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O COTIDIANO PEDAGÓGICO

DA SALA DE AULA

Professora: Valeska Pincer


Alunas: Adriana T.M. Oliveira e Silvana A. Marques
Junho de 2009 - Faculdade Pedro II - MG
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: “MEMÓRIA E ARQUIVO NUM


ÁLBUM DE RECORDAÇÕES: AS PRÁTICAS DE FORMAÇÃO
DOCENTE NA ESCOLA NORMAL DE DORES DO INDAIÁ/MG-
1933/1939”

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SOCIOLOGIA E HISTÓRIA DA


PROFISSÃO DOCENTE E DA EDUCAÇÃO ESCOLAR

PESQUISADORA: CLEIDE MACIEL DE MELO

BELO HORIZONTE

2002
1. Introdução

Pesquisa realizada na escola Normal Oficial de Dores do Indaiá/MG


(atualmente E.E. Francisco Campos), criada em 1928, durante o
governo do Presidente Antônio Carlos, sob os auspícios do dorense
Francisco Campos, na época, ocupante do cargo maior da Secretaria
do Interior.
 Os campos articulados nesta pesquisa:

Este estudo insere-se numa problemática em que três campos de


conhecimento se encontram: o das instituições escolares (uma escola
normal), o da história cultural e o da formação de professores
(especificamente, formação inicial). Tais campos encontram seu
sentido na articulação a uma campo maior que os integra: o da história
da educação.
 Condições desfavoráveis:
- O desconhecimento do campo teórico-metodológico da História.
- A ignorância quanto às “trilhas” em que se encontra a História da
Educação.
- A inexperiência no campo da pesquisa.
- Substituir a lapiseira por um computador nos processos de escrita.
- A distância a ser percorrida durante a coleta de dados
(Divinópolis /Dores do Indaiá – 360 km) março a novembro de
2001(Divinópolis/BHTE - 320 Km).
- Impossibilidade de dedicação.
- A falta de condição para qualificação.
 Condições favoráveis
- O de ler as bibliografias apostas aos textos,
- Assinalar as que me pareciam mais significativas.
- Seleção daquilo que valeria a pena ler.
- Convicção da qualidade do texto para produção de sentido do
estudo.
 A organização deste texto
- Escrever os capítulos de modo a dar-lhes uma certa independência
uns dos outros.
- Incorporar as orientações atuais sobre o uso da narrativa na
produção da escrita da história.
- Registro das notas
- Anexos
 Algumas constatações iniciais
- Abertura e acolhimento feito pela E.E. Francisco Campos.
- Ficam de fora deste trabalho, as práticas de formação sob a ótica
dos/as professores/as da Escola Normal.
- As práticas de formação como escolha de análise, apesar da
quantidade/diversidade de textos e documentos que compõem o álbum.
- Problemas surgidos durante a produção da escrita:
Tempo/dimensão de análise. Neste trabalho o tempo é abordado em
quatro perspectivas:
• O tempo “coberto” pelo álbum (1928 / 1988)
• O tempo de existência da E.E. Francisco Campos(1928/2002)
• O tempo provável de elaboração do álbum sobre a E.E. Francisco
Campos, por parte de Maria da Conceição Fiúza (+ ou - 20 anos)
• Tempo da formação docente de Conceição Fiúza na escola Normal

Oficial de Dores do Indaiá (1933 / 1939)


- Formas como aparece o nome de Maria Conceição Fiúza.
- Lugar de referência onde o álbum deveria aparecer.
- Nome da escola: em que momento usar Escola Normal Oficial de
Dores do Indaiá, Escola Estadual Francisco Campos ou como nome
composto: Escola Normal Oficial de Dores do Indaiá/E.E. Francisco
Campos?
- Fotografias coladas no álbum como ilustração da descrição na escrita
e não como objeto de análise.

