certo sentido,
as vossas emoções são recreativas. Estamos satisfeitos por sermos
capazes de sentir mais do que habitualmente. O nosso fascínio
(pêlos humanos) reside nisso. O nosso processo evolutivo limitou as
O VERÃO DE 92 127
emoções menos importantes do que a compreensão, mas as vossas
emoções são para nós como rebuçados para uma criança. São como
uma droga que muito apreciamos».
E a carta concluía: «E interessante que seja precisamente isso
que vos toma tão perigosos para nós. Não creio que seja seguro para
mim revelar-me já. Serão necessários alguns anos. Sinto que há mui-
tas coisas que desejo transmitir e sinto que, muito em breve, deveria
realizar-se um encontro das mais altas autoridades humanas con-
nosco.» Embora, a seguir à regressão, tivesse passado por algumas
noites de ansiedade, nos meses seguintes Scott encaminhou-se rapi-
damente no sentido de alcançar uma maior paz de espírito, um sen-
tido de energia e objectivos mais elevados, a conciliação entre as
suas naturezas humana e alienígena e um aprofundamento da com-
preensão do que para ele significavam as experiências de sequestro.
Tinha confiança nas informações que recebera e transmitira nas nos-
sas regressões e sentia que, pela primeira vez, conseguira encarar as
suas implicações, de forma franca e realista.
COMENTÁRIO
O caso de Scott é ilustrativo dos vários níveis a que podemos pensar
nos fenómenos de sequestro. Num desses níveis, Scott é, ou foi, um
sequestrado tipicamente traumatizado. Sofreu o terror, a impotência,
a paralisia e a instrumentalização — especialmente a humilhante
extracção forçada de esperma para fazer bebés (a que mais tarde
assistiu durante a regressão) — que se seguiram à recordação de
vários sequestros sucedidos durante a infância, associados, pelo
menos numa ocasião, ao aparecimento de OVNI. Mas além desta
dimensão claramente física, Scott sofreu igualmente uma significa-
tiva transformação pessoal, resultante de uma mudança de atitude
face às suas experiências. De inestimável importância em todo este
processo foi o apoio dos pais de Scott, especialmente da mãe, Emily
(ela própria uma possível sequestrada), que assistiu a conferências
sobre o tema dos sequestros, esteve presente regularmente nas reuni-
ões do meu grupo de apoio e se ofereceu para ser submetida a hip-
nose, a fim de compreender mais profundamente as suas próprias
experiências e o modo como poderia ajudar mais completamente
Scott e a irmã, Lee, que é também uma sequestrada.
128 SEQUESTRO
Através da sua constante atitude inquisitiva, da sua busca de um
significado espiritual e, sobretudo, da sua disposição de se confron-
tar repetidamente e ultrapassar o seu terror, Scott conseguiu alcançar
uma considerável paz de espírito e uma compreensão mais profunda
do processo de sequestro. Ultrapassando a sua recusa e aceitando a
base instintiva e natural do terror físico e do ressentimento, Scott
conseguiu abrir a sua mente a informações importantes, respeitantes
a um mais amplo sentido da sua própria identidade, e assumir a res-
ponsabilidade do seu papel de «tradutor» entre os nossos dois mun-
dos. Um período crucial deste processo foram os meses do verão de
1992, quando tinha vinte e quatro anos. Nesse período, Scott conse-
guiu reconhecer, no mais fundo de si próprio, a sua vulnerabilidade e
impotência frente ao poder das energias alienígenas, bem como o
facto puro da sua falta de controlo. Em seguida, tal como me escre-
veu mais tarde na sua carta de Natal, descobriu o seu «poder de não
controlo». Scott sente que os seus poderes psíquicos aumentaram em
resultado das suas experiências.
Tal como aconteceu no caso de muitos sequestrados com quem
trabalhei recentemente, o reconhecimento total da realidade da pre-
sença dos alienígenas levou Scott a compreender que sempre tivera
uma espécie de dupla identidade e que é capaz de se sentir simulta-
neamente humano e alienígena. A perspectiva alienígena, que apa-
rentemente sempre esteve incorporada na sua consciência, não lhe
era acessível, até ter cedido a ilusão do controlo. Deste ponto de
vista, Scott, tal como outros sequestrados, conseguiu perceber per-
feitamente como a nossa espécie é perigosa, não apenas para os pró-
prios alienígenas, mas para todas as formas de vida da terra,
especialmente desde que utilizamos tecnologias destrutivas tão
impensadamente. Na sua identidade alienígena, ele compreende
como o medo e a fúria, que não fazem parte da experiência aliení-
gena, limitam a nossa capacidade de amor e de ligação. Saber que ele
próprio é «um deles» permitiu a Scott experimentar as formas pelas
quais as nossas duas espécies estão, de certo modo, ligadas (segundo
ele diz, há uma «correspondência» entre nós), razão pela qual esta-
mos apenas a começar a entender.
É difícil saber o que pensar de algumas das informações que
Scott transmitiu na segunda regressão. Como outros sequestrados,
ele fala de outro planeta, do qual os alienígenas proviriam, e que terá
sido destruído pela «ciência», tornando-se árido e sem vida. Além
O VERÃO DE 92 129
disso, avisa-nos acerca do despovoamento da terra por meio de uma
catástrofe natural, especialmente uma forma mais contagiosa de
SIDA. Este tipo de visão apocalíptica é vulgar entre os sequestrados,
mas não temos qualquer meio de determinar se se trata de uma
autêntica previsão no mundo físico — certamente, não entra em con-
flito com o que está presentemente a suceder no planeta — ou se
representa uma espécie de profecia metafórica ou uma chamada de
atenção. A questão torna-se mais fácil (ou mais difícil, dependendo
do ponto de vista) pelo facto de, nos reinos da consciência e da exis-
tência para os quais os sequestrados viajam durante as suas expe-
riências, a distinção entre o literal e o metafórico, ou entre o
objectivo e o subjectivo, aparentemente perder a sua importância.
Finalmente, há uma pungência em Scott e na sua família, devido
à busca vã e intrusiva, levada a cabo durante toda a sua infância e
adolescência, de uma explicação clínica convencional para as suas
experiências de sequestro. Horas sem fim de exames médicos, testes
e outros procedimentos deram como resultado diagnósticos errados
e tratamentos inadequados. Suspeito que, no próprio momento em
que estou a escrever estas palavras, uma qualquer criança seques-
trada algures está a ser levada, pela mão de pais ansiosos, a um
médico, completamente ignorante em matéria dos fenómeno de
sequestro, tal como o eram os pais de Scott quando ele era criança.
Esperamos que, através da «tradução» de sujeitos de experiência
como Scott e de pais como Henry e Emily («e médicos», acrescen-
tou Scott), que estejam dispostos a considerar a possibilidade de rea-
lidades acerca das quais, nas palavras de Scott, dispomos de «poucos
conhecimentos», outras crianças possam ser poupadas ao trauma
provocado pela ignorância e pela recusa.
CAPÍTULO SEIS
UMA ALIENAÇÃO DE AFECTOS
Os procedimentos intrusivos de natureza sexual e reprodutiva que
são um aspecto central dos fenómenos de sequestro podem afectar
profundamente a vida íntima e o bem-estar geral dos sequestrados. Se
não se conhece a fonte da «alienação» e se procuram explicações psi-
cossexuais convencionais, os problemas podem tornar-se mais pro-
fundos e as tensões experimentadas pêlos sequestrados e pêlos seus
entes queridos, provavelmente, aumentarão. Por outro lado, se a ori-
gem da disfunção for identificada, serão possíveis consideráveis van-
tagens terapêuticas. Este problema é bem ilustrado pelo caso de Jerry.
Jerry, que se descreve a si própria como uma «dona-de-casa vul-
gar», tinha acabado de completar trinta anos quando telefonou para
o meu consultório, nos princípios de Junho de 1992. Quando me
encontrei com ela pela primeira vez, Jerry recordou consciente-
mente uma luta com vários sonhos em que entravam OVNI, seques-
tros e outras experiências relacionadas, que durava desde os seus
sete anos. A instâncias de sua mãe, Jerry tinha relutantemente classi-
ficado todos estes acontecimentos como «pesadelos», até ver o meu
nome e a indicação «Universidade de Harvard» nos agradecimentos
da mini-série da CBS sobre os sequestros, Intruders, e «pensei, bem,
aquele homem pode ser de confiança, e anotei o seu nome».
Igualmente, por recomendação de um amigo, a sua mãe tinha lido
um dos livros de Budd Hopkins e disse a Jerry que os relatos dos
sequestros se assemelhavam às suas experiências.
Os nossos encontros incluíram quatro sessões de hipnose. Além
disso, Jerry mostrou-me centenas de páginas do seu diário, que tinha
132 SEQUESTRO
começado a escrever vários meses antes de me contactar. Estas
incluíam pormenores das suas experiências de sequestro, poemas e a
discussão de grandes ideias filosóficas relacionadas com o profundo
processo de transformação que estava a sofrer.
Jerry é a segunda de quatro filhos e, em criança, vivia numa área
rural perto de Kansas City, no Missouri, onde o pai trabalhava numa
fábrica de lacticínios. O seu irmão mais velho, Ken, também teve
experiências peculiares na infância, incluindo a visão de estranhas
luzes brancas e azuis do lado de fora da janela e terríveis «pesade-
los» de «alguém» a entrar no seu quarto quando estava acordado.
Pouco tempo antes de ela se encontrar comigo, Jerry e Ken falaram
das suas experiências e Jerry descobriu que «ele tem sido perseguido
por eles durante toda a sua vida». Além disso, na sua primeira
regressão, Jerry viu o irmão mais novo, Mark, ser raptado com ela,
quando era ainda um bebé e ela tinha sete anos, mas não lhe falou das
suas experiências.
Os pais de Jerry divorciaram-se quando ela tinha oito anos.
Depois da separação, o pai ficou no Missouri e, durante muitos anos,
Jerry teve pouco contacto com ele. Recentemente, têm conversado
longamente e Jerry sente que estão a ficar mais próximos. Depois do
divórcio, a mãe de Jerry, que tem trabalhado sempre como assistente
social, mudou-se com os quatro filhos para Macon, na Jórgia. Jerry
manteve-se próxima da mãe e, ao longo dos anos, confiou-lhe
importantes experiências. Durante os últimos anos da infância e ado-
lescência de Jerry, a família mudou-se várias vezes, mas sempre na
Jórgia. «Talvez fôssemos ciganos pelo coração», sugere ela. Fez
parte das Pequenas Escuteiras e, mais tarde, das Escuteiras e foi para
acampamentos de Verão, onde teve lições de equitação, gostando
muito de montar e de lidar com cavalos. Mais tarde, descobrimos
que Jerry identificava os potros com os seus «olhos escuros e amen-
doados», com seres alienígenas híbridos. Embora os professores lhe
dissessem que era uma estudante com capacidade para frequentar a
universidade, Jerry deixou a escola secundária no início do décimo
ano, quando um professor de inglês impôs aos alunos que fizessem
trabalhos de nível universitário, que ela não conseguia acompanhar,
e a escola se recusou a transferi-la para outra turma. Depois de sair
da escola, teve vários empregos em lojas e em escritórios.
Dado que a sua formação escolar se limita ao nono ano, tanto
Jerry como os seus amigos ficaram surpreendidos com o «fluxo» de
134 SEQUESTRO
suportar isso (noutras alturas, ela afirmou que ter relações sexuais é
como «ir ao ginecologista ou ser violada»). Também penso que, a
qualquer momento, vou ser magoada. Uma sensação de impotência
e a incapacidade para controlar a situação. Parece-me que me sinto
mais segura quando consigo dizer não ao meu marido e ele respeita
isso. Quero desesperadamente resolver este problema. Só que não
sei como fazê-lo».
Os temores da intimidade de Jerry alargaram-se mesmo a ser
apenas tocada e, muitas vezes, afogava no álcool o seu desgosto e
frustração. «Só bebia, quando pensava que ia ter relações sexuais»,
escreveu em Setembro de 1992. Partindo do princípio que o seu pro-
blema sexual tinha origem num incesto ou qualquer abuso sexual
anterior, Jerry e o ex-marido consultaram três conselheiros matrimo-
niais diferentes. Numa determinada ocasião, os seus «pesadelos»
foram classificados como «qualquer coisa que tentava vir à superfí-
cie», mas nada de positivo aconteceu e Jerry desistiu das consultas.
Enquanto o ex-marido tinha medo de tudo o que fugia ao normal
e não teria dado ouvidos às suas experiências de sequestro, Jerry
sente que o seu actual marido e a família a apoiavam e compreen-
diam, pelo menos a princípio. Bob assistiu à nossa primeira regres-
são e ficou profundamente afectado pela evidente autenticidade da
experiência da mulher. Mas a incredulidade da família de Bob pare-
ceu cercá-la, de tal forma que Jerry começou a sentir-se cada vez
mais isolada e só com as suas experiências, confiando quase exclusi-
vamente em outros sequestrados, em Pam e em mim, para lhe dar-
mos apoio. O afastamento dos seus parentes por afinidade foi
particularmente doloroso. «A família dele já não se relaciona
comigo como costumava», disse-me Jerry em Março de 1993. «E
isto é muito doloroso, sabe, porque eles são praticamente a minha
única família e eu não gosto que pensem em mim como uma excên-
trica ou uma doida». Porém, «não há como voltar atrás. Tenho de
aprender a viver com isto», diz ela.
Todos os três filhos de Jerry parecem estar envolvidos nos fenó-
menos de sequestro. Desde os seis anos que Sally, nascida em 1981,
tem terríveis pesadelos e grita «Não me toquem. Deixem-me em
paz». Quando tinha nove ou dez anos, sofria frequentemente de
hemorragias nasais inexplicáveis. Também viu OVNI enchendo o
céu, nos seus sonhos ou fantasias, e comentou com Jerry que talvez
os alienígenas escolham determinadas famílias. Sally tem «sonhos»
138 SEQUESTRO
e a família em Fevereiro e enviou-me o seu relatório em Março. O
Dr. C. não encontrou nada de especialmente notável no historial de
Colin, para além da história dos seus encontros; considerou-o como
«um rapaz muito engraçado e cativante» e detectou poucas tensões
matrimoniais entre Jerry e Bob, excepto no que dizia respeito às
experiências de sequestro de Jerry. Colin brincou com bonecos e
mostrou interesse por uma cobra que comia dedos das mãos e dos
pés. Contou que o seu dedo do pé tinha sido magoado, mas demons-
trou pequena perturbação quanto ao facto.
Embora o Dr. C. não encontrasse qualquer explicação para os
problemas de Colin, interrogava-se se poderiam estar ligados a um
qualquer incidente, ainda não descoberto, talvez relacionado com
interacções com o irmão, que tinha uma história de abuso sexual e
com quem Colin partilhara o quarto durante algum tempo.
Perguntava-se, ainda, se os sintomas de Colin poderiam estar rela-
cionados com imagens televisivas de naves espaciais e do planeta
Terra, embora a assistência a programas de televisão fosse restrita.
As perturbações de Colin pareceram enfraquecer depois desta aná-
lise e o Dr. C. foi de opinião que, de momento, não seriam necessá-
rias outras intervenções, embora se tivesse oferecido para continuar
a ver Colin, se os medos persistissem. Um dos efeitos desta análise
foi dividir ainda mais Jerry e Bob, quanto à origem dos problemas de
Colin. O facto de o Dr. C. não ter conseguido encontrar uma explica-
ção mais convencional para os sintomas de Colin fortaleceu a opi-
nião de Jerry de que estavam relacionados com os sequestros por
OVNI. Bob, porém, achou que o facto de o Dr. C. procurar uma ori-
gem traumática mais convencional dentro da própria família era
mais tranquilizador, uma vez que sempre negara a realidade dos
sequestros, pelo menos no que dizia respeito ao filho mais novo. Em
Junho, depois de ver um livro com um alienígena na capa, Colin
comentou. «É um Rocketeer. Vai para cima e vem para baixo».
Jerry tem a sensação de que os sequestros e outros fenómenos
relacionados têm acontecido durante toda a sua vida. Sempre soube
que as experiências, que tanto a sua mãe como outras pessoas classi-
ficavam imediatamente de pesadelos, eram intensamente reais. Por
isso, sempre viveu com um forte sentimento de solidão e com a sen-
sação de que não tinha outra opção, excepto negar uma «parte
importante da minha vida». O aparecimento de marcas de bisturi,
cicatrizes, nódoas negras e outras pequenas lesões a seguir às
140 SEQUESTRO
durante a regressão, Jerry escrevera no seu diário que os seus proble-
mas com a intimidade e a sexualidade tinham começado logo a
seguir a esta experiência. Estava a sair com o seu primeiro «namo-
rado a sério», que era cerca de dois anos mais velho que ela. Jerry
descobriu que estava «aterrorizada com a ideia de fazer qualquer
coisa mais do que beijar», ao passo que antes, já tinha namorado e
«experimentado carícias e nada disso a tinha incomodado, nem um
pouco». Os pais estavam a dormir e Jerry e o namorado estavam no
quarto dela. Ele sugeriu que «fizessem mais do que beijar-se e abra-
çar-se». Desejando «libertar-me» do «medo de ser tocada em qual-
quer das minhas partes íntimas» permitiu-lhe que «me tocasse entre
as pernas, por assim dizer». Mas então «passei-me completamente.
Fiquei absolutamente tensa. Todo o meu corpo estava rígido como
uma tábua. Tive numa espécie de ataque de pânico. Estava a suar e a
tremer e o meu coração batia velozmente. Olhei para a minha mão e
de súbito ela começou a encolher e a enrugar-se. Começou a ficar
cinzenta. Eu estava petrificada. Não sei o que fiz a seguir, mas o que
quer que fosse assustou suficientemente o meu namorado para que
ele acordasse a minha mãe. Ela veio e acalmou-me». Jerry não falou
a ninguém deste incidente, mas escreveu: «Desde então, tenho aver-
são pelo sexo».
Nos anos seguintes, Jerry teve vários «pesadelos», nos quais
acordava paralisada, ouvia «zumbidos, tinidos e sussurros» na sua
cabeça e via seres humanóides no quarto. «Na realidade, estavam a
fazer-me perder muitas horas de sono», escreveu ela. Num episódio,
em 1987, viu maravilhosos «resplendores e faíscas» que pareciam
ter sido atirados para o quarto, mas gritou de terror quando viu dois
pequenos seres vestidos com uma espécie de «trajo ou uniforme»
brilhante, a flutuar sobre a sua cama. Pensa que gritou e tentou acor-
dar Bob, que era então seu noivo, «mas ele não se mexeu». Enquanto
os seres se aproximavam, Jerry ficou ainda mais assustada e «em
seguida o nada» e «não me lembro de nada a seguir». Numa regres-
são posterior com outro terapeuta, na qual investigaram este episó-
dio, Jerry ficou profundamente comovida quando recordou que lhe
mostraram duas meninas gémeas, que ela pensa serem suas descen-
dentes híbridas.
Em 1990, Jerry sofreu a mais traumática das suas experiências
de sequestro. Ainda não investigámos este episódio sob hipnose,
devido à intensidade do terror e da dor a ele associados, mas Jerry
142 SEQUESTRO
levada por seres mais altos, mais parecidos com os humanos, louros
e de pele clara, para o que parecia ser o topo de um edifício muito
alto, com equipamentos iluminados lá dentro. Teve a sensação de
estar numa praia ou à beira-mar, porque ouvia o vento e a batida das
ondas, sentia a brisa e cheirava a maresia. No alto deste edifício,
foram mostradas a Jerry imagens de mísseis e de outras armas. Ela
sentiu que isto era muito importante. Também lhe mostraram uma
espécie de máquina triangular, que se tornava circular quando girava
e que «talvez tivesse alguma coisa a ver com voos». Asseguraram a
Jerry que nunca mais esqueceria o que lhe tinha sido mostrado messa
ocasião. No dia seguinte, descobriu-se a fazer triângulos com papel,
com lápis ou com palitos e a «fazê-los girar, girar, girar».
Em Novembro de 1991, Jerry acordou, sentindo novamente uma
presença. O quarto estava inundado de uma luz cor-de-laranja aver-
melhada, que começou rapidamente a esmorecer. No dia seguinte, a
sua mente parecia estar «ligada no volume máximo», a transbordar
de pensamentos. Jerry sentia-se como se estivesse cheia de informa-
ções «de carácter universal», «coisas espirituais, estranhas para
mim». Depois disto, como já dissemos, Jerry começou a escrever
abundantemente. Durante o mês e meio seguinte, os seus escritos
incluíram cem poemas, ao passo que antes «nunca tinha escrito um
poema na minha vida». Jerry achava a pressão destes pensamentos e
da escrita bastante esmagadora e disse: «Não sei de onde vêm».
Nos meses anteriores à nossa primeira sessão de hipnose, a 11 de
Agosto de 1992, Jerry continuou a ter experiências de sequestro,
incluindo um episódio apenas três semanas antes, no qual Jerry se
lembra conscientemente de ter visto a aproximação de um OVNI e de
ser levada para a nave por seres humanóides cuja atitude ela sentiu ser
afectuosa e benevolente. Aí, Jerry viu prateleiras cheias de instru-
mentos e de frascos, esteve sentada numa cadeira ou numa mesa e
manteve um diálogo complexo com alienígenas, que teve a sensação
de serem «muito para além do que nós pensamos que é ser inteligente
ou mesmo génio». Um deles explicou-lhe que vinham «de um futuro
tão longínquo» que ela jamais poderia compreender. Jerry lembra-se
de ter dito para si própria: «Isto é bestial. Consigo ver tudo e estou
tão
consciente». No seu diário, concluía: «Estava convencida sem qual-
quer sombra de dúvida de que o que estava a viver era real. Eles olha-
vam para mim, com o seu sorriso adorável de quem sabe tudo e dziam
simplesmente: 'sim'. E, então, eu disse, bem, se isto é real, isso
signi-
144 SEQUESTRO
corredor. Uma estranha luz brilhante enchia o quarto e Jerry pensou:
«Não devia ter medo deles, porque os conheço». Apesar do medo
crescente, Jerry sentiu-se compelida a sair do quarto, primeiro para o
corredor e, depois, para a sala de estar. Lá fora, na direcção de que a
luz parecia provir, Jerry viu cerca de trinta a quarenta pequenos seres
e recuou, cheia de terror. Não conseguiu mexer-se, enquanto vários
dos seres passavam através dos vidros e entravam na sala. «Eu não
saí, por isso eles tiveram de entrar», disse ela. Jerry sentiu que eles
estavam a ficar impacientes com ela e «arrancaram-me» da posição
de agachada. «Não quero sair pela janela», disse ela, quando a pres-
são se tornou mais forte.
Para espanto de Jerry, os seres levaram-na pela janela «e em
seguida subi muito depressa». Como se estivesse «parada no céu»,
Jerry via o topo da sua casa, as árvores e o chão lá em baixo. «Quase
fiquei sem respiração, de subir tão depressa». Havia uma «coisa
grande por cima de mim», para dentro da qual a levaram. Apesar da
coerção, Jerry sente que participou de certa forma no processo, mas
«no entanto, não sei como». A chorar nesta altura, Jerry viu que dois
dos seres levavam também «a flutuar» o seu irmão Mark, ainda
bebé, e ficou preocupada porque «ele devia estar com medo»,
embora parecesse estar a dormir.
Jerry pretendeu fugir, mas compreendeu que estava «mais ou
menos paralisada da cintura para baixo». Respirando pesadamente
durante a sessão, com a voz a tremer, Jerry descreveu esta paralisia
como uma vibração dolorosa. A seguir, uma «tremenda vibração»
estendeu-se às suas mãos e «tenho medo que tome conta do meu
corpo todo». Assegurei-lhe que o reviver da experiência não a mago-
aria. «A vibração é tão forte. Não a compreendo», gemeu ela,
temendo não ser capaz de respirar. «Não posso fazer nada» e «estou
preocupada com o Mark», gritou ela. As poderosas vibrações pare-
ciam abanar todo o corpo de Jerry. «Está bem, podem-me fazer isto a
mim, mas não é justo que o façam a ele», disse ela, «ele ainda é um
bebé! Odeio-os por isso... A princípio, pensei que eram bons». A
chorar, enquanto recordava uma experiência de sequestro anterior,
Jerry disse: «Eu pensava que eles eram engraçados e que só queriam
ir lá para fora brincar».
A sala redonda da nave, para a qual Jerry e Mark foram levados
em primeiro lugar, estava escura de início. Depois, Jerry reparou que
tinha «a forma de uma catedral. Na realidade, é branca... Tem varan-
146 SEQUESTRO
Depois, arquejando, Jerry gritou de terror: «Não posso para-la!
Aiiii! Aiiii! Odeio fazer isto! Parem! Parem!»
Os altos gritos e a violenta agitação de Jerry continuaram, e ela
gritou: «Estão a virá-la! Estão a virá-la! Ohhhh! Está dentro de mim!
Foi o que ele enfiou dentro de mim. Aiiii! Aquela coisa! Espetaram
aquela coisa dentro de mim!» Tranquilizei Jerry o melhor que pude,
dizendo-lhe que se sentiria melhor quando tudo acabasse. «Está a
sair», disse ela. «Há uma fuga. Sinto que está qualquer coisa a pingar
na minha garganta». Ela não tinha a certeza se era sangue, saliva ou
outra coisa qualquer. «Estão a deixar-me descontrair. Eles são horrí-
veis. São cruéis. Pensava que tinham feito mais qualquer coisa. Oh,
(num murmúrio) não previ isto.» Jerry lembrou-se que, nessa altura,
lhe tinham dito que tinham colocado uma espécie de um pequeno
objecto dentro dela, «para a controlar», sem qualquer outra explica-
ção, além de «temos de fazer o que temos de fazer».
«Penso que ainda cá está», disse ela. «Não me lembro de mo
terem tirado». Depois disto, Jerry sentiu-se fraca e cansada. Não
sabia o que tinham feito a Mark, mas disse: «Se lhe fizeram o
mesmo, mato-os». Jerry lembra-se pouco do que se seguiu. O chefe
foi-se embora, enquanto ela ficava na mesa durante alguns minutos.
Depois, viu raios e pontos de luz vermelha e amarela. Não se lembra
de como voltou para casa, nem se lembra de ter sido capaz de contar
à mãe, ou a qualquer outra pessoa, quaisquer pormenores do trauma,
nessa altura. Enquanto a regressão terminava, Jerry e eu especulá-
mos sobre os mecanismos de defesa que, até agora, poderiam tê-la
impedido de se lembrar desta experiência angustiosa.
— Estou encharcada — disse Jerry ao sair do transe. — Nunca
pensei que pudesse fazer-me isso, para me levar a desabafar.
Vários minutos depois da sessão ter terminado, Jerry continuava
a sentir os braços e as pernas «esquisitos» e comentou que se sentia
«como se alguém me tivesse ligado a uma máquina vibratória...
como se alguém me tivesse posto dentro de uma máquina e eu
fizesse parte dessa máquina». Evidentemente que a «medicação» se
referia a este processo vibratório, mas como não o sentia na cabeça
nem no pescoço, as vibrações não diminuíram a dor. Então, Jerry
lembrou-se de que, quando o anestesista tentara dar-lhe uma injec-
ção na medula para reduzir a dor durante o nascimento de Colin, ela
gritara, porque parecia ser «algo semelhante» ao que lhe acontecera
na nave. Esta sessão confirmou a convicção infantil de Jerry de que
148 SEQUESTRO
Este encontro ocorreu a 5 de Outubro e Jerry afirmou expressa-
mente o seu desejo de descobrir porque é que sempre tinha evitado o
sexo «a todo o custo». A irmã de Bob, Anna, esteve presente durante
a sessão. Jerry optou por explorar o episódio em que, aos treze anos,
tinha ficado aterrorizada com uma pressão exercida sobre o seu
abdómen e área genital. Antes de iniciar a regressão, recordámos as
circunstâncias que rodearam o episódio, que provavelmente ocorreu
no outono de 1975, quando Jerry estava no início do oitavo ano.
Embora o episódio tivesse sido aterrorizador, Jerry não o contou a
ninguém, nem mesmo à mãe.
Sob hipnose, a primeira recordação de Jerry foi a de acordar com
o quarto iluminado por uma luz branca e brilhante. Sentiu uma pre-
sença que a assustou e pensou: «Se eu ficar muito sossegada, eles
não conseguirão apanhar-me». Os seres tentaram tranquilizá-la,
dizendo-lhe para não ter medo, mas não deu resultado porque «eles
são tão mentirosos». Embora «eu não queira vê-los», Jerry reparou
em dois seres, «um atrás de mim e outro mesmo aqui (ao lado dela)».
Disseram-lhe que tinha de ir com eles e ignoraram os seus protestos.
«Agarraram-me pêlos braços», disse Jerry, e ela sentiu um contacto
«gentil, macio como veludo, mas frio». Este toque pareceu sossegá-
la e, a seguir, Jerry viu-se «apenas a ir com eles. Devagar, a subir
devagar. É estranho. Não sei como é que eles podem fazer isto».
Com um ser de cada lado, levaram Jerry a flutuar «pela janela,
como se fosse uma parede. É como se não estivesse lá». Sentiu nova-
mente «aquela sensação de paralisia», enquanto era arrastada para
uma grande nave. «Este arrastamento assustou-me», disse Jerry,
enquanto a respiração se tornava mais rápida e superficial. Foi
levada através de uma abertura para «a mesma estúpida sala» onde
«acontecem as coisas más». Dois seres estavam a fazer qualquer
coisa com uma mesa, «a prepará-la ou algo do género. Não tenho
qualquer controlo». Um ser mais alto, que ela tem visto «muito»
desde os seus cinco anos, mas que não gosta de reconhecer, disse-lhe
para não ter medo, mas apesar disso o medo dela aumentou. «Será
que eles não entendem o que estão a fazer?» protestou Jerry. Quando
era uma criança pequena tinha confiado neste ser, mas agora sentia
que ele a tinha traído. «Ele não tem paciência nenhuma», e apesar
dos seus protestos «eles puseram-me na mesa de qualquer forma.
Não podemos discutir com eles».
Jerry sentiu-se «embaraçada» diante dos alienígenas, quando lhe
150 SEQUESTRO
«Oh, não posso acreditar. Sou jovem demais para isto, só tenho treze
anos.» Disse-lhe que não devia ser feito, mas que, de um ponto de
vista estritamente biológico, ela tinha idade suficiente. «Não sei»,
gemeu ela. «Oh, oh, isto não pode ser, não pode ser. Eu tenho de ser...
Não sei».
O que Jerry viu foi um «bebé», que era «muito pequeno e magro».
Os seres pareciam muito satisfeitos com os seus esforços e mostra-
ram-lhe esta criatura, que tinha talvez vinte e cinco centímetros de
comprimento. Ela não se apercebeu de muitos outros pormenores,
excepto que as mãos eram pequeninas e que a cabeça parecia muito
grande comparada com o resto do corpo. O bebé foi colocado numa
«coisa cilíndrica» de plástico transparente, ficando a flutuar numa
espécie de fluído. «Porque quereriam eles fazer isto?», exclamou
Jerry. «Não entendo. Sou muito jovem para ter um bebé. Eles só me
disseram para não me preocupar. Não tenho de cuidar dele».
Perguntei a Jerry que espécie de ligação sentia em relação ao feto e ela
respondeu: «Penso que eles me fizeram sentir que não é meu. É deles.
É uma parte deles». Enquanto Jerry jazia sobre a mesa durante cerca
de meia-hora, os alienígenas pareciam estar «a tratar do pequeno
bebé». Em seguida, trouxeram-no até junto dela, para que o pudesse
ver. Os seres queriam que Jerry se sentisse orgulhosa por ter gerado
esta criatura. Mas ela sentia-se zangada, confusa, usada e traída.
Jerry continuou a exprimir a sua intensa sensação de choque e
incredulidade. «Eu nem sequer sabia que tinha qualquer coisa assim
dentro de mim!», disse ela com uma débil gargalhada. «Se iam fazer
isto, deviam pelo menos ter-me dito», acrescentou ela. Perguntei-lhe
se lhe tinham dado quaisquer outras informações sobre o que se
tinha passado. O «chefe», disse ela, «disse-me que era lindo e que
um dia eu compreenderia, mas tinha a ver com a criação».
— A criação de quê? — perguntei-lhe.
— Penso que de um novo ser. Uma nova raça ou uma nova... Não
sei. Ele realmente não disse nada de específico.
Disse apenas que «num momento do seu próprio tempo» ela
compreenderia. «Disseram que era lindo. Era maravilhoso» e «devia
apenas acreditar que estava relacionado com a criação».
Nesta altura, Jerry começou a discutir consigo mesma sobre se
deveria ou não dizer-me o nome do chefe, que aparentemente sabia.
Dizê-lo, segundo ela, faria com que ele parecesse mais real, dando-
-lhe uma identidade mais forte. Uma vez, quando Jerry estava a
152 SEQUESTRO
cante», que tem um significado no domínio das pesquisas genéticas,
de que Jerry não entende absolutamente nada.
Falámos acerca da influência desta experiência de sequestro
sobre a sua vida sexual. Jerry foi educada com uma atitude de aceita-
ção relativamente a «casar, ter relações sexuais e ter bebés», disse
ela. «O sexo significa casar, ter filhos, acarinhar, amar e partilhar».
Mas é óbvio que «eles (os alienígenas) não fazem nada disso». Eles
«não têm qualquer respeito pêlos sentimentos, pelo amor ou pelas
relações entre as pessoas...» Quando tem relações sexuais, Jerry
recorda-se das experiências de sequestro traumáticas, como a que
acabámos de recordar. «Quando tenho relações sexuais, é assim que
sinto. Sinto que eles estão a fazer aquilo. Sinto-me como se tivesse
de sorrir forçadamente e suportar o que está a acontecer. É como se,
de cada vez, revivesse tudo... Eu transfiro, eu sei... Não tenho qual-
quer controlo sobre isso... Nunca soube de onde provinha esta sensa-
ção». No fim da sessão, Jerry mostrou-me uma pequena cicatriz
circular e indentada que tinha no abdómen e que associava aos pro-
cedimentos que acabava de recordar. Até este momento, não soubera
«qual a sua origem», mas parecia ter a certeza que era o resultado de
um dos seus sequestros. Não consegui saber de Anna, que parecia
um pouco atordoada, qual a sua reacção a esta sessão.
Nos dias que se seguiram a esta regressão, Jerry atravessou um
período difícil. Tinha dificuldade em adormecer, chorava muito e
procurava sem sucesso uma explicação alternativa. Segundo disse
Jerry, Anna estava completamente perturbada pelo que vivera
durante a sessão. Não podia «acreditar» naquilo, mas dissera a Jerry:
«Não estás a mentir». O cepticismo de Anna tornou mais difícil para
Jerry a tentativa de integrar a experiência. Entretanto, consultara um
outro terapeuta, que vivia mais perto do que eu, a fim de reviver mais
activamente as suas memórias. Porém, as breves sessões de hipnose
com este terapeuta, que prosseguiram durante o Outono e o Inverno,
em vez de a ajudar, pareceram agravar o seu trama. «Estou a recupe-
rar mais memórias do que aquelas que posso suportar», escreveu ela
no seu diário, em Janeiro. O terapeuta encorajara-a a recuperar as
suas memórias mais depressa do que ela se sentia preparada para
fazer, pressionava-a para realizar sessões semanais e ameaçava-a
com consequências negativas, caso se recusasse a fazê-lo. Jerry sen-
tia-se sobrecarregada e procurava ajuda nas reuniões mensais do
meu grupo de apoio. Também a incitei a «abrandar» e, em seguida, a
154 SEQUESTRO
mãe e a irmã tinham sofrido. Uma maior discussão acerca do sonho
dos pequenos cavalos levou Jerry a ligar este sonho a um outro, com
bebés híbridos, aos quais a prendiam fortes laços. «És a nossa mãe»,
diziam as meninas e sentira o mesmo laço com um dos pequenos
cavalos, que, segundo ela agora pensa, representava uma criança
humana ou híbrida.
Jerry desejava uma terceira sessão de hipnose, porque ainda
havia, segundo ela dizia, «alguns» sequestros «que continuavam a
perturbá-la». Pensava especialmente no doloroso episódio de 1990,
no qual «gritei, gritei e gritei» e no encontro de 1991, do qual ainda
recordava o cheiro a maresia e o som das ondas na praia. Porém, a
sua psique «escolheu» um incidente ocorrido em Setembro de 1992,
que teve um impacto especialmente fundo na sua vida íntima.
Encontrámo-nos a 27 de Maio e Jerry veio sozinha. Antes do iní-
cio da regressão, falou do crescente afastamento que sentia em rela-
ção à família do marido, que a levou a decidir deixar de falar das suas
experiências de sequestros, excepto quando eles perguntavam
alguma coisa. A sogra, disse ela, «não consegue aceitar. Pensa que se
eu for boa rapariga e disser as minhas orações, tudo passará».
Porém, Jerry interroga-se acerca do que poderá ter afectado as suas
experiências de sequestro, uma vez que se sentia como se fosse
«caça livre». No entanto, tinha a sensação que o facto de não ter
medo tornava as experiências piores. Recorda-se de que, uma vez,
estava mais tranquila e «não lutou» e «essa não foi dolorosa... Eles
fizeram coisas. Fizeram qualquer coisa ao meu braço que o fez
inchar. E mostraram-me coisas... Acho que senti mais a comunica-
ção, senti-me mais capaz de falar com eles e fazer perguntas e não
me lembro de nenhumas respostas».
Jerry não acha que eles queiram «causar-me medo, dor ou ago-
nia» e «bem no fundo penso que o que eles fazem é, de qualquer
forma, necessário». Está relacionado, disse ela, com «a aproximação
das raças, dos seres, ou qualquer coisa do género, a fim de fazer
outra criação». Isto «era muito importante», disse ela, e «como pes-
soa isolada, em comparação com esta coisa enorme que está suceder,
deveria ver para além de mim mesma e saber que é para o bem de
todos». Ao mesmo tempo, Jerry reparou que, durante o último ano,
tinha aprendido a pensar de modo mais independente. «Penso que
deitei fora algumas das minhas velhas crenças», disse ela e já não se
limita a seguir «cegamente outra pessoa ou organização». Como
156 SEQUESTRO
nismo não estava agora a resultar, porque Jerry achava que «não
posso ser emocionalmente indiferente... Isto dura desde os meus
treze anos», disse ela e calculou que, ao longo dos anos, tinham sido
executados cerca de cinquenta «procedimentos», envolvendo a
implantação ou remoção vaginal de alguma coisa. «Acontece em
ondas», disse ela, «Durante um tempo eu vou» e «não acontece
nada» e, depois, «eles chegam e parece que é sempre assim».
Lembra-se de ter sido levada algumas vezes — não sabe bem quan-
tas — para ver o que pareciam ser seres híbridos. «É a parte que mais
detesto», disse ela, «Penso neles, os pequenininhos, como cavalos».
— Parecem cavalos? — perguntei.
— Só nos olhos — e «são magros, com pernas compridas, sabe»,
como poldros, disse ela. — E assim que penso neles.
Recordava-se especialmente das raparigas gémeas, que sentira
serem suas filhas, mas não se lembra de ter sido levada para as ver até
terem mais ou menos o tamanho de Colin, que agora tem três anos.
Jerry pensava que durante o episódio específico que estávamos
a investigar um embrião tinha sido implantado no seu corpo.
Pensava assim porque o episódio fora relativamente breve — «esses
são os rápidos». Os alienígenas informaram-na que retiram o ADN
de um macho humano — «o esperma pode ser do meu marido» ou
de outra pessoa — e que o combinam com um óvulo. Depois de
combinarem as substâncias genéticas do homem e da mulher, os
alienígenos alteram o embrião de uma forma qualquer, talvez adici-
onando um dos seus próprios princípios genéticos. A seguir, este
embrião alterado é inserido no corpo feminino, nesta ocasião o de
Jerry, para «gestação».
Regressando à sua memória deste sequestro, Jerry descreveu o
modo como os seres lhe abriram as pernas, «como numa consulta
normal de ginecologia», mas como estava paralisada não foram
necessários estribos. Em seguida, foi introduzido um tubo comprido
na sua vagina e sentiu «um beliscão». Ela sabia que esta fora uma
das ocasiões em que haviam inserido um embrião dentro dela «por-
que já passei por isto antes e reconheço a rotina». O chefe retirara um
embrião de uma das gavetas e levou-lho. «Da outra maneira»
(quando retiram um feto do seu corpo) é «pior do que metê-lo cá
dentro», porque nesse caso sentem-se espasmos dolorosos.
Jerry relacionou a violação que sofrera durante o sequestro com
o facto de não querer que o marido lhe tocasse. Segundo disse,
158 SEQUESTRO
direita. O «mais alto» veio ter com ela e ela sentiu-se grata, porque
ele
a ajuda, tranquilizando-a e tocando-a «por vezes no ombro... não me
importo que ele me toque», disse Jerry, mas «não gosto quando ele
me fita nos olhos, porque parece ver dentro de mim. É demasiado...»
— Demasiado quê?
— Não sei. E como se alguém tivesse rastejado para dentro de
nós e soubessem tudo de nós... Parece que me perco e ele parece
entrar e eu não gosto.
— Há algum aspecto de que goste? — perguntei.
— Sim, por vezes, acho que sim — respondeu Jerry. — É um
pouco como se ficasse envergonhada, porque se trata de uma espécie
de sensação sexual... Não sou eu. É ele — continuou ela — e não
tenho qualquer controlo.
Enquanto os pés de Jerry eram esquadrinhados com agulhas,
pediram-lhe que olhasse para um ecrã perto do seu rosto, que pare-
cia um aparelho de televisão. Ficou furiosa ao ver que no ecrã esta-
vam a passar filmes familiares, que a mostravam a dançar com
Colin. Um dos seres estava a fixá-la, observando as suas reacções
ao testemunhar esta cena intima de família. Ela ficou furiosa com
esta descarada invasão da sua privacidade. Nesta altura, Jerry notou
que havia uma espécie de máquina num dos seus dedos dos pés,
entorpecendo-o. Era aquele dedo que tinha um ligeiro defeito, tal
como o de Colin, «arqueado» e dobrado para baixo. «Ele herdou
este meu defeito», comentou ela e os seres pareciam «curiosos ou a
estudar» isso.
A seguir, mostraram-lhe uma imagem ou uma pintura de Jesus,
vestindo uma túnica branca. Mais uma vez, os seres pretendiam
estudar as suas reacções ao ver esta imagem, mas a seguir Jerry ficou
sonolenta e não se lembra de mais nada. Regressou ao quarto onde
estavam as suas roupas e vestiu-as com a ajuda dos seres, porque
tinha muito sono. A seguir, viu uma «imagem» de si própria a «flu-
tuar através da grande árvore do pátio e directamente pela janela, até
à cama», ainda com dores na mão. Bob estava a dormir, como obvia-
mente estivera durante toda a experiência.
Antes de terminar a sessão, passámos mais uma vez em revista a
forma como Jerry misturara as suas experiências de sequestro com a
intimidade humana. O seu ex-marido insistira que ela devia ter sido
vítima de abuso sexual e, por isso, «consultámos vários conselheiros
matrimoniais», tentando sem sucesso descobrir um perpetrador
160 SEQUESTRO
relatar quaisquer pensamentos intrusivos que lhe tivessem ocorrido
na altura ou que surgissem nesse momento.
Surgiram «instantâneos de recordações» de um incidente ocor-
rido quando Jerry tinha oito anos, quando, acompanhada por vários
membros da família, regressava durante a noite de uma visita à tia.
Jerry tinha adormecido e acordou, descobrindo que o carro tinha
parado no meio da estrada. Ficou com medo, porque viu «um rosto à
janela, mesmo aqui, muito perto» e uma nave acinzentada, pare-
cendo de metal, a pairar nas proximidades, mesmo acima do chão,
com «luzes provenientes da parte debaixo». A mãe, que vinha a con-
duzir o carro, um dos irmãos e a irmã pareciam estar a dormir. O
rosto do ser tinha «uns olhos que pareciam maus ou coisa assim».
Em breve, Jerry descobriu que os seus pés e pernas «estavam dor-
mentes» e que não podia movê-los, enquanto continuava a ouvir no
seu pensamento: «Está tudo bem». A seguir, sentiu «uma espécie de
picada de abelha», que lhe provocou «uma sensação estranha» ao
longo do ombro e do antebraço esquerdo e a fez adormecer.
Quando acordou, Jerry encontrava-se deitada de costas, aparen-
temente sozinha, num sítio escuro que não reconheceu. Estava tão
assustada, que os dentes lhe batiam. O ser que tinha visto do lado de
fora do carro estava «novamente junto do meu rosto, apenas a olhar
para mim... Deve ser o diabo», disse Jerry, «porque só consigo pen-
sar como é feio». O ser disse-lhe que «ia só fazer umas coisas e que
depois eu podia ir para casa». Depois, sentiu uma sensação de aperto
na garganta, como se fossem as mãos do alienígena, e teve medo que
«ele me matasse». Depois disto, um outro ser forçou-a a virar-se de
lado e pareceu estar a examinar-lhe as costas. Embora o seu medo
daquilo que os seres poderiam fazer fosse muito grande, Jerry sentia-
-se «como se os conhecesse... não confio neles», queixou-se ela,
porque «nós nunca sabemos o que eles vão fazer».
«Não gosto que eles me toquem», disse ela, enquanto se recordava
de ter sido repetidamente tocada nas costas. Senti como que várias
«pequenas agulhas» e um «pequeno beliscão». O terror de Jerry provi-
nha do facto de, ao contrário do que sucede «quando se vai ao consul-
tório do médico, em que nos dizem e nós sabemos o que está mal e a
minha mãe está comigo», nesta situação «não sei o que se passa, e
sinto que em qualquer momento eles vão magoar-me». Depois, Jerry
lembrou-se que «puseram-me novamente de costas» e «ficaram ape-
nas a olhar» durante mais algum tempo. Jerry sentiu-se temporaria-
162 SEQUESTRO
Neste momento da sessão, Jerry sentiu-se fortemente abalada
pela forma como as suas reacções aos avanços de Bob eram marca-
das pêlos «cenários» das suas experiências de sequestro. Fez um
movimento circular com a mão para descrever o modo como as
memórias dos sequestros eram despoletadas pelo simples facto de
Bob lhe tocar e como as experiências alienígena e humana estavam
estreitamente ligadas. Por exemplo, quando Bob lhe acaricia as cos-
tas, ela lembra-se do toque/palpação dos alienígenas. «Quando ele
começa com as carícias, a fita começa a correr na minha cabeça»,
disse ela. Quando ele lhe abre as pernas antes da relação sexual, ela
recorda-se de quando os alienígenas lhe abrem as pernas sobre a
mesa. Na sua mente, o acto sexual equivale às sondagens genitais
forçadas nas naves, que não consegue interromper, e quando diz não
e interrompe o Bob, é como se interrompesse os alienígenas,
«mesmo sabendo que nunca conseguirei que eles parem».
Em seguida, delineámos uma estratégia a aplicar ao relaciona-
mento intimo, que acentuasse as diferenças entre as experiências de
sequestro de Jerry e a sua relação com Bob. Em primeiro lugar,
deveriam discutir e concordar previamente que ela tomaria a inicia-
tiva dos preliminares e da própria relação sexual, depois de um
longo período de conversa afectuosa, e que teria a opção de inter-
romper esse encontro, a qualquer momento e sem sentimentos de
culpa. Ela conduziria as carícias de Bob, que deveriam ser lentas e
suaves, concentrando-se nos seios (nos quais os alienígenas não
tocam), contrastando com os toques rápidos, semelhantes a alfineta-
das, dos alienígenas. Ela iniciaria as carícias genitais e, quando o
pénis de Bob estivesse erecto, ela pôr-se-ia em cima dele, conduzi-
lo-ia para dentro de si e seria o parceiro mais activo, o que, segundo
Jerry me assegurou, ele gostaria. Seria ela a controlar e comandar
todas as fases.
No final da sessão, resumi a Jerry as duas fases da estratégia que
debatêramos — uma ênfase psicológica sobre a distinção, na sua
mente, entre as experiências alienígena e humana e uma estratégia
de acção, que reforçaria esta distinção. Ela estava ansiosa por dar
início ao plano. Salientei também como deveria ter sido especial-
mente traumatizante a penetração anal e genital do seu corpo,
quando Jerry tinha apenas oito anos. Porque nessa idade, ainda mais
do que aos treze anos, uma criança não tem possibilidade de
compreender ou registar conscientemente tais experiências, uma vez
164 / SEQUESTRO
çar os elementos ameaçadores, ou poderá ser induzido pêlos pode-
res de alteração da mente dos próprios alienígenas. Outra possibili-
dade seria a existência de um qualquer tipo de ligação profunda
entre os seres alienígenas e os espíritos dos próprios animais, seme-
lhante às ligações entre homens e animais que são comuns nas práti-
cas xamânicas.
Os sequestros de Jerry, iniciados na infância, foram para ela
profundamente traumatizantes e os seus elementos intrusivos, com
carácter de violação, reprodutivos e sexuais estavam profunda-
mente enterrados na sua mente. Uma vez que a memória destas
experiências se mantinha no inconsciente, Jerry não conseguia dis-
tinguir os aspectos físicos da intimidade e sexualidade humanas dos
traumas provocados pêlos alienígenas. Consequentemente, Jerry
era incapaz de gozar, ou mesmo de suportar, os contactos físicos
com o marido, com quem mantinha uma relação de amor mútuo. A
descoberta das memórias nucleares relativas às experiências trau-
máticas relacionadas com os sequestros, no decurso de quatro lon-
gas sessões de hipnose, permitiu a Jerry separar psicologicamente a
actividade sexual humana das actividades reprodutivas dos aliení-
genas e permitiu-nos igualmente conceber estratégias capazes de
reforçar esta distinção. Jerry e Bob puderam, então, gozar de uma
actividade sexual satisfatória.
E difícil, para quem não esteve presente durante estas regressões
hipnóticas, avaliar a intensidade emocional das experiências trau-
máticas sofridas por uma sequestrada como Jerry. As suas expres-
sões verbais de raiva e de ultraje e as contorções do seu corpo são
notáveis. Mas para além destas expressões catárticas, que permitem
a aceitação das memórias traumáticas, o caso de Jerry é igualmente
bem ilustrativo das outras dimensões do trauma provocado pêlos
sequestros — o permanente isolamento pessoal, a incredulidade
filosófica e o facto de novos episódios poderem atingir o sujeito, ou
os seus filhos, a qualquer momento. Jerry é especialmente eloquente
quando fala deste último aspecto. Ela terminou um poema chamado
«Regressão», escrito durante o inverno de 1992-93, com as linhas
seguintes: «Esta maravilhosa técnica alivia os traumas do
passado/com um defeito embora, terá fim com o último?/porque ao
contrário de outras vítimas de violação, incesto ou mesmo de trau-
mas de guerra/nunca somos libertados do nosso contínuo e incansá-
vel melodrama do outro mundo».
CAPÍTULO SETE
«SE ALGUMA VEZ ME
PERGUNTASSEM»
Catherine era uma estudante de música e recepcionista de um
nightclub, com vinte e dois anos, quando me telefonou pedindo
ajuda, em Março de 1991, depois de um episódio, sucedido algumas
semanas antes, que a confundiu. Numa noite dos fins de Fevereiro,
terminara o trabalho cerca da meia-noite e dirigia-se para casa.
Porém, estranhamente, em vez de parar na sua casa em Somerville,
perto de Boston, continuou a conduzir na direcção do norte, dizendo
a si própria: «Acho que vou dar um passeio» e que «faria alguns qui-
lómetros de estrada» com o seu carro novo. Quando regressou a
casa, tinha perdido um período de quarenta e cinco minutos, que não
conseguia justificar.
No dia seguinte Catherine acordou por volta do meio-dia, «deu
uma passagem pelas notícias» e viu «qualquer coisa sobre um OVNI
que tinha sido avistado na noite anterior». Alguns dos comentadores
dos noticiários tentaram explicar o objecto avistado sobre Boston
como sendo um cometa ou um meteorito, mas o objecto deslocava-
-se horizontalmente em relação ao cimo das árvores e Catherine
disse para si própria: «É um tipo de meteoro muito estranho» e «um
cometa vem do céu, esmaga-se e é tudo». Por outro lado, um polícia
e a mulher contaram que o objecto se tinha detido lá em cima e lan-
çado uma luz sobre eles. Um dos canais de TV mostrou um mapa do
trajecto do objecto, desde o sul do Massachussetts até ao nordeste do
estado (Barron 1991, Chandier 1991). Chocada, Catherine compre-
endeu, então, que embora não se lembrasse de ter visto o OVNI,
«tinha viajado na mesma direcção». Ironicamente, tinha andado uiti-
170 SEQUESTRO
mamente a ler sobre OVNI e «estava meio à espera de ver um OVNI,
meio à espera de nunca ver nenhum». Uma inexplicável hemorragia
nasal — a primeira da sua vida — ocorrida pouco tempo depois do
episódio mencionado, foi um dos factos que a perturbaram e contri-
buiu para que me contactasse, além do facto de ter respondido positi-
vamente à maior parte das questões indicativas de possíveis
encontros com OVNI, num livro sobre raptos.
Na nossa primeira sessão, Catherine pediu desculpa, temendo
estar a fazer-me perder tempo. Recordou um sonho, quando tinha
nove anos, em que estava paralisada e aterrorizada, enquanto «uma
espécie de criaturas» com dedos compridos, mais largos nas extre-
midades, surgiam atrás dela e a agarravam. A mão da criatura era
fria. No seu terror, Catherine queria gritar e «chamar pela minha
mãe, mas não consigo. Não consigo dizer nada». Também se lem-
brou de um outro sonho, no Natal anterior de 1990, quando estava de
visita à mãe na casa do Alasca, em que se encontrava numa nave
espacial com paredes curvas e na sala em que ela se encontrava havia
qualquer coisa «parecida com um grande lago de peixes». Não tinha
a certeza de que isto tivesse sido realmente um sonho. Fiz um ligeiro
exercício de descontracção com ela, a fim de a ajudar a recordar por-
menores do passeio da noite. Catherine lembrava-se das estradas por
onde tinha passado e sentiu medo quando se recordou de ter passado
duas vezes por uma área florestal em Saugus, cerca de dezasseis qui-
lómetros a norte de Boston. Também afirmou que tinha muito medo
de agulhas. Finalmente, admitiu que estava numa espécie de crise
quanto à sua carreira, sentindo que «não estou a utilizar todas as
minhas capacidades».
Tanto Catherine, como eu sentimos que este primeiro encontro
— que, em retrospectiva, era bastante sugestivo de experiências de
rapto por OVNI — era equívoco e eu sugeri-lhe que observasse que
outras memórias surgiriam nos dias seguintes e pedi-lhe que me tele-
fonasse dentro de uma semana. Como ela não telefonou, eu telefo-
nei-lhe e ela disse-me que se sentiria tola por me telefonar, que nada
mais tinha surgido e que ela andava preocupada a preencher «curri-
cula», para avançar na sua carreira. Durante nove meses não soube
nada de Catherine, até que ela me escreveu uma carta dizendo que
agora tinha «impressões (memórias era uma palavra demasiado
forte)» do Natal de 1990, «de uma nave no campo» por trás da casa
da sua mãe no Alasca. Por outro lado, tinha entrado em pânico ao ver
«SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 171
o filme Communion {Comunhão}, baseado no livro de Whitiey
Strieber, há seis meses tinha visto uma luz estranha numa nuvem
deslocando-se através do horizonte e tinha descoberto uma pequena
cicatriz recta sob o queixo, para a qual não tinha nenhuma explica-
ção. Tudo somado, «estava a interrogar-se demasiado acerca do
assunto para deixar andar» e tinha decidido que «gostaria de ver se
seria possível trazer qualquer coisa para a luz, para minha própria
tranquilidade de espírito».
Ao longo dos oito meses seguintes, realizei cinco sessões de hip-
nose com Catherine e falei frequentemente com ela. Durante as ses-
sões, explorámos pormenorizadamente várias das suas experiências
de rapto e emergiram emoções extremamente intensas. Catherine
tem frequentado regularmente o nosso grupo de apoio mensal e tor-
nou-se uma auxiliar valiosa para outros sujeitos de experiência. Na
realidade, alterou a sua carreira e actualmente está a frequentar a
faculdade de psicologia. O caso de Catherine é significativo, devido
à clareza de observação que traz a muitos dos fenómenos de rapto
por OVNI. Mas, além disso, demonstra as formas pelas quais o cres-
cimento pessoal e a transformação do próprio fenómeno podem
ocorrer, em resultado de uma mudança na atitude e na visão do
sujeito da experiência face aos encontros, especialmente no que diz
respeito ao terror a eles associado.
Catherine cresceu no estado do Orégon, em Portiand e nas cida-
des circundantes, mudando-se frequentemente devido ao trabalho
do pai como inspector. Este reformou-se com uma doença de coluna,
quando Catherine era ainda criança, e ficou limitado a realizar traba-
lhos de reparação e de carpintaria em casa e pequenos trabalhos para
outras pessoas. Também tinha um problema de alcoolismo; quando
estava embriagado desaparecia frequentemente e era dado a súbitas
explosões de fúria. Uma vez, quando Catherine se recusou a limpar o
quarto, ele colocou todas as suas coisas num monte de lixo e pegou-
lhes fogo. Os pais divorciaram-se quando Catherine estava na uni-
versidade. Actualmente, praticamente não tem contactos com o pai.
A mãe de Catherine, Susan, é professora e trabalha com crianças
deficientes. Quando Susan estava na faculdade viu um OVNI
(«luzes no céu que fazem coisas que os aviões não fazem»), cujo
aparecimento foi testemunhado por mais três dezenas de pessoas.
Susan, preocupada com a filha e curiosa acerca do meu trabalho com
ela, telefonou-me de sua casa no Alaska rural, para onde a família se
172 SEQUESTRO
mudou durante a adolescência de Catherine. Fiquei impressionado
com a sua sensibilidade e abertura de espírito face às experiências de
Catherine. Manifestou acreditar na possibilidade da existência de
vida extraterrestre, que poderia assumir formas inesperadas. O único
irmão de Catherine, Alex, é oito anos mais novo do que ela.
Catherine pensa que ele também pode ter tido experiências de rapto,
mas não tem a certeza. Apresentava uma marca inexplicável na mão
esquerda, com a mesma forma de ferradura que as duas cicatrizes
que Catherine tinha, também na mão esquerda, e que ela pensa esta-
rem relacionadas com o rapto. Esta marca, entretanto, desapareceu.
Susan descreve Catherine como «um espírito livre, um pouco
diferente», durante os seus anos de crescimento. Em busca de outras
origens possíveis para o seu trauma, perguntei a Catherine se não
poderia ter sido vítima de abuso sexual na infância, estupro ou qual-
quer outra violação. Contou-me que, quando tinha cerca de quatro
anos, um amigo de infância da família pôs a mão entre as suas pernas
e tocou nos seus órgãos genitais. Foi uma experiência perturbadora:
«ali estava aquele homem mais velho, que eu pensava ser tão mara-
vilhoso e em quem confiava tanto, de quem os meus pais também
gostavam tanto e foi como se... fiquei abalada». Nem Catherine,
nem a mãe pensam que ela possa ter sido sexual ou fisicamente mal-
tratada pelo pai ou por outros membros da família.
