You are on page 1of 8

Pensamentos errantes

John Wesley

'Destruindo os conselhos e toda altivez, que se levantam contra o conhecimento de


Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo' (II Cor. 10:5)

1. Mas irá Deus, então, levar 'cativo todo entendimento para a obediência de
Cristo', para que nenhum pensamento errante encontre lugar na mente, mesmo
enquanto permanecemos no corpo? Então, alguns têm veementemente mantido; sim,
têm afirmado que ninguém é perfeito no amor, a menos que seja assim perfeito no
entendimento; que todos os pensamentos errantes sejam postos de lado; a menos que
não apenas cada afeição e temperamento sejam santos, justos e bons, mas cada
pensamento individual, que surja na mente seja sábio e equilibrado.

2. Está não é uma questão de pequena importância. Tanto quanto aqueles que
temem a Deus; sim, e o ama, talvez, com todo seu coração, têm estado grandemente
aflito por este assunto! Quantos, por não entenderem corretamente, não têm estado
apenas angustiados, mas grandemente machucados em suas almas; — lançados, em
compreensões sem proveito e danosas, tais que retardam seus movimentos em direção
a Deus, e os enfraquecem diante da corrida que se colocou diante deles!além do que,
muitos, através de entendimentos equivocados dessa mesma coisa, têm jogado o dom
precioso de Deus. Eles têm sido induzidos, primeiro, a duvidar, e, então, a negar a
obra de Deus, forjada em suas almas; e, por esta razão têm afligido o Espírito de
Deus, até que ele se retirou e os deixou na mais extrema escuridão.

3. Como é, então, que, no meio de uma abundância de livros, que têm sido
ultimamente publicados sobre todos os assuntos, nós não devemos ter algum sobre
pensamentos errantes? Pelo menos, nenhum que vá satisfazer uma mente calma e
seria? Com o objetivo de colocar isto em alguns degraus, eu proponho inquirir:

I. Quais são as diversas formas de pensamentos errantes?


II. Quais são as ocasiões gerais para eles?
III. Quais deles são pecaminosos, e quais, não?
IV. Quais deles nós podemos orar para que sejamos libertos?

(1) Eu proponho inquirir, primeiro, quais são as diferentes formas de


pensamentos errantes? As espécies particulares são inumeráveis; mas, no geral, são de
duas formas: pensamentos que falam incoerentemente de Deus; e pensamentos que
falam de um ponto pessoal que nós temos em mão.

(2) Com respeito ao primeiro, todos os nossos pensamentos são naturalmente


desse tipo: porque eles estão continuamente se desviando de Deus: nós pensamos
nada com respeito a ele: Deus não está em todos os nossos pensamentos. Nós somos,
um e todos, como o Apóstolo observa: 'sem Deus no mundo'. Nós pensamos a respeito
do que nós amamos; mas nós não amamos Deus; por conseguinte, nós não pensamos
nele. Ou, se nós somos constrangidos a pensar nele, por um tempo, ainda que não
tenhamos prazer nisso, mais ainda, como esses pensamentos não apenas são insípidos,
mas, também, desagradáveis e aborrecidos para nós, nós os conduzidos para fora, tão
logo podemos, e retornamos ao que amamos pensar a respeito. Assim, o mundo, as
coisas do mundo, — o que devemos comer, o que devemos ganhar, — como podemos
agradar nossos sentidos ou nossa imaginação, — dedicarmo-nos todo nosso tempo, e
apoderando-nos de todos os nossos pensamentos. Assim sendo, como amamos o
mundo; ou seja, tanto quanto estamos em nosso estado natural; todos os nossos
pensamentos, de manhã ao anoitecer, e do anoitecer até a manhã seguinte, não são
outra coisa que pensamentos errantes.