Finalmente, os resultados desta pesquisa não podem ser


considerados a expressão e representação plena do cotidiano da
Escola Normal Oficial de Dores do Indaiá. Este trabalho realiza
apenas parte disso e, portanto, não permite inferências desta
natureza. Uma expressão usual nos trabalhos acadêmicos é usada:
aqui “não se pretende esgotar o assunto...”
2. Objetivo da pesquisa

 Estudar a Escola Normal e a formação das professoras primárias, nos


anos 30, em Minas Gerais;
 Investigar a Instituição Escolar (Escola Normal Oficial de Dores do
Indaiá/MG) na dimensão sócio-cultural (a partir de uma meso-
abordagem);
 Compreender as práticas de formação docente na Escola Normal de
Dores do Indaiá.
3. Justificativa

 A escolha desse objeto de pesquisa deve-se á:

- Trajetória profissional que se “inicia” pela formação numa escola


normal e permanece, ainda hoje, num Instituto superior, na condição
de professora, atuando na formação inicial de outros professores em
cursos de pedagogia e licenciaturas.

- Atual LDB, Lei 9394/96 que, em seu artigo 63, cria os “cursos
formadores de profissionais para a educação básica” com a finalidade
de formar professores para atuar na educação infantil e nos anos
iniciais de ensino fundamental.
4. Aportes metodológicos da pesquisa
 Pesquisa qualitativa, histórico-documental.
 Pesquisa qualitativa: Permite ao pesquisador conhecer o espaço e
viver o tempo vivido pelos investigados.
 Roger Chatier;
 Justino Magalhães;
 Antônio Nóvoa;
 Álbum da ex-aluna Maria da Conceição Fiúza;
 Arquivos da E.E.Francisco Campos;
 Arquivos da Secretária de Estado da Educação;
 Arquivo Público Mineiro/ BHTE/MG;
 Revistas do Ensino (órgão oficial encarregado de divulgar o
pensamento pedagógico mineiro);
 Imprensa Oficial/ BHTE/MG;
 Superintendência Regional de ensino/Divinópolis/MG.
5. Fontes documentais
 Arquivo Público Mineiro/Belo Horizonte
• Coleção das Leis Mineiras
• Revista do Ensino
 Imprensa Oficial/Belo Horizonte
• Diário Oficial “Minas Gerais”
 Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais/Secretaria de
Administração/Diretoria de Comunicação e Arquivo/Belo Horizonte
• Arquivo do Pessoal Inativo
 12ª Superintendência Regional de ensino/Divinópolis
• Diário Oficial “Minas Gerais”
• Arquivos referentes à E. E. Francisco Campos
 E. E. Francisco Campos/Dores do Indaiá
• Arquivos da Secretaria
• Álbum da E. E. Francisco Campos
6. As etapas do percurso da pesquisa

 Álbum da Escola da Escola Normal de Dores do Indaiá/MG.


 Após um ligeiro manuseio, a primeira indagação: _ Quem construiu esse
álbum?
 Descoberta a “autoria” do álbum, outra indagação: _ Quem foi Maria da
Conceição Fiúza?
 Pesquisa nos arquivos da escola para construir a vida escolar de Maria da
Conceição Fiúza;
 Entrevistas com pessoas que a conheciam de perto;
 Levantamento da vida profissional: _ Quem foi a professora Maria da
Conceição Fiúza? Onde trabalhou?
 Investigação sobre os motivos que levaram Maria Fiúza a construir um
álbum;
 Estudo da organização e conteúdo do álbum;
 Pesquisa dos textos/documentos contidos no álbum;
 Reconstrução da história da criação da escola a partir dos textos
oficiais;
 Levantamento sobre os cursos que a Escola oferecia;
 Investigação sobre as práticas de formação docente na Escola Normal
de Dores do Indaiá/MG (1933/1939).
7. Referenciais teóricos
FIÚZA, Maria da Conceição. Escola Estadual Francisco Campos-
Álbum, 1988.

AZEVEDO, Fernando de. A reconstrução educacional no Brasil.


Manifesto dos pioneiros da educação nova. In: A educação entre dois
mundos – Problemas, perspectivas e orientações. São Paulo:
Melhoramentos, s/d. p. 59-81. 1ª ed. Em 1932

BURKE, Peter. Variedades de história cultural. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 2000

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 1: Artes de fazer. 4ª


ed. Petrópolis: Vozes, 1994

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e


representações. Lisboa: Difel/RJ: Bertrand, 1987
DARNTON, Robert. The Great Cat Massacre and Other Episodes in
French Cultural History (Nova Iorque, 1984). Apud HUNT, Lynn
(org.). A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

LE GOFF, Jaques. História. In: Enciclopédia Einaudi, vol. 1:


Memória-História. Portugal: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1997,
p. 158 – 259

MAGALHÃES, Justino. Fazer e ensinar História da Educação. In:


MAGAHÃES, Justino (org.). Fazer e ensinar História da Educação.
Braga: Universidade do Minho, 1996, p. 9-33

NÓVOA, Antonio (coord.). Os professores e a sua formação. 2ª ed.