A primeira experiência de rapto de que Catherine se recorda
ocorreu quando tinha três anos de idade. As memórias foram despo-
letadas conscientemente, isto é, emergiram sem hipnose, por uma
cena perturbadora de um pesadelo da mini-série da CBS, Intruders,
em que uma das mulheres sequestradas vê um cão a ladrar à janela
do seu quarto, que se «transforma», ou esconde a memória, de um
ser alienígena. Catherine lembrou-se de acordar a meio da noite e
ver um ser à janela, com uma luz azul a entrar no quarto, por detrás
dele. A casa da família era uma casa móvel de um único andar e
Catherine calculou que «este tipo de aspecto estranho do lado de fora
da janela» teria de ser bastante alto ou estar a flutuar, porque a
janela
se situava muitos centímetros acima do chão e o dorso magro da
entidade era visível na janela.
Descreveu o ser como tendo «grandes olhos negros, um queixo
pontiagudo — a sua cabeça é como uma lágrima invertida. A boca é
uma linha, não consigo ver muito bem o nariz do sítio onde estou,
mas não se parece com um nariz humano. É apenas um alto. Vejo
174 SEQUESTRO
mente e voltando a pô-la no lugar». Lembra-se, também, de ser flu-
tuada «pela sua frente (do ser que tinha estado à janela) e para fora da
porta do quarto, para o corredor e para a sala» e, em seguida, «pela
porta da frente».
Em seguida, Catherine descreveu o que aconteceu na nave, tema
que não tínhamos abordado na nossa anterior conversa:
Eles levaram-me para uma sala redonda, na nave, com um
longo banco à volta de todo o perímetro, excepto a porta. O banco
estava todo coberto por uma almofada vermelha. Estão lá outras
crianças, talvez, cinco ou seis, todas com menos de dez, anos. Um ser
feminino, alto, entra e diz-me: «Queres brincar?» Tenho a sensação
de que poderia ser educadora de infância ou chefe de um centro de
dia. Estou confusa e com sono, mas respondo: «Está bem». Ela
parece satisfeita com esta resposta. Olho para as outras crianças:
são mais velhas e mais altas. A sala parece muito clara. Ela vai para
o outro lado do quarto, donde tinha vindo, e volta trazendo alguma
coisa. Parece ser uma bola de metal e flutua. Atira-a pela sala,
fazendo-a ricochetear nas paredes e algumas das outras crianças
também tentam atirá-la, mas não tão graciosamente. Batem nas
paredes e há um som metálico quando bate. Quando isto acontece,
ela emite uma sensação de divertimento. Quando chega a minha
vez, pergunta-me: «Queres tentar?» e eu respondo: «Sim!», porque
quero exibir-me perante todos aqueles miúdos mais crescidos. Ela
dá-me uma vara metálica, com cerca de 30 centímetros de compri-
mento, ou talvez um pouco maior. Tem cerca de 2 centímetros de
diâmetro, e há uma antena grossa e curta a sair da parte superior. É
de um cinzento prateado e macia. A antena tem cerca de 9 centíme-
tros de comprimento, com uma pequena bola na ponta. A vara
funciona como um controlo remoto e deve ser apontada à bola para
guiá-la, mas, para a controlar, é necessário também que nos con-
centremos. Assim, faço-a parar, deixo-a pairar, depois atiro-a e
páro-a completamente, depois de um movimento muito rápido, e
estou afazê-lo muito melhor do que os mais crescidos. Os miúdos
mais velhos que foram mal sucedidos deitam-me olhares fulminan-
tes e sinto neles uma sensação de frustração. Um minuto depois, o
ser feminino vem tirar-me a vara, porque a minha vez acabou e,
então, diz-me que me saí muito bem, mas que tenho de parar porque
estou a fazer as outras crianças sentirem-se mal, porque eu sou mais
176 SEQUESTRO
Catherine começou a chorar como uma criança indefesa e repetia
lamentosamente: «Não o conheço e ele vai levar-me de qualquer
maneira!»
Ainda a chorar, Catherine disse: «Ele está a levar-me para cima.
Estamos a voar... Posso ver as coisas todas lá em baixo. É assustador.
Não deveria acontecer. Ele ainda tem a mão em mim. Posso ver tudo
lá em baixo e não devia ser assim». Depois, passou por um «buraco»
para «o meio desta sala». Catherine pensou em bater na pequena
figura, que era «tão alta como eu», mas «não conseguia mexer-se».
Ele parecia estar a rir-se. «Ele achava engraçado que eu quissesse
bater-lhe», o que ela sabia «porque era como se o ouvisse dentro da
minha cabeça». Dentro da sala, o homem pequeno foi a outra sala
buscar qualquer coisa e trouxe-a. «Eu perguntei: 'O que é que vais
fazer com isso?' e ele disse-me: 'Vou fazer apenas um pequeno
corte'. E eu digo: 'Porquê?' E ele responde: 'Porque precisamos de
uma amostra'. E eu disse: 'NÃO! NÃO! Não podes cortar-me \ E ele
responde: 'Tenho de fazê-lo'. Eu disse: 'Não, não tens nada! É uma
maldade! Não tens de fazer-me isso a mim!' Ele disse: 'É para inves-
tigação científica'. E eu disse: 'Não podes cortar outra coisa?' E ele
respondeu: 'Não, porque precisamos de sangue». Ele fez um
pequeno corte no quarto dedo da sua mão esquerda, que doeu menos
do que Catherine esperava. Com um instrumento «parecido com um
conta-gotas» feito inteiramente de metal, recolheu uma pequena
quantidade de sangue.
Insistindo que «tínhamos de obter a amostra», o ser disse que a ia
levar de volta. «Mas não me disseste porquê», insistiu Catherine. E
ele respondeu: «Estou a investigar o teu planeta». «O que é que há de
errado com o meu planeta?», perguntou ela. «Estamos a tentar impe-
dir os danos», respondeu ele. «Que danos?» perguntou Catherine.
«Os danos causados pela poluição», explicou ele. «Não sei nada
disso», disse ela. «Hás-de aprender», respondeu ele. «E a seguir
estamos novamente a descer. Estou a chegar perto do chão, mais
perto, ainda mais perto, já estou no chão e quero fugir, mas não con-
sigo mexer-me. Ele diz: 'Voltaremos a procurar-te'».
Catherine achou-se novamente na alameda dos pavões. «Vou a
correr, a correr, passo pêlos pavões, em direcção à estrada», até parar
«no sítio onde deveria estar». Catherine calculou que deviam ter
passado cerca de quinze minutos e ninguém parecia ter dado pela sua
falta, quando voltou ajuntar-se a um grupo de crianças que estavam
178 SEQUESTRO
A casa móvel da mãe situa-se numa área deserta, a uns nove ou dez
quilómetros de uma pequena cidade do centro-sul do Alasca. Atrás
da casa situam-se vastos campos. O dia de Natal calhou a uma terça-
feira e Catherine lembra-se de que o «sonho» ocorreu um dia ou dois
depois. Antes da hipnose, Catherine lembrava-se de acordar na
manhã seguinte com uma «imagem na minha cabeça, de estar numa
sala numa nave... Passei cerca de dez minutos deitada na cama, ten-
tando lembrar-me de tudo o que podia sobre isso e gravá-lo na minha
memória tanto quanto fosse possível. Sabia que era muito impor-
tante lembrar-me. Não sabia porquê. Uma parte de mim dizia que era
apenas um sonho, nada de especial. Mas a outra parte dizia que não,
que era muito importante. Tens de te lembrar o mais que puderes
disto». Catherine pensou no sonho durante todo o dia, para ver se
conseguia recordar-se de mais pormenores, mas nessa altura não lhe
foi possível. Mais tarde, lembrou-se dos pormenores mencionados
no início deste capítulo.
Sob hipnose, revimos pormenorizadamente o esquema da casa,
a chegada de Catherine antes do Natal, a visita do pai na véspera de
Natal e as actividades tranquilas e sem história do Dia de Natal e do
dia seguinte. Agora, enquanto se recordava de ter acordado com a
impressão de ter visto «uma nave», sentia que «na realidade, não
parecia ser um sonho». Sentia-se também «um pouco nervosa» na
sessão. Encorajei-a a «manter o seu nervosismo» e tranquilizei-a
quanto à sua segurança neste momento. Em seguida, Catherine
disse: «Lembro-me de ter acordado no corredor a meio da noite e de
olhar pela janela da sala e ver uma grande nave lá fora, no campo das
traseiras». Catherine pensa que, nessa altura, estava num estado de
«mais que semi-adormecimento». O campo parecia um pântano
gelado no Inverno e a nave estava «pousada no chão», entre o atre-
lado e várias grandes árvores. «É como um disco, mas mais largo
que um disco no meio e de metal prateado. É maior do que o atre-
lado». Reparou também em luzes individuais em volta dos bordos da
nave («luzes brancas, como que entalhadas», observou ela depois da
sessão). A sua primeira reacção foi: «Não devia estar ali».
Na sessão, a ansiedade de Catherine começou a crescer.
Vestindo apenas uma «grande t-shirt larga» e descalça, «posso ver-
me a calçar um par de pesadas botas da minha mãe e a vestir um dos
seus grandes casacos grossos e a sair lá para fora». Ofegante,
Catherine dizia agora: «Sinto-me como se soubesse que tenho de
180 SEQUESTRO
um método de respiração e relaxamento e perguntei-lhe se queria
parar por ali nesse dia. Ela disse: «Sinto que não consigo. Sinto um
enorme peso no peito. Está tudo a fugir. Estou completamente ater-
rorizada, só de pensar em entrar». Depois de reconhecer ainda
melhor o seu medo, sugeri um truque ou um jogo, no qual ela ficaria
no princípio da rampa e enviaria um boneco-espião, com os olhos
fechados, que entraria na nave com instruções para abrir os olhos
quando lhe mandássemos e contar tudo o que via. Ela concordou e o
«espião» falou de «um curto corredor de entrada oval e paredes a
descerem, curvadas aos lados — como se estivéssemos no interior
de um ovo. É tudo metálico». O boneco podia ver que existiam
outras salas, mas não via «nenhumas entradas nem nada».
Nessa altura, Catherine já estava disposta a entrar na nave «por si
mesma». Pensou que tinha como que «deslizado pela rampa acima».
Reparou noutros pormenores das paredes curvas e da forma da pri-
meira sala, a que chamou «apenas uma entrada». Havia luz, «mas
não um candeeiro ou qualquer coisa assim». Viu uma abertura oval
para outra sala e disse: «Vou para aquela sala, mas ainda não fui», e
acrescentou: «Pode enviar um espião para aquela sala. Eu não vou
entrar naquela sala. Vou olhar lá para dentro, mas nada mais».
Concordei com isto, mas encorajei-a a colocar o espião mais sob o
seu controlo. Ela disse: «Ele é invisível e nada lhe pode acontecer,
porque eles não sabem que ele está lá». Ele era também, «um
miúdo», um rapaz.
Na sala, o espião viu «uma grande quantidade de painéis e ins-
trumentos e outras coisas científicas, mas nada parecidas com o que
nós temos. Existe uma espécie de plataforma no meio da sala. Não é
muito grande, tem talvez metade do tamanho da sua sala de estar no
andar de baixo e pode ainda ver-se a curva do exterior da nave, tal
como na outra sala... Está tudo calmo. Há qualquer coisa no tecto,
sobre as pessoas que se encontram no meio da sala. Parece girar em
longos gonzos, como os nossos candeeiros de secretária, que pode-
mos apertar e desapertar e girar na direcção pretendida. E está aqui
outro ser. Está à espera, e penso que é uma espécie de médico ou de
examinador clínico. E há também toda a espécie de instrumentos,
botões e painéis, ao longo das paredes. Há um espécie de balcões ao
longo de todas as paredes, excepto a da entrada... A mesa do meio é
como um sólido, não como uma mesa que tem espaço por baixo, mas
está presa ao chão e é como uma espécie de grande bloco sólido».
182 SEQUESTRO
doida? A fim de «me acalmar», notou Catherine, «digo para mim
mesma que 'é imaginação tua'».
Uma indicação decisiva para Catherine da realidade da experi-
ência foi a força e a autenticidade das suas emoções, para a qual não
descobrimos qualquer outra origem. «Não me parece provável que
estivesse a soluçar sem qualquer razão aparente, se não estivesse ali
qualquer coisa. Não sou dada a ataques de choro sem razão».
Igualmente persuasivo para ela nestas recordações iniciais foi a sen-
sação de estar a ser obrigada, contra sua vontade, a levantar-se no
meio da noite e sair para o Inverno do Alasca na direcção da nave.
«Eu não decidi levantar-me e fazer isso». As próprias experiências
provocaram-lhe a sensação de ter sido «completamente violada. E a
forma como eu imagino que se deve sentir uma vítima de violação».
Finalmente, reparei noutra característica das suas lágrimas, uma
espécie de tristeza. Ela sugeriu auto-piedade, mas eu pensei que
fosse algo de mais profundo. Afirmando, então, a sua forma de sentir
aquilo a que chamo choque ontológico, Catherine disse:
— Ah, já compreendi... Tinha de entender!!! Oh, meu Deus!
Para a apoiar na sessão de hipnose seguinte, Catherine trouxe
uma jovem amiga sua do nightclub em que trabalhava. Um ponto
que não lhe saía da cabeça, e que nunca tinha sido esclarecido, era o
de saber se estava, ou não, a usar as suas lentes de contacto durante o
episódio do Natal de 1990. Ela não se lembra de as ter colocado, mas
conseguia ver distintamente durante toda a experiência, ao passo que
sem as lentes «tudo deveria parecer apenas um grande borrão».
Catherine sentira-se frustrada desde a última sessão, por não ter con-
seguido obter uma resposta decisiva quanto à realidade da sua expe-
riência. Sem qualquer prova física concreta, à semelhança de tantos
outros sequestrados, sentia-se como não reconhecida pela ciência e
pela sociedade e, portanto, em perigo de ser considerada «louca». Se
tivesse sido violada, notava ela, «poderia ir à polícia. Nesse caso,
haveria provas. Seria possível efectuar análises e as pessoas não
olhariam para mim como se tivesse perdido o juízo, quando lhes dis-
sesse 'Aconteceu-me isto'».
Catherine iniciou a segunda regressão, recordando resumida-
mente os passos que a levaram a ser obrigada a deitar-se na mesa.
Salientou a surda iluminação da sala e sentiu novamente a perda de
toda a vontade própria. O chefe ou «examinador», embora mais alto
do que os outros, não era, porém, mais alto do que ela. A sua pele
184 SEQUESTRO
coisa ao seu corpo nesta altura e fiz uma espécie de «inventário». Ela
descreveu um instrumento de metal, «talvez com trinta centímetros
de comprimento», que tinha sido introduzido cerca de dois centíme-
tros numa das narinas. Um pouco chocado, disse-lhe que, desse
modo, teria atingido o cérebro. «Era mesmo para isso», respondeu
ela. «O examinador veio com essa coisa na mão, que tinha uma espé-
cie de pega na extremidade. Era um instrumento longo e flexível, e
ele inclinou-se sobre o meu ombro direito sem olhar para mim.
Estava a olhar para a minha narina e enfiou-o o mais que pôde. Não
gostei, porque não podia respirar muito bem, e, a seguir, ele bateu
em qualquer coisa atrás e limitou-se a empurrá-lo e empurrou-o atra-
vés do que quer que fosse».
A soluçar e a gemer, com a voz novamente quebrada, Catherine
disse: «Senti qualquer coisa a partir-se dentro da minha cabeça.
Quando ele empurrou, partiu qualquer coisa e, depois, empurrou
ainda mais, ainda mais para cima». O procedimento foi incómodo,
mas não realmente doloroso. «Gostava de saber o que é que eles par-
tiram... Não sei nada de anatomia, mas ele partiu qualquer coisa,
para chegar ao meu cérebro. Não sei o que foi. Gostava de saber se
vai curar-se». Em resposta à sua preocupação acerca de ter «ouvido
qualquer coisa a estalar» na sua cabeça, tentei tranquilizar
Catherine, afirmando que duvidava que houvessem sido causados
quaisquer danos permanentes no seu cérebro. Mais tarde, Catherine
comentou que «tinha medo que houvesse fragmentos de osso no
meu cérebro». Perguntei a Catherine o que vira depois da sonda ter
sido retirada. Ela disse que havia um pouco de sangue, tanto no ins-
trumento como na sua narina, mas não viu se fora retirada mais
alguma coisa. O examinador deu o instrumento ao assistente, que o
levou «para o lado mais afastado da sala, de onde viera, e fez qual-
quer coisa, que não consigo ver o que é».
Foi nesta altura que, em resposta a uma pergunta minha,
Catherine observou que podia ver tão bem como habitualmente,
quando tinha as lentes de contacto, mas pensava que não as tinha
consigo. Neste contexto, surgiu na sua mente uma imagem do exa-
minador «a olhar para o meu rosto. Está a escrutinizar... como se
estivessem a tentar imaginar o que mais precisarão de fazer».
Encorajei-a a falar-me sobre os olhos dele, que ela apenas podia ver
«muito, muito, muito vagamente» e achava desagradáveis. No
entanto, conseguiu recordar: «São muito, muito grandes. Muito,
186 SEQUESTRO
renta de altura. Havia umas quatro ou cinco filas na vertical e cerca
de oito ou dez na horizontal, da esquerda para a direita, perfazendo
no total cerca de quarenta estojos. «Sei que cada um dos estojos con-
tém qualquer coisa. Todos contêm o mesmo», disse Catherine, mas
não houvera tempo para dizer exactamente o quê. Demos ao espião
mais dois segundos. Desta vez ele viu «uma espécie de criaturas,
mas que parecem deformadas. Cada estojo contém uma destas coi-
sas». Catherine disse que passara por esta sala, a caminho de um
outro sítio, e estava agora disposta a contar o que vira durante esses
poucos segundos, com a ajuda do espião com uma lanterna.
Nos estojos estão «uma espécie de versões bebé deles mesmos».
Estão «todos dentro de um líquido» e «todos a olhar para fora» e «os
estojos estão iluminados por trás». Parece não haver mais nada na
sala. As criaturas estão despidas e «parecem estar de pé... Como
bonecas dentro de caixas de plástico. É assim que eles estão». Depois
da regressão, Catherine descreveu os estojos «como uma exposição
numa montra de uma loja de brinquedos. Enchem tudo de Barbies e
podemos ver através das embalagens de plástico e elas estão todas ali,
de pé». No cimo de cada estojo, podia ver «o nível da água (ou) lá o
que é. Mas eles estão completamente submersos nesse liquido. As
cabeças são grandes e com a mesma proporção em relação ao corpo
que os próprios entes alienígenas. São como miniaturas.»
Depois de atravessar a sala dos estojos, Catherine foi conduzida
por dois dos seres ao longo de uma passagem, «curvando para a
direita, como se seguisse a extremidade da nave» e através de uma
porta, para outra sala. Ainda vestia apenas a sua t-shirt. Em seguida,
entrou numa sala que era muito maior que qualquer das outras que
vira antes. Era atravessada por um caminho que também curvava
para a direita, mas as proporções confundiram-na. «Consigo ver o
ponto onde a extremidade da nave deveria estar à esquerda, mas está
bem longe, a cerca de quinze metros de distância. Não compreendo
como pode estar tão longe, porque a outra sala tinha apenas uns três
metros de largura e esta está assim tão longe».
Catherine achou-se «numa floresta... estou confusa, mas é
assim. Está na sala e existem árvores e rochas e sujidade e outras coi-
sas para a esquerda. Consigo ver tudo do local onde estou. Não
vamos para esse lado. Estamos a dar a volta para a direita. Como é
que posso estar na floresta?» Incrédula, Catherine exclamou: «Não
faz sentido!», porque «embora haja floresta em toda a volta», ela
188 SEQUESTRO
meu pensamento regressa sempre aos OVNI». Seguiu as indicações
que conduziam à Saugus Iron Works, ficou cinco minutos no parque
de estacionamento e, em seguida, compreendeu que «não faz sen-
tido». Cada vez mais perdida, passou por uma zona residencial e
chegou a uma área arborizada. Sentiu-se ansiosa ao atravessar esta
área, mas pensou que era esse o caminho de volta à auto-estrada e
«tenho de seguir». Catherine tranquilizou-se, dizendo a si própria
que «se alguém tentasse assaltar o carro» poderia acelerar e «atro-
pelá-los».
Catherine atravessou a área florestal, mas percebeu que não era
esse o caminho para a auto-estrada e que teria de voltar para trás.
Ainda mais ansiosa do que da primeira vez, voltou a atravessar a
me'sma área, observando: «Penso que aconteceu alguma coisa, mas
não sei o quê». Nesta altura, interrompi a sua narrativa e pedi-lhe
para regressar mais devagar à experiência de atravessar o bosque
pela segunda vez e para me falar de todas as sensações que surgis-
sem. Ela disse: «Não quero estar ali... Tenho de continuar a guiar...
Começo a ficar novamente entorpecida». Embora «o meu pé se
mantivesse firmemente no pedal» e o chão fosse plano, o carro
estava a abrandar. O carro parou e o entorpecimento aumentou até ao
ponto em que «todo o meu corpo parecia adormecido».
Embora Catherine conseguisse ver as luzes da estrada para além
dos bosques, à sua volta estava mais claro «do que devia estar».
Incapaz até de mexer as mãos, sentiu «qualquer coisa a aproximar-se
das traseiras do carro, do lado esquerdo, o lado do motorista, como
uma luz vinda dessa direcção». Alguma coisa chegou à porta e
abriu-a, mas Catherine: «não posso olhar para lá... Está ali qualquer
coisa. Penso que é um deles. É uma mão estendida para me agarrar...
É comprida e magra, de cor muito clara, e só tem três dedos». A
figura «pressiona-me com a mão para me guiar e eu saio». Sentiu
que não tinha escolha. «Se eu tivesse podido escolher, teria acele-
rado dali para fora como o diabo». A seguir, «estou a dar a volta por
trás do carro e o ser está atrás de mim para a direita, enquanto o carro
fica à esquerda». O ser tinha «grandes olhos negros amendoados» e
«brilhava». Ela acha que a luz que vinha da parte de trás do carro
emanava do brilho do próprio ser.
Pressentindo o seu medo, o ser fez qualquer coisa, talvez com a
sua «enorme mão», para a acalmar. Embora achasse «de certo modo
reconfortante, o facto de ele não querer que ela estivesse assustada»,
190 SEQUESTRO
razão, ou se apenas o querem manter intacto para que os seus espéci-
mes não morram todos a meio da experiência».
Ao mesmo tempo, Catherine também se mostrava preocupada
com o destino da terra. «Acho que eles têm razão. Se não fizermos
qualquer coisa imediatamente, vai ser o suicídio para todos nós.
Estou mais preocupada em manter-me viva, a mim, aos meus ami-
gos e a todas as pessoas do planeta, porque isso é uma boa coisa a
fazer, do que com o facto de um grupo de pequenos safados, que che-
gam aqui e me levam, perderem a sua experiência. As nossas moti-
vações são completamente diferentes, embora os objectivos possam
ser os mesmos». Mas, acrescentou ela, «toda a experimentação
genética é uma grande parte, mas não é a história toda... É difícil
explicar, mas o plano é muito maior que esse». Mas se não prosse-
guirem as actividades reprodutoras/genéticas, «então poderão conti-
nuar, mas esta é apenas uma etapa».
Depois desta discussão, Catherine mostrou-se determinada a
continuar a investigação. «Preciso de saber sobre Saugus, porque é
uma coisa enorme, enorme», disse ela. No início da regressão,
Catherine recordou resumidamente os acontecimentos que a leva-
ram a sair do carro em Saugus, com um pormenor adicional: quando
a porta do carro se abriu, pensou para si própria: «Oh, meu Deus! É
um deles!» Nesse momento, compreendeu que a sua viagem em
direcção ao norte fora compulsiva e que «eles fizeram-me pensar
que os motivos eram outros». Lembrando-se de estar num local dos
bosques, não muito distante do carro, Catherine recordou o que se
seguiu. «Ele está a levar-me para cima, para cima na diagonal.
Parece que estamos a voar. Não estamos a subir em linha recta.
Seguimos também na horizontal.' Isto é muito depressa! Porque é
que estamos a ir tão depressa? Parece-me que vou cair do feixe! Vou
cair lá em baixo!' E ele limita-se a parecer dizer 'Não, não vais'.
Tudo está a andar mais depressa lá no chão e nós estamos os dois a
subir, e estamos a chegar à nave».
A nave era «enorme. Todos deviam poder vê-la e não sei porque
é que não vêem. Está coberta de luzes. Parece de metal prateado,
mas está coberta de luzes. É diabolicamente grande... Ele está a
levar-me para dentro. Estamos numa entrada. Há mais alguns deles à
espera. Parece que agora estão aqui quatro. Estão a puxar-me as rou-
pas... Estou irritada! 'Parem com isso! Sou perfeitamente capaz, de
fazer isto sozinha, muito obrigada!' e eles parecem assumir uma ati-
192 SEQUESTRO
comigo enquanto indivíduo'. Mas é difícil pensar isto. E difícil. E
difícil pensar qualquer coisa que seja contra aquilo que ele quer que
eu pense». O ser insistiu: «Não, eu quero conhecer-te. Preocupo-me
contigo». A luta de vontades continuou. A sua resistência era «fazer
que ele trabalhasse mais arduamente do que ele pensava que deve-
ria». A sua mente disse «tretas», quando o ser «tentou dizer-me que
me amava». Finalmente, ela concedeu: «Talvez ele tenha razão.
Talvez eu simplesmente não compreenda... Talvez eu tenha errado
ao pensar que ele estava a mentir... Simplesmente não os compreen-
do. É por isso que penso assim». Ela insistiu no pensamento de que
ele não sabia o que significava gostar de alguém e ele respondeu:
«Não, nós sabemos. Só que não o sentimos tão intensamente como
vocês».
Agora, a discussão aparentemente tinha terminado. «Ele
ganhou, por isso vai-se embora. Dá a volta, até aos pés da mesa, e
pergunta-me:
— Agora estás preparada?
— Para quê? — pergunto eu.
— Chegou o momento — responde ele.
— Gostaria que respondesses a uma coisa — digo eu.
— Não deves fazer tantas perguntas.
Ele diz-me que vão tirá-lo e eu penso: 'Tirar o quê?' Um deles
traz um carrinho com uma espécie de tanque. Parece um cilindro e
está cheio de um líquido claro. Está a levantar-me os pés e a abrir-me
as pernas e eu penso: 'Meu Deus, que será que eles vão fazer?'».
Encorajei Catherine, que estava obviamente muito perturbada, a
respirar fundo e a concentrar-se novamente. Assegurei-a da minha
presença e afirmei-lhe que o pior estava «quase a terminar». O que
se seguiu foi a experiência mais perturbadora da história recuperada
dos raptos de Catherine e os minutos mais difíceis do meu trabalho
com ela. Enquanto ela soluçava e arquejava, por vezes gritando his-
tericamente ou manifestando a sua raiva, tive de assegurar-lhe repe-
tidamente que estava ao seu lado e exprimir o meu pesar por tudo o
que lhe acontecera, ao mesmo tempo que lhe pedia pormenores. A
minha impressão era que Catherine estava decidida a ir até ao fim,
apesar de estar a reviver uma experiência altamente traumatizante.
O ser alto introduziu na sua vagina «um grande instrumento de
metal», o que a perturbou intensamente. Em seguida, pegou numa
«versão» mais comprida e mais fina deste mesmo instrumento «e
194 SEQUESTRO
E eu digo: 'Vocês nunca dizem nada de nada. A quantos seres huma-
nos fizeram o mesmo?' e ele responde: 'A um grande número'».
Catherine sentiu que, apesar do seu grande esforço para lutar
contra a influência do ser, estava «a perder» e estava positivamente
afectada pela garantia de que eles se importavam com ela, tinham
«pena que isto a tivesse magoado» e «não tinham desejado fazê-la
sofrer». Depois de mais comunicações sobre o «significado» das
experiências dos alienígenas, planos ou projectos — nenhuma des-
tas palavras parecia correcta — e mais garantias de que «não vão
magoar-me», Catherine disse simplesmente: «Vocês deviam ter-me
pedido». Também lhe disseram novamente que ela não se recordaria
de nada.
Então, perguntei-lhe como era possível que ela e eu estivésse-
mos a recuperar estas memórias e ela respondeu que, uma vez que
eles tinham feito o que tinham a fazer, já não interessava. Depois de
a ter mais uma vez tranquilizado, tanto com os olhos, como com
palavras, para que «se acalmasse», o examinador saiu e os «peque-
nos» retiraram Catherine da mesa e conduziram-na novamente atra-
vés da sala cheia de mesas.
Olhando em volta, para as pessoas nas mesas, Catherine sentiu-
se triste «por todos eles» e sentiu «que deveria dar início a um motim
ou qualquer coisa do género, mas que não podia fazê-lo». Levaram-
na novamente para a primeira sala em que tinha entrado e onde as
suas roupas tinham ficado. «Vesti as minhas roupas e eles tentaram a
ajudar-me, mas a minha reacção é do género: 'São o diabo das
minhas roupas, façam favor de me deixar vesti-las'. Tentaram aju-
dar-me, mas tudo o que conseguiram foi atrapalhar. Nessa altura,
estavam a olhar-me de soslaio. Na realidade, não queriam ofender-
-me mais. Estavam com um pouco de medo de mim». Embora no seu
estado de paralisia Catherine não pudesse expressar completamente
os seus sentimentos, «eles podiam sentir a presença dessas emoções
e ficam um pouco assustados, porque como não podem sentir assim
tão intensamente, não sabem lidar com isso, especialmente agora
que o mais alto não está aqui. Acho que eles não têm capacidade para
me acalmar, se eu ficar novamente perturbada».
Ao sair da nave «para este buraco vazio, deveríamos cair directa-
mente lá em baixo, mas não. Regressamos em diagonal». Um dos
seres levou Catherine «a flutuar» até ao lado do passageiro do carro
e caminhou com ela até ao banco do condutor. A porta ainda estava
196 SEQUESTRO
perguntava-se se «não estarei talvez a aproveitar material daí»,
embora nunca se tenha considerado uma pessoa sugestionável. Pam
comentou que, mesmo antes de ler o livro, Catherine lhe tinha con-
tado que pensava que o episódio de Saugus «estava relacionado com
um feto». Em seguida, Catherine perguntou a si própria «porque que
motivo,» se estas memórias não são autênticas, «estaria eu a inventar
estas histórias bizarras e traumatizantes?» No final, Catherine con-
cluiu que tinha apenas duas hipóteses: ou estava «doida», ou «não
sei que mais pode ser, se não que isto aconteceu mesmo».
Por fim, discutimos a sinceridade das expressões de carinho e
afecto do examinador. Catherine conseguia reconhecer que, do
ponto de vista dos alienígenas e do seu empenhamento na sua expe-
riência, eles poderiam sentir um certo afecto, como aquele que senti-
mos por um animal de estimação que esteja a ser utilizado em
experiências. Mas para ela, isto «não era desculpa, porque eles
sabem, sabem muito bem, que a nossa consciência é maior. Eles
sabem o que estão a fazer! Sabem o quanto é traumatizante para nós
e não se ralam nem um bocadinho». Dois dias depois desta sessão,
Catherine escreveu-me uma nota de agradecimento pela ajuda que
estava a receber «num momento em que a minha percepção da reali-
dade está profundamente abalada».
No decurso dos dois meses seguintes, Catherine lutou com mui-
tas questões relacionadas com as provas físicas, susceptíveis de con-
firmar os seus encontros, com a sua realidade e, sobretudo, com as
mudanças de consciência que melhor lhe permitiriam adaptar-se ao
fenómeno e, até mesmo, manter um diálogo mais intenso com os
alienígenas. Encontrámo-nos a 27 de Julho de 1992, para discutir a
forma como a sua atitude tinha mudado e que ela atribuía, em parte,
ao que tinha aprendido nas suas conversas com outros sequestrados.
Continuava a ser alvo de visitas e, possivelmente, de raptos.
Relativamente a fenómenos físicos, notámos um pequeno inchaço
perto da orelha direita, que Catherine não sabia como explicar.
Numa noite de meados de Julho, ela desenhou três círculos na sua
própria perna, para se lembrar de pedir aos alienígenas para ver a sua
escrita, o que, se lhe fosse permitido, aumentaria a sua confiança na
realidade das suas experiências, além de estar relacionado com o seu
desejo de conseguir uma maior troca de informações mútuas.
Porém, na noite em que desenhou os círculos (15 de Julho de 1992),
foi novamente visitada («Eles desceram e paralisaram-me») e ficou
«SE ALGUMA VEZ ME PERGUNTASSEM» 197
tão assustada que se esqueceu de colocar as suas questões. Como
depois apurámos, foi raptada nessa noite (ver o relato da quinta
regressão).
Embora a realidade das suas experiências, conforme as recordá-
mos nas sessões, «esteja a subir cada vez mais e mais», Catherine
concluíra que «não fazem parte da consciência normal», isto é, ocor-
rem num, ou reflectem, um estado de consciência extraordinário.
Isto implicava que «tenho que alterar ainda mais a minha visão do
mundo». Catherine tinha igualmente decidido que «a minha reacção
a tudo isto irá determinar a natureza de toda a experiência... Se ficar
totalmente petrificada e os insultar, transformando-me, basica-
mente, num animal hostil, então, será assim que me tratarão», obser-
vou ela. «Se, ao contrário, me mantiver calma e racional, poderemos
conseguir muito mais, pelo menos no que diz respeito à minha com-
preensão de tudo isto».
Com o objectivo de dominar o medo e de se sentir «menos como
um animal encurralado», Catherine andava a imaginar «a coisa mais
terrível que lhe poderia acontecer». Mas, «em vez de se deixar enlou-
quecer e continuar a ter as mesmas horríveis experiências», deveria
«cooperar e não lutar tanto, porque isso apenas me faz perder ainda
mais o controle, reparar em menos coisas e ficar ainda mais envol-
vida no medo e na luta, em vez de estar mais atenta e ter menos con-
trole físico e mental, quando poderia dialogar com eles, obter
respostas directas e levá-los a mostrar-me alguma coisa que me possa
ser útil». Com a finalidade de controlar as suas reacções «animais» e
«subir um degrau na escala evolutiva», Catherine desenvolveu aquilo
a que chamou «ladainha para não ter medo... Se ficar assustada por
qualquer razão, devo manter-me sentada e repetir 'Não tenhas medo,
não tenhas medo, não tenhas medo'. E funciona». Depois de várias
sessões de meditação, no decurso das quais imaginou intencional-
mente alienígenas a entrar no seu quarto, descobriu que tinha maior
controle sobre o seu terror e que podia acalmar-se.
Recentemente, Catherine chegou à conclusão que os alienígenas
«são espiritual e emocionalmente mais avançados do que nós» e, por
isso, «não têm necessidade de ser tão emotivos quanto nós». Isto sig-
nifica que «se quiser aprender alguma coisa útil com eles, tenho que
lidar com eles ao seu próprio nível». E significa também a necessi-
dade de erguer «um núcleo de força interior». Isto «não é qualquer
coisa que alguém possa tirar-me facilmente». Catherine não espera
198 SEQUESTRO
que os procedimentos invasores sejam interrompidos, mas acha que
poderá diminuir o seu efeito traumático. «Não estou exactamente a
dizer», acrescenta, «aqui têm o meu corpo, façam o que quiserem. É
mais uma compreensão do que vai acontecer». Convidá-los a «mos-
trarem-me os seus escritos, porque desejo aprender mais sobre eles e
sobre o meu papel no seu plano» é «um conceito totalmente dife-
rente» de gritar com eles, perguntando 'Porque raio estão a fazer-me
isto, malditos bastardos'». Talvez «respondam a esta pergunta» e
«eventualmente talvez até possa ajudá-los, porque terei uma maior
participação no seu plano». Catherine atribui as alterações da sua
consciência, «este crescimento espiritual e psíquico», ao impacto
«supremo e imenso» das próprias experiências de rapto.
Na altura do encontro de Julho de 1992, Catherine já tinha
notado diversas mudanças em si própria, que eram o resultado
directo da sua diferente atitude face às experiências de rapto e da sua
maior receptividade psicológica em geral. Os próprios raptos
funcionavam como uma provocação. «Tem que haver alguma expe-
riência que altere totalmente todas as coisas e o modo como as enca-
ramos», observou ela. Catherine atribui a sua capacidade para tirar
partido do impacto das suas experiências de rapto ao trabalho explo-
ratório que tem desenvolvido em relação a elas.
Tem reparado que possui capacidades intuitivas maiores do que
as outras pessoas. Consegue «sentir as auras das pessoas», os cam-
pos de energia que nos cercam e que algumas pessoas mais sensiti-
vas conseguem ver, e está mais perfeitamente sintonizada com os
estados emocionais dos outros, o que ela acha «muito útil... na reali-
dade, quando me vou encontrar com alguém, posso analisar as pes-
soas e perceber se estão a tentar enganar-me ou se estão a ser
realmente sinceras e amáveis no que dizem. Posso adivinhar as suas
intenções... Estas experiências tornam-nos mais receptivos a tantos
níveis», conclui ela, «abrem-nos tantas outras possibilidades. Toda a
gente possui este tipo de capacidades, mas abafamo-las porque a
sociedade nos diz: 'Não, isso não existe' e recusa tudo. E agora,
estou novamente receptiva a tudo». Um dos fenómenos mais difíceis
com que Catherine e outros sequestrados têm de lidar é um fluxo vir-
tualmente constante de experiências sensoriais, especialmente raios
de luz («coisas com electricidade estática», chamou-lhes ela em
certo momento), a intrusão de imagens padrão coloridas (por exem-
plo, enquanto está a escrever à máquina) e, em menor grau, zumbi-
200 SEQUESTRO
fase do estou a imaginar coisas, bem como das fases de recusa e de
estar completamente aterrorizada, quero dizer, é como uma pro-
gressão lógica.
Na regressão hipnótica, a quinta, Catherine começou por experi-
mentar novamente a entrada de luzes no seu quarto, «como um
enorme projector», e ouviu novamente o que pareciam ser vozes
humanas do lado de fora do quarto. Tentou acordar do seu estado de
semi-adormecimento, mas sentiu que «eles não me deixam». Mais
uma vez, lhe transmitiram mensagens tranquilizadoras e ela estava
«furiosa, porque eles fazem sempre isto!» A chorar, exclamou:
«Nunca me deixam lembrar-me realmente de nada e até já lhes pedi
que o fizessem». Dois dos seres retiraram-na da cama a flutuar,
«colocando-me no feixe de luz». Disse-lhes para não magoarem o
gato, que estava «escondido» depois de ter «fugido rapidamente
pelas escadas acima». Catherine sentiu que o forte controle que os
seres estavam a exercer sobre ela se destinava a impedi-la de reagir.
Ela acha que a sua oposição «os torna muito nervosos».
Catherine disse:
— Se alguma vez me pedirem para fazer qualquer coisa que pre-
tendam, talvez eu esteja mais disposta a colaborar, embora eu esteja
a tentar sentir-me menos assustada e levá-los a falar mais comigo,
mas eles continuam a não querer. E eu tento fazer-lhes perguntas às
quais penso que irão responder e continuo a receber as mesmas res-
postas evasivas de treta.
Não obstante, Catherine afirmou que num rapto ocorrido há duas
semanas, relativamente ao qual o «bloqueio» da memória era ainda
demasiado forte para ser explorado, os seres lhe tinham transmitido
algumas informações significativas, em resposta ao seu pedido para
«me mostrarem o fim».
Regressámos ao feixe de luz e ela descreveu a forma como pas-
sara através da janela, da varanda e de uma árvore. Viu o seu prédio
de apartamentos ficar cada vez mais pequeno e a cidade a recuar por
baixo dela. Enquanto subia, sentiu que, embora vestisse apenas
roupa interior, a energia do feixe a mantinha quente. Foi levada de
costas através de «um buraco no chão» de uma nave e achou-se
numa sala, com uma parede mais arredondada do que as de outras
salas em que tinha estado. «Eles querem falar-me de qualquer
coisa», sentiu. Havia uma quantidade de outros seres «a andarem de
um lado para o outro» e alguns seres humanos a ser levados para
202 SEQUESTRO
rência e, então, levamos-te para uma sala de conferências, para que
possas estar num estado de espírito mais sério, em vez de começares
com o tipo de comentários espertalhões que fazes habitualmente».
— Quando isto aconteceu — comentou Catherine — eu estava a
começar a não lutar contra eles. Estava mesmo no começo. Não
estava onde estou agora. Portanto, era uma situação muito diferente.
Eu relacionava-me de uma forma diferente do que faço agora.
Ela sentiu que aqueles truques «patetas» se adequavam ao seu
nível de consciência do momento. Depois de ter ultrapassado as
encenações teatrais, a sala regressou à forma original e disseram a
Catherine que se sentasse numa pequena cadeira de metal frio.
Em seguida, foram-lhe mostradas, no ecrã, cenas da natureza,
«como uma câmara a dar uma panorâmica de uma floresta — árvo-
res, um veado, musgo, sujidade e agulhas de pinheiro pelo chão — e
tenho esta sensação de que é tudo tão belo, tão belo». Mas sentiu que
as suas emoções estavam a ser manipuladas e ofereceu resistência,
fazendo com que «eles tivessem que trabalhar mais arduamente».
Olhando para trás, Catherine pensou que isto «era bom, porque me
fazia sentir que tinha um pouco mais de controle sobre a situação e,
se eles quisessem que eu ouvisse o que tinham a dizer-me, teriam
que falar-me como a um ser igual a eles e deixar de utilizar todos
estes truques manipuladores».
Foram apresentadas no ecrã «outras cenas da natureza, como o
Grand Canyon e como, está bem, óptimo, já vi isto na televisão. Vai
para o deserto. Vão aparecer as pirâmides. Vejo mais coisas egípcias,
antigas, hieróglifos e imagens, imagens de faraós e outras coisas, e
estou a experimentar esta sensação, esta era a tua vida... Sou como,
Oh! Bestial... É mais ou menos como uma viagem pelas minhas
vidas passadas.» Nesse momento, Catherine sentiu-se intrigada,
«porque gosto muito do antigo Egipto, por isso é óptimo, se eu real-
mente estive lá». Em seguida, mostraram-lhe a imagem de pinturas
tumulares vulgares, com a tinta a pelar, «mas a seguir mudou para
uma imagem de mim mesma a pintá-las». Mas nessa encarnação ela
era homem e observou esta cena «isto faz sentido para mim... Não é
um truque. Estas informações são úteis. Não são eles a empurrar um
monte de merda como tudo o mais». Agora, Catherine sentia qua a
sua insistência numa troca de informações mais recíproca fora final-
mente compensada.
Então, pedi a Catherine que me dissesse mais sobre esta imagem
204 SEQUESTRO
mostrar-me. Não era esse o significado ou objectivo dessa vida. Eu
podia até estar a confundir uma quantidade de outras vidas!» Ela crê
que o faraó mudou de nome e «se livrou de vários deuses». (Talvez
Catherine se esteja a referir a Akhenaton, o faraó do Império Novo,
que abandonou o politeísmo e abraçou o monoteísmo). Catherine
também sabia muitos pormenores relativos ao tamanho adequado
das várias figuras do painel que estava a pintar («as pessoas comuns
são pequenas, as pertencentes à realeza são maiores e os deuses são
os maiores de todos») e sobre os complexos problemas de proporci-
onalidade que os pintores enfrentavam, em resultado do afastamen-
teo dos deuses antigos pelo faraó.
Depois de lhe mostrar a cena do Egipto, um dos seres perguntou
a Catherine: «Compreendes?» O que ela compreendeu então foi que
«tudo está interligado», canyons, desertos e florestas. «Uns não
podem existir sem os outros e eles estavam a mostrar-me numa vida
anterior, para me demonstrarem que estou ligada a isso, como estou
ligada a todas as outras coisas, e que não posso separar as coisas
como tenho tentado fazer». Para Catherine, isto significa que «Não
posso continuar da mesma forma que antes, e não posso continuar a
combatê-los como tenho feito, porque também estou ligada a eles.
Quando luto contra eles, estou apenas a lutar contra mim própria e
contra a minha ligação a todas essas coisas, contra as quais não
podemos lutar. Está ali».
Ela perguntou aos alienígenas porque é que precisavam de utili-
zar tanto «teatro» para lhe mostrar isto e eles responderam: «Tara te
fazer entender, compreender as implicações. Para te colocar no
estado de espírito adequado'. E eu sinto-me, finalmente, como se
estivéssemos a progredir!» Com este episódio, Catherine também
pareceu compreender que determinadas emoções, como «amor, pro-
tecção, ajuda, compaixão», são «a chave», enquanto outras, como a
ira, o ódio e o medo «não são úteis», especialmente o medo. «O
medo parece ser o pior de todos. Eles estavam a tentar ajudar-me a
vencer o medo e era por isso que me assustavam tanto, porque even-
tualmente eu acabaria por ficar cansada disso e ultrapassá-lo-ia, para
poder passar a coisas mais importantes».
Pedi-lhe para explicar melhor como é que assustá-la tanto pode-
ria ajudá-la a ultrapassar o medo. Ao fim de algum tempo, o corpo
humano não pode suportar mais, explicou ela, «porque é como se
estivéssemos sempre em sobrecarga e, em segundo lugar, cansamo-
206 SEQUESTRO
Por fim, ela observa de passagem que o feixe de luz, quando desce, é
azul, mas é branco no fim dos raptos, quando ela regressa nele.
Enquanto revíamos a sessão, Catherine, tal como outros sequestrados,
sugeriu que aquilo que experimentara «não parece pertencer ao nosso
espaço/tempo», o que para ela constituía «apenas outro exemplo» de
como «todas as coisas estão ligadas e nós estamos ligados a elas».
Na reunião seguinte do grupo de apoio aos sequestrados, que se
realizou duas semanas depois desta sessão, Catherine partilhou as
suas ideias sobre a forma de lidar com o terror associado às experiên-
cias de rapto, uma vez que vários membros do grupo pareciam estar
encurralados pelas respectivas reacções de medo. «Acho que tudo
depende da forma como interagimos com eles», disse ela. «Se eles
vêm ter connosco e a nossa primeira reacção é a de um rato de labo-
ratório assustado e nos enrolamos num canto da cama, tentando
esconder-nos, como um rato no canto da gaiola, e eles tiverem vindo
para nos levar por qualquer razão, eles tratar-nos-ão exactamente
dessa maneira. Mas se reagirmos como Tudo bem, vamos negociar.
Vamos tentar uma forma qualquer de interacção significativa'.
Penso que, nesse caso, eles terão uma reacção muito mais respeitosa
e tratar-nos-ão mais como seus iguais, do que se reagirmos imediata-
mente de forma aterrorizada». Mais tarde, ela partilhou também o
processo de combater o medo («chegando aquele ponto de satura-
ção, em que ficamos tão fartos que temos de o ultrapassar»), que
tinha aprendido na última regressão. Depois, disse Catherine,
«seguirão para o nível seguinte e aprenderão o que houver para
aprender nesse nível. Mas o medo é a barreira que não nos deixa
avançar para mais nada».
COMENTÁRIO
O desenrolar do caso de Catherine seguiu o seu sentido de necessi-
dade e o seu desejo de saber mais acerca das suas experiências.
Consequentemente, um certo número de áreas ainda permaneciam
por explorar, quando este texto foi escrito. Por exemplo, numa con-
versa havida em Outubro de 1992, Catherine disse a Pam Kasey que
tinha tido uma «visão», que «atravessou a minha cabeça uma e outra
vez», em que se via num quarto de crianças com muitos berços. Uma
enfermeira trouxe um dos bebés a Catherine e disse-lhe que devia
CAPÍTULO OITO
LIBERTAÇÃO
DO ASILO DE LOUCOS
Joe, um psicoterapeuta de trinta e quatro anos, com um consultório
de orientação profissional, escreveu-me em Agosto de 1992,
dizendo que «tivera várias experiências com ET desde a primeira
infância» e sentia uma necessidade urgente, «assustado como estou»,
de «arejar esses armários». Como criador e chefe de programas de
aventuras na natureza, Joe ajuda outras pessoas a vencer os seus
medos, incluindo o medo do escuro. Ao mesmo tempo, reconhecia
que, na altura em que me contactou, estava a tentar combater «o meu
próprio medo da escuridão». Cerca de três meses antes de me contac-
tar, enquanto um massagista trabalhava no seu pescoço, Joe teve
subitamente uma visão de estar deitado numa mesa, rodeado de
pequenos seres com grandes cabeças, um dos quais estava a espetar
uma agulha no seu pescoço. Gritou de terror e tornou-se-lhe impossí-
vel continuar a negar a força perturbadora das suas experiências.
Soube do meu interesse pêlos fenómenos de sequestro, através de
outro sequestrado e também da colega de quarto de uma das minhas
assistentes, e escreveu-me uma carta resumindo as suas experiências.
Quando me encontrei com Joe pela primeira vez, a sua mulher
estava grávida de um mês do seu primeiro filho. A investigação dos
encontros de Joe com alienígenas, durante a gravidez e o parto da
sua mulher e o desenvolvimento do seu próprio papel como pai, pro-
porcionaram-nos uma rica oportunidade de estudar a relação dos
fenómenos de sequestro com a consciência que Joe tinha dos ciclos
do nascimento e da morte ao longo do tempo, incluindo a recordação
de uma dramática experiência de uma vida passada. Em quatro ses-
210 SEQUESTRO
soes de hipnose, realizadas entre Outubro de 1992 e Março de 1993,
uma antes e três depois do nascimento do seu filho Mark, investigá-
mos a complexa dimensão das relações de Joe e Mark com os seres
alienígenas e Joe lutou para integrar na sua própria identidade os ele-
mentos alienígenas. A libertação e o desenvolvimento pessoais oca-
sionados por esta integração constituem um aspecto notável do caso
de Joe.
Joe, o sétimo de oito filhos, nasceu e cresceu numa pequena
cidade do Maine. O pai, que vendia cabedal e linhas para fábricas de
calçado, morreu da doença de Alzheimer, um ano antes de eu conhe-
cer Joe. Joe classifica a sua família de origem irlandesa como «tipi-
camente Católica Romana» e afirmou que eram manifestamente
felizes, mas na realidade disfuncionais, e que os seus pais eram frios
e «emocionalmente rígidos... não me beijavam ou abraçavam fre-
quentemente» e «passava muito tempo fora de casa, onde me sentia
aceite e em segurança».
«Crescemos brincando fora de casa», disse ele a um grupo de um
seminário de que eu era professor, no Hospital de Cambridge.
«Caçávamos, colocávamos armadilhas, pescávamos». Joe, tal como
outros sequestrados, sente que a sua relação com os seres a que
chama «os ET» lhe proporcionou afecto, apoio e amor, «quando
mais ninguém se preocupava com isso». Joe descreve a mãe, Julie,
com uma pessoa medrosa, que inicialmente não queria ouvir contar
as suas experiências com os ET, ficando assustada e agitada quando
ele tentava falar-lhe delas. Joe lembra-se de acordar os pais uma
noite, quando era criança, para lhes contar uma experiência assusta-
dora e de lhe terem dito que «foi só um pesadelo». Joe não crê que
qualquer dos seus irmãos tenha tido também encontros de sequestro.
«Tenho falado com eles», diz ele e recebido «reacções variadas,
desde a negação à aceitação».
Entre os oito e os quinze anos, Joe gostava de passar as noites de
verão fora de casa, dormindo numa varanda com o seu irmão mais
novo, que não acredita necessariamente nos fenómenos de sequestro,
mas que lhe disse recentemente «sempre tiveste medo de OVNI». Na
adolescência, Joe tomou consciência de como se sentia isolado e soli-
tário, «era principalmente a melancolia social da puberdade».
Recordando esse tempo numa das suas regressões, Joe disse: «Não
consigo relacionar-me com ninguém, não me consigo enquadrar».
A mulher de Joe, Maria, é psicoterapeuta e cinco anos mais ve-
212 SEQUESTRO
estavam a mostrar-me por serem, em parte, meus». Joe pensa que
os ET começaram a interagir com ele «quando ainda estava no ven-
tre» e, na nossa última regressão, lembrou-se de ter visto os seres à
volta da cama do hospital, quando tinha apenas dois dias de vida.
Como muitas outras pessoas com uma história de experiências de
sequestro, Joe tinha em criança muitas hemorragias nasais inexpli-
cáveis. Quando era muito pequeno, tinha repetidamente um pesa-
delo em que uma bruxa, como a de O Feiticeiro de Oz, entrava a
voar pela janela do seu quarto, o obrigava a olhar para os seus
«olhos enormes» e o fazia «subir para a vassoura, hipnotizando-
-o... Depois de a ter olhado nos olhos, pertencia-lhe completa-
mente e ela podia levar-me». Durante a infância, Joe sempre se
sentiu fascinado, mas também aterrorizado, pêlos OVNI. Dormia
fora de casa, mas tinha dificuldade em adormecer, porque tinha
«medo que, assim que adormecesse, viesse alguém para me levar».
Outras experiências da infância e da adolescência foram surgindo
no decurso das sessões de hipnose, incluindo uma experiência
ocorrida no período entre os treze e os quinze anos, que mais
adiante será descrita em pormenor.
Durante a adolescência, Joe continuou a ter medo de OVNI e de
seres alienígenas. Uma vez, quando tinha dezasseis ou dezassete
anos e estava a experimentar LSD, entrou em pânico quando viu
uma «pequena nave», a uma distância de cerca de cento e oitenta
metros, «com alguém lá dentro a olhar para mim». Ele pensou «que
estava a vigiá-lo» e «afastou-se um pouco do caminho e caiu sobre
as árvores». Durante este mesmo período teve uma outra experiên-
cia, em que olhava para um espelho de uma casa de banho e sentia
que estava «a afundar-se, a afundar-se, a afundar-se... De repente»,
disse ele, «estava a olhar por uma janela e não era eu. Era um aliení-
gena que estava a olhar-me cara a cara. Tinha a cabeça redonda, a
pele muito rugosa, como que verrugosa e áspera, e penso que era cin-
zenta ou verde» com «talvez uma boca pequena, um pescoço fino e,
depois, BANG! A realidade da imagem atingiu-me. Fiquei simples-
mente doido, porque me senti terrivelmente vulnerável. Não era
como encontrar uma pessoa qualquer e dizer 'Olá, o meu nome é
fulano. Como está?' Eu senti que estava ali alguém de uma outra
dimensão, que podia fazer um gesto qualquer e aí ia eu, passei à his-
tória. Vão encontrar os sapatos de Joe na casa de banho».
A dor e o medo intensos que Joe sentiu, em ligação com a memó-
214 SEQUESTRO
Pressentindo que o seu medo era maior do que a sua capacidade
para lidar com ele, pedi a Joe para localizar esta experiência no
tempo e no espaço. Ocorrera na sua casa, quando Joe era um «jovem
adolescente», talvez com catorze ou quinze anos. Começou ao fim
da tarde, quando ele se sentia isolado e «muito só». Inquieto e sen-
tindo necessidade de ir «lá para fora e estabelecer ligação», Joe pas-
seou atrás do celeiro, nas traseiras da casa, com se tivesse sido
«atraído» para o local por uma força «verdadeiramente subtil».
Passou pelo celeiro («por vezes, à noite, o celeiro é um pouco assus-
tador») e olhou para cima, para as estrelas. «Foi então que a nave
aterrou. Desceu directamente. Bum! Ali estava ela. Pequena». A
nave era «mais ou menos redonda, mas oblonga. Parecia um ovo»,
um «ovo em pé». A nave era «perfeitamente simétrica... mais
oblonga na parte de cima» e «estava a cerca de um metro e vinte do
chão», apoiada numa espécie de «pé».
Joe sentiu-se assustado, quando uma figura delgada, com a face
«toda iluminada», usando um fato negro, de uma só peça, colado ao
corpo, se aproximou dele. Sentiu que já tinha acompanhado esta
figura, a quem chama «Tanoun», muitas vezes anteriormente e,
neste momento, o seu maior medo é não querer regressar novamente
à terra. Joe sentiu-se impelido a ir — nesse sentido, não há escolha
— mas «tenho maior consciência de que posso escolher ir e não sou
obrigado a regressar». Sentiu uma rigidez no pescoço, à medida que
o medo que sente relativamente às suas fidelidades divididas entre
os reinos alienígena e terrestre, aumentava «no meu coração».
Soluçando, Joe disse: «Não estou sozinho com ele. Eu sei. Tudo
bem. Mas ele não está lá todos os dias». O ser comunicou-lhe que
tinha de regressar para «trabalhar com eles (os seres humanos)» e
que «tenho que ter um pé em cada um dos mundos».
Com o seu «rosto muito redondo bemjuntinho ao meu», Tanoun
pôs a mão no ombro de Joe — «ele é muito reconfortante» — e
«meio caminhámos, meio flutuámos» para a parte inferior da nave,
que parecia «muito maior por dentro do que por fora». Tanoun levou
Joe por um corredor até uma grande sala com uma mesa, sobre a qual
já fora várias vezes colocado. Com uma mão na sua cabeça e outra
na sua anca, o ser tranquilizou Joe, que sentia que «este tipo gosta
mesmo de mim e, de certa forma, não sinto isso em mais sítio
nenhum e é um pouco assustador», porque o fazia sentir-se «dife-
rente de toda a gente». Joe estava deitado de costas na mesa, com os
216 SEQUESTRO
Tendo experimentado a luta para ser simultaneamente aliení-
gena e humano, ao regressar à terra, Joe sentia-se confuso. Joe com-
preendeu que «a parte de mim que está à minha espera por trás do
celeiro parece-se com eles». Esta era «a parte de mim que não queria
ir e eu afastei-me dessa parte de mim, precisamente porque se parece
um pouco com eles». Em breve, «estava sozinho atrás do celeiro»
sentindo-se «um bocado confuso». Quando regressou, sentia o
corpo rígido e desconfortável. «Não sei onde pertenço», disse ele.
Durante este sequestro, Joe recebeu uma «visão» inacreditável,
«indo para dentro dos olhos deles, estabelecendo uma ligação com
eles e abandonando toda e qualquer forma de separação», uma sen-
sação de como seria ir completamente para o mundo dos ET ou alie-
nígenas. «Iria para fora de mim próprio» e iria «para qualquer lugar»
— para «mundos, espaços, planetas, distâncias».
— O seu corpo, a sua consciência, ou ambos? — perguntei.
— Sem o meu corpo e, por vezes, com o meu corpo. Transfor-
mo-me no vento. Transformo-me no espaço. Rodo, giro, abrando,
caio...». Sob a forma alienígena, Joe podia experimentar diversas
energias, «gotas dançantes, orquestras e música, cair, bater, lugares
inóspitos, lugares escuros, vasto, vasto, vasto... Sinto a benção.
Sinto o amor. Sinto-me ligado. Sinto-me inseguro. Estou naquilo
que quero estar. Danço. Há dança por toda a parte... danço com
outros seres, outras luzes, outras energias. É tão diferente da vida de
todos os dias, de ser apenas Joe — que a integração se torna extrema-
mente difícil quando regressa à Terra.
Joe não se lembra exactamente como regressou ao ponto de par-
tida atrás do celeiro. Lembra-se de caminhar para o celeiro e, em
seguida, para casa e para o andar de cima, para dormir. Mas momen-
tos antes de sair completamente do estado de transe, Joe lembrou-se
que Tanoun lhe dissera: «O teu filho é um de nós», incluindo no
«nós» o próprio Joe na sua identidade alienígena.
O filho de Joe e Maria, Mark, nasceu a l O de Novembro, cerca
de três semanas depois da data esperada. Mais ou menos uma
semana depois do nascimento de Mark, Joe escreveu, numa nota que
me dirigiu: «Enquanto escrevo, mãe e filho dormem juntos, final-
mente em casa, após cinco dias no hospital. Mark Joseph nasceu de
cesariana (necessária devido à posição errada e a uma infecção), na
passada quinta-feira, e ver a operação levou-me a fechar o ciclo com
218 SEQUESTRO
a regressão, para que Joe pudesse expandir a consciência do seu
complexo papel duplo e aumentar o seu livre-arbítrio.
