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Interações medicamentosas

01/12/2009 Interações medicamentosas caio@ufpa.com


Programa
• Conceito de interação medicamentosa.

• Classificações: Por severidade clínica; Por mecanismo.

• Mecanismos da interação: Interação farmacêutica, interação farmacodinâmica,


interação farmacocinética.

• Interações de caráter farmacodinâmico: Interações em receptores; interações


por somação ou sinergia funcional.

• Interações de caráter farmacocinético: Interações durante a absorção;


interações durante a distribuição; interações durante o metabolismo; excreção
renal; fármacos implicados mais freqüentemente nas interações.

• Interações entre drogas e alimento.

• Detecção e prevenção das interações.


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O conceito de interação
• “Uma interação resulta quando os efeitos de uma
droga são alterados de alguma forma pela presença
de outra droga, por alimento, ou por exposição
ambiental.” (Robertson e Penzak, 2007).

• “Se denomina interação farmacológica a ação que um


fármaco exerce sobre outro, de modo que este
experimente uma mudança quantitativa ou qualitativa
em seus efeitos. Em toda interação há, pois, um
fármaco cuja ação é modificada e outro ou outros que
agem como precipitantes ou desencadeantes da
interação. Em alguns casos, a interação é
bidirecional” (de Cos, 1998).

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Descrevendo interações
• Existem vários critérios para descrever uma
interação medicamentosa.

• Do ponto de vista clínico, descrevemos uma


interação enumerando
– Os medicamentos ou classes de medicamentos
envolvidos;
– O mecanismo pelo qual a interação ocorre;
– O efeito resultante;
– A severidade clínica.
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Severidade clínica
• Interação menor: Apresenta conseqüências clínicas
limitadas, e não requer mudanças na terapia. P. ex.,
furosemida e hidralazina interagem, sem efeito clinicamente
relevante.

• Interação moderada: Requer mudanças na dosagem ou


monitoramento de toxicidade. P. e.x, a interação entre
rifampicina e isoniazida aumenta o risco de hepatotoxicidade.

• Interação severa: Deve ser evitada sempre que possível,


pois resulta em toxicidade séria. P. ex.: a interação entre
cetoconazol e cisaprida leva à prolongamento do intervalo Q-
T e arritmia ventricular.

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Interações farmacêuticas
• Referem-se às incompatibilidades físico-
químicas entre duas substâncias que
impedem-nos de misturá-las em uma
mesma solução.

• São de menor relevância, pois basta


administrar as drogas em soluções
diferentes.
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Interações farmacodinâmicas
• Em receptores farmacológicos: Interações múltiplas,
descritas pelo espectro agonista-antagonista.
Algumas vezes podem ser exploradas clinicamente (p.
ex., antagonismo do flumazenil no receptor
benzodiazepínico).

• Somação e potenciação funcionais: Por somação (qdo


o efeito de duas drogas administradas
concomitantemente é aditivo) ou por sinergismo (o
efeito de duas drogas excede a soma de seus efeitos
individuais). A potenciação requer que as duas
drogas ajam em receptores diferentes ou em
sistemas efetores diferentes.

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Interações farmacocinéticas
• Envolvem a maior parte das interações
descritas atualmente.

• Envolvem a alteração das concentrações de


uma determinada droga no plasma ou no sítio
de ação.

• Ocorrem quando uma substância (droga,


alimento, substância natural) altera a
absorção, distribuição metabolismo, ou
eliminação de outra droga.
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Fármacos potencialmente
desencadeadores da interação
farmacocinética
• Fármacos que mostram alta afinidade por proteínas
plasmáticas e, portanto, podem deslocar com mais facilidade
os outros fármacos de seus sítios nessas proteínas. P. ex.:
AINEs.

• Fármacos que alteram o metabolismo de outros fármacos por


estimulá-lo ou inibi-lo. P. ex.: alguns antiepilépticos,
rifampicina (estimulantes do metabolismo); cimetidina,
imidazóis, alopuriol, fenilbutazona (inibidores do
metabolismo).

• Fármacos que alteram a função renal e o clearance de outros


fármacos. P. ex.: todos os diuréticos, os aminoglicosídeos,
alguns uricosúricos.

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Fármacos potencialmente objeto
da interação
• Fármacos com curva dose-efeito com grande inclinação,
onde pequenas alterações na dose produzem grandes
alterações no efeito.

