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O DESAFIO DAS ARTES DE VIVER À INSTITUIÇÃO ESCOLAR: A

INTERPELAÇÃO DOS ESTÓICOS NO PENSAMENTO DE FOUCAULT.


Jonas Rangel de Almeida. Mestrado em Educação PPG - FFC/ UNESP -Marília
Orientador: Dr. Pedro Ângelo Pagni. EMAIL: jradavisao@yahoo.com.brr

INTRODUÇÃO. RESULTADOS.
Segundo Vilela (2010) a primeira vez que a expressão arte de viver aparece no
Este trabalho apresenta resultados parciais de pesquisa
pensamento de Foucault é no prefacio, Anti-Édipo: Introdução à vida não fascista
empreendidos no campo da Filosofia da Educação. O
(1977). O impacto do Anti-Édipo sobre Foucault o faz entender que seu sentido estaria
objetivo é discutir quais os desafios que a arte de viver dos
para além de uma nova referencia teórica, o ser Anti-Édipo havia se tornado uma arte
antigos traz à instituição escolar. Segundo Foucault a
de viver, um estilo de vida, uma maneira de pensar e viver de modo não-fascista. A
instituição escolar se constitui em um bloco de
interpelação da arte de viver aqui nos convida a viver a vida de um modo não fascista
capacidade-comunicação-poder assegurando o
não amando o poder que nos explora, mas, clarificando a emergência de novas formas
aprendizado de aptidões e habilidades mediatizada por
de vida que favoreçam a diferença. Subjetividades que estejam assentadas num ethos
formas de comunicação que configuram condições
atento aos acontecimentos que sejam capazes de gerar novos estilos de existência.
necessárias para o exercício das relações de poder na
Com efeito, procurando os elementos daquilo que Vilela (2010) denominou de
produção dos sujeitos morais. Tal relação educativa está
aparecimento de uma política de problematização da subjetividade o que se segue tem
sujeita a um regime que delimita as regras do falso e do
como objetivo discutir as dimensões éticas dessa arte de viver, mostrando como a
verdadeiro no qual o acesso à verdade por parte do sujeito
interpelação dos antigos estóicos pode contribuir para elucidar a desvalorização do
ocorre por meio da aquisição da lei, adaptação à norma e
sujeito ético no pensamento contemporâneo, em especial, a relação entre o sujeito e o
internalização do código moral produzindo uma relação
acesso à verdade. Para realizar essa tarefa tomamos traçaremos um panorama do
que esvazia os sujeitos escolares de qualquer prática
problema que envolve o cuidado de si, o conhecimento de si e a cultura de si utilizando
refletida de liberdade e de um trabalho de si sobre si
um recorte dos exercícios espirituais (HADOT, 2004) nos estóicos procurando
mesmo. Desse modo, o estudo da história das práticas de
compreender como se dá o esvaziamento das práticas de si pela subjetividade
si na antiguidade, particularmente dos sábios estóicos traz
moderna. Segundo Gros (2006), ao voltar-se para a antiguidade grega e romana,
uma interpelação importante para os educadores no tempo
Foucault deixa aparecer outra figura do sujeito, não mais constituído – objetivado pelos
presente: preparar-se por meio dos exercícios para criar
dispositivos de saber/poder –, mas, constituindo-se através das práticas regradas de si
um ethos de atenção aos acontecimentos que se
mesmo. É um sujeito ético. De acordo com Gros (2006, p. 634) a estrutura de oposição
produzirão em nossa existência.
entre o sujeito antigo e o sujeito moderno é uma relação inversa de subordinação entre
cuidado de si e conhecimento de si. Pode-se dizer que para o sujeito moderno o acesso
MATERIAS E METODOS. a uma verdade não depende do efeito de um trabalho interior de ordem ética, seja
ascese, a purificação, ou, as praticas de si, pois, o que o delimita e assujeita sua
Adota-se como estratégia metodológica os pressupostos da ontologia do presente subjetividade são dispositivos de obediência, objetivação cientifica de caráter normativo
pensados por Foucault. Esta modalidade prática de pesquisa filosófica consiste, de e biopolítico. Já, o modo do sujeito ter acesso à verdade na Antiguidade implicava um
um lado, em uma genealogia dos processos de subjetivação, uma atitude de movimento de conversão que exigia do seu ser uma modificação ética. Portanto, as
compreensão conceitual do pensamento dos filósofos escolhidos e, de outro, na últimas problematizações de Foucault se separavam nitidamente do então formulado
interpelação dos problemas específicos que se deseja responder. Para realizar tal projeto dos anos setenta, da história da produção das subjetividades assujeitadas, dos
tarefa será utilizado o Vocabulário Michel Foucault do estudioso argentino Edgardo procedimentos de sujeição pelas máquinas do poder, pois, nesse ultimo esforço
Castro (2009) e parte dos textos da coleção Ditos e Escritos, organizado por analítico se trata de determinar o modo de subjetivação ao invés da de definir seu modo
Manuel Barros da Motta. Os critérios de recorte e escolha dos materiais seguem a de objetivação. Lamentavelmente, ocorre que para Foucault (2004, p. 279) a questão
necessidade de responder aos objetivos mencionados abaixo. No presente do sujeito ético não tem muito espaço no pensamento político contemporâneo.
trabalho apresentamos resultados concernentes a leitura critica dos últimos cursos, Segundo o filosofo francês o sujeito antigo é um sujeito ético, constituído a partir dos
livros e entrevistas de Foucault. Acrescenta-se a análise alguns autores e processos de subjetivação cujo eixo era os exercícios espirituais. O acesso à verdade
comentadores que nos permitem pensar de forma mais precisa as noções para o sujeito no pensamento helenístico e romano é indissociável da prática de si.
estudadas, como também, elucidar as relações entre estas e a Educação. Podemos notar essa característica esboçada claramente na formulação dos estóicos
sobre a askésis e da paraskeué. Trata-se da constituição da armadura que prepara o
sujeito para os revezes da vida.

