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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

GAROTA DE IPANEMA: A MENINA DOS OLHOS DA BOSSA NOVA

Mogi das Cruzes, SP


Outubro 2008
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

Elaine Pazzini de Souza RGM:58248


Henrique Rossetti Amazonas RGM:56259
Lemuel Souza Mendes RGM:56030
Paula Helena Jamussi Gomes RGM:57859
Simone da Costa Gomes Silva RGM:55436

Garota de Ipanema: a menina dos olhos da Bossa Nova

Trabalho final apresentado à disciplina Projeto de


Processos e Produtos Midiáticos apresentado ao
curso de Comunicação Social da Universidade de
Mogi das Cruzes, sob orientação da professora
Luci Bonini.

Professor orientador: Profª Doutora Luci Bonini

Mogi das Cruzes, SP


Outubro 2008
Elaine, Henrique, Lemuel, Simone, Paula.

Garota de Ipanema: A menina dos olhos da Bossa Nova

Trabalho final apresentado à disciplina Projeto de


Processos e Produtos Midiáticos apresentado ao
curso de Comunicação Social da Universidade de
Mogi das Cruzes, sob orientação da professora
Luci Bonini.

Aprovado em...................

BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Profª Doutora Luci Bonini
Universidade de Mogi das Cruzes

_______________________________________________
Prof°
Universidade de Mogi das Cruzes

_______________________________________________

Prof°
Universidade de Mogi das Cruzes
Dedicatória

Dedicamos este trabalho a professora e orientadora Luci Bonini, pelo apoio e


dedicação que nos ofereceu durante este período da realização do Projeto.
Dedicamos também ao professor Celso Ledo Martins que se interessou e nos ajudou
no desenvolvimento do projeto.
Este trabalho também é dedicado aos amantes da Bossa Nova, pois são eles que fazem
com que o gênero ainda esteja presente nos dias atuais.
Em especial aos nossos familiares que são o nosso alicerce, que colaboraram e
pacientemente deram todo o apoio necessário para que tivéssemos condições de concluir esse
trabalho.
Agradecimentos

Agradecemos a todas as pessoas que nos ajudaram, em especial a Helô Pinheiro, a


Garota de Ipanema, que gentilmente nos concedeu uma entrevista exclusiva para agregar o
seu conhecimento e sua experiência ao conteúdo do trabalho.
Somos gratos também, a todos os professores que de alguma forma colaboraram para a
elaboração do projeto.
Aos nossos colegas e familiares que direta ou indiretamente nos ajudaram. E por fim, a
nossa professora Luci Bonini por sua dedicação e paciência com o nosso grupo. Agradecemos
a colega Desirré por ter proporcionado o encontro do grupo com Helô Pinheiro.
“A mente que se abre a uma nova idéia jamais
voltará ao seu tamanho original”
(Albert Einstein)
RESUMO

Este trabalho analisa a importância do movimento musical Bossa Nova, e em especial


da música “Garota de Ipanema” para a internacionalização do Brasil, observando as mídias
utilizadas para a repercussão da música e a maneira como ela é divulgada nos dias atuais. Esta
pesquisa é baseada em fundamentos históricos e dados da atualidade, para melhor
compreensão da Bossa Nova, e sua influência na cultura e na música brasileira.

Palavras chave: Bossa Nova, Garota de Ipanema, Internacionalização, Repercussão.


Índice de Figuras

FIG. 1RIO DE JANEIRO, 1948...........................................................................................................................11


FIG. 2 CAPA DO LP CHEGA DE SAUDADE. PRODUZIDO POR ALOYSIO DE......................13
FIG. 3: NARA LEÃO. .........................................................................................................................................14
FIG.. 4 CARLOS LYRA, NO CONCERTO DO CARNEGIE HALL - 1962..........................15
FIG. 5 O NOME BECO DAS GARRAFAS SURGIU DEVIDO À PRÁTICA DOS MORADORES DE . 17
FIG.6 VINICIUS DE MORAES E TOM JOBIM..............................................................................................20
FIG. 7: A PRIMEIRA NOITE DA BOSSA NOVA, O SHOW "A NOITE DO AMOR, DO
SORRISO ..............................................................................................................................................................21
FIG. 8 VINICIUS DE MORAES...........................................................................................................22
FIG. 9 FIG. ANTONIO CARLOS JOBIM NA DÉCADA DE 50.....................................................24
FIG. 10: HELÔ PINHEIRO.................................................................................................................................27
FIG. 11: DETALHE DO JORNAL O GLOBO..................................................................................................28
FIG. 12 CAPA DO LP GAROTA DE IPANEMA LANÇADO DE 1967..........................................................31
FIG. 13: FOTO DE DIVULGAÇÃO DO SHOW EM 1993..............................................................................32
FIG. 14 PRESIDENTE GEORGE W. BUSH E O............................................................................................33
FIG. 15: NOTA DO JORNAL “O GLOBO” EM REFERÊNCIA AO EVENTO EM NOVA YORQUE,....35
FIG. 16: CARD DO SHOW DE 1962..................................................................................................................36
FIG. 17: GETZ/GILBERTO, PRODUZIDO POR CREED TAYLOR, ..........................................................36
FIG. 18 FRANK SINATRA E TOM JOBIM DURANTE A GRAVAÇÃO DO PRIMEIRO ........................37
FIG. 19: THELMO FERNANDES, INTERPRETA .........................................................................................38
FIG. 20: JOÃO GILBERTO NO AUDITÓRIO IBIRAPUERA......................................................................38
FIG. 21: UMA CADEIRA E UM VIOLÃO; ASSIM JOÃO ............................................................................39
FIG. 22: PROPAGANDA DA REDE GLOBO DE TELEVISÃO AO ESPECIAL “BOSSA........................39
FIG. 23: FOTO DO DESFILE DE RONALDO ................................................................................................40
FIG. 24: SAPATO CRIADO POR RONALDO .................................................................................................40
FIG. 25: A MODELO LUIZA BRUNET, ...........................................................................................................41
FIG. 26: A COLEÇÃO 2009 DA ESTILISTA PAOLA ROBBA, APRESENTADA.......................................41
FIG. 27: UMA DAS TELAS DE REPRODUÇÃO DOS CURTAS-METRAGENS EXIBIDOS ..................42
FIG. 28: OBRA DE FERNANDA TAKAI FAZ RELEITURA DAS................................................................42
FIG. 29: FERNANDA TAKAI E O ESTILISTA RONALDO ..........................................................................43
Sumário

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................10
2. A BOSSA NOVA E SEUS REFLEXOS CULTURAIS...........................11
2.1 A história da bossa nova..................................................................................11
2.1.1 Rio de Janeiro na década de 50.................................................................11
2.1.2 João Gilberto............................................................................................ 12
2.1.3 Os boêmios e seus encontros.................................................................... 14
2.1.4 Surgimento da Bossa Nova...................................................................... 17
2.2 Garota de Ipanema, sua história e repercussão......................................... 21
2.2.1 Vinicius de Moraes.................................................................................. 22
2.2.2 Tom Jobim............................................................................................... 23
2.2.3 Criação da música Garota de Ipanema, a escolha da musa..................... 25
2.2.4 Exportação............................................................................................... 28
2.3 A Repercussão.................................................................................................. 31
2.3.1Carnegie Hall e as grandes parcerias........................................................ 34
2.3.2 Bossa Nova nos dias atuais...................................................................... 37
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 44
4. REFERÊNCIAS................................................................................................. 45
1. Introdução

A Bossa Nova é um movimento da música brasileira, que surgiu no final da década de


50. De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba daquela
época. Anos depois, Bossa Nova se tornaria um dos gêneros musicais brasileiros mais
conhecidos em todo o mundo. O movimento se repercutiu, porque era realmente novo, tanto
na batida de violão criada por João Gilberto, quanto nas letras de suas músicas.
A justificativa de relevância do tema abordado da pesquisa social acadêmica, é a
importância de conhecer a cultura brasileira através da Bossa Nova e seus aspectos culturais,
comerciais e suas variações tanto no Brasil como no Exterior, bem como sua repercussão
através dos intérpretes que cantaram esse gênero da MPB. Este trabalho fundamenta-se
principalmente no livro: Chega de Saudade (CASTRO, Ruy ; 2008) que foi relançado este
ano devido a comemoração dos 50 anos da Bossa Nova, usamos também apontamentos de
(BONINI, Luci ; 2008)
O objetivo geral deste trabalho é entender a música Garota de Ipanema como produto
de exportação e principal representante da Bossa Nova.
Como objetivos específicos, pretendemos mostrar como a Bossa Nova foi divulgada
nos Estados Unidos na época, e vem sendo divulgada nos dias atuais. Pretendemos também
identificar a cultura nacional na música e na letra da canção, e por fim entender que imagem a
música vendeu do Brasil para o exterior.
Usaremos o método indutivo, uma vez que todo o conteúdo deste trabalho é baseado
em fatos, o aspecto de pesquisa tem caráter qualitativo, pois pretendemos fazer um
levantamento bibliográfico sobre os autores que teorizam sobre Bossa Nova, bem como
depoimentos dos criadores deste movimento.
Como técnica de pesquisa usaremos a pesquisa de campo, pois buscamos informações
em locais específicos. Descritiva pois iremos contar a história da Bossa Nova, e
conseqüentemente da música Garota de Ipanema, e também a técnica de pesquisa de
levantamento pois iremos prescrever uma entrevista como a própria Garota de Ipanema.
2. A Bossa Nova e seus reflexos culturais