No princípio da regressão, Joe viu «uma sucessão de imagens»
numa nave espacial, uma grande variedade de «pessoas», que pare-
ciam descender de um conjunto caótico de genes. Alguns destes
seres eram feios, mesmo horrendos. Parecia uma espécie de
«Organização das Nações Unidas» interplanetária. O choque provo-
cado deu a Joe um sentimento «harmonioso», como se lhe estivesse
a ser demonstrado que «estão todos em boa companhia». A sua pró-
pria forma mudava constantemente, «como um camaleão». Sentia-
-se «mais confortável numa forma semelhante à deles... algo translú-
cida», com uma cabeça grande e grandes olhos elípticos, dorso com-
prido e delgado, de cor cinzento-clara, as mãos ligeiramente
palmadas, com braços e dedos longos — quatro dedos, sendo um
polegar.
— Uau! Sinto que estou dentro de mim. Sinto-me muito elegante
e gracioso. Tenho a impressão de que já não caminho; movo-me sim-
plesmente, quase como se nadasse. Está a abrir-se uma parte da nave
que se assemelha a uma válvula do coração. Sinto que há muito,
muito espaço.
«Etéreo», «fluído» e uma sensação de «vastidão» foram algu-
mas das expressões utilizadas por Joe para descrever como era tomar
a forma alienígena. Sentia-se «incrédulo», duvidando da sua própria
experiência e perguntando-se como poderia esconder de si mesmo
que «Também existo aqui, na nave... Sinto-me muito mais confortá-
vel». Então, sentiu que havia um combate renhido entre a sua
«humanidade» e a identidade humanóide, que até aí tinha mantido
em separado. No entanto, sentia-se também «mais completamente
integrado como ser humano» do que a maioria dos alienígenas.
Joe chamava à raça de seres a que pertencia na sua identidade
humanóide a «fraternidade» ou o povo «Obasai». Para estas for-
mas, os processos de pensamento são intuitivos e «não lineares...
Sinto que os meus pensamentos estão ao alcance de todos e que não
há nada a esconder. Não há vergonha. Há uma sensação de unidade
e podemos ter ideias e opiniões diferentes que, no entanto, continua
a existir sempre um elemento de harmonia... Esta parte da nave»,
disse ele, «destina-se à integração... passa muito tempo em volta da
Terra». Outros projectos não estão relacionados com a Terra e
envolvem «outras dimensões, outras galáxias», mas «o tempo e o
220 SEQUESTRO
tativa. Não tenho que alcançar o momento em que o meu corpo está
preparado para se libertar. Posso apenas introduzi-lo e ejacular». Um
líquido claro «escorre». Embora Joe, ou Orion, acariciasse Adriana
ternamente, ela parecia estar dividida. Uma parte dela «está comple-
tamente presente» e «a interacção é maravilhosa», mas a sua parte
atemorizada, «atormentada», sentiu-se violada.
Os actos reprodutivos como este, disse Joe, são «necessários»,
para que «os humanos não percam a sua raça, a sua semente e a sua
sabedoria», porque os «seres humanos estão em apuros... Prepara-se
uma tempestade», uma catástrofe «electromagnética», resultante
das tecnologias «negativas» que os homens criaram. A semente fer-
tilizada de Adriana, por exemplo, será retirada «de dentro dela» e
«em seguida, produziremos um bebé, que terá em si muito de
humano» e «criá-lo-emos» como «um dos nossos... Se os humanos
se extinguirem totalmente, teremos os seus filhos». O objectivo
deste programa de miscigenação, disse Joe, era evolutivo, para per-
petuar a semente humana e «cruzá-la» com outras espécies, nas
naves ou em qualquer outro lugar do cosmo. Joe falou com tristeza
da inevitável e progressiva deterioração da terra. Morrerão muitos
seres humanos, mas a espécie não será erradicada.
Joe sentia-se em conflito quanto às informações que estava a
revelar. Por um lado, como «pai» e «homem de negócios» temia o
ridículo, caso tornasse públicos os conhecimentos de que dispunha.
Por outro lado, experimentava um sentimento de urgência para com
os seus semelhantes humanos. Mas a sua parte «desconfiada,
medrosa e egocêntrica» impede-o de assumir total responsabilidade
pelo que sabe. O seu «lado humano» tem dúvidas e, por vezes, receio
de que os seres de olhos escuros sejam «sinistros» e «malévolos»,
com «renegados» de outras naves, que brincam connosco, «para nos
transformarem em bom gado de reprodução». Porém, quando se
assume como Orion, não sente nada disto.
Depois de sair do estado de transe, Joe sentiu-se chocado com o
que tínhamos descoberto e previu que necessitaria de muito apoio,
para conseguir conciliar as complexas e perturbadoras dimensões da
sua identidade. Sentia-se «um pouco incrédulo» ao descobrir que
estava a viver «uma existência dupla», mas a força emocional da
sessão, em conjugação com a clareza objectiva com a qual Joe sentia
ser Orion, convenceram-no da autenticidade daquilo por que aca-
bava de passar. Como homem educado numa família de irlandeses
222 SEQUESTRO
rei suportar que venham para o levar», disse ele. Sentia-se vulnerá-
vel e inseguro e preocupava-se ainda mais com a ideia de não conse-
guir «proteger» Mark, perguntando a si mesmo se deveria fazê-lo.
A primeira imagem de Joe sob hipnose foi a de um ET, mos-
trando-lhe «um tabuleiro onde colocam os bebés para os pesar».
Também viu bebés em assentos altos, que pareciam humanos, à
excepção dos grandes olhos e das órbitas ossudas. «Os ET são cari-
nhosos e meigos com os bebés» e três cinzentos, um dos quais era «o
mesmo que tem trabalhado muito comigo», estavam a alimentá-los
com «um líquido verde claro», colocando nas suas bocas a extremi-
dade de um tubo cilíndrico de prata e vidro e deixando-os mamar.
Um dos bebés era Mark, gordo como na «vida real». Mark estava a
fixar os olhos dos ET e parecia descontraído. Os seres lavaram os
bebés com um líquido verde, como que para darem energia aos seus
corpos. O líquido parecia ser a mesma substância que davam aos
bebés para beber. Os ET pareciam ter «uma relação primária» com
Mark e com os outros bebés e «não vão deixar-me interferir na sua
relação com ele».
Joe tinha a sensação que, uma vez, também ele passara por uma
experiência semelhante e sentia pena de Mark, pois sabia que «há
uma parte dolorosa» que o espera. Explicou que «nós (Joe, os ET e,
em parte, até Maria) tínhamos construído esta relação com ele,
antes de ele nascer de nós (Joe e Maria)». O próprio Mark fora
antes um ET cinzento, mas a sua consciência ou alma «passaram do
ET para ser um ser nascido como nosso filho... e isto não foi uma
coisa fácil para ele». Existem riscos para a alma de Mark, salientou
Joe, em «ser humano, passar para este corpo... Está a fazer um
grande esforço». Pedi-lhe para explicar melhor. «É quase como
vestir um fato de mergulho e o respectivo equipamento, é como
adoptar uma existência mais densa, correndo o risco de ficar encur-
ralado nela. Pode colar-se a nós... Começamos a acreditar naquilo
que o nosso corpo nos diz e esquecemo-nos da forma de nos desli-
garmos energeticamente dele... de que somos maiores do que ele».
Manter simplesmente uma existência física pode ser «totalmente
absorvente». O medo e a preocupação com a protecção e a sobrevi-
vência do seu corpo físico poderiam levar Mark a esquecer-se de
que «é mais do que o seu corpo» e que «não é uma questão de vida
ou de morte para ele, se o seu corpo se magoar ou morrer, ou se não
for socialmente aceite». Se a energia de Mark acaso vier a concen-
224 SEQUESTRO
solidão e para a sua relação com os seres. Sentia-se fortemente iso-
lado, como se se tivesse fechado «dentro do seu próprio núcleo»
como um «ovo que é apenas duro e escuro». Recordava-se das mãos
dos ET sobre ele e sentia que «estava a desmaterializar-se ou qual-
quer coisa assim», à medida que as energias acumuladas se iam
libertando. Tinha sete ou oito anos e estava num grande espaço, tal-
vez subterrâneo. Sentia-se dividido entre as suas identidades extra-
terrestre e humana. A metade extraterrestre tem «as mãos nos meus
rins, nas minhas costas» e a metade humana «está a tentar descon-
trair-se, tornar-se receptiva e estabelecer ligação com a outra me-
tade. Oh, meu Deus! É quase sexual». Nesta altura, Joe exprimia
uma intensa emoção, emitindo sons como «Ohhhhh» e «Ahhhhh».
Estes sentimentos, uma espécie de combinação de excitação com
uma agradável libertação de tensão, tornaram-se mais fortes,
enquanto Joe falava de energia a passar pelo seu corpo. «A minha
metade ET é a mais imutável, a que se altera menos, e como que
dirige o espectáculo. É ela que detém a maioria das informações
sobre todos nós. Facilita tudo. Oh, mas também está a ficar curada».
Uma onda de intensa energia passava pela sua coluna e invadia todo
o seu corpo. A princípio, sentiu-se «fragmentado», mas a «luz, sinto-
-a como uma luz», uniu ambas as partes. Joe pareceu continuar a
absorver energia em «lentos impulsos», que lhe davam uma pro-
funda satisfação.
À medida que sentia as suas metades ET e humana integrarem-
-se uma na outra, Joe sentia-se menos só. Também podia estabelecer
uma ligação com Mark. «É como se estivesse mais sintonizado no
seu comprimento de onda». Perguntei-lhe qual era a fonte da energia
que parecia estar a absorver. «Sou eu mesmo, a nossa alma, a nossa
essência» ou «o meu ser ET». Ele esteve sempre aqui, simples-
mente, «eu não estava energizado para ele. Estava fechado e sepa-
rado de mim». Perguntei a Joe o que acontecera durante o período
dos sete, oito anos, mas ele só conseguia lembrar-se de que tinha
sido um «tempo difícil». Enquanto falava de libertar outros blocos,
sentia novas ondas de energia a atravessarem o seu corpo. Sons mais
expressivos eram emitidos, enquanto sentia «todos estes tremores.
Arrepios... a passarem, a passarem, a passarem através de mim.
Sinto-me a inchar como um balão completamente cheio». Estas
agradáveis sensações pareciam começar na região dos rins e irradiar
para todo o corpo.
226 SEQUESTRO
cos. Joe viu-se a si mesmo a embalar Mark para o adormecer às duas
horas da manha, «sentindo a presença dos ET» e «verdadeiramente
adaptado à ideia de eles virem para o levar», porque agora eles estão
a ajudar Mark a ficar mais ligado «à sua própria alma». Joe chamou à
totalidade do projecto alienígena/humano uma «reconstituição... a
criação de uma outra realidade», na qual «existe a opção da humani-
dade». «Uma etapa necessária da minha transformação», disse ele,
era «o sofrimento do meu lado humano... Agora estou mais inte-
grado. Não há dúvidas acerca disso», concluiu ele, «Sinto que,
assim, serei um pai muito melhor».
Esta sessão teve profundas repercurssões para Joe nas semanas
que se seguiram. Continuou a sentir as «partes fragmentadas» de si
mesmo ajuntarem-se e um aumento da «energia e amor da minha
alma». Quatro dias depois da sessão, teve uma espécie de crise de
energia, ou «kriya», evocada durante uma massagem. Transpirou,
tremeu e sentiu dores intensas deslocando-se de um lado para outro
do seu corpo, começando na região dos rins e fluindo para a coluna
vertebral e para a cabeça. «Eu gemia e rolava de um lado para o
outro, esmagado pela dor física e emocional experimentada». Os
seus «guias ET» seguravam-lhe as mãos e a cabeça e Joe sentia-se
submerso em visões do seu passado «um tabuleiro circular com-
pleto, contendo entre sessenta e setenta slides, mostrando outras tan-
tas experiências diferentes... Era como se os ET mantivessem os
meus olhos abertos e manipulassem o tempo, de forma que eu expe-
rimentava cada tabuleiro em um ou dois segundos... Eu sentia que
eles controlavam as mudanças multidimensionais». Maria entrou
várias vezes na sala, mas ele não quis falar com ela, com medo de
interromper o processo. Achou-se, simultaneamente, a defrontar ira-
damente os seus pais enquanto criança e a sentir compreensão, com-
paixão e aceitação perante eles.
Joe passou os dois dias seguintes a recuperar desta experiência.
No terceiro dia, teve uma visão de uma «bola de cabelo vaginal
gigante. Era vulgar, repugnante e suja. Não conseguia distinguir muita
coisa, apenas duas pernas e uma zona cabeluda. A princípio, fiquei
nauseado, mas não a abandonei. Depois, transformou-se no cabelo de
uma deusa que nascia. Tinha cabelo longo, preto e cinzento, agora
limpo e penteado, a sair dos lábios vaginais. Eu podia «ver» lá para
dentro e distingui o rosto belo, sábio, jovem sem idade, da minha
deusa, o meu eu feminino. Senti uma onda de amor, de conforto e de
228 SEQUESTRO
de forma a poder «sentir-se a si próprio a unificar-se» ainda mais,
aprofundar a sua compreensão de Mark e reforçar o seu papel
enquanto pai. Encontrámo-nos a l de Março.
Antes da regressão, Joe comentou que estava nervoso, salien-
tando que «sempre que entro numa sessão, regresso mais apoiado e é
como se o mundo estivesse diferente». Tem sido difícil, embora
«electrizante», ver o mundo «como um lugar consciente e inte-
lectualmente compreensível... Não trocaria o meu lugar por nada
desta vida», disse ele. «Mas é também assustador».
Joe contou um sonho complexo que tivera recentemente, no qual
Mark se transformara num «bebé ET muito magro e branco, mesmo
diante dos meus olhos»! No sonho, haviam-lhe dado Mark, mas entre-
gara-o, com um sentimento de culpa, a três mulheres, num quarto sub-
terrâneo. Afirmou que, durante esta sessão, queria regressar ao
«tempo em que era criança nesta vida, quando era recém-nascido e
estava ainda mais ligado à parte de mim que é ET do que agora».
Perguntei a Joe se pretendia iniciar a sessão com a expectativa de
onde pretendia que a regressão o levasse. Não obstante, a sua pri-
meira imagem foi a de ser um bebé com dois dias, sozinho numa
cama de hospital e sentindo-se vulnerável e inseguro. A soluçar e a
gemer, deu voz a uma sensação de «vazio» no seu abdómen. «Oh,
meu Deus! Nunca me senti tão só! Ohhh! É tudo tão estranho, tão
frio... como o isolamento. Tão ohhhh. Está tudo tão longe. Tudo. E
desagradável! É luminoso. É barulhento. Não me sinto nada acari-
nhado». Estava lá uma enfermeira, que «ajuda, mas é como se não
me visse realmente. Muda-me as fraldas, limpa-me, dá-me de
comer», mas não estabelece nenhuma ligação comigo. Está aqui um
ET familiar. Tem olhos negros, com «uma luz azul». A enfermeira
parecia não reparar no alienígena, mas o bebé sentia confiança e «o
seu amor por mim... Ele (o alienígena) parece uma parteira... tran-
quilizando-me, tocando-me, trazendo-me de volta, dizendo que está
tudo bem». Os olhos do alienígena mudaram «como nuvens a corre-
rem no céu». Joe viu preocupação, desgosto e compaixão no seu
rosto. A enfermeira saiu e Joe viu uma fêmea alienígena junto de si.
«Parecem meus pais», disse ele, «São eles que realmente me acari-
nham, que realmente me dão amor e me ajudam a sentir bem».
Os alienígenas tranquilizaram Joe, dizendo-lhe que tinham
estado com ele nos dois primeiros dias, mas «que fora eu que partira,
que parecera não os ver... Tivera tanto medo durante o nascimento
230 SEQUESTRO
satisfação de gritar». Perguntei-lhe como morrera. «Alguns diriam
que morri de fome. Eu diria que morri de desespero». Depois de seis
a oito meses na prisão, deixou de comer a pouca comida que lhe
davam e a experiência tornou-se «numa espécie de cura». Pedi-lhe
para explicar. Ele disse: «Tive que enfrentar a verdade da minha pró-
pria escrita. Sim, eu acreditava no que acreditava. Acreditava que o
homem era maior, mas nunca fui mais além. Sempre assumi essa
posição e lutei, lutei, lutei. Mas quando fiquei só, tinha que explorar
o significado dessa grandeza».
— E o que é que descobriu? — perguntei-lhe.
— Os meus próprios medos. Os meus próprios juízos. Os meus
próprios preconceitos e comecei a experimentá-los.
Então «aqueles ET» regressaram. Joe atribuiu o seu regresso à
sua luta para se abrir a um sentido maior de si próprio, ao facto de se
ter libertado «da minha amargura» e à sua batalha corpo a corpo com
as autoridades. Descobriu que não era «um simples mortal encerrado
na prisão física de um corpo e na prisão física de uma cela, que posso
viajar e voar para além destas paredes». À medida que «se suavi-
zava», tomava consciência «deles» (os seres) e já não se sentia só.
Neste momento, Joe ficou assoberbado por sentimentos de
espanto e admiração. «Oh, Deus! Quer dizer que não estou só?»,
perguntou ele, como se falasse com o próprio universo. Parecendo
falar como Paul Desmonte, disse que «com todas as fibras do meu
ser temi a vastidão. Temi o desamparo. Oh, meu Deus, a vastidão de
tudo. Não posso esconder-me! Não posso esconder-me de mim pró-
prio. Não posso esconder-me dos outros. É essa a minha vergonha. É
o meu sentimento de indignidade que quero esconder dos outros,
porque não desejo que eles o vejam».
Pedi a Joe que contasse o que tinha acontecido desde o momento
em que os ET tinham regressado, até à morte de Paul. Ele disse que
tinha medo de os perder novamente e que ele próprio se perdeu
«nesta transição» para a morte. Encorajei-o a fixar-se no momento
da transição. «Tenho medo de o sentir. Oh, meu Deus!», disse ele.
Assegurei-lhe que estávamos com ele e que tudo correria bem.
Então, Joe entregou-se a um estado difícil de descrever. Não era
muito diferente do processo de nascimento, pelo qual passara anteri-
ormente. Gemia e tossia, chamava Deus e queria ser abraçado.
Sentia como «se estivesse a ser espremido para fora do meu corpo...
Estou a contrair-me. Ohhh! Não estou completamente presente.
232 SEQUESTRO
denso... Eu queria nascer», continuou ele, «sair daquele ventre, dis-
tanciar-me daquela mulher», mas no seu medo só conseguiu «aper-
tar-me cada vez mais e, então, desliguei-me de tudo».
À medida que a regressão se aproximava do fim, Joe falou mais
da confusão, do isolamento e do desespero que tinha sentido neste
«mundo horroroso». O seu medo mais profundo é de voltar a desli-
gar-se de tudo e «perder-se da sua origem e deles». Abrindo os bra-
ços e respirando profundamente, disse: «Escolheria a unidade ou a
loucura? A escoilha tem que ser necessariamente a unidade». Antes
de sair do estado de transe, Joe falou ainda dos seus sentimentos de
desamparo e vulnerabilidade e da dificuldade de integrar o seu ser
espiritual, enquanto residia na densidade de um «corpo físico».
Quando «regressou» à sala, sentiu uma onda de energia e de
«leveza». Acolheu a sua vulnerabilidade. «É belo», disse ele. «E
como o que vejo em Mark. Sabe? Ele é incrível! Ali está ele, não
tem nada a esconder e é assim que eu me sinto agora». Também se
sentia como se estivesse «a acordar num estupor alcoólico» e com-
preendesse que tinha estado a «viver com um batedor». Mas agora
sentia-se «suficientemente forte e suficientemente estável», seguro
de que «não voltaria atrás» (isto é, que não voltaria a separar-se da
sua origem).
Na conversa depois da regressão, Joe referiu-se novamente aos
alienígenas como «parteiras», que o ajudaram a manter-se ligado à
sua divindade. Tinha a visão de um ser num rio veloz e de a corrente
se ter tornado demasiado forte. Os alienígenas estão numa espécie de
rocha na margem e «eu agarro-me a eles». Eles querem que ele «se
mantenha ligado através disto», em vez de se perder no seu medo.
Até há pouco tempo «uma parte de mim mantinha-se fechada» para
eles. Agora, tem «consciência deles» e «está ligado a eles». Acha
que o seu ser familiar é «belo» e consegue ver «as emoções que per-
passam pelo seu rosto» como «nuvens movendo-se a grande veloci-
dade». Reflectiu novamente sobre a rectidão de Paul Desmonte e a
forma como, quando foi vencido e não dispunha de outros recursos,
enfrentou a verdade do seu antagonismo e se suavizou. Foi neste
momento que os seres alienígenas, que lhe eram familiares mesmo
então, voltaram e «eu pude vê-los». Embora tivesse sido martirizado
antes de poder compreender o seu potencial. Paul Desmonte foi
bem-sucedido, na medida em que conseguiu «que a aldeia falasse
durante algum tempo».
234 SEQUESTRO
entre o seu corpo e o seu eu ou alma. Durante a terceira regressão,
Joe testemunhou longos procedimentos durante os quais os alieníge-
nas, entre outras coisas, massajavam e alimentavam Mark, com o
objectivo de o manter ligado à sua origem divina e impedi-lo de con-
fundir ou limitar a sua noção de si mesmo ao seu corpo ou ego
humano. Pareceu a Joe que os ET eram agentes da sensibilização de
Mark, remodelando-o virtualmente como um ser com uma identi-
dade simultaneamente alienígena e humana integrada. A responsa-
bilidade de Joe como pai é manter Mark ligado ao seu ser superior. O
perigo para Mark neste mundo, que Joe comparou a um asilo de lou-
cos, seria sucumbir à limitação de consciência, que resulta da com-
petição, das intrínsecas pressões financeiras e, especialmente, das
aparências de civilidade que são o carimbo oficial do mundo dos
negócios. Os seres alienígenas parecem ter servido de «parteiras»,
tanto para Joe como para Mark, libertando-os da casa de loucos que
é a nossa cultura e levando-os a um outro estado de consciência,
mais compatível com a viabilidade da vida no planeta.
Os alienígenas foram também os agentes da integração e sensibi-
lização do próprio Joe. Na segunda regressão, descobriu que possuía
simultaneamente as identidades humana e alienígena, o mesmo que
muitos sequestrados estão a descobrir acerca de si próprios, e que é
uma espécie de agente duplo, funcionando como uma ponte entre a
terra e os reinos de onde provêm os seres. Durante esta regressão, Joe
sentiu igualmente que tanto as naves, como o reino alienígena, eram a
sua casa, onde se sentia mais à vontade e experimentou a tentação de
nunca mais regressar. Mas a sua tarefa humana tem sido integrar as
dimensões ou partes alienígena e humana de si mesmo e tornar-se
num ser ligado, para além do seu ser material ou ligado à terra.
Na terceira regressão, Joe viveu a intensa experiência de sentir
as suas metades humana e alienígena unir-se, numa expansão está-
tica e profunda, uma espécie de ritual de passagem, que incluiu
simultaneamente sequelas aterrorizadoras e agradáveis, que alarga-
ram e aprofundaram o processo nas semanas que se seguiram. As
experiências de Joe, especialmente as relacionadas com o nasci-
mento de Mark, demonstram dramaticamente a separação ou des-
continuidade entre a sua alma e o seu corpo. A leveza da experiência
da alma no «espírito» ou em «outro reino» — faltam-nos as palavras
— contrasta com a densidade do corpo físico, tal como é sentido no
domínio terreno.
236 SEQUESTRO
mente, também não podemos saber é em que realidade acontece
tudo isto.
Finalmente, na quarta regressão, Joe teve uma profunda expe-
riência de uma vida passada. Este material surgiu em resultado de
uma opção feita por mim de pegar na frase «Voltei», proferida por
Joe quando se estava a ver com um bebé de dois dias. Isto implicou
da minha parte, pelo menos uma certa receptividade à possibilidade
de experiências de vida passada e «regresso» à terra de outro domí-
nio. Caso contrário, poderia ter ignorado a frase e ter-lhe pedido, por
exemplo, para continuar a falar da sua experiência como um bebé de
dois anos e dos eventos subsequentes. A experiência de vida passada
não parecia arbitrária. Ao invés, reflectia Joe (como Paul Desmonte)
exprimindo os seus valores e a sua verdade, mas partindo de uma ati-
tude arrogante, de uma consciência limitada e polarizada, evocando
antagonismos e tendo como consequência o martírio. Presen-
temente, ele acolhe os mesmos valores, a fé nas maiores possibilida-
des humanas, mas a sua consciência evoluiu até ao ponto em que
consegue comunicar a sua verdade, de uma forma que acolhe igual-
mente aqueles a quem desejaria persuadir. A experiência de vida
passada pareceu ter importância, não pelo facto de ser outra existên-
cia distinta, mas antes por reflectir uma etapa da evolução da
consciência de Joe, dentro de um período de tempo superior à dura-
ção de uma única vida humana.
Esta sessão também se mostrou notável devido à similaridade
entre as intensas experiências do nascimento de Joe para esta vida e
da sua morte como Paul Desmonte. Em ambos os casos, manifestou-
-se uma intensa emoção, medo e, em última instância, libertação, à
medida que ocorria a transição de um estado para o outro. A impres-
são que tive foi da vida como um ciclo de nascimento e morte, de
transições de um estado para o outro, evoluindo ao longo do tempo,
e, numa perspectiva mais vasta, dificilmente distinguíveis umas das
outras. Os seres alienígenas — ET, como Joe lhes chama — parecem
ter estado com ele, ou pelo menos disponíveis, como protectores e
guias da sua evolução espiritual ao longo do tempo, aparecendo
quando a sua consciência se abria e expandia, como aconteceu antes
da morte de Paul, e desaparecendo quando a sua psique se contraía,
como sucedeu depois do seu nascimento do ventre de Julie.
Esta observação poderá vir a revelar-se importante, para aumen-
tar o conhecimento das condições fisiológicas em que os seres
LIBERTAÇÃO DO ASILO DE LOUCOS 237
humanos são, ou não, capazes de sentir a presença alienígena na sua
vida. Se, de facto, os seres alienígenas estão mais próximos da fonte
divina ou anima mundi do que os seres humanos em geral parecem
estar, então, é possível que a sua presença entre nós, embora cruel e
traumática em certas ocasiões, possa fazer parte de um processo
maior, que pretende fazer-nos regressar a Deus, ou o que quer que
decidamos chamar ao princípio criador, depois de, como disse Joe,
«uma viagem que nos levou até muito longe», «uma viagem de que
muitos estão cansados e estão agora a trabalhar, a fluir e a lutar para
regressar à sua origem».
A própria viagem de Joe deu origem a notáveis alterações na sua
vida. Tem sido capaz de entregar muitas das tarefas diárias do seu
negócio a um assistente, o que o deixa livre para seguir a sua voca-
ção espiritual e terapêutica. Está disposto a «revelar-se», a tornar-se
público como professor da evolução da consciência. Está disposto a
reconhecer as suas experiências ET, bem como a sua identidade, e a
partilhar abertamente estes conhecimentos com outras pessoas. Joe e
eu já nos apresentámos juntos em muitas ocasiões. Fico sempre
impressionado pela forma objectiva e não ameaçadora como ele
consegue conduzir uma audiência através das suas próprias dúvidas
e consciência emergente, que ele, efectivamente, abriu a inteligên-
cias e experiências que estão a mudá-lo profundamente, bem como
talvez a milhões de americanos.
CAPÍTULO NOVE
SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES
E EVOLUÇÃO HUMANA
Sara era uma estudante universitária de vinte e oito anos quando
me escreveu a solicitar uma sessão de hipnose. Planeava viajar
em breve e pretendia ser hipnotizada antes de partir «de modo
a libertar algumas emoções e informação que sentia estarem quase
à superfície, e atenuar alguns sentimentos de ansiedade e confusão
que se tornavam cada vez mais intensos.» Nesta descrição foram
omitidos muitos pormenores respeitantes ao dossier de Sara com
o objectivo de proteger o seu anonimato.
Na sua carta. Sara afirmava que dois anos antes, durante uma
massagem de tratamento a uma dor que tinha na base do crânio
«senti que pequenos seres comunicavam telepaticamente comigo.»
Descobriu também que fazia desenhos espontaneamente, usando
uma caneta em cada uma das mãos («Nunca tinha utilizado a mão
esquerda.») que interpretou como sendo seres extraterrestres, tendo
em conta especialmente os seus olhos. Os desenhos também
incluíam corredores de ligação e «uma espécie de campo corporal
ténue» que parecia «um corpo delicado de uma entidade.»
Sara faz parte do crescente grupo de sequestrados que, a nível
espiritual, se interessam por compreender as suas experiências. A
busca de uma explicação e o esforço para alargar os limites da sua pró-
pria consciência, permitiram-lhe atingir um conhecimento profundo
num curto espaço de tempo. Na referida carta. Sara dizia também que
começara recentemente a «receber informações que ligavam outras
entidades a questões como a preservação do planeta e as transições
ecológicas, especialmente as reversões polares e geomagnéticas.» O
240 SEQUESTRO
desejo de servir, «de fazer algo construtivo pelo mundo», é vitalmente
importante para Sara, embora ainda não saiba como.
Sara cresceu na periferia de uma cidade industrial. Classifica de
«convencional» a sua educação protestante e considera-se empe-
nhada em viver a realidade da forma mais transparente possível.
Nunca experimentou drogas nem bebidas alcoólicas. Atribui este
facto às suas experiências de contactos e considera que, desde que
parou de consumir cafeína, chocolate e açúcar quase na totalidade,
as suas experiências tomaram-se muito mais conscientes e claras.
O pai de Sara já não é vivo. Embora fosse um homem inteli-
gente, Sara suspeita que sofria de dislexia e crê que isso interferia
com a sua capacidade de expressão escrita necessária para um maior
sucesso profissional. Era um homem frustrado que abusava fisica-
mente da mãe de Sara e era verbalmente agressivo para ambas. Sara
assistiu a várias discussões entre os dois e viu por vezes o pai bater
na mãe. Assustada com o temperamento do pai, Sara ia para outro
quarto para evitar que ele lhe batesse. Sara recorda que o pai era cari-
nhoso para ela quando era pequena, mas afastou-se quando ela
começou a destacar-se na escola. Ao contrário do pai, a mãe de Sara
é uma pessoa bastante bem sucedida profissionalmente.
Sentia uma ligação especial ao seu avô materno, que morreu
quando Sara era adolescente. Era «muito benevolente» e «costumá-
vamos ficar sentados durante horas, ali sentados e eu lia para ele...
Era para mim uma fonte de apoio, um verdadeiro e bom modelo.»
Durante cerca de dez anos após a sua morte. Sara tinha muitas vezes
a sensação que o avô estava no quarto com ela, especialmente
quando se encontrava na secretária a trabalhar. Recorda-se de um
quarto «engraçado» da casa do avô. Ia frequentemente para esse
quarto quando era criança, fechava a porta e sentava-se lá dentro
durante muito tempo. Num estado «semi-acordado», Sara sentia
uma espécie de «energia indistinta» no quarto, mas de nada mais se
lembra.
Sara foi uma criança intelectualmente precoce e aprendeu a ler
muito cedo. Sentia uma inclinação especial por mistérios e por livros
sobre fantasmas e espíritos. A sua família ia à igreja quase todos os
domingos. «Eu não gostava da ideia do pecado original. Para mim
não fazia sentido... Gostava muito do Espírito Santo». Descevia-o
como «o tecido que liga toda a realidade.» Por volta dos onze ou do-
ze anos, Sara começou a encarar as questões teológicas como forma
242 SEQUESTRO
por vezes uma «extrema necessidade». Também gostava de conver-
sar com ele sobre as suas experiências de contactos.
A história do sequestro de Sara cruza-se com recordações de
vários tipos de experiências paranormais. Tem uma memória muito
precoce — «com seis semanas de vida ou menos» — de «me pega-
rem ao colo, mudarem-me de lugar e olharem-me». Crê que
«alguém tirou uma fotografia... Foi assim como o primeiro momento
de consciência de mim mesma,» disse ela. «Fecho os olhos e consigo
lembrar-me.» Experiências relacionadas com fantasmas «foram
uma constante durante toda a minha infância,» e recorda que se ini-
ciaram antes dos seus quatro anos de idade. «Tornei-me a principal
contadora de histórias de fantasmas.» Por vezes inventava as suas
histórias tendo como ponto de partida retratos, inventando pormeno-
res e contando «histórias da vida passada» baseadas em recriações
imaginativas das suas vidas. Concentrava-se nos olhos dos retratos
e ficava «hipnotizada». O retraio adquiria uma «viva agitação»
e ganhava contornos «tridimensionais.»
Para além das histórias de fantasmas. Sara e as suas amigas de
infância costumavam brincar àquilo que ela chama de «sessões
espíritas». Uma vez, quando passavam a noite juntas, pediu à sua
melhor amiga Annie, que era também a mais pequena, para se deitai-
no chão e disse «'Vamos tentar levitar-te' — não sei como é que eu
conhecia a levitação e pusémo-nos todas em círculo. Acho que con-
segui comunicar com ela e comecei a dizer qualquer coisa, e por fim
algo do género «agora sim» e então a rapariga começou a subir.»
Cada uma das crianças presentes «teve a sensação que algo de estra-
nho se passara» e depois disso ninguém falou sobre o incidente. Sara
recorda «essa noite de uma forma muito nítida». «Oh, meu Deus!
Nessa noite o quarto estava todo muito estranho... Havia muita elec-
tricidade naquele quarto. Acho que as crianças nem tiveram cons-
ciência disso.» Perguntei-lhe se tinham conversado com alguém
sobre o sucedido. «Acho que nem lhes passou pela cabeça contar.»
Parecia-lhe que «tinham combinado não contar». Há dois anos, Sara
perguntara à rapariga se tinha flutuado. «Conseguimos levitar-te?» e
a rapariga dissera que sim e que todas tinham ficado cheias de medo
com aquela experiência.
Mais tarde, durante a regressão. Sara associou este conheci-
mento e capacidade para realizar experiências de levitação com as
naves espaciais, tanto no seu espaço interior como exterior. «Sinto
244 SEQUESTRO
encontrava na altura. «Só consigo dar uma ideia geral. Era muito
magro. Muito magro. É tudo o que consigo lembrar-me.» Durante
um incidente distinto, sentiu algo no seu quarto, junto à cama. Esta
presença também foi confirmada pelo homem acima referido.
Embora na altura tenha sido emocionalmente difícil, Sara sentou-se
e tentou contactar a entidade, com amor e compaixão. Depois, o
espírito pareceu dissipar-se.
Cerca de uma semana antes de rumar para Leste para se encon-
trar comigo. Sara sofreu um acidente de viação, em consequência do
qual voltou a sentir a dor intensa na cabeça e pescoço, que surgira
cinco anos antes. Devido a esse acidente, viu-se obrigada a adiar por
vários dias a viagem. Miguel ia a conduzir o carro e ficou tonto.
Começou a «sentir-se aturdido» com distorção da visão e ambos
sentiram como que uma força «magnética» a empurrar o veículo. O
carro saiu da estrada, em direcção a um aterro e «cambalhotou.»
Sara sofreu um entorse cervical e distensão dos tendões e ligamen-
tos, e foi transportada de ambulância para o hospital.
No período que se seguiu ao acidente, Sara fechava os olhos e
conseguia diferenciar, para além dos «seres luminosos», um segundo
tipo de entidades. Quando «fecho dos olhos, vejo-os... Vejo esses
tipos... lá em baixo, numa pequena fila, três ou quatro tipos pequenos
e escuros. Pareciam produzir sons inarticulados.» Mais tarde, acres-
centou «parecia-me que esses tipos estavam dentro da minha
cabeça.» Em contraste com «os seres luminosos», estes eram referi-
dos como «frenéticos». Pouco depois deste acidente, sentia necessi-
dade fazer a sua «escuta» diariamente e apontava por escrito toda a
informação que obtinha. Achava que isso evitaria outros acidentes.
Alguns dias depois do acidente, Sara e Miguel tiveram uma
experiência na qual uma inexplicável luz verde/amarela penetrou no
quarto. Sara afirmou que Miguel não era habitualmente medroso
mas que ambos ficaram aterrorizados e que ele pareceu perder os
sentidos durante o tempo em que durou o incidente. Sara sentiu-se
como se estivesse «fisicamente presa» e incapaz de se mover. Viu
«três coisas pairando sobre mim» que pareciam «três cabeças cober-
tas por mortalhas» e pensou «há alguma coisa, escura, estamos a
comunicar. Isto é a sério. Qualquer coisa como isto, como... preciso
de me organizar e começar a apontar tudo.» Então «todas aquelas
coisas pareceram dissipar-se.»
Sara observou também um objecto invulgar no céu. Certa vez ela
246 SEQUESTRO
gens de «um material branco e brilhante» e de «um lugar de onde
caí.» Depois mudou de cenário «estava num campo e olhava para o
que parecia ser uma nave espacial a cerca de trinta metros, e eu estou
cá fora, sozinha no campo.»
A nave era «uma coisa branca em forma de cúpula» e tinha «uma
coisa em cima e uma entrada vertical» e «difunde uma luz... Vejo
uma série de coisas parecidas com esqueletos, um cruzamento entre
um esqueleto e um insecto rastejante. Ou seja, andam para cima e
para baixo nesses planos inclinados... Vem dali uma luz — uma das
portas está aberta para baixo e dela sai luz, iluminando a pequena
criatura que anda para cima e para baixo no plano inclinado e que se
parece um pouco com um esqueleto compacto. Tem na cabeça uma
espécie de bolha, mas parecem-me filamentos — depois volto a
escorregar através de uma coisa qualquer até à cama... Vertical. As
descidas eram sempre na vertical. Tão rápidas! Quase violentamente
rápidas.»
Sara lembra-se que costumava acordar aterrorizada depois des-
tas descidas abruptas da nave, «de tal maneira aterrorizada que podia
ter morrido... Aquilo não era muito seguro... Era bom agarrar-me à
trave senão não acertava na cama», disse ela. As associações que se
seguiram tinham a ver com um cilindro comprido, brilhante, branco
e com a sensação de estar a bater com a cabeça num «alçapão».
Parecia-lhe que estava a recuar no tempo, em direcção a «um lugar
em que estava morta.» Depois viu um ser sentado no que parecia ser
uma grande cadeira prateada ou trono de metal. Reconheceu-o, ape-
sar da sua cabeça ser «a coisa mais bizarra que alguma vez vi». Tinha
uma «esfera à volta da cabeça. É translúcido e estou a olhar para a
parte de dentro do rosto de um esqueleto. O interior do esqueleto não
é exactamente igual ao de um esqueleto humano... Tem à volta esta
espécie de filamento exterior em forma de auréola e o sorriso é um
tanto repugnante, como o sorriso de um esqueleto. Mas, sabe, não
me sinto assustada. Não têm mau aspecto e são simpáticos. São sim-
páticos... Nenhum está a tentar assustar-me. Eles não têm culpa de
ter este aspecto.»
Tal como muitos outros sequestrados. Sara pôs um nome a esta
entidade familiar. Chama-lhe Mengus. «É da família, é benevo-
lente,» disse ela. Em seguida, recordou-se primeiro dos seus dez
anos e depois dos cinco anos, dentro da nave («Sou mais pequena do
que ele»), «mesmo em frente de» Mengus, «mesmo junto dele.»
248 SEQUESTRO
translúcidos era, segundo Sara «muito mais elevada do que a energia
que se sente aqui... Possuíam simplesmente muito mais consciência!
Não mantinham tudo oculto no seu inconsciente. Estavam desper-
tos, simplesmente. Despertos e responsáveis, receptivos, concisos e
precisos e tinham os olhos abertos... Bem como os seus corações.
Não tinham medo e não eram mesquinhos e egoístas em relação ao
amor e isso é muito agradável. Eles eram tão, tão, tão simpáticos...
Tenho a impressão que tinham uma coisa translúcida na parte de trás
da cabeça... Sabe que a nossa cabeça não é translúcida, é coberta por
cabelo e tudo. Nós tapamos todas as nossas pequeninas coisas que
não queremos que os outros vejam e eles são simplesmente mais
abertos. Conseguimos ver lá para dentro e, como são telepáticos, não
têm segredos. Resultado: cada um deles vale mais quando está com
os outros. Do mesmo modo, também não estão em contradição. Eu
gosto disso. Meu Deus! Como eu gosto disso! Gostava de poder
estar com eles de novo.»
Sara sentia que para estar com aqueles seres, pelo menos daquela
maneira feliz e inocente, teria de recuar no tempo, «até um período
anterior a esta vida... Acho que vou tentar», disse ela. De seguida,
deu consigo a voar numa nave espacial branca com uma série de
pequenas janelas. Voava sobre uma área deserta — «Estamos só a
voar a grande velocidade por aí e consigo ver lá para baixo e é tão
maravilhoso... Não sei se alguma vez me senti tão feliz na vida,
assim sem restrições, para sempre, feliz. Uau! Estamos sobre uma
elevação e há aqui uma grande extensão de deserto e vejo este ver-
melho, amarelo e cor-de-laranja e, ao nível das sensações, é tudo
simplesmente formidável. É simplesmente delicioso.» Nessa vida, o
seu corpo era como o de um esqueleto, «como Mengus... E arre-
piante e os ossos são um tanto pequenos, e o corpo é frágil e um tanto
barulhento. Anda-se de uma maneira muito desarticulada». Sara
ficou de novo maravilhada com a capacidade de manobra que sentia
dentro do veículo espacial, de como era «agradável passear por aí.»
Tendo por base esta perpectiva extraterrestre da vida passada,
Sara falou das coisas «estúpidas» que os humanos fazem e da tenta-
ção de discutir com eles directamente. Mas «é muito mais útil ser
subtil e certificarmo-nos que eles reflectem sobre isso.» Os seres
humanos são «tão egocêntricos que não mudarão. Não mudaram.
Têm essa coisa do ego a que gostam de se agarrar e tornam-se
mesmo ameaçadores...» Mas há também coisas «preciosas» nos
250 SEQUESTRO
gundo ela, «aparentemente a guerra», mas não a guerra para matar
pessoas. A guerra era direccionada para as «cabeças das pessoas...
uma guerra para controlar as pessoas.» Sentiu «um desejo enorme de
me proteger daquilo tudo.»
De seguida, Sara recordou as experiências de «levitação», «flu-
tuação» e «impulsão» ocorridas durante a sua infância no quarto
com a cama de dossel. «Era como se alguém estivesse quase a atirar-
-me para cima e para baixo.» Eram dois «tipos parecidos com o
Mengus» que estavam a fazer isso. Parecia que existia um campo
magnético entre os dedos deles e o seu corpo. O impulso «era diver-
tido... eu ria-me» e depois os seres falavam um com o outro, «comi-
go não» e saíam pela janela, colocando primeiro a cabeça. Estas
visitas eram amigáveis, «como se aparecessem para tomar chá» mas
depois de acabar a faculdade os seres «enfureceram-se» porque ela
estava a levar uma «vida convencional e estúpida... uma existência
com poucas perspectivas», especialmente quando arranjou um
emprego no ramo do comércio.
Sara ligou esta experiência a outra que teve mais tarde. Estava
deitada a apanhar sol quando «senti uma coisa a pairar sobre mim».
Viu uma figura que era «um cruzamento entre um ser Mengus e uma
pessoa. Era humano na forma, mas mais leve e flutuava livremente».
Sara recebeu uma comunicação através desse ser, «Isto é muito
importante». Disse-lhe que a intenção não era agressiva, era apenas
uma espécie de teste sobre a «compatibilidade genética ou coisa do
género», uma «infiltração», «um teste de viabilidade», «uma fusão
dimensional.»
Pedi a Sara que explicitasse melhor o conceito de «fusão dimen-
sional». Descreveu-me então aquilo que para mim é a imagem central
da nossa primeira sessão. «É como uma nave», disse ela « uma folha
de celofane translúcido.» Há «como que um vidro enorme que se esti-
lhaça», e uma incisão «de uma lâmina fina» que separa a dimensão
física/Terra do reino donde provêm estes seres. Neste contexto, pedi-
-lhe que me desse mais pormenores sobre o contacto. O ser tinha «um
leve contorno de um pénis, mas não era idêntico a um pénis físico», e
penetrou no seu corpo. A experiência não tinha nada a ver com o que
conhecia sobre relações sexuais humanas. «O próprio ser estava
agressivo e eu não gostei dessa parte. Ele não se envolveu emocional-
mente durante toda a relação... Parecia mais um cientista a explorar o
território.» Perguntei-lhe se tinha havido actividade orgiástica. «Foi
SARA: FUSÃO DE ESPÉCIES E EVOLUÇÃO HUMANA 251
muito, muito, muito mais subtil» respondeu ela. «Não se passou intei-
ramente nesta dimensão» disse Sara, «por isso não pode ser avaliado
quer por palavras quer em termos físicos, porque de facto não se pas-
sou aqui. Foi metade aqui e a outra metade noutro sítio qualquer.»
Depois desta experiência Sara afirmou ter-se sentido « como que ludi-
briada». O ser não «me contou a história toda e o que disse foi mais ou
menos 'Eh, confia em mim, é importante'.»
Em seguida acrescentou: «Se um ser se está a projectar sobre uma
folha de celofane e [o] celofane se projecta sobre esta realidade e eu
posso ficar ali a ver, eu sou capaz disso.» Perguntei-lhe se realmente
isso tinha acontecido com ela («servido de intermediária»). «Sim»,
disse ela, acontecera há cerca de duas semanas. Tinha ido fazer ski.
Havia um espelho grande no seu quarto de hotel. Levantou-se a meio
da noite e no lugar do espelho apareceu um corredor. Tentou andar
por esse corredor, mas bateu com a cabeça no vidro. Miguel não a
tinha acompanhado nessa viagem mas «no momento em que choquei
com o corredor ele estava no quarto e tentei gritar 'Miguel', mas não
consegui. Não me saía nada.» Partilhava o quarto com uma amiga
praticante de ski, que também viu uma silhueta no quarto. Parado-
xalmente ela «limitou-se a adormecer de novo.»
A pancada doeu-lhe muito, mas, assim que o espelho se abriu, a
dor resultou também da «interpenetração das dimensões». Era como
se surgisse «um ser que se parecia com o Miguel» ou «um disfarce
do Miguel». O ser tinha olhos «escuros e penetrantes, negros,
negros» e «era parecido com um insecto» com uma «cabeça muito
grande» e «um pequeno corpo enrugado... que usava um fato para
parecer maior... Magoou-me» disse Sara, «mas o objectivo fundamen-
tal não era magoar-me». Pretendia «explicar alguma coisa através da
demonstração», nomeadamente que «toda esta interpenetração
dimensional existe.» O «bater com a cabeça serviu para demonstrar
'Eh! Isto é fisicamente real'» De outro modo, muitos humanos ficam
muitas vezes «densos» e/ou demasiado preocupados para serem
contactados.
«Em termos de espécie». Sara achou-se «compatível» com os
seres do tipo de Mengus, mas o ser do quarto de hotel parecia ser um
representante de outra espécie com a qual Miguel esteve em con-
tacto, talvez numa outra vida. Segundo Sara, estas duas espécies
estavam a tentar estabelecer ligação entre si e a sua ligação com
Miguel demonstrava-o. Sara afirmou que cada espécie tem o seu
252 SEQUESTRO
próprio «plano de vibrações», de modo que quando duas espécies se
querem contactar têm de «criar um novo plano vibracional de inte-
racção.» Isto pode ser exemplificado através da relação humana que,
de facto, ultrapassa a barreira da espécie. Era uma forma de aperfei-
çoar um número infinito de coisas, através de «um pancada maravi-
lhosamente concisa.»
Pedi a Sara para falar um pouco mais sobre o ser que ela vira no
quarto de hotel. A cabeça era a parte mais proeminente do corpo,
com um «brilho difuso», parecida com a de um «réptil», parecida
«em parte, com a das cobras, das serpentes» e muito alongada.
«Veias vermelhas» faziam que a cabeça se parecesse com «um corpo
virado do avesso.» A criatura não era «má. É bastante simpática.»
Parecia quase «um ser marinho, um molusco ou um caracol mas sem
a concha.» Parecia vulnerável, necessitando da sua «compreensão»
e «cooperação.» Admitir que a criatura existe na realidade «ultra-
passa os meus limites de aceitação e de tolerância... abrir o meu
coração a uma coisa que não é igual a mim. Isso é bom para mim.
Preciso de conhecer isso. Preciso de aprender e de fazer alguma
coisa nesse sentido.» Considerou que o ser tinha sido «amável» ao
«vestir» o fato de Miguel de modo a conseguir maior intimidade.
Quando Sara o olhou nos olhos viu «muito amor» e sentiu que era
recíproco. Também observou um olhar «um tanto triste» e «fati-
gado», como se estivesse a dizer «Já chega!», e concluiu: «Eles estão
fartos que tenham medo deles... Sinto pena daquele tipo.»
Acabámos aqui a sessão de regressão e o espírito de Sara começou
a duvidar da sua própria experiência e a procurar formas de «explica-
da [a sessão]. Pode ser desilusão ou imaginação», disse ela. Mas logo
acrescentou: «Também não é imaginação. Creio que é real. É mais real
do que imaginário. Mas é real como num holograma... como se fosse
projectado, mas não sei. Bati com a ca... e depois regressei, 'Meu
Deus! Doeu, não foi?'... Passou-se alguma coisa comigo, por isso foi
real,» concluiu Sara «toda aquela dor que parecia uma queimadura, a
arder...» Depois de voltar à nossa realidade, as duas realidades parece-
ram-lhe «mais a par» ou «muito mais iguais.»
Sara disse posteriormente que a fusão das espécies tinha como
objectivo principal provocar a «evolução pessoal» para alcançar a
«compreensão universal.» A dor intensa serviu para penetrar na den-
sidade da recusa humana, alcançando-nos quando estamos «ador-
mecidos». A dor é «o limite da tangibilidade física». Cada espécie
254 SEQUESTRO
Quando acede a este ou a outros estados de contacto, sente-se
«muito feliz». Diz que «parece que o campo magnético à minha
volta muda completamente... como se o espaço ou outra coisa esti-
vesse a flutuar, como se pudesse assistir a um abalo térmico ou algo
no género. A sensação é essa.» Sara afirma também que este estado é
de tal maneira familiar que sempre o aceitou como real e que se con-
centrasse mais vezes a sua atenção nesse sentido, muitas outras coi-
sas adicionais se tornariam acessíveis.
Apesar da alegria que sente quando entra noutra dimensão, Sara
considera que não teria sido «eticamente correcto atravessar», total-
mente ou demasiado depressa, o abismo entre os dois planos. Disse
que «no passado parecia que tinha um compromisso, como um estu-
dante em regime de intercâmbio», o compromisso de passar um ano
no estrangeiro, para assim poder vir à Terra. Estava, com efeito,
«num programa de penetração», «conseguira recursos» e tinha «uma
responsabilidade» na sua execução.
De uma maneira ou de outra. Sara expressa um desejo de utilizar
a «ecologia como uma forma de ajudar as pessoas a fazer uma...
transição... As pessoas têm de redefinir filosoficamente o conceito
que têm de ambiente. As pessoas pensam 'Oh, o meu ambiente'.
Mas é como se o ambiente fosse [completo]... o ambiente é infinito.
E possui um número infinito de características, que vão das físicas
até às emocionais e psíquicas, até as que cruzam vários planos e sec-
ções... Cada um de nós é o seu próprio ambiente... É um conceito
muito mais alargado do que a maioria das pessoas pensa», conside-
rou. Em seguida. Sara referiu-se à dificuldade que a espécie humana
tem manifestado para aceder a um conceito de amor incondicional,
«criativo e vivo», que ela relaciona com todas as formas «como nos
diferenciamos uns dos outros», como é o caso da criação de barreiras
de género, de etnia e de religião. A ecologia podia ser usada para
descobir «traços comuns» e para «transformar as consciências... Se
na verdade, na mais absoluta verdade, fazemos o que é melhor para
nós próprios, estaremos a fazer o que é melhor para o mundo. As
duas coisas são sinónimos.»
Sara observou que ainda sente «necessidades emocionais.»
Utilizando a sua metáfora sobre os estudantes em regime de inter-
câmbio desta para outra dimensão, referiu: «Posso conseguir umas
férias em casa, ou estar em dois lugares ao mesmo tempo» mas
afirma que pode ser mais útil alcançar um estado de consciência em
256 SEQUESTRO
amor incondicional. Sara relaciona a sua própria evolução nesta
direcção com os seus contactos e o seu papel como uma espécie de
estudante de intercâmbio entre o universo não-físico do qual emana-
vam os extraterrestres ou «seres luminosos» e a terra onde ela se
empenhou em viver.
Sara tentou repetidamente ao longo das nossas sessões expressar
por palavras o processo através do qual os seres extraterrestres con-
seguem entrar no nosso universo físico e como é que ela, por sua vez,
consegue aceder ao deles. Uma imagem forte é a da poderosa mem-
brana de celofane que se estilhaça, originando uma incisão através
da qual se torna possível algum contacto com a outra dimensão não-
física. Ela própria consegue aceder a este outro universo e anseia
entregar-se quase por inteiro ao outro domínio que, tal como tantos
outros sequestrados, considera ser o «Lar» e o lugar dos seus pais
verdadeiros. Mas sentia constragimento em passar totalmente para o
outro lado devido aos constantes desafios terrenos para ultrapassar
as suas necessidades egoístas, especialmente o desejo de ser amada.
Sara, como outros sequestrados, está consciente que a transforma-
ção da sua própria consciência e a partilha deste processo é uma sub-
til contribuição a um nível mais alargado. É assim que ela coloca a
questão: «Se fizermos o que é bom para nós próprios, estaremos a
fazer o que é bom para o mundo.»
Sara, talvez como outros sequestrados, participa numa espécie
de projecto de fusão e evolução das espécies. É provável que o
objectivo deste projecto seja a criação de novas formas de vida que
estejam espiritualmente mais envolvidas e menos agressivas, e a
manutenção simultânea das capacidades sensoriais marcantes que
acompanham a densa estrutura da existência humana física. Uma
parte da nossa longa sessão de hipnose envolveu as memórias de um
contacto com um ser extraterrestre, vividas parte na nossa realidade
física, parte numa dimensão não-física. A característica mais difícil
de entre os vários tipos de contactos interdimensionais e interespé-
cies descritos por Sara é a diferente frequência vibracional em que
vivem os seres de outras dimensões e os ajustamentos de raiz que
devem ocorrer de modo a que se dê o contacto. Grande parte da
extrema exaustão física que Sara e outros sequestrados sentem
durante as suas regressões pode estar relacionada com a libertação
física destas incongruências vibracionais outrora reprimidas, por
vezes durante toda a vida, por poderosas forças opressoras que po-
CAPÍTULO DEZ
PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois
MUNDOS
Paul tinha vinte e seis anos quando, numa conferência sobre OVNI
em New Hampshire, se dirigiu a mim e se apresentou. Era um
jovem sensível e bem parecido, pertencente ao crescente grupo de
sequestrados que eu conhecia e que tinham descoberto que eram
dotados de dupla identidade como seres extraterrestres e como seres
humanos. Paul acreditava, desde o início dos nossos contactos, que
tinha como missão «ser um exemplo» de amor e abertura, e de fazer
que os seus semelhantes vencessem os medos que nos oprimem e
que nos impedem de utilizar as capacidades que temos. O objectivo
do nosso trabalho em comum era o de fazer que Paul fosse capaz de
descobrir a essência da sua complexa identidade e que se tornasse
inteiramente responsável pelo seu poder transformador e concilia-
dor. Depois da nossa entrevista inicial, realizámos duas sessões de
hipnose e Paul participou em duas sessões do grupo de apoio. Num
pequeno grupo. Paul, Pam Kasey e outros sequestrados exploraram
os poderes conciliadores das suas energias comuns. Quando nos
conhecemos, Paul vivia com os pais e geria o seu próprio negócio de
publicidade. Trabalhava para ganhar dinheiro suficiente para alugar
um apartamento só para si.
Tal como muitos sequestrados que conheci, Paul veio ter comigo
depois de uma série de perturbantes consultas com uma profissional
de saúde mental, com quem continuou a encontrar-se até poucos dias
antes de o conhecer. Primeiro recorrera à Dra. T., uma psicóloga,
com o objectivo de explorar experiências «estranhas» que o levaram
a duvidar da sua sanidade, incluindo uma em que, depois de fumar
260 SEQUESTRO
marijuana durante cinco horas, começou a ver «uma espécie de ser»
nas escadas de sua casa. Pretendia também certificar-se se as suas
experiências estariam ligadas ao avolumar de dificuldades. Teve
consultas irregulares com a Dra.T. durante cerca de um ano e meio.
A terapia incluía quatro ou cinco sessões de hipnose com o objectivo
de reavivar a memória de um possível abuso sexual perpretrado pela
sua avó paterna, mas que contudo não chegou a vir à superfície. O
que realmente emergiu foram encontros adicionais com seres invul-
gares, ocorridos quando tinha três anos, que se revelaram fortemente
reais e que tiveram um «fortíssimo» impacto na sua visão do mundo
e em «tudo o que aprendi».
Com o prosseguimento das sessões. Paul descobriu que estava a
ficar cada vez mais «consciente» de uma «ligação com uma coisa
parecida com um ser extraterrestre», que a Dra. T, talvez compreensi-
velmente, não conseguia estruturar. Certa vez, numa das sessões. Paul
pediu que lhe dessem uma prova da existência desses seres ou das
energias que lhes estavam associadas, a que se seguiu uma sonora pan-
cada junto à porta do consultório. A Dra. T. assustou-se, mas quis
aprofundar o que acontecera. Paul teve curiosidade em certificar-se do
que se passara e sentiu um «crepitar» eléctrico na sala, mas descobriu
que não havia nada visível atrás da porta. A Dra. T. tinha os olhos
aber-
tos de medo e Paul teve de tentar acalmá-la. Sentia que alguma coisa
«ia acontecer» à Dra. T. durante o fim-de-semana seguinte e disse-lho.
No iníco da sessão seguinte a Dra. T. não se referiu ao assunto e Paul
perguntou-lhe se tinha acontecido alguma coisa. A Dra. T. respondeu
que a sua cama tinha sido misteriosamente impelida para cima e para
baixo. Disse-lhe que ficara aterrorizada e, segundo Paul, tentou igno-
rar o que tinha acontecido, não se esquecendo contudo de tirar de casa
«os espíritos do mal.» Segundo Paul, ela acreditava que nada «que
fosse bom ou inteligente se apresentaria de uma forma agradável.»
Apesar de achar que a Dra T. estava a refreá-lo porque conside-
rava assustador o material do sequestro, uma série de memórias vie-
ram à tona durante as sessões de hipnose por ela realizadas. Paul
afirma que, por exemplo, numa das sessões iniciais «esperava ver a
minha avó abusar de mim ou qualquer coisa parecida, quando de
repente... vi a nave e eu estava fora dela, na parte de trás, a chaminé
e
aqueles pequeninos seres a subir e parecia que eu ia passar-me» (na
nossa primeira sessão de regressão exploraremos em pormenor este
episódio que se passou quando Paul tinha seis anos e meio).
