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O CORPO DO SUJEITO JUREMEIRO:

ENTRE A VULNERABILIDADE E A
POTÊNCIA POLÍTICA

II Encontro Internacional de Estudos


Foucaultianos

Camilo de Lélis Diniz de Farias


INTRODUÇÃO:
• Panorama geral do trabalho
• Jurema Sagrada: complexo místico e semiótico
• Dificuldades no uso de autores europeus na
perspectiva decolonial -> a desagragação do
grupo latino de estudos subalternos e a
posição de Ramon Grosfoguel. Entretanto...
• Possibilidades de contribuição da perspectiva
foucaultiana ao estudo político da Jurema
Sagrada.
• Apesar de terem tentado produzir um conhecimento alternativo e
radical, eles reproduziram o esquema epistémico dos Estudos
Regionais nos Estados Unidos. Salvo raras excepções, optaram por
fazer estudos sobre a perspectiva subalterna, em vez de os produzir
com essa perspectiva e a partir dela. À semelhança da imperial
epistemologia dos Estudos Regionais, a teoria permaneceu sediada
no Norte, enquanto os sujeitos a estudar se encontram no Sul (...)
Os seus membros subestimaram, na sua obra, as perspectivas
étnico-raciais oriundas da região, dando preferência sobretudo a
pensadores ocidentais. Isto está relacionado com o segundo
aspecto que queria salientar: os latino-americanistas deram
preferência epistemológica ao que chamaram “os quatro cavaleiros
do Apocalipse” (Mallon, 1994; Rodriguez, 2001), ou seja, a Foucault,
Derrida, Gramsci e Guha. Entre estes quatro, contam-se três
pensadores eurocêntricos, fazendo dois deles (Derrida e Foucault)
parte do cânone pós-estruturalista/pós-moderno ocidental. Apenas
um, Rinajit Guha, é um pensador que pensa a partir do Sul. Ao
preferirem pensadores ocidentais como principal instrumento
teórico, traíram o seu objectivo de produzir estudos subalternos.
A TRAJETÓRIA POLÍTICA DA JUREMA
SAGRADA: A AÇÃO DOS DISCURSOS
• Uma primeira contribuição foucaultiana para a
perspectiva subalterna é a noção de que a
própria verdade é um constructo vinculado às
relações de poder: “Cada sociedade tem seu
regime de verdade”.
• O entendimento da ego/geo/corpo-política da
produção dos saberes é uma radicalização da
perspectiva da impossibilidade de neutralidade
weberiana, e constitui, certamente, o ponto de
partida para as críticas subalternas.
• A ação dos discursos:
– Religiosos -> Inquisição
– Jurídicos -> Crimes de baixo espiritismo,
curandeirismo e contravenções penais
• A biopolítica na Jurema...
– Século XIX e a estatização do biológico (inserção da
zoé na pólis)
– Substituição do paradigma do “deixar viver e fazer
morrer” (poder soberano) pelo “fazer viver e deixar
morrer” (biopolítica) -> da negação à incitação
– Racionalização
– Técnica de poder centrada no corpo e em sua
docilização
– Usos coloniais (FANON)
• Gobineau e o racismo científico no Brasil: o
problema da miscigenação
• A pureza nagô, o gênero e a mestiçagem: uma
forma de incitação? cf. Ruth Landes
• A posição do Catimbó neste processo:
– Culto miscigenado
– Referências à cura e à morte: um “fazer morrer e
deixar viver”?
– O papel dos intelectuais e da imprensa paraibana:
Nina Rodrigues, Abelardo Jurema, Humberto
Campos, Pedro Baptista
• Pedro Baptista: “é notável nestes dois vocabulários, a
impermeabilidade com que se apresentam e se
manteem indemes da mescla ameríndia ou
portuguêsa, depois de grande distância do seu
afastamento da Costa dos Escravos”. (Jornal A União,
30 out. 1937)
• Abelardo Jurema: “Nenhuma acção violenta poderá
acabar com os cultos neggro-fetichista, pois não se
poderá apagar facilmente a lembrança da terra e da
religião dos antepassados, e é justamente no Xangô,
que os negros se voltam para o continente longínquo,
enviando preces aos deuses e se ligando
mediunicamente com os seus irmãos do outro lado do
Atlântico (...) No Recife, a polícia não se preocupa mais
com os Xangôs, pois funcionam amparados e
fiscalizados sob o ponto de vista da hygiene mental” .
(A União, 14 nov. 1937).
• O papel do SHM -> “combate a formas religiosas
que implicavam em degeneração social e
desordem social”. (Rodrigues, 2014).
• Prevalência da biopolítica após a “legalização” em
1966.
• Para Lynn Hunt, o discurso biopolítico constituiu-
se como uma resposta reacionária à noção de
universalidade de direitos humanos, cada vez
mais cristalizada, sobretudo após a revolução
francesa. O empreendimento de essencializar
biologicamente a subalternidade de certos
sujeitos era o contraponto à ideia de que todos,
enquanto pertencentes ao gênero humano,
seriam sujeitos de direito.
ENTRE A VULNERABILIDAD E A
POTÊNCIA POLÍTICA
• Em sendo a verdade uma construção política, não
poderia a afirmação da identidade constituir-se
como trincheira de resistência e reconstrução
destas verdades?
• Em Walter Benjamin se encontra uma proposta
de inversão da análise histórica: do ponto de vista
dos oprimidos, o fascismo (negação de direitos)
não é uma exceção ou uma rasura na marcha da
história, analisada sob a perspectiva do
progresso, mas sim a regra geral, sobre a qual
cabe a construção de um novo conceito de
história
• Foucault sobre os novos movimentos sociais:
“As mulheres, os prisioneiros, os soldados, os doentes nos hospitais, os
homossexuais iniciaram uma luta específica contra a forma particular de poder, de
coerção, de controle que se exerce sobre eles. Estas lutas fazem parte atualmente
do movimento revolucionário, com a condição de que sejam radicais, sem
compromisso nem reformismo, sem tentativa de reorganizar o mesmo poder
apenas com uma mudança de titular. E, na medida em que devem combater
todos os controles e coerções que reproduzem o mesmo poder em todos os
lugares, esses movimentos estão ligados ao movimento revolucionário do
proletariado. “
• Conexão com a proposta da racionalidade de resistência
(Herrera Flores) e da hiperpotentia do bloco social dos
oprimidos (Dussel).
• Devemos não somente nos defender, mas também nos
afirmar, e nos afirmar não somente enquanto identidades,
mas enquanto força criativa.
POSSÍVEIS CONCLUSÕES: NÃO TENHO
PROVAS, MAS TENHO CONVICCÇÃO...
Análise da
biopolítica
enquanto
discurso
Crítica à corpo- marginalizador Identidade e
política do corpo como
conhecimento vetores de
resistência

Percepção da Contribuições
verdade foucaultianas Conexões com as
enquanto aos estudos perspectivas
construção sobre a Jurema subalternas e
política Sagrada decoloniais

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