Por que trabalhar a voz cantada na educação musical escolar? • A voz é o primeiro instrumento de música, colocada pela natureza à disposição do ser humano para que esta possa exercitá-lo e desenvolvê-lo de modo a transformá-lo em um meio de expressão de seus sentimentos e emoções. • A imensa maioria das crianças nasce com uma disposição natural para o canto e a música, e que essa disposição pode aumentar, decrescer ou desaparecer, conforme as oportunidades que se lhes oferecem. Objetivos do canto coletivo: • Cultivar a voz desde a infância, a fim de que a criança aprenda a servir-se da voz falada e cantada. • Manter são e eficiente o órgão que a criança utilizará não só para “cantar bem”, mas também para se comunicar com os outros. • Cultivar a sensibilidade, usando como instrumentos o sentido auditivo e a voz. • O canto em grupo é a ocasião para a criança buscar “como expressar” e a partir daí “como se expressar”. E é no domínio da interpretação que a criança pode criar. • O canto coletivo adquire um enorme valor psicossocial, uma vez que auxilia a criança insegura a expressar-se sem temor, ensina-a a esperar e aguardar sua vez de participar, além de desenvolver-lhe a consciência da própria responsabilidade, levando-a cumprir sua tarefa, certa de que ela é tão importante quanto a dos demais. Desenvolvimento vocal infantil
• “O trabalho vocal deve ser iniciado no jardim da infância e
ter como objetivo principal elevar gradativamente a tessitura da voz infantil até que esta atinja o seu nível natural.” (BUSTARRET, 1975 apud MÁRSICO, 1979) • “Os primeiros exercícios com a criança pequena não deveriam ultrapassar os limites da quinta”, e com o trabalho vai se estendendo em direção ao agudo podendo atingir até o sol4. (CHEVAIS, 1937 apud MÁRSICO, 1979) • Entre os 5 e 7 anos, a tessitura normal se situa ao redor de uma sexta (dó3 a lá3) e amplia-se para o agudo até atingir uma oitava (dó4) e desce até o si e lá graves. (GAINZA, 1964 apud MÁRSICO, 1979) A EXTENSÃO VOCAL DA CRIANÇA • A criança tem a voz naturalmente aguda, porém: • “Em virtude dos ruídos ensurdecedores do meio ambiente, se pode comprovar que as crianças das grandes cidades revelam o abaixamento de uma 3ªm em seu registro, tanto para a voz falada como para a cantada.” (NITSCHE, 1967 apud MÁRSICO, 1979) • As crianças “chegam ao jardim da infância cantando em tessitura grave. Pela influência do ambiente e da educação recebida no lar, a criança tende a imitar a maneira de cantar de seus pais, ou de cantores de rádio, TV, etc. Assim sendo, se nesses indivíduos predomina o timbre escuro e a tessitura grave, a voz infantil se moldará dentro dessas características.” (GAINZA, 1964 apud MÁRSICO, 1979) • As emissoras de rádio e de TV divulgam canções que não correspondem às inclinações infantis, contêm texto pouco ou nada apropriado à idade e tessitura inadequada às possibilidades vocais da criança. (MÁRSICO, 1979) A EXTENSÃO POR IDADE OS REGISTROS DA VOZ INFANTIL
VOZ DE PEITO: sons graves. A ressonância e predominante na caixa
torácica. A voz tem um som forte, espesso, denso e seco.
VOZ MÉDIA (MISTA): Usa-se todas as cavidades de ressonância e mistura
os registros de peito e cabeça. É o melhor registro para se cantar, pois deixa o timbre homogêneo.
