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O texto de Bataille cobre o erotismo de uma sombra funesta, são as lágrimas de eros. A
melancolia da guerra e a tomada de consciência da morte como horror contaminam o sexo.
Todos são culpados e a transgressão sexual é a prova que os condena. O erótico e o obsceno,
indissociáveis para Bataille, levam o homem a uma forma extrema de conhecimento - a
consciência do “que acontece e do que é” em toda sua violência. Um estado ao mesmo tempo
nauseante e exaltado. O gozo erótico, irmão siamês da morte, deixa que o homem experimente
a um só tempo o excesso do amor e o horror do desregramento. O gozo toma a forma agônica
da escatologia e a porra se mistura às fezes e ao mijo, a todos os cheiros nauseabundos, à lama,
à podridão, às víceras. O gozo não tem prazer, só crispação dos sentidos.
História do Olho é um dos mais belos e mais tristes textos pornográficos. Uma
litania satânica, entoada por dois jovens: o narrador e Simone e triangulada, ora por
Marcela, ora por Sir Edmond, ora por infelizes como o padre Don Aminando ou o
toureiro que cruzam seu caminho. Uma busca exasperada e exasperante de
transgredir todos os limites e de ir além do crime. Busca de uma resposta que se
desloca metonímicamente pelos elementos perfeitos o ovo, o olho e os ovos (os
testículos), mas que apenas faz aumentar a angústia infernal que os consome e os
condena ao vazio: “O final desta história mostrará que essa interrogação não
ficaria sem resposta, e que a resposta tinha a medida do vazio cavado em nós pelas
brincadeiras com os ovos”
Assim posto, para Bataille só há um sentido para que se escreva e esse sentido é o obsceno, “sua
tristeza zomba de tudo”, mergulhado na mais profunda onda de melancolia o leitor o acompanha...e treme.