(3) Mas, muitas vezes, nós não estamos apenas 'sem Deus no mundo', mas
também, lutando contra ele; já que há, em cada homem, através da natureza, uma
mente 'carnal que tem inimizade contra Deus'. Não me admira, por conseguinte, que
os homens abundem com pensamentos incrédulos; tanto dizendo aos seus corações,
'que não existe Deus', ou questionando; se não, negando, seu poder e sabedoria; sua
misericórdia, ou justiça, ou santidade. Não me admira que eles, tão freqüentemente,
duvidem de sua providência, pelo menos, de estender-se a todos os eventos; ou que,
mesmo embora eles aceitem isto, eles ainda hospedem pensamentos murmurantes e
queixosos. Proximamente relatados a esses, e freqüentemente conectados com eles,
estão o orgulho e as imaginações vãs. Novamente: Algumas vezes, eles são tomados
com raiva, malícia, ou pensamentos de vingança; em outras vezes, com graciosos
cenários de prazer, se de sentido ou imaginação; por meio do qual, a mente mundana e
sensual torna-se mais mundana, e sensual ainda. Através de todos esses eles guerreiam
claramente com Deus: Esses são os pensamentos errantes do mais alto nível.

(4) Largamente, as diferenças, entre esses, são de outra sorte de pensamentos


errantes; no qual o coração não se desvia de Deus, mas o entendimento se desvia de
um ponto particular, que ele teve, então, em vista. Por exemplo: Eu considero as
palavras, no verso, antecedente ao texto: 'as defesas de nossa luta não são carnais,
mas poderosamente são de Deus'. Eu penso que isto deveria ser o caso de todos os
que são chamados cristãos. Mas é exatamente o contrário. Olhe, em redor, em quase
toda parte do que é conhecido como mundo cristão. De que maneira são essas defesas
usadas? Em que tipo de luta elas são engajadas; enquanto homens, assim como
demônios, dilaceram uns aos outros, em todo tipo de disputa infernal? Veja como
esses cristãos amam uns aos outros! Em que eles são preferíveis aos ateus e os
pagãos? Que abominação pode ser encontrada entre os maometanos ou ateus, que não
seja encontrada também entre os cristãos? E, assim, antes que eu tenha consciência,
minha mente foge de uma circunstância a outra. Tudo isto é, de alguma forma,
pensamentos errantes: já que, embora eles não se desviam de Deus, muito menos,
lutam contra ele, ainda assim, eles se desviam de algum ponto particular, que eu tive
em vista.

II
Tal é a natureza; tais são as formas (falando mais especificamente do que
filosoficamente) dos pensamentos errantes Mas quais são as ocasiões gerais deles?
Isto, nós vamos, em segundo lugar, considerar:

(1) E é fácil observar, que a ocasião das primeiras formas de pensamentos, que
se opõem e se desviam de Deus, é, em geral, dos temperamentos pecaminosos. Por
exemplo: por que Deus não está em todos os pensamentos; em qualquer pensamento
do homem natural? Por uma razão clara: seja ele rico ou pobre, culto ou não, ele é um
ateu; (embora não seja vulgarmente assim chamado); ele nem conhece e nem ama a
Deus. Por que esses pensamentos estão continuamente vagueando, em busca do
mundo? Porque ele é um idólatra. Ele até não adora uma imagem, ou se curva ao
tronco de uma árvore; ainda assim, ele está mergulhado, em igualmente execrável
idolatria: ele ama o que ele adora, o mundo.Ele busca felicidade nas coisas que são
vistas, nos prazeres que perecem ao uso. Por que é que seus pensamentos estão
perpetuamente se opondo a finalidade de sua existência, o conhecimento de Deus, em
Cristo? Porque ele é um descrente; porque ele não tem fé; ou, pelo menos, não mais
do que o diabo. Então, todos esses pensamentos errantes facilmente e naturalmente
brotam dessa raiz diabólica da descrença.

(2) O caso é o mesmo em outros exemplos: orgulho, ira, vingança, vaidade,


luxúria, cobiça; cada um deles ocasiona pensamentos adequados à sua própria
natureza. Assim como cada temperamento pecaminoso que a mente humana seja
capaz. Não é necessário entrar em detalhes. É suficiente observar que assim como
muitos temperamentos maus encontram um lugar em qualquer alma, então, por muitos
meios essa alma irá se apartar de Deus, através da pior forma de pensamentos
errantes.

