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Abordagem biomecânica das relações entre a cinemática, intensidade do

exercício e dominância de membros em ciclistas


Felipe Pivetta Carpes1, Mateus Rossato2, João Otacílio Libardoni dos Santos1, Luiz Osório Cruz Portela2, Carlos Bolli Mota1
1
Laboratório de Biomecânica, Universidade Federal de Santa Maria RS Brasil
2
Laboratório de Fisiologia do Exercício e Performance Humana, Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil

Resumo: O objetivo deste estudo foi verificar aspectos biomecânicos da relação entre a cinemática,
intensidade do exercício e dominância de membros no ciclismo. Foi realizada uma análise
cinemática frontal do joelho de 5 ciclistas, com dominância de membro inferior conhecida
(idade de 22,4 anos, estatura de 1,82 m e massa corporal de 77,5 kg em média), durante um
exercício progressivo máximo de ciclismo (carga inicial de 100 W com incrementos de 50 W a
cada 5 min). Para isso foi utilizado o cicloergômetro ERGOMETRICS 800 e o sistema de
videografia Peak Motus. Os resultados instigam que o aumento na intensidade do exercício
acarreta um aumento no deslocamento médio lateral do joelho, principalmente em intensidade
superior a 71% do VO2máx. Foi observada também uma relação significativa com a
dominância, pois o membro dominante apresentou deslocamento significativamente menor,
sugerindo um melhor controle motor, quando comparado ao membro não dominante. Com
isso, pode-se concluir que a intensidade de exercício influencia o deslocamento do joelho,
podendo acarretar mudanças na efetividade da pedalada, bem como se observam diferenças
entre membro dominante e não dominante.

Abstract: The aim of this study was examine the biomechanics aspects of the relationships among
kinematics, exercise intensity and member dominance in cycling. A frontal kinematics analysis
of knee in 5 cyclists with member dominance well-know (age of 22.4 years-old, height of
1.82 m and body mass of 77.5 kg, average), was accomplished during a maximum progressive
cycling exercise (initial load of 100 W with increments of 50 W to each 5 min). Was used the
cyclergometry ERGOMETRICS 800 and the Peak Motus System. The results instigate to the
increase in the exercise intensity carts an increase in the lateral medium displacement of the
knee, mainly in intensity superior at 71% of VO2max. Also was observed a significant
relationship with the member dominance, because the dominant member presented
displacement significantly smaller, suggesting a better motor control when compared to the
non dominant member. In summary, it can be concluded that the exercise intensity influences
the displacement of the knee in the frontal plane, and this could cart changes in the
effectiveness of the forces applied to pedals, as well differences are observed among
dominant and not dominant member.

INTRODUÇÃO todo o ciclo do pé de vela, de acordo com a mudança


na posição dos membros inferiores (ERICSON &
Nos últimos anos muitos estudos têm investigado as NISELL, 1988) e podem ser influenciadas por fatores
respostas fisiológicas e biomecânicas a diferentes como o tempo e a intensidade do exercício (LEPERS,
estímulos durante o ciclismo (BAUM & LI, 2003; MAFFIULETTI, ROCHETTE et al., 2002; MILLET,
COYLE, COGGAN, HOPPER et al., 1988; COYLE, MILLET, LATTIER et al., 2003).
FELTNER, KAUTZ et al., 1991; LUCIA, HOYOS &
CHICHARRO, 2000), entretanto, Sanderson & Black Dentre diversos estudos sobre a cinemática da
(2003) relatam que poucos estudos têm investigado pedalada apresentados por Gregor (2000), são raros os
variáveis biomecânicas e fisiológicas de maneira que buscam relações com diferentes sobrecargas,
conjunta em ciclistas quando submetidos a exercícios posicionamento do corpo e sua interferência sobre
de alta intensidade ou até mesmo em processo de outros planos de movimento, que não o sagital,
fadiga neuromuscular. principalmente para a articulação do joelho (RUBY,
HULL & HAWKINS, 1992; GREGERSEN & HULL,
Isto se torna importante, haja vista que durante a 2003).
pedalada, a produção de potência e a aplicação de
força ao pedal, em cada membro, são alteradas durante Analisando o movimento tridimensional do membro
inferior direito de ciclistas experientes em uma carga de
Cinemática, intensidade do exercício e dominância de membros no ciclismo