2.1 A história da Bossa Nova

2.1.1 O Rio de Janeiro na década de 50

De acordo com o site do Itaú Cultural, a Bossa Nova foi considerada em 2007
patrimônio cultural carioca, pela renovação musical que causou e por ter se expandido por
todo o mundo. Na década de 50 o Rio de Janeiro estava vivendo um momento de grande
euforia e foi em 1958 que a seleção brasileira era a campeã de copa do mundo. A
industrialização anunciava novos trabalhos e confortos modernos, e o então presidente
Juscelino Kubistchek estava para inaugurar uma nova capital no centro do país. Os jovens por
sua vez, estavam passando por um processo de mudança em seus modos de vestir, cantar e
fazer cinema. Esta renovação musical teve influência do pós-guerra e estava começando a
forte presença da televisão nos meios de comunicação, aumentando a participação de
intelectuais junto às bases populares da música brasileira, melhoria econômica da população e
apelo nacionalista iniciada pelo governo Getúlio Vargas.
Os conceitos de beleza também estavam mudando, Brigitte Bardot e Merlin Monroe se
tornaram padrões de beleza da época. E foi nesse período também que o cinema dava o seu
ponta-pé inicial com o produtor Nelson Pereira dos Santos e sua obra “Rio Zona Norte”, o
artista plástico Candido Portinari estava despontando como o pioneiro nas artes plásticas no
século XX. Foi então que o pianista e arranjador Tom Jobim juntamente com Billy Blanco
compuseram para o Rio, a música “A Sinfonia do Rio de Janeiro”.

fig. 1Rio de janeiro, 1948.


Fonte: www.cifrantiga.com
Durante entrevista dada ao grupo Helô Pinheiro disse:

“ O Brasil naquela época era um país mais acomodado, romântico, as pessoas eram
mais generosas. Eu acho que não tinha tanta agressão mas hoje, é tudo mais
agressivo e as músicas também ajudam um pouco, com essas “pancadas” mais fortes
que as pessoas ficam mais energizadas talvez façam com que elas se desequilibrem
um pouco. O Brasil de hoje é um país com revoluções e maneiras diferenciadas
daquela época que amei tanto e tenho muitas saudades.” E completa: “Toda música é
válida mas a Bossa é eterna”

2.1.2 João Gilberto

Walter Garcia em seu livro Bim Bom: a contradição sem conflitos de João Gilberto,
publicado em 1999, relatado também no site do Itaú Cultural, conta que João Gilberto nasceu
em uma família próspera do interior da Bahia. João Gilberto desde cedo demonstra
considerável desinteresse pelas aulas do colégio, sobretudo quando, aos 14 anos, ganhou seu
primeiro violão, que passou a consumir-lhe sistematicamente as atenções. Influenciado pelos
artistas que ouvia na praça pública de Juazeiro, o jazzista Duke Ellington, Dorival Caymmi,
Orlando Silva ou o grupo vocal Anjos do Inferno. Um ano depois, João Gilberto se tornou
integrante de um conjunto musical que desfrutaria de relativo sucesso, se apresentando em
bailes e clubes da região. Aos 18 anos, foi para Salvador tentar a sorte no rádio e trabalhar
como crooner, mas logo se transfere para o Rio de Janeiro.
Depois de um ano no Rio, como vocalista do grupo Garotos da Lua, foi expulso do
conjunto por se atrasar freqüentemente para os ensaios e apresentações. Freqüentador das
noites cariocas, conheceu músicos como Johnny Alf, João Donato, Dolores Duran e Tom
Jobim, que seria decisivo em sua carreira. Gilberto gravou o primeiro 78 rotações, como
solista, em 1952, pela gravadora Copacabana, no qual registrou a canção Quando Ela Sai
(Alberto Jesus e Roberto Penteado) e Meia Luz (Hianto de Almeida e João Luiz), sem obter
grande repercussão. Integrou esporadicamente outros grupos vocais, como o Quitandinha,
Serenaders e Anjos do Inferno, entre 1953 e 1954.
De acordo com o site do Itaú Cultural, que baseia-se também no livro Chega de
Saudade de Ruy Castro (1990),foi por intermédio de um amigo de Quitandinha que em 1955,
ele viajou para uma temporada em Porto Alegre. A estadia na capital gaúcha, foi interrompida
por novas viagens, a primeira para Diamantina, Minas Gerais, na casa de uma de suas irmãs,
onde estudou acordes, levadas e canto, e a segunda para a Bahia (Juazeiro e Salvador). De
volta ao Rio, retomou o contato com Jobim, que o convidou a participar, como violonista, da
gravação de duas faixas do LP Canção do Amor Demais (Festa, 1958), de Elizeth Cardoso.
Poucos meses depois, João Gilberto gravou, pela gravadora Odeon, um 78 rotações
com as faixas Chega de Saudade e Bim Bom, Ruy Castro conta como Tom mais uma vez
intercedeu em nome de João junto à Odeon, especialmente por meio do amigo Aloysio de
Oliveira, na época diretor artístico da empresa. Assim o compacto é trabalhado
comercialmente, enquanto o LP Chega de Saudade de 1959 (ver fig. 2) é preparado em
estúdio.

fig. 2 Capa do LP Chega de saudade. Produzido por Aloysio de


Oliveira, gravadora Odeon (1959)
Fonte:www.discosdobrasil.com.br

O disco tornou-se, ao lado do LP Canção do Amor Demais, marco inaugural da Bossa


Nova. Ruy Castro conta que nesse disco João Gilberto já havia desenvolvido a maneira de
tocar violão que ficaria permanentemente associada à Bossa Nova, e além disso, transformara
a emissão vocal à maneira de Orlando Silva no estilo de cantar baixinho, quase sussurrando,
com divisões rítmicas inovadoras.
Desde esses primeiros trabalhos, ficaram famosas suas exigências em relação à
qualidade técnica da gravação e da execução dos outros músicos, que o acompanharam por
toda carreira. Vimos então que foi sem dúvida João Gilberto quem criou e imortalizou o modo
bossa-nova de tocar e cantar, isto fica claro em seus discos, parcerias e participações em
shows antológicos, como o show da Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova York, que
estudaremos nos próximos capítulos desse trabalho e que foi decisivo para o reconhecimento
e notoriedade não só da Bossa Nova, mas da música brasileira no mundo.
2.1.3 Os boêmios e seus encontros

Fica claro no livro de Ruy Castro, que não poderíamos falar em Bossa Nova, sem citar
os principais nomes do movimento. Entre esses compositores, instrumentistas , amantes do
jazz americano e da música erudita, que tiveram participação efetiva no surgimento da Bossa
Nova, estão: Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto, Carlos Lyra, Roberto
Menescal, Nara Leão, Ronaldo Bôscoli, Baden Powell, Luizinho Eça, os irmãos Castro
Neves, Newton Mendonça, Chico Feitosa, Lula Freire, Durval Ferreira, Sylvia Telles,
Normando Santos, Luís Carlos Vinhas e muitos outros. Todos eles jovens, e cansados do
estilo operístico que dominava a música brasileira até então, buscavam algo realmente novo,
que traduzisse seu estilo de vida e que combinasse mais com o seu apurado gosto musical,
conseguiram então unir a alegria do ritmo brasileiro às sofisticadas harmonias do jazz
americano.
Ruy Castro narra em sua obra que o principal ponto de encontro dos músicos era o
apartamento de Nara Leão (ver fig3), cantora, violonista e considerada a musa do movimento.
Nara morava na Zona Sul do Rio de Janeiro, em Copacabana.

fig. 3: Nara leão.


Fonte: www.terra.com.br/istoe

Apesar da efetiva participação na criação da Bossa Nova, Nara Leão fez sucesso no
lançamento do seu primeiro disco, em 1964, onde a cantora surpreendeu com o resgate de
músicas de sambistas como Cartola e Nelson Cavaquinho, e de músicas engajadas, fugindo da
temática da Bossa Nova, que só tratava de temas como o sorriso, o amor e o mar. Percebemos
que Nara, se desiludiu com a ideologia da Bossa Nova, ideologia essa que fazia parte da sua
realidade, já que vivia em apartamentos de classe média e não tinha contato com a realidade
dos morros cariocas. Quando começou a perceber que no mundo também existia fome e
violência, ela rompeu com Bossa Nova, e passou a contar músicas de protesto. Isto, de acordo
com uma declaração da própria Nara Leão, em um curta metragem que pôde ser assistido na
exposição Bossa na Oca, no parque Ibirapuera em são Paulo, que comemorava os 50 anos da
Bossa Nova. Nara leão declarou também que estava cansada da Bossa Nova, no lançamento
do seu segundo LP, o Opinião de Nara (1962).
Antes disso, durante os encontros que precediam o surgimento da Bossa Nova, nascia
a “turma” dos boêmios, que cantavam músicas como Uma batida diferente de Durval de
Andrade, sempre acompanhadas por violão e piano, como foi relatado por Eliane Lobato e
Aziz Filho em uma matéria da revista ISTOÉ, especial 50 anos da Bossa Nova, disponível no
site www.terra/istoé. Um dos primeiros a freqüentar o apartamento de Nara foi Roberto
Menescal, instrumentista e produtor e um dos principais compositores do início da Bossa
Nova. Carlos Lyra (ver fig. 4), cantor, compositor e violonista, também morava em
Copacabana, conheceu Menescal no colégio e também passou a freqüentar o apartamento de
Nara.