(3) As oportunidades do ultimo tipo de pensamentos errantes, os que lutam


contra Deus, são diversas. Abundância deles é ocasionada pela união natural entre a
alma e o corpo. Quão imediatamente e quão profundamente é o entendimento afetado
por um corpo doente! O sangue move-se irregularmente no cérebro, e todo
pensamento regular está no fim. Segue-se a loucura feroz; e, então, adeus a toda
uniformidade de pensamento. Sim, deixe apenas que espírito esteja apressado e seja
agitado, até um certo grau, e a loucura temporária, o delírio, impede todo pensamento
equilibrado. E não é a mesma irregularidade de entendimento, em certa medida,
ocasionada pela enfermidade nervosa? Então, o 'corpo corruptível deprime a alma, e
ela cisma a respeito de muitas coisas'.

(4) Mas isto só é causado, quando de uma doença ou enfermidade anormal?


Não exatamente. Mesmo em um estado de saúde perfeita, pode acontecer. Um homem
que seja sempre sadio, pode, nas vinte e quatro horas, ter seus momentos de delírio.
Enquanto dorme, esse homem não está sujeito a sonhar? E quem, então, é o mestre de
seus próprios pensamentos, ou capaz de preservar a ordem e consistência deles?
Quem pode manter os pensamentos fixos, em algum ponto; ou impedi-los de
vaguearem de um pólo a outro?

(5) Mas suponha que estejamos acordados. Nós estamos sempre tão acordados,
para sermos capazes de firmemente governar nossos pensamentos? Nós não estamos
inevitavelmente expostos, aos extremos contrários, pela mesma natureza dessa
máquina, o corpo? Algumas vezes, nós estamos tão abatidos; tão entorpecidos e
desanimados, para buscar alguma série de pensamentos. Algumas vezes, por outro
lado, nós estamos muito ativos. A imaginação, sem permissão, vai, de um lado para
outro, e nos conduz de cá para lá, queiramos ou não; e tudo isto meramente pelo
movimento natural do espírito, ou vibração dos nervos.

(6) Mais além: Quantos pensamentos errantes podem surgir dessas várias
associações de nossas idéias, e que são feitas inteiramente, sem nosso conhecimento, e
independes de nossa escolha? Quantas dessas conexões são formadas, nós não
sabemos; a não ser que elas são formadas de milhares de maneiras diferentes. Nem é
do poder dos homens mais sábios e santos interromperem essas associações, ou
impedirem as conseqüências necessárias deles, e motivo de observação diária.

(7) Uma vez mais: Vamos fixar nossa atenção, tão cuidadosamente quanto nós
sejamos capazes em algum assunto; ainda que algum prazer ou dor surjam,
especialmente, se for intenso, e isto exigirá nossa atenção imediata, e fixará nosso
pensamento em si mesmo. Isto irá interromper a contemplação mais firme, e distrair a
mente de seu assunto favorito.

(8) As ocasiões dos pensamentos errantes encontram-se nisto; são forjados


dentro da nossa própria natureza. Mas eles irão, do mesmo modo, naturalmente e
necessariamente, se erguerem dos vários impulsos dos objetos exteriores. O que quer
que atinja os órgãos dos sentidos, os olhos ou ouvidos, irá fazer surgir uma percepção
na mente. E, concordantemente, o que quer que vejamos ou ouvimos irá interromper
nossa primeira série de pensamentos. Cada homem, por conseguinte, que faz alguma
coisa a nossa vista, ou fale alguma coisa em nossos ouvidos, faz com que nossa mente
vagueie, mais ou menos, de um ponto que ele estava pensando anteriormente.

(9) E não existe dúvida, a não ser que esses espíritos diabólicos que estão
continuamente buscando a quem eles possam devorar, façam uso de toda ocasião
precedente para agitar e distrair nossas mentes. Algumas vezes, por um; algumas
vezes, através de outros desses meios, eles irão atormentar e nos desorientar, e, assim
sendo, até onde Deus permitir, interromper nossos pensamentos, particularmente,
quando eles estão engajados em nossos melhores objetivos. Nem isto é, afinal,
estranho: Eles irão entender as próprias fontes de pensamento; e conhecer de quais
órgãos corpóreos, a imaginação, o entendimento, e cada outra faculdade da mente,
mais imediatamente dependem. Acrescente a isto, que eles possam injetar milhares de
pensamentos, sem qualquer dos meios precedentes; sendo tão natural ao espírito agir
sobre o espírito, quanto a matéria agir sobre a matéria. Come essas coisas sendo
consideradas, nós não podemos nos admirar que nossos pensamentos tão
freqüentemente vagueiam de um ponto que temos em vista.

