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Organização da Educação Nacional

Nalú Farenzena
Professora da FACED/UFRGS

1. Federalismo e Descentralização

No final do século XIX, ao tornar-se uma república, o Brasil adotou a


organização política federativa. Deste período até a atualidade, transcorrido mais de um
século, o país passou por períodos democráticos, ditatoriais ou de transição entre
autoritarismo e democracia. Nos dois períodos ditatoriais (1937-1945 e 1964-1985), as
bases federativas do Estado brasileiro foram extensamente atingidas e a organização
política do país aproximou-se muito mais das características dos estados unitários.
Vejamos, de forma sucinta, os conceitos de estado federativo e estado unitário.
A forma de distribuição da autoridade política nos países permite distinguir
estados unitários e estados federativos.
Nos estados federativos, diferentes níveis de governo têm autoridade sobre a
mesma população e território. O governo central e os governos subnacionais são
independentes entre si, são atores políticos autônomos, com poder para implementar
suas próprias políticas (Arretche, 2002). Nas federações contemporâneas de tipo
cooperativo, como é o caso brasileiro, há formas de ação conjunta entre esferas de
governo e as unidades subnacionais mantém significativa autonomia decisória e
capacidade de autofinanciamento (Almeida, 2005).
Nos estados unitários, ocorre uma concentração da autoridade política, fiscal e
militar no governo central e os governos locais têm sua autoridade política delegada
(“concedida”) pelo governo central.
Voltemos agora ao quadro geral da organização política do Brasil na história
mais recente.
Durante o regime militar, mecanismos de representação política, de controle dos
sistemas de segurança regionais, de centralização fiscal e de proliferação de agências
federais nos estados deram novo formato à federação, com menor autonomia dos
estados, então constitucionalmente entes da Federação, frente à União (Sallum Jr.,
1996).
No período de abertura política e transição democrática anos de 1980),
diferentes segmentos da sociedade brasileira clamaram pela reconstrução ou
restabelecimento do federalismo, como condição para a democratização. Nessa década,
bases do federalismo brasileiro foram sendo recuperadas e fortalecidas, destacando-se a
descentralização fiscal (em 1983 e depois com a Constituição de 1988) e o retorno das
eleições diretas para governador, prefeitos das capitais e de áreas de “segurança
nacional”.
A federação que emerge da Constituição de 1988 e das relações políticas até
meados dos anos de 1990 caracteriza-se pela não-centralização do poder político, pelo
reconhecimento dos municípios como componentes da Federação, pelo fortalecimento
do poder dos estados e pela descentralização fiscal, essa última favorecendo, em
especial, os municípios.
Desde a segunda metade dos anos 1990 os estados e municípios foram sofrendo
restrições na sua autonomia de implementação de políticas. Um dos principais fatores
de restrição é o enquadramento dos estados e municípios na estratégia de ajuste fiscal
(privatizações, renegociação das dívidas, geração de superávit primário, disciplina fiscal
através da Lei de Responsabilidade Fiscal). Conforme Almeida (2005), outro fator de
limitação da autonomia dos estados e municípios tem sido o estabelecimento de regras
mais fixas ou mais rígidas para o uso de recursos com programas sociais. Nesse último
caso, por exemplo, está a determinação de que estados e municípios gastassem 15% da
receita de impostos no ensino fundamental (art. 60 das disposições transitórias da
Constituição Federal, aprovado em 1996 e vigente até a aprovação da Emenda 53, de19
de dezembro de 2006).
Se você pensar nas escolas públicas existentes no seu município, provavelmente
só encontrará escolas estaduais ou escolas municipais, mantidas e administradas pelo
governo estadual ou pela prefeitura. Isso é assim em todo o Brasil; são poucas as escolas