trabalho de 225 W e cadência de 90 rpm, Ruby, Hull & MATERIAL E MÉTODOS


Hawkins (1992), reportaram um deslocamento médio-
lateral do joelho no plano frontal de 2,3cm, em média. A Grupo de estudo
simetria do movimento entre os membros inferiores e
O grupo de estudo foi constituído por 5 ciclistas, com
sua relação com a dominância, bem como o
experiência prévia de no mínimo 5 anos em ciclismo de
comportamento de tal simetria em diferentes
estrada e montanha, participantes de provas em nível
intensidades de esforço não foram analisadas por
Estadual e Nacional, que assinaram termo de
Ruby, Hull e Hawkins (1992) e, também não tem sido
consentimento informado de acordo com o Comitê de
referida na literatura.
Ética da Instituição, aceitando participar dos
O posicionamento do joelho, em relação a uma procedimentos previstos para a realização deste
posição mais próxima ou mais afastada do quadro da estudo.
bicicleta, tem uma participação relevante em relação à
aplicação de força aos pedais e magnitude de Procedimentos para coleta dos dados
momentos articulares resultantes. Na literatura, Gregor, Durante a coleta de dados houve o monitoramento
Broker, Ryan (1991), relatam que na fase de propulsão de variáveis fisiológicas e biomecânicas
o joelho tende a aproximar-se do quadro, com uma simultaneamente. Na figura 01 é apresentada a
carga em varo sendo aplicada ao pedal, ou seja, a força situação de coleta durante a avaliação de um dos
aplicada ao pedal ocorre com a coxa em adução. Com ciclistas. Controlou-se a temperatura do ambiente,
isso, percebe-se que a posição do joelho pode mantendo-se a sala de avaliação a uma temperatura
influenciar a magnitude da força médio-lateral aplicada média de 20±1ºC. A altura do selim, guidom e
ao pedal. comprimento do pé de vela foram as mesmas utilizadas
Seguindo o raciocínio de que a intensidade do pelos ciclistas em suas bicicletas, e permitiu-se a
exercício poderia influenciar o movimento do joelho no posição preferida no guidom, sendo observado que
plano frontal, formularam-se as seguintes hipóteses que todos os sujeitos adotaram a posição de inclinação do
serviram de base para esta investigação: (a) o aumento tronco de aproximadamente 75°, conforme ilustra a
da intensidade do exercício acarreta um maior figura 01.
deslocamento médio-lateral do joelho, (b) o
deslocamento médio-lateral do joelho está relacionado
à dominância de membros.

Figura 1. Visão geral do teste em andamento com um ciclista do grupo de estudo (média±desvio-padrão).