PAUL: A UNIÃO ENTRE Dois MUNDOS 261
Na última sessão antes de terminar as consultas com a Dra T.,
Paul conseguiu recordar um sequestro ocorrido quando tinha dois ou
três anos de idade, a julgar pelo facto de vestir um pijama inteiro
com botões à frente, que a sua mãe confirmou ser o que Paul usava
para dormir naquela altura. Viu-se «em cima de uma mesa» e
«aquilo assustou-me terrivelmente». Recordava-se que o ser entrara
no seu quarto, «pegou na minha mão», comunicou-lhe que «tinha de
ser forte» e passou com ele «através da porta.» Paul só se lembra de
«fragmentos de uma nave», mas não se recorda como foi parar lá
dentro. De cima da mesa viu que a sala seguinte parecia ser feita de
uma liga de metal uniforme e que os objectos da sala pareciam ser
inamovíveis. Quando se tentou levantar, um ser fez pressão com dois
dedos sobre a sua cabeça e empurrou-o para trás, aparentemente sem
esforço, e ele ficou temporariamente calmo.
Perguntei a Paul se conseguia ver o ser. «Ainda não. Mas no
minuto seguinte já consegui» disse ele. A criatura vestia um «fato»
inteiro com «uma espécie de pespontes... De repente voltou-se, como
um clarão. Moveu-se tão repentinamente! Estou a olhar para a sua
cabeça e parece normal. Parece ter olhos grandes, talvez pretos e estou
'bem' [suspirou] e agora deito-me para trás.» Pensou: «Bom, está bem.
Obviamente que ele não quer que eu olhe para ele.» Tendo por base
muitos outros casos, sugeri que talvez fosse ele que não quisesse olhar,
o que considerou ser «muito provável» uma vez que estava cheio de
medo. Depois viu dois outros seres de pé atrás dele e pensou: «O que é
que está a acontecer? Porque quererá alguém falar comigo aqui?» Em
seguida Paul olhou para baixo e viu «que ele começara a fazer qual-
quer coisa na minha perna» com os «dedos muito, muito compridos.
Ele ou ela — não sei ao certo — pareciam dois dedos e um polegar e
estava a gostar de sentir a minha barriga da perna, muito suavemente
para cima e para baixo e então de repente senti mesmo a minha perna,
a barriga da perna, era como se fosse, era dor e era como 'Ai, a minha
perna dói-me mesmo'.» Paul não se lembra de ver nenhum instrumen-
to, mas lembra-se de sentir a perna «entorpecida», como se «tivesse
sido injectada com alguma coisa.»
Paul descreveu mais tarde a dor na perna que revivera durante a
sessão com a Dra T., «depois de isso ter acontecido tudo começou a
acalmar e ele começou a erguer-me» e o ser estava a «levar-me para
fora» quando a Dra T. disse «'Pronto, o nosso tempo esgotou-se' e
eu pensei «está bem». Quando a sessão terminou. Paul ainda sentia a
262 SEQUESTRO
dor na perna e a Dra T. perguntou-lhe «'Sente-se bem?' e eu 'Claro
que me sinto bem.' Percebe o que eu quero dizer? Não sei. Foi mais:
acho que sim. Consigo andar. Consigo ir de carro para casa, ou outra
coisa qualquer.» Houve uma troca de impressões sobre a possibili-
dade de realizar uma sessão mais longa, mas a ausência de respostas
e o facto de Paul ter a impressão que a Dra T. tinha extrema dificul-
dade em lidar com o impacto do material do sequestro, levaram-no a
interromper a terapia. Pelo telefone Paul fez uma última tentativa
para pedir ajuda, alguns dias antes de nos encontrarmos. Deu-lhe a
conhecer a sua diculdade em lidar com as memórias que surgiam
(dificuldades em «estruturá-las»), mas como ela própria tinha incer-
tezas sobre o que fazer com as histórias do sequestro, parecia não ter
nada a dizer excepto, na verdade, «telefone-me quando precisar».
O facto de Peter manter durante tanto tempo este relacionamento
terapêutico improdutivo não tinha apenas a ver com o facto de haver
pouca gente qualificada para lidar com questões ligadas aos seques-
trados. Tem também ligação com o facto de, durante a sua vida, sem-
pre se ter sentido sozinho e mal preparado para receber ajuda e da
sua tendência crónica, comum aos filhos dos alcoólicos (os seus pais
tinham ambos problemas com a bebida) para proteger os adultos à
sua volta das suas próprias angústias. Uma das razões que o levaram
a interromper o tratamento com a Dra T. deveu-se à sua preocupação
em protegê-la das angústias que o seu caso lhe estava a criar.
Antes de terminar a nossa primeira sessão, Paul referiu que se
sentia «estrangeiro» («toda a minha vida disse à minha mãe que
tinha sido adoptado») e como era difícil «pessoas como eu ajusta-
rem-se e adaptarem-se ao que as rodeia, caso seja aqui que preten-
dem viver e sobreviver.» Relacionou isto com o clima emocional
negativo e hostil que encontrou ao nível social e expressou o desejo
de «ser um instigador do que é positivo» e tornar-se «um exemplo do
que cada um pode fazer» para conseguir a livre comunicação. «O
modelo está ali» disse ele, mas «este mundo fechou-o numa caixa.
Tenho de abri-la.»
Paul suspeitou durante muitos anos que o marido da sua mãe não
era o seu pai biológico. De acordo com Paul, o seu «pai» era estéril e
a sua mãe mantivera um caso prolongado com outro homem com
quem esperava casar, mas que acabou por ficar com a mulher porque
esta tinha leucemia. Paul pressionou-a várias vezes e, por fim, ela
cedeu e confirmou as suspeitas de Paul; isto aconteceu um ano antes
264 SEQUESTRO
sonora pancada, como se tivesse sido alguma coisa «junto ao con-
tentor do lixo em frente à casa.» Foi à janela e como não viu nada,
voltou para a cama. Adormeceu e voltou a acordar e teve a certeza
que «havia alguma coisa no quarto.» Mas quando sentiu «algo em
cima de mim» e descobriu que não se conseguia mexer, ficou aterro-
rizado. «Senti-o ao longe, mas depois aproximou-se muito e disse:
Ai! Isso é perto demais! Perto demais! Afasta-te!... Como estou a
atravessar esta dimensão tento descobrir onde está essa coisa, e
estava a examiná-la, como se estivesse na ponta do meu nariz... con-
seguia senti-la mesmo aí... a cerca de dez ou doze centímetros do
meu nariz.» Quis abrir os olhos, mas pura e simplesmente não conse-
guiu. «Passei pelo sono outra vez» (é um paradoxo do terror relacio-
nado com o sequestro) e depois quando acordou foi capaz de se
«libertar» e olhar, mas «não havia nada ali.» Embora já estivesse
totalmente consciente. Paul «estava a suster a respiração e não con-
seguia falar» e esteve sem se conseguir mexer durante mais algum
tempo. Embora não tivesse visto qualquer ser durante este incidente,
sentiu contudo «algo [que] tinha mesmo feito alguma coisa».
Embora mais tarde tivéssemos sido tentados a explorar este
incidente, regressámos ao episódio dos seis anos e meio, ocorrido
durante o Outono de 1972. Como é meu procedimento habitual,
recapitulámos pormenorizada e antecipadamente o contexto em que
ocorreu o contacto, para que eu tivesse uma orientação quando o
incidente fosse explorado durante a hipnose e não interrompesse as
suas associações com questões factuais que o pudessem distrair.
Muita desta informação emergira durante as sessões com a Dra T.
Passámos em revista a planta da casa, a localização do quarto e a
forma como a sua mãe o aconchegou na cama nessa noite. Paul não
se lembra de ter adormecido, mas recorda-se de ter olhado para o
escritório, de se ter levantado e ter andado em direcção às portas de
correr de vidro que separavam o seu quarto do pátio traseiro. Dentro
de si, uma voz familiar disse-lhe para sair como se «tivesse um
encontro com alguém naquele lugar.»
Enquanto descrevia o seu comportamento nessa noite falava
como se fosse o Paul adulto que observava as acções do rapazinho a
partir «dos seus próprios olhos... Não sinto o que ele sente» disse
«mas compreendo o que ele sente.» A criança saiu para o átrio, olhou
para cima e viu uma «nave» que parecia estar a passar mesmo em
cima da sua casa. «Era como se aquilo tudo estivesse iluminado»,
266 SEQUESTRO
tento ser ele torna-se cada vez mais intenso.» Quando encorajava
Paul para sentir o medo. Paul sentiu logo um torpor na face, que se
espalhou pelo abdómen, peito e mãos. À medida que o medo aumen-
tava viu «um grande olho à minha frente... as mãos sobre mim» e a
sensação de estar a «encolher... Há outros ali», continuou, «não me
deixam sentir nada.» Depois, sentindo que estava nu, deitado de cos-
tas numa sala com um tecto em forma de cúpula, viu «instrumentos e
um banco». Agora com o corpo todo entorpecido, Paul disse
«Conseguia olhar pela janela... O espaço... Via estrelas. Via montes
de estrelas... Parece que se move».
Uma vez mais, Paul teve dificuldade em estabelecer ligação
entre o adulto que observa e a criança que está a viver a situação —
«tudo me impede de estabelecer a ligação» —, mas foi capaz de
dizer «Consigo ser eu». Depois sentiu «chapas, que pareciam grades
que me empurravam o estômago para baixo.» Descreveu, a meu pe-
dido, um dos seres humanóides. Não tinha cabelo e os olhos eram
grandes e negros, aparentemente sem íris. O nariz era «achatado,
como o dos macacos» e a boca parecia ter escamas à volta, coisas
parecidas com pratos nos lábios». O ser deixou-o subir e conduziu
Paul através de uma porta. «Estou a andar cá fora. Estamos a olhar
para os controlos da nave. E uma nave. E uma nave! E uma nave!»
O ser parecia-lhe ser «um amigo», mostrou-lhe os controlos e
disse-lhe: «Dentro da nave és como eu.» A princípio Paul não perce-
beu; mais tarde o ser explicou-lhe que «tu és daqui.» Em seguida,
enquanto outras figuras humanóides observavam, o ser conduziu-o
um pouco mais para baixo, para uma estrutura «parecida com um
coador» junto ao centro da grande nave. Disse a Paul: «É aqui que
nos juntamos». A figura que acompanhava Paul indicou-lhe uma
cama, parecida com as dos humanos, com lençóis, mas «flutuante».
Disse-lhe «Estes são os teus aposentos. É o teu lugar. É aqui que
ficas quando andamos nestas viagens.» De facto, os «aposentos»
pareceram-lhe familiares, porque calculou ter estado ali «setentas
vezes». De vez em quando. Paul sentia-se confuso e descrente, mas
diz: «Sinto que estou lá. Sinto que este é o quarto que ele me indica
que estou lá dentro quando vou para onde ele me conduz.»
Neste ponto, perguntei a Paul qual era a duração e a frequência
de todas estas visitas. Respondeu-me: «Ele está a dizer que estão
todas ligadas, que é a mesma coisa.»
268 SEQUESTRO
tes da vida e não podem ser assim. Estão a causar mortes. Estão a
causar muitas mortes e é a vossa própria morte. E nós estamos a ten-
tar ajudar-vos, mas viemos e fomos mortos por muitos de vós.»
Paul continuou, dizendo que gente como ele próprio estava
«aqui para fazer a integração, lentamente... porque se chegamos e
tentamos interromper-vos isso não terá resultados. Não teve resulta-
dos anteriormente.»
— Anteriormente, quando? — perguntei.
Paul continuou, como se tivesse ignorado a minha pergunta:
«Vocês já são muito violentos, são muito violentos e hostis. Isso já
está demasiado imbuído na vossa natureza e têm de encarar isso a
sério. Têm de perceber isso, e é preciso um pouco de tempo... Nós
não podemos avançar sem mais nem menos. Não podemos avançar
assim. Temos de fazer a integração como aconteceu agora.»
Tentei trazer Paul ao que acontecera nos seus aposentos da nave,
mas ele desviou-se e persistiu na sua luta no sentido de entender «a
informação que tem estado fechada dentro de mim... Ultrapassa o
nosso entendimento.» Senti que não tinha outra hipótese senão
deixá-lo prosseguir. Falou depois dos problemas que os extraterres-
tres tiveram durante os seus contactos com seres humanos. «Aqui há
muitos como nós [ou seja, seres com dupla identidade]», disse ele.
«Quando avançamos, tudo se resume ao poder. Aqui estão todos
muito absortos com o poder.» Referiu-se à dificuldade que a nossa
espécie tem «de se abrir aos outros.» Como ser humano, mas identi-
ficando-se também como extraterrestre, sentiu aqui «muitos proble-
mas». Tentou ajudar os seres humanos, mas sentiu-se atacado.
«Tudo o que é novo é atacado... Tento fazer aquilo que devo para
ajudar-vos, mas sinto-me atacado... Os seres humanos consideram-se
únicos e acabou-se. Mas há muito mais... Há tanta vida e no entanto
os humanos querem a morte. Escolhem a destruição, preferem-na à
vida, ao contacto, à criação. Isto aqui é um inferno... Todos tentam
explicar-vos isso. Tentaram dizer-vos que este lugar precisa de aber-
tura. Os seres humanos continuam fechados em si próprios.»
Seguidamente, Paul referiu-se em tom profético à teimosia
humana, à recusa em aceitar o que se fez e à recusa em receber ajuda.
«E por isso que pessoas como nós, ao chegar aqui, são apanhadas
nesta engrenagem e depois ficamos doentes como vocês.» Os seres
extraterrestres conseguem «colocar-se no vosso plano físico», mas
também conseguem «estabelecer contacto com outros que não estão
270 SEQUESTRO
— De universo para universo — disse ele. — Em cada um dos
níveis há consciência. É infinita.
Mais tarde, explorámos o tipo de informação relativa a esta
consciência superior, informação essa que ele tinha recebido durante
os sequestros. «Começa por ser uma energia de que não se dá conta»,
explicou; mas em seguida evolui e «começa a tornar-se inteligível.»
Pode «ramificar-se para diferentes dimensões... absorvendo formas,
tal como uma célula absorve outra célula e adquire uma nova forma.
A energia reflecte uma outra forma; absorve uma nova forma e inte-
gram-se mutuamente. Comunicam entre si e compreendem-se.
Aprende e desenvolve-se. Cria. Isto é criação activa, e torna-se cada
vez mais inteligente. Cresce. Tem mais para escolher, mais possibili-
dades de escolha. «Paul falou de seguida de como a substância e a
energia «flecte» ou se altera de uma para outra em várias formas.
Relacionando este processo criativo com a sua opinião sobre a
intransigência humana, acrecentou: «Vocês não querem sofrer
mudanças e crescer. Para vocês a mudança é sinónimo de medo.
Mudança significa destruição. Têm tantas ideias pré-concebidas
sobre a forma como se processa! Vocês aguardam. Mudam durante
um segundo e em seguida ficam a aguardar eternamente. Ficam à
espera para sempre.»
Curiosamente, Paul revelou que a inteligência dos extraterrestres
não entende realmente porque é os seres humanos são tão destrutivos
e resistentes à mudança, e perguntei-lhe se os comportamentos físi-
cos intrusivo que fazem no corpo se destinam a obter informações
sobre isso. «Em parte», disse e informou que a «intromissão» e o
olhar se destinam a compreender, ajudar e «adaptar», mas acrescen-
tou sem dar qualquer explicação que «se cometeram erros.» Em
última análise, «nós [Paul enquanto extraterrestre] não compreende-
mos porque é que vocês são tão arrogantes e ainda não aprenderam.
Isso coloca-nos alguns problemas complexos. Um organismo que
chega a este estado de destruição devia parar e aprender consigo
mesmo. Devia perceber... como se o esticássemos até ao máximo e
soubéssemos que ia dividir-se... não compreendemos porque é que
escolheram a destruição.»
Acrescentou que a intervenção e a mudança são possíveis
mesmo sem entendimento. «Podemos alterar as coisas, mas vocês
vão ter de aceitar mais mudanças que surgem. As mudanças vão sur-
gir a um ritmo rápido e vai ser-vos difícil mudar... Agora as inteli-
272 SEQUESTRO
— Com quem? — perguntei.
— Com os meus irmãos naquele planeta. No espaço. Na nave.
Sugeri que chamássemos «irmãos» aos extraterrestres, já que
Paul se referia a eles como «a minha gente» ou «os meus irmãos.»
Nesta altura da sessão as imagens chegavam-lhe à mente com tal
velocidade que lhe era impossível estruturá-las, pelo que o encorajei
a encontrar o seu equilíbrio e a demorar o tempo que quisesse.
Afirmou que «a forma de réptil era muito inteligente, uma forma de
energia que tinha atingido com êxito aquela fase.» Perguntei-lhe o
que lhes tinha acontecido. «Evoluíram simplesmente até este ponto.
Preservaram-se para novas formas de vida», disse ele. «Oh, são ca-
pazes de predizer o tempo. São capazes de sentir o tempo. Sabem o
que vai acontecer no futuro. Elas [as criaturas com forma de répteis]
sabem. São tão compassivas. São capazes de compreender, de ter
compaixão em relação ao futuro da vossa existência.»
Seguidamente, Paul sentiu ondas de energia a atravessar-lhe o
corpo, empurrando o abdómen e fazendo que as suas mãos se pare-
cessem com «agulhas». Afirmou que se sentia «bem» e «de certo
modo integrado». As memórias a que estava a aceder não eram
«estranhas», eram «muito claras». Estávamos a chegar ao fim da
nossa sessão e perguntei-lhe de que maneira as memórias que ele
recuperara hoje nos poderiam ser úteis a nós, enquanto seres huma-
nos em luta para compreender as suas tendências violentas. A sua
primeira resposta foi que as memórias de hoje o estavam a ajudar a
«compreender melhor quem sou eu de facto... Sou um cruzamento
entre — é-me difícil compreender isto — o que eu conheço de mim
próprio e os irmãos que estiveram comigo, aquilo a que os humanos
chamam de extraterrestres». Não conseguiu encontrar a palavra,
mas ocorreu-lhe que seria qualquer coisa do género: pessoas «TA».
As pessoas «TA» evoluíram durante muito tempo, mas de uma for-
ma diferente dos humanos, disse Paul. Quando fizeram a «integra-
ção convosco» não esperavam que ela fosse tão problemática.
Perguntei-lhe porque é que eles tinham decidido fazer essa integra-
ção. «É assim que a criação funciona», afirmou ele, mas «os huma-
nos não estão preparados para isso, e nós estamos... nós queremos
aprender.»
Perguntei a Paul porque é que a evolução da relação entre extra-
terrestres/humanos tinha actualmente tanta importância. Respon-
deu-me que, em termos de evolução, estávamos actualmente mais
274 SEQUESTRO
banco da memória. Por exemplo, «as pessoas limitam-se a olhar para
eles, do tipo, oh, o dinossauro tem um cérebro pequeno, pequenino e
membros anteriores flácidos. Come, dorme e mexe-se. É o que faz. E
foram mortos por um meteoro devido ao atraso no conhecimento. E
claro que vão relacionar isso com o facto de não terem mãos como
nós e o resto, por isso não podiam construir uma casa como nós fize-
mos. Isto é incrível. É de um egoísmo! Para ser inteligente tem de ser
igual a vós. Não sabem nada sobre eles... têm ossos, sabem. Não
sabem. Não sabem nada sobre eles... Creio que foi assim durante
muito tempo, mas não sabemos nada sobre o reino animal. Nada. E
contudo, está à nossa volta e existe definitivamente comunicação...
E a inteligência da energia que produz a forma?»
Estive fora da sala durante alguns minutos e no final da sessão Paul
ficou a falar com Pam sobre a domesticação de animais como expres-
são da nossa necessidade de «controlar tudo à nossa volta devido ao
medo», sobre a perspectiva estreita da identidade humana e sobre a cul-
tura «retorcida», competitiva e intolerante que construímos.
A nossa segunda sessão de hipnose teve lugar seis semanas mais
tarde. Antes de iniciar a regressão. Paul falou sobre o desejo que sen-
tia de ultrapassar posteriormente os impedimentos intrínsecos com
vista à sua transformação pessoal e à execução da sua missão. Es-
pecificando melhor, sentia que durante a sua vida tinha estado imer-
so em sistemas disfuncionais, começando por uma família que
muitas vezes respondia à sua necessidade de amor e apoio com abu-
sos e «manipulação com vista à submissão» e acabando imerso em
sistemas políticos e sociais que restringiam a sua capacidade de
amar. O seu sonho era destruir as barreiras do medo entre as pessoas
e criar «uma rede de linhas de comunicação» com vista à construção
de novas estruturas baseadas no amor e na conciliação. Mas receava
as pressões dirigidas contra todos os que tentam colocar-se contra os
limites da família, «um incrível ataque que toda a sociedade move
contra a tua pessoa, só porque tentas encontrar uma outra saída».
Preocupava-se com o que me poderia acontecer. «Vai toda a gente
ficar cheia de medo do que estás a fazer, sem se importarem que
pode vir a ter êxito.»
Paul referiu que necessitava de sentir confiança no clima emo-
cional da casa antes de «se abrir» mais, e acrescentou que prescruta-
ra uma certa inquietação no rosto da minha esposa relativamente ao
sequestro, sensação essa que se atenuara após uma curta conversa
278 SEQUESTRO
meiro estava escuro dentro da nave. Tinha o corpo na posição de sen-
tado enquanto vários seres tacteavam o seu corpo como «se estives-
sem confusos com alguma coisa.» Embora sentisse que de algum
modo lhes dera autorização para eles lhe tocarem, resistiu à comuni-
cação, o que para eles era difícil de entender.
Os seres queriam que Paul se deitasse sobre a mesa, e ele assim
fez. Estava sem roupa, não se podia mover e sentia frio. «Não
entendo», disse Paul, aterrorizado e confuso. «Estão a abrir-me.»
Usando o que parecia ser uma espécie de luz, os seres fizeram uma
incisão com cerca de vinte centímetros de profundidade na sua
perna direita, acima do joelho. A abertura de dois centímetros «sol-
tou» o que tinha no interior, expondo músculos, ligamentos e osso,
mas deitou pouco sangue — «Devia sangrar! Porque é que não está
a sangrar?» O procedimento era indolor, mas o facto de estar a ver a
sua perna aberta aterrorizava-o. «Estão a olhar lá para dentro da
perna», disse. Em seguida, «estão a tirar um bocado do meu osso».
Utilizando «apenas a luz» os seres fecharam a ferida e «agora vamos
conversar.»
Aterrorizado e só, Paul sentiu dificuldade em respirar, como
acontecera na nossa sessão. Achava que os seres tentavam, mas não
conseguiam compreender porque é que ele estava tão terrivelmente
aterrorizado. Os seres explicaram-lhe que há «uma relação entre
nós» e que «Eu sou deles.» Neste ponto da sessão. Paul sentiu um
desdobramento da sua consciência. Como extraterrestre compreen-
dia que eles estavam a tentar ajudá-lo, como ser humano «tenho pro-
blemas em entender quem eu sou» em «explicá-lo às outras pessoas.»
A operação à perna e «muitas» outras coisas que aconteceram antes
e actualmente, tinham-lhe sido feitas pêlos seres com o objectivo de
«mudarem coisas dentro de mim», de modo a que se transformasse
«numa espécie de ligação» que pudesse «apresentá-los» à minha
pessoa e aos outros seres humanos. Mas sentia receio pêlos seus
«novos amigos», receio que «eles se magoassem» porque «todos
têm medo deles.»
Paul afirmou que os extraterrestres lhe tinham ensinado muitas
coisas, como por exemplo «como é que eu penso» e «como é que a
energia funciona dentro de mim». Pedi-lhe que explicasse. «É uma
coisa muito poderosa... O pensamento tem um grande impacto sobre
a direcção que essa energia toma e eles ensinam-me a saber para
onde quero dirigir essa energia. Ensinam-me a usá-la. Ensinam-me a
280 SEQUESTRO
[os extraterrestres] têm de me mostrar isto», disse ele. «Não gosto de
ver.» «Porquê?», perguntei. «Não quero ser humano. Não quero ser
humano. Tenho pena de ser humano. Não queria magoá-los.» Paul
explicou que estava noutra nave que veio socorrer os mortos e tinha
nove anos na altura em que presenciou este acidente.
Paul sentia-se angustiado porque alguns dos seus «amigos» mor-
tos não puderam ser «levados» e foram abandonados no deserto.
Quisera ajudá-los e sentia-se triste que «sofressem por causa do medo
das outras pessoas... da ignorância daqueles seres humanos.» Paul
afirmou que a sua vida é dedicada a fazer que «o conhecimento ve-
nha à superfície», mas para conseguir isso «tenho de gostar de mim e
deixar-me ficar aqui». Durante a sessão, Paul sentiu o seu coração a
«abrir-se um pouco mais... está calor», disse. «As coisas estão a mis-
turar-se» e sentia que «a paz e o amor... se alastram... O planeta
[a Terra] vai crescer, preocupando-se connosco», mas «eu sou o
começo. Tenho de aceitar o que aprendi «especialmente que a conci-
liação se inicia no coração e depois «alastra para fora». Os seres
extraterrestres mostraram-lhe que «o ódio aos outros» fazia mal ao
coração e que «a força para crescer» estava «à minha volta... Eles
[os extraterrestres] ensinaram-me a utilizar isso [o conhecimento]».
O seu único papel era, segundo afirmou, funcionar como uma
ponte de ligação entre os extraterrestres e o mundo dos humanos.
«Querem que eu forme um grupo que se possa encontrar com eles.
Querem que deixemos de ter tanto medo deles, que sejamos abertos,
que compreendamos» que entremos numa «troca» de amor. E neces-
sário que ele e os outros humanos confrontem os seus medos, caso
queiramos «mudar este lugar em que vivemos, em que vivo... Há
muito para fazer», acrescentou. «Tenho de ajudar nesse sentido. E
preciso da vossa ajuda.» Quase no final da sessão. Paul referiu-se à
sua própria «necessidade de crescimento» e expressou o seu amor
por mim e por Pam. «Confio em vocês os dois para me ajudarem.
Porque será que achamos tão difícil amarmo-nos uns aos outros?»
Depois falámos sobre a ligação entre uma história pessoal de sofri-
mento, como era a da sua vida, ou mesmo na experiência com os
extraterrestres, e a relutância ou incapacidade para abrir o coração.
Antes de terminarmos, conversámos sobre o que parecia ser a
consciência de Paul sobre um incidente que aparentemente ocorrera
em Roswell, no Novo México, em que um veículo espacial parecia
ter colidido, poucos dias antes das primeiras observações de «discos
282 SEQUESTRO
Revendo outros aspectos da sessão, Paul referiu que «aquela
coisa pegajosa e desconjuntada» era a exteriorização do seu medo do
desconhecido. A imagem na nossa sessão era parecida com a temida
imagem do filme O Exorcista que, em criança, o aterrorizou durante
semanas. «Quando os conheci [os extraterrestresi e lhes toquei, e foi
do tipo 'Oh, são tão pegajosos!' E frios e tudo isso, e ainda fiquei
mais aterrorizado.» Os extraterrestres pareciam resistir, opondo-se
mesmo à confusão sobre a identidade ou à falsa atribuição que aqui
ocorreu. Por exemplo, quando levavam Paul pela floresta até à nave,
sentiu a comunicação passar através deles dizendo que estavam «em
sintonia» e interrogou-se «o que há de errado? Então? Eu sou quem
eu sou e vocês são vocês e qual é o vosso problema? E eles tentavam
introduzir o seu pensamento. Eles não querem tomar conta de ti».
Sentia que olhavam para ele como que a dizer: «Porque não estás a
comunicar comigo? Como é possível não aceitares quem tu és?»
Conversei com Paul sobre a dificuldade que os seres humanos
têm em aceitar e conhecer a fonte de poder da qual provimos.
Respondeu-me que « aceitar outro ser humano como fonte de infor-
mação é muito difícil. Pior ainda é aceitar, por exemplo, não-huma-
nos como nossa fonte de informação, como guru, como professor —
o que quero dizer é que é espantoso o que eles me ensinaram, agora
que aceito isso cada vez mais. Podem ter-me mostrado onde está a
força criacional. Foram eles, em grande medida, os responsáveis
pela minha ligação a ela.» Paul reflectiu sobre a sua experiência de
«dúvida total» sobre a realidade destes contactos com extraterres-
tres, que relacionou com a limitada «definição de Deus» que lhe foi
dada em pequeno, numa altura em que os seus pais saltavam «de
religião em religião.» Mesmo assim, Paul sempre pensou que «inte-
riorizara a ligação com uma fonte. A terminologia e o resto é imate-
rial.» Reflectiu, com receio, sobre a «inacreditável» tecnologia que
aprendera durante os seus encontros com extraterrestres, especial-
mente a «quantidade de informação» que recebera sobre as curas.
«Enchi cadernos com isso», disse, «e é muito sólido.»
No final da sessão, tive de sair da sala durante alguns minutos
para tratar de assuntos da casa. Paul, sentindo-se vulnerável, ques-
tionou Pam sobre a possibilidade de eu me sentir «desapontado» e
disse: «O John sabe mais do que diz». Isto surgiu como uma espécie
de projecção, já que Paul afirmara que sentia que «podíamos ter ido
mais lomge... podíamos ter simplesmente continuado. Não preci-
284 SEQUESTRO
extraterrestres, a natureza da consciência (especialmente enquanto
fonte da criação) e a sua dupla identidade humana/extraterrestre e o
seu papel de conciliador e de elemento de ligação entre os dois mun-
dos. Um tema central do material de Paul é a extrema e implacável
característica destruidora dos humanos que, embora baseada no
medo, permanece um mistério para os próprios extraterrestres. Para
eles, é como se tivéssemos escolhido deliberadamente a morte em
vez da vida, e as suas experiências constituem, por um lado, um
esforço para compreender os nossos procedimentos perversos e tei-
mosos e são, por outro lado, uma espécie de intervenção para nos
retirar do caminho da destruição para o da criação.
E difícil saber como avaliar a informação que Paul recebeu. Em
primeiro lugar, como ele próprio diz, se é difícil aceitar o poder e o
conhecimento dos «gurus» quanto mais o de criaturas como estas
que têm uma aparência tão estranha e que «abalam» a nossa noção
de realidade. Para Paul, bem como para todos nós que estamos
expostos directa ou indirectamente a este fenómeno, a primeira
tarefa é aceitar a sua própria experiência. As descrições feitas desa-
fiaram por vezes a realidade de espaço/tempo, como aconteceu com
a capacida de estar «presente» em 1947, em Roswell, na figura de
um rapazinho de nove anos de idade, dezanove anos antes de ter nas-
cido. Esta viagem no espaço/tempo apenas tem sentido se conceber-
mos a realidade como uma espécie de holograma da origem do
universo, capaz de criar a matéria e a própria forma e à qual Paul, e
potencialmente cada um de nós, tem acesso se abrirmos e «deixar-
mos passar» essa informação universal essencial ou estrutura ener-
gética. De facto, muito do material recolhido durante as sessões tem
a ver com a forma e com o poder criador da identidade da consciên-
cia e com a imperiosa necessidade de nos abrirmos às suas infinitas
qualidades.
O que tornou as comunicações de Paul tão interessantes e persu-
asivas foi a intensidade das sensações e do movimento corporal e
a sensação que acompanhava cada novo pensamento. Era como se
a tarefa do hipnotizador, ao trabalhar com ele, fosse facilitar o acesso
de Paul ao conhecimento que estava armazenado no seu interior e
que afectava poderosamente o seu corpo quando chegava ao nível do
consciente e podia então ser comunicado. A noção de consciência
como uma fonte infinita de energia e de forma à qual todos os seres
têm acesso, torna talvez inapropriado considerar cada comunicação
286 SEQUESTRO
Paul assume-se como uma ponte entre dois mundos. Sente pro-
fundamente que possui tanto uma identidade humana como extrater-
restre. O trabalho com vista à integração destas suas duas dimensões
básicas — um desafio que muitos sequestrados que vivem esta vida
dupla têm de enfrentar — é formidável e constitui um aspecto cen-
tral do nosso trabalho. Para Paul, como para outros sequestrados que
sentem ter acedido à fonte da energia criadora do cosmos, a sua iden-
tidade humana e participação é terrivelmente dolorosa, especial-
mente perante as instituições destruidoras ou sistemas de vida que
criámos. «O Lar» para ele, como para muitos sequestrados, é na
nave ou entre «eles». Contudo, simultaneamente Paul sente forte-
mente que lhe foi conferida uma missão, ou que foi escolhido, para
uma tarefa na Terra: a de contribuir, como exemplo de abertura e
amor, para a evolução e transformação da consciência humana. O
meu papel, o que Paul me atribuiu, é o de facilitar a sua capacidade
para aceitar e viver com a terrível responsabilidade que ele e outros
como ele têm face a uma cultura que oferece resistência ao conheci-
mento de quem eles são e do que tentam realizar.
CAPÍTULO ONZE
A MISSÃO DE EVA
Aos trinta e três anos de idade, Eva trabalhava como controladora
aérea quando leu um artigo publicado no Wall StreetJournal que
descrevia o meu trabalho com os sequestrados. Telefonou para o
meu consultório e disse que gostaria de ser entrevistada porque
«poderia estar a passar pelo mesmo tipo de coisas» que os sequestra-
dos descreviam no artigo e porque «isso importante para muita
gente.» Numa conversa telefónica posterior, Eva disse a Pam Kasey
que «sentia a presença de entidades de noite e de dia... sonhos com»
seres no seu quarto, que «aí permanecem» quando acorda, e recor-
dava incidentes da sua primeira infância e da última fase da adoles-
cência em que não se podia mexer porque a sua vagina estava a ser
examinada por anões que, sem saber como, tinham entrado no seu
quarto.
Os seus invulgares encontros levaram-na a interrogar-se se esta-
ria «louca». Quando nos encontrámos pela primeira vez, Eva já tinha
decidido seguir um rumo espiritual, apesar de sempre se ter conside-
rado uma «pessoa muito lógica» e destas experiências contrastarem
com as noções da realidade comum. Tencionava, contudo, descobrir
as verdades que estavam na base das suas experiências, uma deter-
minação que se ajustava ao perfil que traçara de si própria como pio-
neira a quem cabia «missão global» de ajudar os outros. Eva
sentia-se muito só na luta que travava para entender as suas expe-
riências, até ler o artigo do Wall StreetJournal. No dia anterior à sua
entrevista telefónica com Pam Kasey, Eva escreveu no seu diário
«Tento cooperar à minha maneira. É difícil. Não tenho ninguém com
288 SEQUESTRO
quem falar. Ninguém com quem chorar, que me dê ânimo, compre-
ensão. É um fardo muito pesado para se transportar sozinha. Como
posso ajudar Sara [a sua filha]? Só tem seis anos.» Embora as suas
experiências com o sequestro estivessem a perturbá-la, Eva sentia
desde o princípio do nosso trabalho que havia um objectivo a atingir
e que ela era um «veículo» através do qual podia ser transmitida a
informação proveniente de uma fonte superior. Fizemos três regres-
sões: em Janeiro, Fevereiro e Março de 1993.
Eva, a mais velha de três irmãos, era natural de Israel. O seu pai é
banqueiro e investidor em imobiliário, e o seu trabalho exige via-
gens constantes. Até ao fim da adolescência viveu com a família em
Inglaterra, Venezuela, Florida e Nova Iorque. Casou-se em 1980 e
fixou-se nos Estados Unidos em 1985. Durante a infância, sentia a
sua criatividade ser sufocada pela necessidade de se submeter às exi-
gências do pai, pessoa que ainda respeita, mas que qualifica de reser-
vada («Não é uma pessoa carinhosa» disse-me ela quando a
interroguei sobre a possibilidade de abuso sexual durante a infân-
cia). Eva foi sempre uma pessoa consciente com um forte sentido de
ajuda, à custa da sua própria liberdade e imaginação, se necessário.
David, o marido de Eva, trabalhava como engenheiro electró-
nico numa grande empresa de fotografia. O seu casamento era de
algum modo tradicional, já que recaía sobre si a responsabilidade
pelas tarefas da casa e pelas crianças, enquanto David, como princi-
pal ganha-pão, trabalhava durante longas horas na empresa. O «meu
compromisso em relação a mim própria», bem como o seu forte sen-
tido de responsabilidade, estabeleceram como condição que nin-
guém seria molestado pelo seu processo de evolução pessoal. Só
depois da segunda regressão, em Fevereiro de 1993, nove meses
depois do seu primeiro telefonema para o meu escritório, é que con-
tou ao marido as suas experiências invulgares, tendo-lhe falado tam-
bém no trabalho que ambos levávamos a cabo. Receava que David
não entendesse as suas experiências e que pudesse ficar perturbado
com a informação, criando-se assim uma tensão desagradável na
relação entre ambos.
Eva e David tinham dois filhos. Aaron, com nove anos, e Sara.
Depois da nossa primeira sessão de regressão, em Janeiro de 1993,
mostrou-se preocupada em relação a Sara, que estava a ter as suas
póprias experiências relacionadas com o sequestro. Cerca de três ou
quatro vezes por ano, acordava depois de ter «maus sonhos.» Uma
290 SEQUESTRO
Dez dias depois do nosso primeiro encontro, em Outubro de
1992, Eva escreveu no diário que ia de carro para Boston a ouvir a
gravação da sua sessão quando se começou a lembrar de mais por-
menores do seu sequestro da infância. Quando chegou à parte em
que tentava gritar pela mãe «Saltei do assento do carro» e «de re-
pente, ao olhar para as luzes da auto-estrada, uma imagem surgiu à
minha frente. Lembrei-me de uma nave parecida com esta [dese-
nhada no diário]. Era grande, de cor cinzenta, metálica. Voava junto
a mim. Depois-vi um rosto feminino com olhos grandes (redondos e
escuros) e verdes (como sobrancelhas) — verde claro à volta da zona
dos olhos e que chegava quase à ponta [desenhado no diário].
Depois a imagem desapareceu.» A recordação foi breve, durou
segundos, mas foi muito nítida, cheia de pormenores, incluindo as
linhas, forma e estrutura da nave.
Eva lembra-se também de outro incidente durante a infância,
quando tinha cerca de seis anos, que agora relaciona com as suas
experiências de sequestro. Teve uma pneumonia e foi levada para
um quarto das urgências de um hospital. As luzes brilhantes assusta-
ram-na e despoletaram uma memória de sequestro. No registo do
diário do dia 22 de Maio de 1992, escreveu: «Não é como uma única
lâmpada do dentista. São várias. Em cima de ti. Como pequenos pro-
jectores. E tu estás na cama, indefesa. E estranhos à tua volta.
Tocando, sentindo, investigando, experimentando. STOP. Nada
mais.» Quando o médico do hospital lhe disse para se deitar numa
cama e tirar a camisa interior, ela recusou. A mãe disse-lhe para tirar,
mas mesmo assim não se deitou nem tirou a camisa. Embora gritasse
aterrorizada «eles forçaram-me... Detestei terrivelmente».
Sob acção da hipnose, Eva lembrou-se de ver uma nave espacial
cerca de um ano depois, na área relvada atrás do conjunto de aparta-
mentos em Inglaterra, onde a família vivia na altura. «É muito baixa,
e tem mais ou menos três, três coisas de fogo a sair da ponta. É cin-
zenta e na ponta tem, uma espécie, oh, algo parecido com janelas
com uma luz a sair». Eva acredita que «eles bloqueram a minha
memória para que não conseguisse lembrar-me... Não te lembras
absolutamente de nada», disse ela. «Senão isso interfere com a tua
rotina diária.»
Eva crê que os extraterrestres «têm um mecanismo de persegui-
ção» e relata, como prova, uma experiência ocorrida quando tinha
cerca de nove anos e se encontrava ainda em Inglaterra. Estava a
292 SEQUESTRO
neamente os olhos, pensando «é imaginação minha.» Mas «quando
os abri de novo... ainda ali estavam. Compreendi que, em certa
medida, era real... Tive a sensação que me estavam a 'trazer a casa'
— qualquer que ela seja».
No dia 6 de Maio, oito dias antes de ler o artigo, Eva escreveu no
diário: «A noite passada, quando fui para a cama, queria tanto
encontrar-me com eles. Pedi, implorei um encontro. Ofereci-me (o
meu corpo) para ser examinada de modo a facilitar o seu conheci-
mento sobre nós, terrenos. Quando estava quase a adormecer senti
uma tontura estranha. Uma perda de gravidade, como se estivesse a
rodopiar num furacão, como se estivesse a ser chupada para dentro
de alguma coisa. Sabia que podia acabar com aquilo tocando fisica-
mente no meu marido que estava ao meu lado na cama. Mas sabia
que o meu desejo se estava a realizar e não queria que aquilo parasse.
De repente senti (vi?) uma luz azul-clara a envolver-me. Era azul-
-clara, contudo havia uma luz branca dentro da luz azul-clara. Era
uma luz que acalmava, contudo alguém que eu conheço conduzir-
me-á ao grande conhecimento. Era magnético. Aquilo que senti não
pode ser traduzido por palavras. As palavras são limitadoras.
Quando senti/vi a luz as tonturas/rodopios pararam. Fiquei em
branco. Não dormi bem. Sei muitas coisas. Acordei duas ou três
vezes nessa noite, sendo-me difícil adormecer de novo. Estava
inquieta. De manhã, quando acordei, estava tão cansada! Como se
tivessse viajado toda a noite. Espero ter viajado. E espero que um dia
me lembre destas viagens e tudo sobre elas para poder usar o conhe-
cimento para ajudar a humnidade.»
Na manhã seguinte, o marido de Eva, que parecera dormir
durante todo o incidente, disse-lhe ter ouvido um «estrondo» durante
a noite. Sentia-se «cheia de energia» e cheia de «amor e esperança».
Mas estava assustada ao mesmo tempo e escreveu no diário: «Sinto
que estou realmente a enlouquecer. Não posso contar ao David. Vai
pensar que enlouqueci. Estava tão assustada. Não conseguia dormir.
Não sabia o que fazer. Tenho de pedir ajuda?! Alguém com quem
possa falar. Agora sou eu, o papel e a caneta. Mas preciso de alguém
humano que me ouça. Sem me julgar. Sem expectativas. Nem acusa-
ções. Alguém com explicações, talvez.» Continuou, declarando
confidencialmente que os seres não nos querem fazer mal, que estão
aqui para ajudar e que «Eu amo-os.»
Nas semanas que antecederam o meu primeiro encontro com
294 SEQUESTRO
fazer-me qualquer coisa na espinha. Toda a minha espinha estava
dorida e fria. Era horrível! Parecia que estavam dentro do meu corpo
com um instrumento muito afiado (seringa?) e que o enfiavam entre
a minha carne e a pele. A sensação de dor persistia. Numa determi-
nada altura, comecei a mexer-me, tentei resistir, embora ao mesmo
tempo tivesse medo das consequências. A certa altura, com os olhos
fechados, fiz uma tentativa para obter mais informações. O ar era
húmido. A superfície onde estava era dura e um pouco escorregadia.
Tinha a sensação que o quarto não estava bem iluminado, mas não
tenho a certeza porque tinha os olhos fechados.»
«Continuei a resistir e percebi, em determinada altura, que esta-
vam a terminar a situação/experiência. Antes de bloquear de novo,
lembro-me que vi este símbolo [desenha-o] a vermelho. Não era a pri-
meira vez que via isto... Lembro-me que a seguir estava na cama, a
escutar o meu marido. Estava em posição fetal! Adormeci deitada de
barriga para baixo. Sentia-me novamente dominada pelo pânico, coisa
que não ancontecera anteriormente. Queria acordá-lo e dizer-lhe que
fora «levada» para algum lugar. Também sabia que ele nunca acredita-
ria em mim. Pensaria que era louca. Pensei talvez em telefonar a P.C.
ou a J.M. Não queria incomodá-los. Eram 5h30m da manhã. No dia
seguinte, senti-me abalada. Ainda me sinto. Tento relaxar, aceitar e, de
algum modo, encontrar um sentido para isto.» Sentiu-se «irritadiça
durante dois dias» e tentou «esquecer o assunto.»
A 22 de Dezembro, Eva fez referência no seu diário à relutância
que sentira em escrever os pormenores do incidente anterior como se
«ao escrever estivesse a legitimar toda a ocorrência e eu, na altura,
não estava preparada para isso.» Teve sintomas de frio e de gripe e
interroga-se se não teriam sido «causados pelo 'sequestro' e ter
estado 'semi-nua', e a injecção de sei lá o quê, etc. O facto de estar
despida e me terem injectado uma substância estranha pode ter cau-
sado uma reacção. PS. Ninguém da minha família teve sintomas de
frio/gripe na altura.» Seis semanas mais tarde, no decorrer da discus-
são sobre este incidente, Eva disse que a intensidade das sensações
físicas que tivera convenceram-na que o incidente «era real... Tinha
sensações. Senti que me magoavam. Senti dor. Estava frio.»
A sua primeira sessão de hipnose realizou-se a 18 de Janeiro de
1993. Sentia ansiedade e também curiosidade. «Adoro o desconhe-
cido», disse ela, e conversámos sobre a sua determinação em conti-
nuar, apesar das dificuldades de marcação durante as férias. Antes de
296 SEQUESTRO
injectaram-lhe nas costas uma coisa parecida com uma agulha para a
sossegar. Desta vez — o primeiro incidente que Eva conseguiu
recordar — saiu a flutuar da sua cama em posição horizontal sobre
uma espécie de padiola de lona e madeira. Depois foi «sugada» para
a escuridão exterior e para o topo da nave iluminada que era «como
um feixe luminoso com energia especial» emanando do interior do
aro, no topo da nave. Eva sentiu um misto de terror e confusão quan-
do viu a sua varanda e o edifício do lado, como se estivesse fora de
casa.
Eva estava na «sala de observação», no interior da nave, sobre
uma mesa com «gente pequena e luzes» à sua volta. Havia «muitos
botões vermelhos e verdes... parecidos com os dos sistemas compu-
torizados. Mas era diferente.» Os seres pequeninos lembravam-lhe
os anões da Branca de Neve e pareciam mais brilhantes do que os
que tinham estado no seu quarto. Um dos seres comunicava com os
restantes — e não directamente com Eva — numa voz «muito pare-
cida com a nossa», e dizia que o seu objectivo era «fazer experiên-
cias comigo», não ia fazer mal algum. Eva estava «em estado de
choque», sentia-se indefesa, quando os seres tocaram nas suas per-
nas, espinha, pescoço e testa com «coisas afiadas» como se «estives-
sem a tentar entender». Conseguiu ver um instrumento prateado com
a ponta redonda que foi inserido na sua testa. Um fluido branco ou
amarelo pingou-lhe sobre o nariz.
Os seres pareciam-lhe tão excitados quanto divertidos «porque
continuavam a comunicar uns com os outros» animadamente.
Talvez estivessem «a acelerar demasiado... a exagerar», porque o
líder chegou, disse-lhes alguma coisa e «calmamente, calmamente
pararam... Concordava com o objectivo original, mas é uma situação
idêntica à do professor que sai da sala de aula e as crianças começam
a brincar e a fazer as suas coisas.» O regresso reverteu o processo de
sequestro; pareceu-lhe que descia «por uma rampa de volta à minha
cama». Aí «eles estavam junto à grade para se certificarem que eu
estava bem». Quando «readquiri fisicamente os movimentos, gritei
e eles fugiram.»
Depois de recordar esta experiência, Eva ficou com a sensação
que não era «a primeira». Embora não se lembrasse de pormenores,
sentia que alguma coisa tinha acontecido quando tinha dois ou três
anos de idade. Tem a certeza que os seres são capazes de a «perse-
298 SEQUESTRO
de uma realidade para outra, sentimo-nos a contrair e a expandir ao
mesmo tempo... É como se, por um lado, fôssemos parte de tudo, e
por outro, tudo fizesse parte de nós», mas «ao mesmo tempo, con-
trais-te num ponto infinitesimal.» Isto é «absurdo, porque são duas
ideias em conflito», mas este absurdo contém o «segredo da mu-
dança de uma dimensão para a seguinte.»
A partir daqui e até ao final da regressão, Eva adoptou uma pers-
pectiva diferente e passou a usar apenas o pronome «nós», como se
encarnasse o ponto de vista da comunidade extraterrestre. «E como
se não fosse eu a falar», disse. Sentiu dificuldades ao nível físico
devido à intensidade da experiência neste domínio e as dores que
sentia nas mãos tinham origem nas energias bloqueadas. Os seres
extraterrestres tinham ido embora e ela via a estrutura de um triân-
gulo branco. «É muito intenso», disse ela. «Podem causar danos» ao
corpo humano. Os seres emanam «de diferentes dimensões, para
além da física», observou Eva «e precisam de alguém que esteja
mais perto do ser humano que, de certo modo, seja capaz de comuni-
car fisicamente com eles... A informação que conseguem retransmi-
tir», disse Eva, «possui tamanha intensidade que precisam de algo
que a refreie». Os contactos com os seres humanos servem precisa-
mente para isso, ou seja, para abrandar a transmissão de informação.
Eva acrescentou que a informação fornecida pêlos seres extra-
terrestres provém de outra inteligência, de um domínio que está para
além do mundo físico. Mas a maior parte das pessoas menospreza
isso, rejeitando por medo o que dizem ser pensamentos «loucos» ou
simplesmante «imaginação». Para haver receptividade em relação a
esta informação é necessário que os seres humanos sejam capazes de
pôr de lado as suas preocupações diárias, como o trabalho, as crian-
ças, o casamento — a nossa habitual «inconsciência». Contudo,
insistiu Eva, é importante que ultrapassemos a nossa necessidade de
poder e controlo a este nível, e que tomemos consciência que existe
vida noutros lugares, embora «não necessariamente sob a forma
física.» Um dos problemas que sentem quando nos contactam, disse
ela, é que os seres humanos precisam de ter a «prova física» através
dos «cinco sentidos», coisa que «nós» estamos «a tentar fornecer».
Isso é difícil porque nós não «somos constituídos por informações
físicas... Não nos situamos na dimensão espaço/tempo. Não temos
forma nenhuma... Somos todas as coisas. Podemos dizer Eu ou Um.
Não interessa... Somos uma ramificação do Eu» ou «o que vocês
300 SEQUESTRO
resto — ET, OVNI, o que quer que lhe chamem — com uma inteli-
gência superior». Falou de seguida do crescente recalcamento da sua
criatividade e da já mencionada necessidade de agradar aos outros.
Talvez a sua missão fosse a de ser uma conciliadora, especulou,
fazendo que as pessoas se libertassem dos efeitos doentios dos siste-
mas institucionais. Poucos dias antes do encontro, Eva teve a visão
de um triângulo de luz branca e amarela com o vértice para baixo
(símbolo comum do princípio feminino ou arquétipo da Grande
Mãe) com círculos no seu interior (que representam usualmente a
universalidade, o conjunto).
Antes de iniciar a regressão, Eva referiu o desejo de se lembrar
melhor das suas experiências, de se «abrir» ao serviço do seu eu supe-
rior e de «deitar fora o lixo». Mais uma vez, Eva mostrou dificuldade
em navegar entre aquilo a que chamamos «o mundo que constitui a
realidade para a maior parte das pessoas» e os novos domínios da sua
experiência. «Para mim, são ambos reais», disse ela.
Durante os primeiros minutos da regressão, Eva falou abstracta-
mente sobre as dimensões da realidade, sobre o que é possível perce-
ber e falar, da verdade cósmica e outros tópicos similares. Mas o
ponto principal da sessão foi a sua intensa luta para integrar a sua
rotina diária e a vida relacionada com o sequestro, especialmente os
problemas de comunicação aberta com o marido. A sua primeira
imagem foi a de círculos pretos rodeados de luz dourada, que brilha-
vam como «manchas solares» e que «vinham direitos à terra».
Algumas pessoas eram capazes de se aperceber disto, disse ela, mas
para outras isto não existia. Descreveu o objecto como a «energia»
que «não pode ser apreendida através dos cinco sentidos, mas que
contudo é real. Tal «objecto pode ser apreendido por aqueles que
conseguem harmoniza-se com aquela dimensão da comunicação e
será invisível para os restantes». Para apreender para além da dimen-
são física, é preciso desejar essa comunicação, disse ela.
Alterando para a forma «nós», Eva referiu a dificuldade na trans-
missão de informação sobre aqueles assuntos que estão «para além
do tempo e do espaço lineares.» Parecia que estava quase a discutir
comigo, como se eu fosse protagonista de uma filosofia materialista.
«Se tu apreendes, isso existe; se não apreendes, não existe. O mesmo
se passa aqui [ou seja, com os círculos negros e dourados]. Estás a
tentar apreendê-los dentro de certas limitações, mas eles situam-se
para além disso...E como existir e, ao mesmo tempo, não existir, e tu
302 SEQUESTRO
Encorajei-a a comentar o que sentia fisicamente. Disse-me que
era difícil quando «se é um corpo, mas não se é um corpo» e que eu a
estava a confundir. Pedi-lhe para me dizer novamente o nome do
marido e ela perguntou-me porque é que isso era relevante e aí refe-
riu «pancadas na cabeça» como «se fosse alguém com um martelo»
e «o meu coração a bater depressa». Mais recusa da dor, confusão e a
recusa de a distraírem de mais considerações abstractas com o objec-
tivo de considerar o seu corpo perseguido, mas Eva admitiu «desa-
fios» para «transcender ao passo seguinte». De seguida, teve
consciência «ela está [sic]a. sentir a dor do lado direito... É a dor de
Eva. Sinto-a agora. Não dói, mas é uma dor.» Mas disse: «Tu é que a
criaste!» Recuámos até ao seu compromisso de «não magoar nin-
guém» e admitiu com a fala bastante enrolada o problema de conci-
liar os compromissos assumidos fora da «encarnação» ou «tempo e
espaço lineares» com os que operam «dentro dessas limitações de
espaço e de tempo.»
Durante a sessão, a ruptura deu-se quando perguntei a Eva quais
eram os «custos» no âmbito da sua missão global, do facto de não
falar com o marido e filhos sobre as suas experiências. «Se fosse em
dólares, você não conseguiria pagar», foi a sua resposta. Depois
acrescentou rapidamente: «Estamos a brincar.» Falou em seguida
sobre a vulnerabilidade do marido, especialmente em seguir uma
carreira ligada aos negócios. E «um grande homem», mas parece ter
aceite a «perspectiva terrena» dominante» e os «sistemas de crença»
desta cultura e está a trabalhar numa empresa, e «aqui está a sua
mulher — ou que pensa que é sua — como acontece com a maioria
dos homens da nossa sociedade — é uma propriedade — eis a sua
mulher a fazer essas grandes viagens, viagens cósmicas... Como é
que isso o afecta?», perguntou. Percebi como a questão era sensível
e perguntei-lhe até que ponto o facto de não lhe ter falado sobre as
experiências a «fragmentava». «Por vezes isso deixa-a [sic] despe-
daçada» admitiu Eva, acrescentando que «ela se sentia mal» no
emprego, mas não o largava devido à «situação financeira».
Encorajei Eva a falar na perspectiva do «Eu» e questionei-me
sobre os sacrifícios que estava a fazer devido ao seu compromisso
pessoal. Opôs-se à palavra «sacrifício», mas concordou que «algo
não estava bem». Falou seguidamente sobre os seus planos para lar-
gar o emprego, sabendo que isso deixa David «assustado», e reafir-
mou a sua determinação de ajudar os outros. Dir-lhe-ia: «Isto sou eu.
304 SEQUESTRO
só mudaria a sua visão das coisas «com uma espécie de desafio
maior». Quando a sessão estava a chegar ao fim, falámos sobre as
restrições particulares que o ambiente colectivo coloca na evolução
da consciência das pessoas.
A seguir a esta sessão, Eva sentiu de novo uma intensa dor de
cabeça e esteve cheia de sede durante um dia ou dois, o que associou
com a libertação de energia e com a sua abertura à «informação cós-
mica». Numa carta escrita duas semanas depois da regressão, falava-
-me sobre a sua atracção pêlos «desafios do desconhecido
(consciente)». Em notas escritas no diário, registadas três dias
depois da sessão, falava de planos para ir a Israel durante o Verão e
de experiências de vidas passadas, incluindo um sequestro, encar-
nando um rapaz de cinco ou seis anos do século dezassete (descrita
no relatório da nossa terceira sessão de hipnose, a 15 de Março).
Descrevia também como sentiu o colapso de espaço/tempo relacio-
nado com os encontros («o passado e o futuro estão a ocorrer agora e
para sempre»), o desejo de paz e entendimento globais e apontou
outras considerações filosóficas e espirituais sobre a evolução da
consciência e «verdades cósmicas» inspiradas na audição da grava-
ção da sessão de 22 de Fevereiro.
Escrevendo na voz nós/ela de dimensão cósmica, Eva descreveu
a necessidade que os seres tinham de «adaptar a nossa comunicação
de níveis superiores de vibrações aos níveis de vibração terrena (ver-
bal)». Para deste modo «abrandar» e «vibrar em níveis mais subtis...
é preciso prática... Estamos agora a usar a tempo inteiro o corpo de
Eva, com o seu consentimento. Em termos terrestres, Eva não par-
tiu, mas misturou-se connosco para que os seus poderes terrenos
sejam realçados, por assim dizer.» Eva chamou a atenção para as
limitações em usar palavras para descrever experiências tão profun-
das, especialmente a relação do plano de existência terrestre com
outras realidades.
Registou no diário que, depois da sessão, ia falar com David
sobre as suas experiências. «Ele não mostrou muito interesse. Não
deu mostras de qualquer forma de apoio. Não fiquei surpreendida.
Não esperava outra coisa. Não sou rancorosa. Aceito totalmente. A
minha hipótese: sente rejeição e mágoa.» Embora David insinuasse
que fazia parte do jogo, Eva disse-me mais tarde que tinha dúvidas
se a sua pretensão de envolvimento era genuína. David disse que
eles deixaram uma marca no seu pé, que eram anões e que os tinha
306 SEQUESTRO
guia falar. Parecia que estava gelado.» Ainda encarnando o rapaz,
viu «um daqueles anões a sair». Depois estava dentro da nave, que
levantou voo quando olhou pela janela para o pai, que «desconge-
lara» e olhava para cima com lágrimas nos olhos. «Parecia que tinha
percebido. Parecia que sabia desde sempre» que «eu lhe fora dada
fisicamente através da concepção», mas que, noutro sentido, eu não
era sua filha. «Limitou-se a aceitar o que estava a acontecer.»
«Recordo de novo aqueles anões», continuou Eva, «os mesmos
que eu me lembro quando tinha quatro ou cinco anos. Os olhos eram,
novamente, muito escuros, mas vi neles muita emoção, muita com-
preensão, muito amor. Como se tivéssemos voltado por causa de ti,
qualquer coisa do género, e depois lembro-me da cor de alfazema e é
tudo.» De qualquer maneira, sabe que isto se passou no ano de 1652.
Mais tarde, esta experiência serviu para a convencer que não «era
daqui», não era «terrena». Os «ET», disse «têm capacidade para
entrar na nossa dimensão espacial e temporal e para sair sempre que
queiram». Relacionou esta capacidade com a experiência de 1652.
«É como se eu fosse trazida para a terra — não sei porque é que fui
trazida durante cinco ou seis anos, ou outra idade qualquer que tinha
na altura, e depois fui levada para outra dimensão sem espaço e sem
tempo como os conhecemos.» Nesta vida, Eva é «uma forma de
energia a que foi dado um corpo para cumprir uma determinada mis-
são» e que está relacionada com uma espécie de experiência total
« de vida terrena.»
Conversámos depois sobre as dificuldades de percepção e
comunicação entre os seres extraterrestres ou espíritos de cultura e
as formas terrenas, e sobre as escolhas que as nossas almas fazem
«entre as probabilidades infinitas que temos à disposição», como é o
caso da encarnação na Terra, num determinado tempo e lugar.
