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PABLITO BARROS
barrospablito@gmail.com
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A diferenciação entre mito e lenda, em diversos autores, é muito sutil; às vezes, nem
sequer existe. Basicamente, mitos são de ordem geral, no tradicionalismo de um povo,
enquanto as lendas possuem caráter local. Nesse caso de São Francisco de Assis,
podemos considerar um mito.
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• “Diz-se da natureza apresentada por qualquer objeto de
conhecimento singular, individual, passível de ser captado
pelos sentidos2”;
• “No pensamento hegeliano, que inverte a significação
tradicional do termo, é aquilo que é efetivamente real em
decorrência de sua universalidade, de seu caráter sintético
passível de unificar uma multiplicidade de aspectos ou
determinações, em oposição ao que é parcial, singular ou
individual3”.
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unificado a partir da multiplicidade do sujeito (o lobo e a cidade). O que
São Francisco propôs então? Uma “terceira via”, onde não se será nem
vítima nem algoz um do outro4. Não combater ferocidade com
ferocidade, mas inverter essa lógica e surpreender tanto os cidadãos
quanto o lobo. Um “poder integrador ao invés do coercitivo”.5 Afinal,
parece dizer ele, “violência gera violência”. Tudo em decorrência do
diálogo, onde São Francisco argumenta a ação – ataques à cidade –, a
causa – a fome – e a conseqüência – violência recíproca. Para esse
diálogo com o lobo, São Francisco usará todos os recursos do concreto.
É com o diálogo que se faz a transposição de um estado violento para
um estado pacífico. O diálogo unificará o real. A concordância vem da
promessa recíproca de não-violência, diante da resolução de ambas as
partes. Concordância sim, como reconhecimento de que havia algo
muito mais destrutivo nos seus corações do que o próprio lobo.
O mito pode ser facilmente transposto para os nossos dias. A
violência, mais do que nunca, faz parte do cotidiano das pessoas. Cada
vez mais se gasta em equipamentos de segurança. Tudo isso para nos
protegermos do “lobo violento”: os excluídos da sociedade e as minorias
étnicas. Os “lobos” moram agora nas periferias e favelas. Ou o nosso
“lobo interior”, gerador de toda corrupção moral. Essa corrupção moral
está em todos os âmbitos: social, político, econômico, etc.
A influência de São Francisco de Assis e a sua máxima de não-
violência influenciaram nomes como Henry David Thoreau (com sua
revolução pacífica em A Desobediência Civil) e também a revolução de
Ghandi na Índia.
4
Ver PACE E BENE NONVIOLENCE SERVICE. A Não Violência
Franciscana. Cap. 3, Intervenção não violenta, negociação e
terceira via, p. 25-27. Disponível em
www.unijui.tche.br/ambienteinteiro/Manual.pdf .
5
Idem.