fig.. 4 Carlos Lyra, no concerto do Carnegie Hall - 1962


Fonte: www.Carloslyra.com

Uma matéria da revista Caras, edição especial de Junho de 1996, disponível no site
“Cifrantiga” conta que além das reuniões na casa de Nara Leão, a turma também freqüentava
os bares e boates onde se apresentavam Dick Farney, (pianista, compositor e intérprete, tocava
músicas como “copacabana”, mas com claras influências da música americana) Lúcia Alves,
Johnny Alf, Tito Madi, João Donato e Dolores Duran. Percebemos que o jazz americano
através principalmente de Dick Farney, começava a influenciar os pioneiros do movimento, e
podemos confirmar isso com a declaração de Carlos Lyra no mesmo site: "Eles foram os
precursores da Bossa Nova, prepararam o terreno para a gente".
Os músicos cariocas que tinham em comum o gosto musical e a vontade de
transformar a música brasileira começavam, de encontro em encontros a se conhecer. Entre
esses encontros surge Ronaldo Bôscoli, jornalista e compositor, que passa a freqüentar o
famoso apartamento, sempre acompanhado do amigo Chico Feitosa, colaborador em sua
primeira composição, Fim de Noite.
Ainda segundo a mesma matéria da revista Caras, Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli se
conheceram em 1954 e logo se tornaram parceiros. Fim de Noite foi apenas uma das
composições criadas pelos dois no primeiro apartamento que dividiam em Copacabana, que
também faz parte da história da Bossa Nova. Ali moravam oficialmente Chico e Ronaldo, mas
sempre haviam hóspedes circunstanciais, como o compositor paulista Caetano Zama, o
pianista Pedrinho Mattar e Luiz Carlos Miéle.
Ruy Castro cita como um dos hóspedes mais ilustres, o próprio João Gilberto (criador
da batida diferente da bossa nova), que chegou para passar alguns dias e acabou ficando
meses. Mas na verdade nenhum deles se incomodava muito com aquilo, uma vez que eram
invariavelmente despertados pelo violão de João Gilberto.
Da casa de Chico Feitosa, os músicos foram para o apartamento de Nara Leão, mostrar
Ô-ba-la-lá, composição de João Gilbeto e uma das primeiras que continham a famosa batida
diferente. João encantou a “turma” com seu jeito revolucionário de tocar violão, que os
libertava do samba quadrado que até então era o que de melhor se produzia na música
brasileira. Castro diz que a partir de então, João Gilberto passou não só a fazer parte da turma,
mas também a liderar espiritualmente o movimento. “Todo mundo queria aprender a tocar
como ele”. Disse Chico Feitosa, na matéria da revista Caras, que foi um dos poucos que
conseguiu ter aulas com o próprio João Gilberto, na época em que João esteve hospedado em
sua casa.
No meio da década de 50, em Copacabana, algumas casas noturnas eram o esconderijo
da considerada “boa música” lembra Ruy Castro em Chega de saudade (2008). Uma delas era
um pequeno barzinho chamado Tudo Azul (pela cor dominante de sua decoração interior),
Tom Jobim era o pianista efetivo, e figuras conhecidas da noite do Rio não deixavam de
aparecer por lá. Havia também o Clube Tatuís, em Ipanema, onde se apresentavam grandes
violonistas e volta e meia Tom Jobim aparecia para uma "canja". Castro descreve também que
mais tarde, no início da década de 60 um conjunto de casas noturnas ficaria conhecido como
“templo da Bossa Nova”; era o Beco das garrafas (ver fig. 5), que abrigava os amantes da
Bossa Nova e onde se apresentavam músicos amadores e profissionais.

fig. 5 O nome Beco das Garrafas surgiu devido à prática dos moradores de
jogar garrafa nos boêmios que freqüentavam os bares Ma Griffe, Bacará,
Little Club e Bottle's, reduto dos músicos do movimento Bossa Nova.
Fonte:www.cifrantiga.com

Enquanto isso, as parcerias se multiplicavam. A matéria da revista Caras (1996)


descreve ainda o encontro de dois dos grandes nomes da Bossa Nova: Carlos Lyra e Ronaldo
Bôscoli, que logo começaram a compor juntos. Se é Tarde Me Perdoa e Lobo Bobo foram
algumas de suas primeiras composições e Bôscoli continuava igualmente compondo com
Chico Feitosa. São composições desta época Sente, Complicação e Sei.
Os encontros musicais se tornavam cada vez mais freqüentes, tanto nas intermináveis
reuniões para as quais os músicos eram chamados, e onde João Gilberto, segundo Ruy Castro,
era sempre o grande mito (todas as festas prometiam a presença do violonista), quanto nos
bares e boates. Nestes, normalmente, os músicos não ganhavam para tocar, a não ser doses
gratuitas de bebida durante toda a noite. A partir desses encontros começava a surgir o ritmo
que mais tarde viria a ser conhecido como Bossa Nova.
2.1.4 O surgimento da Bossa Nova

Roberto Menescal conta no livro Agenda 2008 - 50 anos de Bossa Nova disponível no
site Digestivo Cultural que no final da década de 50, a música brasileira vivia sua fase de
melancolia. “Ouvíamos e cantávamos sambas-canções que diziam ‘Ó Deus como sou infeliz’,
ou ‘ninguém me ama, ninguém me quer’. Imaginem nós, com 20 anos de idade cantando todo
esse sofrimento!”.Lembra Roberto Menescal.
Notamos aqui, que as músicas cantadas naquela época não relatavam a realidade
daqueles jovens e tampouco o momento de esperança que o país vivia, era realmente
necessário que houvesse uma mudança no estilo musical, e percebemos com declarações dos
próprios precursores do movimento: “A juventude daquela época precisava de músicas mais
leves, mais otimistas”, lembra Carlos Lyra. E foi a partir dessa necessidade de mudança que
começaram a surgir as primeiras manifestações do movimento musical Bossa Nova.
De acordo com Ruy Castro, em Chega de Saudade, foi nesse cenário, em apartamentos
da classe média de Copacabana, que os jovens músicos se reuniam para cantar e tocar e
buscavam músicas que relatassem melhor o seu cotidiano e de tanto buscar algo diferente
acabaram achando. João Gilberto, um dia apareceu com uma batida que misturava o Samba
tradicional com a música americana. Diz ainda, que possivelmente essa batida surgiu depois
do encontro com João Donato, que já fazia no acordeão, praticamente a mesma coisa que João
Gilberto passaria a fazer no violão.
A maioria dos que relatam a Bossa Nova, definem a palavra “bossa” como uma gíria
carioca que na época significava “jeito”, “maneira”. Para Walter Garcia, músico e pesquisador
da Bossa Nova, em seu livro Bim Bom: a contradição sem conflitos de João Gilberto (1999),
a palavra bossa significava “lábia” na gíria do Rio de Janeiro, e quando se cantou “[...] isto é
bossa nova”, a expressão ampliou o sentido da palavra. Essa expressão surgiu em oposição a
tudo aquilo que o grupo dos jovens percussores do movimento consideravam superado, ou
velho.
Mas o novo ritmo não agradou a todos e foi chamado de "um inseticida sonoro", pelo
maestro Guerra Peixe. O cantor Sylvio Caldas afirmou: "Vai passar porque carece de
categoria". O sambista Moreira da Silva debochou. "Não gosto de goteira", disse, referindo-se
à batida ritmada de João Gilberto; como foi relatado por Eliane Lobato e Aziz Filho em
ISTOÉ, na já citada matéria comemorativa dos 50 anos da Bossa Nova. Mas apesar da
reprovação de algumas pessoas a Bossa Nova contaminou o cenário com Tom Jobim, Vinicius
de Moraes, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, entre outros, e a
Bossa Nova se tornou o gênero musical brasileiro mais famoso no mundo.
Durante as preparações para a gravação de Corcovado, Tom Jobim e João Gilberto
tratavam no primeiro verso: "Um cigarro e um violão / Este amor, uma canção." Até que João
Gilberto diz: “Tonzinho, essa coisa de um cigarro... Não devia ser assim. Cigarro é uma coisa
ruim. Que tal se você mudasse para um cantinho e um violão?” João Gilberto era ex-fumante
e Tom fumava três maços por dia. Esse simples fato, narrado no livro Chega de saudade, de
Ruy Castro, modificou uma das canções mais importantes da Bossa Nova.
Entendemos aqui, que definitivamente, a Bossa Nova não era somente um novo jeito
de tocar, mas uma revolução musical e cultural, cujo ritmo podia até lembrar uma goteira, mas
eram delicados ao ponto de se preocuparem em não incentivar o tabagismo.
A nova música era totalmente diferente das canções melodramáticas, sombrias. As
letras das canções passavam a dizer: “há menos peixinhos a nadar no mar/ do que os beijinhos
que eu darei na sua boca”, acompanhando João Gilberto em Chega de saudade, canção que
ele lançou num disco compacto em 1958, nada seria como antes. “Ninguém agüentava mais o
cara mandar o garçom apagar a luz porque havia sido traído”, recorda-se Carlos Lyra. “O
Brasil era outro e a música precisava mudar.”
De acordo com Ruy Castro, um dos marcos dessa mudança e o considerado o disco
que inaugurou a Bossa Nova foi o disco Canção do amor demais, de Elizete Cardoso, também
de 58; no qual João surpreendeu a todos com a nova batida de violão, foi o resultado de vários
anos de experiências musicais. Experiências compreendidas não só por João, mas por toda a
turma que se encontrava nas famosas reuniões na casa de Nara Leão.
Eliane Lobato e Aziz Filho, em ISTOÉ (2008), contam que o perfil do país que a
turma de Copacabana sonorizava era de esperança. Roberto Menescal concorda e atesta na
mesma matéria: “Vivíamos a 'geração faculdade', que estourava na época, com muitos jovens
nas universidades. Queríamos movimentos diferentes, roupas diferentes; tínhamos um
comportamento mais relaxado.”
A Bossa Nova no Brasil, apesar de toda sua repercussão e do seu fácil acesso, tendo
hoje apresentações na TV aberta, (como veremos nos próximos capítulos deste trabalho) e
rádios exclusivas do ritmo; é, até hoje, considerada “música de elite”. Notamos que esse
conceito vem desde sua criação, já que os criadores faziam parte da elite brasileira e
desfrutavam de um gosto musical mais sofisticado. Certificamo-nos através de declarações
dos próprios precursores, como Roberto Menescal; para ele, seria realmente difícil que se
produzisse música para o povão: “Éramos alienados.” Registrado na matéria de Eliane Lobato
e Aziz Filho da revista ISTOÉ. A matéria aponta também a opinião do produtor Luiz Carlos
Miéle, que concorda: “A galera morava bem, na zona sul, o gênero que eles criaram traduz
esse estado de espírito da juventude distante da boêmia dos morros e do centro da cidade”.
A Bossa Nova tem muitos admiradores e conquistou o prestígio dos brasileiros,
constatamos porém, que ela nunca foi cultura de massa. A definição de massa segundo a Profª.
Doutora Luci Bonini (2008), que também estabelece a diferença entre massa e povo; é que a
massa, diferente do povo, não age racionalmente por sua conta, mas se alimenta por
entusiasmos e idéias instáveis, é escrava das influências da moda imposta pela industria
cultural. Não teria ela, então, a sensibilidade de perceber a qualidade dessa nova música, que é
sobretudo, originalmente brasileira.
De acordo com Ruy Castro, aconteceu em 1956 um encontro que marcou a história da
música brasileira; o poeta Vinicius de Moraes procurava alguém para ser seu parceiro nas
músicas da peça de teatro “Orfeu da conceição”, que ele havia trazido o rascunho de Paris; era
baseada no mito grego “Orfeu” e adaptada para os morros cariocas. Amigos em comum
sugeriram a Vinícius, como parceiro Antônio Carlos Jobim. Tom e Vinícius ( ver fig. 6) já se
conheciam desde 1953, no Clube da Chave, mas não eram íntimos. A parceria deu certo e
Orfeu da Conceição estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 25 de Setembro de
1956, e lá ficou em cartaz durante uma semana. Após uma semana em cartaz no Municipal, a
peça foi transferida para o Teatro República, onde cumpriu temporada com casa lotada por
mais um mês. Terminada a temporada da peça, Tom e Vinicius, juntos também com Menescal
que foi convidado para fazer o violão, começaram a trabalhar nas músicas da versão
cinematográfica de Orfeu da Conceição.