Avaliação fisiológica máximo, com carga inicial de 50W, para aquecimento,


sendo seguido de incrementos de 50 W a cada 5
Os testes foram realizados em um cicloergômetro de minutos com cadência mantida entre 75 e 100 rpm, até
frenagem eletrônica, modelo ERGOMETRICS 800 exaustão voluntária máxima caracterizada pela não
(Sensor Medics, USA), em um teste progressivo manutenção da potência e da cadência estipuladas.
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O consumo máximo de oxigênio (VO2máx), foi Esta análise foi conduzida para ambos os membros
monitorado continuamente a cada expiração, através inferiores, sendo a dominância determinada pelo
do ergoespirômetro VMAX 229 Series (Sensor Medics, conhecimento do membro de chute, conforme propõem
USA), sendo utilizado o valor médio de cada minuto. Ruby, Hull & Hawkins (1992).
A partir do VO2máx foram estipuladas quatro faixas
de intensidade, sendo elas definidas em percentagens ANÁLISE ESTATÍSTICA
relativas ao VO2máx (assumido como 100%). As quatro
faixas de intensidade foram as seguintes: < 50%; 51 a Para o tratamento estatístico dos dados foram
70%; 71 a 90% e > 91%. utilizados os softwares Microsoft Excel 2003 (Microsoft
Corp.) e Statistica 5.1 (Statsoft Inc.). Para a
Avaliação biomecânica comparação do deslocamento médio-lateral entre o
membro dominante e não dominante em cada uma das
Com a finalidade de reconstruir o movimento dos
faixas de intensidade utilizou teste t de Student. Para a
membros inferiores para avaliação cinemática no plano
comparação do deslocamento médio-lateral nos
frontal, no quarto minuto de cada estágio, o movimento
membros dominante e não-dominante entre as quatro
de pedalar foi filmado através do Sistema Peak Motus
faixas de intensidade utilizou-se a análise de variância
(Peak Performance Inc, USA), com uma câmera de
Anova One-way, seguida de post-hoc de Tukey HSD
alta-velocidade (HSC 180) posicionada
quando diferenças estatisticamente significativas eram
perpendicularmente ao plano de movimento avaliado,
observadas.
operando em uma taxa de amostragem de 180 Hz.
A correlação entre as faixas de intensidade e o
Pequenos marcadores reflexivos foram afixados em
deslocamento médio-lateral dos membros inferiores
pontos de referência anatômicos para auxiliar a
(dominante e não dominante) foi verificada através do
obtenção das coordenadas do movimento utilizadas
teste de correlação produto-momento de Pearson. Para
para reconstrução bidimensional e cálculos
todos os procedimentos estatísticos utilizou-se um nível
cinemáticos.
de significância ≤ 0,05.
Os pontos anatômicos de referência utilizados foram
adaptados do protocolo proposto por Gregersen & Hull RESULTADOS E DISCUSSÃO
(2003), sendo representados na figura 02.
Características do grupo de estudo
A tabela 01 apresenta os resultados das variáveis
que caracterizam os ciclistas do grupo de estudo.

Massa
Idade Estatura Treino Tempo de prá
corporal
(anos) (m) km/semana tica (anos)
(kg)
77,5±5,
22,4±3 1,82±0,13 200 ± 43 6±1,2
3

Tabela 1. Variáveis de caracterização do grupo de


estudo (expressas em média ± desvio-padrão).

Consumo máximo de oxigênio (VO2máx) e


potência
O consumo máximo de oxigênio e a potência
máxima têm escores individuais e para o grupo de
estudo, em média e desvio-padrão, apresentados na
tabela 02.
Figura 2. Pontos de referência anatômicos (Adaptado
de Gregersen & Hull, 2003). O consumo máximo de oxigênio médio do grupo foi
de 58,4±9,0 ml.kg-1.min-1. A potência máxima alcançada
pelo grupo foi, em média, de 350±31,6 W, similar ao
O deslocamento médio-lateral do joelho foi obtido reportado por Padilla, Mujika, Orbañanos et al (2000)
pela variação da posição da tuberosidade da tíbia no em estudo com ciclistas de mesma modalidade.
eixo x. O marcador reflexivo da ponta da sapatilha
serviu para verificar o movimento do pedal (ciclo de
pedalada).
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Cinemática, intensidade do exercício e dominância de membros no ciclismo

1 2 3 4 5 média Desvio
padrão
VO2máx (ml/kg/min) 62,18 57,93 50,03 73,48 48,60 58,4 9,0
Potência (W) 400 350 350 350 300 350 31,6

Tabela 2. Valores máximos obtidos para os ciclistas avaliados em relação ao consumo máximo de oxigênio e potência
máxima mantida (expressos individualmente e em média e desvio-padrão para o grupo)

Deslocamento médio-lateral do joelho deslocamento médio-lateral do joelho apresentou


valores maiores do que os reportados por Ruby, Hull &
O deslocamento médio-lateral do joelho dominante Hawkins (1992) e, menores que os encontrados por
(D) e não dominante (ND), bem como as características Gregor (2000).
do grupo, nas faixas de intensidades estudadas estão
apresentadas (em cm) na tabela 03. Percebe-se que o

% de intensidade
Grupo de
estudo < 50% 51 a 70% 71 a 90% >91%
D ND D ND D ND D ND
1 3,30 2,4 2,4 4,3 3,1 4,4 2,4 5,3
2 2,0 1,7 1,5 1,8 1,45 3,3 2,9 3,2
3 2,15 3,2 2,3 2,7 2,7 3,2 3,25 3,5
4 1,83 1,85 2,15 2,17 Ŧ Ŧ 3,6 5,0
5 2,45 3,1 2,9 4,1 2,2 3,9 2,65 3,05
Média 2,35 2,45 2,25 3,01 2,36 3,7 2,96 4,01
Desvio padrão 0,58 0,69 0,5o 1,13 0,71 0,56 0,48 1,06
Valor p 0,980 0,106 0,009* 0,049*
* teste t: diferença estatisticamente significativa entre os membros dominante e não dominante
(p<0,05)
Ŧ Devido à metodologia utilizada para a divisão das faixas de intensidade, durante o teste progressivo
máximo, o sujeito 4 não apresentou escores referentes às intensidades de 71 a 90%, não sendo
registrados, então, deslocamentos nessa faixa de intensidade.