Recapitulou depois as conversas que teve com David sobre as suas
experiências. Falara com ele e com outras pessoas «sobre coisas que
nunca antes imaginara». David parecia «que estava em estado de
choque no início», seguido de um comportamento de «recusa total».
Actualmente refere-se em tom um tanto ou quanto sarcástico «aos
teus amigos do outro lado» que «são isto, aquilo ou aqueloutro». Eva
descreveu outras experiências relacionadas com o sequestro durante
as quais foram utilizarados «outros procedimentos, cirurgias,
chame-se o que se quiser», para remover os blocos de energia.
A MISSÃO DE EVA 307
Reparou que as manchas azuis e vermelhas na mão, peito e outras
partes do corpo não tinham desaparecido.
Através da hipnose, Eva esperava saber mais coisas sobre a
encarnação de 1652 e preveni-a para que não tentasse rotular cada
uma das experiências. «No fundo», sugeriu ela, talvez «nós já saiba-
mos para onde vamos antes de chegar aqui.» Acrescentou que
mesmo os ET que «vemos fisicamente não passam de uma forma
que adquirem para entrar nesta dimensão... Qualquer que seja a sua
proveniência», disse, «não é esse o aspecto físico que têm». As suas
almas podem manifestar-se de diferentes formas. «Por isso é que nós
temos imagens diferentes» dos seres. Algumas pessoas dizem que
são vermelhos, cinzentos, castanhos, com rugas, sem rugas, o que
quer que seja — é uma combinação da sua aparência bioquímica
energética e dos nossos meios de percepção... Mas há uma base
comum», acrescentou.
Durante a regressão, a primeira imagem que teve foi a da encar-
nação numa menina de quatro ou cinco anos, que nadava com golfi-
nhos seus amigos, dentro de uma gruta. Uma força puxou-a para fora
de água, mas «os golfinhos ficaram à espera». A menina foi puxada
da «memória da origem» do seu ser para um domínio «de cresci-
mento e responsabilidade». Esta perda de memória é necessária,
disse ela, «porque se, no mundo físico, a memória da origem esti-
vesse mesmo ali, não haveria a iniciativa de experimentar, e assim
tudo retrocederia.» Fi-la regressar à experiência da menina na gruta.
«Ela está sempre a voltar, a encarnar para cumprir uma missão»,
disse Eva. Com um ar um tanto ou quanto abstracto continuou: «a
constituição energética da menina alterar-se-á com a experiência.»
A sua energia tornar-se-á mais subtil e elevada «até que, de uma
certa perspectiva, se possa dizer que não há vibração de energia. O
processo é todo o mesmo e recomeça novamente.»
Os sequestrados, segundo Eva, «são almas que escolhem a pro-
babilidade da forma física para os seus objectivos individuais.» Mas
através das suas experiências «readquirem a memória da origem... O
processo de sequestro é um dos que permite readquirir a memória.»
A «própria experiência de sequestro» segundo afirmou «é um meca-
nismo que se destina a remover» as «estruturas que impedem o con-
tacto com a origem» e que se destina também a «purificar o veículo
físico de forma a servir para recuperar uma memória melhor e dá-la
conhecer aos outros.» A «tortura física e emocional» dos sequestros
308 SEQUESTRO
faz parte de um processo de equilíbrio. Afirmou que «nunca senti
realmente medo» e «se houve medo, isso teve mais a ver com o facto
de não ser capaz de entender o que se estava a passar, e não o medo
em relação a algo horrível, escuro, mau e desconhecido. De certo
modo, o processo foi-me sempre familiar.»
Perguntei o que é que ela queria dizer com familiar. O sequestro
«sente-se como familiar. É como estar em casa. Tudo é conhecido»,
disse ela. Perguntei-lhe até onde chegava a sua memória dos seques-
tros. Mencionou vidas passadas no tempo da I e da II Guerras
Mundiais e «muito antes disso, em Marrocos». O seu «esforço» em
cada momento destinava-se a «ajudar a humanidade a vencer a
cegueira». Pedi-lhe que falasse sobre Marrocos. Encarnara a figura
de um comerciante rico, Omrishi de seu nome, do início do século
XIII, que tentava «fazer trabalho de sapa» entre os oficiais corruptos
pertencentes à família real reinante que dominava o governo da
cidade. Omrishi era muito conhecido devido à sua riqueza e às suas
«ideias e ideais» reformistas. Organizou grupos de milícias para
conseguir uma maior igualdade económica para os habitantes da
cidade e tentou infiltrar-se no governo local com os seus apoiantes.
Um dos pontos do seu plano era criar o caos na cidade de modo a
facilitar o derrube da família reinante, obrigando-os à fuga, mas foi
traído por uma mulher que escutou uma das conversas sobre o golpe
e transmitiu-a aos oficiais.
Homens a cavalo, vestidos de preto com lenços brancos — «os
guarda-costas da família reinante» — vieram à tenda de Omrishi para
o prender. As mulheres à volta dele choraram e as crianças esconde-
ram-se, pois sabiam o que ia acontecer. Foi levado para um edifício
de pedra branca que cheirava mal porque as pessoas vomitavam e uri-
navam ali. Queriam decapitar Omrishi e disseram às pessoas para se
juntarem no centro da cidade para verem a execução, pois queriam
«infundir ainda mais medo». Depois da prisão, Omrishi foi retirado
da cela para ver onde se realizaria a decapitação. Na manhã seguinte,
às dez horas, «levaram-me, puseram a minha cabeça em cima
daquela coisa e trás.» Foi uma sensação de «alívio, liberdade», de
«uma alegria crescente, dilatada... Não se consegue descrever», disse
ela. «Só sentia uma luz branca, dourada». Viu uma pomba a libertar-
-se de uma gaiola «que era eu, simbolicamente... É a minha alma.»
Pedi a Eva para falar mais sobre a «viagem» da sua alma e os
seus pensamentos regressaram à menina a nadar com os golfinhos.
310 SEQUESTRO
«muito bem» com os resultados, como se fosse um «actor e especta-
dor ao mesmo tempo». Encarava a sua vida como Omrishi como
fazendo parte da evolução do seu papel pioneiro de contribuir para a
«mudança pacífica» com vista «à harmonia entre as pessoas.»
Duvida que Omrishi, na sua perspectiva de homem do século XIII,
tivesse consciência «de todos os cambiantes da situação». Apenas
procurava fazer «alguma coisa pelo seu povo naquele lugar.» Iniciou
um «contacto», mas o objectivo maior de provocar a paz e a igual-
dade para as pessoas ficou para o futuro.
DISCUSSÃO
Eva é uma pioneira com uma missão global de paz e conciliação. As
suas permanentes experiências de sequestro são um veículo pode-
roso de evolução da sua consciência e servem para a manter em con-
tacto com o seu objectivo maior. Sentiu os contactos de sequestro
como fontes importantes de «informação» que emanavam de dimen-
sões que estão para além ou fora da realidade física. Considera-se
«uma forma de energia a quem foi dado um corpo para levar a cabo
uma determinada missão.» Tal como muitos sequestrados, Eva tinha
encontros perturbadores, mesmo aterradores, com seres extraterres-
tres. Mas a determinação de se entregar ao processo, de renunciar à
necessidade de controlo e de resistir à sua intensidade e significado,
tornou-a capaz de ultrapassar o medo e os traumas e de encontrar o
balanço interior e o poder pessoal. Eva tinha o hábito de escrever o
seu diário a seguir às experiências de sequestro que a deixavam tão
cansada que desejava ter sido levada «numa viagem.»
Nas descrições constantes do seu diário sobressai uma imagem
consistente do objectivo evolutivo do relacionamento extraterres-
tres/humanos, pelo menos da forma como isso afecta a nossa cons-
ciência. Descreve repetidamente o acesso, facultado através dos
sequestros, a outra dimensão (ou outras dimensões) de existência,
uma realidade alargada, na qual não cabem os conceitos humanos de
espaço e de tempo. Este domínio é rico em paradoxos — no sentido,
por exemplo, de expansão até ao infinito e de contracção num único
ponto ao mesmo tempo. Embora tenha facilidade de expressão, sen-
tiu que as palavras não transmitiam a beleza e o poder inefáveis deste
domínio espiritual. Os sequestrados, disse, são almas que «escolhe-
312 SEQUESTRO
sido uma tarefa formidável e um importante aspecto do nosso traba-
lho. O compromisso que assumiu consigo mesma no sentido de não
magoar ninguém provocou inevitavelmente uma tensão entre a sua
vida espiritual e o relacionamento com o marido, pessoa imbuída no
espírito conservador do mundo dos negócios. Eva procurara manter
estas vidas totalmente separadas, mas a fragmentação do seu eu atin-
gira os limites do tolerável. Um livro de histórias da sua infância,
intitulado Soul Bird, que falava da divisão dos sentimentos que cada
um tem dentro de si, pareceu ter servido para Eva encontrar a paz
que procurava. Sentia-se por fim capaz de suportar a angústia de ter
de falar ao marido, David, sobre os seus contactos e, embora tivesse
ficado desapontada com a sua resposta inicial, ficara sensibilizada
com o facto de ele ter dado uma sugestão prática sobre a forma de
comunicar com os extraterrestres e ter também dado a entender que
mantivera uma espécie de contacto com eles. Embora bastante reser-
vada quando nos conhecemos, Eva estava gradualmente a encontrar
maneiras de falar com as outras pessoas sobre a verdade e poder das
suas experiências e conhecimento.
A última regressão de Eva iniciou-se com a memória de uma
rapariguinha a nadar com golfinhos numa gruta, e que devia sair dali
para assumir outras responsabilidades mais adultas. «Está escuro,
mas não está escuro... Brincamos juntos e eles são meus amigos»,
disse ela. Esta imagem, a que voltámos mais tarde durante a sessão,
pareceu-lhe representar a viagem da alma através da experiência do
tempo, dos ciclos do renascimento e morte, da encarnação e do re-
gresso ao espírito. A imagem não tem uma dimensão temporal e está
intimamente relacionada com a missão de Eva, uma encarnação do
sonho de paz, harmonia, igualdade e jovialidade, em relação aos
quais tinha comprometido a sua vida.
Eva alertou-nos para o facto de estarmos a considerar os fenó-
menos de sequestro em termos materialistas demasiadamente estrei-
tos, e estarmos a gastar as nossas energias em busca de provas que
atestem veracidade desses fenómenos recorrendo métodos das ciên-
cias físicas. Depois da terceira sessão de regressão, escreveu-me a
dizer que os implantes, por exemplo, não constituem a prova defini-
tiva que os investigadores de sequestros procuram. Para que o nosso
corpo os aceite é necessário que sejam compostos por substâncias
que não sejam rejeitadas pêlos nossos tecidos, ou seja, têm de conter
elementos que sejam similares aos da Terra. E, acrescentaria eu, é
CAPITULO DOZE
A MONTANHA MÁGICA
D ave, um jovial técnico de saúde de trinta e oito anos que traba-
lhava numa comunidade isolada do centro-sul da Pensilvânia,
entrou em contacto telefónico comigo em Junho de 1992, a conse-
lho do seu professor de Karaté e de Tai Kwan Do (Chi) que conhe-
cia o meu trabalho e que achava que as experiências do seu pupilo
podiam ter relação com os fenómenos que eu estava a estudar. Não
me encontrava disponível quando Dave telefonou pela primeira
vez, e a minha assistente pô-lo em contacto com Júlia, uma seques-
trada com quem tinha trabalhado durante dois anos. Júlia falou
várias vezes com Dave e encorajou-o a escrever-me sobre as suas
experiências.
Nessa carta, escrita em Julho e pouco antes de uma intensa expe-
riência de sequestro em que viu um ser a olhar para ele pela janela,
Dave fazia referência a possíveis sequestros que datavam dos seus
três anos de idade, a uma inexplicável cicatriz em forma de meia-lua
que lhe tinha aparecido no corpo, a vários episódios de perda da
noção de tempo e a uma nítida observação de um OVNI aos deza-
nove anos. Para além disso, falou sobre os treinos de Karaté e os
exercícios de controlo das experiências Chi que fazia durante e
depois do período de aulas, sob a orientação do seu professor, Mestre
Joe. No final da carta, acrescentou sem comentários: «Gostaria de
ser hipnotizado».
Falámos ao telefone no dia 23 de Julho e Dave relatou-me outras
memórias conscientes da sua experiência de sequestro ocorrida duas
semanas antes, entre as quais a sensação de ter alguma coisa espe-
316 SEQUESTRO
tada no ânus, bem como o olhar interessado, controlador e familiar
da criatura da janela, que lhe parecera uma mulher, e recordando-se
também de acordar, depois do episódio terminar, fora do seu lugar na
cama, enroscado na mulher.
As experiências de Dave incluem os elementos traumáticos que
são comuns nos sequestros por OVNI. O seu caso tem contudo um
interesse especial devido à íntima ligação entre as experiências de
sequestro e os seus treinos para a abertura e domínio da energia Chi,
que Dave define como sendo «a força que penetra no Universo e da
qual provém a realidade.» Quando ocorreu esta abertura, Dave ficou
estupefacto com o número de sincronias — acontecimentos na sua
vida que pareciam estar significativamente ligados — que o cerca-
vam. Possuindo desde a infância um interesse vivo e prático pelo
que o cercava, os encontros de sequestro de Dave e as experiências
com as energias originais fizeram-no sentir um profundo respeito
pêlos poderes da natureza.
Dave tinha sido levado para um lugar próximo de sua casa, a
Montanha Pemsit, ligado à tradição e magia dos indígenas america-
nos, e onde ocorreram muitas das suas experiências. Para Dave, o
universo tinha-se transformado num lugar cheio de mistério e estra-
nha inteligência. À medida que tomava consciência do poder e da
realidade das suas experiências, incluindo duas reencarnações a que
acedêramos na nossa última regressão, Dave transformava-se num
líder da sua comunidade no que se refere à exploração de experiên-
cia anómalas. Conseguiu atrair outros sequestrados e estava a consi-
derar a hipótese de mudar de profissão para poder fazer hipnose com
eles e liderar grupos de apoio. Interessava-se muito pela natureza e
pela fotografia, e enviou-nos, a mim e a minha mulher, maravilhosas
fotografias de flores selvagens tiradas por ele. Com o objectivo de
explorar as suas experiências, Dave deslocou-se a Boston e tivemos
o nosso primeiro encontro no dia 13 de Agosto de 1992.
Dave cresceu numa pequena comunidade fechada com cerca de
vinte casas, situada numa encosta junto ao Vale Susquehanna, na
Pensilvânia — «é a zona das depressões e dos vales da Pensilvânia.
Há fendas compridas e paralelas e aberturas nas montanhas por onde
o rio passa. Acho que o rio já lá estava e depois é que se ergeu a mon-
tanha e se abriram as fendas.» A cidade situava-se no sopé da monta-
nha. Os amigos de Dave vinham dos arredores e as mães «eram
iguais às outras mães». Podia sair quando quisesse e entrar nas
318 SEQUESTRO
pelo corredor, para cima e para baixo, enquanto as outras crianças da
enfermaria gritavam para «se calar». Só alguns dias mais tarde é que
o pai lhe disse que o olho tinha sido removido e que tinha de pôr
«uma prótese». Mais tarde confidenciou-lhe que ficara tão transtor-
nado depois de lhe contar o sucedido, que «foi para as escadas da
frente do hospital e chorou... Disse-me que eu reagira melhor do que
ele», disse Dave. O pai sofreu uma apoplexia há dez anos e antes
disso tinha extrema dificuldade em exteriorizar emoções. «A partir
daí é-lhe extremamente difícl controlar as emoções e por vezes
chora.» O próprio Dave só muitos anos mais tarde exteriorizou a
tristeza por ter perdido o olho, chorando na companhia da mulher.
Dave lembra-se que na altura decidiu não se deixar afectar pela
perda do olho. «Ainda consigo ver e não me dói», disse para si
mesmo. Frequentava então a segunda classe e tinha apenas mais seis
colegas na turma, numa pequena escola que tinha ao todo setenta e
cinco alunos; «toda a gente sabia o que tinha acontecido e toda a
gente me conhecia bem. Por isso, ninguém fez troça de mim». Mas
mais tarde, no liceu, as turmas eram maiores e chamavam-lhe «estrá-
bico», até aqueles que sabiam que ele só tinha um olho.
Com dezassete anos, Dave frequentou a Universidade de Penn
State durante um semestre, e depois completou os estudos numa uni-
versidade local. Começou a trabalhar antes de terminar o curso e a
receber simultaneamente formação como técnico de saúde, já que,
na altura, não existia uma escola disponível. Com vinte e cinco anos,
aproximadamente, achou que estava preparado para casar e ter
filhos, «mas só com trinta e dois anos é que encontrei a pessoa certa
para casar.» A mulher de Dave, Carolina, é a mais velha de quatro
irmãos. Queriam ter filhos logo depois de casar, mas a primeira casa
em que moraram não tinha «espaço suficiente».
Pediram um empréstimo para construir uma casa maior que aca-
bou por custar mais do que inicialmente previram. Quando estava a
construir a casa, Dave teve uma hérnia discai que o impediu de andar
e que o manteve afastado do trabalho durante alguns meses. Quando
mudaram de casa, em Junho de 1992, «tinham-se passado quatro
anos, e já não sabíamos se queríamos filhos ou não.» Dave nega que
as suas experiências com OVNI/sequestros tenham interferido com
a sua vida sexual ou estejam relacionadas com a sua decisão de não
ter filhos. O seu relacionamento com a esposa «é muito bom»,
afirma Dave.
320 SEQUESTRO
díssimos». Os primos disseram que tinham ido procurá-lo e quando
ele voltou perguntaram-lhe onde tinha estado. Mas Dave não se lem-
brava de nada.
Dave recorda que se interessava por «discos voadores» quando
era criança e pensa que isso pode estar relacionado com a sua experi-
ência dos três anos. Lembra-se também que «o meu pai tinha dito
alguma coisa sobre pessoas que viram discos voadores e, a partir daí,
senti-me fascinado por aquilo.» Na escola preparatória, Dave era um
dos melhores alunos. Tinha catorze anos e, para entrar para o liceu,
elaborou um trabalho final sobre OVNI, mas não se lembra do que
escreveu. Na altura, falou à sua antiga catequista sobre o trabalho e
ela respondeu que tinha visto OVNI a aterrarem e descolarem num
lugar na montanha perto da casa onde ela vivia.
Considera estranhas outras coisas ocorridas durante a sua ado-
lescência. Quando tinha quinze anos, ele e o vizinho do lado encon-
traram uma gruta cuja entrada tinha trezentos metros de largura,
situada junto «a um extremo da montanha, antes da vertente que
desce até ao rio». O amigo quis entrar, mas Dave teve medo e disse:
«Não, não vou entrar aí dentro.»
«Não é uma área assim tão grande», disse Dave, mas nunca mais
foi capaz de encontrar a gruta outra vez. Cerca de um ano depois,
Dave ia de carro com amigos sob chuva intensa, durante a noite, a
atravessar New Brunswick, no Canadá, a uma velocidade de cento e
vinte quilómetros por hora quando um autocarro Greyhound que ia a
cerca de cento e cinquenta quilómetros à hora «nos ultrapassou
velozmente». Dave ia a dormir no banco de trás e acordou ao ouvir
um dos amigos exclamar «'Oh, merda!' ou qualquer coisa parecida.
Aperceberam-se apenas que «andámos cento e cinquenta quilóme-
tros sem dar conta... a última vez que reparámos estávamos cento e
cinquenta quilómetros atrás na estrada.» Nenhum dos rapazes deu
conta do lapso de tempo, mas ouviram a notícia de um terrível aci-
dente que envolveu um autocarro e no qual morreram sessenta e
cinco pessoas.
Pouco depois de começar a frequentar Penn State, três semanas
depois de acabar o liceu, Dave e o seu colega de quarto passaram
mais de um dia sem se aperceberem que o tempo tinha passado.
Deitaram-se num sábado e acordaram convencidos que era
Domingo de manhã. Mas os colegas que viviam no mesmo piso do
dormitório apareceram e disseram: «Oh, com que então faltaram à
322 SEQUESTRO
coisa fizesse ressalto para a frente e para trás, entre mim e a nave..
Senti uma espécie de vazio ali, uma confusão naquele instante...
Interrogo-me se aquela luz azul produziu em nós algum efeito»,
disse ele. «Era uma luz azul e branca. Muito intensa.» Umas sema-
nas mais tarde, Dave lembra-se de ter lido referências à observação
de OVNI na sua zona, ocorridas na mesma altura em que viu a nave.
Jerry, que habitualmente é uma pessoa calma, só conseguia dizer
vezes sem conta «Bem, uau.» Embora Jerry, que se apercebeu do
encontro com o OVNI, não aceite as experiências de sequestro,
Dave acredita que ele é um sequestrado. Ralph também ficou muito
impressionado com a visão. Dave lembra-se de ter ficado profunda-
mente admirado na altura e ter pensado: «Não pensei que o que quer
que estivesse dentro daquilo pudesse ser humano». Crê também que
viu um rosto na nave «a olhar para baixo na minha direcção» e
quando mais tarde viu uma fotografia de um extraterrestre na capa
da Communion ficou admirado porque «foi isto que eu imagimei que
estava a olhar para mim, quando tinha dezanove anos.» Particu-
larmente a cabeça grande, os olhos oblíquos e pretos coincidiam
com a experiência de Dave.
Na primeira carta, Dave referia que «considerava esta nave
como a mais impressionante peça de tecnologia» que tinha visto.
Começou a ler tudo o que encontrou sobre o desconhecido «à espera
de encontrar a chave» para o que estava dentro da nave. Leu, em par-
ticular, os livros de Castaneda e reflectiu sobre «as capacidades pes-
soais para adquirir o poder mágico». Também se interessou pelo
Budismo Tibetano e descobriu que «os Budistas Tibetanos sabiam
objectivamente tudo sobre OVNI.»
Aos vinte e cinco anos, Dave construiu uma pequena cabana
numa zona isolada. Estava ainda inacabada quando se mudou para lá.
Utilizou o quarto de dormir pela primeira vez duas semanas depois de
se ter mudado. Deitou-se depois de ter posto um saco castanho de
papel cheio de latas vazias de cerveja em frente à porta de entrada.
Ouviu um barulho parecido com o de um animal a vir em direcção à
casa e depois ouviu coisas a cair; depreendeu que o animal chocara
com o saco com as latas de cerveja. Depois ouviu outros ruídos pare-
cidos com o barulho de latas a serem arrastadas com a corrida do
animal. Preocupado com a confusão que dali resultara, foi à janela, fo-
cou a lanterna na direcção do saco castanho e ficou surprendido ao ver
que o saco estava de pé e não havia desordem. Ambos considerámos
324 SEQUESTRO
tar um camião de três toneladas a andar sobre o seu estômago. Dave
começou a trocar impressões com Mestre Joe sobre o Chi, no
Outono e Inverno de 1990-91, falou-lhe das experiências pré-cogni-
tivas que andava a ter e iniciou lições de karaté nesse Inverno.
Dave e Mestre Joe tentavam abrir canais Chi dentro de Dave, e
isso provocava-lhe uma sensação de formigueiro. Diz-se que esse
poder emana de uma área que os coreanos chamam a «Dungan»,
uma região por baixo do umbigo e que está relacionada com a von-
tade. De acordo com Mestre Joe, o «poder existe» nos dedos e em
outras partes do corpo e o controlo Chi é exercido pêlos olhos
e mente. «O meu objectivo com o Karaté», disse Dave, «é aprender
a controlar o meu Chi». Na primeira carta que me escreveu, Dave
referia que tinha tido cerca de quatro experiências Chi durante as
aulas de karaté. Durante essas experiências viu-se a executar proezas
invulgares. Uma manhã acordou de um sonho e «senti-me pronto
para empurrar o Chi para a frente.» Para seu desgosto, acabou
empurrando a mulher para fora, sem sentir contudo que lhe estava
a tocar. Esta experiência ajudou-o a tomar a decisão de aprender
a controlar as suas energias Chi.
Em Setembro de 1991, Dave sentiu uma fortíssima sincronia que
Mestre Joe crê estar relacionada com a sua energia Chi. Antes de ir
de férias com a sua mulher a um parque nacional na Carolina do
Norte, sonhou com uma rapariga que lhe fazia lembrar uma outra
com quem estivera para casar. A relação tinha terminado quando ela
se mudou para Massachusetts.
Já no parque, Dave conheceu uma funcionária, Charlotte
Hampton, em relação à qual se sentiu estranhamente ligado.
Tabalhava na livraria do Parque Nacional e primeiro foi fria para ele,
mas depois namorou-o. Sentiu que estava a estabelecer com ela uma
estranha e intensa ligação energética através do contacto ocular, que
lhe causou uma perda de consciência temporária. Comparou isto à
forma como um feiticeiro ou um xamã são capazes de «atrair» uma
pessoa recorrendo à vontade, e a seguir conseguem que haja um con-
tacto. Esta rapariga era a mesma do sonho de há tempos atrás e tam-
bém ela passara por várias experiências psíquicas ligadas com as
experiências de sequestro de Dave.
A primeira sessão de hipnose foi realizada no dia 14 de Agosto
de 1992, na manhã que se seguiu ao nosso primeiro encontro. Júlia
também estava presente. Decidimos explorar a experiência de
326 SEQUESTRO
que a seguir estava deitado do meu lado da cama, todo enroscado em
posição fetal. Estava enroscado na minha mulher, muito, muito aper-
tado contra ela e todo enroscado como uma bola.» Dave percebeu
depois que «não fora um sonho». Carolina virou-se e pôs um braço
em cima dele. Teve a sensação «de que um ser podia estar mesmo
atrás de mim e tive medo de me virar e olhar. Cerca de um minuto
depois o medo passou e levantei-me de repente para ver as horas no
despertador que estava atrás da minha mulher, em cima da mesinha
de cabeceira e eram 4 horas da manhã.» Naquele momento, sentiu
uma confusão nos seus pensamentos. «Achei que tinha sido seques-
trado», mas também teve a sensação que a mulher grande que estava
na sala de jantar era «provavelmente apenas a minha mulher na cama
comigo.»
Começámos a regressão na casa dos pais de Dave, com a sua
frustração ao escrever a carta e como «a emoção forte» que sentira
«ao reviver, através da escrita da carta, tudo o que me aconteceu
durante os últimos anos.» Sentia-se «contra aquilo tudo» e quando
se deitou na cama e ouviu um ruído na casa, pensou: «Oh, eles vêm
esta noite.» Depois ficou ansioso quando contou que se virou para o
lado direito, para a mulher, e começou a adormecer, e a seguir estava
numa sala do tamanho da sua casa de jantar com uma mesa com-
prida, diferente da sua. Uma luz vinda de um sítio qualquer ilumi-
nava a sala. Descreveu novamente a mulher grande (agora com um
vestido escuro) e a grande janela panorâmica («só vidro laminado,
no lugar em que abriam as janelas da nossa sala de jantar») com a
mata lá fora. Uma vez mais sentiu a «presença deles», a «sensação
que eles tinham chegado... É como uma sensação muito envolvente,
muito forte. Não há nada que se possa fazer. Quando eles estão ali,
controlam tudo e não se consegue lutar contra isso. Percebi que me
estava a habituar àquilo. Por alguma razão, sinto que estou prepa-
rado de novo para isso.»
A mulher puxa-o mais uma vez, mas Dave ergue-se e vê parte do
rosto da «visitante» a olhar para ele pela janela. A pele tem um
aspecto macio, parecido com o cabedal e é cinzenta-clara. «O meu
olhar de espanto cruzou-se com os seus olhos e eu sei que é ela e sei
que está a olhar para mim.» O olhar de espanto está «mesmo ali pre-
sente. Os olhos pareciam ser grandes, pretos, um tanto líquidos.»
Neste ponto da sessão, Dave travava uma luta interior, tentando
resistir «àquilo que querem que eu faça, ao que eles querem que eu
328 SEQUESTRO
sigo ver. Não sei onde estamos. Acho que nos dirigimos para uma
nave que está numa clareira que eu fiz há cinco anos.» Dave expli-
cou que, antes mesmo de construir a casa, fez uma grande clareira a
cerca de quarenta e cinco metros de distância, talvez como que,
inconscientemente, estivesse a convidar um OVNI a aterrar ali.
Dave descreveu a nave como sendo «grande e redonda. Tem um
diâmetro com cerca de dezoito metros. Acho que em cima tem uma
cúpula.» Deixando de opor resistência ao controlo, Dave afirmou ter
sido metido na nave pela parte de baixo. Sentiu o medo aumentar
durante a sessão quando referia que fora forçado a deitar-se sobre
uma mesa de barriga para cima, numa sala redonda e cinzenta, onde
havia um cheiro «parecido com o da terra». Juntaram-se vários seres
à sua volta «para me fazerem alguma coisa». Naquele momento Dave
estava paralizado, capaz de movimentar somente os olhos, e sentia
uma espécie de «firme encorajamento» comunicado telepaticamente
pêlos seres, tendo em conta a missão que ele tinha de cumprir.
O ser feminino estava presente, «a ajudar-me», «mas acho que
são os seres masculinos que estão a dirigir o espectáculo». A
mulher comunicou telepaticamente que «ia tudo correr bem», atenu-
ando a sua ansiedade. «Acho que me espetaram qualquer coisa no
rabo e penso que era isso que me atormentava», disse Dave. «Senti
que me levantavam as pernas e as abriam». Neste ponto da sessão
senti que Dave estava envergonhado e embaraçado, como homem,
por estar a ser submetido a um procedimento tão humilhante e falei-
-lhe demoradamente sobre as forças do universo em relação às quais
não temos qualquer controlo, sobre a potencial delegação de poderes
ao reconhecer a falta de energia e sobre a inaplicabilidade das no-
ções convencionais de masculinidade neste contexto. Em seguida,
falou sobre um instrumento flexível, talvez com cerca de um metro
de comprimento, com «uma pequena gaiola de arame» na ponta,
dentro do qual estava um pequeno objecto esférico. Cerca de
«metade» deste objecto foi inserido no seu ânus, enquanto a mulher
continuava a animá-lo.
Dave referiu as sensações de violação e resignação, à medida
que o procedimento continuava, bem como as sensações de «formi-
gueiro». «Aquilo entrava para dentro de mim. Entrava em outras
partes do corpo, não era somente no ânus», disse Dave. Encorajei-o
a exteriorizar a angústia e a raiva em relação ao que lhe estava a
acontecer, o que conseguiu apenas em parte. Parte da sua raiva pare-
A MONTANHA MÁGICA 329
cia estar relacionada com experiências similares que recuavam aos
seus doze anos e talvez até aos três anos. O instrumento foi retirado
cerca de dois minutos depois. Dave acha que este procedimento foi
uma espécie de «teste informacional» para «controlar o que fazemos
fisicamente, como nos mantemos, em que condições está o nosso
corpo, se se está a deteriorar, ou se estamos bem de saúde».
Depois Dave sentiu que um ser alto lhe espetava um objecto
pontiagudo no lado esquerdo da cabeça, junto à parte central da têm-
pora e que, surpreendentemente, só o magoou «um pouco». A
mulher, que estava «à minha direita» continuava a dizer «Estou a
fazer tudo bem. Está tudo bem. Olha para mim e reage ao que eu
reajo.» Sentia «que confiava totalmente neste ser.» Depois coloca-
ram-lhe no pénis um dispositivo parecido com um êmbolo que
estava ligado a um tubo; embora lhe fosse difícil falar sobre isso,
Dave considerou que, apesar de tudo não era tão humilhante «como
a coisa que foi espetada no meu ânus... Obrigaram-me a ejacular»,
disse ele, o que «me deu prazer, como acontece a qualquer homem.
Só que as circunstâncias dispersavam-me, distraíam-me de qualquer
prazer que podia ter com aquilo.» Finalmente, Dave crê que «me
puseram qualquer coisa no estômago», um «dispositivo sensorial
circular» com cerca de vinte centímetros de diâmetro, para «verifi-
car alguma coisa lá dentro. Sentia alguma vibração. Não era desa-
gradável», disse ele.
O «exame físico» chega ao fim, mas «depois ela fala um pouco
comigo ou comunica comigo», por exemplo, «que eu me estava a
portar bem». Esta «troca» ocorreu quando Dave estava sentado na
ponta da mesa com os braços ao lado e «as pernas a balançar».
Houve também comunicação sobre uma espécie de missão que Dave
tinha de realizar, pois «não estamos todos eternamente na Terra.
Estamos aqui durante um tempo limitado, e temos de o aproveitar ao
máximo, e isso explica porque é que, a partir daí, a morte passou a ter
um grande significado para mim. Não vou ficar aqui para sempre».
O ser feminino era de opinião que Mestre Joe era o guia de Dave, e
«eu sei que tenho de continuar a fazer o que Mestre Joe quer que eu
faça.»
Depois de terminarem os procedimentos e a comunicação acima
descritos, «os seres ampararam-me para descer da mesa e da nave».
Os seres «levitaram-me ou coisa parecida» e acompanharam-no
durante o trajecto até casa e através da porta fechada e trancada; aí
330 SEQUESTRO
viu «um brilho lá fora» que vinha da nave na clareira. Os seres leva-
ram-no a flutuar pelas escadas acima, passaram através da porta do
quarto, e «colocaram-me» na cama, ao lado da esposa, que ainda
estava a dormir. Logo que os seres se foram embora passando atra-
vés do tecto inclinado ao lado do quarto, Dave moveu-se devagar
para junto da mulher e «enroscou-se». «Eu só queria ser reconfor-
tado», devido ao «que me tinha acabado de acontecer», disse ele.
«Queria estar bem junto dela quando acordasse.»
Depois da regressão, recapitulámos o que tinha acontecido. «Foi
um inferno», admitiu ele. Quando lhe chamei a atenção por estar a
contornar as situações difíceis sem se deter nelas, respondeu-me
astutamente: «Pensa que eu suportaria passar por mais alguma
coisa?» Sentia «que descarreguei um pouco, emocioalmente, sinto-
-me esgotado», mas surpreendido por se ter lembrado de tanta coisa.
«Não parecia estar mesmo lá, mas consegui lembrar-me de ter
estado lá. Recordava agora que o OVNI tinha ficado suspenso no ar
a cerca de três metros e meio de altura da clareira, e estava agora
convencido que tinha «construído um sítio para eles descerem.»
Cerca de duas semanas depois deste sequestro, Carolina disse a
Dave que, uma semana após a sua experiência, tinha visto o que
podia ser um rosto de extraterrestre no quarto e que tinha pensado:
«Oh, é por ali que eles entraram, ou é por ali que eles entram.»
Júlia, para dar apoio, disse-lhe que, depois de se submeter à hip-
nose, sentia, por vezes, uma ligeira depressão, mas acrescentou que
«isto vai-se clarificar e continua-se para a frente... Nem tudo são
rosas», disse ela, « e contudo, a mim faz-me bem lembrar-me das
coisas. É libertador. É maravilhoso.» Ficou espantada com o facto de
também ela ter tido períodos de comunicação com os seres sentada
na ponta da mesa, com as pernas pendentes e os pés a balouçar.
Parecia, de algum modo, frívolo, «depois do que eles faziam», um
«pormenor incongruente» que «não encaixava». Júlia também se
lembrou de um instrumento parecido com um tubo que tinha uma
«gaiola» na ponta (ver desenhos da pág.). Depois disto, Dave infor-
mou que fazia tenções de regressar à Pensilvânia, notando que não
gostava de conduzir depois de anoitecer. «A aproximação das luzes
incomoda-me», disse ele; «Não suporto luzes brilhantes.»
Dave chegou são e salvo e falei com ele pelo telefone no dia
seguinte. Disse que se sentia «sem energia» devido ao seu trabalho
em Boston e disse que falara com o seu amigo Jerry e com Carolina
332 SEQUESTRO
Charlotte Hampton, esta disse-lhe que também vira um veado
malhado no meio de uma manada que «corria à volta do sítio onde
ela trabalha». Quando se aproximou deles, o malhado foi o único
que não fugiu.
Dizia também nessa carta que estava a planear encontrar-se com
Charlotte Hampton em Gettysburg e acreditava que esse desejo
podia estar relacionado com uma vida passada e «com sensações que
tive há uns anos atrás, de uma possível participação na Guerra Civil.»
Acrescentou que Júlia dissera «que a primeira vez que me vira pes-
soalmente de pé na sua sala de estar, viu-me de pé fardado com um
uniforme de Condefederado.» Acreditava que, entre as duas e meia e
as três da manhã, era sequestrado e sobre isso escreveu: «'Eu voltei'
com uma enorme sensação de paz. Acho que isso aconteceu porque
fui hipnotizado por si e resolvi a questão interiormente.»
No início de Fevereiro, Dave disse a Júlia que «seis seres apare-
ceram a Carolina, no quarto» por volta da uma da manhã, quando ele
tinha saído para por a minha carta no correio. Acordou com os bra-
ços cruzados com força sobre o peito e viu os seres à volta da cama.
De acordo com os apontamentos de Júlia, quatro deles «foram
embora, passando através da parede atrás do armário de Dave (em
direcção à clareira). Dois outros foram para trás da mesinha de cabe-
ceira.» De acordo com Dave, Carolina estava furiosa com isto e só
lhe contou quase vinte e quatro horas depois. Dave disse também
que ela tencionava começar a frequentar aulas de hipnose para aju-
dar outros sequestrados.
Dave voltou a Boston em Março para se submeter a mais sessões
de hipnose. Queria explorar, em particular, as experiências de se-
questro da infância que pareciam estar relacionadas com a Mon-
tanha Pemsit. Assistiram às duas sessões, que tiveram lugar alie 12
de Março, Júlia e também Kishwar Shirali, uma psicóloga clínica
indiana profundamente interessada em fenómenos transpessoais e
profunda conhecedora da mitologia Hindu.
No início da primeira sessão revimos as experiências acima
documentadas, ocorridas após a sua última visita em Agosto, e falá-
mos sobre as sensações de temor e admiração que experimentamos
quando se manifestam nas nossas vidas modelos e padrões de sin-
cronia idênticos a estes. Dave falou do que estava a aprender sobre a
filosofia Chi e das suas relações com a evolução espiritual humana,
sobre a simetria de elementos, sobre as principais origens da energia
336 SEQUESTRO
eido com um «checkup». Viu cerca de seis seres, entre eles a mulher
que já conhecia, vários mais pequenos e um homem que comandava.
O ser masculino era parecido com a mulher, excepto os olhos que
pareciam mais arredondados.
Seguidamente, Dave parecia livre do medo, da paralisia e do
desamparo que na altura sentira. Crê que tem treze anos, «em plena
puberdade». A pior parte «do exame», disse ele, é quando eles
«introduziram uma coisa qualquer no meu ânus. Já o tinham feito
antes», acrescentou, «quando tinha doze anos». Dave estava deter-
minado em «concentrar-se» na memória da experiência. Enquanto a
mulher estava ao seu lado dando-lhe apoio, um dos homens afastou-
-lhe as pernas e «pôs essa coisa, com uns sessenta centímetros de
comprimento, uma coisa parecida com as que são usadas para remo-
ver os canos de esgoto. Tem uma espécie de extremidade larga de
arame ou algo parecido com uma estrutura de arame na ponta».
Introduziram-na «muito mais fundo do que se pode pensar. Era para
me testar», para «ver como me saía», acrescentou Dave. Sentia des-
conforto e humilhação, mas pouca dor, e «era uma situação idêntica
à de um animal num zoo.» O medo e temor «ofuscavam» a ira que
sentia. «Não se pode fazer nada» porque o poder deles é «total».
Depois de andarem com o tubo à volta durante cerca de dois minu-
tos, retiraram-no e os seres mostraram-se satisfeitos em relação à sua
condição física.
Dave compartilhou até certo ponto aquela satisfação face aos
resultados do check-up, porque se sentia «de algum modo seme-
lhante a eles» e sentia «que os conhecia... Admiro o seu poder»,
disse ele, e «sinto que sou tanto ou mais extraterrestre do que
humano.» Questionei-o sobre a «semelhança» e o «sentimento de
pertença», ao que respondeu que «são mais compatíveis com este
mundo do que os humanos». Recordou a mudança para a escola
preparatória quando troçaram dele por causa do «olho falso», e de
ser considerado «esquisito» por pertencer ao quadro de honra e por
ser inteligente. O ser feminino disse-lhe que «passaria por maus
bocados» por causa do olho, mas que «mais tarde, finalmente, isso
deixaria de me incomodar.» Acrescentou também que ele tinha per-
dido o olho para aprender nesta vida «a viver com esse problema,
porque tinha aprendido a viver com outras coisas mais». Isto envol-
via uma espécie de preparação combativa, incluindo o seu trabalho
com Mestre Joe com o objectivo de controlar o seu Chi. Mestre Joe,
338 SEQUESTRO
A primeira coisa que recordou depois de uma longa pausa foi
que era um índio americano, chamado Pantera-do-Vale, pertencente
à tribo Susquehennock que vivia perto da Montanha Pemsit, e que
estava a estudar para ser curandeiro. Isto aconteceu «antes dos índios
conhecerem o Homem Branco», disse Dave mais tarde. O rapaz
vivia junto ao rio, pescava sáveis e secava carne para o Inverno. As
águias viviam nos rochedos, ao longo do rio. «A águia é mesmo
especial. A montanha é como um lugar especial. Os curandeiros vão
para lá para terem visões, para viajar.» Quando se sentiu preparado,
também ele subiu à montanha para ter visões e foi aí que conheceu
Velia (a extraterrestre familiar) que era «uma amiga e protectora».
Sentia-se triste porque tinha saudades de estar com ela e também
porque alguma coisa ia acabar com a sua vida. Chorou um pouco
quando se lembrou das guerras territoriais com os Iroquois e de
«uma grande batalha à volta da Ilha de Holiowman». Usava pele de
veado para cobrir o corpo e transportava arco e flecha e uma lança de
guerra, e fazia a sua iniciação como guerreiro.
A batalha foi confusa, com muita gritaria e ele foi ferido por uma
seta que o atingiu a parte esquerda do peito, atravessando-lhe o cora-
ção. «Ardia, e depois ficou dormente. Estava simplesmente dor-
mente.» Tossiu sangue que lhe encheu a boca e o sufocou. Depois
perdeu a consciência e morreu. «Só sei que a seguir estava fora do meu
corpo.» Viu o seu corpo em baixo, caído de costas e um dos guerreiros
Iroquois a dobrar-se sobre ele e a cortar-lhe o escalpe. Depois sentiu-
-se «a flutuar no ar» e «dissipar-se, espalhando por todo o lado algo
parecido com um nevoeiro de cristais... Gosto de ir para todo o lado.
Fui disseminado de forma muito fina. Sentia paz. Penso que, de algum
modo, Velia estava ali depois de me ter separado do meu corpo,
quando estava a morrer», disse ele. Perguntei-lhe em que altura é que a
tinha visto. Não a tinha visto de facto, mas «senti a sua presença».
Depois de ter flutuado no ar «soube que ela estava ali», replicou.
«Acho que já a conhecia antes», acrescentou. «Sou de opinião que,
para os índios, é mais fácil morrer. É uma coisa mais natural, simples-
mente tranquilizadora. Muito calma. A morte é apenas parte da vida,
por isso não é difícil de aceitar, não tão difícil como para nós.» Dave
estava um pouco surpreso por ter descoberto esta específica vida pas-
sada. «Nunca, nunca pensei que essa tinha sido uma das minhas vidas
passadas.» Quando, durante a regressão, falou pela primeira vez sobre
o incidente não foi capaz de se lembrar do nome do rapaz.
340 SEQUESTRO
Dave sugeriu que estas mortes durante guerras tenham relação
com o facto de ele não ter ido para o Vietname. «Alguns tipos da
minha idade foram para o Vietname. Desta vez não tive de ir. Fiquei
frustrado nessas vidas passadas» porque não tinha chegado à idade
adulta. «Não fui incorporado», disse-me ele mais tarde, por carta,
em resposta à minha pergunta. Começaram a fazer o sorteio para a
incorporação através das datas de aniversário, para determinar quem
seria seleccionado primeiro e por que ordem. O meu aniversário era
o 353° da lista e eles não chegaram até lá. Além disso, teria conse-
guido a desmobilização devido ao problema do olho.»
Fi-lo recuar até ao seu relacionamento com Velia. «Eles» tam-
bém não vivem eternamente, disse ele, mas Velia estivera sempre ao
seu lado durante estes três períodos de vida. Disse que sente amor
por ela. «Ela está sempre ao meu lado. É uma pessoa firme.» Crê que
se encontrou com ela pela primeira vez ainda rapaz, quando encar-
nou num índio americano. Tinha talvez catorze anos, estava junto a
um rio quando a viu a «flutuar sobre o rio, por um caminho.» Ficou
surpreendido ao vê-la, «gelado de medo» por «não saber quem era
ela.» Perguntei-lhe qual era o seu aspecto. «O de sempre», respon-
deu. «Tinha pele cinzenta, cabeça grande, olhos pretos grandes e
disse que eu não a conhecia realmente... Era como se fosse um espí-
rito... Analisou-me psiquicamente... Não tive outra alternativa.
Deitei-me [mais tarde disse que ela «o tinha feito flutuar»] no chão.
Conversou um pouco comigo. E a seguir foi-se embora.» Depois
disso, «levantei-me do chão» e sentiu-se «feliz por aquilo ter aconte-
cido — era como ser escolhido .»
Falou com um curandeiro sobre o encontro com este ser e «ele
chamou-os guardiões». O curandeiro «também descreveu as carac-
terísticas ocorridas durante a experiência e que têm a ver com os
escolhidos» e explicou que os guardiões «tentam que nos relacione-
mos com o nosso lado espiritual.» Perguntei como é que eles faziam
isso. Respondeu-me: «Simplesmente andando por aí, através da
exposição do nosso eu interior ao seu poder. Perguntei-lhe se se lem-
brava de mais alguma coisa relacionada com o encontro no vale.»
Velia disse que se nós perdêssemos a ligação com a terra isso seria
mau para nós... a ligação com a terra faz parte daquilo que é espiri-
tual em nós, é parte da nossa vertente espiritual... parte do mundo
natural, parte da globalidade.»
Ela disse-me (toda a comunicação foi telepática) que um dia iria
342 SEQUESTRO
radas durante as sessões. «Não me queria separar dos meus irmãos,
porque eram rapazes, sabe. Queria vê-los crescer, queria mesmo vê-
-los crescer.» Isto «começou a ser realmente importante para mim
aos dezanove anos». Teria pensado na altura: «em breve terão a mi-
nha idade, e mudamos completamente entre os catorze e os deza-
nove anos. Queria ver cada um dos meus irmãos a atravessar essa
fase de transição.»
No dia anterior à última regressão, Dave revelou que certa vez
tivera uma visão, vários anos antes, de ter sido um espião da cavala-
ria apanhado durante a Guerra Civil. Disse também que Mary, a sua
mãe que vivia numa pequena quinta da Virgínia, era Charlotte
Hampton, mas «tive medo de dizer isto.» Isto deu origem a uma dis-
cussão sobre o estatuto de realidade das experiências das vidas ante-
riores. Avancei com a hipótese de se encarar a consciência como
«uma estrutura contínua» e a possibilidade de podermos ser identifi-
cados com qualquer objecto do cosmos, dependendo da tarefa
evolucionista em curso. A Dr'1 Shirali falou sobre o posicionamento
Hindu face «à globalidade da coisa divina que também existe dentro
de nós. O Brahma, o todo, a parte reflecte o todo e o todo está reflec-
tido na parte... Não pode existir um tempo linear.» Dave concordou
dizendo que só «alguma parte» dele tinha estado antes com Velia.
Júlia, que estivera a recordar as suas próprias experiências
durante as vidas passadas, emocionara-se bastante durante a sessão.
Começou a chorar à medida que novos pormenores destas experiên-
cias lhe eram revelados e sentiu que ia ao «encontro das minhas pró-
prias respostas.» Observou que mais do que uma pessoa «era
potencialmente capaz de aceder à mesma vida.» Trouxe também os
seus desenhos da sonda anal, que comparou cuidadosamente com o
desenho feito independentemente por Dave; a única diferença era
que o dela mostrava a sonda aberta enquanto o de Dave a mostrava
fechada. «A única razão por que o vi aberto», disse ela, «foi porque o
doutor mo mostrou aberto.»
Dave chamou a esta sessão a «pedra de remate» que lhe permitiu
estruturar uma série de coisas. Interrogava-me sobre a potencial
ligação entre a sua infância e as mortes durante a adolescência, ocor-
ridas no decurso das suas experiências em vidas anteriores. «Tenho
trinte e nove anos, quase quarenta, e não me comporto como tal»,
disse ele. «Agora percebo porquê», notou ele, «não passo de um
rapaz crescido». Os dezanove anos, disse ele no final do encontro,
344 SEQUESTRO
nhos poderes da natureza, a alteração das realidades, o Chi, o karaté,
o domínio dos sonhos, os sequestros com OVNI, as experiências em
vidas passadas e uma multiplicidade de sincronias, tudo isto consti-
tui para Dave um misterioso quebra-cabeças cujas peças, de acordo
com Mestre Joe, está a aprender a encaixar.
DISCUSSÃO
O caso de Dave ilustra particularmente bem que o fenómeno de
sequestro não pode ser considerado isoladamente. As suas experiên-
cias de sequestro estão ligadas a uma grande variedade de outras for-
ças e energias naturais, em relação às quais Dave está ligado desde a
sua infância. Inclui-se aqui a sua profunda reverência pela natureza e
seus mistérios, uma ligação íntima com os índios americanos e com
o xamanismo, um sentimento pessoal em relação ao significado
espiritual de certos animais (especialmente águias e veados) e uma
determinação no sentido de dominar o seu «Chi», entendido como a
«força que penetra no universo do qual a realidade emana». A
medida que Dave se foi abrindo para a realidade destes e de outros
fenómenos naturais e ensinamentos espirituais, sentia que o mundo
se transformava num lugar de admiração e temor e a terra num lugar
cada vez mais sagrado. Esta abertura foi associada com uma série de
«coincidências» aparentemente significativas (sincronias) que, con-
sideradas no seu todo, sugerem um padrão de conexões, uma cons-
ciência de desígnio, no cosmos em que Dave vive.
A Montanha de Pemsit, junto ao lugar onde Dave cresceu, é o
centro da tradição e do saber dos índios americanos, um lugar com
uma energia especial e que é associado por muitos dos seus habitan-
tes aos próprios OVNI. A observação nítida, mesmo espectacular, de
um OVNI junto à montanha, quando Dave tinha dezanove anos, tes-
temunhado separadamente por um seu amigo e por um dos seus
irmãos, e confirmado pêlos órgãos de informação locais, contituiu
um ponto de viragem na vida de Dave. Depois desta experiência,
durante a qual crê ter visto dentro da nave os olhos escuros de um ser
extraterrestre a olhar para ele, Dave decidiu ler tudo o que encon-
trasse sobre o tema do desconhecido para saber o que ele encerrava.
Chegou a descobrir escritos de budistas tibetanos que pareciam con-
firmar o que sabia sobre OVNI.
346 SEQUESTRO
mal», apesar de ter tido memórias conscientes de encontros extrater-
restres antes dessa sessão. Poder-se-ia argumentar que as suas leitu-
ras tiveram influência nas suas experiências, mas aconteceu um
processo inverso: foi à procura de informação nos livros depois de
ter vivido uma experiência que não fora capaz de entender.
O caso de Dave colocou-nos finalmente perante uma questão
que tantos casos discutidos neste livro nos puseram. Como é que
encaramos a própria consciência enquanto instrumento de conheci-
mento? Há uma ténue evidência física que corrobora as suas expe-
riências — a observação de OVNI testemunhada por várias pessoas,
uma inexplicável cicatriz em forma de meia-lua que apareceu depois
de um dos sequestros, e um conjunto de acontecimentos que estão
tão extensa e complexamente ligados, que não podem ser só fruto do
acaso. Todavia, a evidência da existência de um outro mundo que
não é visível, mas que é contudo extremamente influente, está larga-
mente dependente, no seu caso, do relato das suas experiências, da
ligação e intensidade afectiva com que os relata e do juízo do inves-
tigador sobre a sinceridade e genuinidade das suas comunicações.
Estou absolutamente convencido em relação a este último aspecto.
Dave deixa-nos finalmente perante uma de duas opções: ou a rejei-
ção de toda a sua experiência enquanto produto de uma espécie de
aberração mental ou influência colectiva, ou a consideração da pos-
sibilidade da consciência ser um instrumento válido de conheci-
mento e reconhecer as limitações da visão da realidade que os
métodos empíricos da ciência ocidental nos dão.
As experiências de Dave ocorridas noutras vidas merecem um
comentário especial, já que fornecem uma explicação alternativa em
relação a certos aspectos da sua vida e personalidade que, de outro
modo, teriam unicamente como base a sua biografia da vida pre-
sente. Não descobri nada em relação à sua vida familiar ou história
pessoal que pudesse justificar um certo comportamento adolescente
que parecia invulgar num homem de trinta e nove anos de idade.
Não parecia ter, por exemplo, características de dependência que nos
ajudassem a compreender a sua relutância em deixar a casa antes
dos seus irmãos atingirem os dezanove anos. Contudo, as suas duas
mortes ocorridas durante a adolescência das duas vivências anterio-
res, revividas com muita convicção emocional durante a terceira
regressão, fornecem uma explicação possível para a sua ansiedade e
para o seu medo de ser tornar inteiramente adulto. Poder-se-ia argu-
350 SEQUESTRO
Peter fora também assaltado por nítidas e perturbadoras imagens
apocalípticas de destruição da Terra, e explorámos a possibilidade de
as considerar como profecias literais ou como metáforas ou avisos
de futuros possíveis. As experiências de sequestro de Peter represen-
taram para ele uma espécie de «outra» vida em termos de poder
e significado. A sua esposa, Jamy, acompanhou-o inflexivelmente
durante o seu percurso; contudo, sentia que era inevitável que ele
desse prioridade à sua vida relacionada com o sequestro. Esta situa-
ção criou tensões no seu casamento, uma situação que é normal
quando um dos membros do casal está profundamente envolvido em
experiências de sequestro. Peter é também um dos poucos sequestra-
dos da minha amostragem que se submeteu a uma parafernália de
testes psicológicos. A razão que determinou a sua escolha para reali-
zar estes testes será explicitada no contexto desde depoimento.
Peter foi criado numa família católica romana em Allentown,
cidade do ferro na Pensilvânia oriental. O pai tivera uma paralisia,
que lhe afectava o lado esquerdo do corpo, tinha debilidade muscu-
lar e coxeava devido à poliomielite que contraíra aos dois anos, mas
trabalhou durante a maior parte da sua vida como gerente de uma
loja. Tinha formação superior e frequentara medicina durante um
ano, antes de deixar de poder sustentar a família. Tinha oitenta anos
e estava reformado quando Peter me contactou. Escreviam-se regu-
larmente. A mãe de Peter, que nascera e fora criada em Inglaterra,
cuidava da casa e trabalhava numa fábrica de malhas.
Peter contou ao psicólogo Dr. Steven Shapse que era o palhaço
da aula, era desordeiro, e que começou a beber e a fumar marijuana
muito cedo. Tinha duas irmãs. Linda e Corinne, mais velhas que ele
seis e três anos, respectivamente. Peter era muito chegado a Linda,
«sem saber porquê.» Quando acabou o nono ano, Linda entrou para
um convento para ser freira e lá ficou durante todo o liceu. Tinha
visto um OVNI e acredita no que Peter conta sobre as suas experiên-
cias de sequestro, embora não admita as suas. Corinne não tem
memórias deste tipo.
Peter frequentou escolas públicas e paroquiais e acabou o liceu
em Allentown em 1975. Fez o bacharelato em Penn State, na área
de Formação Vocacional Industrial após terminar, em 1981, um
curso de seis anos que lhe conferiu o diploma de cozinheiro profis-
sional e professor de arte culinária. De 1982 a 1984 trabalhou num
hotel novo em Big Island, no Havaí, onde conheceu a sua mulher,
352 SEQUESTRO
qual lhe foi retirada uma amostra de esperma, contra sua vontade.
No decorrer do nosso trabalho, conseguiu lembrar-se também de
visitas ocorridas durante o período em que vivia com Jamy no
Havaí, numa parte desabrigada e isolada da ilha. Peter lembra-se de
ver «alguma coisa do lado de fora da janela» da sua casa. Na altura
«costumava pensar sempre que era uma coruja», que «costumava
chamar por mim e dizer-me que chegou 'a hora'», mas agora crê
«que não era uma coruja», mas sim um ser extraterrestre. «Sempre
me senti muito próximo daquela coruja.»
A experiência mais forte que Peter recordou ao nível do cons-
ciente, antes de nos conhecermos, ocorreu nas Caraíbas, durante o
período de 1987-88. Recorda que, nessa altura, ia muitas vezes para
a cama com medo, e que depois era acordado com um toque ou algo
que «me batia na base da espinha». Durante a nossa primeira con-
versa lembrou-se que sentia terror, raiva, e recordou que ficou des-
controlado quando uma luz inundou o quarto e ele sentiu uma
«presença» à volta da sua cama. «Lembro-me de todo o meu corpo
vibrar e agitar-se, talvez durante um, dois ou três segundos».
Peter viu, pelo menos uma vez, seres pequenos e encapuçados no
quarto e lembra-se de ter gritado furiosamente. Também tem uma
recordação consciente de estar a caminhar pelo pátio, manobrado por
eles, «inundado de luz», e de ter sido «içado» para uma «nave
redonda» com uma «cúpula em cima» e que acendia luzes brancas,
vermelhas e azuladas «em volta da nave» e que era visível «acima das
copas das árvores, do lado de fora da casa.» Na altura, de acordo com
o depoimento de Jamy, Peter disse que «eles tinham um holofote de
raios laser que incidiu mesmo aqui [aponta para o meio da testa] e
aquilo era tão brilhante que os olhos dele, sabe, parecia que doíam.»
Jamy estava «inconsciente» quando Peter passava por estas experiên-
cias. Depois de uma delas, Peter lembra-se de ter ficado com duas
pequenas lesões vermelhas atrás da orelha, semelhantes a borbulhas
cicatrizadas, e que se distinguiam das picadas de insectos pela rapi-
dez com que saravam e pela sua disposição simétrica. Durante a con-
versa, o terror de Peter foi aumentando até ao ponto de se sentir
«bloqueado», incapaz de prosseguir, e decidimos então recorrer à
hipnose para explorar profundamenete as suas experiências.
Dois dias depois do nosso primeiro encontro, Peter disse a Pam
que a única razão por que acredita que o que me disse «é verdadeiro é
porque existiram emoções.» Descobriu que se estava a «distanciar»
354 SEQUESTRO
O ser mais pequeno segurava num instrumento que se parecia
«com as luzes intermitentes usadas pela polícia e que têm uma
cobertura na ponta e está a agitá-lo». Vociferando, Peter gritou:
«Agora vai bater-me. Vai bater-me». O ser maior «conhece a minha
consciência. Sabe aquilo que eu sinto. Mas está indiferente» e «não
quer que eu saiba o que ele vai fazer». Este ser controlava o «parasita
mais pequeno... o estupor que lhe executa o trabalho mais sujo». O
ser mais pequeno levantou a luz, «fixou-a nesse ponto e atingiu-me a
testa com ela.» Depois disso, Peter, deitado no sofá, sentiu frio, agi-
tação e arrepios de terror, já que o controlo das «minhas funções»
fora «desactivado». Deu-se então uma alteração — tanto na altura do
incidente como durante a sessão — e ele sentiu-se mais calmo. «Era
como se o meu corpo tivesse sido separado do pescoço, da cabeça.»