Lisboa: D. Quixote, 1995
8. A organização da dissertação
Esta pesquisa está organizada em 3 capítulos:

 1º capítulo
O ÁLBUM DA ESCOLA NORMA DE DORES DO
INDAIÁ/E.E.FRANCISCO CAMPOS - SUPORTE DE ENTRADA
PREVILEGIADO NA PESQUISA; SUA CONSTITUIÇÃO,
DESCRIAÇÃO E ANÁLISE
O primeiro contato com o álbum se deu na fase exploratória do projeto
da pesquisa.Trata-se de um grande álbum, feito de 52 folhas de cartolina
de cor cinza(medindo 50 por 70 cm), solidamente encadernado de azul-
marinho tendo inscrito em dourado, no canto inferior direito, o nome
atual da Escola: Escola Estadual Francisco Campos. São 102 páginas,
que guardam muitos e diversificados textos/documentos: fotografias,
jornais,monografias,planta original da Escola, cópia de escritura,
regimento escolar, pensamentos e outros textos contendo biografias,
poesias, crônicas, casos, piadas,descrições e relatos de diversas
atividades escolares(excursões, auditórios, campanhas, exposições,
festas, missas, palestras, semanas comemorativas e outras).
 Quem foi Maria da Conceição Fiúza?

A resposta veio da diretora da Escola: - Foi uma ex-aluna da escola Normal.


Segundo os registros ela nasceu em dores do Indaiá em 09/12/1921.

Formação:
- A aluna cursou as 4 séries do ensino primário nas Classes Anexas da E.Normal
Oficial de Dores do Indaiá. Iniciou os estudos em 1929 (1ª série) e concluiu em
1932 (4ª série). Fez o curso de Adaptação nos anos de 1933 e 1934; de 1935 a
1937, cursa os três anos do curso Preparatório ou Normal e, em 1938 e 1939,
completa sua formação docente no curso de Aplicação.
Vida profissional:
1952- quando substituiu a professora de desenho e trabalhos manuais da
escola Normal de Dores do Indaiá.
1955- é nomeada professora primária para Belo Horizonte, tomando posse
no Grupo Escolar Lúcio dos Santos.
1958- é removida para o Grupo Escolar Presidente Getúlio Vargas.
1962- é designada professora de técnica de cerâmica do Curso
Complementar Cândido Portinari,
1964 - removeu para Colégio José. O carpinteiro e voltou para Cândido
Portinari onde permaneceu por 13 anos
1977/1980 -Retorna a Dores do Indaiá/ atua na biblioteca da escola até
agosto de 1984, quando se aposenta.
1999- Falece Maria da Conceição Fiúza.
 Uma breve descrição e análise do álbum
Maria Fiúza faz um registro da memória da instituição por um período
de sessenta anos (1928-1988).
Na página de rosto, a ex-aluna faz a apresentação do álbum e cita seus
objetivos:
- Preservar a memória da Escola e o patrimônio histórico e cultural da
comunidade;
- Fazer com que os jovens estudantes dorenses conheçam os nomes e a
contribuição dos principais benfeitores da comunidade no setor
educacional e cultural;
- Motivar um culto respeitoso pela memória daqueles que com
sacrifício e idealismo souberam lutar com firmeza por um futuro
melhor para os filhos da nossa terra.
1) O conteúdo do álbum