federais que oferecem Educação Básica. Essa situação tem relação com a organização
federativa do Estado Brasileiro.
Antes de o Brasil tornar-se república, as províncias e os municípios já eram
responsáveis pela organização e oferta de ensino primário e/ou ensino secundário. Após
a instalação da república federativa, manteve-se a interpretação de que os estados
deveriam ter autonomia na oferta de ensino primário; a atuação do governo central
nessa etapa era, inclusive, interpretada por alguns como um desrespeito à organização
federativa do país. A discussão desse tema na primeira Assembléia Constituinte
republicana pode ser consultada em Cury (1996).
Durante a ditadura de Vargas (1937-1945) foram editados um conjunto de
decretos-lei buscando dar unidade à organização educacional do país e depois desse
período se manteve a existência de legislação e normas nacionais, delimitando a oferta
educacional dos estados e municípios. Desse modo, desde os anos de 1930 existe uma
organização nacional da educação, contudo, a oferta das etapas anteriores ao ensino
superior se manteve como responsabilidade, de fato, dos estados e municípios.
Explicando melhor: a União tem mantido, ao longo dos anos, atribuições que visam
construir uma organização nacional, em especial as tarefas de legislação, normatização
e planejamento. Todavia, a gestão e grande parte do financiamento da oferta de
educação básica cabem aos governos estaduais e municipais.
Enfim, a oferta educacional brasileira nasceu descentralizada, quer dizer, com
grande parte da responsabilidade nas mãos dos estados e municípios. Essa situação foi
em grande parte influenciada pelo princípio de autonomia federativa. Isso é importante
de levar em conta para que possamos compreender o significado do termo e das
propostas de descentralização da educação mais atuais.
Vejamos agora o conceito de descentralização. Em geral, ao se falar de
descentralização se coloca a existência de um centro – o governo central de um país. O
movimento de descentralização seria a transferência de responsabilidades e atribuições
desse governo central (1) para governos subnacionais (no Brasil, estados e municípios)
ou (2) para entidades governamentais semi-independentes, como autarquias e fundações
ou (3) para a sociedade. Nesse último caso, encontram-se duas formas bastante distintas.
Uma delas é a transferência de responsabilidades para a iniciativa privada (mediante
privatização, conveniamento ou contratação de serviços). Outra forma é a participação
da sociedade civil nas decisões, acompanhamento e/ou avaliação e fiscalização das
políticas públicas (ver Lobo, 1990 e Almeida, 2005).
Utilizo aqui o termo descentralização para fazer referência à distribuição de
funções entre esferas ou níveis de governo. No caso brasileiro, em que existem três
esferas de governo, a descentralização pode também ser especificada como
estadualização (transferência de responsabilidades do governo federal para os estados)
ou como municipalização (transferência de responsabilidades do governo federal ou de
um governo estadual para os municípios). A descentralização intergovernamental pode
ocorrer (1) por transferência de capacidade fiscal e de poder de decisão na
implementação de políticas aos estados e municípios; (2) transferência aos estados e/ou
municípios de responsabilidade pela implementação ou gestão de políticas definidas no
nível federal.
No Brasil, a opção política pela descentralização foi consagrada na Constituição
de 1988, vincula-se à estrutura conferida à federação brasileira e, portanto, não resulta
de opções políticas de um governo (Afonso, 2004). As três esferas de governo contam
com recursos fiscais próprios ou transferidos. Na área das políticas públicas sociais
(previdência, assistência social, saúde, trabalho e emprego, habilitação, saneamento,
educação, cultura, esportes e lazer), a Constituição prevê, para a maioria dos setores, a
descentralização da gestão e a cooperação entre as esferas de governo.