fig.6 Vinicius de Moraes e Tom Jobim


Fonte www.home.tiscali.nl
Notamos aqui, a importância da parceria Vinicius e Tom para a repercussão da Bossa
Nova, pois Orfeu Negro, a versão cinematográfica de Orfeu da Conceição dirigido pelo
francês Marcel Camus, foi o grande vencedor do Festival de Cannes de 1959, divulgando para
o mundo as canções criadas para o filme. Entre as novas canções compostas e utilizadas no
filme estavam A Felicidade e O Nosso Amor, de Tom e Vinícius, e Manhã de Carnaval, de
Luiz Bonfá e Antonio Maria, sendo esta música um grande sucesso internacional e muito
importante para divulgação da música brasileira para o mundo. A parceria de Tom e Vinicius
rendeu também a música Garota de Ipanema; devido a sua notória importância estudaremos a
canção e os autores detalhadamente nos capítulos a seguir.
Ruy Castro narra em sua obra que foi em maio de 1960, no Rio de Janeiro, no
anfiteatro da Faculdade Nacional de Arquitetura, que aconteceu o primeiro festival da Bossa
Nova. O show, que contou com a presença dos grandes nomes do Movimento, como Chico
Feitosa, Nara Leão e João Gilberto, ficou conhecido como A noite do amor do sorriso e da
flor como podemos ver na foto abaixo (ver fig. 7)

fig. 7: A primeira noite da Bossa Nova, o show "A Noite do Amor, do Sorriso
e da Flor", na faculdade de Arquitetura.
Fonte: www.cifrantiga.com

Vimos aqui, que logo em seu primeiro festival, a Bossa Nova já era anunciada como
algo novo, e anunciava também qual seria o tema abordado pelas letras de suas músicas: amor
sorriso e flor.

2.2 Garota de Ipanema, sua história e repercussão

Antes de estudarmos a história da música garota de Ipanema, o modo como que ela se
repercutiu e divulgou a Bossa Nova para o mundo, veremos um pouco da história dos seus
criadores, Vinicius de Moraes e Tom Jobim.
2.2.1 Vinicius de Moraes

De acordo com o site “Releituras”, a lírica e a poética de Vinicius foram decisivas para
a música brasileira. Formado em direito pela Universidade de Oxford e a serviço do Itamaraty
desde 1943, é ainda em meados da década de 20 e 30 que realiza suas primeiras incursões
como compositor, a maioria delas em parceria com os irmãos Paulo e Haroldo Tapajós.
Dedicado à vida diplomática, que o leva nos anos seguintes a residir em Los Angeles (Estados
Unidos), Paris (França) e Montevidéu (Uruguai), o reencontro com a música ocorre somente
em 1953, quando compõe o samba Quando Tu Passas por Mim, em parceria com Antônio
Maria. Em 1956, montou a peça Orfeu da Conceição, escrita dois anos antes.
Para compor a música chamou o pianista e compositor Tom Jobim, que era pouco
conhecido da época, e ali iniciaram uma das mais fecundas parcerias da música popular
brasileira. Juntos, Tom e Vinicius compõem as canções Chega de Saudade, Garota de
Ipanema, Se Todos Fossem Iguais a Você, Por Toda a Minha Vida, Eu Sei que Vou Te Amar,
Só Danço Samba, Ela É Carioca, A Felicidade, Insensatez, O Morro Não Tem Vez, entre
outras, que resultam, em 1958, na gravação do disco Canção do Amor Demais.
Conheceu, em 1961, Carlos Lyra, outro de seus parceiros, com quem compôs músicas
para a peça Pobre Menina Rica e outros clássicos da Bossa Nova: Coisa Mais Linda, Você e
Eu, Minha Namorada, Primavera, Samba do Carioca, Marcha da Quarta-Feira de Cinzas.
No ano seguinte, ao lado do violonista Baden Powell, responsável por acrescentar à
poesia popular de Vinicius uma nova sonoridade com referências africanas, realizou a série de
afro-sambas, que deu origem ao disco homônimo, lançado pela gravadora Forma, em 1966.

fig. 8 Vinicius de Moraes.


Fonte: www. releituras.com/biografias.asp
O site “Releituras” mostra ainda, que entre as principais composições dessa série estão
Canto de Ossanha, Bocoxé e Samba de Oxossi, às quais se somam outras gravações de
prestígio, como Berimbau, Samba em Prelúdio, O Astronauta, Samba da Bênção, Formosa,
Pra que Chorar. Nos anos 70, seu parceiro mais constante é Toquinho, 33 anos mais jovem,
com quem compôs Tarde em Itapoã, Regra Três, Mais um Adeus, Tonga da Mironga do
Kabuletê e várias outras.