Tabela 3. Deslocamento médio-lateral do joelho (cm) (D = membro dominante; ND = membro não dominante), média,
desvio-padrão e valor de p obtido pelo teste t para a comparação entre os membros inferiores em cada faixa de
intensidade.

Comparação entre-membros em diferentes Para o membro dominante, não foram encontradas


faixas de intensidade diferenças estatisticamente significativas no
deslocamento médio-lateral do joelho entre as
O deslocamento médio-lateral entre as faixas de diferentes faixas de intensidade. Em relação ao
intensidade, foi comparado através de análise de membro não dominante, observaram-se diferenças
variância, com o objetivo de verificar se ocorreram estatisticamente significativas entre as faixas de
diferenças significativas no deslocamento médio-lateral intensidade <50% e 71 a 90% bem como entre <50% e
do joelho no membro dominante e não dominante entre >90%.
as faixas de intensidade. Os valores de p encontrados
estão apresentados na tabela 04.

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Membro dominante Faixas de intensidades Membro não-dominante


Anova (valor de p) (%VO2máx) Anova (valor de p)
0,994 <50 vs 51-70 0,323
0,973 <50 vs 71-90 0,048*
0,539 <50 vs >90 0,006*
0,997 51-70 vs 71-90 0,720
0,509 51-70 vs >90 0,382
0,471 71-90 vs >90 0,973
* Análise de variância Anova: diferença estatisticamente significativa (p<0,05)

Tabela 4: Comparação entre-membros do deslocamento médio-lateral do joelho entre as quatro faixas de intensidade: p
obtido através de análise de variância Anova.

* Diferença estatisticamente significativa no deslocamento médio lateral entre os membros inferiores (p<0,05
- teste t).
Ŧ Diferença estatisticamente significativa no deslocamento médio lateral entre as faixas de intensidades
(p<0,05 - Anova).

Figura 3. Comportamento do deslocamento médio-lateral do joelho nas faixas de intensidade definidas.

A figura 03 apresenta o comportamento do cinemática, a intensidade do exercício e a dominância


deslocamento médio-lateral do joelho em ambos os de membros no ciclismo. Dessa forma, a preocupação
membros inferiores de acordo com as faixas de básica neste manuscrito foi apresentar os resultados
intensidade analisadas. encontrados de modo a mostrar sua relevância para a
Dentre os estudos disponíveis na literatura, este prática do treinamento e reabilitação.
parece ser o primeiro a abordar relações entre a
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Cinemática, intensidade do exercício e dominância de membros no ciclismo