2 – Responsabilidades das esferas de governo para com a educação

Como já foi dito no tópico anterior, os estados e municípios brasileiros,


historicamente, assumiram a oferta da educação básica, ficando a União com a
competência de atuar diretamente na educação escolar através da manutenção e
organização da rede federal de ensino e, indiretamente, através da contribuição à
manutenção e ao desenvolvimento do ensino e aos programas suplementares das redes
estaduais e municipais.
Temos que considerar, contudo, que há significativas variações regionais e locais
de incumbências dos estados e municípios.
No processo de elaboração da Constituição de 1988 e da legislação que a seguiu,
as definições sobre o caráter e a abrangência da atuação de cada nível de governo para a
garantia do direito à educação foi um tema de destaque.
Do período da Assembléia Nacional Constituinte (1987-1988), passando pela
tramitação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1988-1996), da Proposta
de Emenda Constitucional (1995-1996), que deu origem à Emenda 14/96, e da Lei N.º
10.172/01 - Plano Nacional de Educação (1998-2001), as definições sobre competências
e inter-relações das esferas de governo na área da educação sempre estiveram presentes
nos debates e proposições da produção legal, envolvendo os executivos, parlamentos e
entidades da sociedade civil.
Já no texto constitucional, de 1988, ficou definido que as esferas de governo
devem organizar seus sistemas de ensino em regime de colaboração. Os sistemas de
ensino previstos são o federal, os dos estados e os dos municípios. Essa colaboração
abrange diversos âmbitos, dos quais se destaca a oferta de educação, o financiamento, o
planejamento e a normatização.
A responsabilidade pela oferta de educação escolar é compartilhada pelos três
níveis governamentais.
O texto da Constituição federal aprovado em 1988 determinava que os municípios
deveriam priorizar a educação pré-escolar e o ensino fundamental. Os níveis prioritários
de atuação dos estados não foram definidos no texto original da Constituição. Á União
caberia o financiamento do sistema federal de ensino e a prestação de assistência técnica
e financeira aos estados e municípios.
A Emenda Constitucional N.º 14/96, estabeleceu a atuação prioritária dos
municípios no ensino fundamental e educação infantil. As incumbências da União para
a oferta educacional são o financiamento da rede pública federal de ensino e prestação
de assistência financeira e técnica aos estados e municípios, garantindo equalização de
oportunidades e padrão mínimo de qualidade de ensino. O ensino fundamental e o
ensino médio foram estabelecidos como etapas da educação às quais os estados devem
conferir primazia.
Em termos de financiamento, as três esferas de governo possuem
responsabilidades, de acordo com suas prioridades. A Constituição estabelece que cada
esfera de governo deve aplicar uma parte de suas receitas resultantes de impostos em
educação – 18% é a parcela do governo federal e 25% a dos estados e municípios.
Na legislação brasileira atual, a colaboração entre os sistemas estaduais e
municipais prioriza a garantia da universalização do ensino obrigatório (ensino
fundamental). A reforma constitucional do texto da área da educação, em 1996,
redefiniu mecanismos de priorização financeira do ensino fundamental, vinculando, por
dez anos, 15% da receita de impostos dos governos subnacionais à manutenção e
desenvolvimento do ensino fundamental e, nessa lógica, criou o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF).
Com a Emenda 53/06, foi criado o FUNDEB – Fundo de manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de valorização dos Profissionais da Educação.
Com esse Fundo, amplia-se a colaboração intergovernamental no financiamento da
Educação, tanto pela previsão de um aporte mais significativo de recursos da União para
complementação de fundos estaduais quanto pela redistribuição de um volume maior de
recursos entre cada governo estadual e governos municipais, redistribuição essa que se
dá basicamente pelo critério de número de matrículas nas etapas e modalidades da
Educação Básica.
No planejamento, a Constituição de 1988 determinou a elaboração, através de
lei, de planos plurianuais nacionais de educação, os quais devem observar a articulação
entre os níveis de ensino e a integração das ações do Poder Público. A Lei do Plano
Nacional de Educação 2001-2010 (Lei N. 10.172/01) estabelece objetivos e metas cuja
consecução traz, explicitamente, a contribuição dos três níveis governamentais. Estados
e municípios, de acordo com a LDB, também são responsáveis pela elaboração de
planos de educação.
A responsabilidade das três esferas de governo também está presente na tarefa de
normatização da educação. Nesse campo da normatização, participam os poderes
executivo, legislativo e judiciário. Ao Congresso Nacional cabe elaborar a lei de
diretrizes e bases da educação nacional e outras leis de interesse nacional versando
sobre a educação. As assembléias legislativas dos estados e as câmaras de vereadores
podem complementar a legislação nacional ou estadual. Os poderes executivos de cada
esfera de governo também normatizam a educação, através de decretos, resoluções,
portarias, etc, complementando a legislação federal. O Poder Judiciário interfere na
normatização, seja pela jurisprudência, seja pelos julgamentos de inconstitucionalidade
de leis ou atos normativos.
A atuação dos governos em regime de colaboração na área da educação é ainda
um objetivo a ser perseguido. O fato de a legislação determinar uma atuação
compartilhada em vários âmbitos não garante que isso se concretize. A prática das
relações intergovernamentais é que vai marcar ações mais ou menos colaborativas ou
coordenadas. E essa prática é marcadamente de cunho político, é mais informal e não
obedece à lógica mais formal da legislação. Permanece, assim, para os sujeitos
envolvidos nas negociações e acordos de colaboração a construção de políticas
articuladas, o qual, sem eliminar conflitos e oposições, pode possibilitar práticas
administrativas que viabilizem a democratização da educação em geral e não apenas
desta ou daquela rede de ensino.