2.2.2 Tom Jobim

De acordo com o site “Net Saber-Biografias”, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida


Jobim, nasceu na Tijuca, e antes mesmo de alcançar a adolescência, já tinha vivido em
diversos bairros da capital fluminense. O tumultuado casamento dos pais, seguido da
separação e da prematura morte paterna, ocasionou uma seqüência de mudanças da família e o
levou da Tijuca a Ipanema, Copacabana e novamente à Ipanema. Segundo o site Net Saber-
Biografias a introdução de Tom no mundo da música fez-se provavelmente por influência do
tio e padrinho Marcelo Brasileiro de Almeida, de natureza boêmia e responsável pelos
encontros musicais na casa da família.
Aos 13 anos, Tom conhecia uns poucos acordes de violão, mas a aquisição de um
piano por dona Nilza, sua mãe, para a escola que criara, o Colégio Brasileiro de Almeida, foi
fundamental para seduzir o menino. Assim ele começou sozinho a dedilhar o instrumento,
mas rápido arrumaram-lhe professor, um jovem alemão formado pela Escola Superior de
Música de Berlim chamado Hans Joachim Koellreutter, importante difusor e defensor do
cafonismo no Brasil.
O piano ainda dividia espaço com a vida de Garoto de Ipanema, até que, aos 17 anos,
depois de alguns incidentes que inviabilizam a vida de esportista, Tom tornou-se
definitivamente o dedicado freqüentador de bares e apaixonado pela música, assunto
constante nas conversas com os amigos. Teve tempo ainda para estudar por alguns meses,
arquitetura, na Escola de Belas Artes, influenciado em parte pelo amigo Marcos Konder Neto,
e chega até a estagiar num escritório, mas decide-se pela carreira de pianista. O site conta
também que nessa época, Tom teve aulas com a professora clássica Lúcia Branco e
consecutivamente com Paulo Lima, que lhe ensinou harmonia, mas a severidade do professor
acabou afastando o aluno. Conheceu, então, outro tutor, o espanhol Tomás Gutierrez Terán,
que teve influência determinante para a apreciação que Tom teve da obra de Vila- Lobos,
como também para a do maestro Ramadés Gnatalli, outro protagonista em sua formação
musical, sobretudo como maestro. Tom casou-se em 1949 e a chegada do primogênito, Paulo,
fez com que começasse, mesmo com o aluguel pago pelo padrasto, a se apresentar em casas
noturnas em busca de alguns trocados.

fig. 9 fig. Antonio Carlos Jobim na década de 50


Fonte: www.correcaminhos.blogspot.com

A biografia de Tom relatada no site “Net Saber-Biografias” descreve também, que no


início da década de 50, Tom empregou-se na orquestra da Rádio Clube, regida pelo ex-
professor de orquestração Alceu Bocchino, até ser chamado para assistente de direção artística
na gravadora Continental, tudo ao lado da função de pianista nas boates cariocas. No início
dos anos 50, datam também as primeiras gravações de suas composições, a maioria em
parceria com o amigo de infância Newton Mendonça, além de Dolores Duran e Aloysio de
Oliveira. Conheceu Vinicius de Moraes, em 1956, quando este o convidou a compor para a
peça Orfeu da Conceição.
Notamos que nesses tempos Tom já desfrutava de algum sucesso, ainda que não
financeiro, principalmente por suas composições ao lado de Billy Blanco, a gravação de Dick
Farney e Lúcio Alves, Teresa da Praia, e o LP Sinfonia do Rio de Janeiro (Continental). A
parceria Tom e Vinicius se revelaria das mais importantes para o surgimento da Bossa Nova.
Quando em 1958 lança o LP Canção do Amor Demais (Festa), e João Gilberto, no seu
jeito voz e violão, gravou Chega de Saudade, em 78 rotações. Tom assinou também os
arranjos de outro marco do movimento, o LP de João, de mesmo nome que a gravação do ano
anterior, com além de Chega de Saudade e Desafinado, outras de suas composições. Em
1962, a “santíssima trindade” da Bossa Nova (Tom, Vinicius, João) realizou shows
fundamentais para a popularização do movimento, como O Encontro, acompanhada pelo
conjunto Os Cariocas, que fica seis semanas em cartaz na boate Au Bon Gourmet, e (sem
Vinicius) o show de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova York. Tom passou a década de
60, e desde então quase toda a vida, entre o Brasil e os Estados Unidos, onde gravou inúmeros
discos.
A popularidade de Tom nas terras de Tio Sam, o fez ser reconhecido e admirado em
todo o mundo, e suas composições, traduzidas em diversos idiomas, seduziram intérpretes que
vão de Frank Sinatra e Chat Baker a Henri Salvador ou o pop japonês Pizzicato Five.

2.2.3. A criação da música Garota de Ipanema e a escolha da musa.

O autor Ruy Castro, no livro Chega de Saudade (2008) contou que ao contrário do que
as pessoas acreditam, Tom e Vinicius não fizeram “Garota de Ipanema” no bar que se
chamava Veloso, e que depois se chamou Garota de Ipanema, na rua que era Montenegro, e
que depois se tornou Vinicius de Morais, esquina com Prudente de Moraes (nenhum
parentesco). Diz que nunca foi do estilo da dupla escrever música em mesas de bares, embora
eles tenham investido nelas as melhores horas de suas vidas.
Castro conta que Tom compôs meticulosamente a melodia em sua nova casa, ao piano,
na rua Barão da Torre, e seu destino seria uma comédia musical intitulada Blimp, que Vinicius
já tinha toda na cabeça, mas que nunca levou ao papel.
Vinicius, por sua vez, escreveu a letra em Petrópolis, como havia feito com a de
Chega de Saudade, seis anos antes. De início, o título não era “Garota de Ipanema”, e sim
“Menina que passa”, e toda a sua primeira parte era diferente: “Vinha cansado de tudo/ De
tantos caminhos/ Tão sem poesia/ Tão sem passarinhos/ Com medo da vida/ Com medo do
amor/ Quando na tarde vazia/ Tão linda no espaço/ Eu vi a menina/ Que vinha num passo/
Cheia de balanço/ Caminho do mar”. Segundo Ruy Castro (2008), essa foi a primeira versão
da música Garota de Ipanema.
Quanto à conhecida história da garota que inspirou os compositores, constatamos que
é realmente verdade que foi do bar Veloso, no inverno de 1962, que Tom e Vinicius a viram
passar. Não uma, mas inúmeras vezes, e nem sempre a caminho do mar, mas a caminho
também do colégio, da costureira e até do dentista, como foi narrado pelo escritor Ruy Castro.
Heloisa Eneida Menezes Paes Pinto( ver fig.10), mais conhecida como “Helô
Pinhheiro”, tinha na época dezenove anos, 1,69 m, olhos verdes e cabelos pretos longos e
escorridos, morava na rua Montenegro e já era muito admirada no próprio Veloso, onde
entrava com uma certa freqüência, a fim de comprar cigarros para sua mãe, e saía sob uma
sinfonia de “fiu-fius”.
A garota Helô passava num doce balanço a caminho do mar, e era diariamente
associada a canção, sem saber que tinha sido eleita a sua musa. É verdade que já devia estar
desconfiando porque, desde 1962, dois bem informados rapazes da revista Fatos & Fotos, o
repórter Ronaldo Bôscoli e o fotógrafo Hélio Santos, que viviam atazanando-a para fotografá-
la na praia, num daqueles biquínis de duas peças que eram novidade na década de 50, e na
época ainda eram considerados ousados. Ruy Castro conta que realmente acabaram
conseguindo, mas só depois que o pai da garota, um general da linha-dura, certificou-se dos
seus bons propósitos. Somente três anos depois, em 1965, quando Helô já tinha 22 anos, e
estava de casamento marcado, é que Tom e Vinicius lhe revelaram quem ela era.
Em entrevista concedida gentilmente pela Helô Pinheiro, quando perguntada se ela
acompanhou a repercussão da música Garota de Ipanema disse:
“[...] Acompanhei, ela foi feita na realidade em 1962 e durante três anos
ficou praticamente inerte, a música só estava primeiro orquestrada e ainda não
tinham divulgado a letra, e lá nos Estados Unidos, a música começou a fazer sucesso
e todos queriam saber quem era a musa inspiradora da canção. E em 1965 Vinícius
falou que iria revelar quem era a verdadeira Garota de Ipanema, pois haviam várias
garotas que se diziam ser. Na época a revista Manchete publicou uma nota revelando
quem era a Garota de Ipanema e Vinicius escreveu uma carta de próprio punho
dizendo que eu era a musa inspiradora da canção.”

A revelação de Vinicius rapidamente se espalhou, o que criou um misto de orgulho e


desconforto no general e no noivo de Helô. Porém todos queriam conhecer a coisa mais linda
e mais cheia de graça, pois a música já era conhecida e admirada pelos cariocas. O Rio
comemorava naquele ano o seu quarto centenário, e ninguém mais perfeita do que Helô para
ser símbolo oficial da cidade, com a roupinha de normalista.
Percebemos aqui, mais um fato que deixa evidente a influência da Bossa Nova na
sociedade carioca daquela época, pela intenção de se nomear a musa de uma canção como a
musa de uma cidade. Castro lembra, porém, que o general e o noivo não permitiram que Helô
fosse nomeada símbolo da cidade. Dois anos depois, em 1967, o Cinema Novo resolveu
filmar a Garota de Ipanema. E quem seria mais adequada para interpretar o papel-título? O
cinema novo e todos os admiradores da música e da garota concordavam na escolha. Porém,
mais uma vez o General e o agora marido se interpuseram entre Helô e os olhos do mundo.
“Se eu fui a Garota de Ipanema agradeço à Deus, porque várias meninas passavam por
eles mas no momento de inspiração, quem passou por lá foi eu.” Disse Helô.
Vinte e cinco anos depois daquela tarde no Veloso, o mundo pôde finalmente apreciar,
desta vez au grand complet, os méritos da “Garota de Ipanema”, na edição de maio de 1987
da Playboy brasileira.

fig. 10: Helô Pinheiro.