III
(1) Quais tipos de pensamentos errantes são pecaminosos, e quais não são, é a
terceira coisa a ser inquirida. Primeiro, todos esses pensamentos que se desviam de
Deus, que não deixam a ele lugar em nossas mentes, são indubitavelmente
pecaminosos. Já que todos eles implicam ateísmo prático; e, através desses, nós
estamos sem Deus no mundo. E muito mais estão todos aqueles que são contrários a
Deus, que implicam oposição ou inimizade para com ele. Tais estão todos os
pensamentos murmurantes e descontentes, que dizem, em efeito: 'Nós não queremos
teu controle sobre nós'; — todos os pensamentos descrentes, se com respeito à
existência de Deus; aos seus atributos, ou à sua providência. Quero dizer, sua
providência particular sobre todas as coisas, assim como sobre todas as pessoas, no
universo; sem a qual 'nem um pardal cai ao chão'; pela qual 'os cabelos de nossas
cabeças são numerados'; assim como a providência geral (vulgarmente assim
chamada), distinguindo-se de uma particular, é apenas uma palavra decente e
profunda, que significa justamente nada.
(2) Novamente: Todos os pensamentos que brotam dos temperamentos
pecaminosos são, sem dúvida, pecaminosos. Tais, por exemplo, aqueles que brotam
do temperamento vingativo, do orgulho, da luxúria, ou vaidade. 'uma árvore má não
pode dar bons frutos': Assim sendo, se uma árvore é má, o fruto deverá ser igualmente
mau.

(3) E assim devem ser aqueles que tanto produzem, como alimentam qualquer
temperamento pecaminoso; que tanto originam o orgulho ou vaidade, a ira ou amor do
mundo; assim como confirmam e aumentam estes; ou qualquer outro temperamento
maldoso, paixão ou afeição ímpia. Já que não apenas o que flui do mal é pecaminoso;
mas também o que conduz a ele; o que quer que tenda a alienar a alma de Deus, e
fazer com que permaneça mundana, sensual e diabólica.

(4) Por isso, mesmo aqueles pensamentos que são ocasionados pela fraqueza
ou enfermidade, por um mecanismo natural do corpo, ou por leis da união vital, por
mais inocentes que eles possam ser, em si mesmos, eles podem, todavia, se tornar
pecaminosos, quando, tanto produzem, apreciam, ou estimulam, em nós, tais
temperamentos pecaminosos; presumindo-se os desejos da carne, os desejos dos
olhos, ou o orgulho da vida. De igual modo, os pensamentos errantes que são
ocasionados pelas palavras ou ações de outros homens, se eles causam ou alimentam
qualquer disposição errada, então, eles principiam o pecado. E o mesmo nós podemos
observar daqueles que são sugeridos ou injetados pelo diabo. Quando eles contribuem
para qualquer temperamento mundano ou diabólico, (o que eles fazem, quando se dá
lugar a eles; e, por esse meio, os tornam seus); então, eles são igualmente
pecaminosos com os temperamentos para os quais eles colaboram.

(5) Mas, desviando-se destes casos, pensamentos errantes, num sentido


posterior da palavra, ou seja, pensamentos nos quais nosso entendimento vagueia de
um ponto que têm em vista, não são mais pecaminosos do que o movimento do
sangue em nossas veias, ou o espírito em nosso cérebro. Se eles surgem de uma
constituição frágil, ou de alguma fraqueza acidental, ou indisposição, eles são tão
inocentes, como se eles tivessem uma constituição fraca, ou um corpo desordenado.
E, certamente, ninguém irá duvidar que um estado de nervos debilitados, uma febre de
alguma espécie, e mesmo um delírio, transitório ou duradouro, podem consistir com
uma perfeita inocência. E se eles podem surgir, na alma que está unida a um corpo
saudável, mesmo de uma união natural entre o corpo e alma, ou de algumas das dez
mil mudanças que podem ocorrer naqueles órgãos do corpo que servem ao
pensamento; — em alguns desses casos, eles são perfeitamente inocentes, assim como
as causas, que os ocasionaram. O mesmo acontecendo, quando eles brotam de
associações casuais e involuntárias de nossas idéias.