A análise dos conteúdos pode ser feita numa dupla dimensão: a do


conteúdo temático e a do conteúdo material.
Na perspectiva do conteúdo temático, Conceição Fiúza, privilegia três
assuntos: as pessoas, os eventos/acontecimentos e as práticas.
O conteúdo material diz respeito aos objetos através dos quais os conteúdos
temáticos são apresentados: os documentos escritos e iconográficos. Vários
tipos de textos são disponibilizados, biografias, relatos, notícias, poemas,
casos, piadas, crônicas e outros já citados anteriormente.
2) A organização do álbum
Todos os materiais ganham forma e sentido a partir da
disposição/sequência que Maria da Conceição Fiúza lhes dá e de outros
recursos de que ela se utiliza com a intenção de organizar os registros
sobre a memória/história da E.E. Francisco Campos.
- Ao longo das 102 páginas, Fiúza registra, à mão, 72 pensamentos.
- As ilustrações, desenhos, traçados, dispostos nas páginas, de forma
graciosa e equilibrada.
- A produção de alguns textos. Considera-se que alguns textos foram
selecionados e datilografados por Maria da Conceição Fiúza.
- Caráter artesanal do álbum.
- Índices
 Memória e História
Segundo Chartier (2000), as relações entre memória e história são
fortes.
Entretanto, apesar da relação com o passado, apesar do exercício da
memória, muitas vezes ser confundido com história, memória e
história tem significações próprias.
Conforme Nora( 1993) a memória
é por natureza, múltipla e desacelerada, coletiva, plural e individualizada. A
história, ao contrário, pertence a todos e a ninguém, o que lhe dá uma
vocação para o universal. A memória se enraíza no concreto, no espaço, no
gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga às continuidades
temporais, às evoluções e às relações das coisas. A memória é um absoluto e
a história só conhece o relativo. (p.14)
 2º Capítulo
A MATERIALIDADE FÍSICA E JURÍDICA DA ESCOLA
NORMAL OFICIAL DE DORES DO INDAIÁ/ E.E.FRANCISCO
CAMPOS: O PRÉDIO, OS CURSOS, OS NOMES
A partir do álbum, a pesquisadora reconstruiu a história da Escola
Normal de Dores do Indaiá sob dois ângulos.
Um primeiro ângulo seria a dos textos oficiais que se inicia com a
história da criação da Escola, a partir dos movimentos organizados
pela sociedade civil dorense.
Um outro ângulo, seria a materialidade e visibilidade da Escola, o seu
espaço físico, arquitetônico.
 A criação
Para Fiúza (l988), a história da Escola começou com a “Campanha
para a instalação da Escola Normal”.
O Convite (assinado por 30 homens tendo à frente de seus nomes, suas
respectivas ocupações profissionais).
... “a culta população de Dores do Indayá ... sem distinção de classe
ou clero” é convidada a participar de uma reunião a ser realizada no
cinema Dorense, às 11 horas do dia 9 de outubro de 1927.
Nesta reunião, foram constituídas duas comissões: uma escolheu o
corpo docente, a outra foi a Belo Horizonte conversar com o secretário
Francisco Campos e o presidente Antônio Carlos.
 A construção do prédio
A construção do complexo escolar foi muito rápida, teve duração de 2
anos (1929-1930). No início do ano letivo de 1931 a escola se mudou
para o novo espaço.
A localização do prédio representou uma demarcação de dois poderes,
de um lado a igreja, de outro a Escola Normal e os profissionais
liberais (liderados por Francisco Campos, representante do governo
estadual).
A Escola Normal surge como um verdadeiro “palácio”, ao seu redor
não havia nenhuma outra construção.
Imponentemente, assumi minha personalidade quando concluíram
meu corpo em 1930, de imediato tomei posse do meu corpo (...)
Trecho de um texto assinado por Evanir Araújo de Souza,
prof. de Sociologia da educação.
 Os cursos e os nomes
A Escola Normal Oficial de Dores do Indaiá é criada na categoria de
“primeiro grau”. Nos dois anos que funcionou no prédio provisório da
praça do Rosário, a instituição ministrou o curso normal de 1º grau.
Em 18 de março de 1930, a Escola foi elevada à categoria de 2º grau,
porém somente no início de 1931, no prédio novo, que a formação, em
nível de 2º grau passa a ser oferecida.
Todas as alterações legais por que passa o curso de formação de
professores primários, no Estado de Minas Gerais e no país, terão seus
reflexos diretos na Escola Normal de Dores: nos cursos, nos
currículos, nas práticas de formação.
A primeira mudança no nome da Escola ocorre em 05/12/1953 com o
decreto nº 4.120: Escola Normal Oficial “Francisco Campos” –
homenagem ao patrono da Escola.
A Lei nº 3.285 de 14/12/1964, cria o Curso Secundário de 2º ciclo, a
Escola passa a se chamar: Colégio Normal Oficial “Francisco
Campos”.
A terceira mudança ocorre com a Portaria nº 435 de 28/12/1968, a
Escola passa a se chamar: “Colégio Estadual Francisco Campos. O
estabelecimento que ministrar cursos de segundo ciclo, será designado
inicialmente por Ginásio ou Colégio Estadual.
Nos anos 70, a Escola entrou na era das “escolas estaduais”. Pelo
decreto nº 16.244 de 08/05/1974, passou a chamar-se “Escola Estadual
Francisco Campos”, denominação que possui até hoje.
 As reformas do prédio
Criação do pensionato “São José” em 15/03/1936 nas Classes Anexas,
a iniciativa tinha por objetivos:
- favorecer alunas de outras localidades que pretendessem estudar em
Dores;
- aumentar a matrícula da escola, na época, era reduzida;
- reverter a renda do Pensionato em benefício da Santa Casa local,
então bastante carente de recursos financeiros.
A primeira reforma do prédio da Escola Normal de Dores do Indaiá
em 1962 , conforme Fiúza, teve “consequências catastróficas. Ou seja,
a reforma representou um ato pelo qual a Escola perdeu muito de sua
identidade física.
A segunda reforma ocorreu em 1980, vinte anos após a primeira. A cor
cinza anterior é substituída por uma tonalidade creme (ou palha) com
detalhes em branco nas paredes e a cor marrom-terra (cor de tijolo) nas
portas e janelas.
Fiúza omite opinião sobre esta segunda reforma, na verdade, ela não o
faz explicitamente mas deixa a sua marca num pensamento que
transcreveu de Sylvio de Vasconcelos. Na íntegra, está escrito:

Nada prova mais a inteligência do adulto, sua maturidade e ânsia de


progresso do que o respeito às próprias raízes e à tradição. Quanto mais
desenvolvida a cidade, mais culta, mais progressista, mais se apega às suas
origens e a seu caráter primitivo, matriz forjadora de seu porvir. Desmentir
o passado, envergonhar-se do caráter fundamental definidor de
personalidade, é a prova do ser imaturo. É falsa identidade, falsidade
intrínseca. Aventureirismo acobertado por falsos argumentos.
 3º Capítulo
AS PRÁTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE NA ESCOLA
NORMAL DE DORES DO INDAIÁ – 1933/1939
Neste capítulo a pesquisadora aborda as questões nucleares da
pesquisa, ou seja as formalidades referentes à produção do trabalho
científico.

O objeto e problemas orientadores desta pesquisa


O objeto que, na origem, norteou o trabalho da pesquisadora, foi o
estudo das instituições escolares responsáveis pela formação docente.
Diante da amplitude de alternativas que dispunha, ela fechou o foco no
estudo da Escola Normal e a formação das professoras primárias, nos
anos 30, em Minas Gerais.
“Esse é um dos momentos em que a orientação é fundamental”
Cleide Maria Maciel de Mello
 Os fundamentos teórico-metodológicos
A idéia de utilizar os fundamentos e referências da História Cultura
surgiu com início de um “namoro” com o autor Roger Chatier
(1987,1995 a 1996,1999,2001).
Chartier recomenda, acima de tudo, o critério da vigilância e a
“intenção de verdade”. Segundo ele, é tarefa do historiador “oferecer
um conhecimento apropriado, controlado” e essa “intenção de
verdade”, como critério fundador, impede a produção de falsificações.
Outro autor que norteou sua pesquisa foi Nóvoa (1996), em especial,
num texto que ele aborda os “novos sentidos” possíveis para “os
velhos problemas” da História da Educação. Segundo ele,

chegou o tempo de olhar para a internalidade do trabalho escolar...