O medo e a sensação de humilhação desapareceram também, apesar
da nudez.
Depois «o tipo pequenino caminhou ao longo do sofá. Movi-
mentou novamente aquela coisa, como se a agitasse por cima e por
baixo de mim. Como é que ele conseguia fazer aquilo por baixo de
mim?» A luz erguera Peter do sofá e ele «sentia-se mesmo leve».
Ergueu-se apoiando-se nos braços, como se uma força o impelisse
em direcção à porta. Olhou de cima para Jamy, que ainda estava a
dormir, e «eu sei que ela está segura», o que também foi confirmado
pêlos seres. Olhou mais de perto para um dos seres («É como se
agora ele fosse meu amigo. Agora não tenho medo») cujo rosto era
feio e distorcido. «Só consigo ver metade do seu rosto. É enrugado.
E parecido com um daqueles bonecos animados do Disney... Tem
sobrancelhas grossas. São mesmo grossas.» A pele da parte superior
do rosto parecia grossa, com «protuberâncias» e «uma coisa pare-
cida com três estrias, três sulcos. Tinha um ar quase cómico». Os
olhos não eram grandes, mas muito escuros, «algo parecido com
uma mistura de azul e preto» e muito metidos para dentro do rosto,
«como os dos animais, como os olhos de um guaxinim». O nariz era
metido para dentro e «depois alargava».
Seguidamente Peter flutuou sobre a área da sala de jantar e da
cozinha e saiu para o pátio ou alpendre, iluminado por uma luz suave
e clara que deixava ver as árvores das traseiras. Quando se afastou da
casa, Peter conseguiu ver que a luz que o inundava provinha de uma
pequena nave espacial. Enquanto ele e os seres «flutuavam», Peter
só conseguiu ver uma luz branca quando olhava de cima, mas «sabia
356 SEQUESTRO
as mesmas experiências que eu estou a ter». Peter sentiu vontade de
ir falar com um dos homens que estava a falar com uma mulher. O
homem deu pela presença de Peter, mas disse «Ainda não. Você tem
de ir. Ainda não.»
«Esta é a parte que eu não gosto», disse Peter. «Neste momento
não me sinto bem». Pediu para ir à casa de banho e quando voltou
disse: «Estou cheio de medo, John.» Virou-se para a direita e foi para
outro quarto onde um dos seres «estava a trabalhar com mostradores
ou coisa do género... Acho que vou chorar», disse Peter. «Estou
cheio de medo. Parece que sou um rapazinho. Tenho a sensação que
vão abusar de mim ou coisa parecida. Isso não é bom. Não tem
graça.» Aconselhei Peter a respirar fundo de novo. «Esta sala trans-
mite uma sensação de ambiente esterilizado, hospitalar, uma sensa-
ção agoirenta.» O chão era negro como azeviche, como obsidiana, e
havia uma parede de vidro com seres humanos suspensos, como no
filme Coma, e com capacetes na cabeça. «Dois seres» fiscalizavam o
que se passava através de um «painel de controlo» ou na parede.
Queriam que subisse uns degraus; Peter obedeceu e, quando estava
junto de uma mesa, colocaram-lhe um «capacete prateado» ou
«helmo» sobre a cabeça.
Embora contra sua vontade, Peter deitou-se sobre a mesa, que
era «a mais confortável em que alguma vez na vida me deitei. É
como se moldasse o meu corpo... É a melhor mesa de observação
que foi feita.» Um dos seres começou a emitir orientações a outro
que por sua vez colocou a mesa com uma inclinação de quarente e
cinco graus. «Detesto este tipo. Detesto quando ele dá estas ordens e
sei que me vão magoar», disse Peter praticamente aos gritos. «Não
quero contar-lhe o que aconteceu agora.» Juntaram-lhe as pernas e
prenderam-nas com uma correia, enquanto um ser feminino lhe
comunicava que «vai tudo correr bem» e ele teve consciência que
«Sou apenas mais um entre centenas de milhares. Não estou sozi-
nho». Depois sentiu «como se a minha força vital estivesse a ser
puxada para fora pelo cimo da minha cabeça» e «Não sei o que vai
acontecer mais... Quero parar», disse Peter, «Só quero descansar.»
Entretanto, Peter era observado por vários seres: «observavam
as minhas reacções.» Depois foi levado para outra mesa, uma mesa
«fria, de metal gelado» que contornava o seu corpo, «uma grande
invenção médica», disse ele num misto de receio e ironia. Prosse-
guiram as medidas e as observações, incluindo «endorfinas» ou
358 SEQUESTRO
soas, aquelas centenas de pessoas que se encontravam naquela sala,
também são participantes voluntários neste processo.» Apesar de se
sentir violado e traumatizado a um «determinado nível psicológico»,
a «um nível diferente compreendo que aquilo não me fez mal».
Comparou este processo com a mulher em trabalho de parto; ela não
está contra o bebé. «Aceita e participa. Não está contra o trabalho de
parto; não está contra o bebé. Há manifestações de cólera. Há mani-
festações de ódio, manifestações dessas coisas todas. Mas isso é
aceite como parte do processo de nascimento.»
Neste momento, Peter não era capaz de dizer claramente qual a
sua missão. Talvez fosse «para aceitar seres de outro planeta» com o
objectivo de adquirir uma maior consciência do problema. «Trata-se
de evoluir para uma consciência superior», sugeriu ele. Talvez que,
para além do sentimento de violação, os sequestrados atinjam «uma
sensação de bem-estar em relação a isso». Num cartão que me ende-
reçou, escrito quatro dias após a sessão, Peter exprimia gratidão pela
«maravilhosa experiência de abertura» e dizia que se sentia «menos
assustado» e que compreendia «o que essas 'experiências' signifi-
cam para mim.»
Foi marcada uma segunda regressão para o dia 19 de Março.
Nesta sessão, Peter vinha acompanhado por Jamy. Quatro dias antes,
Peter tivera outra experiência de sequestro quando estava em
Connecticut, em casa do seu amigo Richard. Tinha acabado de reali-
zar uma sessão de trabalho sobre energia conciliadora e tencionava
regressar a Boston nesse dia. Embora estivesse dentro de casa durante
a experiência, três colegas suas, que também tinham passado ali a
noite, viram nitidamente um OVNI sobre a casa quando estavam a
dar um passeio. Uma delas, que entrevistei e que é provavelmente
também uma sequestrada, registou no próprio dia o que vira:
Quando estávamos a passear, a menos de cinco minutos de distância da
casa, ouvimos um som espantoso atrás de nós, vindo do lado direito da
casa de Richard, do lado de cima do rio — pensava que era do açude
[água proveniente de um açude próximo] — isto não é um avião ou
helicóptero, ou motor que conheça. Mas tinha uma energia e uma
aceleração espantosas junto ao rio e, ao pé de nós, tinha uma
«velocidade
retorcida» e desapareceu. Vi uma forma, bastante parecida com um
crescente, um bocado escura por baixo e talvez um pouco alaranjada,
a passar rapidamente por cima de mim em direcção à direita.»
360 SEQUESTRO
na sua relação com Jamy. Jamy sentia-se excluída de muitas das coi-
sas que se passavam com Peter e exprimiu receio que ele a deixasse.
Peter referiu o quanto a sua vida de sequestrado «abala a própria base
de todo o meu sistemas de crenças» e de como alterara radicalmente
a sua vida. Jamy referiu que se sentia ineficaz: «deste modo, nada do
que eu faço pode ajudar». Falei do quanto é difícil para as esposas
que estão ao lado de alguém que tem a seu cargo uma missão total-
mente absorvente e tentei apoiar Jamy nas suas preocupações. Peter
disse que «há um parte de mim que quer viver uma vida o mais nor-
mal possível e conservar tudo o resto no seu contexto», mas apelou a
Jamy no sentido de ter em conta todo o apoio de que ele precisava
face ao que estava a passar. Não houve uma resolução clara, apenas
um compromisso de ambas as partes se manterem unidas e tentar
serem sensíveis em relação ao que cada um vivia.
A sessão tinha sido marcada antes da experiência de 15 de
Março, mas, uma vez que Peter estava preocupado com isso, decidi-
mos recorrer à hipnose para explorar mais este incidente. No início
da regressão, revimos pormenorizadamente os acontecimentos da
noite e da manhã que antecederam a experiência de sequestro, espe-
cialmente a sua decisão de não participar no passeio. Peter sentira
um desejo incontrolável de estar sozinho, mas «Tenho medo de pen-
sar, John, que estava em comunicação», que «me tenham dito para
ficar». Quando estava sentado junto à lareira, Peter «só cabeceava».
Não tinha a certeza se adormecera ou não, mas lembra-se de estar
acordado, mas «noutro estado de consciência — é como se uma
pequena parte do meu cérebro tenha consciência e é isso que tem
vida», observou ele. «O que acontece é que o nosso corpo fica total-
mente a dormir e depois algo faz um dique dentro da nossa cabeça e
liga-nos com os seres.»
Em seguida, ouviu sons. «Consigo ouvir a vibração», disse ele.
«Sei que está uma nave atrás de mim». Agora está paralizado, cons-
ciente «do que se passa», mas «sem controlo sobre isso». Com os
olhos fechados, Peter sentiu «uma presença... Depois, olhei para
cima. Do outro lado do sofá está um ser e sei que tenho de ir. Sei
que tenho de me apressar.» Levantou-se, a porta estava aberta e «o
ser está à minha frente. É a pessoa azul. É o homem azul. Ele é azul.
É muito escuro.» A nave «parece um pôr-do-sol» e Peter flutuou
com um dos seres «à minha esquerda e o maior à minha direita»,
com os braços ao longo do corpo. Depois de estar lá dentro «a nave
362 SEQUESTRO
Fiz Peter recuar até aos sentimentos sobre o exame do olho.
Expressou ressentimento e depois disse que sentia que estava «a ser
preparado para alguma coisa». «Isto acontece desde criança.» Fiz-
-lhe perguntas sobre o seu papel de líder e ele referiu-se a um pro-
cesso que se desenrola «em todo o mundo», através do qual «o
conhecimento comum» sobre o processo de sequestro se está a
desenvolver e que ele era uma das pessoas que «apoiaria» e que se
sentiria «à vontade perante a possibilidade dos seres extraterrestres
virem para este planeta». Foram sequestrados seres humanos «em
todo o globo», disse Peter, e esses indivíduos, especialmente certos
líderes, ajudarão a reduzir o choque que ocorrerá quando os seres
extraterrestres se manifestarem na Terra. O controlo descrito por
Peter destinava-se «a medir até que ponto a consciência se pode tor-
nar disponível». Acrescentou que a memória das experiências de
sequestro revelar-se-á nesse caso compatível com o choque que ele e
outros possam integrar do conhecimento da existência dos seres.
«Eles estavam excitados» nessa ocasião, disse ele, porque «eu atingi
um certo nível».
Peter não conseguiu lembrar-se dos pormenores do seu regresso
da nave. Foi «colocado» no pátio exterior da sua casa e depois «o
mais alto» conduziu-o através da porta. Peter sentou-se de novo na
cadeira, tapou-se com o cobertor. «Olhei para o ser e ele olhou para
mim. Sentei-me na cadeira e adormeci logo, e só me lembro depois
de acordar e olhar para o relógio». Após a regressão, conversámos
sobre a alteração do timbre vocal ocorrida durante a sessão.
Recordou que isso começara há quatro anos nas Caraíbas, e que era
como uma expansão da sua própria energia que permite que «a ener-
gia extraterrestre» passe através dele. Isto pode ocorrer, disse ele,
quando «consigo entregar a minha mente, o meu ego». Peter (tal
como outros sequestrados que têm esta capacidade — veja-se, por
exemplo, o caso de Eva e Jerry — não confia toda a informação que
recebe desta maneira, mas sente de facto que «provém de uma cons-
ciência superior, de um plano espiritual.» É o que está a acontecer
actualmente, disse ele. «É uma comunicação ao vivo».
Quando a sessão se aproximava do fim, Peter afirmou que
achava possível que o reconhecimento «da existência de seres em
outros mundos, e da existência de outras formas de vida», nos ajude
a olhar de maneira diferente para a forma como lidamos uns com os
outros aqui na terra. Segundo Peter, estava a ocorrer «uma mudança
364 SEQUESTRO
sei bem o que vai acontecer... É como se agora fosse adulto e não
pudesse brincar mais. Tenho de fazer alguma coisa.»
A seguir, Peter recordou-se de estar «dentro da nave. Há uma
parede de vidro onde todas as crianças brincam, e do outro lado eles
estão a observar-nos. É como se fosse uma grande sala de recreio. E
agora tenho de me ir embora.» Foi conduzido até à presença dos
seres. «O ser mais alto, os seus dedos estão a tocar nos meus olhos, a
abri-los e a olhar lá para dentro. Dizem-me para não ter medo.
Comunicam com a minha mente.»
Mais à vontade, sentou-se numa cadeira «parecida com a dos
dentistas», e utilizaram a mesma máquina, «a que recordei da
última vez», para examinar o interior do seu nariz. «Estão a reme-
xer. Mexeram em alguma coisa. Puseram-me uma coisa dentro do
nariz [fazendo o gesto] por aqui acima. Dá a sensação que há uma
coisa ali.» Isto fez que se recordasse de uma ocasião em que se recu-
sou a ir para o hospital quando partiu o nariz em resultado de um
acidente de viação, quando era ainda um caloiro na faculdade.
«Ocorre-me agora que foi por causa disto que não quis ir.» Não era
apenas a associação com o terrível método, mas também por «achar
que sabia que tinha alguma coisa dentro do nariz e que não devia ir
ao hospital.»
Registou-se novamente um salto da memória. Peter é mais
velho, o medo acentua-se, e sente que está «a evitar alguma coisa;
está mesmo à superfície.» Falou sobre mudanças muito importantes
que os seres lhe comunicaram que iam ocorrer «neste planeta». Eles
possuem a capacidade de prever o futuro, disse ele, «e querem aju-
dar-nos a evitar o que está para acontecer... John, isto é muito estra-
nho para mim», disse ele, enquanto era assolado por mais imagens
de acontecimentos futuros. Aconselhei-o a respirar fundo e a deixar
vir à tona toda e qualquer informação, sem julgamentos ou interpre-
tações. A sensação de medo aumentou de novo, e eu insisti para que
ele se concentrasse, deixasse o corpo descontrair completamente,
relaxar e nomear o que quer que estava «a querer exprimir-se»,
incluindo os próprios julgamentos.
Seguiu-se um dos mais perturbantes episódios que presenciei
durante uma regressão. Peter gritou de terror e de raiva quando se
lembrou de um episódio, ocorrido quando tinha cerca de dezanove
anos, em que estava sobre uma mesa, «simplesmente ali deitado», e
366 SEQUESTRO
idêntico ao que descrevera durante a primeira regressão. Fizeram
uma incisão por baixo dos seus testículos, à esquerda, «estão a exa-
minar à volta da cavidade», e retiraram sémen utilizando um instru-
mento parecido com uma agulha ou tubo grandes. Um dos seres
estava ao lado de Peter e disse-lhe que «se eu me descontraísse o seu
procedimento seria outro». Mas utilizassem ou não o método cirúr-
gico, o certo é que «foram várias as vezes que eles recolheram o meu
sémen de outra maneira» (ou seja, recorrendo ao método do re-
cipiente por sucção) quando Peter era jovem.
Depois de terminada a operação «agradecem-me. E agora estou
simplesmente deitado em cima da mesa, a descansar... Eles sabem
que é doloroso», mas dizem a Peter «está tudo bem» e «querem con-
vencer-me que não devo ficar preocupado». Neste momento, Peter
já dava mostras de cansaço e recordou, falando em voz muito baixa,
que alguém «remexia» em baixo do braço e «estou marcado ou coisa
parecida... Eles fizeram mais uma série de exames», disse, incluindo
«a introdução de algo pela minha traqueia», mas «penso que já
chega por hoje, John. Tenho de descansar.»
A parte final da sessão foi dedicada à discussão do impacto que
estas experiências tiveram na consciência de Peter. Relacionou a
maior parte do terror que sentiu com a «expansão da minha consciên-
cia» até «ao ponto em que consegui aceitar os seres e aceitar o que
estava a acontecer.» Acrescentou que o terror se destinava a «alargar
a minha realidade». Considerei isto confuso, já que me parecia que,
durante as suas experiências, Peter tinha aceite os seres como reais.
Peter respondeu-me que «o processo em que nós [sequestrados e tal-
vez outros] estamos inseridos tem como objectivo reportar tudo isto
para o nível do consciente, para que nos lembremos das nossas expe-
riências conscientemente, sem esta hipnose profunda.»
Peter tentou novamente explicar-me onde queria chegar. «O ter-
ror», explicou, «tem mais a ver com a experiência que se ganha e que
está acima da minha percepção da realidade do que com as experi-
mentações ou diagnósticos físicos, ou seja lá o que for que eles
fazem». Os sequestrados tendem a ficar arreigados «a um grau de
terror que está para além da nossa percepção da realidade». A parte
física da experiência é essencial para as mudanças ao nível do cons-
ciente. «Temos de experimentar primeiro ao nível físico, antes de o
aceitar ao nível psicológico», disse ele. «O nosso corpo é submetido
a uma experiência. Sente-se fisicamente o desenrolar da experiência
368 SEQUESTRO
troto são coisas distintas do processo de alargamento da consciência
que as terríveis experiências físicas operam, embora os dois objecti-
vos estejam interligados. Pam sugeriu que o corpo, ao constituir-se
fisicamente, transforma-se na «nossa avenida de aprendizagem».
Peter concordou «totalmente» com Pam. Os seres são como «anjos
de Deus de uma maneira muito indirecta», são uma espécie de
«mensageiros, ou formas de que Ele se serve para actuar, tal como
Ele se serve de si, de mim ou de Pam... A forma pura da consciência
ao nível espiritual é destituída do aspecto físico», observou Peter.
«Por isso tem de encarnar fisicamente, de modo a viver todas as
experiências do físico. É como se a consciência dissesse: 'Bem, o
que é que eu quero aprender hoje?' e escolhe a Terra como lugar de
aprendizagem das coisas físicas.»
Foi marcada uma quarta regressão para seis semanas mai^tarde,
no dia 14 de Maio. A última sessão ajudara Peter a aceitar as suas
experiências, ao mesmo tempo que agudizou a sensação de solidão e
isolamento. Contudo, «a agonia por que passei foi tão grande e real»
que «agora estou feliz por estar vivo.» Actualmente considera que
«isto é real», não «é mais imaginação minha», ao mesmo que tempo
que «não me considero anormal». Sentia-se mais «completo» e as
experiências foram uma espécie de «dádiva», «recebi uma parte de
mim mesmo». A compreensão da singularidade do seu percurso per-
mitiu-lhe suportar o isolamento e a solidão. Antes disso, disse ele,
«sentira-me isolado, e desligado das pessoas. Este trabalho permitiu
focalizar esse aspecto». Agora «sinto-me único em termos existenci-
ais, mas não me sinto só. Sinto-me único... Sinto que estou ligado ao
todo, mas único.»
Neste contexto, os próprios sequestros deixaram de ser «maus»,
tão «horríveis, traumatizantes e maus e cruéis e essas coisas todas.»
Pedi a Peter para falar um pouco mais sobre a natureza da conexão
que descobriu. «É como se eu fizesse parte de um continuum», disse
ele, «parte de uma sequência. Como se fosse uma pérola entre mui-
tas que fazem um colar ou algo do género. Sou uma delas, mas estou
ligado ao todo. Posso ser feliz na minha singularidade... Era muito
importante para mim estar ligado», disse ele. «Agora sei que estou
ligado. De algum modo sei isso. É apenas um sinal maior... Este tra-
balho acelerou, de algum modo, todo o processo». Mais uma vez
concordámos deixar o «radar interior» de Peter levá-lo até onde que-
ríamos ir na regressão.
370 SEQUESTRO
Explicou que eles estão aqui há muito tempo e que «nos conhecem
profundamente... Querem transmitir-nos a sua sabedoria», disse ele.
«Conseguem prever o que nos vai acontecer e estão a observar-nos.»
À medida que dizia estas coisas, na mente de Peter passavam «ima-
gens rápidas» das pirâmides do Egipto e das «faces de Marte». Mas
uma vez mais Peter foi dominado pelo medo e pela raiva, quando foi
novamente levado para a sala de chão preto e forçado a deitar-se
sobre uma mesa. Um ser com uns dedos parecidos com garras, com-
pridos e ossudos, pousou a mão sobre o peito de Peter e olhou para os
seus olhos. «Aqueles olhos. Aqueles olhos», disse Peter. In-
troduziram-lhe uma vez mais um tubo junto aos testículos, com o
mesmo fim, e Peter estava mais calmo agora. Tinha «aprendido que
não preciso de ter medo». Depois saiu da sala de experiências para
outra sala onde estavam cerca de vinte pessoas, a maior parte das
quais eram mulheres e crianças.
O que agora foi revivido por Peter parece ser o seu regresso do
sequestro ocorrida nas Caraíbas, relatada na primeira regressão.
Atravessou a porta de uma nave maior para uma mais pequena que
estava a descer. Seguidamente, o fundo da nave mais pequena abriu-
-se e Peter flutuou até ao pátio da sua casa. Observou-se a si próprio a
entrar em casa e a deitar-se no sofá. Tudo isto, disse, «tem a ver com a
minha masculinidade, por alguma razão. Tem a ver comigo. Eles que-
rem-me. Querem o meu coração. Querem aquilo que tenho de mais
sagrado... Operam sobre nós durante toda a nossa vida», observou
Peter. «Gostam de pessoas abertas», qualquer que seja a idade, inclu-
indo pessoas idosas, acrescentou ele. «Querem descobrir como é que
hão-de proceder para que nos tornemos mais abertos para eles».
Estão a tentar «descobrir o que toma uma pessoa mais aberta e menos
medrosa que outra, e interessam-se genuinamente por nós.» Os seres
têm medo de nós, segundo ele, porque «não têm aquilo que chamo de
'instinto assassino' que nós temos, e a capacidade de lutar e de nos
matarmos uns aos outros. É disso que eles têm medo... é a coisa que
mais os aterroriza, a nossa capacidade de ódio... É por isso que acha-
vam estranha a raiva que sentia por eles quando faziam aquelas expe-
riências. Não são capazes de a entender. Têm medo de nós.»
Peter observou que «é a nossa percepção do que está a acontecer.
Nenhum de nós se sentiu de facto magoado». Alguns sequestrados
dizem que «têm cicatrizes e danos psicológicos e eu quero dizer
'Não vêem que estão confusos'... Os seres com quem trabalhei»,
372 SEQUESTRO
tempo, receiam o lado destrutivo das nossas emoções. «Podia ser um
casamento quase perfeito», observou Peter.
A última pergunta durante esta sessão teve a ver com a fixação
do olhar nos olhos dos seres. Peter disse que a intensidade daquele
olhar tem a ver com «o desejo de estabelecer ligação». Quando o ser
«olha para mim... deseja ligar-se a mim, a nós, é só isso. Gostava que
conseguissem entender-nos. Gostava que conseguissem sentir o que
nós sentimos.» Perguntei-lhe o que é que os seres pretendiam de nós.
«E como se os laços fraternais se tivessem desfeito. É algo parecido
com uma amizade perdida, e nós simplesmente não entendemos.»
Anseiam pelo amor, compaixão e pela alegria, «todo o espírito de
conciliação que eles se apercebem que existe no planeta, toda a bon-
dade que vêem aqui... essa capacidade de união entre humanos que
eles tão pouco têm.» Perguntei-lhe se conseguia ver isso através dos
seus olhos. «Há uma frieza nos olhos», replicou ele, «Há uma frieza
e um simples vazio, mas para além dos olhos isso está lá — quase
diria que há outro olhar para além do que é visível. E diria mesmo
que esse outro olhar é triste e saudoso, e tenta confortar-me, mas ao
mesmo tempo apela à minha ajuda. Quer estabelecer ligação
comigo. Quer mesmo estabelecer ligação comigo. É como se esti-
vesse a olhar para uma criança [soluçando]. É simplesmente como se
fosse um pouco mais velho e mais experiente e pudéssemos estabe-
lecer uma relação, ou coisa parecida.»
Questionei Peter sobre a tristeza que parecia estar a sentir e sobre
os soluços. Respondeu que «a minha tristeza é tão grande que me
sinto fraco e mutilado e não consigo fazer o que eles querem. Tenho
tanto medo de não ser capaz de lhes dar o que eles realmente
anseiam, que os meus soluços se comparam aos de alguém que não é
capz de proteger aqueles que ama... É quase como mãe e filho»,
acrescentou. «É como uma mãe que não é capaz de amar, que não é
capaz de se relacionar.» Estávamos a chegar ao fim da sessão. «Isto
agora está a ir para além da experiência», disse Peter.
Observei que para muitos sequestrados «é a percepção dos
olhos que origina a resistência.» Respondeu-me que «há uma gran-
de ânsia patente nos seus olhos. E comparável ao amor que não sabe
como manifestar-se. O seu olhar revela uma grande compaixão por
nós. Quando se olha pela primeira vez para os olhos», recordou
Peter, «há uma sensação mecânica, fria, não-humana. É fria e indife-
rente, mas olhando fixamente, olhando melhor, como aconteceu
374 SEQUESTRO
(BVMG), que testa as disfunções cerebrais orgânicas, e ao teste
Thematic Apperception (TAT); ao teste Rorschach Inkblot (RIBT),
testes projectivos que revelam a natureza do funcionamento e da
estrutura psicológicas.
Segundo o Dr. Shapse, Peter «estava de óptima saúde, alerta, con-
centrado, inteligente, com capacidade de expressão e sem ansiedade
visível». Não havia qualquer disfunção orgânica neurológica.
«Revelou um strees situacional elevado e uma difícil vivência desse
stress.» Peter manifestou tristeza durante o TAT e pareceu «estar a
combater as forças do mal». O Dr. Shapse concluiu que «o mais signi-
ficativo é a ausência de psicopatologia. Não se diagnostica nenhuma
psicose ou desordem afectiva importante... É significativo o nível
médio de preocupação sexual. O seu perfil singular sugere que sofreu
abusos sexuais... Notou-se que os temas psicológicos latentes não
têm realmente um impacto disfuncional.» Não foi feito diagnóstico
psiquiátrico. «As tensões psicosociais» foram consideradas modera-
das: «Recordações de experiências invulgares e perturbantes».
Quando perguntei ao Dr. Shapse, em privado, quais destas conclu-
sões podiam ser relevantes para a história de sequestro, ele respon-
deu-me: «Não vejo nada que prove isso»: A sugestão de abuso sexual
era interessante tendo em conta os procedimentos traumatizantes
impostos pêlos extraterrestres. Não havia nada na história de Peter
que sugerisse abuso sexual perpetra por seres humanos.
Com início em Junho de 1992, Peter começou a ter um papel de
líder na comunidade de sequestrados, falando publicamente sobre as
suas experiências e aparecendo na televisão. A 15 de Junho, partici-
pou num painel de sequestrados na Conferência de Estudos relacio-
nados com o Sequestro no MIT, organizado pelo médico do MIT
David Pritchard, e por mim. Durante a sua intervenção, que durou
entre cinco a dez minutos, Peter referiu pormenores das suas experi-
ências traumáticas que apreendera durante as regressões e passara
«de um estado de fúria e de ressentimento terrivelmente profundos
para a compreensão.» Falou, tal como antes o fizéramos, sobre o
grande interesse dos seres na nossa «capacidade de sentir, de ter
emoções, de sentir compaixão e preocupação e da nossa profunda
espiritualidade, qualidades que nos tornam humanos e que estão pre-
sentes em todas as raças do planeta.» Acrescentou que o ponto cen-
tral virtualmente exclusivo na dimensão traumática da investigação
e tratamento do sequestro era resultado da nossa incapacidade para
376 SEQUESTRO
School de Harvard, sobre «O Fenómeno de Sequestro por Extra-
terrestres» perante uma audiência de cerca de 250 pessoas. Dei uma
visão geral do fenómeno e projectei o segmento do vídeo. Em
seguida Peter falou durante cerca de dez minutos sobre as suas expe-
riências, seguindo-se um período de uma hora de discussão com a
audiência. Para nos prepararmos para essa sessão, falámos ao tele-
fone uns dias antes. Peter referiu que tinha a sensação de estar «nu
perante Deus», quando completamente aterrorizado e abandonado
durante as suas experiências, sujeito a controlo e sem opção, mas
contudo ligado a algo grandioso.
Durante a sua intervenção, afirmou que a «viagem» lhe tinha
permitido desobrir o seu «lugar no universo». Tinha a sensação que
fora abandonado por Deus e reduzido a «nada mais do que uma
amostra de esperma». Contudo, depois das regressões, sentia «uma
enorme expansividade». Em total isolamento, descobriu a sua iden-
tidade com Deus e com o espírito. «A experiência de sequestro»,
disse ele, «permitiu-me sentir esse isolamento, mas também permi-
tiu que me sentisse totalmente ligado com essa fonte individual.»
Falou sobre a «identidade com Deus» que existe em pessoas espa-
lhadas pelo mundo que partilham uma humanidade comum e que
«lutam em conjunto para compreender os mistérios do mundo espi-
ritual e a nossa ligação com esse mundo.»
Mais tarde, continuou, «comecei a conhecer ao nível mais celular
que nós não estamos sozinhos no universo, que Deus criou muitas
criaturas à Sua imagem e semelhança.» Os seres extraterrestres «não
são muito diferentes de nós. Eles também lutam. Também questio-
nam a sua existência. Também são muito inquisitivos. Também se
alimentam. Procriam e morrem. Querem ser aceites pelo que são...
Deus criou muito mais seres no universo do que podemos imaginar»,
continuou ele. «Tal como milhares de outros como eu que tiveram
essa experiência e que viram criaturas de Deus com outras formas, sei
no mais fundo de mim mesmo que os seres se parecem connosco de
muitas maneiras». Descobriu através dos seus sequestros «que estou
ligado a um processo de criação que é bem maior do que qualquer
coisa que eu pudesse imaginar no contexto das minhas anteriores
revelações ligadas a qualquer espiritualidade».
Peter disse a Pam, e posteriormente a mim, que entre Maio e
Novembro de 1992 se sentiu em paz, relativamente bem em relação
às suas experiências de sequestro, estruturado interiormente e
380 SEQUESTRO
rir com isto. «Aconteceu tudo numa fracção de segundo», disse ele.
Finalmente sentiu-se «totalmente calmo e convencido que passei
através» como «Peter Pan», e viu os pinheiros em baixo.
Já do lado de fora, Peter olhou para baixo. «Percebi que estava a
flutuar, e vi o chão. Vi a casa de lado...Vi a nave em cima de nós.»
Dentro «estavam todos os bebés, todas as crianças». Encontrava-se
numa sala preta, «tipo mármore preto ou algo parecido». Ao longo
de uma parede curva de um corredor que parecia ser o perímetro
exterior da nave, havia pequenas luzes ao nível da cintura. Entrou
numa sala onde havia três cadeiras e uma mesa, e «outra cadeira para
mim na ponta... Imagens e mais imagens» surgiam, mas a consciên-
cia de Peter continuava a ser arrastada, numa altura em que Peter
parecia querer evitar o que se ia seguir.
Viu três seres. Um, mesmo à sua frente, tinha uma «testa mesmo
grande» e parecia mais velho do que os outros dois. O que se encon-
trava à esquerda era um ser feminino. O terceiro ser era também um
extraterrestre. Eram os três seres que o tinham visitado no Havai.
Peter estava «ali para aprender sobre o futuro», disse ele. A sua testa
larga estava unida com uma espécie de abertura no meio. Peter disse
que «é o mesmo que superintendeu todas as operações... Acho que é
o mais esperto, ou melhor, ele é definitivamente o patrão». O ser
feminino era a sua professora. «Ela vai ser a minha guardiã, ou coisa
parecida. Vai olhar por mim. Ela está, há alguma coisa que vai acon-
tecer. Oh, meu Deus!»
— O que é? — perguntei.
«E que nós vamos... nós vamos foder». Medo, e não desejo, era o
que Peter sentia neste momento. «Vou procriar com ela», disse ele.
«Estou a ver que é aqui que eles queriam chegar»; isso mesmo foi-
-lhe comunicado principalmente pelo mais velho, a quem Peter tam-
bém chamava «O Sr. Sabe-Tudo» e «Cabeça de Bolha».
«Eu não queria ter conhecimento disto», disse ele. «Parecia que
ia rebentar».
Peter ficou chocado quando soube que os bebés que vira a entrar
para a nave eram os seus bebés extraterrestres ou híbridos e que ele
estava «a procriar com extraterrestres... é para isso que usam o meu
esperma», disse ele. O medo que sentia intensificou-se novamente, à
medida que analisava as implicações da sua descoberta. Com-
preendeu que fizera várias vezes amor com uma extraterrestre.
«Parece que ela é a minha verdadeira mulher — digo-o com senti-
382 SEQUESTRO
misso para que possam educar a criança tanto à maneira da Terra
como dos extraterrestres.» Continuámos a falar sobre o choque que
sentiu face à ideia de se tomar um «pai extraterrestre», embora reco-
nhecesse que as crianças híbridas precisam de «uma mãe e de um
pai... Com o advento da destruição da terra, que nós sabemos que vai
acontecer», disse ele, «serão estas as crianças que irão «repovoar» o
planeta. Serão como as «sementes da papoila... vagens» que serão
«espalhadas pela terra.»
Tendo em conta o carácter estranho da sua informação, questionei
Peter sobre o grau de convicção que sentia. «Cem por cento verda-
deiro», disse ele. «Trata-se de aprendizagem. É do futuro que se trata,
são essas as sensações. Não se tratava apenas de percepção, mas de
algo que era real, tratava-se de sensações.» Recapitulámos o encontro
encenado, com os três extraterrestres sentados em três cadeiras — o
líder velho e sábio, a mulher humana/extraterrestre e o «extraterrestre
original» à direita. Parecia que estavam ali para confirmar o compro-
misso de Peter perante um «casamento combinado» com o ser femi-
nino.» Dava a sensação que se iam unir duas pessoas e que o objectivo
dessa ligação as ultrapassava», disse ele. «Se não o fizer, a minha raça
extinguir-se-à... Não se trata apenas da recolha do meu esperma. O que
está em causa agora é se eu quero ser pai. Se quero ser um participante
consciente da procriação». Esta decisão devia ter sido tomada «há
muito tempo atrás, noutra vida», sugeriu.
Peter estava convencido de que a sua companheira extrater-
restre/ humana era a mulher que estivera em sua casa, no Havai.
Tinha um aspecto bastante simples, com cabelo castanho-averme-
lhado, «despretensiosa, com uma aparência do tipo comum. Não era
bonita. Não era feia. Realmente não me lembro bem da sua ima-
gem.» Daqui derivou uma conversa sobre a sua luta para viver «em
dois mundos paralelos». A sua existência noutro mundo confere-lhe,
em relação a alguns aspectos, um grande poder. «Consigo ir mais
fundo no que se refere a esta realidade», disse ele. «Actualmente o
meu maior medo é ir para casa e dizer a Jamy: 'Bem, que tal correu a
tua regressão hoje?'; 'Bem, vi a minha mulher extraterrestre e os
meus filhos'»
Quando a sessão se aproximava do fim, Peter falou sobre as poten-
cialidades da sua vida laborai e das complexas responsabilidades que
tinha. O quarto passo, «o passar através», representava um aprofunda-
mento do seu compromisso em relação ao projecto de procriação,
384 SEQUESTRO
Agosto, que tínhamos explorado na última regressão. Uma vez mais,
sentiu as emoções relacionadas com a sua decisão de «atravessar a
parede» e o significado que tinham para ele. Sentiu mais uma vez as
vibrações no corpo, quando se sentou na cama, e a perda de controlo
resultante da passagem pela parede. Em relação ao programa de pro-
criação, sentiu também uma certa «perda de identidade», quando
descobriu que era, em certo sentido, «parte extraterrestre.» Durante
a sessão, sentiu que «estava a começar a vibrar ao nível celular.»
Peter gritou muito e bem alto, respirando de seguida de uma
forma ofegante, quando se viu de novo sobre uma mesa, ao lado da
qual estava a sua companheira extraterrestre/humana, que lhe disse
algo parecido com isto: «Mais tarde saberás» e «esta parte não tem
tanta importância». Sentiu que a sua mente se abria e que tinha
«liberdade de escolha para recuar, em termos de memória, até onde
eu quisesse». Reviveu uma vez mais a cena em que ia com os três
seres por um corredor até uma sala. Disseram-lhe que «desde criança
que concordara em fazer isto, e que optei por vir para aqui [para a
Terra] e depois vieram primeiro ter comigo, e eu optei por brincar
com os bebés, com os outros seres, com os extraterrestres». Os
outros extraterrestres «observavam-me interagindo com eles e como
eu não mostrava medo, ou qualquer outro problema em brincar com
eles, perguntaram-me se queria continuar.» Disse que era a criança
de quatro anos que queria continuar a brincar com as crianças híbri-
das, e acrescentou que era «mais uma interacção entre mim, simples-
mente ali sentado, e elas, e há comunicação».
Pedi a Peter para descrever as crianças híbridas. «Têm cabeças
grandes e uma espécie de tufos de cabelo, e têm o corpo mais
pequeno do que a cabeça», disse ele. «A pele é semelhante à nossa. E
um pouco mais áspera, mas carnuda. Não é como a gordura dos
bebés. É como a gordura dos velhos, e os braços são muito frágeis,
mas têm barrigas grandes. São engraçados. São giros. Parecem
bebés pequeninos.» Quando os três seres o visitaram no Havai, per-
guntaram-lhe novamente «se queria continuar». Embora, nessa
altura, não estivesse «preparado para se recordar», «houve sempre
uma opção que tomei no sentido de prosseguir». Parecia que naquele
momento se estava a desenhar uma opção, «mais alguma coisa»,
disse Peter, à medida que recordava ter sido conduzido através de
um corredor onde «iam mostrar-me coisas». Enquanto caminhava
pelo corredor, mostravam-lhe quadros dos dois lados. Viu explosões
386 SEQUESTRO
todo este processo e «cuidar das crianças» juntamente com a mulher.
Tornar-se-ia um líder de «uma tribo nova, original», uma «nova raça
de humanos». Embora tivesse dito que aceitava o plano de repovoa-
mento, Peter estava bastante preocupado com tudo aquilo, especial-
mente «com a destruição das populações da terra», que aconteceria
«numa fracção de segundo». Peter afirmou que, apesar de nada se
poder fazer para impedir isto, havia um lado positivo que era o de dar
«uma segunda oportunidade» à humanidade. A tribo híbrida desce-
ria agrupada em «secções de pessoas» que eram colocadas em várias
áreas da terra, basicamente uma «população transplantada» e avan-
çada, com conhecimentos «de outro mundo», preparada para come-
çar uma «vida nova... Todo um sistema» seria transplantado.
Perguntei-lhe qual era o nosso destino, dos humanos «origi-
nais». Seriam preservados alguns humanos, mas as pragas, a peste e
«todas essas coisas» destruiriam a «infraestrutura da civilização do
homem tal como existe actualmente». Toda a sociedade se desmoro-
naria. Perguntei o que é que eu ou nós podíamos fazer face esta
angustiante informação. Peter replicou que a minha participação
activa no movimento anti-nuclear não era uma «coincidência», que
implicava a possibilidade de uma espécie de esforço de prevenção.
Mas disse que estávamos a olhar «de longe» para o futuro, não havia
saída para a situação e que sentia «que estava num barco salva-vidas
a olhar para o navio a afundar-se.»
Peter preocupava-se com tudo isto, mas estava, ao mesmo
tempo, resignado. Apesar da recorrência da sua visão, que sentia
como real, acrescentou que «a determinado nível, estão a decorrer
negociações sobre o futuro» englobando «todas estas diferentes pos-
sibilidades para a terra... Se houver consciencialização no universo,
teremos garantias onde quer que nos encontremos», observou ele
vagamente, e «se o mundo, conforme o conhecemos, acabar e outra,
outra consciência humana, vier habitar a terra, então terá havido pro-
gresso». Afinal de contas, disse ele, a procriação entre humanos e
extraterrestres implicava «em certa medida, a procriação no interior
da nossa própria espécie.»
A regressão acabou aqui. A Dr" Kay referiu que sentiu uma
energia muito forte na espinha, durante toda a sessão. Peter, ao ver o
nosso ar deprimido, disse: «Sinto que estão desiludidos». Reiterou
contudo que as suas sensações tinham sido fortíssimas e que a sua
«história» lhe parecera real. A parte final da nossa conversa teve a
388 SEQUESTRO
coisa a explodir dentro da cabeça.» Sentiu mudanças vibratórias
intensas no corpo, que a professora e os outros colegas da aula inter-
pretaram como sendo vibrações fortíssimas no seu campo de ener-
gia. Depois de regressar a Boston, Peter reparou que, durante duas
noites, todo o seu corpo «vibrou e agitou-se». Uma noite acordou ao
ouvir uma ordem: «deves transmitir energia de uma certa vibração
às pessoas. Era isso que eu devia estar a fazer.» Peter tinha sentimen-
tos contraditórios sobre isto. Embora aceitasse até certo ponto e
usasse com eficácia os seus elevados poderes, não tinha «nenhuma
vontade de me levantar e dizer 'Estou a transmitir energia dos extra-
terrestres'».
O objectivo que Peter traçara para esta sessão era «abrir-se para
um aprofundamento do conhecimento». Conseguira «compreender
ao nível físico» o fenómeno de sequestro. Pretendia agora operar «a
uma nível mais espiritual». Embora sentisse que estava «quase a
atingir um nível de compreensão mais profundo», Peter também
«receava descobrir o que ia aprender.»
As suas primeiras imagens durante a regressão diziam respeito a
seres extraterrestres no seu quarto, a crianças e à sensação de ser um
bebé ou feto, imagens essas que o deixaram perturbado. Sentiu a
seguir que o seu próprio corpo era «exactamente o de um ser extra-
terrestre. Sinto que a minha cabeça é grande. O meu pescoço é muito
magro. O meu corpo é magro. Os meus dedos são compridos. O meu
corpo é baixo. Tenho uma cintura muito estreita. Tudo é comprido e
magro, e sinto que estou ali a conversar com outro extraterrestre».
Era «um deles» e a conversa ocorrera antes de ele vir para a Terra.
Mas «o futuro passado» era «tudo o mesmo» e ele estava a «olhar
para o passado e para o futuro ao mesmo tempo.» Peter sabia que era
capaz de transcender o seu corpo, «receber informação e trabalhar
com eles. Eu sou eles... Parece que vim para aqui [para a terra] por
uma razão», disse ele.
Conversava com a sua companheira extraterrestre que conhecia
há uma «eternidade». Estavam a despedir-se, porque esta era «a
última vez que nos íamos ver sob esta forma... Não quero deixá-la.
Não quero ir embora», disse ele. «Agora estou a começar a ficar com
medo. Tudo isto é novo.» Mas tinha de partir «porque tinha esco-
lhido fazer isto para ajudá-la, para nos ajudar a todos.» O projecto de
ajuda destinava-se a impregnar a sua companheira extraterrestre
«com o meu esperma humano, masculino, enquanto pessoa da
390 SEQUESTRO
para si ver-nos exactamente como somos, e conclui que somos des-
providos de vida porque não se trata de uma forma humana.» Eu não
conseguia ver o seu espírito ou «ser», disse ele. Eu não estava, de
certo modo, satisfeito com isto e perguntava porque é que não éra-
mos capazes. A resposta de Peter confundiu-me, referindo-se às
minhas ideias preconcebidas sobre o que entendia por vida, «a en-
carnação da alma, de Deus. O que se passa é que está a observar uma
espécie diferente de homem, é só isso.»
Referi que os seres híbridos me pareciam «necessitados de cuida-
dos. Que «melhor maneira» havia, disse Peter, para que os seres
humanos «nos aceitem [falava agora na primeira pessoa do plural,
como extraterrestre] do que revelarmo-nos na nossa forma mais
carente... A bondade do coração», é «característica comum entre
todos os humanos,» observou. «Sentem mágoa quando se lembram
que fazem parte de nós e que eles estabelecem ligação com essa outra
espécie, por assim dizer.» Os sequestrados humanos, explicou Peter,
possuem também uma identidade extraterrestre, para que, ao estabele-
cer ligação com as crianças extraterrestres que geraram, «se desenca-
deie um conflito entre a memória da sua ligação com as suas espécies
de origem [neste contexto, presumivelmente extraterrestres] e a sua
ligação humana com aquele bebé, criança ou infante». Observei que
isso devia ser terrível para os sequestrados, e ele concordou que «aos
nossos olhos, era cruel». Ele próprio também se «sentia dividido» e o
seu «lado humano oferecia resistência ao lado extraterrestre, lado esse
que, sabe, tem tanta informação para dar...»
Seriam criadas linhas, escadas ou túneis pêlos quais as pessoas
poderiam passar em direcção ao futuro. Haverá «uma mudança no
tempo» e será uma coisa parecida com «um véu que será atravessado
pelas pessoas... A espécie humana continuará», mas sob uma forma
diferente. «A terra transformar-se-á num lugar de interacção com
outros seres», incluindo as crianças híbridas «que estão agora a
desenvolver-se». Quando os humanos, que fazem «parte deste
plano» fizerem a travessia do tempo e «da consciência, não haverá
cólera ou ódio ou ressentimento» entre os sequestrados a quem «se
mostrará as crianças... Aquilo que considera cruel», continuou ele, é
apenas a mente humana a tentar compreender. Não fiquei totalmente
convencido com isto, mas era tempo de prosseguir.
Peter regressou ao tema da evolução humana e ficou novamente
«com medo» quando começou a traçar uma espécie de cenário de
392 SEQUESTRO
nível de realidade devíamos inserir o que acabara de relatar. Peter
disse que me considerava uma espécie de «parteira», e que depois de
cada regressão conseguia atingir um nível de resolução, de «trans-
formação». Nunca estivera tão convencido de que «existe por aí um
poder que é maior do que eu, ou maior do que nós, e eles têm algum
controlo sobre o meu destino e sobre o destino do planeta... A menta-
lidade ocidental, a estrutura sócio-económica em que cresci, não me
apoia», disse ele. «Sou um homem diferente do que era antes das
regressões», acrescentou. Agora está «confiante no universo... estou
à espera de um apelo ainda maior, à espera de que algo mude.»
«Estou ligado aos seres», disse ele, «e tenho a sensação de que eles
estão ligados a Deus, seja Ele quem for... como intermediários, eles
estão a fazer a mesma coisa que nós faríamos se deparássemos com
uma espécie, fosse do que fosse, que estivesse em risco de extin-
ção.» Tentaríamos «ajudá-los sem intervir directamente.» Os seres
«agiram conjuntamente com Deus», sugeriu ele, com o objectivo de
alcançar as «melhores qualidades da humanidade». Simulta-
neamente parecem ter «sido capazes de transcender o tempo e o
espaço e prever a possível futura evolução do planeta», utilizando «a
mitologia dos OVNI» para nos fazer «compreender que fazemos
parte de algo muito maior». Peter sentia necessidade de se auto-ana-
lisar, e disse que estava a planear fazer um retiro de dez dias, acam-
pando sozinho em Montana no final de Julho, com o objectivo de
aprofundar algumas questões que o atormentavam desde a
Primavera.
A parte final da sessão foi preenchida com a análise das implica-
ções práticas decorrentes das mudanças que se verificaram. Con-
tinuava a sentir-se isolado e só com as suas experiências. Embora o
seu processo de transformação tivesse uma característica inexorá-
vel, receava perder a ligação com Jamy, e com «a função social
segura e agradável» que teria enquanto «jovem culto» e um «acu-
puncturista profissional». Ainda esperava conseguir o apoio do pai e
da irmã, mas não obtivera qualquer resposta depois de lhes ter en-
viado videocassetes contendo as suas palestras e depois de o terem
visto na televisão a falar emotivamente sobre as suas experiências.
Ele e eu, disse Peter «e outras pessoas deste grupo [de experimenta-
dores e investigadores] estamos a ser puxados em direcção a alguma
coisa, retirados da segurança do nosso mundo normal, e isso é in-
quietante». Peter acrescentou que, apesar de tudo, estava decidido a
394 SEQUESTRO
mente estes acontecimentos, torna-se difícil escolher entre estas
hipóteses.
Convém fazer referência ao tempo gramatical usado durante as
sessões. Peter e eu falámos sobre acontecimentos ocorridos presu-
mivelmente no passado. Contudo, tal como acontece com a maioria
dos sequestrados, naquele momento Peter revivia as experiências de
forma tão intensa que as narra, durante a maior parte do tempo, no
presente do indicativo. Se usei estritamente um tempo do passado
durante as minhas contribuições na narrativa, posso deste modo ter
introduzido uma voz distorcida. Em termos da reconstituição do
vivido, a sua comunicação «ao vivo», usando a forma do presente,
pode ser uma descrição mais fiel da ocorrência do sequestro, por se
tratar de um acontecimento tanto real como psíquico (esta divisão
pode, de novo, ser limitadora), do que a minha colagem a um tempo
do passado da narrativa.
A primeira regressão centrou-se numa experiência ocorrida em
1988, nas Caríbas, durante a qual Peter e, aparentemente, muitos
outros seres humanos que ele viu dentro da nave, foram submetidos
a uma investigação anal humilhante, bem como à introdução duma
espécie de implante que Peter acreditava tratar-se de um dispositivo
destinado a mante-lo sob controlo. Mesmo durante a primeira ses-
são, Peter tinha a sensação de que era, de certo modo, um participante
voluntário deste processo, apesar de se tratar de experiências trauma-
tizantes. A segunda regressão e os acontecimentos ligados à obser-
vação, em Connecticut, chocaram particularmente com o esquema
mental de Peter, já que existiram testemunhas independentes da sua
experiência de sequestro no OVNI. A aparente investigação feita no
seu cérebro, embora emocionalmente traumatizante, estava também
ligada com a função de líder que Peter assumira, um teste à sua capa-
cidade para se tornar um intermediário entre a Terra e o domínio
extraterrestre, e que os seres escolheram para se manifestarem de
forma mais directa.
A terceira regressão, envolvendo a memória dramática e extre-
mamente perturbadora da recolha forçada de uma amostra de
esperma, serviu para explorar a relação entre a experiência corporal
e a evolução da consciência. Peter precisava de sentir ao nível corpo-
ral, com todo o terror que isso envolvia, o facto puro e simples que
ocorrera com ele. Só dessa maneira se tornaria capaz de reconhecer a
existência dos próprios seres e tornar-se-ia assim capaz de aceitar
396 SEQUESTRO
respeito à essência do fenómeno de sequestro extraterrestre ao
mesmo tempo que, como é evidente, levanta outras. Parece querer
dizer-nos que o objectivo da nossa evolução é a interacção extrater-
restre/humana, tanto biológica como espiritual. Uma nova raça ou
«tribo» está a ser criada, uma forma híbrida, um cruzamento entre a
raça ou raças extraterrestres e os humanos. Peter, e outros homens e
mulheres que com ele partilham uma dupla identidade extraterres-
tre/humana, parecem desempenhar um papel vital na criação da sua
tribo ou tribos, procriando com uma companheira extraterrestre ou
híbrida para dar origem a uma descendência que seja capaz de sobre-
viver num futuro de tipo pós-apocalíptico. Simultaneamente, Peter e
outros como ele vivem um processo de expansão ou transformação
da consciência que os fará passar de uma existência puramente ter-
rena para se transformarem em «filhos do cosmos». Como professor,
Peter tem também a função de alterar a consciência de outros seres
humanos que participam ou venham a participar neste processo evo-
lutivo. Embora tudo isto pareça ser bastante premeditado, há um
outro aspecto do processo, que tem mais a ver com o relaciona-
mento, que diz respeito à trabalhosa tarefa, simultaneamente
traumatizante e alegre, que tanto os seres humanos como os ex-
traterrestres têm de realizar com vista à fusão das suas qualidades e
identidades.
É evidente que tudo isto levanta profundos problemas ontológi-
cos. Em que domínio da realidade se situa, por exemplo, este pro-
grama de procriação e a dupla identidade humana/extraterrestre?
Embora para Peter e para muitos outros como ele, o processo seja
demasiado real, nós não sabemos «onde» e «quando» qualquer
deles ocorreu ou irá ocorrer. Nem sequer sabemos se estes termos
são os mais apropriados. É como se seres que são semi-físicos e que
provêm de uma outra dimensão, pretendessem (ou tivessem sido
recrutados para esse fim, por uma outra inteligência «superior»)
encarnar de tal maneira que consigam compatibilizar-se biologica-
mente com os seres humanos. Mas nós não sabemos o que está real-
mente por detrás deste complexo processo, que parece
desenvolver-se na fronteira entre a biologia e a espiritualidade. Se se
trata de um processo totalmente «genético», no sentido que essa
palavra tem para nós, não possuímos qualquer informação sobre as
alterações genéticas introduzidas pêlos extraterrestres conducentes
à fusão da nossa espécie.
398 SEQUESTRO
O que isto sugere é que o relacionamento extraterrestres/huma-
nos é algo que é muito mais complexo e completo do que um pro-
grama de procriação híbrida. Parece ser uma tentativa pouco
convincente e difícil levada a cabo por uma inteligência que conhe-
cemos muito pouco, para dar origem à fusão de duas espécies que
parecem precisar e ansiar algo uma da outra. É uma experiência que,
tanto quanto podemos determinar, é tão formidável, frustante e ques-
tionável como qualquer outra que tenha sido levada a cabo pelo seu
criador. Porque diz respeito à junção de seres cujos espaços princi-
pais se situam presentemente em dimensões ontológicas separadas.
Contudo, para tornar o assunto ainda mais complexo, os relatos de
Peter e de outros sequestrados tornam evidente que nós e os seres
extraterrestres derivamos, ou provimos, da mesma origem funda-
mental e que a nossa mútua ansiedade deriva do desejo de descobrir
uma afinidade perdida (ver o relato da quarta regressão na pág. 371),
de nos reencontrarmos e assim aproximarmo-nos uma vez mais da
«Casa» cósmica que, à luz da experiência de Peter e de outros
sequestrados, foi em tempos a nossa origem comum.
CAPÍTULO CATORZE
UM SER LUMINOSO
Carlos * tem cinquenta e cinco anos, é casado e pai de três filhos já
adultos: dois rapazes e uma rapariga. É uma pessoa extrema-
mente criativa, que se dedica quase diariamente ao desenho, à pin-
tura, bem como à escrita de poesia, drama, ensaios académicos e até
de um romance; também está ligado à produção e direcção de peças
de teatro. E professor de belas-artes numa pequena universidade do
sul e as suas aulas são muito populares; para além disso ministra
fequentemente cursos suplementares a pedido de alunos interessa-
dos. Contribui de forma significativa para o desenvolvimento cultu-
ral da sua comunidade e estado, participando voluntariamente no
sistema prisional estadual, bem como no trabalho com crianças defi-
cientes, doentes mentais e idosos; dedica também a sua atenção a
questões ambientais ao nível regional.
Carlos escreveu-me em Julho de 1992, aconselhado por duas das
pessoas envolvidas no caso Allagash (Fowler 1993), relacionado
com a perda da noção de tempo, ocorrida no domingo de Páscoa do
ano de 1990. «Perdi a noção do tempo durante seis (ou mais) horas,
durante a tarde, quando escalava a encosta de uma montanha» nas
Hébridas interiores, na ilha de lona, nos estreitos situados entre a
Irlanda e a Escócia.
Carlos já tinha explorado as suas experiências de contacto em
várias sessões de hipnose, com a duração de dezassete horas, orien-
* Este capítulo é o resultado de uma colaboração literária invulgar
entre Edward Carlos e eu.
Ele é, na verdade co-autor deste capítulo.
400 SEQUESTRO
tadas pelo Dr. Ward, um psiquiatra de uma localidade próxima.
Encontrámo-nos várias vezes para conversar, durante o mês de
Agosto, e realizei duas sessões de hipnose com a duração de seis
horas. Embora, durante a nossa conversa, me referisse à sua expe-
riência usando o termo «sequestro», Carlos preferia o termo «encon-
tro» e considerava-se um «participante», e não uma vítima ou um
sequestrado. Infere que é, em certa medida, um colaborador, um co-
-ceptor (em vez de receptor) do processo imagético e da partilha da
experiência. Estas variantes de linguagem pressupõem uma atitude
diferente na forma como um investigador-hipnoterapeuta se rela-
ciona com os outros no campo da ovnilogia, bem como na maneira
como um artista/participante apreende interiormente o fenómeno.
O caso de Carlos toca ao de leve em vários mistérios que envol-
vem o fenómeno de sequestro. A sua experiência contribui para
esclarecer algumas dimensões deste fenómeno e levanta novas e pro-
fundas questões sobre o assunto. Tal como muitos casos de sequestro,
os objectivos correlativos são sugestivos e tantalizantes — observa-
ção de OVNI, terra queimada nos locais de aterragem dos OVNI,
inexplicáveis cortes e cicatrizes surgidos após os sequestros e sobre-
tudo fotografias dramáticas de um feixe luminoso proveniente das
nuvens e que mergulhava numa baía em lona. Mas o peso da evidên-
cia assenta no relato das experiências, sob hipnose, de um homem
inteligente, sensível e sincero, sem aparente perturbação mental ou
distorção de pensamento ou percepção que, de forma empenhada,
procura compreender a situação em que se viu envolvido.
A informação que o caso de Carlos nos faculta permite duas lei-
turas que, inicialmente, podem parecer contraditórias: por um lado,
possibilita o conhecimento aprofundado de tecnologias que apenas
faziam parte do nosso imaginário e que são controladas por uma
inteligência mais avançada; e, por outro lado, coloca-nos perante
realidades alternativas, domínios do ser que não integram a nossa
concepção do universo. Mas uma análise mais detalhada revela que
esta distinção não é sustentável. A questão é que os avanços da tec-
nologia e a expansão das nossas noções de realidade são insepará-
veis. O aspecto singular da investigação do fenómeno de sequestro,
profusamente ilustrado com este caso, tem a ver com a necessidade
da consciência humana se expandir de modo a que nos seja possível
aceitar aquilo que suplanta a nossa capacidade tecnológica, bem
como aquilo que está para além das nossa percepção da realidade.
402 SEQUESTRO
fazem parte e que foi enterrada na ilha, regressava sob a forma de
sereias (as focas parecem-se muito com mulheres, com olhos gran-
des e cabelos compridos, emergindo das águas). Durante a primeira
manhã em lona, Carlos palmilhou o quilómetro e meio de compri-
mento da ilha, desde a cidade de lona até à dita praia e entoou, por
brincadeira, cantos gregorianos em grego e em latim. Para sua sur-
presa, uma foca aproximou-se da praia e acompanhou-o durante os
cerca de oitocentos metros que passeou ao longo da praia, e conti-
nuou a segui-lo quando regressava. Encantado com a atitude amis-
tosa da foca e com a aparente autenticidade da lenda, Carlos admitiu:
«Foi uma experiência nova e maravilhosa.»
Na noite seguinte foi a um baile semanal tradicional da cidade,
realizado no pequeno ginásio da escola da cidadezinha de lona; o baile
iniciou-se à meia-noite. Dançou ininterruptamente durante quase duas
horas, com mulheres que estavam de visita à ilha e que estavam hospe-
dadas na abadia, localizada a uma pequena distância da cidade, e no
final sentiu-se livre e aberto, «muito bem mesmo». Exuberante e cheio
de energia, começou a correr, com o peito esticado e com os braços
abertos «em cruz» por um caminho escuro e estreito, debaixo de uma
chuva fria e abundante, até ao fim da doca que ficava no extremo da
pequena cidade, no local onde desembarcara quando chegara à ilha.