VOZ DE CABEÇA: sons agudos. A ressonância é predominante no crânio,
boca e fossas nasais. A voz tem um som claro e delgado. DICAS PARA RESGATAR A VOZ INFANTIL NATURAL • No trabalho vocal, o importante é exercitar a “voz média”, buscando igualar os registros. Por esse motivo, o professor deve evitar cantar músicas na região grave, porque a criança empregará aí, inevitavelmente, a “voz de peito” e terá dificuldade depois para efetuar a mudança para o registro médio e agudo. • NITSCHE, 1967 apud MÁRSICO, 1979 sugere que se inicie o trabalho vocal do sol3, e que as notas mais graves apareçam apenas de passagem nas canções. • Transpor as músicas para tessitura da voz média. • Sempre cantar com voz suave, porém, cantar suave não significa cantar sem sonoridade. • Fazer exercícios que trabalham voz média e de cabeça. CLASSIFICAÇÃO VOCAL • Até mais ou menos 11 anos de idade, se verifica pouca diferença entre o aparelho vocal do menino e da menina, sendo a extensão da voz cantada igual para ambos os sexos. Por isso, as vozes infantis devem ser tratadas identicamente nessa etapa. (REAM, 1957 apud MÁRSICO, 1979) • Classifica-se as vozes infantis em vozes claras e vozes escuras, ou talvez, pela cor da voz se direcione à classificação em soprano e contralto. • Somente a continuação do trabalho da voz permite confirmar ou não a classificação inicial. TÉCNICA VOCAL INFANTIL Para NITSCHE, 1967 apud MÁRSICO, 1979, a técnica deve ser aplicada sob os princípios: • Natureza lúdica. • Ordem dentro da espontaneidade. • Relaxamento. • Respiração. (inspiração, expiração, diafragma e apoio) • Articulação e dicção. • Ressonância. O ENSINO DA CANÇÃO • Ao ouvido cabe perceber e à voz, reproduzir. É o ouvido, portanto, que orienta a voz na sua emissão. Sem dúvida, os dois órgãos, receptor e fonador, mantém estreita relação fisiológica, embora o ouvido desempenhe o papel principal. “O ouvido percebe o som a ser produzido, comanda o ato vocal e exerce controle sobre o mesmo.” (CHEVAIS, 1937 apud MÁRSICO, 1979) • Portanto, o ensino da melodia se divide em dois aspectos: auditivo e vocal. O ENSINO DA CANÇÃO II • Método sintético: baseado na imitação e apoiado na memória. – Apreciação da obra. – LETRA, frase por frase. – LETRA e RITMO, frase por frase e por partes. – LETRA, RITMO e MELODIA, frase por frase e por partes. A PERCEPÇÃO AUDITIVA • É o aspecto mais importante para a afinação no canto. • Deve ser um trabalho progressivo e constante, sobretudo no aspecto melódico e sempre de forma intuitiva: – Grave e agudo – extremos. – Sons ascendentes e descendentes. – As notas musicais e a escala. – Os diferentes intervalos. ESCOLHA DO REPERTÓRIO • Tessitura confortável de acordo com cada idade. • Extensão das frases. • Texto de fácil assimilação e memorização para cada idade. • Variedade de estilos. • Interessante ao aluno. • Dificuldade melódica. A IMPORTÂNCIA DO MODELO • O período da imitação vocal compreende as primeiras tentativas de reprodução de sons e de frases melódicas. A precocidade dos resultados, nesse período, parece estar condicionada à colaboração do meio familiar, e a qualidade dos resultados dependerá da qualidade dos modelos. Por outro lado, a voz encontra-se na dependência do ouvido, daí a necessidade de bons exemplos vocais. (MÁRSICO, 1979) • Em toda atividade vocal, compete geralmente ao professor fornecer o exemplo, o modelo de uma emissão natural e afinada. Por isso, é indispensável que possua uma voz de timbre agradável, de afinação segura e, na medida do possível, situada num registro que se preste a ser imitado pelas crianças. (MÁRSICO, 1979) PAM (para cantar) • Da maré – graus conjuntos, extensão 5ª, frases curtas. • Asa branca – saltos de 3ª e 4ª, extensão 5ª, frases curtas. • Canto do povo de um lugar – saltos de 3ª, extensão de 7ª, frases longas (intervalo pequeno de respiração) • Sambalelê – saltos de 3ª em arpejos, extensão de 6ª, frases curtas. • Ciranda da bailarina – saltos de 3ª e 4º, extensão de 6ª, frases curtas, muita letra e palavras desconhecidas. • Mulher rendeira – saltos de 3ª em arpejos e 4ª, extensão de 7ª, frases curtas. • Minha canção – graus conjuntos, extensão de 8ª, frases curtas. • Lugar Comum – saltos de 3ª e 8ª, extensão de 8ª, frases curtas, pouca letra. • Ponta de areia – saltos de 3ª em arpejos e 4ª, extensão de 8ª, frases curtas. • Negro gato – saltos de 3ª, 4ª e 5ª (dim, portanto, um intervalo de execução mais difícil), extensão de 8ª, frases curtas. • Canção da partida – saltos de 3ª, 5ª e 8ª, extensão de 8ª, frases curtas e pouca letra. BIBLIOGRAFIA: MÁRSICO, Leda Osório. A voz infantil e o desenvolvimento músico-vocal. Porto Alegre: Est, 1979.