O funcionamento interno das escolas, o desenvolvimento do currículo, a
construção do conhecimento escolar, as vidas e a experiência dos alunos e
dos professores: eis algumas problemáticas que precisam ser abordadas
através de novos instrumentos teóricos e metodológicos. (p.37)
 As práticas de formação docente na Escola Normal Oficial de
Dores do Indaiá- 1933/1939
A pesquisadora recorre ao álbum para uma compreensão sobre este
tema.
Maria da Conceição Fiúza introduziu este assunto em sua obra no
primeiro índice. O item que identifica as práticas, recebe a
denominação de “Instituições Escolares”.
Os primeiros questionamentos da pesquisadora surgem:
_ De onde Conceição Fiúza retira a expressão “instituições escolares”?
_ Por que escolhe esta categoria para classificar as atividades que
apresenta?
As respostas prováveis: _ A categoria “instituições escolares” é
retirada do Regulamento do Ensino Primário (Decreto nº 7.970-A de
15/10/1927)
1) Instituições escolares, socialização e práticas
Instituições escolares - No REP (Regulamento do Ensino Primário) as
“instituições escolares” eram “atividades escolares” que visavam a
socialização dos alunos, o desenvolvimento do espírito de cooperação, a
sua preparação para a vida em sociedade.
Socialização - Esta dimensão de “socialização da escola”aponta para o
“aspecto social da reforma”, que não só apenas se estrutura em
fundamentos psicopedagógicos, mas também, nas “necessidades sociais
de uma nova civilização”. A Escola assume um importante papel, torna-
se “uma sociedade em miniatura”.
Práticas - A pesquisadora usa esta expressão traduzindo a expressão
instituições escolares, que Maria da Conceição Fiúza,usava no álbum.
Para a sua época, não fazia sentido o uso da expressão práticas.

“Educar é socializar”
Reforma Francisco Campos - 1929/1930
No âmbito da formação profissional, nos REN (Regulamento da Escola
Normal) e REA (Regulamento da Escola de Aperfeiçoamento) a
Socialização é uma disciplina, seus conteúdos dizem respeito aos
fundamentos da educação, da escola e sua organização (conselho de
estudantes, elaboração de relatórios, publicações, palestras, excursões,
reuniões e outras).
Portanto, esta disciplina direcionava as atividades extra-escolares,
realizadas fora do espaço da sala de aula, e, até mesmo, fora do espaço
escolar, com a finalidade de realizar a socialização das alunas.
2) Escola Normal e práticas de formação

De início, uma pergunta: _ Qual(is) a(s) finalidade(s) da Escola


Normal instituída no final da primeira república?
Francisco Campos (REN) é bem explicito quanto a isso:
O ensino normal é, antes de tudo, um ensino profissionalizante(...)
(...) A Escola Normal instituída na reforma, deve ser um local de síntese do
pensamento moderno. O conhecimento a ser privilegiado na formação dos
professores, deve ser o conhecimento científico, tanto na manifestação
teórica quanto em sua dimensão técnica.
 As práticas de formação
O professor ocupa um lugar central no conjunto das reformas, não
apenas porque é ele quem irá concretizar as mudanças na educação das
crianças na escola primária, mas também, devido ao importante papel
social que passa a desempenhar na comunidade em que vive.
O REN cria, também, um segundo grupo de atividades, um total de
26. Os exercícios complementares, realizados pelos alunos tinham a
finalidade de ampliar o tempo destinado ao estudo das disciplinas e
alcançar o “espírito” da formação de professores, ou seja, desenvolver
o “gosto da iniciativa”.
As atividades previstas para alcançar esta finalidade visavam a
aprendizagem de uma técnica de ensino, a um “como fazer” apoiado
numa “rigorosa orientação científica”
Nesta perspectiva, tais práticas podem revelar o momento do país,
marcado pela ditadura Vargas. As preocupações com a construção de
uma nova nação rica, forte e disciplinada conferem à escola, papel de
destaque neste período.
Assim sendo as práticas citadas por Fiúza enfatizam o comportamento
moral, que se espera da professora, revelam a atenção aos aspectos
relacionados à feminilidade, à aquisição de uma boa saúde, sem
desprezar o culto à nação.
Consideradas em seu conjunto, revelam a preocupação de que o
magistério, enquanto profissão, atinja a mulher em sua totalidade.
9. Considerações finais

Neste exercício final de síntese quatro aspectos se destacam:

 O estudo das instituições escolares e sua relação com o nível


meso de abordagem
O cruzamento dos estudos realizados nessas duas dimensões: A
busca de informações, tanto no conjunto das reformas educacionais
que ocorreram em Minas Gerais durante a gestão de Francisco
Campos, quanto as reformas ocorridas no plano nacional e o
conhecimento das práticas realizadas dentro da escola, poderão
apontar os acertos e os erros das nossas reformas educacionais e
contribuir para orientar novos direcionamentos.
 A importância da prática da pesquisa enquanto instância de
significação da teoria.
Toda o trabalho de levantamento dos dados e informações, o manuseio
dos documentos, o contato direto com as fontes, os registros, a escrita
das análises, vão mostrando as possibilidades e limites da teoria.