(6) Se nossos pensamentos vagueiam de um ponto que tivemos em vista, e


diferentemente afetam nossos sentidos, através de outros homens, eles são ainda
igualmente inocentes: Já que não mais constitui um pecado o entendimento do que
vejo e ouço. Ter olhos e ouvidos não pode ajudar muito na compreensão do que se vê
e ouve. 'Mas, se o diabo injeta pensamentos errantes, não são esses pensamentos
diabólicos?'. Eles são problemáticos, e naquele sentido, maus; mas não são
pecaminosos. Eu não sei o que ele falou para nosso Senhor com uma voz audível;
talvez ele tenha falado apenas para seu coração, quando ele disse: 'Todas essas coisas
eu darei a ti, se tu te humilhares e adorares a mim'. Mas, quer ele tenha falado,
interiormente ou exteriormente, nosso Senhor, sem dúvida, entendeu o que ele disse.
Ele tinha entretanto um pensamento correspondente para aquelas palavras. Mas este
foi um pensamento pecaminoso? Nós sabemos que não foi. Nele não havia pecado,
tanto de ação, palavra ou pensamento. Nem havia qualquer pecado, em milhares de
pensamentos da mesma espécie, com que Satanás possa ter injetado em qualquer um
dos seguidores de nosso Senhor.

(7) Segue-se que nenhum desses pensamentos errantes (o que quer que seja o que as
pessoas imprudentes tenham afirmado, e, por meio disto, afligindo a quem o Senhor
não tinha afligido) é inconsistente com o amor perfeito. De fato, se eles fossem, então,
não apenas uma dor aguda, mas o próprio sono seria inconsistente com ele: — a dor
aguda; no que quer que ela intervenha, naquilo que pensávamos anteriormente, irá
interromper nosso pensamento, e, é evidente, arrastá-lo para uma outra condição: — o
próprio sono, como se trata de um estado de insensibilidade e estupidez; e como tal,
geralmente misturado com pensamentos errantes sobre a terra, é incorreto,
desarranjado, e incoerente. Contudo, certamente, esses são consistentes com o amor
perfeito: assim como todos os pensamentos errantes dessa espécie.

IV
(1) Do que tem sido observado, é fácil dar uma resposta clara para a última
questão: Que tipo de pensamentos errantes nós podemos esperar e orar para que nos
livremos.

Da primeira sorte de pensamentos errantes: aqueles nos quais o coração


desvia-se de Deus; de todos que são contrários à sua vontade, ou que nos deixam sem
Deus no mundo; cada um que é perfeito no amor está inquestionavelmente liberto.
Esse livramento, no entanto, nós podemos esperar; nós podemos, e nós devemos orar
por ele. Os pensamentos errantes dessa espécie implicam descrença, se não inimizade
contra Deus; mas ambos, ele irá destruir; irá trazer completamente ao fim. De certo,
de todos os pensamentos errantes pecaminosos nós seremos absolutamente libertos.
Todo aquele que é perfeito no amor serão libertos desses; mesmo que eles não tenham
sido salvos do pecado. Homens e demônios irão tentá-los, de todas as maneiras; mas
eles não prevalecerão sobre eles.

(2) Com respeito à última sorte de pensamentos errantes, o caso é amplamente


diferente. Até que a causa seja removida, nós não podemos, de modo algum, esperar
que cesse o efeito. Mas as causas e ocasiões desses irão permanecer, por quanto tempo
permanecermos vivos. Assim sendo, nós temos todos os motivos para acreditar que
eles irão permanecer também.

(3) Para ser mais especifico: suponha a alma, mesmo que santa. Habitando em
um corpo desajustado; suponha que o cérebro seja tão totalmente desordenado, como
os que se seguem à loucura; os pensamentos não serão desajustados e desconexos, por
quanto tempo persistir a enfermidade? Suponha que a febre ocasione essa loucura
temporária, o que nós denominamos de delírio. Pode existir alguma conexão justa de
pensamento, até que o delírio seja removido? Suponha o que seja chamado de
desordem nervosa, surgindo em tão alto grau que ocasione, pelo menos, uma loucura
parcial; não existirão ali milhares de pensamentos errantes? E esses pensamentos
irregulares não irão continuar, por quanto tempo a enfermidade que os ocasiona
persistir?

