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LUCAS PITER ALVES COSTA

lucas.alves@ufv.br
johannlufter@yahoo.com.br

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Em 2007, os
quadrinistas Fábio
Moon e Gabriel Bá
publicaram uma
tradução
intersemiótica do
consagrado conto O
Alienista, de Machado
de Assis. Trata-se de
uma graphic novel –
uma obra autoral de
quadrinhos.
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Falar da inscrição da obra é
falar da inscrição dos
autores.

Inscrever-se, conforme
Maingueneau (2006), é
marcar sua existência
numa dada rede discursiva.

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Por se tratar de uma
graphic novel, a figura
e categoria de autor
tem um papel
proeminente. (v.
FOUCAULT, 1992).

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Nossa abordagem desse percurso que autor(es) e obra
estabelecem se divide em três tópicos:

Identidade
(Quem fala para quem?)
SUJEITOS

OBRA

SOCIEDADE DISCURSO
(Onde fala?) (Como fala?)
Circunstâncias Meios
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Sociedade (Onde fala?)

A emergência de uma Obra se dá em uma instituição


discursiva relativamente autônoma que dita os modos
de agir.
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Sociedade (Onde fala?)

Estando ancorados e situados


ao domínio de práticas
quadrinísticas, Fábio Moon e
Gabriel Bá só poderiam se
inscrever no discurso se
participassem dessas práticas.
Eles não poderiam ter uma
pretensão literária, e isso
parece ficar claro em uma das
falas de uma entrevista sobre
O Alienista:
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Sociedade (Onde fala?)
“A adaptação precisa ter cara
de obra, de produto final, e
não de subproduto. [Ela]
deve sobreviver sozinha
enquanto [...] História em
Quadrinhos. [...] A adaptação
deve ser uma obra em si que
dispensa o conhecimento da
obra original.” (MOON, 2010
apud COSTA; LOPES, 2010, p.
127).

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Vislumbrando a obra na sociedade quadrinística,
dizemos que:

Ela se associa a um conjunto de outros textos


quadrinísticos com estatuto de graphic novel, tais como
as obras de Will Eisner e Alan Moore;
Ela se enquadra em um conjunto maior de obras de
quadrinhos e, portanto, de autores, estabelecendo
uma relação de comparação e de concorrência;
Ela difere das outras adaptações de obras literárias
por ser vendida em livrarias e não estar ligada a uma
editora tradicionalmente quadrinística.

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Sujeitos (Quem fala para quem?)

As práticas
sociodiscursivas
características de uma
instituição engendram
sujeitos que
igualmente reforçam e
gerem essas práticas.

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Sujeitos (Quem fala para quem?)

Em outras palavras, Moon


e Bá se assumem como
quadrinistas ao aderirem
ao campo quadrinístico,
estabelecendo o lugar em
que diferentes
enunciadores se colocam
constantemente em
negociação de uma
posição.

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Em relação aos sujeitos, podemos dizer que:

Os autores são reconhecidos internacionalmente e


legitimados com prêmios por diversas obras de
quadrinhos – inclusive um prêmio até então destinado a
obras literárias: o Jabuti 2008;
Os autores pretendem falar como quadrinistas, dessa
forma, instituindo o leitor como leitor de quadrinhos. São
as características identitárias dos sujeitos;
Os autores precisam lidar com a distância do
interlocutor no tempo e no espaço;
Os autores dividem o mesmo enunciado;
Estabelecem uma relação de poder com as obras
literárias.
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Discurso (Como fala?)

Cada discurso assume uma


forma que o especifica e o
restringe.

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Discurso (Como fala?)

“Todas as mudanças na adaptação levaram em conta a


diferença de ritmo de leitura de uma prosa e de uma
História em Quadrinhos.” (MOON, 2009 apud COSTA; LOPES,
2009, p. 129).
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No nível textual, podemos delimitar resumidamente
algumas restrições que caracterizam a graphic novel
em questão dentro do panorama dos quadrinhos:

A obra em questão teve um limite de páginas


imposto pela editora (o que poderia também
caracterizar uma restrição situacional ou discursiva);
Tem formato maior que os quadrinhos de editora,
bem como papel e encadernação diferenciados;
Linguagem multimodal, que atende às necessidades
narrativas de uma HQ, ao mesmo tempo em que
delimita o modus operandi do quadrinista.

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Em resumo...

O texto como materialização de um discurso sofre


restrições formais (modos de escrever) que estão
atreladas às restrições discursivas (modos de agir), que,
por sua vez, se relacionam às restrições situacionais
(modos de ser). (CHARAUDEAU, 2004).

A inscrição de uma “adaptação” literária como obra


quadrinística passa por esses três tipos de restrições.
Por esse viés, é possível falar que Fábio Moon e Gabriel
Bá são autores d’O Alienista.

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Referências:
 CHARAUDEAU, P. Visadas discursivas, gêneros situacionais e construção
textual. In: MACHADO, I. L.; MELLO, R. (Orgs). Gêneros: reflexões em
análise do discurso. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2004, p. 13-41.
 COSTA, L. P. A.; LOPES, E. C. Sob os quadros da Casa Verde: uma entrevista
com Fábio Moon. Opiniães: Revista dos alunos de Literatura Brasileira. São
Paulo. Vol.1, n.1, p.125-133, março 2010.
 FOUCAULT, M. O que é um autor?. 2ª ed. Trad. António Fernando de
Miranda e Edmundo Cordeiro. Lisboa: Passagens, 1992.
 MAINGUENEAU, D. Discurso literário. São Paulo: Contexto, 2006.
 MOON, F; BÁ, G. O Alienista: Machado de Assis. Adaptação em
quadrinhos. Rio de Janeiro: Agir, 2007.

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