• Fármacos que dependem de vias metabólicas autoindutíveis


ou facilmente saturáveis para sua eliminação.

• Fármacos que apresentam índice terapêutico pequeno, e


originam toxicidade devido à interação.

• Exemplos: Hipoglicemiantes, anticoagulantes orais,


antiepilépticos, antiarrítmicos, glicosídeos cardíacos,
contraceptivos orais, aminoglicosídeos, antineoplásicos,
imunodepressores, fármacos com ação sobre o SNC.
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Interações afetando a absorção
• Podem resultar de mudanças na taxa de absorção, na
extensão da absorção, ou ambas.

• Mudanças na taxa de absorção não são clinicamente


relevantes quando a administração é crônica ou sub-crônica.
Quando a administração é aguda (p. ex., analgésicos,
hipnóticos), uma redução na taxa de absorção pode causar
um atraso inaceitável no início do efeito farmacológico.

• A extensão pela qual uma droga é absorvida por ser afetada


por mudanças no tempo de transporte ou na motilidade
gastrointestinal, no pH gastrointestinal, na enzima CYP450
intestinal e na atividade das proteínas de transporte intestinal,
e pela quelação da droga no trato GI.

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Alterações na motilidade do trato GI
• Medicamentos que alteram a motilidade do trato GI podem
mudar a taxa com a qual uma droga é transportada no
intestino delgado, o principal sítio de absorção para a maior
parte das drogas administradas v.o.

• O agente pró-cinético metoclopramida, p.ex., aumenta a taxa


de transporte da droga pelo trato, aumentando a taxa de
absorção de certas drogas e aumentando a extensão da
absorção em alguns casos.

• P. ex.: ainda que não sejam observadas mudanças na taxa


de clearance da ciclosporina, a AUC da curva concentração-
tempo e a concentração sérica máxima (Cmax) da ciclosporina
aumentaram em 22% e 46%, respectivamente, quando
administrada concomitantemente com a metoclopramida.
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Efeitos sobre a solubilidade
• Para algumas drogas, a absorção é limitada pela solubilidade de
um composto, com a dissolução sendo altamente dependente do
pH gástrico.

• O agente antiretroviral didanosina, p. ex., é um composto lábil em


pH ácido, e foi formulado originalmente como uma preparação
tamponada para aumentar sua biodisponibilidade.

• Outras drogas, como o itraconazol e o cetoconazol, requerem um


ambiente ácido para serem adequadamente absorvidas. Assim,
esses medicamentos devem ser administrados 2 horas antes ou 1
hora depois da administração de antiácidos ou drogas tamponadas.

• Inibidores de bombas de próton e antagonistas do receptor H2


diminuem a absorção e concentração plasmática dessas drogas.

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Efeitos quelantes
• A absorção de certas drogas pode ser alterada pela formação de
complexos insolúveis quando essas são expostas a cátions di- e trivalentes
no trato GI.

• Antibióticos da classe das quinolonas são quelados quando co-


administrados com produtos que contenham magnésio, alumínio, cálcio ou
ferro, limitando a absorção da quinolona de forma significativa.

• A absorção da ciprofloxacina diminui cerca de 50-75% quando


administradas entre duas horas antes e duas horas depois da
administração de hidróxido de alumínio ou carbonato de cálcio.

• Tetraciclinas formam complexos com antiácidos e com o ferro no trato GI.

• Drogas adsorventes, como o carvão ativado e a colestiramina (agente


redutor de colesterol), ligam-se a diversos medicamentos quando co-
administrados.

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Administração com alimento
• Pode alterar a biodisponibilidade e outros
parâmetros farmacocinéticos de medicamentos.

• Inibidores da protease, p. ex., apresentam


absorção aumentada qdo administradas com
alimentos, com um aumento de quase 500% na
biodisponibilidade.

• Por outro lado, o inibidor de protease indinavir é


melhor absorvido com um estômago vazio.

