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Roberto Carneiro
Q
por Rute Sousa Vasco
rute.s.vasco@telecom.pt
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PT Escolas | M U D A R
Essa apreciação significa que a internet, devida- Nunca como hoje, tivemos uma proporção tão ele-
mente contextualizada, está longe de ser um processo vada de gente sénior, por razões que têm a ver com
solitário? a longevidade, com a saúde, qualidade de vida, que
permite que pessoas de 70, 80 anos se mantenham
O projecto está no seu início e é promissor. Não activas e com o cérebro a funcionar bem… o que não
apenas no que respeita aos jovens, mas à escola acontecia. E, portanto, se for inventada uma tecnolo-
como um todo. Este foi um ponto muito frisado gia que permita transferir esse capital de sabedoria da
no conselho consultivo: tem de se animar toda a experiência de conhecimentos, dos mais velhos para
comunidade escolar e não criar mais uma fractura os mais novos, a humanidade dará um grande salto
entre os jovens que estão muito “internetizados” e de qualidade. Por isso é preciso que professores, pais
professores que são muito analógicos. A competição e educadores percebam que não podem competir no
é saudável, mas sobretudo a cooperação para a com- plano do acesso às fontes de informações. Se o pro-
petição é o tema essencial. Acho que não se trata de fessor se colocar numa posição em que ajuda e faci-
levá-los a competir individualmente, um contra um, lita ao aluno a auto-regulação, meta cognitiva que lhe
mas de dizer coopera! Forma equipas! Pede ajuda! E permite juntar essa informação a esse conhecimento
esta cooperação é o segredo da competição. Darwin para criar sentido, então está a realizar uma grande
não explica a competição como questão de sobrevi- função educativa. Isto é, a autoridade hoje no saber é
vência das espécies… as espécies que sobrevivem uma autoridade da sabedoria e não uma autoridade
e que vencem cada momento histórico são as que da informação. Os pais não sabem a mesma coisa que
melhor cooperam internamente, que estabelecem os filhos em questões de última hora, do último dia,
alianças, que são capazes de ser mais coesas, estabe- da última moda, etc. Mas, a educação tem de fugir às
lecendo relações de confiança umas com as outras, modas. Quem queira estar permanentemente refém
que conseguem trabalhar de uma forma colaborati- e competir na base da moda e do último grito da infor-
va. É isto que os seres humanos têm de perceber. E é mação, não está a exercer a sua função de educador.
isto que eu espero que o PT Escolas leve por diante,
em pleno e até às últimas consequências. Modas à parte, também é verdade que esta geração
é sobretudo muito instantânea em relação à informa-
De que forma preconiza que se faça a ponte entre a ção. Como é isso compatível com um ensino mais em
realidade escolar e a realidade que se vive em casa? profundidade e não em imediatismo?
Inverteram-se os papéis naturais de quem ensina e Qual é o papel dos professores nesse novo paradig-
de quem aprende? ma, designadamente na abertura às formas autóno-
mas de aprendizagem?
Os jovens têm mais informação do que os pais, não
têm mais experiência nem maior maturidade do que É inaceitável que um professor se recuse acei-
eles. Uma coisa é a quantidade informação, outra é a tar as novas tecnologias. Acho que o Ministério da
qualidade da sua integração na produção de sentido. Educação tem de impor como condição que todos os
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professores atinjam uma carta de condução, uma lite- Não é um estatuto, um organograma. E por isso tem
racia digital básica, Mas mais do que ser digitalmente de sonhar, ter uma visão futura como a Portugal Te-
alfabetizado, tem de ser didacticamente alfabetiza- lecom. As empresas têm de ter visão a longo prazo
do. Tem de saber como utilizar essas ferramentas e isso implica pensar na educação. Porque pela edu-
para melhorar a qualidade da sua relação pedagógica. cação e pelo sistema educativo passa o futuro da
Acho que a internet, o Messenger e outras ferramen- nação, de um país. Se a educação funciona e é forte,
tas estão a impor muito mais escrita do que na fase se aposta na inovação, no conhecimento, temos o
anterior onde não havia estas ferramentas. Escreve-se futuro do país.
mais, mas pior. Por isso um dos grandes objectivos da
escola devia ser desde o 1.º ciclo ter escrita para a in-
ternet: ajudar a escrever correctamente, criativa e gra-
maticalmente bem. O motor da aprendizagem devem IDEIAS FORTES
ser as pessoas e o combustível é a comunicação.
> A sociedade de informação e do conhecimento depende
A escola do futuro… Que expectativas tem? da motivação. As pessoas têm de sentir que a formação,
a aprendizagem é importante para a sua felicidade,
A escola do futuro, com toda esta riqueza infor- empregabilidade e cidadania;
mal, é um espaço onde a tecnologia é invisível. A > O PT Escolas inovou ao trazer a internet para um ambiente
tecnologia só é nova para quem é anterior à tecno- de equipa, de competição, associando a pesquisa de
logia. A tecnologia tem de ser uma coisa normal. A informação e o convívio;
Portugal Telecom fará bem ao fazer uma escola do > Cooperar é mais importante do que competir. As espé-
futuro onde a tecnologia será tão importante que se cies que sobrevivem e que vencem em cada momento
tornará invisível. histórico são as que melhor cooperam entre si, que
estabelecem alianças, que são coesas, que conseguem
Esta nova revolução tecnológica é a última opor- trabalhar de uma forma colaborativa, estabelecendo
tunidade de recuperar os últimos 200 anos de atraso relações de confiança umas com as outras;
face aos mais competitivos? > Somos animais produtores de sentido: só aprendemos
aquilo que faz sentido;
Este novo ciclo permite que todos estejam na pole > Os jovens têm mais informação do que os pais, não têm
position. Portugal tem uma possibilidade única de mais experiência nem maior maturidade que eles.Uma
vencer a periferia. Hoje já não existem periferias. A coisa é a quantidade informação, outra é a qualidade
Irlanda e a Finlândia provaram que não são periferias. da sua integração na produção de sentido;
Os dois países que nos últimos 20 anos provaram um > A educação não pode ser refém das modas;
maior dinamismo de reformas económicas e educati- > Numa escola ou num sistema educativo, o recurso mais
vas tiveram resultados espectaculares e são dois países precioso é o tempo. Continua a ter cerca de 1200 horas
chamados periféricos. Os portugueses sempre soube- por ano de contacto humano;
ram abrir-se ao mundo… com saber, visão, liderança e > Há necessidade de um novo paradigma na educação:
determinação cresceram, expandiram-se. O português tem de haver tempos não apenas para aprender e ensinar,
não tem medo de ir para fora. O problema é quando mas para aprender autonomamente na internet ou no
olhamos apenas para o nosso umbigo. estudo de um livro, na biblioteca, criando hábitos de
Se em cada escola os alunos tiverem a possibilidade aprendizagem em grupo;
de navegar, tal como os descobridores quinhentistas, > Os professores têm de saber utilizar as novas ferramen-
Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Bartolomeu tas de ensino para melhorar a qualidade da sua relação
Dias, etc., descobrir e dialogar com o mundo… estou pedagógica. Essa é que é a questão de fundo: a didáctica
convencido de que ninguém pára Portugal. das tecnologias;
> O motor da aprendizagem devem ser as pessoas e o
Qual o papel que as empresas neste desafio? combustível é a comunicação;
> Na sociedade de informação, Portugal tem uma possi-
Uma empresa é uma comunidade de pessoas. bilidade única de vencer a periferia.
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