Embora estivesse muito escuro e «chovesse torrencialmente», Carlos
viu à sua frente, no mar, uma neblina rosada em forma de bola, com
cerca de um metro de diâmetro e «luminosa por dentro». A névoa
luminosa parecia formar-se à sua frente, como se fosse um sinal que se
dilatava no interior da sua própria visão. Viu um ténue relâmpago
quando aquilo apareceu e depois se desenvolveu mesmo à sua frente,
dando a sensação que envolvia a água e o céu escuro. Carlos afirma
que não ingeriu bebidas alcoólicas durante o baile e que aquilo era tão
real que ele acredita que qualquer pessoa que ali estivesse a veria, sem
duvidar da sua veracidade. «Num segundo» ele estava dentro da bola e
deu-se uma mudança de cena.
Já não era um homem de trinta e quatro anos, mas um rapaz órfão
de doze anos que se encontrava numa praia que ficava depois da aba-
dia, numa ponta da ilha, a pouca distância da doca. Tinha a seu lado
um amigo, que participara como modelo no trabalho sobre S. Miguel,
posando para a figura de Adão na história do Paraíso e também para a
figura de um dos Anjos. O amigo é «de facto» doze anos mais novo,
mas nesta outra realidade, que Carlos chama de «visão», era também
404 SEQUESTRO
chiffon e cetim que reproduziam as características da luminosidade
da ilha e representavam uma passagem do Apocalipse. Entre os pen-
dentes estavam alguns nus masculinos em tamanho real que repre-
sentavam os anjos caídos, posicionados atrás da figura central do
Arcanjo Miguel. Durante cerca de vinte anos as autoridades ecle-
siásticas exibiram o painel maior (que media sete metros e meio por
três metros, e cada um dos painéis suspensos com cerca de dois
metros de altura) durante dois meses no Outono, do dia de S. Miguel
até ao Dia de Todos os Santos, na altura da peregrinação anual à
igreja em que participavam as paróquias de toda a Escócia.
Dois meses depois de Carlos regressar à sua cidade-natal, o
jovem monge que o salvara na visão apareceu na universidade na
figura de um caloiro e dirigiu-se ao seu gabinete para se inscrever
nas aulas de arte que ministrava. Carlos ficou espantado e incrédulo.
Ambos sentiram imediatamente que se conheciam e ficaram amigos.
Quando Carlos se apercebeu que, durante a visão, tinha de certo
modo conseguido prever o futuro, isso afectou-o profundamente e
serviu para reforçar a sua determinação de um dia regressar a lona.
Nas veias de Carlos circula sangue espanhol, escocês, irlandês,
alemão e judeu alemão. O seu apelido está de certo modo relacionado
com a Armada Espanhola e com os seus desaires nas Hébridas irlande-
sas/escocesas, talvez ao largo da ilha de Mull, próxima de lona. Carlos
cresceu numa cidadezinha da Pensilvânia ocidental, no seio de uma
família católica. Os seus pais, cujos últimos anos de juventude foram
passados em plena depressão, eram trabalhadores dedicados que se
mantiveram na sua fé católica. Ambos tinham sido criados no campo e
davam muita importância à formação escolar, uma vez que eles pró-
prios tinham o nível liceal, como era típico nas cidades pequenas e no
campo, na primeira parte deste século. A irmã de Carlos, dez anos
mais velha do que ele, casou quando Carlos era ainda uma criança.
Tinha quatro filhos e permanecera com a sua família na cidadezinha
onde ela e Carlos tinham nascido. Quando Carlos completou os dezas-
seis anos, o pai, um comerciante que também trabalhava no caminho
de ferro, morreu de ataque cardíaco durante o trabalho, e era um fuma-
dor. O confronto com a morte era uma constante na vida de Carlos e
este acontecimento afectou-o violentamente. Começou por passar por
uma experiência traumatizante quando teve de acompanhar a mãe e a
irmã à morgue do condado para identificar o corpo. «Nunca tinha
estado numa morgue. Ao ver o meu pai sobre uma laje, em cima duma
406 SEQUESTRO
Não tinha presença efectiva. Era uma dimensão diferente. Era uma
tal descida!»
Durante uma sessão de hipnose com o Dr. Ward, Carlos recordou
que, apesar da dor da reencarnação quando tinha cerca de um ano de
idade, de certo modo «oferecera-se para vir à terra física... Optei pela
aceitação do corpo», disse ele. Quando lhe perguntei porque é que
«concordara», ele referiu as suas responsabilidades enquanto pro-
fessor e artista. A incapacidade dos seres humanos para cuidarem
«adequadamente das suas potencialidades» preocupa-o muito,
assim como a destruição predadora do «jardim da Terra». Recor-
rendo à arte, Carlos ensina «'a estética do transcendente'... Através
dos procedimentos artísticos estou a ajudar as pessoas a sentirem
uma maior empatia, de modo que compreendam melhor que estas
coisas não lhes pertencem, e que por isso não devem destruí-las.»
A primeira experiência de contacto de que Carlos se lembra
ocorreu no fim do Verão ou início do Outono de 1940, quando tinha
três anos e meio, na mesma altura em que ocorreu a aurora boreal
(luzes do norte). Estes acontecimentos eram bastante invulgares na
Pensilvânia, e Carlos recorda-se que alguns dos seus vizinhos tive-
ram reacções apocalípticas. Carlos também se sentiu apavorado com
esta experiência e essa forte sensação acompanhou-o durante toda a
sua vida; afirma que o espectáculo das luzes coloridas no céu se re-
flecte na sua actual maneira de pintar.
Carlos ficou de tal maneira intrigado com a ocorrência que recu-
sou ir para a cama. «Fiquei furioso porque os meus pais me mandaram
para a cama. Achava que aquela era a mais importante experiência de
toda a minha curta vida e eles a mandarem-me vestir o pijama e a dize-
rem-ne para ir para a cama. Mas o meu pai trabalhava nos caminhos de
ferro e levantava-se às quatro e meia da manhã para poder começar a
trabalhar às seis. Eu não fui logo para a cama. Em vez disso fui esprei-
tar pela janela. Depois gritei para os meus pais: 'Mamã, papá, estou a
ver um anjo', ao que o meu pai respondeu: 'Que bom. Agora vai para a
cama.'» A criança, Carlos, não conseguiu compreender a atitude dos
pais naquele que era «o dia mais importante da minha vida». A ima-
gem do anjo era «uma luz amarela ou uma névoa amarela» que vinha
na sua direcção, e que associou com a imagem de um anjo de cabelos
louros, andrógino, que vira junto à árvore de Natal da família e que o
fascinava. Em criança, costumava brincar com essa imagem, transfor-
mando-a num avião, fazendo-a voar à volta do tronco da árvore, ou
408 SEQUESTRO
«experiência pavorosa [palavra que Carlos usa frequentemente no
decurso da nossa conversa]» andar desta maneira «de regresso à luz».
É-lhe difícil descrever esta experiência que tem a ver com metamor-
foses e mudanças transubstanciais materialmente corporais de forma
e energia, experiência essa que se repetiu durante outros encontros.
Considera que se «dissolve» literalmente ou que se «desfaz celular-
mente» através de um doloroso processo de «transformação da forma
material em energia luminosa», ou seja, ele transforma-se no próprio
céu ou na própria luz, que «perpassa através de tudo». A criatura
acompanha-o no regresso ao «lugar luminoso da energia. «Trouxe-
-me até à minha origem — antes de encarnar no meu corpo, antes de
me corporizar — que é luz, um lugar luminoso de energia». Segundo
ele, «a própria criatura é apenas uma forma de luz, emergindo da pró-
pria luz.»
Embora em certo sentido fosse geograficamente localizada, a
experiência da luz era também «fora do espaço. Não tem em conta o
espaço/tempo.» Perguntei-lhe onde é que a sua consciência estava
localizada durante a experiência. «Eu estava consciente; foi uma
experiência consciente, uma experiência espiritual pura. A alma é a
sua perpetuação», afrimou ele. «A essência da experiência é a de
uma energia que é pré-forma.» Carlos também tentou descrever a
«beleza» do movimento. Ainda estava a falar sobre a experiência
dos três anos e meio, mas eu suspeitava que Carlos estava a fazer
associações com outros sequestros mais recentes. Carlos insistia que
o acontecimento correspondia à sua descrição e o que evocara nesta
sessão de hipnose não era uma mistura de associações de várias
experiências. Acrescentou que outras experiências posteriores con-
firmaram esta imagística de luz da primeira sessão de hipnose. «Esta
transformação pertence à minha segunda sessão de hipnose. O re-
gresso à forma de luz-energia dos três anos e meio fazia parte de uma
re-aprendizagem, para me ajudar a aceitar novamente a forma hu-
mana. A experiência da luz ocorreu repetidas vezes, pelo menos em
três sessões de hipnose.»
Carlos observou que «Estamos no interior da energia do uni-
verso. Somos esse movimento de energia e de luz, mas temos cons-
ciência dos seus 'limites'. A palavra 'limite' foi a melhor que
consegui arranjar para expressar uma certa objectividade... Acho que
tentei pintar esse sentimento ou sensação sem saber de facto que
estava a fazê-lo. É como nadar debaixo de água. Conseguimos ver
410 SEQUESTRO
núcleo interior amarelo estava rodeado por uma massa alaranjada
que, por sua vez, era envolta por várias camadas de cores que iam do
rosa, à cor de malva e ao vermelho esbatido e a luz terapêutica tinha
contornos de um azul vivo e faixas verdes na superfície interior da
pele. A orla verde e azul era o ponto de ruptura, o arrefecimento, por
assim dizer. Foi então que o meu corpo reagiu de novo, depois desta
doença prolongada, muito prolongada.» Por fim, as criaturas «trou-
xeram-me. Regressei para dentro do corpo.»
Tanto durante a sessão de hipnose, como durante a experiência,
Carlos sentiu muita relutância em «voltar» para o seu corpo.
«Chorava e soluçava porque não queria voltar para esta vida, para
esta consciência. Mas as criaturas trouxeram-me.» Carlos lembra-se
que continuava a chorar e a gritar quando a sessão terminou e que
tinha muita dificuldade em respirar e sentia comichão e alterações da
temperatura do corpo. «Estava a chorar e depois fiquei furioso. Não
conseguia controlar as minhas emoções». Quando ia pelo corredor, à
saída do consultório do Dr. Ward, em direcção à casa de banho que
ficava no outro extremo do edifício, Carlos sentiu-se violento e sel-
vagem ao ponto de recear que podia matar alguém, «como um leão.
Sentia-me xamanista». Com os cabelos compridos, até aos ombros,
Carlos tinha realmente um aspecto leonino.
Não recorda mais nenhuma experiência relacionada com o
sequestro ocorrida durante a infância ou adolescência. Posterior-
mente, desde os seus tempos de estudante na universidade estadual
Pensilvânia ocidental até à data presente, teve uma série delas.
Ainda estudante, quando participava numa reunião de família, viu
«uma nave espacial enorme — do tamanho de um campo de baseball
— redonda, com o feitio de um disco, virada de cabeça para baixo
sobre um outro disco, separados por uma faixa opaca de aspecto
metálico, provavelmente com janelas, à volta da parte central da cir-
cunferência exterior. Era, ao contrário da faixa com janelas, de um
metal prateado muito brilhante e que reflectia. Encontrava-me no
quintal, acompanhado pela maior parte da minha família, à excepção
da minha mãe, avó e tias, que se encontravam na cozinha. A nave
espacial ficou parada sem se mexer durante pelo menos vinte minu-
tos, tempo mais que suficiente para que todos a pudessem observar,
tempo mais que suficiente para eu ir a casa, trazer a minha mãe para
o alpendre para também poder ver. Depois a nave arrancou e desapa-
receu, completa e silenciosamente, em segundos.
412 SEQUESTRO
mente ao fim da tarde, pintava com aguarelas, relacionando-a tam-
bém com as energias que lhe foram transmitidas através do processo
de sequestro.
Carlos considera que a identificação com outras espécies
durante as suas experiências de sequestro também ajuda a criar e a
desenvolver valores ecológicos. Sente uma atracção pela natureza
desde a sua infância: «Sempre brinquei fora de casa. Cresci nas
matas, imitando o Tarzan» — e sempre teve uma forte ligação aos
animais. Recorda que, durante a sua juventude, sempre existiram
cães e gatos na sua casa de campo. Nos seus tempos de escola e de
liceu teve dois cavalos e passava horas a montar nas colinas da
Pensilvânia. «Acho que me dou bem com os animais. Sinto que
comunicamos.» Vive rodeado de cães e gatos, que o acompanham
nos seus passeios diários pêlos lagos, pêlos campos e pelas matas
das proximidades. Carlos defende os direitos dos animais e dedica
muito do seu tempo a questões ambientais.
Durante as sessões de hipnose com o Dr. Ward, Carlos reviveu
algumas memórias do episódio de lona e dois contactos significati-
vos; os restantes pormenores desta experiência foram evocados em
duas regressões orientadas por mim, bem como através de conversas
que ambos mantivemos. São várias as razões que impedem que a
narrativa desse encontro seja cronologicamente coerente. A lineari-
dade do seu pensamento é constantemente interrompida por associa-
ções que se distanciam no tempo. Para além disso, é comum que as
experiências e memórias dos contactos tenham quebras na estrutura
e na ordem espacial/temporal, mas isso é particularmente evidente
nos relatos de Carlos. Quando uma experiência é tão rica em ima-
gens, sensações e emoções, como é o caso do contacto de lona,
torna-se praticamente impossível ordenar os acontecimentos crono-
logicamente. Onde foi possível estabelecer essa ordem, assim o fiz.
Quando isso não foi possível, optei por apresentar uma sequência
lógica e coerente dos temas básicos destas experiências, que dura-
ram aproximadamente seis horas, sequência essa que em termos
temporais não é necessariamente correcta. Começarei pêlos aconte-
cimentos que Carlos recorda conscientemente.
Carlos regressou a lona em 1990, vinte anos após a sua primeira
visita, por razões profissionais — investigação sobre os hinos cris-
tãos e sobre a poesia de S. Colombo e a possível relação imagística
com a poesia druídica que venera a terra e o feminino que existe na
414 SEQUESTRO
reconheceu nada à sua volta, embora soubesse que estava na ilha.
Primeiro não conseguiu encontrar o caminho e quando pensou que o
tinha descoberto, não sabia onde estava. De repente viu que estava a
andar na direcção oposta à que pretendia — para baixo, em vez de ir
para cima. Quando se virou para continuar a subir a montanha, repa-
rou que tinham passado provavelmente duas ou três horas («comigo
os relógios não funcionam e por isso nunca uso») e que já era muito
tarde para poder terminar o percurso que planeara efectuar em cinco
ou seis horas até à Baía de S. Columbo e estar de regresso antes de
anoitecer. Decidiu voltar no dia seguinte, virou-se, um tanto ou
quanto vacilante porque ainda estava em estado de transe, e chegou
pouco depois ao maercher, uma espécie de campo sobre a praia, de
onde se via a Baía das Focas.
Desse local, Carlos viu sobre a baía que se estendia à sua frente
um grande e extenso raio de luz cor de pêssego que descia das densas
nuvens até à água. Parecia-lhe «maravilhoso, terrível, misterioso e
inquietante.» Quando atingiu a água, o raio de luz descreveu um
enorme círculo cor de pêssego do qual saiu uma névoa cor de pês-
sego. Viu milhares de faíscas dentro e fora do círculo «a saltar na
água, por todo o lado, como aquelas centelhazinhas com que as crian-
ças brincam no Quatro de Julho». (Posteriormente e sob hipnosse,
Carlos descreveu o feixe de luz como uma «queda de luz» ou «um
túnel» de ligação com uma nave espacial). Lembrou-se que trazia
pendurada ao pescoço a máquina fotográfica equipada com lentes
adequadas e tirou uma fotografia focando a água e recuando pro-
gressivamente para captar um ângulo que apanhasse o máximo pos-
sível do raio, das nuvens e do círculo na superfície da água. Carlos
descreveu isto como «o mais impressionante acontecimento natural
quepresenceei».
Essa fotografia, que vi depois, mostrava raios de luz mais peque-
ninos, que Carlos não referira, e que irradiavam por baixo do raio
maior para dentro da água. Era um slide. Depois de fazer uma cópia,
Carlos mostrou-o a dois colegas do departamento de Física da uni-
versidade local. Começaram por dizer que o raio de luz podia ser um
pilar solar, mas depois puseram essa hipótese de lado devido ao for-
mato, ao arco amplo, à névoa e às faíscas dentro e fora da água, no
ponto em que o raio atinge a água. Segundo os seus cálculos, o sol,
naquela altura, punha-se mais para noroeste do sítio onde o raio caiu.
Carlos também dá cursos de fotografia e não acredita que aquilo
416 SEQUESTRO
estrutura ocular ou ser alguma coisa sobreposta. «Não sei bem se
isto faz parte do seu «corpo» ou se o que descrevo [sob hipnose] são
de facto óculos protectores ou uma parte de um capacete.» Numa
sessão de hipnose posterior fez referência a um capacete muito justo;
antes disso, pedi-lhe que me descrevesse os olhos e «é possível que
eu estivesse a descrever um só ou ambos. É como se estivesse a olhar
através de óculos muito grosssos, mas vejo a sua composição, a
carne viscosa. Os globos oculares ou lentes são transparentes e, por
isso, quando as pessoas os vêem no escuro, pensam que são pretos.»
Por detrás dos «óculos protectores» havia uma pupila vertical pare-
cida com uma fenda, como têm os gatos, e uma íris grande e circular
«com castanhos e vermelhos que andavam à volta», estreitando-se e
alargando-se, contraindo-se e expandindo-se, «totalmente diferente
do nosso globo ocular». As alterações de cor produziam-se «em toda
a íris».
Carlos achava que estas criaturas não se adaptavam a nenhuma
descrição estereotipada e que algumas espécies pareciam andrógi-
nas. Reparou que, quando o examinavam, estava habitualmente pre-
sente uma entidade mais alta, «provavelmente um ser feminino» que
parecia controlar alguns dos programas (ela acalmou-o quando ficou
cheio de medo durante uma das sessões). Disse que era cinzenta, mas
acrescentou que muitas vezes a névoa que a envolve muda de cor
«irradiando um tom rosado, cor de malva, e laranja. Está sempre
envolta numa névoa... É magra, parecida com as outras criaturas
pequeninas, mas ela é mais alta e por isso parece mais alongada; tem
os mesmos olhos e o nariz e a boca minúsculos».
Carlos descreveu salas de vários tamanhos no interior da nave,
com tectos curvos e com corredores de ligação. Chamou a uma das
salas «uma rotunda; uma sala grande». Uma outra tinha «um plano
inferior e outro superior», com «uma série de coisas parecidas com
fios eléctricos no tecto», que faziam lembrar as veias do cérebro.
Entre esses dois planos, havia uma zona com janelas ou ecrãs que
formavam um círculo, na parte central da sala. As criaturas podiam
andar por essa espécie de balcão e observar; era um espelho com
duas funções: funcionava como lugar de projecção ou como ecrã.
Era como se estas janelas/ecrãs fossem feitas de uma combinação
de metal/cristal/espelho/vidro». Carlos disse que se quisesse repre-
sentar isto artisticamente faria um céu com nuvens ou uma paisagem
em tiras de plástico suspensas, umas em frente às outras. Já traba-
418 SEQUESTRO
robô é um mecanismo operacional funcional, talvez uma criatura
biomecânica; é uma construção mental feita por eles. Conseguem
dar-lhe forma e então nós conseguimos apreendê-la.»
Como a percepção indistinta desta criatura causou náuseas
a Carlos durante a nossa primeira sessão de hipnose, sugeri que ele a
pusesse de lado e continuasse a abordar outros aspectos da experiên-
cia que estávamos a analisar. Contudo, quando saiu do estado de
transe hipnótico, Carlos disse que queria enfrentar os seus medos
recorrendo à hipnose e que fora principalmente por isso que procu-
rara a minha assistência. Considerava que era importante enfrentar o
medo que sentia em relação a estas criaturas robotizadas; não tinha
medo das outras espécies. As náuseas e o medo persistiram desde a
primeira regressão hipnótica, disse ele, durante as quais nem sequer
conseguira falar, mas, como era previsível, estavam sempre relacio-
nadas com os exames ou com as cenas que envolviam os seus filhos
ou quando era separado deles. Na nossa segunda sessão de hipnose
Carlos foi capaz de confrontar estas percepções em pormenor e
avançar para esta parte da experiência.
Apesar da angústia que lhe estava associada, Carlos também
encarou este contacto em lona como purificador, enriquecedor e
mesmo extático, um paradoxo que muitos trabalhos elaborados por
investigadores referem como comum a outros sequestrados.
O relato dos acontecimentos ligados à visão da luz cor de pês-
sego ilustra melhor este aspecto da sua experiência. Depois de ter
tirado a primeira fotografia da queda de luz, Carlos recuou, olhando
através da lente da máquina para ver se conseguia apanhar as nuvens
sobre a baía. Depois lembrou-se que a luz, talvez um feixe luminoso,
estava por cima dele e sentiu um «zumbido» no corpo e começou a
cair. Caiu para trás em consequência do que parecia inicialmente ser
umflash brilhante ou uma luz, «levantei as mãos para proteger os
olhos da luz... Estava rodeado por este círculo enorme de névoa ro-
sa-pêssego que dançava e se movimentava à minha volta, e depois
fui levado ou elevado para a nave e acho que me despiram, mas não
tenho a certeza. Estava num tempo diferente. Não sei como é que
fiquei nu.» Neste ponto, tornou-se-lhe difícil distinguir as memórias
dos vários contactos; ele sabia que, em determinada altura, a nudez
era uma condição necessária para a realização dos exames durante o
processo de contacto.
Quando subia por este feixe luminoso, viu a «ponta da nave nas
420 SEQUESTRO
como Carlos o faz, como uma forma de transmissão de informação
— dos extraterrestres, ou do que quer que eles representem, até ao
experimentador; do experimentador até à pessoa seleccionada para
relatar a informação (neste caso eu); e, finalmente, do relator até aos
seus leitores ou ouvintes. Em cada uma das fases, o relator seleccio-
na e interpreta a informação que possui, dando mais importância
a alguns dados do que a outros, processo que é já, em si mesmo, uma
espécie de interpretação. No caso de Carlos, a informação sobre as
tecnobiologias envolvidas na transmutação ou metamorfose do
corpo-enquanto-matéria em formas de energia, parece constituir
o significado principal ou o dado central da sua história. Isto consti-
tui um dado importante para que possamos entender, por exemplo,
como é que os seres humanos são transportados através das paredes
ou das janelas quando se dirigem para as naves, ou como é que os
seus corpos são levados para o espaço. Considero que é notável a
quantidade de informação que lhe foi «facultada», ou que lhe foi for-
necida sobre o funcionamento deste processo. Porque é que lhe foi
facultada essa informação? A resposta a esta pergunta constitui um
mistério. O facto de ele ser um artista extremamente sensível aos
fenómenos que envolvem a luz é um aspecto a ter em conta. Mas isso
não nos permite avançar muito. O sequestro de 15 de Abril, em lona,
foi particularmente rico em informação sobre este procedimento. E
Carlos também referiu que este era o lugar indicado para aprofundar
as nossas pesquisas.
Há duas fases no contacto de lona que são dignas de nota a este
respeito. A primeira ocorre quando o raio de luz se aproxima de
Carlos no início da segunda parte do sequestro, no momento em que
está a ser levado para a nave. A segunda diz respeito a uma espécie
de instrumentos de cristal na nave. Carlos afirma que os mecanismos
cristalinos constituem um dos temas a que acedeu durante algumas
sessões realizadas com o Dr. Ward. Parece ter a ver com a imagem
televisionada/projectada de miniaturas holográficas, exibindo cenas
da vida particular e colectiva para que ele as observe.
Carlos identifica «centelhas de luz» que são «pequeninos nú-
cleos essenciais do ser-energia», incluindo a queda de luz. Depois, o
raio de luz envolveu-o — e ele relaciona isso com a energia sexual;
como, por exemplo, o delirante orgasmo que reviveu durante a hip-
nose — o seu corpo parecia que estava «às camadas... expandindo-se
e contraindo-se na neblina. Sentiu um formigueiro em todo o corpo e
422 SEQUESTRO
tárias» com botões que se assemelhavam a computadores, localiza-
das nos cantos exteriores daquela sala grande e com o tecto alto.
Estavam pequenas criaturas sentadas nessas secretárias e trabalha-
vam com as máquinas. Mais acima, sobre as secretárias, via-se tam-
bém uma plataforma com janelas; essa plataforma tinha o seu
próprio corredor de acesso que ligava com o interior, mas tinha tam-
bém uns carris. O corredor de acesso ou rampa da plataforma circun-
dava toda a zona circular e tinha janelas para o exterior.
Carlos deitara-se numa espécie de mesa que era também um
«bloco de cristal» dentro do qual ou sobre o qual ele estava, posição
que dependia, segundo esclareceu, do tipo de investigação que era
feita na altura. O ser feminino, anteriormente referido, estava pre-
sente, «para dar apoio espiritual», e fez entrar as entidades com cara
de réptil e corpo de insecto, tipo robôs, que realizaram individual-
mente «uma operação» que foi extremamente dolorosa e que foi
levada a cabo com a ajuda de um instrumento que Carlos descreveu
desta maneira: «Não sei de que são feitos estes cristais, parecem ter
mais metal do que vidro, mas têm luz. Consigo vê-lo [um dos instru-
mentos de cristal usados durante os exames]. É parecido com um
tubo quadrado de cristal com os lados cortados, de modo que as
extremidades parecem ter oito faces, mas é grande no meio e pe-
queno nas pontas, como uma esquadria. E na ponta tem a forma de
uma pirâmide. Projecta raios laser para dentro do corpo, mas parece
mais uma agulha porque faz doer, e parece-se com uma agulha.»
Carlos apontou algumas diferenças entre as memórias aparente-
mente sobrepostas que surgiram durante as sessões de hipnose. «A
descrição do que sucedeu a seguir passa-se num outro tempo, que
não tem nada a ver com a altura em que se deu a experiência de lona,
durante a minha última vida; penso que se situa nos meus cinco anos,
quando tive uma pneumonia. Penso que os 'pormenores pouco pre-
cisos' que são mencionados nos parágrafos anteriores, serão prova-
velmente associações de memórias, em particular com o contacto
que tive quando era jovem e vi uma bola de fogo. Uma recordação
revivida através da hipnose parece provocar simultaneamente mais
do que uma memória, mas alguns dos processos de transformação
diferem, aparentemente de acordo com vários objectivos e inten-
ções. Há diferenças subtis que dependem da função da metamorfose
ou da investigação que também creio que são metamórficas, ou seja,
que são introduzidas mudanças funcionais. Aquelas que são centra-
426 SEQUESTRO
não se pode comparar a hipnose a um diário de sonhos, quando um
sonho nos faz acordar momentaneamente a meio da noite. Acor-
damos e as imagens residuais, embora ilusórias, estão na nossa
mente, e aí tomamos nota de uma ou duas palavras esperando que
sejam suficientes para, de manhã, desencadear o processo de memó-
ria e trazer tudo até ao nível do consciente.
Durante a nossa segunda sessão de hipnose, Carlos sentiu que,
durante os exames, lhe foram introduzidas sondas anais, mas isso
pode não ter ocorrido durante esse sequestro, podendo tratar-se de
uma evocação de outros tempos. «Eles estão a certificar-se que, den-
tro de mim, está tudo bem, eles estão a operar-me, isto é, examinam
os meus órgãos, músculos, etc... Se houver alguma coisa que não
esteja bem, o processo pode ser de cura (nem sempre).» Foram-lhe
introduzidas sondas; raios de luz «inspeccionaram» o seu coração,
costelas, e outras partes do seu corpo; «verificavam o meu bem-estar
físico»; e «queriam certificar-se que eu tinha a constituição física
que lhes permitisse continuar».
«Fazem um exame minucioso utilizando raios de luz. Servem-se
de novo da luz rosada... cores diferentes para fins diferentes». O pró-
prio instrumento parecia metamorfosear-se em luz. «A luz entrou no
meu corpo», prosseguiu, «vê, eles entram, e é como um instrumento,
mas dissolve-se como eu me dissolvo, e isso faz parte deste pro-
cesso, as metamorfoses; eles produzem a mudança recorrendo aos
seus instrumentos tipo laser... Sinto muito calor», disse ele, «no meu
coração; acho que está a curar alguma coisa. A desobstruir artérias
ou coisa parecida.»
Carlos disse que, por vezes, conseguem entrar «através da planta
dos meus pés.» Outras vezes, o exame faz-se através de orifícios do
corpo. A sonda anal, por exemplo, dá uma sensação de «prurido»
que se espalha pelo corpo todo enquanto dura a experiência. O pru-
rido parece estar relacionado com a absorção da energia luminosa.
Sugeriu que «é uma questão de luz, mas pode adquirir uma espécie
de forma mais sólida do que aquilo que conhecemos. Faz o que tem
de ser feito para saber como evoluo, utilizando instrumentos que são
diferentes dos nossos, mas que para nós são agulhas... bem, não é
doloroso (este procedimento) a não ser que tenhamos medo; é quase
erótico, em termos totalmente corporais.» (Refere-se a todo o pro-
cesso, e não apenas às sensações anais. Mas...) «Quando estão aqui
(no ânus) sinto as radiações progredirem em direcções circulares,
428 SEQUESTRO
últimos a desaparecer (à medida que nos apercebemos do processo
de transformação das criaturas em luz) e então parece que elas desa-
parecem ou são absorvidas por isto». Afirma que elas, tal como ele
próprio, e todos os humanos, que conclui serem uma fonte de ener-
gia-luz, «são criaturas luminosas», mas «biologicamente diferentes
de nós... Somos e existimos através do nosso corpo, e elas são ou
existem através daquilo de que são feitas».
Há alturas em que Carlos sente que ele próprio é um extraterres-
tre, quando se sente isolado e quando também é identificado como
um ser extraterrestre, que existe «em mais do que um nível de cons-
ciência», entendido como diferente, «um ser híbrido». Tanto ele
como as criaturas são «intermediários entre a fonte de conhecimento
do universo» e os seres da Terra. Tanto a sua transformação como a
deles estão de algum modo ligadas. Durante o contacto e mesmo
quando estavam separados, ele sentia estar dentro da cabeça ou do
«capacete» das criaturas répteis ou de outras criaturas extraterres-
tres. «Sinto que estou a olhar através dos seus 'capacetes' (ou se o
capacete é uma estrutura da cabeça do réptil, o seu crânio biótico)...
Na verdade, não é um capacete». Persiste em usar esta palavra para
referir alguma coisa que «eles colocam». Acrescenta que considera
que há uma estrutura comparativa entre o formato da cabeça das
criaturas bio robóticas e os capacetes que os outros usam. Acha que
ambos têm funções idênticas.
Na primeira sessão de hipnose com o Dr. Ward, pareceu-lhe que
eles usavam máscaras ou filtros que lhes aumentavam a visão, o que
pode ser relevante em termos do mecanismo do capacete e enquanto
acessório do uniforme. «O capacete que usam ajuda-os a ver várias
coisas, como a progressão das doenças, as formas ou manifestações
da oxidação, confluências da atomização química, temperaturas,
exposição ao rádio, órgãos internos, etc». Quando lhe foi dada a
oportunidade de usar o capacete ou, pelo menos, de o examinar,
«Olhei através do capacete e vi como um robô ou extraterrestre vê.
Sinto que o que vejo é gravado. Olhando para fora, a partir do inte-
rior, os olhos do capacete-máscara são salientes». O capacete «tem a
mesma forma (das cabeças dos extraterrestres, e a cavidade dos
olhos ajusta-se à sua estrutura facial), por isso é que nos assustamos
muito quando os vemos, porque têm um aspecto estranhíssimo...
vemos olhos duplos, olhos escuros, observando-os com o capacete
posto, a partir do exterior, embora possamos não reparar que eles
430 SEQUESTRO
esteja relacionado com «alguma coisa anterior à minha vida, na fase
de transformação em criatura. Reflecti sobre a possibilidade de me
manifestar sob a forma humana e depois ofereci-me como voluntá-
rio para vir à Terra.» Esta capacidade para adquirir uma perspectiva
extraterrestre, um acto de identificação, se não enforma, é pelo me-
nos importante para a arte de Carlos e tem a ver com a suas capaci-
dades curativas. Enquanto extraterrestre, tem a vantagem de poder
olhar «pela janela (como se estivesse no balcão da nave) e ver a ter-
ra em baixo... É daí que vem o ponto culminante! O meu trabalho
culminante...»
Carlos interrompeu a narrativa neste ponto e reflectiu. Referiu-
-se depois a uma colecção de treze trabailhos de grandes dimensões,
desenhos de paisagens de cumes de montanhas, nos quais utilizou
uma mistura de vários materiais e referiu também uma série de qua-
dros a óleo ainda maiores e inacabados, que integram um trabalho
panorâmico enorme (quatro séries de treze trabalhos) destinado a
um edifício que está a planear desenhar e construir, edifício esse
que será um lugar de meditação, de oração e de consciencialização
para os problemas ambientais. Simultaneamente, tem estado a tra-
balhar em sete séries de treze desenhos cada, subordinados ao tema
Eros e Mer, que crê estarem relacionados com as suas experiências
de lona. Carlos expôs a primeira série de desenhos na Cloud
Meditation Chapei, em Novembro de 1992, uma exposição que per-
correu, desde essa data, várias galerias. O nome desta exposição é
Queda de luz —A Passagem Mística, apresentando à entrada as
fotografias de lona. Carlos explicou que, em termos numerológicos
e mitológicos, o número treze simboliza sabedoria — a sabedoria
está associada à deusa Sofia; Carlos defende que a sabedoria é
necessária no mundo de hoje devido à tendência humana ganan-
ciosa para reverter o processo natural, submetendo-o às normas
humanas. Carlos pretende que a sabedoria seja activada na terra,
entre as outras espécies e no universo ecológico do qual fazem parte
a terra e os seus habitantes. Para Carlos o número treze também
simboliza abertura, um número irracional pertinente para as irracio-
nalidades (não é a mesma coisa que não-racionalidades) do espírito
criativo, que possibilita a recepção participativa, ao contrário do
número doze que é um número fechado e formal. Considera que há
um significado astronómico — planetário e solar — e também
432 SEQUESTRO
DISCUSSÃO
Nenhum de nós conseguiu separar as dimensões metafóricas e míti-
cas da sua narrativa das que ocorrem em, ou são do, nosso, ou qual-
quer outro mundo físico concreto. Este caso apela para a anulação
desta distinção que tem sido tão conveniente, senão mesmo essen-
cial, à percepção ocidental da realidade. Talvez seja suficiente dizer,
no início da interpretação das suas experiências, que ele as considera
extremamente reais, não dando resposta à questão do domínio ou
universo a que pertencem. O quê ou quem são os extraterrestres, ou,
como Carlos prefere, «criaturas» ou «seres luminosos», não sabe-
mos. Simultaneamente, o profundo relacionamento entre Carlos e
eles constitui o núcleo das suas transformações. «Eu sou um
xamã/artista/professor», disse Carlos sob hipnose, atribuindo a sua
evolução às experiências de contactos com extraterrestres. «Eles são
os professores», prosseguiu, mas o relacionamento é, de algum
modo, recíproco, porque «eles também estão realmente interessados
em aprender connosco.» Carlos referiu que o xamã «utiliza técnicas
para alterar a psique, e o que ele faz é jogar com o discurso emocio-
nal entre o professor e a comunidade, entre o xamã e o estudante,
entre a pessoa que viaja e a pessoa que permanece e que passa a sua
vida aqui. Ensina recorrendo à emoção e à experiência. Considera
que o ensino e os resultados do processo implicam a transformação
subtil do espírito. «O ensino, tal como a criação artística verdadeira,
é uma actividade espiritual.»
Como professor de belas-artes e teatro, Carlos procura incutir
nos seus alunos uma experiência estética forte e transcendente, que
os faça ver o lado selvagem, imenso e maravilhosos da natureza e da
criação. A pintura e a escrita são meios que usa para chamar a aten-
ção para os problemas ambientais. É uma pessoa politicamente
activa na sua função de protector da terra e, pouco depois de regres-
sar de lona, ajudou a criar um Partido Ecologista no Tenessee, parti-
cipando na redacção dos estatutos e princípios. A sua mensagem
centra-se na «plenitude do ser da terra». Mais uma vez, estabelece
ligação entre a evolução da sua consciência terrena com as suas rela-
ções com as criaturas. «A sua função é a protecção» e «eles obser-
vam as minhas mudanças». Durante os seus contactos, Carlos
esforça-se por dominar a sensação de separação da terra, procurando
ligar-nos de novo a ela e fazer-nos entender a sua fragilidade. A
434 SEQUESTRO
ele». Um mês depois, Carlos escreveu-me: «Sentir a presença per-
mamente de um predador faz parte do medo, mas para mim existe
um fascínio, ao mesmo tempo que mina a própria natureza preda-
dora. O fascínio é inerente ao temor, fortemente sentido através da
presença misteriosa e talvez sinistra.»
A proximidade da morte parece fazer parte da vida de Carlos, e
os temas da morte e do renascimento estão relacionados com as suas
experiências extraterrestres, começando logo após o nascimento e
durante a primeira infância quando «renasceu» num novo corpo com
um ano de idade e quando a sua vida foi salva através dos poderes
terapêuticos do ser extraterrestre, quando tinha cinco anos. «Os nos-
sos trabalhos artísticos [incluindo os seus] estão recheados de
morte», escreve ele. «A minha própria vida está recheada de morte.
A minha vida tem sido testemunhar a morte, vezes e vezes sem
conta.» A ligação íntima de Carlos com uma fonte cósmica que ele,
como muitos outros sequestrados, chama «o Lar» fez que ansiasse
morrer. «Rezo todos os dias para que isso aconteça», disse ele «há
muito, muito tempo». Adora a sua existência física, mas a sua encar-
nação está recheada de dor e de perda, incluindo a perda de alguém
de que gostava. Receia que «não me seja permitido morrer» e que
«continue a envelhecer cada vez mais... A experiência humana é
perda», diz ele, «mas não há nada material para perder porque está
tudo aí. Mas, sabe, a perda pessoal é muito difícil, perdi tanta gente
que amava nesta vida...»
Os exames completos a que foi submetido (como tantos outros
sequestrados) não se destinavam unicamente à investigação. Tem a
impressão que eles alteraram a «estrutura energética» do seu corpo.
«É uma operação, mas a operação é simultaneamente um exame
enquanto ser humano que sou, constituído por músculos-carne-osso-
-estrutura. Eles sabem que há uma componente aqui que é um orga-
nismo conjunto. O conjunto do organismo é um receptáculo, uma
modalidade sensorial... é como se fôssemos uma máquina, mas claro
que não somos. Somos uma substância bio-real que possui modali-
dades sensoriais que possibilitam a percepção e a memória, que traça
em nós uma história. Uma das minhas funções nisto tudo é ser anali-
sado, e por vezes curado, e estou ligado ao meu ambiente, que inclui
todas as criaturas.» Carlos sente que o que lhe fizeram se destinava a
preservar a sua estabilidade e integridade orgânica, «uma renova-
ção», de modo a permitir que fosse um professor, ao mesmo tempo
436 SEQUESTRO
comunicação, que a sua «abertura é não só um exemplo (enquanto
forma de comunicação) e (opera no processo de comunicação) por...
como (o processo de) osmose. E, paralelamente ao contacto com as
criaturas, eu estou (também) continuamente a instigar e a sondar e a
ensinar e a mudar toda a gente com quem eu (estou ou me ponho) em
contacto (com) (através da troca de experiências, processos artísti-
cos, etc.) da mesma maneira que sou afectado por cada uma das pes-
soas em cada uma das situações.» Em arte, Carlos está a «praticar» e
a «reforçar a metamorfose» porque acredita que a sua «arte é tanto
uma forma de exploração e partilha, uma forma exterior que se
manifesta através do processo criativo ao mesmo tempo que opera
através» dele.
Os seus contactos permitiram-lhe essencialmente alcançar uma
profunda abertura espiritual, pondo-o em contacto com uma luz ou
energia divina, a que chama «O Lar», e que é a fonte da sua terapia
pessoal e poderes transformadores. Quando, durante as nossas ses-
sões, Carlos se aproximava desta luz sentia-se invadido por emoções
de temor e desejo de se fundir com a energia/luz/ser. Espaço e tempo
desapareciam, e ele sentia que era energia pura e luz e consciência,
numa eternidade sem fim, «uma experiência puramente espiritual...
regresso à origem porque não sou apenas humano. Preciso de
regressar à origem para poder continuar.»
Carlos, como muitos outros sequestrados, desenvolveu uma
forte consciência ecológica. Preocupa-se muito com a terra e com o
seu futuro. Se isto é um subproduto não-intencional de um processo
que nem ele, nem nenhum de nós consegue abarcar, ou se é uma
parte integrante do fenómeno extraterrestre, é algo que obviamente
não sabemos. Carlos não tem dúvidas que os extraterrestres, apesar
dos métodos grosseiros e mesmo brutais que usam, estão a tentar
dominar o nosso comportamento destrutivo. «Há cruzamentos de
espécies. Não existe só a espécie humana ou a espécie animal. Se
senti crueldade quando (utilizavam as suas máquinas, os seus
robôs), também eles conhecem a nossa crueldade, a nossa vontade
(isto é, a imposição da nossa vontade), os nossos limites — são auto-
-destrutivos, sendo por isso destrutivos em relação a todas as coisas.»
A terra e os sistemas a que está ligada estão em perigo de «morte».
Os extraterrestres «parecem-se com zangões muito pequeninos que
integram uma complexidade muito mais vasta cujo objectivo é a
sobrevivência». São «jardineiros da Terra», diz Carlos, «tentando
438 SEQUESTRO
riência de proximidade com a morte é... um lugar transitório que está
no meio. E um lugar espiritual, de reunião.» A terapia física e emo-
cional, que é para os extraterrestres um motivo de preocupação, é
uma parte importante desta transformação. «Estamos doentes e
depois ficamos curados. Cada processo terapêutico permite estabe-
lecer e fazer a ligação com o crescimento emocional humano, tor-
nando-me capaz de utilizar isso ensinando os outros.»
CAPÍTULO QUINZE
ARTUR:
UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO
Artur telefonou-me em Janeiro de 1993, a conselho de uma
senhora com quem conversara sobre uma dramática visão de um
OVNI, ocorrida quando tinha nove anos, e que também fora teste-
munhada por outros membros da sua família. Ela conhecia o meu
trabalho com sequestrados e Artur sentiu curiosidade em explorar
mais a fundo este incidente. Jovem empresário extremamente bem
sucedido — tinha trinta e oito anos na altura em que me contactou —
Artur possui casas maravilhosas em ambas as costas e está empenha-
díssimo na democratização do capitalismo, com vista à criação de
um ambiente seguro e à preservação do futuro do planeta. Tanto ele
como outros membros da sua família atribuem o seu empenhamento
social e ecológico, bem como o seu sentido de responsabilidade, ao
efeito profundo e duradouro da sua experiência aos nove anos de
idade.
Escolhi este caso que agora começámos a analisar para fechar
esta série porque ele nos oferece um exemplo positivo do futuro da
humanidade, entre os vários possíveis que temos perante nós. Os
nossos comportamentos colectivos, veiculados através de institui-
ções, têm um impacto fortíssimo em termos ecológicos. Entre estas
instituições comerciais com fins lucrativos, que têm um forte
impacto em todo o globo, encontram-se talvez os mais poderosos
agentes da destruição planetária que os seres humanos criaram. Por
outro lado, uma gestão cuidadosa destas empresas, profundamente
consciente da sua relação com o meio-ambiente, pode ajudar a travar
a devastação e transformar-se num dos mais importantes instrumen-
440 SEQUESTRO
tos que temos à nossa disposição para restaurar e preservar a saúde
do planeta.
Se, tal como considera Artur, os seus contactos extraterrestres
foram a causa da evolução do seu sentido de responsabilidade pes-
soal e empresarial, então ele e outros como ele têm muito para ensi-
nar sobre o objectivo fundamental do fenómeno de sequestro. Artur
está permanentemente a viajar por razões profissionais, e por isso o
nosso contacto limitou-se a uma entrevista inicial, uma sessão de
hipnose e alguns telefonemas. Participou também em algumas reu-
niões do grupo de apoio, durante alguns dias após a regressão.
Artur é o quinto de seis irmãos pertencentes a uma família cató-
lica, influente e conservadora, oriunda da costa Leste, da qual fazem
parte muitos juizes, advogados e homens de negócio famosos. O pai
era um advogado famoso e a mãe uma importante agente imobiliá-
ria. Tem uma família muito numerosa que descreve como tradicional
e também «extremamente fechada». Tanto ele como os seus irmãos
foram criados como «meninos ricos e mimados» e tinham criados e
criadas que lhes faziam tudo. Considera que alguns dos seus princí-
pios lhe foram transmitidos por essas pessoas que trabalhavam em
sua casa «e que eram de facto boas pessoas». Artur passou grande
parte da sua vida numa herdade enorme, propriedade da sua família
há mais de cem anos. Foi perto desta herdade que ocorreu o inci-
dente dos seus nove anos. Não se recorda de nenhum tipo de inci-
dente traumatizante ocorrido no ambiente bucólico onde passou a
sua infância.
Artur sempre devotou uma grande paixão à natureza, e passava
muito tempo nas matas ou a pescar, dentro e fora da propriedade da
família. Lembra-se que manteve sempre um relacionamento espe-
cial com os animais. Como o seu avô e bisavô abatiam e embalsama-
vam animais, Artur, uma espécie de S. Franscisco actual, comunicava
com eles, incluindo porcos-espinhos, doninhas, marmotas, coelhos e
pássaros. Contou-nos a este propósito uma história passada na
quinta da sua ex-mulher. Ela tinha muitos coelhos na quinta e
domesticava-os, deitando-se «com o queixo no chão»; nesta posi-
ção, os coelhos deixavam de ter medo do ser humano. Ficavam
«muito quietos» e curiosos, aproximavam-se e «deixavam-nos coçar
as suas cabeças.»
Artur referiu que os coelhos têm um músculo atrás das orelhas e
que, quando estão cansados, têm necessidade de o coçar e massajar,
442 SEQUESTRO
estimativas, valem cerca de dez milhões de dólares. Cada uma delas
investe em associações filantrópicas. Por exemplo, Artur e a sua ex-
-mulher utilizaram a maior parte dos lucros de uma empresa de
pronto-a-comer, cuja venda rendeu quinze milhões de dólares, na
compra de um pedaço de terra destinado a uma reserva de aves
migratórias e doaram o resto do dinheiro a programas ligados à pro-
tecção da natureza e similares. Está actualmente a trabalhar com
várias centenas de corporações dos E. U.A. autorizando-as a utilizar
tecnologias especiais, com a condição de cederem uma percentagem
a fundações particulares.
«Qualquer pessoa pode criar uma empresa e ganhar milhões de
dólares», disse Artur. O desafio é «descobrir como é que se pode
canalizar isso para um objectivo mais nobre, que afecte as outras
pessoas, fazendo que a empresa seja um modelo, que os seus produ-
tos sejam exemplares.» Os resultados serão então recompensadores.
«Não é só o dinheiro que motiva as pessoas», observou Artur. A sua
ex-mulher coloca mensagens ecológicas nas embalagens de vários
produtos e recebem milhares de cartas de agradecimento dos consu-
midores. Tenta responder pessoalmente a cada uma das cartas, mas
embora isso seja meritório, «é egoísta», diz ele, «porque recebemos
mais do que damos.»
Um artigo publicado num jornal de Nova Inglaterra, datado de
Março de 1993, descrevia pormenorizadamente as criativas activida-
des comerciais de Artur e da sua ex-mulher. O artigo falava dos imagi-
nativos processos de reciclagem, incluindo um programa de
reciclagem para os sem-abrigo, uma nova tecnologia de embalagem
com mensagens concebida por Artur, e «pequenos textos» sobre o
ambiente, que acompanhavam as embalagens. O artigo trazia uma
citação da sogra de Artur que o apelidava de «infatigável» e o conside-
rava «o tipo de pessoa que passa a vida a pedir-nos dinheiro, para
depois o utilizar». Num contacto recente, em Agosto de 1993, (telefo-
nou para «fazer a marcação» e para saber quando seria a próxima reu-
nião do grupo de apoio), Artur disse a Pam que vendera a sua nova
tecnologia de empacotamento a grandes cadeias de empresas do ramo
alimentar. Disse que «tinha muitos projectos na forja», como jardins
colectivos de bairro, um projecto «por um capitalismo mais democrá-
tico» e uma «fundação destinada às mulheres» que estava a imple-
mentar com os lucros da venda da nova tecnologia de empacotamento.
Artur considera que a falta de abrigo e a destruição do meio
444 SEQUESTRO
que estava a cerca de quinhentos metros de distância, as luzes eram
«duas luzes brancas parecidas com holofotes, mas eram mais espa-
çadas e estavam em cima da árvore.» Não sabia onde estava («seja
como for, fiquei completamente confuso» ) e «era muito mais tarde
porque estava escuro». Artur recorda, pêlos menos, dois episódios
de apagamento do tempo, ocorridos no início da sua adolescência.
Uma das vezes, estava a seguir o rasto de um veado na floresta e
«horas mais tarde, estava no mesmo lugar de onde acabara de sair».
Quando se lembrou que tinha visto os seres extraterrestres durante o
episódio dos seus nove anos, eles pareceram-lhe «velhos amigos das
brincadeiras».
A experiência central da vida de Artur relacionada com OVNI
ocorreu quando tinha nove anos. Embora tenhamos explorado por-
menorizadamente este episódio recorrendo à hipnose, Artur evocou
conscientemente uma grande parte no nosso primeiro encontro. Ele,
a mãe, a irmã mais velha e um, ou talvez dois, dos seus irmãos volta-
vam para a casa da herdade, depois de irem ao cinema da cidade pró-
xima. Calcula que tinham ido ver uma comédia «já que os nossos
pais só nos levavam a ver comédias». A sua mãe ia a guiar, Artur e a
irmã iam atrás, e o irmão mais novo, e talvez um dos mais velhos,
iam à frente. Quando atravessavam uma estrada escura, já no campo,
a mãe disse: «aquele avião está a voar extremamente baixo». Depois
acrescentou, com a voz preocupada, «aquilo não é um avião» e obri-
gou toda a gente a baixar-se dentro do carro. «Vi a mão dela a descer
e a empurrar-nos para baixo...», disse ele, e pensou «até que enfim
que isto vai ser emocionante.»
Artur e a irmã estavam metidos no espaço em frente ao banco de
trás, e ele viu um objecto com cerca de «trinta ou quarenta metros»
em cima do carro. «Tinha muitas luzes diferentes, mas não sei dizer
qual a cor de cada uma das luzes, eram apenas luzes diferentes e
coloridas.» A luz «aproximava-se da janela da minha mãe e da
minha» e Artur achou estranho que a luz chegasse até ao chão mas
não produziasse sombras. «Estava tudo cheio de luz», mas Artur
sabia que o objecto que tinha visto «era a fonte de luz... Era uma luz
impressionante. De um branco puro, se é que existe. Totalmente
puro, e estava em todo o lado.» Estar envolto por aquela luz dava a
sensação «que estávamos a nadar, que estávamos dentro de água e
que a água era fosforosa.» Viu que o objecto tinha diferentes luzes,
«como as luzes da árvore de Natal, mas não eram lâmpadas».
446 SEQUESTRO
dissociativa que vivenciara serviam para «reduzir a velocidade» da
informação que lhe estava a chegar. «Eles [os seres] sabem que con-
seguem maravilhar-nos», disse ele, «e a ansiedade é o muro ou outra
coisa que está no meio... Se eles nos destroem ou se nos metem
medo, deixam de poder comunicar connosco.»
Artur não tem a certeza do tempo que o carro esteve parado.
Demoravam cerca de vinte minutos para chegar do cinema até casa, e
calcula que tenham saído às oito e meia ou nove. A avó estava à
espera deles e era provável que ficasse preocupada se eles se atrasas-
sem mais de duas horas, e por isso ele calcula que o incidente não
tenha demorado mais de uma hora ou uma hora e meia, («normal-
mente parávamos para comer um gelado»). Artur não se lembra de ter
reiniciado a viagem de regresso a casa. No carro ninguém falou, e a
mãe não falou sobre o incidente nem à sua mãe, nem ao marido.
Achou isto esquisito porque «na minha família, mesmo quando com-
pramos um par de sapatos e nos enganamos no número, isso é falado,
e por isso é incrivelmente esquisito, porque falamos de tudo».
Tudo indica que nenhum dos presentes nessa noite falou sobre o
incidente durante vinte e cinco anos até que, no Verão de 1989, se rea-
lizou uma grande reunião que juntou centenas de membros da família
de Artur com o objectivo de comemorar o centésimo aniversário da
propriedade da família. Durante este encontro, Karen, irmã de Artur,
aproximou-se dele e perguntou-lhe se se lembrava de alguma coisa
«sobre aquela noite em que regressavam do cinema.» Primeiro não se
conseguiu lembrar de nada, e então ela perguntou: «A mãe lembra-se
de alguma coisa?» Também não sabia responder, e então Karen «deu a
sua perspectiva dos acontecimentos dessa noite... Contou um pouco, e
foi como se disparasse uma coisa dentro de mim, e as peças começas-
sem a encaixar-se». Karen contou-lhe que «o carro foi inundado por
uma luz incrível» e a sua mãe estava muito assustada. Havia pormeno-
res que coincidiam com o relato de Artur, acima transcrito. Disse que
Karen «recorda-se de anjos. Ela tem uma queda por anjos.»
Pam falou com Karen pelo telefone quatro semanas depois do
nosso primeiro encontro com Artur. O seu relato é idêntico ao de
Artur, excepto em relação à luz, que Karen refere como sendo
«branca azulada». Tal como Artur tinha dito, o seu brilho permitia
ver o interior do carro «como se fosse dia». A reacção de Karen foi
de surpresa, e ela não põe de lado a possibilidade de sequestro extra-
terrestre, mas não se recorda de outros pormenores. Ao contrário de
448 SEQUESTRO
Conseguiu marcar-se a regressão para 25 de Março, tendo em aten-
ção o calendário de viagens de Artur. Depois do nosso último encontro,
Artur falara com Ted, o irmão que não estivera presente no jantar reali-
zado durante a Primavera do 1990. Embora Ted não se lembrasse se
estava presente quando ocorreu o incidente de 1964, estava «absoluta-
mente convencido que algo de significativo ocorreu ali.» Ted põe a
hipótese de ter estado presente «simplesmente porque é um republi-
cano conservador que não acredita em OVNI nem em nada parecido,
mas que agora está absolutamente convencido da sua existência.»
Artur contou uma estranha história sobre fotografias que o seu
bisavô, um dos primeiros fotógrafos do país, tirou de «duendes e
seres pequeninos», com queixos «mais salientes» do que os dos
humanos, junto a rochedos. Artur achava que se tratavam de bone-
cos de barro que o seu avô, que era um inventor cheio de imaginação,
colocava em cima desses rochedos e depois fotografava. Menos
clara é razão de ser desta actividade, a sua fonte de inspiração. Artur
sugeriu que talvez tivesse sido a sua própria imaginação a estabele-
cer ligação com estas criaturas pequeninas que vira nas fotografias
do seu avô. Ficara com a impressão que «conhecia aquelas pessoas».
Também Ted «está convencido que essas pessoas existem. Para ele
concordar com uma coisa destas é quase necessário pedir a Richard
Nixon que o faça». Antes de iniciar a regressão, Artur reiterou a sua
convicção de que «há uma mensagem que devo conhecer.»
No início da sessão de hipnose comecei por conduzi-lo até à
noite do incidente quando tinha nove anos e pedi-lhe para referir
sentimentos, imagens ou sensações corporais que tivesse. Lembrou-
-se naquele momento que o filme era The Mouse that Roared, com
Peter Sellers, «e acho que comemos montes de coisas, como pipocas
e outras coisas do género». Recordou-se uma vez mais de quem
estava no carro e o que a sua mãe trazia vestido. Ela disse qualquer
coisa parecida com «vai ali um avião a voar extremamente baixo»,
mas pouco depois, com a voz nervosa, disse «não é um avião». A
nave enorme tinha luzes «que cruzavam, quase como um T, mas que
se bifucarvam na parte de trás». Artur viu «vermelho e verde e ama-
relo». A mãe pôs a mão atrás do assento e disse-lhes «para se baixa-
rem no chão», mas «lembro-me de pensar que era tão fixe, nem
sequer sabia do que se tratava.» A nave apareceu pela esquerda,
vinda de trás, «não sei donde» e «parou sobre nós», talvez a cerca de
trinta metros acima, e parecia «encher o céu todo».
450 SEQUESTRO
Seguidamente chegou-lhe uma «mensagem», «parece que estão
preocupados» e «não querem fazer-me mal... Acham que eu estou
com medo» e esta comunicação «ajuda-me mesmo» a acalmar.
Depois (a fonte de informação não é clara neste ponto) «eles estão a
tentar dizer-me que há um fio, como o que a aranha tece, que está
entre nós, mas é muito frágil... 'Não tenhas medo, ou o fio rasgar-se-
-á», disseram-lhe eles. Perguntei-lhe se era mesmo um fio físico ou
se era uma metáfora simbolizando ligação. De facto, Artur conse-
guia ver uma «luz parecida com um fio, como o fio que a aranha
tece, iluminado» no céu, envolto na escuridão. De seguida, eram seis
ou mais «pequenos seres iluminados todos juntos» que lhe diziam
para não ter medo e para não romper o fio com o medo.
Pedi-lhe para descrever os seres. Eram parecidos «com em-
briões», disse ele, «pequenas coisas delicadas». Eram «luminosos»,
e semi-transparentes, com cabeças grandes e corpos pequenos, «bra-
ços fininhos e dedos pequeninos. Talvez não tivessem cinco dedos».
Viu também «pequenas pernas», rostos serenos com «uma boca e
narizes pequenos» e «sem cabelo... parecidos com bebés, com
embriões», disse ele de novo. Tinham todos olhos pretos e eram
mais arredondados que os nossos. Os seres pareciam estar «tão perto
uns dos outros que se tocavam uns aos outros», reparou ele. «São
discretos», mas «os seus braços estão sempre a tocar uns nos
outros... Parecem coelhos. Estão todosjuntinhos como coelhos.»
Perguntei-lhe como é que se segurava no ar e ele disse-me que
era «o fio» com cerca de três milímetros de diâmetro, «talvez como o
fio de um papagaio de papel... Estou ligado a isso, mas não sei
como». Os seres tinham «um aspecto muito divertido», e «compor-
tavam-se de uma maneira divertida... Parecem coelhinhos» disse
ele. «Não pretendem fazer mal a ninguém. Os coelhinhos não fazem
mal a ninguém. Querem brincadeira.» Apesar de poder «partir o fio
se quisesse», os seres puxavam-no para cima, içavam-no «para den-
tro da sala» como se aquilo fosse «uma corda ou coisa parecida.» O
fio era em arco, ou «meio arco». Subiu por uma curva, e por baixo
era a escuridão. «Não podia subir porque era muito íngreme e eu não
ia a andar, subia em ângulo.»