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Droga Alimento Interação adversa
Antagonistas do cálcio; Suco de toranja Aumento na biodisponibilidade; inibição
terfenadina; cafeína do metabolismo de primeira passagem;
aumento na toxicidade
Inibidores da MAO Alimentos contendo tiramina (fígado, peixes Palpitações, dores de cabeça, crises
defumados, queijos, banana, abacate, sopas, hipertensivas
cerveja, vinhos, iogurte, creme azedo,
leveduras, nozes)

Digotoxina Licorosos Toxicidade


Griseofulvina Alimentos gordurosos Níveis plasmáticos aumentados
Preparações de liberação lenta Álcool Aumento nas taxas de liberação

Lítio Diminuição nas ingestões de sódio Toxicidade do lítio


Quinidina Dietas alcalinas Toxicidade da quinidina
Diuréticos tiazídicos Carboidratos Aumento nas taxas de açúcar no
sangue
Tetraciclinas Produtos lácteos; sulfato ferroso Diminuição na absorção
Vitamina B12 Altas doses de vitamina C Precipitação de deficiência de vitamina
B12
Fenfluramina Adição de vitamina C Antagonismo do efeito antiobesidade da
fenfluramina
Benzodiazepínicos Cafeína Antagonismo funcional da ação
ansiolítica

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Alterações da microflora GI
• Alterações na flora normal do trato GI podem ser mecanismos
importantes na alteração na concentração de diversas drogas,
incluindo a digoxina, contraceptivos orais, e varfarina, quando
essas drogas são co-administradas com antibióticos.

• Esse efeito é controverso para uma série de drogas. P. ex., a


digoxina interage com macrolídeos, um efeito que foi explicado pela
eliminação da Eubacterium lentum. No entanto, a maioria dos
antibióticos não parece interagir com a digoxina, ainda que
eliminem a E. lentum.

• O exemplo mais típico é o da co-administração de antibióticos e


contraceptivos orais, cujo mecanismo parece ser uma diminuição
na recirculação enterohepática do contraceptivo, resultante de uma
perda na hidrólise dos conjugados de esteróides pela flora do trato.
Existem poucas evidências disso.

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Interações que afetam a
distribuição
• Teoricamente, drogas que apresentam extensa ligação a
proteínas plasmáticas (> 90%) podem competir por sítios
nessas proteínas, aumentando a distribuição da droga.

• Empiricamente, no entanto, existem poucas interações clínicas


que podem surgir da alteração na extensão da ligação a
proteínas.

• Esse efeito é importante para drogas metabolizadas de forma


restritiva (ER < 0,3).

• O aumento transitório na concentração plasmática de droga livre


pode ser clinicamente importante para drogas com distribuição
limitada, índice terapêutico estreito, ou com um tempo de meia-
vida longo.
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Atkinson, Reiderberger, Thompson, Clinical Pharmacology © 1982 American College of Physicians

A varfarina é uma droga com taxa de extração ER < 0,3; nesse exemplo, ela é
deslocada de seus sítios de ligação nas proteínas plasmáticas. Ainda que as
concentrações iniciais da varfarina aumentem inicialmente como resultado dessa
interação, elas depois retornam para os níveis anteriores. Como resultado, o
aumento no tempo de protrombina é transitório. Como a fração de droga não-ligada
é aumentada, a quantidade total de varfarina (ligada + livre) se mantém deprimida,
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conforme o tratamento com a droga que induz o deslocamento for continuado.
Droga fu (%)
Cafeína 0
Álcool 0
Procainamida 10-20
Digoxina 30-40
Gentamicina 40-50
Penicilina G 50-60
Teofilina 60
Fenobarbital 70
Carbamazepina 70-80
Quinidina 85
Fenitoína 90
Tolbumamida 92-95
Propanolol 92-95
Diazepam 92-95
Digitoxina 97
Varfarina 99,5
Fenilbutazona 99,5
Dicumarol
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Interações afetando o metabolismo
• O metabolismo de uma droga pode ser
dividido em duas etapas básicas: fase I
(reações de oxidação, hidrólise ou redução,
mediada por membros da família de isozimas
CYP; e fase II (glicurunidação, sulfação,
metilação, acetilação, conjugação
glicinérgica).