OBJETIVOS:
Objetivo Geral: analisar qual o papel político assumido pelo educador no desenvolvimento REFERÊNCIAS:
da agência docente à luz da problematização do intelectual específico no pensamento de CANDIOTTO, Cesar. Subjetividade e verdade no último Foucault. Trans/Form/Ação, Marília, v. 31, n. 1, 2008
.
Foucault. COSTA, J.F. O sujeito em Foucault: estética da existência ou experimento moral? Tempo Social; Rev. Sociol.
Objetivos específicos: USP, S. Paulo, 7(1-2): 121-138, outubro de 1995.
DELEUZE, G. A vida como obra de arte. In: Conversações, 1972-1990. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
Compreender desafios que envolvem o educador no mundo atual sob a perspectiva dos DELEUZE, G. Post-Scriptum sobre as sociedades de controle. In: Conversações, 1972-1990. Rio de Janeiro:
embates atuais, da noção de governo dos homens e da ética do cuidado de si, examinando Editora 34, 1992.
se a resistência pode ser pensada como uma atitude ética capaz de promover em sua práxis ERIBON, D. Reflexões sobre a questão gay. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2008.
FOUCAULT, M. A ética do cuidado de si como prática da liberdade. In: Ditos & Escritos V - Ética, Sexualidade,
uma atenção ao acontecimento que concorra para uma tomada de atitude ética diante da Política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
vida; FOUCAULT, M. A hermenêutica do sujeito. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
(orgs.) Figuras de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2006, p. 127-138.
Entender os processos que inscreve o educador nas lutas na sociedade contemporânea sob FOUCAULT, M. O que é a Critica? In: BIROLI, F., ALVAREZ, M.C. Michel Foucault: Historias e destino de um
a ótica da analítica do poder, mostrando de que modo como intelectual esse poderá resistir pensamento. Marilia, UNESP- Marilia- Publicações, 2000.
FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, H. & RABINOW, P. Michel Foucault, uma trajetória filosófica:
aos estados de dominação a partir da sua ocupação específica; para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.
Discutir quais as dimensões éticas da agência docente a partir do projeto de uma história FREITAS, A. S. A parresía pedagógica de Foucault e o êthos da educação como psicagogia. Revista Brasileira
de Educação [en línea], 2013, 18.
critica das práticas de subjetivação remetendo-a ao trabalho de problematização de si, de GROS, Frédéric. Situação do curso. In: FOUCAULT, M. A hermenêutica do sujeito. 2 ed. São Paulo: Martins
ontologia do presente; Fontes, 2006, 613-661.
HABERMAS, J. O Discurso Filosófico da Modernidade: doze lições. 1ª ed. São Paulo: Ed. Martins Fontes,
Mostrar as possíveis implicações dessa política de problematização da subjetividade para a 2000.
prática de pesquisa e ensino na agência docente; HADOT, P. O que é a filosofia antiga. 2 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
Analisar as relações entre o regime político de verdade e a agência docente, procurando LAZZARATO, M. Políticas del acontecimento. Buenos Aires: Tinta Limón, 2006.
PAGNI, P. Entre la formacíon escolar y la educacíon a lo largo de la vida: los modos del cuidado ético y del
encontrar possíveis formas de resistência por parte dos educadores, que sejam geradoras de pensar la diferencia en la experiência educativa. Bordón: Revista de la Sociedad Española de Pedagogía,
novas formas de subjetivação e estilos de existência; Madrid, v62, n.3, 2010.
PORTOCARRERO, Vera. Instituição escolar e normalização em Foucault e Canguilhem. Educação &
Verificar quais as possibilidades do educador agir como um intelectual que resiste as formas Realidade, v.29, n.1, 2004, p.169-185.
de subjetivação existentes, que cria novos modos de vida . Intelectuais e educadores que VILELA, M. E. Silêncios tangíveis: Corpo, resistência e testemunho nos espaços contemporâneos de
abandono. Porto: Edições Afrontamento, 2010.
preparem as novas gerações para acontecimentos e que eduquem para novos modos de vida
por meio do cuidado ético de si mesmos. Investigar se ele pode transformar a si mesmo
nessa prática e experimenta-la como uma nova ética das formas de vida.

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