Tópico 3 – Sistemas de Ensino


Já foi referido no Tópico 1 desta temática que os sistemas de ensino previstos na
legislação brasileira são o sistema federal, os sistemas estaduais e os sistemas
municipais. Nesse tópico, serão identificados os componentes de cada sistema, assim
como a sua integração à organização nacional da educação. Vejamos, entes disso, quais
as possibilidades de formação de sistemas de ensino na legislação anterior à atual.
A Constituição de 1967 estabelecia, no artigo 177, a organização dos sistemas de
ensino respectivos pelos estados e pela União; cabia à União prestar assistência técnica
e financeira para o desenvolvimento dos sistemas estaduais de ensino. Ao sistema
federal de ensino era atribuído caráter supletivo, este significando uma atuação da
União na oferta de educação escolar “nos estritos limites das deficiências locais”.
A Lei N.º 4.024/61, a primeira LDB, preceituava a organização de sistemas de
ensino pela União e pelos estados, assim como a ação federal supletiva, versando, mais
longamente, sobre condições e responsabilidades para o reconhecimento e inspeção dos
estabelecimentos de ensino pelos estados e pela União. Essa Lei também afirmava que
as atribuições do poder público federal em matéria de educação seriam exercidas pelo
Ministério da Educação e da Cultura, ao qual caberia “... velar pela observância das leis
do ensino e pelo cumprimento das decisões do Conselho Federal de Educação”(art. 7º);
essa Lei definia características da composição e mandato dos conselheiros do Conselho
Federal de Educação, este um órgão com várias atribuições normativas, de fiscalização,
consultivas e de planejamento.
A Lei N.º 5.692/71, que modificou a LDB no que diz respeito a diretrizes e bases
do ensino de 1º e 2º graus, não contemplava segmento específico sobre a organização
político-administrativa dos sistemas de ensino. De outra parte, tratava de aspectos
organizacionais concernentes às relações entre União, estados e municípios no
atendimento à educação escolar. Determinava a elaboração de planos nacionais
setoriais, em consonância com o Plano-Geral do Governo, para nortear os programas
federais e a assistência aos estados, assim como a decorrente formulação de planos de
educação estaduais e municipais. Essa lei preceituava como objetivo do apoio financeiro
do governo central aos sistemas de ensino estaduais a correção de diferenças regionais
de desenvolvimento sócio-econômico(art. 54, §1º). A legislação dos estados deveria
estabelecer as responsabilidades do estado e seus municípios no desenvolvimento dos
diferentes graus de ensino e tal legislação deveria visar “... à progressiva passagem para
a responsabilidade municipal de encargos e serviços de educação, especialmente de 1º
grau, que pela sua natureza possam ser realizados mais satisfatoriamente pelas
administrações locais”(art. 58, parágrafo único). Ou seja, essa Lei continha uma
orientação para a descentralização, via municipalização, da oferta de 1º grau.
No texto constitucional promulgado em 1988, ficou definido que a União, os
estados e os municípios devem organizar seus sistemas de ensino em regime de
colaboração. Nesta formulação fica explícita a inovação da possibilidade de constituição
de sistemas municipais de ensino, coerente com a nova posição dos municípios como
entes da federação a partir da Constituição Federal de 1988. A atual LDB lista os
componentes do sistema de ensino federal, sistemas de ensino dos estados e sistemas de
ensino dos municípios, respectivamente nos seus artigos 16, 17 e 18.
Cabe fazer um parêntese aqui para explicitar o que é sistema de ensino. Na
literatura acadêmica, diversos trabalhos se debruçaram sobre o tema, buscando
conceituar sistema de ensino. No Parecer 30, de 2000, da Câmara de Educação Básica
do Conselho Nacional de Educação, encontra-se uma revisão muito bem elaborada
desse conceito. O Parecer teve como relator o Prof. Carlos R. Jamil Cury. Assim,
recomendo a você a leitura desse Parecer, que pode ser obtido em www.cne.gov.br
(atos normativos; pareceres; câmara de educação básica)
Na seqüência, cito trechos do Parecer que considero os mais esclarecedores para a
compreensão do conceito de sistema.