• A modulação do metabolismo mediado


pela CYP é o mecanismo mais importante
de interação medicamentosa.
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Isozima Substratos Indutores Inibidores
CYP1A2 Cafeína, clozapina, tacrina, Omeprazol, rifampicina, tabacoCimetidina, ciprofloxacino,
teofilina diltiazem, eritromicina,
fluvoxamina

CYP2C9 Amitriptilina, imipramina, Rifampicina Amiodarona, cimetidina,


diclofenaco, ibuprofeno, fenitoína, cotrimoxazol, fluconazol,
tolbutamida metronidazol, fluvastatina,
fenilbutazona

CYP2C19 Diazepam, mefenitoína, Rifampicina Felbamato, fluoxetina,


omeprazol fluvoxamina, omeprazol

CYP2E1 Álcool, paracetamol, isoniazida Álcool e isoniazida Disulfiram

CYP2D6 Amitriptilina, clomipramina, Dexametasona, rifampicina Cimetidina, fluoxetina,


codeína, haloperidol, paroxetina, fluvoxamina, haloperidol,
risperidona, tioridazina, felcainida, cetoconazol, nasoprazol,
propafenona, propanolol, timolol paroxetina, quinidina,
probenecid, ritonavir, sertralina,
terbinafina, ticlopidina

CYP3A4 Alprazolam, diazepam, Carbamazepina, Cimetidina, omeprazol,


midazolam, triazolam, astemizol, corticoesteróides, fenobarbital, claritromicina, eritromicina,
terfenadina, cisaprida, fenitoína, rifampicina diltiazem, quinidina, fluconazol,
carbamazepina, itraconazol, cetoconazol,
corticoesteróides, ciclosporina, miconazol, fluoxetina, narigenina
eritromicina, diltiazem,
verapamilo, nifedipino, felodipino,
lidocaína, quinidina, lovastatina,
sinvastatina
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Robertson e Penzak, “Drug Interactions”, Principles of Clinical Pharmacology © 2007 Elsevier.

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Interações medicamentosas
Inibição e indução enzimáticas

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Inibição enzimática
• A inibição de uma enzima do CYP450
diminui a taxa de metabolismo de drogas
que são metabolizadas por essa enzima,
aumentando a quantidade de droga no
organismo, levando à acumulação e
toxicidade potencial.

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Inibição reversível
• A atividade enzimática é recuperada pela eliminação sistêmica do inibidor, de forma que o
tempo necessário para a recuperação da atividade enzimática é dependente da meia-vida
do inibidor.

• Inibição competitiva: Caracterizada pela competição entre o substrato e o inibidor pelo


sítio ativo da enzima; pode ser vencida aumentando a concentração de substrato,
sustentando a velocidade da reação enzimática apesar da presença do inibidor.
[I ]
Ki
%inibição =
1 + [I ] + [S ]
Ki Km

• Inibição não-competitiva 1: não pode ser vencida pelo aumento na concentração do


inibidor, já que esse liga-se a um sítio alostérico na enzima.
[I ]
Ki
%inibição =
1 + [I ]
Ki

• Inibição não-competitiva 2: ocorre quando


[ I ]o inibidor tem afinidade pelo complexo
substrato-enzima. Ki
%inibição =
Km
1 + [I ] +
Ki [S ]

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Inibição irreversível ou quase-
irreversível
• Ocorre quando o composto (ou um intermediário metabólico) se liga à
porção heme reduzida da P450, inativando-a.

• O tempo para a recuperação do metabolismo depende da síntese de uma


nova enzima, ao invés da dissociação e eliminação do inibidor.

• Inibidores potentes das CYPs são normalmente compostos lipofílicos, e


incluem um heterociclo contendo um átomo N.

• Na inibição irreversível (“suicida”), o intermediário forma uma ligação


covalente com a CYP ou com seu componente heme, causando inativação
permanente. P. ex.: eritromicina inibe irreversivelmente a CYP3A4,
formando um complexo estável após sua ativação metabólica.

• Na inibição quase-reversível, o intermediário forma uma ligação forte com a


porção heme da enzima que essa ligação se torna praticamente
irreversível.

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Indução enzimática
• Definida como o aumento na síntese de
isozimas CYP, resultando no aumento da
atividade catalítica.

• Na maior parte dos casos, envolve um


aumento na transcrição gênica através da
ativação de receptores nucleares.
– Exceção: o etanol estabiliza a enzima após a
transcrição, sem efeitos sobre a ativação
mediada por receptor.
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Receptores nucleares e indução
enzimática
• A família de receptores nucleares para
hormônios é composta de 3 subclasses de
proteínas reguladoras da transcrição que são
ativadas por ligantes endógenos e exógenos.