 A resposta às questões propostas e a sua relação com o objeto de


pesquisa construído.
Após todo trabalho de análise da organização do álbum sobre a Escola
em que Maria da Conceição Fiúza estudou e das práticas de formação
selecionadas para integrar esse mesmo álbum, é possível colocar uma
pergunta fundamental: — Que sentido teve, para ela, a Escola Normal
e a formação docente?
 As contribuições que, porventura este trabalho possa produzir.
A história cultural não pretende fazer aplicações práticas de seus
resultados. Entretanto, o conhecimento advindo da investigação
histórica aponta, por si mesmo, para algumas projeções:
- A necessidade de aprofundar/ampliar o estudo das práticas de
formação docente.
- A necessidade de aprofundar/ampliar os estudos sobre a questão da
socialização na escola Normal e suas práticas.
- A necessidade de um estudo comparativo sobre o tema da formação
docente.
- As possibilidades para o estudo/descoberta/constituição de novas
fontes ou novos objetos para o estudo da História da Educação que a
análise das instituições escolares possibilita.
10. Anexos

 Anexo 1:
Fotografias:
Contém 18 fotos divididas em:
1 – A ex-aluna Maria da Conceição Fiúza
2 – A Escola Normal Oficial de Dores do Indaiá / Escola Estadual
Francisco Campos
3 - O álbum da Escola Estadual Francisco Campos
Foto 1 – Maria da Conceição Fiúza

Foto 7 – Planta da Escola


Foto 3 – A Escola em 1931

Foto 8 – A Escola em 2001


Foto 5 – O Jardim da Escola Foto 6 - Escombros do Pensionato
Foto 10 – O álbum da E.E. Francisco Campos Foto 13 – o Equipamento da Escola Normal
Foto 17 – Os Jornais
Foto 14 – Os símbolos da Escola

Foto 15 – A turma do barulho


 Anexo 2 - Aproveitamento da aluna Maria da Conceição Fiúza, na
Escola Normal Oficial de Dores do Indaiá, no período de 1933 – 1939
 Anexo 3 - Os índices do Álbum da E.E. Francisco Campos: Índice 1 (à
esquerda da página), índice 2 (à direita da página).
 Anexo 4 - Alguns casos relatados no álbum – “Uma portuguesinha
improvisada”, “Essa não!”, “Mais Amor, Menos Confiança.”
 Anexo 5 - Matrículas no curso de aplicação da Escola Normal oficial
de Dores do Indaiá, no período de 1930 - 1946
 Anexo 6
INSTITUIÇÕES ESCOLARES: EXCURSÕES
- Instituições escolares EXPOSIÇÕES: de
- Atividades Escolares desenho,Trabalhos Manuais,
- Auditórios Geografia e outros
- Conferências Semanais - Festas
CLUBE DE LEITURA - Grêmios
- Conselho de Estudantes
- Jornais
- Clube Histórico Geográfico “Pedro
II” - Missas
- Campanha da Boa Linguagem - Monografias
- Diário de Classe - Palestras
- Corais - Recreio
- Choro Escocês
- Desfiles Escolares
 Anexo 7 - Relação entre as instituições/atividades escolares citadas no
álbum da E.E. Francisco Campos/Escola Normal Oficial de Dores do
Indaiá e suas respectivas fontes – 1928/1988.
 Anexo 8 - Relação entre as atividades escolares acolhidas no álbum
referente à Escola Normal Oficial de Dores do Indaiá e as ordens de
práticas de formação docente instituídas no Regulamento do ensino
Normal, no período de 1933/1939.
 Anexo 9 - Edital e aviso sobre o caderno de preparação de lições

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