Entende-se sistema como elementos coexistentes lado a lado e que, convivendo dentro
de um mesmo ordenamento, formam um conjunto articulado.
A maioria dos estudiosos do assunto parece convergir para uma noção de sistema tal
como expressa por CORBISIER (Corbisier, Roland Enciclopédia filosófica, Petrópolis :
Vozes, 1974, p.122) quando diz ser um conjunto ou totalidade de objetos, reais ou
ideais, reciprocamente articulados e interdependentes uns em relação aos outros. Este é
também o sentido proposto por SAVIANI (Saviani, Dermeval. Educação e Sociedade,
n. 69, Campinas, 1999, p. 121): sistema denota um conjunto de atividades que se
cumprem tendo em vista determinada finalidade, o que implica que as referidas
atividades são organizadas segundo normas que decorrem dos valores que estão na base
da finalidade preconizada.
Assim, um sistema implica tanto a unidade e a multiplicidade em vista de uma
finalidade comum quanto o modo como se procura articular tais elementos.
Sistemas de ensino são o conjunto de campos de competências e atribuições voltadas
para o desenvolvimento da educação escolar que se materializam em instituições,
órgãos executivos e normativos, recursos e meios articulados pelo poder público
competente, abertos ao regime de colaboração e respeitadas as normas gerais vigentes.

Cada sistema de ensino, teoricamente, forma um conjunto articulado de


competências e atribuições. Havendo, contudo, uma educação “nacional”,
fundamentada em valores e finalidades comuns, pressupõem-se uma articulação entre os
sistemas. Seria essa articulação ou integração um “sistema nacional de educação”?
Nesse texto, optamos por chamar essa integração entre os sistemas de organização
nacional da educação, resguardando, assim, o termo Sistema Nacional de Educação,
este com um significado bastante específico presente em projetos de lei de diretrizes e
bases da educação nacional que tramitaram no Congresso Nacional até 1994.
A LDB aprovada em 1996 esboça uma organização da educação nacional com a
previsão de existência dos sistemas federal, estaduais e municipais de ensino, os quais
têm responsabilidades próprias ou compartilhadas entre si, devendo organizar-se em
regime de colaboração. São três conjuntos que, pelas determinações da Lei, articulam-se
num conjunto maior, nos campos do planejamento, do financiamento, da gestão e da
avaliação, por competências coordenadas pela União. A esse conjunto maior estamos
denominando organização nacional da educação. Esta articulação está prevista sem que,
no entanto, estejam estabelecidos suficientes meios institucionais articuladores que
confeririam maior funcionalidade à colaboração/cooperação entre os sistemas de ensino.
A atual LDB preceitua que cabe à União a coordenação da política nacional de
educação, articulando os sistemas de ensino e “... exercendo função normativa,
redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais” (art. 8º, § 1º).
As atribuições que conferem às normas e ações da União o estatuto de coordenação da
política nacional de educação estão listadas no artigo 9º desta Lei e, entre elas, é
oportuno mencionar: a elaboração de plano nacional de educação, em colaboração com
estados e municípios; a assistência técnica e financeira aos governos subnacionais, o
estabelecimento de diretrizes para as etapas da Educação Básica, com a colaboração dos
estados e municípios; a implementação de processo nacional de avaliação do
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior.
Cabe mencionar que na organização da educação nacional funciona o Conselho
Nacional de Educação (CNE). Esse conselho exerce funções específicas voltadas às
instituições do sistema federal de ensino. Contudo, ele é, efetivamente, um conselho
“nacional” pois suas competências e sua área jurisdição atingem todos os sistemas de
ensino, incluindo os sistemas estaduais e municipais. Várias das atribuições da União
que constam na LDB são exercidas pelo CNE. As atribuições do Conselho Nacional
constam na Lei 9.131/1995.
Vejamos um exemplo de uma atribuição do CNE que atinge o conjunto da
educação nacional. Cabe ao CNE elaborar as diretrizes curriculares das etapas e
modalidades da Educação Básica. Essas diretrizes, por exemplo, as diretrizes
curriculares nacionais da Educação de Jovens e Adultos, devem ser seguidas por todas
as escolas do país, sejam elas estaduais, municipais ou particulares. É certo que os
órgãos normativos de cada sistema de ensino podem complementar essas diretrizes
nacionais. Mas, como diz a palavra, podem complementar, sem, contudo, contraditar as
normas nacionais.
No quadro a seguir, há um esboço da organização sistêmica da educação brasileira.