O protocolo utilizado para o teste teve por finalidade neste caso o membro não dominante parece ter um
impor aos ciclistas uma intensidade progressiva de menor controle do movimento o qual pode estar
esforço, que conforme Baker, Kostov, Millet et al relacionado a uma menor resistência muscular de
(1993), Hogan, Ingham & Kurdak (1998) e Sanderson & acordo com o incremento da intensidade.
Black (2003), produzem fadiga neuromuscular,
responsável pela não manutenção do exercício bem CONCLUSÕES
como possibilitar que a análise cinemática da pedalada
não sofresse influência da adaptação muscular ao Com base nos resultados obtidos podemos sugerir
incremento de carga, o que poderia ocorrer com o uso que o aumento na intensidade do exercício acarreta um
de um protocolo com estágios de menor tempo (por maior deslocamento médio-lateral do joelho, bem como
exemplo, os estágios de 1 minuto, comumente que as intensidades próximas do máximo (acima de
utilizados para a determinação do consumo máximo de 71%) exercem maior efeito sobre o deslocamento
oxigênio de ciclistas). médio-lateral do joelho para o membro não dominante.
Com base nos resultados apresentados, percebeu- Embora somente nas intensidade superiores e para o
se que para o membro dominante, o deslocamento membro não dominante o deslocamento médio-lateral
médio-lateral do joelho apresentou uma baixa tenha apresentado alterações estatisticamente
correlação com o aumento da intensidade (r = 0,34), significativas, percebe-se uma tendência de incremento
enquanto que para o membro não dominante, essa do deslocamento médio-lateral de acordo com o
correlação foi alta (r = 0,82). Esta observação corrobora incremento da intensidade.
a proposta de que a resposta ao incremento de Além disso, observou-se que para o grupo de
intensidade por parte do membro dominante possui ciclistas estudado o deslocamento médio-lateral do
uma característica de melhor controle motor, mesmo joelho esteve relacionado à dominância de membros
em situações que induzem a fadiga neuromuscular, em intensidades de média a alta, devido à diferença
instigando que a técnica de pedalada para o membro estatisticamente significativa observada na comparação
dominante possa ser menos afetada negativamente em entre os membros, a qual indicou que o membro
função da intensidade de exercício. dominante foi menos influenciado pela intensidade
Para o membro não dominante, o deslocamento quando comparado ao membro não dominante. Com
médio-lateral do joelho nas intensidades superiores a isso, é provável que alterações na efetividade de cada
71% apresentou valores significativamente maiores um dos membros aconteçam de forma diferenciada,
quando comparados aos observados para as principalmente nas intensidades superiores a 71% da
intensidades inferiores a 71%. Isto induz a uma carga máxima, que são aquelas comumente utilizadas
conclusão divergente à observada para o membro pelos ciclistas durante treinamentos e competições.
dominante, visto que com o incremento da intensidade, São necessários ainda mais estudos, conduzidos
o membro não dominante não teve a característica de sob diferentes metodologias para que afirmações
manter o padrão de movimento. Esse resultado indica a conclusivas possam ser feitas acerca desse tema.
importância e relevância da prática do treinamento Apesar das limitações encontradas, tais como a não
específico da técnica de pedalada em relação à possibilidade de análise tridimensional do movimento e
simetria, proposto também por Carpes (2004). Embora a não mensuração das forças aplicadas nos pedais, os
essas assimetrias não sejam claramente relacionadas a resultados indicam que a dominância de membros é um
perdas no desempenho, estudos têm mostrado que fator relevante na avaliação da técnica de pedalada e,
elas se revelam freqüentes durante a pedalada que se observam relações entre a intensidade e a
(GREGOR, 2000; CARPES, 2004). capacidade de coordenação e controle do movimento
Assim, a primeira hipótese (a) apresentada para durante a pedalada.
este estudo foi parcialmente satisfeita, visto que o
aumento da intensidade do exercício acarretou um REFERÊNCIAS
maior deslocamento médio-lateral do joelho para o
BAKER, A. J.; KOSTOV, K. G.; MILLER, R. G.;
membro não dominante, o que pode ter ocorrido devido
WEINER, M.W. Slow force recovery after long-
ao processo de fadiga muscular, que de acordo com
duration exercise: metabolic and activation factors
Enoka (2000), apresenta efeitos que envolvem tanto
in muscle fatigue. Journal of Applied Physiology.
processos motores quanto sensoriais, como os
74. p.2294–2300. 1993.
envolvidos no processo de controle motor.
Somente em faixas de intensidades superiores a BAUM, B. S. & Li, L. Lower extremity activies during
71% do VO2máx ocorreram diferenças estatisticamente cycling are influenced by load and frequency.
significativas no deslocamento médio-lateral entre os Journal of Electromyography and Kinesiology. 13.
membros dominante e não dominante, quando o p.181-190. 2003.
deslocamento médio-lateral para o membro não
dominante foi maior que o encontrado para o membro CARPES, F.P. Produção de torque no ciclismo: análise
dominante, confirmando a segunda hipótese (b), de que da simetria na pedalada durante 40km de ciclismo
o deslocamento médio-lateral do joelho está simulado. Monografia de Especialização
relacionado à dominância de membros, sendo que
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F.P.Carpes, M.Rossato, J.O.L.Santos, L.O.C.Portela & C.B.Mota

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