Fonte: daisma.livejournnal.com

De acordo com a obra de Ruy Castro, podemos concluir que a música “Garota de
Ipanema” teve grande importância para a imagem da Bossa Nova, onde os compositores
exaltaram não só uma musa carioca, mas também a mulher brasileira. Mostrando também a
diversidade cultural harmoniosa deste bairro que se consagrou como um ícone do gênero
musical dos anos 60.
Segundo o site“Garota de Ipanema” foi a gravação de uma versão em inglês, da
canção interpretada por Astrud Gilberto com letra de Norman Gimbel, que transformou
“Garota de Ipanema” ou “The girl from Ipanema” num sucesso mundial. Ao longo dos 25
anos que se seguiram, a canção ultrapassou as 3 milhões de execuções em emissoras de rádio
e televisão, o que fez de Tom Jobim o segundo autor estrangeiro mais ouvido nos Estados
Unidos.
Segundo o jornalista Carlos Pompe em uma matéria disponível no site
“www.vermelho.org,” a canção “Garota de Ipanema” é o maior sucesso internacional da
música brasileira, a quinta, quarta e, dependendo da pesquisa, a segunda música mais tocada
pelas rádios no mundo, até hoje. Nos Estados Unidos é executada 5 milhões de vezes por ano,
a cada 15 segundos alguma rádio começa a transmiti-la.
2.2.4 A exportação

Segundo a revista Veja em sua edição especial 35 anos (2003) A música é o principal
produto de exportação cultural brasileiro. Cantores e compositores fazem sucesso lá fora
desde Carmen Miranda, nos anos 40. Artistas brasileiros que estiveram no exílio da década de
70, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, consolidaram carreira em seletos
circuitos no exterior e realizaram, com freqüência, turnês internacionais. O auge de título
ainda é a Bossa Nova dos anos 60 como podemos ver em um detalhe do jornal O Globo
(fig11) da época do surgimento da Bossa Nova noticiando suas primeiras repercussões.
Ainda na mesma revista relata que, antes dela, os artistas brasileiros eram apreciados
mais pelo exotismo, que por suas qualidades musicais, Exotismo ainda existe, como se pode
ver pelo sucesso da Lambada e do Olodum anos 90, o Brasil tem sempre um nome de sucesso
no pequeno universo da “wold music”, que abarca tudo aquilo que soa estranho ou
inclassificável ao norte do Equador, porém, só a Bossa Nova rompeu esse gueto, diz a revista.

fig. 11: Detalhe do jornal O Globo


fonte: www.jobim.org
Numa feira de Londres, num elevador em Cingapura ou num mercado em Marrakesh,
é possível ouvir composições como Garota de Ipanema, Manhã de Carnaval ou Chega de
Saudade. Essas músicas não são consideradas apenas reminiscências de uma praia longínqua
de Hemisfério Sul.
Percebemos na música “Garota de Ipanema” alguns detalhes que provavelmente
influenciaram para que a canção alcançasse tamanha admiração, como a preocupação dos
criadores de combinar a letra da música com a sua melodia, como um casamento, que se
percebe logo na primeira parte da canção, onde a melodia nos lembra um gingado todo
especial, que parece acompanhar o molejo, o "doce balanço" da garota. E que é substituído, na
segunda parte, que corresponde ao momento em que a garota já passou (não está mais
"vindo", está "indo") deixando o poeta melancólico, pois ela nem o notou, por melodia mais
suspirosa e melancólica, como se o coração do poeta, desiludido, arrefecesse o ritmo ("Ah,
por que estou tão sozinho?...").
Depois, volta à melodia da primeira parte, exatamente quando o poeta, na letra, se
anima com a própria imaginação ("Ah, se ela soubesse, que quando ela passa...”),
ele parece ter uma "recaída" de esperança (pois a menina também está sozinha e a esperança
não precisa morrer), logo substituída por um fecho novamente suspiroso, mas
feliz, imantado pelo rastro de luz da garota: "o mundo inteirinho se enche
de graça, e fica mais lindo por causa do amor..."
A canção teve sua grande repercussão devido a todos os eventos estudados neste
projeto, a novidade que era a Bossa Nova, a influência das suas histórias, a qualidade de sua
harmonia e de sua letra como podemos conferir a seguir:

Garota de Ipanema
Vinicius de Morais /Tom Jobim

Olha que coisa mais linda


Mais cheia de graça
é ela menina, que vem e que passa
Num doce balanço a caminho do mar

Moça do corpo dourado


Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
é a coisa mais linda que já vi passar

Ah! Como estou tão sozinho


Ah! Como tudo é tão triste
Ah! A beleza que existe
A beleza que não é só minha
E também passa sozinha

Ah! Se ela soubesse que quando ela passa


O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo por causa do amor

Só por causa do amor...

Veremos a seguir a versão da música em inglês:

The Girl from Ipanema

Vinicius de Moraes / Norman Gimbel / Tom Jobim


Tall and tanned and young and lovely
the girl from Ipanema goes walking
and when she passes
each man she passes
goes Aaah!

When she moves it's like a samba


that swings so cool and sways so gently
that when she passes
each man she passes
goes Aaah!

Oh - but he watches so sadly


How - can he tell her he loves her
He - would just give his heart gladly

But each day when she walks to the sea


She looks straight ahead not at he

Tall and tanned and young and lovely


the girl from Ipanema goes walking
and when she passes
he smiles
but she doesn't see
no she doesn't see
she just doesn't see...

Questionamos a Helô a sobre os motivos que levaram a música Garota de Ipanema a


tanto sucesso e ela respondeu:

“ Tom me disse: ‘Helô eu não entendo, com tantas músicas bonitas que eu fiz eu não
compreendo porque só esta canção é a “ galinha dos ovos de ouro” , só ela está
realmente sempre tendo retorno não só financeiro como retorno de público’. Aí eu
brincava, é... e eu nunca tirei um pintinho dessa galinha dos ovos de ouro[...] eu
acho que essa música pegou o momento da mulher, ele ( Vinícius) colocou a mulher
em evidência, focou a mulher em sua beleza. Então, toda menina que a escutava se
imaginava naquela situação, foi uma estratégia inconsciente deles que deu um
volume interessante a música.”
2.3 Repercussões

A partir da música “Garota de Ipanema” composta por Tom Jobim, João Gilberto, e
Vinícius de Moraes (ver fig. 12), a Bossa Nova ganhou o mundo. Esse novo jeito de fazer
música com a mistura de vários ritmos fez com que a Bossa Nova tornasse um produto
genuinamente brasileiro, a música “Garota de Ipanema” por sua vez é um dos principais
frutos dessa nova geração, tendo como base tamanha repercussão das suas reproduções em
vários idiomas conseqüentemente em vários países. Segundo Inês Figueiras a música começa
a se repercutir pelo mundo quando é gravada por grandes nomes como: Frank Sinatra, Nat
King Cole, Baden Powell, entre outros; é também utilizada nos dias de hoje em trilhas
sonoras de filmes e comerciais de TV. Uma das principais parcerias na Bossa Nova, que
alavancou o sucesso mundial, foi a versão em inglês da Garota de Ipanema, composta
originalmente por Norman Gimbel e interpretada por Astrud Gilberto, e em 1967 “Garota de
Ipanema” tornou-se banda do filme com o mesmo nome dirigido por Leon Hirsziman.de um
cantinho e um violão para as grandes platéias e orquestras do mundo.
E 40 anos depois do seu nascimento, a riqueza, a suavidade e o encanto da Bossa Nova
não se encontraram nada que a superasse. “Garota de Ipanema” foi traduzida para diversas
línguas. Desde a inglesa “The Girl from Ipanema” à francesa “ La fille d’Ipanema”, passando
pela versão indonésia “Gadis dari Ipanema”, a espanhola “Chica de Ipanema”. Se falarmos de
“Das Mädchen aus Ipanema” ou “Meisje van Ipanema” continuamos a falar da mesma
música, que foi até cantada em hebraico.

fig. 12 Capa do LP Garota de Ipanema lançado de 1967


fonte: www.discobrasil.com.br

“Devido as grandes interpretações que a canção Garota de Ipanema ganhou,


já fui ao Japão por quatro vezes e lá fui homenageada. Tem uma cantora chamada
Lisa Ono que canta muito bem Bossa Nova [...]os japoneses dão um valor incrível à
Bossa Nova, eles adoram!” disse Helô.
De acordo com Tiago Dantas da equipe Brasil Escola, em 2005 "The Girl from
Ipanema", foi eleita uma das 50 grandes obras musicais da Humanidade pela Biblioteca do
Congresso Americano. Ao mesmo tempo aparece uma mania de Bossa Nova no Brasil, a
Bossa Nova volta a ser trilha de novelas, volta a tocar no rádio, talvez pela febre da Bossa
Nova na Europa, vários jovens brasileiros descobrem o ritmo e se apaixonam.
Existem centenas de versões distintas da “Garota de Ipanema”, por vezes cantada por
artistas femininas como “The boy from Ipanema”. Há versões em estilos musicais tão
diferentes como punk, soul, mangue, axé, funk, hip hop ou pagode. Há gravações em piano, a
solo, em orquestra sinfônica, em quarteto de cordas, em big band, em sextetos de jazz, em
conjuntos de cocktail lounge, em grupo de mariachis, em banda de gaita de foles, entre outras
versões.
A famosa canção Garota de Ipanema, contabiliza 169 gravações diferentes, inclusive
nas vozes de cantores famosos, como Frank Sinatra, que por sua vez aprendeu a cantar a
Bossa Nova com Tom Jobim e em troca, eternizou a música gravando “The girl from
Ipanema”.
No blog oficial da cantora Madonna, ela mencionou que em sua turnê pelo Brasil,
interessou - se em aprender a falar português por causa das letras das músicas, principalmente
da Bossa Nova,e em seu show realizado em 1993 (ver fig.13), no estádio do Morumbi em São
Paulo, ela iniciou a passagem de som cantando “Garota de Ipanema” o que levou o público ao
delírio.