Quadro 1 – Organização Nacional da Educação e Sistemas de Ensino - Brasil

Organização Nacional da Educação em Regime de Colaboração

Instância articuladora e coordenadora: a União

Órgão Executivo: Ministério da Educação

Órgão Normativo: Conselho Nacional de Educação (CNE)

Órgão legislador: Congresso Nacional

Sistemas de Cada Esfera de Governo

Federal Estaduais Municipais


Componentes: Componentes: Componentes:
1. Instituições de ensino públicas
1. Instituições de ensino públicas 1. Instituições de ensino públicas municipais de educação infantil,
federais municipais ensino fundamental e ensino médio
2. Instituições de ensino
particulares de Educação 2 Instituições de ensino públicas 2. Escolas particulares de educação
Superior municipais de educação superior 

infantil
3. Escolas particulares de ensino
fundamental e ensino médio
3. Órgãos federais de educação 4. Órgãos estaduais de educação 3. Órgãos municipais de educação
Ministério da Educação Secretaria Estadual de Educação Secretaria Municipal de Educação
Conselho Nacional de
Educação Conselho Estadual de Educação Conselho Municipal de Educação

Os municípios não são obrigados a criar um sistema municipal de ensino. No


Rio Grande do Sul, por exemplo, em 2005, cerca de um quarto, apenas, dos municípios
tinham sistema municipal constituído. Nos municípios em que não há sistema, as
instituições públicas municipais e as instituições particulares de educação infantil (que
seriam do sistema municipal) mantêm-se integradas ao sistema estadual. A criação de
sistemas municipais é uma tendência e certamente irá se concretizando na medida em
que os municípios avaliem que tem capacidade técnica, política e administrativa para
tal. Em termos históricos, é muito recente a possibilidade de constituição de sistemas
municipais, portanto, é uma implantação progressiva. O pertencimento de instituições
municipais ao sistema estadual não significa que as escolas municipais serão mantidas
ou administradas pelo governo estadual. Significa uma certa subordinação, às normas
do sistema estadual e à sua fiscalização e supervisão. Os municípios, mesmo não
contando com sistema próprio, possuem rede de ensino, órgãos administrativos da
educação e muitos possuem conselho municipal. Mesmo assim, se não possuem sistema
próprio, seguem normas e procedimentos estabelecidos para o sistema estadual.
Cabe acrescentar que os estados e municípios têm autonomia para a organização
dos seus sistemas de ensino. Quer dizer, as decisões sobre quais são os órgãos
executivos e normativos dos sistemas de ensino estaduais e municipais, a articulação
entre eles, a articulação dos órgãos centrais dos sistemas com as escolas e com a
sociedade, assim como outros aspectos, são prerrogativas a serem definidas em cada
sistema, não existe uma norma nacional regulando isso.
O mais comum é que os órgãos executivos dos sistemas estaduais e municipais
sejam, respectivamente, a secretaria estadual de educação e a secretaria municipal de
educação. Os órgãos normativos dos sistemas estaduais são os conselhos estaduais de
educação. Os conselhos municipais de educação existem em inúmeros municípios; caso
o município tenha sistema próprio, o conselho municipal é o órgão normativo do
sistema. A composição, atribuições e grau de autonomia dos conselhos (estaduais ou
municipais) variam muito nos diferentes estados e localidades do Brasil.
É importante observar que a organização dos sistemas de ensino constitui um
âmbito fundamental da prática de gestão democrática. Ou seja, a gestão democrática
como princípio não se restringe à gestão das escolas. A construção da gestão
democrática dos sistemas de ensino inclui: as relações entre ministério ou secretarias de
educação e os respectivos conselhos de educação; as relações entre conselhos,
ministério ou secretarias e a sociedade; as relações entre conselhos, ministério ou
secretarias e as escolas; as relações entre ministério ou secretarias e outros órgãos de
governo; a relação entre os órgãos da organização nacional da educação (MEC e CNE)
e órgãos ou instâncias representativas estaduais e municipais.
Enfim, em todas essas relações interinstitucionais e entre Estado-sociedade
encontra-se uma possibilidade de interação e participação democráticas, a qual
acreditamos ser um meio valioso para construir uma educação com relevância social e
política. Em termos prospectivos, é possível que uma tendência de relações mais
democráticas entre os sistemas e entre Estado-Sociedade leve à proposição e
constituição de um Sistema Nacional de Educação.