(4) Não será o mesmo caso, com respeito àqueles pensamentos que
necessariamente surgem de uma dor violenta? Eles não irão, mais ou menos,
continuar, enquanto a dor continuar, através da ordem inviolável da natureza? Essa
ordem, igualmente, irá acontecer, quando os pensamentos são perturbados, quebrados,
interrompidos, por alguma deficiência de apreensão, julgamento ou imaginação,
fluindo da constituição natural do corpo. E quantas interrupções podem surgir das
associações incontáveis e involuntárias de nossas idéias! Agora, todos esses são direta
e indiretamente causados pelo corpo corruptível, deprimindo a mente. Nem,
entretanto, podemos esperar que eles sejam removidos, até que 'essa corrupção possa
ser trocada por idoneidade'.

(5) E, então, apenas quando nós nos reduzimos a pó, podemos ser libertos
desses pensamentos errantes que são ocasionados pelo que vemos e ouvimos; em
meio a esses, pelos quais estamos agora cercados. Para evitá-los, nós devemos sair do
mundo: porque, por quanto tempo permanecermos nele; por quanto tempo existam
homens e mulheres à nossa volta, e nós tivermos olhos para ver, e ouvidos para ouvir,
as coisas que diariamente vemos e ouvimos, certamente, irão afetar nossa mente, e
irão, mais ou menos, perturbar, e interromper nossos pensamentos anteriores.

(6) E, tanto tempo quanto os espíritos diabólicos perambulem, de um lado para


outro, num mundo miserável e desordenado; por quanto tempo eles irão assaltar
(possam ser impedidos ou não), cada habitante de carne e sangue. Eles irão perturbar,
mesmo aqueles a quem eles não podem destruir. Eles irão atacar, mesmo que não
possam dominar. E desses ataques de nossos inimigos indóceis e incansáveis, nós não
podemos buscar um livramento completo, até que nós habitemos 'onde o perverso
cesse de perturbar, e onde o cansado esteja livre de aborrecimentos.

(7) Para concluir: Esperar livramento desses pensamentos errantes que são
causados por espíritos diabólicos, é esperar que o diabo possa morrer ou cair no sono,
ou, pelo menos, não possa ir, de lá para cá, como um leão rugindo. Esperar livramento
desses que são ocasionados por outros homens, é esperar que tanto esses homens não
mais existam na terra; que nós possamos estar completamente isolados deles, e termos
nenhum intercurso com eles; quanto, tendo olhos, nós não possamos ver; e tendo
ouvidos, não possamos ouvir, mas sermos insensíveis como objetos ou pedras. E orar
para nos livrarmos desses que são ocasionados pelo corpo é, em efeito, orar para que
nós possamos deixar o corpo: Do contrário, é orar por impossibilidades e absurdos;
orando para que Deus possa reconciliar contradições, através da continuidade de
nossa união com o corpo corruptível, sem as conseqüências naturais e necessárias
dessa união. É como se nós pudéssemos orar para sermos anjos e homens, mortais e
imortais, ao mesmo tempo. Mais ainda: quando aquele que é imortal vier, a
mortalidade irá desaparecer.

(8) Melhor que nós oremos, tanto com o espírito, quanto com o entendimento,
para que todas essas coisas possam operar juntas para o nosso bem; para que
possamos sofrer todas as enfermidades de nossa natureza, todas as interrupções de
homens, todos os assaltos e sugestões de espíritos diabólicos, e, em tudo. sermos
'mais que vencedores'. Que nós oremos para nos livrarmos de todos os pecados; que
tanto aqueles da raiz quanto dos ramos possam ser destruídos; que nós possamos ser
'limpos de toda poluição da carne e espírito', de cada temperamento mau, palavra e
obra; para que possamos 'amar o Senhor, nosso Deus, com todo nosso coração; com
toda nossa mente; com toda nossa alma; e com todas as nossas forças'; para que
todos os frutos do Espírito sejam encontrados em nós: não apenas amor, alegria e paz,
mas também, 'longanimidade, gentileza, bondade, fidelidade, mansidão, temperança'.
Orar para que todas essas coisas possam florescer e abundar; possam aumentar em
você mais e mais, até que lhe seja dada uma larga permissão para entrar no reino
eterno de nosso Senhor Jesus Cristo!

You might also like