fig. 13: Foto de divulgação do show em 1993


no Brasil.
Fonte: www.minsane.com.br
Segundo dados colhidos em seu blog oficial, a música “Garota de Ipanema” concedeu
à Helô Pinheiro, o reconhecimento mundial por ser a musa inspiradora da obra. Ela colhe
esses frutos da sua fama até nos dias de hoje, que já lhe renderam inúmeras capas de revistas,
entrevistas, programas de TV, e atualmente possui uma franquia de lojas de biquínis com o
nome Garota de Ipanema.
No início de outubro de 2003 em Washington, o presidente dos Estados Unidos
George W. Bush recebeu o cantor Alexandre Pires (fig. 14) na abertura do Mês da Herança
Hispânica, Pires representou o Brasil interpretando a música “Garota de Ipanema” Segundo o
site O Globo, ele disse que era uma grande responsabilidade cantar uma música tão famosa
para uma pessoa tão importante, como o presidente dos Estados Unidos.

fig. 14 Presidente George W. Bush e o


cantor Alexandre Pires em 2003.
Fonte www.globo.com/jn

Segundo o site “Multiplique-se” a música de Tom Jobim e Vinícius de Moraes


também fez parte da trilha sonora de diversos filmes hollywoodianos, e começou a ser
empregada com maior ênfase dos anos 80 para cima, nessa época já era trilha para grandes
nomes de Hollywood, como Michelle Pfeiffer, em The Fabulous Baker Boys (1989), e
continuou a ser ultilizada em grandes produçãoes como Desconstructing Harry (1997) de
Woody Allen.
A “Garota de Ipanema”, em sua versão internacional também foi tocada em longas de
Spielberg como Catch Me If You Can, (Prenda-me se for capaz, 2002) protagonizado por Tom
Hanks e Leonardo Di Caprio; esteve também presente em cenas do casal Angelina Jolie e
Brad Pitt em Sr. e Sra. Smith. Outro filme que usou a canção de Tom e Vinicius foi o recente
V for Vendetta (V de vingança, 2005) que além de “Garota de Ipanema”, trouxe a versão em
inglês para “Corcovado”.

2.3.1 Carnegie Hall e Grandes Parcerias

A Bossa Nova já havia conseguido uma grande repercussão, graças a maneira


inovadora de se tocar violão e o modo sussurrado de cantar que parecia ser feito ao pé do
ouvido de quem escutava as canções.
Segundo o artigo de Liliana Harb Bollos, doutoranda em comunicação e semiótica da
PUC SP, intitulado “A Bossa Nova através da crítica musical: Renovação à custa de mal-
estar”, alguns artistas americanos como o flautista Herbie Mann, o cantor Tony Bennett e o
violinista Charlie Byrd, vieram interessados em conhecer a nova música popular brasileira.
Bennett veio pela primeira vez ao Brasil em maio de 1961 junto do contrabaixista Don Payne,
que levou do Brasil muitos discos de Bossa Nova, e mostrou ao seu vizinho, o saxofonista
Stan Getz. E em março de 1962, Getz lançava o disco “Jazz Samba” com Charlie Byrd, que
vendeu um milhão de cópias em pouco tempo, e ainda um segundo disco “Big Band Bossa
Nova”. Ainda em seu artigo, Liliana fala sobre o evento que marcara para sempre a Bossa
Nova no exterior,
[...]foi em 21 de novembro de 1962, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, que o
público norte-americano conheceu a bossa nova tocada por brasileiros, já que, até
aquela data, eles conheciam somente as versões dos americanos. Com o título de
“Bossa Nova - New Brazilian Jazz”, o concerto no Carnegie Hall foi um marco para
a música popular brasileira no exterior, tendo João Gilberto, Tom Jobim, Luiz
Bonfá, Roberto Menescal, Sérgio Mendes, entre outros músicos, a função de
divulgar a música popular brasileira na capital do jazz”.

De acordo com o site “JBlog” O Itamaraty recebeu despachos dos EUA informando
que compareceram ao concerto 300 repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e críticos
especializados de toda a América do Norte e da imprensa mundial, o que deveria garantir
grande repercussão ao show de bossa nova.
fig. 15: Nota do jornal “O Globo” em referência ao evento em Nova Yorque,
sem informação de autor, e da época publicada.
Fonte: www.jobim.org
fig. 16: Card do show de 1962
fonte: www.cifrantiga.com

Depois do show no Carnegie Hall, grandes parcerias se formaram, e belos discos


surgiram a partir delas. Em 1963 o LP “Getz/Gilberto” contou com o Piano de Tom Jobim, o
violão e voz de João Gilberto, o saxofone de Stan Getz e a voz macia de Astrud Gilberto.
No texto escrito por Ruy Castro, divulgado no site “RevistaBrasileiros”, a história do
LP “Getz/Stan” é dissecada, e em uma passagem de seu texto, Castro fala sobre a tal
gravação:
“[...] reuniram-se no A&R, um estúdio de gravação na Rua 48 Oeste,
quase esquina com a Sexta Avenida, em Nova York, e criaram o álbum – LP,
como então se dizia - que, para muitos, é o maior da bossa nova em todos
os tempos. Ou o maior LP de Bossa Nova gravado fora do Brasil”.

fig. 17: Getz/Gilberto, produzido por Creed Taylor,


dono da gravadora Verve.
Fonte: www.bossa.net
A história de outra grande parceria, foi brevemente narrada por Helô Pinheiro durante
nossa entrevista. Ela conta que Frank Sinatra ligou para Tom Jobim no Bar Veloso, hoje
chamado de Bar Garota de Ipanema, e disse que queria manter contato com ele para poder
marcar um show juntos, posteriormente realizado no Carnegie Hall
Mas talvez a maior parceria entre eles, tenha ocorrido 30 de janeiro de 1967, quando
começaram as sessões de gravação de "Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim", o
disco que consolidou a projeção internacional do mestre da Bossa Nova.
O site “Sojazz” conta qual foi a repercussão dessa parceria: “Sucesso eleito melhor do
ano pela crítica norte-americana, o disco de Sinatra e Jobim chegou ao segundo lugar entre os
mais vendidos nos EUA, perdendo apenas para "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", dos
Beatles.”

fig. 18 Frank Sinatra e Tom Jobim durante a gravação do primeiro


disco da dupla,"Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim"1967.
www.sojazz.org.br

2.3.2 A Bossa Nova nos dias atuais

Neste ano de 2008, comemoram-se os cinqüenta anos da Bossa Nova (baseando-se no


lançamento do LP “Chega de Saudade”, 68, João Gilberto). E por essa razão, uma grande
quantidade de materiais de todos os tipos sobre o tema foi e está sendo lançada.
"Tom e Vinícius, o Musical", peça dirigida por Daniel Herz, conta a história da
amizade de Tom Jobim e Vinícius de Moraes entre os anos de 1955-1965, da montagem da
peça "Orfeu da Conceição" ao sucesso internacional. Para os papéis principais estão escalados
Thelmo Fernandes, na pele do poeta, e Marcelo Serrado, como o maestro.
fig. 19: Thelmo Fernandes, interpreta
Vinicius de Moraes, e Marcelo Serrado
interpreta Tom Jobim.
www.uol.com.br

Outros grandes acontecimentos foram os shows de João Gilberto após uma longa
pausa em suas apresentações. O cantor se apresentou nos dias 14 e 15 de agosto, no Auditório
Ibirapuera, em São Paulo, depois seguiu para o Rio de Janeiro, onde cantou no dia 24 de
agosto no Teatro Municipal, e por último uma apresentação em Salvador no dia 05 de
Setembro, no Teatro Castro Alves.
“Os ingressos para os shows foram vendidos em uma hora e 23 minutos na última
semana, somente pela internet e telefone”, afirma a Folha Online.

fig. 20: João Gilberto no Auditório Ibirapuera.