Referências Citadas
AFONSO, José R. Brasil, um caso à parte. Trabalho apresentado no XVI Regional
Seminar of Fiscal Policy, da CEPAL/ILPES. Santiago do Chile, janeiro de 2004. Disp.
em http://federativo.bndes.gov.br/%5cbf_bancos%5Cestudos%5Ce0002437.pdf.
ALMEIDA, Maria Hermínia T. de. Recentralizando a federação? Revista de Sociologia
e Política. Curitiba, n. 24, junho de 2005, p. 29-40.
ARRETCHE, Marta. Relações federativas nas políticas sociais. Educação e Sociedade.
Campinas, v. 23, n. 80, setembro de 2002, p. 25-48.
BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil (versão
atualizada, com emendas constitucionais). Disp.em https://legislacao.planalto.gov.br.
BRASIL. Leis, Decretos. Lei N.º 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Aprova o Plano
Nacional de Educação e dá outras providências.
_____. Lei Complementar N.º 101, de 04 de maio de 2000. Estabelece normas de
finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras
providências.
______. Lei N.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional.
______. Lei N.º 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
do Adolescente e dá outras providências.
CURY, Carlos R. Jamil. A educação e a primeira constituinte republicana. In:
FÁVERO, Osmar (org.). A educação nas constituintes brasileiras: 1823-1988.
Campinas, Autores Associados, 1996, p. 69-80.
LOBO, Theresa. Descentralização: conceitos, princípios, prática governamental.
Cadernos de Pesquisa. São Paulo, 74, 11-19, agosto, 1990.
SALLUM Jr. Brasilio. Federação, autoritarismo e democratização. Tempo Social-
Revista de Sociologia da USP. São Paulo, 8(2): 27-52, out. 1996.
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Brasil: República Federativa.


Durante períodos autoritários a educação sofreu mudanças, sua organização se deu nos
moldes de Estados unitários.
Estados unitários diferentes de estados federativos.
Federação, diferentes níveis de gov. Tem autoridade sobre um mesmo território e
população.
Govs independentes entre si.
Em estados unitários o poder é centralizado, e os poderes locais são delegados pelo
poder central, o que permite sua direta interferência nas questões locais e a mínima
autonomia dos govs. locais.
Este ultimo modelo foi o que se implantou durante os regimes autoritários no Brasil.
As bases do federalismo no Brasil somente começaram a ser recuperadas na década de
80.Houve o fortalecimento dos govs. locais e regionais, com aumento da
descentralização política, fiscal, etc.
Mas esta autonomia pelo menos no plano fiscal foi limitada devido ao processo de
reestruturação que o Estado brasileiro vem passando e que o atinge em todas as suas
esferas.
Desde os anos 30 existe uma organização nacional do ensino.
Mas a gestão e financiamento das escolas se da por meio dos Estados e municípios no
que diz respeito ao ensino fundamental e médio.
Atualmente o estado nacional organiza a educação básica em termos de legislação,
normatização e planejamento.
A descentralização da educação brasileira foi consagrada na Constituição de 1988, é um
mecanismo constitucional e não uma decisão política de A ou B.
A atual normatização define que as diferentes esferas de gov. devem organizar seus
sistemas em regime de colaboração.

Sistemas e ensino:
Federal Estadual e Municipal
No período da segunda ditadura os planos regionais de educação deveriam estar
afinados com o plano-geral do Governo Federal.
Mesmo com esta centralização dos planos de ação, havia uma clara tendência à
descentralização, principalmente no que dizia respeito ao financiamento e oferecimento
dos serviços pelos sistemas municipais de ensino.
A autora trabalha com a idéia de Organização Nacional da Educação, como fica claro
em suas conclusões, ela acredita existirem sistemas estaduais e municipais de educação,
mas que ainda estaria por ser criado um sistema nacional de educação.
A união coordena o sistema nacional de educação e articula os sistemas de ensino.
Gestão democrática.
O ponto alto da descentralização passa por permitir uma maior interlocução entre os
diferentes sistemas de educação e a incorporação da participação da sociedade neste
modelo de gestão.

Fagner Sutel
09/05/2008

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