Artur estava «no espaço... Via estrelas, e parecia uma coisa lisa e
bizelada [esta foi a primeira declaração explícita que mostrava que
ele tinha sido conduzido para a navel. Parecia ter a extremidade arre-
dondada, como uma bacia virada de pernas para o ar, parecia mesmo
ARTUR: UM SEQUESTRADOR VOLUNTÁRIO 451
uma bacia». Era feita de aço inoxidável polido. A corda ou fio pare-
cia estar envolvida por uma luz que estava em todo o lado, e como os
seres lhe diziam «para não ter medo», ele «ia simplesmente» por ali
acima, «bem direito», como se estivesse a ser puxado por uma força
oculta. O fio parecia conduzir ao interior da nave «como uma linha
telefónica ou coisa parecida». Agora Artur conseguia ver os seres
dentro da nave, pormenor que achei confuso, uma vez que ele os vira
quando estava a subir pelo fio. «Eles nunca estiveram em baixo»,
disse ele. «Eu via-os através do fio», mas eles estavam dentro «de
uma bola de luz, que está provavelmente dentro da coisa em aço».
Para ele isto parece fazer sentido, mas para mim apenas serviu para
levantar novas questões, e optei por deixar prosseguir.
Artur não se conseguiu lembrar de como tinha entrado na nave
— «não havia nenhuma porta ou coisa parecida». Já dentro da nave,
viu-se numa sala enorme com um piso ondulado e irregular, rodeado
por um círculo de luzes cor de rosa. Os seres conversavam animada-
mente e estavam contentes porque ele não estava com medo. «Sabe,
parece que eles são velhos amigos das brincadeiras... O principal é
que não pretendem fazer mal a ninguém.» Fiquei um pouco espan-
tado quando ele me disse que a sala era tão grande como o Parque
Fenway em Boston «virado de cabeça para baixo». Os seres conti-
nuaram a «tagarelar», comunicando sem se ouvir uma voz ou um
som, rindo e tocando-se uns aos outros, e pareciam que queriam
brincar. Tocaram no rosto de Artur «com muita suavidade. Como
quando tocamos num coelho... Lembro-me que me tocaram nos
ombros e no rosto com as suas mãos», como se tivessem «curiosi-
dade» e movimentavam-se «para todos os lados». Também fizemos
um jogo, «eles atiram-nos com objectos engraçados e nós atiramos
de novo». Pedi-lhe que me desse um exemplo. «Bem, por exemplo
atirar borrões de cores», disse ele, «e sensações mesmo agradáveis.
Um monte de sensações diferentes e agradáveis... É a maneira de
comunicarmos com os coelhinhos», repetiu ele.
Toda esta brincadeira, aliada ao facto de quererem que Artur
estivesse descontraído e sem medo, parecia ser uma preparação para
«algo sério» que se ia seguir. Seres mais escuros deram-lhe a conhe-
cer um «campo da vida» que ele tinha perdido, situado no campo,
onde a natureza é verde e «há folhas e flores e relva e pássaros e pei-
xes e tudo o resto.» Mas havia uma «grande mancha escura que lhe
vai cair em cima. Eles querem que eu saiba qual é a sensação». Esta
452 SEQUESTRO
mancha parece-se com «uma maré compacta, e vai invadir todo o
planeta e matar tudo». Perguntei-lhe porque é que eles queriam que
ele soubesse isso. «Penso que é porque querem ajudar», disse ele.
«Eles não querem que isso aconteça — é tão contraditório.» Sugeri
que ele deixasse explorar a contradição. «Eles perceberam que nós
não somos brilhantes. Somos um bocado estúpidos», disse ele. A
destruição pode ser evitada, mas a única forma de «eles fazerem
alguma coisa» é «comunicando». Mas, ao mesmo tempo, eles
«receiam meter-nos medo», pois «se tivermos medo não conseguem
fazer nada».
Artur acrescentou que o borrão parecia um grande «balão de
água», preto e grande, e que vai cobrir todo o planeta e sufocá-lo.
Perguntei-lhe como é que ele «visualizou» esta ideia. «Eles queriam
dizer-me uma coisa grave», disse ele e «dizem-no provocando sen-
sações». Quando viu o borrão sentiu o medo e a asfixia, a sensação
que «todos iam morrer». No final do que pareceu ser uma espécie de
encenação ou demonstração, os seres retiraram o borrão, comuni-
cando-lhe que o problema era muito sério. Perguntei-lhe qual foi a
sua reacção, enquanto criança com nove anos de idade, face a esta
terrível mensagem. Respondeu-me de forma indirecta que «a coisa
mais maravilhosa é poder comunicar entre pessoas como
comunicamos com estes tipos». O borrão foi provocado pela nossa
incapacidade de promover a vida, de nos livráramos do medo, e de
comunicarmos uns com os outros e com a natureza. A imagem do
que estava a acontecer fez que sentisse medo e tristeza, especial-
mente porque os seres «transmitiam tanta vida, e mostravam o que
acontece quando não a temos».
Regressou ao fio que o tinha conduzido até à nave, que a partir
daquele momento passou a ser uma espécie de metáfora para comu-
nicação e ligação com amor, «semelhante à forma como nos com-
portamos com os coelhos... Algumas pessoas têm de se esforçar
mais», disse ele. A única coisa capaz de liquidar a «energia vital» era
o medo e o borrão era consequência disso. Pedi-lhe que dissesse
mais alguma coisa sobre o medo. «O medo bloqueia tudo», disse ele.
Se temos medo, não conseguimos comunicar uns com os outros,
com os seres, ou com os animais. «Nem sequer conseguimos ter vida
dentro de nós.» Não entendi bem qual era a origem do medo e o que
podíamos fazer contra isso. Afirmou que para «travar o borrão» seria
necessário «enfrentar pequenos medos de cada vez. Podem even-
454 SEQUESTRO
isso é importante. Isto é sério. Mas a sensação é de... de choque.»
Pedi-lhe que desenvolvesse a sensação de choque. «Não é dor»,
disse ele. «Só que todo o cérebro, cada uma das células se acende, ou
vemos que fazemos parte disto como o plasma infinito de incríveis
partículas luminosas. Não é como uma flecha luminosa; é parecido
com isso, mas é uma sensação que é comunicada.»
— Que sensação? — perguntei.
É como «andar na montanha russa, quando estamos lá em cima e
deixam-nos cair e descemos em queda-livre. Sabe, é como: chega!...
isto não é uma brincadeira».
— Eles querem ter a certeza de que a mensagem foi apreendida
— sugeri.
— Sim — disse ele. — É como se eles estivessem a agarrar no
nosso colarinho e se limitassem a dizer, dando palmadas, mas sem
magoar, só para dizer que era preciso fazer aquilo, e nós tínhamos de
ir falar com toda a gente. Temos de levar isso a outras pessoas.
Temos de formar professores.
E assim a «lição» chegou ao fim. Para além da pressão do instru-
mento na nuca, não se recorda de nenhum outro procedimento intru-
sivo. Comparou as pessoas escuras com as luminosas. As escuras
eram «mais inteligentes e tinham mais informação», e «as pessoas
pequeninas» eram «mais simples ou apenas mais afáveis». Mas as
escuras «respeitavam ou admiravam as pessoas pequeninas» que
eram mesmo «de certo modo superiores. Eram mais respeitadas...»
Perguntei-lhe se era capaz de descrever os rostos dos seres mais
escuros. «Parecia que tinham sulcos na pele, sobrancelhas, olhos
mais escuros, encovados, pareciam velhos», disse ele. Usavam
capuzes e vestimentas escuras e eram «atarracados». Acrescentou
que as comunicações com os seres escuros eram «muito confusas», e
levava «muito tempo para descobrir» o que é que eles estavam a
transmitir. Por isso é que eles precisavam das pessoas pequeninas
«para comunicar pequenas coisas de cada vez».
Estávamos a chegar ao fim da sessão e perguntei-lhe se se lem-
brava de alguma coisa sobre o regresso. Só se lembrava de chegar
ao carro e ver que a sua mãe ainda estava «agachada» no assento
dianteiro. «Parecia que estava paralizada.» O seu irmão e a sua irmã
também se encontravam lá. Artur não se lembra da mãe pôr o carro
a trabalhar, mas «lembro-me de estarmos calados. Não falávamos, e
isso na minha família era mesmo estranho. Somos muito faladores.
456 SEQUESTRO
cia segura e feliz que vivera. Artur sentia-se bem com o resultado da
regressão e até chegou a falar nisso a alguns amigos, mas não contou
à irmã os pormenores, para não a «contaminar», isto é, para que a sua
credibilidade como testemunha independente não fosse influenciada
pelo seu relato. Reparava que a filosofia de vida dela era semelhante
à sua e interrogava-se se também ela não teria tido experiências de
sequestro. A partir da regressão, ficou mais convencido que nunca
da mensagem que recebera dos seres extraterrestres e sentiu uma
maior determinação para fazer o que pudesse para ajudar.
DISCUSSÃO
As associações de empresas com fins lucrativos são uma das mais
poderosas instituições que os seres humanos inventaram para resol-
verem os seus problemas. Têm um forte impacto em todo o mundo e
influenciam virtualmente todos os aspectos da nossa vida. Essas
empresas podem ser agentes da permanente destruição ecológica ou
potenciais fontes de benefício para os seres humanos e para a vida na
terra. Artur é um empresário com um espírito extraordinário. A sua
vida constitui um modelo de responsabilidade empresarial (Everett,
Mack e Oresick 1993). Individualmente ou em parceria com outros,
empenhou o seu tempo, energia e recursos financeiros em projectos
que visam a preservação do meio ambiente. Desde projectos locais
de reciclagem até à promoção de esforços ao nível político nacional
e internacional, Artur desenvolveu uma série de actividades com o
objectivo de assegurar a protecção e preservação do meio ambiente.
É surpreendente que tanto Artur como os seus familiares consi-
derem que as sua preocupações sociais e ecológicas estejam intima-
mente relacionadas com a sua experiência de sequestro com OVNI,
ocorrida durante a infância. Interroga-se «se teria sido uma pessoa
diferente, caso não tivesse passado por essa experiência.» Certa-
mente que a informação que lhe foi intensamente transmitida
durante o sequestro, em parte recordada ao nível do consciente e a
restante conseguida através da hipnose, teve influência no seu tipo
de vida, diferente dos restantes.
O que lhe foi comunicado pêlos seres extraterrestres tinha a ver
com o perigo que a ecologia enfrenta, com a necessidade de uma
comunicação aberta e dedicada, e com a necessidade de nos livrar-
458 SEQUESTRO
O caso de Artur também tem interesse do ponto de vista psiquiá-
trico. A sua infância parece ter sido simplesmente normal e sem
traumas ou relacionamentos problemáticos. Não há qualquer ocor-
rência psicopatológica digna de registo na sua vida passada ou no
seu actual estado de saúde mental. De facto, parece ser uma pessoa
perfeitamente segura e equilibrada, ao mesmo tempo que é extrema-
mente criativo e inovador. Parece ter sido este equilíbrio interior,
uma espécie de sentido de aventura perante a vida, evidenciado na
agitação e na ausência de medo que sentiu quando o OVNI desceu
até ao carro («isto é mesmo fixe»), que o talharam para a tarefa que
lhe foi atribuída pêlos seres extraterrestres.
A história de Artur, tal como muitos outros casos de sequestro,
coloca questões complicadas sobre as relações entre o espírito e o
mundo físico, causa e efeito, e sobre as vicissitudes da memória. Há
algo de orgânico nas metáforas que acompanham este caso. A man-
cha escura que os seres lhe mostraram e o fio ou corda que o levou
até ao OVNI parecem existir numa espécie de área cinzenta entre o
espírito e o mundo físico. Tal como ondas e partículas da mecânica
quântica, parece que são espirituais num contexto, e fisicamente
reais noutro. Não são simplesmente um ou outro, pensamento versus
algo físico, mas ambos dependentes do contexto. A mancha parece
ser realmente uma coisa que destrói a terra, mais «real» do que uma
metáfora, mas também é uma imagem ou um símbolo, encenada
pêlos seres na mente de Artur, para produzir um determinado efeito.
O fio conduz Artur fisicamente até à nave, mas também é um sím-
bolo forte do relacionamento e da ligação.
Até mesmo a associação com os coelhinhos na quinta de Alice e
a percepção dos seres luminosos como «coelhinhos», ou mesmo a
relação entre «tocar» num coelhinho e estabelecer ligação com um
extraterrestre, parecem ser associações físicas, mais fechadas e de
algum modo mais intrínsecas do que meras analogias. Isto pode
levar-nos à relação que existe entre pensamento e mundo físico, dois
domínios que se mantiveram radicalmente separados à luz da visão
ocidental do mundo. Mas no caso de Artur, o pensamento e a reali-
dade física parecem inseparáveis, como se um originasse o outro,
gerando-se mutuamente de uma maneira que nós não compreende-
mos. Talvez a própria consciência represente uma espécie de fonte
criativa, um plano do ser do qual derivam tanto o pensamento como
o mundo físico.
CAPÍTULO DEZASSEIS
INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE
E EVOLUÇÃO HUMANA
Os tibetanos contam uma história de um velho sapo que vivera
durante toda a sua vida num poço húmido e frio. Um dia um sapo do
mar fez-lhe uma visita.
— De onde vens tu? — perguntou o sapo que estava dentro do
poço.
— Venho do grande oceano — respondeu ele.
— De que tamanho é o oceano?
— É gigantesco.
— Queres dizer que corresponde a um quarto deste poço onde
vivo?
— É maior ainda.
— Maior? Então é metade deste poço?
— Não, ainda maior.
— É... tão grande como este poço?
— Não tem comparação.
— É impossível! Tenho ir ver isso com os meus próprios
olhos.
E lá foram os dois. Quando o sapo do poço viu o oceano sofreu
tamanho choque que a sua cabeça explodiu.
Sogyal Rinpoche, The Tibetan Book ofLiving andDying
Quando olhamos para trás, temos a impressão que as nossas vidas
têm uma coerência, até mesmo uma continuidade de que não nos
apercebemos na altura. Quando me comecei a interessar pelo fenó-
462 SEQUESTRO
«Quando apago as luzes à noite, é esta a configuração da passada semana.
Consigo
vê-la tanto com os olhos abertos como fechados».
— Anne (vide pág. 482)
INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 463
meno de sequestro relacionado com os OVNI, a minha curiosidade
foi aumentando e senti que algo de invulgar se passava dentro de
mim. Mas não tive a noção exacta de que as minhas investigações
despoletariam uma abertura da minha consciência para uma vasti-
dão de mistérios e incertezas. Também não previ até que ponto isso
ia ser um desafio para a visão do mundo em que tinha sido educado.
Cada uma das treze pessoas cujos casos foram descritos neste
livro — ou melhor, cada um dos setenta e seis sequestrados com
quem trabalhei — conta uma história única. As diferenças indivi-
duais têm provavelmente a ver com as diferentes personalidades de
cada um dos sequestrados e as circunstâncias distintas dos próprios
sequestros. Mas o que achei extraordinário desde o início da minha
investigação foram os traços comuns que prontamente sobressaem
quando cada uma das narrativas é analisada em pormenor.
Pode argumentar-se que essa coerência é invenção minha, e que
adaptei e interpretei o conjunto de dados de modo a encaixarem nu-
ma estrutura previamente estabelecida. Em resposta a isto, cumpre-
-me dizer simplesmente que, inicialmente, encarava o fenómeno de
sequestro como qualquer céptico, ou seja, considerava que era uma
impossibilidade, e que tenho tentado estar aberto à formulação de
novas crenças e convicções que possam vir a ocupar o lugar das
anteriores, que entretanto foram radicalmente postas em causa. Uma
das razões que me levaram a incluir um número tão grande de casos
descritos com tanto pormenor, tem a ver com o meu desejo de forne-
cer uma amostragem, de modo a que os leitores possam ter a oportu-
nidade de tirar as suas próprias conclusões sobre o fenómeno de
sequestro. Não posso dizer que foram seleccionados os casos-
«tipo», porque não sei o que é um caso-tipo, ou se existe tal coisa.
Acredito contudo que os casos que analisei são ilustratitivos de uma
série de fenómenos que caracterizam as experiências de sequestro.
Há aspectos dos sequestros com OVNI que não obedecem às leis
do universo, tal qual as conhecemos. Alguns dos fenómenos podem
vir a ser entendidos no futuro, tendo em conta os avanços da física.
Mas outros, como por exemplo a capacidade de Paul e outros se-
questrados conduzirem a sua consciência através do espaço e do
tempo, requerem outro paradigma ontológico. Não espero que o
material apresentado neste livro tenha um grande impacto sobre
aqueles que acreditam que as leis da física definidas por Newton e
Einstein formulam a definição completa de realidade. Espero toda-
464 SEQUESTRO
via que os dados que aqui se enunciam sejam suficientemente fortes
e sólidos, de modo a permitir que aqueles que pretendem expandir a
sua visão de realidades possíveis considerem que o mundo pode
conter forças e inteligências que nunca imaginámos antes.
FORMAS DE CONHECIMENTO: METODOLOGIA
No domínio da física, psicologia e outros, os dados que obtemos
constituem uma função, que se integra no método que adoptámos
para coligir informação. Dentro da minha disciplina, a psicologia
profunda, as descobertas de Freud e dos seus seguidores sobre o con-
teúdo e a estrutura do inconsciente humano resultam não só da aná-
lise dos sonhos, que não eram considerados pela neuropsicologia
racionalista do seu tempo, mas também do recurso à hipnose no
campo da psicologia clínica e do método da livre associação. Tanto
nessa altura como agora, o desenvolvimento de novas formas do
saber requer, contudo, algo mais do que o simples recurso a diferen-
tes tecnologias ou métodos. Um alargamento do conceito epistemo-
lógico, especialmente no que se refere à psicologia, pode exigir que
sejam legitimados (ou relegitimados) aspectos negligenciados que
dizem respeito a nós próprios, passando a ser considerados instru-
mentos do saber.
Embora a psicanálise tenha sido responsável por grandes avan-
ços ao nível do conhecimento da experiência humana e da profundi-
dade e estrutura da psique, adoptou uma metodologia extremamente
dualista, a divisão sujeito/objecto que caracteriza a ciência empírica
ocidental, incluindo a psicologia. O paciente ou cliente é geralmente
considerado como alguém que tem um problema, isolado do tera-
peuta/investigador; o paciente destina-se a ser ajudado ou estudado.
Na verdade, Freud pôs de parte a hipnose enquanto método de traba-
lho com os seus pacientes, em parte devido ao pendor subjectivo que
parecia introduzir no processo terapêutico (Mack 1993).
Tanto as terapias alternativas como as investigações sobre a
consciência humana parecem considerar cada vez mais a psique
como uma parte do processo de investigação. Os sentimentos e o
espírito do experimentador, em termos das terapias alternativas,
assim como o seu espírito racional e capacidade de observação,
constituem aspectos vitais do método terapêutico ou de investiga-
466 SEQUESTRO
véu», como dizem os sequestrados, necessitamos de fazer apelo a
um diferente tipo de consciência. Isto quer dizer que o processo que
se destina a obter informação através do sequestro é amplamente
«co-criativo»: o entendimento pressupõe a sua aceitação, e eu ajudo
os experimentadores a evocarem aquilo que tento que eles descu-
bram dentro de si próprios. Mas esta característica de co-criação não
significa, como alguns críticos do meu trabalho afirmam, que eu lhes
imponha a minha visão sobre este fenómeno ou que acredite literal-
mente em tudo o que os sequestrados dizem.
Durante as sessões, as minhas perguntas são uma consequência
do que está a ser contado, ou da minha intuição, e baseiam-se em
experiências de terapia não só com sequestrados, mas com centenas
de pacientes, tendo em conta o rumo que a experiência íntima do
sequestrado está a seguir. Evito perguntas capciosas, e a experiência
que tenho com sequestrados mostrou-me que eles não se deixam
conduzir (todos eles parecem partilhar a opinião de Sheila: «sei o
que estou a dizer»). Mas também não posso abstrair-me do facto de
um processo intuitivo co-criativo como este poder fornecer informa-
ção que, de certo modo, é o produto de uma mistura ou do fluir con-
junto da consciência de duas (ou mais) pessoas que estão na sala.
Pode haver algo que é evocado e que não estava antes ali, exacta-
mente daquela forma. Ou, dito de outro modo, a informação evocada
durante as sessões não se reduz a um «item» que foi recordado,
extraído da consciência do experimentador como se extrai uma
pedra de um rim. Pode, pelo contrário, significar um desenvolvi-
mento e evolução da percepção, enriquecida pela ligação estabele-
cida entre o experimentador e o investigador.
Do ponto de vista ocidental isto pode ser considerado uma «dis-
torção»; de um ponto de vista transpessoal, isto pode ser encarado
como uma participação conjunta, minha e do experimentador, na
evolução da consciência. Quando lidamos com um fenómeno como
o dos sequestros extraterrestres, que se manifesta no mundo físico,
mas que pode ter origem numa outra realidade, a questão de saber se
a hipnose (ou qualquer outra modalidade fora do comum que nos
ajude a aceder às realidades que estão fora ou para além do mundo
físico) revela fielmente o que «aconteceu» literalmente ou factual-
mente, pode ser inapropriada (para uma discussão mais aprofundada
deste assunto, vide capítulo!). Será mais útil saber se o método de
investigação é capaz de fornecer informação que seja consistente
468 SEQUESTRO
portantes para serem desprezadas. Contudo, o grosso dos dados não
nos chega através destas ocorrências físicas, mas sim dos relatos dos
próprios experimentadores. Embora tenham variantes em relação a
determinados aspectos, são de tal modo consistentes que desafiam as
explicações psiquiátricas convencionais.
Pode acontecer que se chegue à conclusão de que os sequestra-
dos tiveram contactos com seres extraterrestres e OVNI durante
toda sua vida, embora haja casos, como aconteceu com Ed e Artur,
em que um único acontecimento de sequestro tenha sido extrema-
mente importante. As experiências de sequestro iniciam-se com
uma alteração da consciência do sujeito, que pode ser assinalada
por um zumbido ou por outro som estranho, pelo aparecimento de
uma luz de origem desconhecida, pela sensação de que alguém está
presente ou mesmo pela visão de um ou mais seres extraterrestres
(como é referido no capítulo 2), ou por uma forte sensação vibrató-
ria no corpo (como acontece nos «sonhos eléctricos» de Sheila).
Esta alteração da consciência pode ser subtil, mas os sequestrados
asseguram sempre que não estavam a sonhar ou a imaginar. Pelo
contrário, sentem que passaram para outra realidade que não deixa
de ser real. Estão despertos quando vivem essa realidade, mas é
uma realidade diferente. Um dos sequestrados descreveu-me es-
ta alteração dizendo que era como se os seres extraterrestres atra-
vessassem uma espécie de ecrã, revelando uma nova realidade ao
experimentador.
Depois disto acontecer, o sujeito é levado por uma força, por vezes
um raio de luz ou outra energia que os seres extraterrestres usam, para
fora ou para longe da casa ou do lugar em que ele ou ela se encontra-
vam, através de paredes, portas ou janelas, mesmo fechadas. Os expe-
rimentadores vêem a sua casa e a própria terra a afastar-se à medida
que são transportados para dentro das naves espaciais, normalmente
caracterizadas como metálicas e com o feitio de um disco ou de um
cigarro, e que consideram ser a fonte da luz que inicialmente viram.
Dentro da nave, os sequestrados vêem uma grande variedade de seres
extraterrestres, referidos no capítulo dois, atarefados com a prepara-
ção dos vários procedimentos. O interior da nave transmite geral-
mente uma sensação de frio, tanto emocional como físico, por vezes
com um cheiro bafiento, com consolas parecidas com computadores
ao longo das paredes. As paredes são geralmente brancas e curvas,
embora também sejam referidos os pisos negros.
472 SEQUESTRO
FENÓMENOS TRANSFORMATIVOS E ESPIRITUAIS
Os extraterrestres parecem ser capazes de alterar ou disfarçar a sua
forma e podem inicialmente aparecer aos sequestrados tomando a
forma de vários tipos de animais, ou mesmo de seres humanos
comuns, como aconteceu no caso de Peter. Mas esta capacidade de
alterar a forma é extensível aos veículos e aos ambientes apresenta-
dos aos sequestrados, que incluem, nesta amostra, uma série de
motociclistas (Dave), uma floresta e uma sala de conferências
(Catherine), imagens de Jesus com vestes brancas (Jerry) e uma
estrutura ascendente parecida com uma catedral com vitrais
(Sheila). Uma jovem, cujo caso não é relatado neste livro, recordou
ter visto num parque um canguru com quinze patas, que era afinal
uma nave espacial. Recentemente tive conhecimento de um caso em
que algumas crianças foram transportadas para o céu numa pequena
nave que lhes apareceu sob a forma de uma tenda numa feira, onde
estavam os extraterrestres disfarçados de humanos e lhes pergunta-
ram se queriam fazer uma viagem.
Outras experiências relatam a expansão da consciência e a sua
actual separação do corpo, como é o caso de Paul, que foi capaz de
«viajar» até um período que antecedeu o seu nascimento e em que se
verificou um choque de um veículo espacial, ou mesmo até ao pe-
ríodo em que os dinossauros viviam na Terra. A frequência com que
as experiências com vidas passadas são recordadas durante as
regressões hipnóticas também tem relação com o conceito de expan-
são da identidade, ou seja, de certo modo o espírito ou alma humana
não está restringido a esta vida, podendo mesmo expandir-se cente-
nas ou milhares de anos, como aconteceu no caso de Catherine. A
lembrança de vidas passadas adquire um poder enorme quando isso
é sinónimo, como aconteceu no caso de Joe e de Dave, de um cresci-
mento pessoal contínuo, que se verifica em mais de uma vida.
Muitos sequestrados referidos neste livro possuem dupla identi-
dade, humana e extraterrestre. Enquanto extraterrestres vêem o
mundo sob uma perspectiva extraterrestre, tendo a seu cargo, como
acontece no caso de Joe, o lado extraterrestre na tarefa reprodutiva.
Peter, por outro lado, ficou perturbado quando conseguiu lembrar-se
da sua união com uma extraterrestre. O eu extraterrestre é muitas
vezes entendido como a alma perdida ou abandonada do eu humano,
novamente ligadas a uma origem comum. Então a tarefa consiste em
474 SEQUESTRO
que as experiências se podem repetir a qualquer momento sobre si mes-
mos e sobre os seus filhos. «Nós ainda não nos livrámos do contínuo e
inexorável melodrama do outro mundo», escreveu Jerry, cujos filhos,
ao que tudo indica, foram também contactados.
Contudo, o fenómeno de sequestro não se resume ao aspecto
traumatizante. Pode acontecer que os experimentadores sintam
medos, tenham pesadelos e outras sequelas originadas pela situação
de stress, bem como pequenas lesões corporais, dores de cabeça pro-
vocadas por sinusite, sintomas gastro-intestinais, neuropatias ligei-
ras e disfunções psicosociais que parecem estar relacionadas com os
seus encontros. Contudo, este rol de casos que tratei evidencia tam-
bém que os contactos extraterrestres são os responsáveis pela cura
de doenças como a pneumonia ou a leucemia e mesmo a paralisia
dos membros causada pela atrofia muscular provocada pela polio-
mielite. Posteriormente, muitos sequestrados foram dotados de
poderes terapêuticos. Embora muitos sequestrados se sintam ofendi-
dos com as experiências de sequestro e receiem que se repitam, mui-
tos outros, de uma forma ou de outra, acabam por sentir que estão a
participar num processo extremamente importante e válido de cria-
ção ou alteração de vida.
Para além disso, muitos sequestrados, entre os quais se incluem os
casos estudados neste livro, parecem estar a atravessar uma fase de pro-
fundo crescimento e transformação pessoal. No final das suas expe-
riências, cada um deles começa a manifestar preocupação com o futuro
da terra e com a preservação da vida humana e de outras formas de
vida. Absolutamente todos os sequestrados com quem trabalhei de
perto estão empenhados em mudar o seu relacionamento com a terra,
vivendo de uma forma mais branda e em maior harmonia com as outras
criaturas que aqui vivem. Cada um deles parece estar empenhado em
mudar o seu relacionamento com as outras pessoas, expressando aber-
tamente o seu amor e transcendendo os seus impulsos agressivos.
Alguns sequestrados, entre os quais Eva, Peter, Carlos e Artur preten-
dem utilizar a sua perpectiva evolutiva para influenciar os outros e
tor-
naram-se professores que pregam uma nova forma de vida. Para além
disso, os sequestrados parecem ser particularmente intuitivos, especial-
mente depois de confrontarem e integrarem as suas experiências;
demonstram por vezes grandes capacidades físicas, incluindo a clarivi-
dência e a capacidade premonitória. É necessário investigar um pouco
mais de modo a poder documentar estas capacidades.
476 SEQUESTRO
ciência e o nosso relacionamento com a terra e com os outros. Até
mesmo o abandono, a perda ou a cessação de resistência ao controlo
que são muitas vezes impostos pêlos extraterrestres — um dos
aspectos mais traumatizantes da experiência — parecem, de certa
maneira, «destinar-se» a desencadear uma espécie de morte do ego,
e possibilitar o crescimento pesssoal e a expansão da consciência.
Mas esta minha preocupação com o crescimento e a transforma-
ção pode ser reflexo de um preconceito meu. As pessoas que me
contactaram conhecem o meu interesse por estes aspectos da psico-
logia humana, e estão conscientes de que encaro o meu trabalho com
os sequestrados como um processo co-criativo. Em alguns casos —
como por exemplo o caso de Artur — o empenhamento em relação à
preservação do ambiente e transformação humana são anteriores ao
nosso contacto.
Uma palavra ainda sobre o estado de tensão em que vivem as
esposas e outros familiares, tensão essa que é criada pelas experiên-
cias dos sequestrados. Essas experiências podem dominar as suas
vidas e, tal como aconteceu com Peter e Jerry, os sequestrados
necessitam de um grande apoio por parte das suas esposas, maridos e
outras pessoas que, por seu lado, podem sentir que as suas próprias
necessidades não estão a ser satisfeitas, uma vez que o sujeito fica
preocupadíssimo com o que lhes possa ter acontecido. Se os amigos
e familiares do sequestrado não são sequestrados, podem ter dificul-
dade em acreditar em tudo aquilo, uma vez que a sua noção de reali-
dade é posta em causa. Pode acontecer que neguem tudo, apesar de
haver fortes evidências de que algo de importante se está a passar
com aqueles que amam.
Há também o caso dos pais sequestrados que podem ficar preo-
cupados quando não conseguem suportar o que está a acontecer com
os seus filhos; todo este processo é, por vezes, ainda mais doloroso
para um pai ou mãe — lidei com alguns casos em que a criança sente
que o «verdadeiro» pai ou mãe é um(a) extraterrestre. Há casos,
como o de Eva, em que a relação do casal se torna tensa, quando o
sequestrado sente que «cresceu» mais do que o outro, que se mostra
incapaz ou que recusa partilhar os amplos domínios que ele ou ela
descreve. Torna-se necessário desenvolver mais trabalho no sentido
de apoiar os familiares dos sequestrados que se revelem interessados
em compreender e em participar nas novas experiências daquele(a)
que amam.
478 SEQUESTRO
tinham a ver com a sua intimidade e sexualidade. Os profissionais de
saúde mental que lidam com sequestrados são colocados perante
desafios concretos.
É óbvio que é importante tentar saber se há condições que facili-
tam, ou que possam existir, para além dos sintomas relacionados
com o sequestro. Tenho trabalhado com uma jovem senhora que se
esforça por entender tanto os seus sequestros extraterrestres como
as suas experiências de abuso sexual. Contudo, uma análise cuida-
dosa mostrou que uma coisa não explica a outra, e que, se lhe for
dada a devida oportunidade, esta senhora é perfeitamente capaz de
distinguir as consequências distintas de uma e de outra. Mas as ava-
liações de possíveis casos de sequestro devem ser levadas a cabo por
médicos e outros clínicos que estejam pelo menos familiarizados
com estes fenómenos ou abertos à realidade destas experiências,
mesmo quando não «acreditem» nisso. Existem actualmente muitos
livros sobre o assunto, jornais conhecidos e outros periódicos, ou
mesmo revistas para profissionais, comprovando que há algo que
desafia as explicações convencionais e que está a acontecer com
várias pessoas. Tal como afirmou Sheila, não há desculpa «para ati-
tudes ignorantes».
O fenómeno de sequestro coloca também interessantes questões
relacionadas com a natureza da memória e com o controlo da cons-
ciência. Tal como se refere no capítulo um, a prevalência ou incidên-
cia do número de sequestros por OVNI deixa de ter significado se
tivermos em conta que a memória de situações há muito esquecidas
pode ser despoletada por um acontecimento — o passeio de Ed ao
longo da co.ta em Maine, ou a conversa de Artur com a irmã no
decorrer de uma reunião de família — cuja ocorrência é imprevisí-
vel. Que forças mantêm a memória consciente inactiva durante anos
— mais de vinte e cinco anos em ambos os casos — durante os quais
aparentemente não existe qualquer recordação do acontecimento?
Os próprios sequestrados consideram que há algo mais do que sim-
ples repressão — que os seres extraterrestres impõem uma força
repressora. Ed, tal como foi referido, lembra-se que lhe disseram que
ele se lembraria «quando houver necessidade disso». Por vezes este
esquecimento parece proteger os sequestrados de uma angústia que
não seriam capazes de suportar, especialmente no que se refere às
crianças. Mas ainda sabemos muito pouco sobre a forma como esta
força repressora actua ou porque é que um estado de consciência
480 SEQUESTRO
que a experiência do terror, ou «ser empurrado para tal», seja um
aspecto inerente ou necessário para romper as fronteiras psicológi-
cas que limitam a nossa percepção da realidade. Quando Catherine
descobriu que era capaz de sentir dentro de si mesma — e expressar
totalmente aos extraterrestres — o terror e a raiva, tornou-se possível
estabelecer com eles um mútuo relacionamento, significativo e cria-
tivo. Com efeito, o fenómeno de sequestro extraterrestre parece con-
duzir os sequestrados e aqueles que com eles trabalham a domínios
mais profundos da emoção humana, quer este seja ou não um «obje-
ctivo» específico do fenómeno.
O fenómeno de sequestro parece também abrir novas perspecti-
vas para travar a destruição humana. Os extraterrestres, como acon-
teceu por exemplo nos casos de Peter e Paul, parecem ter ficado
perplexos com a nossa agressividade em relação aos outros e espe-
cialmente com a nossa aparente complacência em relação à destrui-
ção da vida no planeta. Tal como disse Paul, adoptando o ponto de
vista extraterrestre: «Nós não entendemos porque é que optaram
pela destruição». Na verdade, a dimensão da nossa destruição, tal
como foi ilustrada pêlos extraterrestres, reflecte a inadequação das
nossas teorias de agressão biológicas e psicológicas e a necessidade
de lançar um novo olhar sobre esta nossa característica individual e
colectiva. «Um organismo que atinge um tal grau de destruição
devia parar e aprender com os seus próprios actos», disse Paul. Eu,
enquanto estudioso das consequências, ao nível psicológico, da
ameaça nuclear, só posso concordar.
IMPLICAÇÕES NOS DOMÍNIOS DA FÍSICA, TECNOLOGIA
E BIOLOGIA
Os primeiros relatos de OVNI colocaram questões à ciência actual,
que se limitava a ignorar ou a negar o problema. Como é que as
naves espaciais chegaram até ali? Que sistema de propulsão usam?
Como é que projectam luz e calor extraordinariamente fortes sobre
distâncias enormes, ou como é que aceleram e mudam de direcção,
aparentemente desafiando as leis da gravidade? Estas são questões
às quais é difícil responder dentro dos parâmetros da física moderna.
O fenómeno de sequestro apenas acrescentou novos ingredientes a
velhos puzzies tecnológicos. Como é que, por exemplo, os extrater-
482 SEQUESTRO
que parecem estar fora do contexto ontológico da ciência moderna, e
os métodos que usa não permitem a sua avaliação. Em primeiro
lugar está a questão da definição da realidade em que ocorrem as
sequestros.
Alguns sequestrados transmitiram-me a sensação de que pelo
menos algumas das suas experiências não ocorriam nas dimensões
físicas de espaço/tempo do nosso universo. Faziam referência a
extraterrestres provenientes de outras dimensões, através de uma
fenda ou abertura numa espécie de barreira, introduzindo-se no
nosso mundo «por detrás do véu». Os sequestrados, mesmo aqueles
cuja formação académica não lhes permitia explicar tais abstrações e
deslocações estranhas, referiram o desmoronar das categorias de
espaço/tempo que ocorria durante as suas experiências. Sentiam que
os extraterrestres, os seus próprios sequestros faziam parte de uma
outra realidade, embora a considerassem tão fortemente real quanto
_ ou mais do que — o mundo físico habitual.
Sara, a pessoa com nível de habilitações literárias mais elevado
da minha amostragem, talvez tenha falado em nome de muitos expe-
rimentadores quando descreveu um dos seus sequestros como
«fusão dimensional... Não conseguimos avaliá-la em termos descri-
tivos linguísticos e físicos desta dimensão», disse ela, «porque de
facto não se passou aqui. Passou-se metade aqui, metade noutra
dimensão.» Catherine, durante uma regressão datada de Janeiro de
1993, alguns semanas depois da última a que me referi, falou de um
«lugar» que recordava, entre os períodos de encarnação na Terra.
Nesse «lugar» os corpos não eram sólidos, possuindo apenas uma
espécie de contorno de energia. «Isto passou-se há muito, muito,
muito tempo», explicou. «Isto é anterior a qualquer um de nós. Este
lugar faz parte de um universo totalmente diferente. Não existe na
nossa dimensão espaço/tempo da Terra.»
Uma jovem sequestrada, que chamarei de Anne, tentou explicar-
-me durante uma regressão o que eram as estruturas temporais con-
vergentes que ocorriam durante os seus sequestros. Dava a sensação
que existia simultaneamente em tempos diferentes. «Os tempos
todos convergem num só lugar», disse ela. «Isto é real. Não é filo-
sófico», insistiu. «Na verdade, posso ir para uma outra estrutura do
tempo e [as minhas experiências] puxam-me para aqui.»
A utilização que fazemos de palavras como «acontecimento»,
«ocorrido» e «real» deve remeter para um significado diferente, tal-
486 SEQUESTRO
como ao do seu filho. Joe considerava que tinha de optar entre o uno
e a insanidade. Os próprios extraterrestres podem ser encarados
como uma divisão da alma ou do Eu do sequestrado; a re-integração
da sua alma requer a integração desta dimensão que está separada.
Muitos sequestrados com quem trabalhei, incluindo alguns que
não constam deste livro, sentem uma espécie de êxtase que, como
aconteceu com Carlos, pode atingir as proporções de um orgasmo à
medida que sentem que as suas experiências (ou a sua evocação) vão
ao encontro de uma fonte divina ou centro criativo do ser no cosmos.
Para os sequestrados esta fonte é indescritivelmente luminosa e
repleta de cor, e chegam mesmo chorar quando estão na sua pre-
sença, uma vez que a separação foi indescritivelmente penosa.
Quando conseguem abrir-se novamente para esta fonte, chegam
mesmo a chamar a esta experiência «o regresso» e protestam uma
vez mais por terem de desempenhar uma nova tarefa como seres
humanos, mesmo que concordem com ela.
A medida que as suas experiências atingem o nível do cons-
ciente, os sequestrados parecem sentir um sentimento crescente de
comunhão com todos os seres e com toda a criação. Isto expressa-se
muitas vezes através de um amor especial pela natureza e por uma
forte ligação com os animais e com os espíritos dos animais. Por
vezes existe mesmo uma forte identificação com um animal con-
creto. Por exemplo, os veados são para Dave criaturas «totem»;
Carlos sente uma ligação especial com leões; e Artur tem uma notá-
vel capacidade de ligação com vários animais. Os próprios extrater-
restres, como vimos, podem aparecer aos sequestrados sob a forma
de animais. A ligação que mantêm com os espíritos dos animais,
uma espécie de dimensão xamânica, necessita de ser explorada.
Finalmente, talvez a maioria dos sequestrados com quem traba-
lhei arduamente chegam a sentir que a sua elevada consciência espi-
ritual deve ser utilizada no ensino ou em relação a um objectivo
superior. Mesmo quando estão tristes, ou sentem que não há espe-
rança para a ecologia do planeta e para o futuro das formas de vida
terrenas, sentem que as suas experiências têm a ver, em última aná-
lise, com a preservação da vida e que devem fazer alguma coisa com
esse fim. Ed, Joe, Jerry, Eva, Peter, Sara, Artur e outros sentem que
têm uma missão específica ou a responsabilidade de transmitir um
tipo diferente de consciência que tem a ver com o lugar do humanos
na Terra. Alguns deles, como Peter, Ed e Eva até mudaram de
488 SEQUESTRO
de ser humano. Finalmente, a sensação peculiar que muitos seques-
trados têm durante as regressões de possuírem uma dupla identidade
humana/extraterrestre reforça todo o processo anterior. Isto porque o
eu extraterrestre é entendido como uma espécie de fragmento que
falta, um laço espiritual com a fonte universal ou consciência, a
anima mundi a que estiveram ligados.
IMPLICAÇÕES POLÍTICAS, ECONÓMICAS E RELIGIOSAS
A visão do mundo ocidental científica e materialista tem tido enor-
mes êxitos no que se refere ao mundo físico, revelando muitos dos
seus segredos e pondo o seu conhecimento ao serviço de objectivos
humanos. Ultrapassámos a pior época, reduzimos o sofrimento atra-
vés dos avanços da medicina, e aprendemos a comunicar electroni-
camente com aqueles que estão longe. Simultaneamente, usámos o
nosso conhecimento para criar armas de destruição capazes de aca-
bar com a vida. A forma como usamos a moderna tecnologia para
arrancar os recursos da terra está danificar a biosfera. Somos uma
espécie que não está em harmonia com a natureza, semeando a des-
truição à custa da vida de outros seres e da terra que nos deu a vida.
Urge alterar este estado de coisas. Mesmo que reconheçamos o
perigo que criámos, são muitos os direitos adquiridos com que nos
deparamos quando pretendemos encontrar um equilíbrio no nosso
relacionamento com a natureza. As poderosas instituições empresa-
riais, científicas, educativas e militares gastam biliões de dólares em
bens materiais e mantêm descuidadamente as coisas paralisadas, tor-
nando-se difícil alterá-las. Em termos de comércio internacional, o
mundo parece resumir-se a uma mercado gigantesco que se destina a
ser repartido pêlos empresários mais espertos.
Mas há direitos psicoespirituais que resistem à mudança e que
são talvez mais poderosos do que os materiais. Estes interesses estão
ligados ao conceito que diz que as leis físicas que conhecemos des-
crevem tudo o que existe, e se há outros seres que habitam o cosmos
terão de se comportar mais ou menos como nós. O programa SETI
(Search For Extraterrestrial Inteiligence — Programa para a In-
vestigação da Inteligência extraterrestre), criado pelo Governo dos
EUA, que opera segundo o princípio de que a inteligência extrater-
restre pode ser descoberta através da emissão de ondas de rádio para
490 SEQUESTRO
do as leis da gravidade e os conceitos de espaço/tempo, são capazes
de invadir as nossas casas e sequestrar o nosso povo, isso cria pro-
blemas. Poderá ser esta a razão que faz que, desde o início, a política
governamental respeitante a OVNI seja tão confusa, uma mistura
tendenciosa de recusa e encobrimento que apenas serve para alimen-
tar intrigas.
O fenómeno de sequestro comporta ainda outras implicações ao
nível político. A política, seja ela local, nacional ou internacional, é
no fundo um jogo de poder. Queremos o poder para dominar, contro-
lar ou influenciar uma esfera de acção. Mas o fenómeno de seques-
tro, ao demonstrar-nos que o controlo é impossível e até absurdo e ao
revelar-nos a nossa identidade mais alargada no universo, apela à
descoberta do significado do nosso «poder» num sentido mais pro-
fundo e espiritual. Os conflitos étnicos, derivados do facto de nos
considerarmos apenas em termos regionais locais (aquilo que Erik
Erikson chamou de «pseudoespécie») causam um sofrimento terrí-
vel e representam uma ameaça para a sobrevivência humana. A
identidade global, cósmica e interligada, implícita ao fenómeno de
sequestro por OVNI pode, pelo menos, servir para nos distrairmos
das nossas intermináveis lutas pelo poder e domínio da terra. Tem a
vantagem de nos conduzir em aventuras cósmicas potencialmente
infinitas. Mas tudo isto depende da forma séria como encaramos este
fenómeno e as suas implicações.
As implicações económicas do fenómeno de sequestro são inse-
peráveis das implicações políticas. A perda da noção do sagrado, a
desvalorização da inteligência e da consciência que existe na natu-
reza e fora de nós, permitiu que os mais fortes explorassem os recur-
sos da terra sem terem em conta as gerações futuras. O crescimento
descontrolado transformou-se num fim em si mesmo, como conti-
nuamente proclamam os «indicadores» económicos, ignorando o
inevitável colapso que acontecerá se o crescimento da população
humana não for controlado e se a pilhagem dos recursos não parar.
Para além disso, se o impulso consumista (eufemisticamente apeli-
dado «forças de mercado») não for controlado, as desigualdades
existentes na repartição de comida e outros bens serão maiores,
dando origem ao caos e à guerra sem limites. O fenómeno de seques-
tro por OVNI não exerce uma influência directa sobre este pro-
blema. Não se destina nem pode «salvar-nos». Mas, como adiante se
referirá, parece estar intimamente relacionado com a natureza da
492 SEQUESTRO
recursos da terra, fazem que os biosistemas do planeta estejam à
beira do colapso. Estão a ser empreendidos esforços para tentar parar
este processo a todos os níveis, mas a ameaça de destruição persiste.
Os sequestros parecem ter em conta dois projectos contíguos: a
mudança da consciência dos homens no sentido de evitar a destrui-
ção da vida na terra e a junção de duas espécies com vista à criação
de uma nova forma evolutiva.
MUDAR DE ATITUDE EM RELAÇÃO AO MEIO-AMBIENTE
Aquilo que mais surpreendeu no meu trabalho sobre os sequestros
com OVNI foi descobrir que o que está a acontecer com a terra tem
consequências para todo o universo. O facto de a própria terra, e a
sua potencial destruição, poderem ter um efeito que ultrapassa os
seus próprios limites e o meio ambiente que a rodeia, era um assunto
que não fazia parte da visão do mundo em que fui educado. Mas,
pelas informações recebidas pêlos sequestrados, poder-se-ia con-
cluir que a terra tem o seu próprio valor ou importância integrada
num sistema mais amplo e interrelacionado que reflecte a interliga-
ção da vida na terra. O fenómeno de sequestro extraterrestre repre-
senta pois uma espécie de iniciativa que visa a correcção dessa ideia.
Anne, a sequestrada a que já me referi e cujo caso não consta
deste livro, aprendeu através das suas experiências que «todo o uni-
verso é auto-corrector, porque se uma parte de universo pode ser...
como uma máquina que se auto-abastece, todo o conjunto tem de ser
auto-correctivo como uma máquina que se auto-abastece.» Com-
parou o universo com uma tapeçaria: «Tudo está ligado. Se pegar-
mos num bocado da tapeçaria e fizermos um buraco ou um rasgão,
estragaremos as partes que estão à volta. Se retirarmos um fio, os
fios que estão ao lado juntam-se e amontoam-se e temos de refazer
essa parte... Se estragamos uma parte do universo», continuou ela,
«isso reflecte-se na parte seguinte e a parte que está pronta a substi-
tuí-la e a reajustar-se fará o mesmo.»
Cada um dos sequestrados recebe informação a cerca da destrui-
ção do ecosistema da terra e sente-se obrigado a fazer alguma coisa
para o evitar. Mas, tal como vimos através dos casos apresentados,
essa informação não é recebida puramente em termos cognitivos,
como um sermão. Os sequestrados são confrontados com imagens
496 SEQUESTRO
durante os sequestros, quando se atinge a puberdade e se inicia o
processo de criação híbrida.
Anne descreve um incidente ocorrido no final de um dos seus
sequestros, durante o qual um ser extraterrestre parecia estar invo-
luntariamente a demonstrar a sua afeição por ela. Tinha regressado a
casa e estava deitada, presumivelmente a dormir. Mas acordou e viu
um dos seres «a olhar para mim de uma maneira apaixonada... ali a
olhar para o meu rosto, para as partes do meu rosto... olhando para os
meus olhos, olhando com tanta emoção e amor... Até que descobriu
que eu estava acordada», disse ela, «ficou surpreendido... Os olhos
[enrugaram-se], [ficaram] mais pequenos. Acho que a boca se abriu,
mas ficou em silêncio, não emitiu nenhum som quando gritou». Viu
no seu rosto «reminiscências de uma estrutura óssea delicada e alon-
gada». Quando o olhou nos olhos a sua expressão era de quem pen-
sava «Oh Meu Deus! Estás acordada e eu estou metido em sarilhos»
e «depois zás, saiu pela janela... flutuando em posição horizontal,
longitudinalmente... Acho que era um médico estagiário», observou
Anne, e «não era suposto ter aquela manifestação pessoal... um
extraterrestre que acordasse alguém teria muitos problemas porque
eles não querem que nós saibamos que andam por aí.»
A conexão que os seres humanos sentem quando olham os extra-
terrestres nos olhos parece ser uma das características centrais da
percepção da existência dos seres e do estabelecimento da própria
ligação. Os sequestrados descreveram frequentemente o sentimento
de amor e absorção total que têm quando olham para aqueles olhos
enormes, pretos e que tudo sabem. Uma senhora disse-me que este
contacto é «cinquenta vezes mais poderoso» que qualquer ligação
entre seres humanos. Para Peter e outros sequestrados, a ligação
através do olhar serve para recuperar uma «irmandade» perdida,
quebrada quando ambos — humanos e extraterrestres — foram
separados de uma origem primordial comum. É uma experiência de
fusão completa, total e até feliz. Alguns sequestrados têm mesmo
uma ligação ou associação sexual extraterrestre/humana — Joe, por
exemplo, como extraterrestre, e Peter como humano, estabeleceram
uma relação fortíssima com uma parceira extraterrestre que originou
uma descendência híbrida.
É necessário referir que não sabemos se algum destes fenóme-
nos existe literalmente num plano puramente material da realidade,
apesar das aparentes manifestações físicas, tal como a gravidez que
498 SEQUESTRO
mente o que fazer quando um fenómeno cruza esta barreira sagrada.
Viola as bases da nossa estrutura de crenças. Não existe nas nossas
mentes lugar onde colocar tal coisa.
O Dalai Lama referiu certa vez que a devastação da ecologia do
planeta estava a destruir não só o habitat das plantas e dos animais,
mas também os domínios em que os espíritos residem. Talvez não
lhes tenha sido dada outra hipótese senão manifestar-se no nosso
mundo, aparecer-nos recorrendo à linguagem que nos resta, a lin-
guagem do mundo físico. No contexto da crise planetária eles não
tiveram outra opção, mas devem encontrar outra forma, por mais
difícil que seja, de chegar até nós. Talvez a nossa consciência esteja
tão atrofiada que não sejamos capazes de, por nós próprios, aceder
ao mundo espiritual. Será que esta violação das nossas fronteiras
psicológicas cuidadosamente erigidas, a dramática reabertura para
um mundo do qual nos distanciámos, esta chocante reanimação dos
sentidos que nos permitem aceder ao mundo espiritual, transforma-
ram o fenómeno de sequestro extraterrestre tão difícil de acreditar?
Talvez tenhamos criado as condições espirituais que fizeram que
isto fosse necessário.
POSTERIORES IMPLICAÇÕES PARA A CONSCIÊNCIA
HUMANA
Com a abertura da consciência para novos domínios do ser, os
sequestrados encontram padrões e uma perspectiva de vida que lhes
dão uma profunda percepção da interligação do universo. No caso de
Dave isso manifestou-se através de coincidências significativas,
idênticas ao que Jung chama de sincronias, que parecia descobrir em
qualquer sítio onde fosse, especialmente depois de entender as suas
experiências de sequestro. Pensamentos e ideias podem aparecer
mais organicamente ligados com o mundo físico durante as expe-
riências de sequestro do que usualmente parece acontecer na rotina
diária. A metáfora parece tangível ou materializada. O «quarto
passo» de Peter através da parede de uma casa de Nantucket, durante
o seu sequestro de Agosto de 1992 era simultaneamente um acto
físico literal e um poderoso símbolo da sua decisão de aceitar a passa-
gem de um plano da realidade para outro. Para Artur, o fio iluminado
ou cordão que literalmente era fonte de energia que o transportou até
500 SEQUESTRO
Não é necessário postular que a identidade de uma vida passada
pertence literalmente ao sequestrado individualmente, da mesma
maneira que os nossos corpos apenas nos pertencem enquanto habi-
tamos neles. Tal como foi referido pelo biólogo Rupert Sheldrake é
possível que exista uma espécie de memória colectiva eterna a que
todos nós recorremos. Podemos, como sugere Sheldrake, «sintoni-
zar uma determinada pessoa do passado, já falecida, e, através da
ressonância mórfica, recolher memórias de vidas passadas». Afirma
que isso não prova que «se foi essa pessoa» (Sheldrake 1992). A
ideia comprova a observação de que a psique ou memória dos
sequestrados parece ser capaz de viajar, durante a abertura da cons-
ciência que ocorre nas nossas sessões, para qualquer lugar e sempre
que a exigência evolucionista do momento queira levá-la.
A MUDANÇA PARADIGMÁTICA
Escusado será dizer que nada disto faz muito sentido dentro dos
parâmetros da perspectiva científica ocidental, «cujo ponto de par-
tida», segundo as palavras do filósofo Richard Tarna, é a de que
«qualquer significação que a mente humana descubra no universo
não existe intrinsecamente no universo, mas é projectada nele pela
mente humana.» Para Tarnas, «este vazio total do cosmos, este privi-
légio absoluto do humano» é talvez «a última projecção antro-
procêntrica, a mais subtil, mas a mais prodigiosa forma do auto-
-enaltecimento humano» e representa «uma arrogância intelectual
de proporções cósmicas.»
As experiências recontadas pêlos sequestrados com quem traba-
lhei durante os últimos quatro anos constituem, penso eu, um valioso
conjunto de evidências que provam que o cosmos, longe de ser des-
provido de significado e inteligência é, e cito novamente Tarnas,
«constituído por uma espécie de consciência universal», uma inteli-
gência «com um poder, uma complexidade e uma subtileza estética
que dificilmente apreendemos, mas que é contudo idêntica à inteli-
gência humana, e na qual pode participar». Vem-me à ideia neste
momento o caso de Carlos. Existe uma outra prova, para além das
experiências profusamente documentadas de proximidade da morte
e das extraordinariamente complexas e simbólicas formações que
surgiram em todo o mundo, que fornecem indicações adicionais, se
INTERVENÇÃO EXTRATERRESTRE E EVOLUÇÃO HUMANA 501
houver uma predisposição da nossa parte para entender as suas
implicações, de várias expressões de inteligência num universo que
pretende chegar até nós.
Agora que me aproximo do fim deste livro, não posso deixar de
me interrogar sobre aquilo que poderá despoletar a alteração da
consciência, a mudança paradigmática implícita em toda a experiên-
cia vivida pêlos sequestrados. Pode parecer que o que é necessário é
uma espécie de morte cultural do ego, algo que é muito mais inquie-
tante (uma palavra que muitos sequestrados usam quando se aperce-
bem de que as suas experiências são reais) do que a revolução de
Copémico que demonstrou que a terra, e consequentemente a huma-
nidade, não é o centro do cosmos. Os sequestros por OVNI e os fenó-
menos correlativos sugerem em primeiro lugar que os humanos não
são os seres dotados de inteligência superior num universo mais ou
menos esvaziado de vida consciente. Mas as experiências dos
sequestrados também mostram que integramos um cosmos que con-
tém seres inteligentes que, em certos aspectos, estão muito mais
avançados do que nós e que conseguem controlar-nos para realizar
objectivos que apenas agora começamos a abarcar.
Cada sequestrado é para mim um pioneiro de uma viagem
heróica. Quando sentem um terror que abala o seu ego, e nos dão a
conhecer as suas experiências, a sua consciência abre-se à existência
de dimensões desconhecidas do cosmos e da psique humana, que os
sequestrados consideram estar profundamente e cada vez mais liga-
das. E provável que o trabalho que desenvolvi com eles lhes tenha
permitido perceber as suas experiências, e compreender a importân-
cia daquilo que têm para dar.
Perguntam-me muitas vezes porque é que, se os OVNI e os
sequestros são reais, as naves espaciais não aparecem de uma forma
mais directa. «Porque é que não aterram no relvado da Casa
Branca?», esta é a pergunta mais usual. A resposta mais vulgar a
esta pergunta, dada por aqueles que encaram com seriedade estes
fenómenos, é de que os extraterrestres não se atrevem a manifestar-
-se de forma mais directa. Os líderes governamentais entrariam em
pânico, poderiam atacá-los e de certeza que nos transmitiriam esse
terror.
Creio que há uma resposta melhor para essa pergunta, mais con-
sistente com a informação que este livro contém. O problema é que a
inteligência que está aqui em causa não opera dessa maneira. Actua
502 SEQUESTRO
de forma mais subtil, e o método usado é o de convidar, fazer pensar,
permear a nossa cultura de cima abaixo, e abrir a nossa consciência
de tal maneira que evite tirtar conclusões, o que de facto difere das
nossas formas de actuação. Trata-se de uma inteligência que fornece
muitas provas de que algo profundamente importante se está a pas-
sar, mas não faculta o tipo de provas que satisfaça o nosso método de
conhecimento exclusivamente empírico e racionalista. Cabe-nos a
nós compreender a realidade do fenómeno e dar um passo em frente
no sentido de entender que vivemos num universo diferente daquele
que nos fizeram crer que existia.
Os investigadores do fenómeno de sequestro debatem a questão
de saber se, face aos métodos cruéis e frequentemente aterrorizado-
res que os extraterrestres empregam, a inteligência que está por
detrás é perversa e se pretende magoar-nos. É óbvio que para respon-
der a esta questão entramos num domínio de interpretação que ultra-
passa as provas que possuímos. O nosso conhecimento sobre o
«programa» híbrido, por exemplo, é muito superficial, e esse é um
dos aspectos centrais do fenómeno de sequestro. A minha impressão
geral, contudo, é que o processo de sequestro não é perverso e que as
inteligências em causa não desejam fazer-nos mal. Pelo contrário,
tenho a impressão — melhor será dizer a fé — de que a essência do
fenómeno de sequestro tem a ver com a preservação da vida na Terra
numa altura em que a vida do planeta está profundamente ameaçada.
Qual é a perpectiva do futuro humano que os sequestrados refe-
rem quando regressam das suas viagens? Os sequestros por OVNI
têm a ver, penso eu, com a evolução da consciência e a ruína de uma
cosmovisão que colocou a humanidade numa espécie de epicentro
da inteligência integrando um cosmos totalmente desprovido de
vida e de significação. Quando nós, tal como fazem os sequestrados,
deixarmos de ter a ilusão de que controlamos e dominamos o nosso
mundo, talvez isso nos permita descobrir o nosso lugar entre muitas
espécies, que possuem entre os seus poderes especiais a capacidade
de amar, de pensar racionalmente e de auto-reflexão. Se deixarmos
de pensar que somos a inteligência superior e dominante, podemos
abrir-nos perante um universo que está repleto de formas de vida
diferentes da nossa, com as quais podemos estabelecer ligações que
ainda não somos capazes de compreender.
O princípio de ligação, a força que expande a nossa consciência
para além de nós próprios, parece ser o amor. Quando descobrirmos