Fonte: www.youtube.com
Anteriormente a esses shows, repetiu-se o que há 46 anos atrás havia acontecido: João
Gilberto se apresentou no Carnegie Hall. A apresentação aconteceu no dia 22 de junho de
2008 e contou com pouco mais de duas mil pessoas presentes.

fig. 21: Uma cadeira e um violão; assim João


Gilberto se apresentou em Nova Yorque.
www.uol.com.br

Outros shows marcantes foram os acontecidos em 22 de agosto no Teatro Municipal


do Rio de Janeiro, e nos dias 25 e 26 no Auditório Ibirapuera em São Paulo. Roberto Carlos e
Caetano Veloso cantaram juntos, e, Daniel Jobim, neto de Tom Jobim participou tocando
piano além de solar em “Águas de Março”. As apresentações fazem parte do projeto do Itaú
Cultural que homenageia os cinqüenta nos da Bossa Nova.
A Rede Globo de Televisão reprisou as apresentações, editadas, no dia 28 de setembro.

fig. 22: Propaganda da Rede Globo de Televisão ao Especial “Bossa


Nova 50 Anos”.
Fonte:www.globo.com

Notamos que originalidade e a versatilidade da Bossa Nova sempre esteve presente no


cotidiano. Isso inclui não só a música, mas também influencia a moda de hoje, prova disto é
que os estilistas se inspiram cada vez mais nas tendências dos anos 60. As cores, estampas
coloridas, são uma menção aos acontecimentos e ao espírito de vanguarda da Bossa Nova, e
as figuras formadas nos calçadões de Ipanema e Copacabana, estampadas em vestidos e
camisas com traços fortes e marcantes, as listras e o xadrez usados naquela época, por
exemplo por Nara Leão, é nos dias de hoje relembrado por estilistas.
Em entrevista para Ítalo Molcco, o estilista Carlos Miele afirma que os ares
sessentistas podem e devem ser muito bem explorados no mundo da moda. Em entrevista, o
estilista brasileiro agradeceu aos cantores precursores desse movimento pela
internacionalização da Bossa Nova e por "levar a música brasileira a todo o mundo". Para ele,
todas as pessoas que viajam ao Brasil "deveriam ver o país como Frank Sinatra viu". Miele
estabeleceu uma ponte entre a cultura brasileira e a imagem da mulher moderna e elegante, e
exibiu sua coleção na Semana de Moda de Nova York a sua coleção primavera-verão 2008.
Em 2007 o estilista Ronaldo Fraga ilustrou em suas criações a época do banquinho e
o violão, quis mostrar também que compor e cantar pode expressar muito mais que
sentimentos: podem denunciar e contestar. Assim como foi o movimento da Bossa Nova no
Brasil. (fig. 15 e 16)

fig. 23: foto do desfile de Ronaldo


Fraga inspirado na Bossa Nova
www.novidadesbrasileiras.com

fig. 24: Sapato criado por Ronaldo


Fraga em forma de Fusca, lembrando
um dos carros mais famosos lançados
naquela época.
www.novidadesbrasileiras.com
A prova da presença da Bossa Nova na moda atual também está em um desfile da
coleção verão 2009 da grife Poko Pano na São Paulo Fanshion Week. A estilista Paola Robba
voltou no tempo e buscou nos anos 50 a inspiração para a apresentação.

fig. 25: A modelo Luiza Brunet,


participou do desfile.
Fonte:www.ego.com

fig. 26: A coleção 2009 da estilista Paola Robba, apresentada


no São Paulo Fashion Week.
Fonte:www.ego.com

Além dos shows, o Itaú Cultural promoveu uma exposição intitulada “Bossa na Oca”,
a exposição ocorreu do dia 08 de julho até o dia 07 de setembro de 2008 na OCA, Parque do
Ibirapuera. A visita dos componentes do grupo que desenvolveram esse trabalho a Oca, foi de
extrema importância, pois a exposição contava com centenas de fotos, dez curtas-metragens
sobre as diversas histórias da Bossa Nova, jukeboxes com dezenas de gravações para se ouvir,
o documentário “Clarão” de Carlos Nader, enfim um espaço de quatro andares inteiros sobre
o gênero musical que ganhou o mundo.
fig. 27: Uma das telas de reprodução dos curtas-metragens exibidos
na exposição. Ao fundo, a reprodução da praia de Copacabana

Helô Pinheiro também prestigiou esta exposição, juntamente com Frank Sinatra Jr. E
acrescentou:
“Não tive a oportunidade de conhecer o Frank Sinatra, mas conheci seu
filho, Frank Sinatra Jr. Estivemos juntos na exposição da Bossa na Oca no parque do
Ibirapuera, e posteriormente em um show onde fui homenageada por Frank Sinatra
Jr. E cantamos juntos a canção Garota de Ipanema”

A Bossa Nova está muito bem representada no Brasil com sua nova geração de
cantores, e um desses cantores que reproduz de forma belíssima o ritmo é Fernanda Takai. A
cantora que já havia cantado algumas canções-bossa-nova em um desfile de Ronaldo Fraga,
lançou também seu primeiro disco solo, “Onde Brilham os Olhos Seus”, no qual canta apenas
músicas do repertório da cantora Nara Leão.

fig. 28: Obra de Fernanda Takai faz releitura das


músicas de Nara Leão.
Fonte www.gl.globo.com
fig. 29: Fernanda Takai e o estilista Ronaldo
Fraga em seu desfile. Os barquinhos flutuantes
fazem referência a música de Roberto
Menescal, “O Barquinho”

Esses acontecimentos mostram que a Bossa Nova ainda está presente nos dias de hoje.
Pois ela não era só um movimento musical, mas também uma forma de expressão daquele
tempo, pelo bom momento que o Brasil vivia, e hoje, pelos bons momentos que esperamos
viver. E são os amantes deste movimento que fazem com que a Bossa seja sempre Nova e
permaneça viva, tanto nas canções desse gênero musical de extrema sensibilidade, quanto no
modo de olhar o mundo, e de enxergar nele “amor, sorriso e flor”.
3. Considerações finais

A Bossa Nova juntamente com a música Garota de Ipanema, vem sendo um dos
principais produtos culturais que leva o Brasil para ao reconhecimento internacional.
Concluímos que as letras das músicas eram influenciadas pelo momento de esperança
que se vivia no Brasil na década de 50.
A Bossa Nova surgiu como uma revolução tanto musical quanto cultural, teve grande
repercussão no exterior pela originalidade das letras e ritmos, mostrando para o mundo a
genialidade de seus autores em suas composições, dada a música Garota de Ipanema como
principal precursora da internacionalização do movimento.
A Bossa Nova não foi somente um estilo de música, foi também o surgimento de
novos conceitos sobre a sociedade naquela época, influenciou nos pensamentos das pessoas,
no modo de agir, vestir, mas principalmente sobre o novo conceito de música, e foi
considerada uma forma de arte difundida no mercado cultural.
Quando se trata de música, a Garota de Ipanema é a principal referência brasileira, e é
conhecida em todo o mundo. Ela hoje é mais divulgada e conhecida internacionalmente do
que nacionalmente, por ser considerada uma música elitizada não tem tanta divulgação no
Brasil, pois as mídias brasileiras não vêem este gênero musical como um produto de “massa”.
Todo conteúdo deste trabalho nos leva ao pensamento de que para a
internacionalização da música, o Brasil vende uma imagem de um país diferente da nossa
realidade, onde a identidade brasileira, fora da Zona Sul carioca, quase passa em branco.
Porém a Bossa Nova parece flutuar por cima das hierarquias e conflitos raciais, pois
foi uma música apresentada por brancos mas com samba negro em seus corações.
4. Referências

AMORIM, Ana. Bossa Nova no Carnegie Hall. 2008. Disponível em:


<http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=5930>. Acesso em: 22 setembro 2008.

BOLLOS, Lilian. A Bossa Nova através da Crítica Musical: renovação à custa de mal-estar.
Música e Comunicação. v.1, n.15. p 56-61, 2005. Disponível em :
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/view/862>. Acesso em:
20 setembro 2008.

CALADO. Carlos. Filho e biógrafo de Jobim contam parceria com Sinatra. Postado por
FRANCO. Sérgio. 21 Janeiro 2007. Disponível em: http://www.sojazz.org.br/2007/01/filho-
e-bifrafo-de-jobim-contam.html. Acesso em: 25 setembro 2008.

CASTRO, Ruy. Anatomia de um disco. Edição 9-Abril 2008. Disponível em:


http://www.revistabrasileiros.com.br/edicoes/9/textos/54/. Acesso em: 25 setembro 2008.

CASTRO, Ruy. Chega de saudade. A história e as histórias da Bossa Nova; Companhia das
letras, 1990.

FIGUEIRAS, Inês. Garota de Ipanema. 2008. Disponível em:


<http://garotadeipanemahistoria.blogspot.com/> . Acesso em: 25 setembro de 2008.

GARCIA, Walter. Bim Bom: a contradição sem conflitos de João Gilberto. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1999. disponível em:
<http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2826> acesso em 10 Outubro de 2008

Garota de Ipanema. Histórias e fotos. Disponível em:


<http://www.garotadeipanema.com.br/historia_e_fotos_garota_de_ipanema.htm> . Acesso em
25 setembro de 2008

GUIMARÃES, Hélio. Madonna canta Tom Jobim no ensaio. Folha de S.Paulo, 1993.
Disponível em:
<http://www.minsane.com.br/extras/especiaisgirlie10anosjornaisrio.html#02 >. Acesso em
setembro de 2008

JORNAL NACIONAL. Presidente americano aplaude de pé o cantor brasileiro


Alexandre Pires. 2003. Disponível em:
<http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL550628-
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+ALEXANDRE+PIRES.html> . Acesso em 25 setembro de 2008

MOLCOO, Ítalo. Bossa Nova é moda? 2008. Disponível em:


<http://it-uncool.blogspot.com/2007/09/bossa-nova-moda.html >. Acesso em setembro de
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ONLINE. Folha. João Gilberto quebra jejum de shows no Brasil nesta quinta em SP. 13
Agosto 2008.< http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u433120.shtml>.
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POMPOSELLI. Helen. ANÁLISE: Bossa nova embala o desfile da Poko Pano. 22 Junho
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ANALISE+BOSSA+NOVA+EMBALA+O+DESFILE+DA+POKO+PANO.html>.
Acesso em: 25 setembro 2008.

REVISTA CARAS.Edição Especial de Junho de 1996.disponível no site


<http://cifrantiga2.blogspot.com/2006/10/histria-da-bossa-nova-parte-1.html> acessado em
Outubro de 2008

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