• A terceira classe inclui os receptores órfãos


PXR (pregnana X) e CAR (receptor da
androstana constitutiva), expressados
extensamente no fígado e intestinos.
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Taniguchi e Guengerich, “Metabolsimo dos fármacos”, Princípios de Farmacologia, 2ª edição © 2008 Lippincott, Williams e Wilkins

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Interações medicamentosas
enzimática

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Receptores nucleares e modulação
Robertson e Penzak, “Drug Interactions”, Principles of Clinical Pharmacology © 2007 Elsevier.
Receptores PXR e CAR
• O receptor contém dois domínios
de ligação, que são aceptores
para o DNA e para o ligante.

• O PXR liga-se, como


heterodímero com o receptor
retinóide X (RXR), aos elementos
de resposta do DNA da região
regulatória dos genes CYP.

• O receptor PXR medeia a indução


da CYP3A4, CYP2B6, CYP2C9 e
do gene MDR1, responsável pela
expressão de P-glicoproteínas de
transporte.

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Robertson e Penzak, “Drug Interactions”, Principles of Clinical Pharmacology © 2007 Elsevier.

Receptores PXR e CAR


• Diferente do PXR, o CAR
localiza-se no citosol, e
transloca-se para o núcleo
quando é ativado.

• Uma vez no núcleo, o CAR


forma um heterodímero o
RXR, ligando-se aos
elementos de resposta e
ativando a transcrição dos
genes-alvo.

• O CAR é um mediador da
indução tipo-pentobarbital do
CYP2B6, CYP3A4, CYP2C9 e
MDR1.

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Interações envolvendo proteínas
de transporte
• Uma série de proteínas de transporte tem um papel
ativo na ADME de medicamentos.

• As proteínas MDR (“multidrug resistance”), as P-


glicoproteínas, MRPs (“multidrug resistance-related
proteins”), polipeptídeos de transporte de ânions
orgânicos (OATPs), transportadores de cátions
orgânicos (OCTs) e transportadores de ânions
orgânicos (OATs) são todos transportadores que
podem ser alterados por xenobióticos, afetando a
disposição de drogas co-administradas que sejam
tansportadas por essas proteínas.

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Proteína Substrato Inibidor Indutor

P-glicoproteína Agentes anticâncer, ciclosporina, Clorpromazina, claritromicina, Agentes anticâncer,


dexametasona, digoxina, eritromicina, cortisol, ciclosporina, eritromicina, ciclosporina, dexametasona,
estradiol, fentanil, hidrocortisona, suco de toranja, progesterona, eritromicina, suco de toranja,
indinavir, lidocaína, propanolol, propanolol, verapamil Erva de São João, verapamil
ranitidinam verapamil

OATP-A Dexametasona, rifampicina, verapamil Suco de toranja, suco de laranja,


rifampicina
OATP-B Penicilina G

OATP-C Ciclosporina, rifampicina, glicuronato Ciclosporina, rifampicina


de 17-β-estradiol
OAT-1 Inibidores da enzima conversora de Betamipron, cefalosporinas,
angiotensina, antibióticos β- probenecid
lactâmicos, cefalosporinas, cimetidina,
furosemida, AINEs, ranitidina,
tetraciclinas, agentes anti-câncer

OAT-2 Minociclina, probenecid, salicilato, Probenecid


tetraciclina, zidovudina
OAT-3 Inibidores da ACE, antibióticos β- Cefalosporinas, probenecid,
lactâmicos, cefalosporinas, cimetidina, AINEs
furosemida, AINEs, probenecid,
ranitidina, tetraciclinas, agentes anti-
câncer

OAT-4 Antibióticos β-lactâmicos, Betamipron, cefalosporinas,


cefalosporinas, furosemida, AINEs, probenecid
tetraciclinas
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P-glicoproteína
• A P-glicoproteína é a proteína de transporte melhor caracterizada, e foi
identificada em diversos sistemas (superfície apical dos túbulos renais, céls
epiteliais intestinais e placentárias, superfície canalicular dos hepatócitos,
superfície luminal dos capilares da BHE).

• Apresenta ampla especificidade de substrato, transportando uma grande


qtd de substâncias endógenas e exógenas quimicamente únicas.

• A P-gp limita a exposição do corpo a xenobióticos, excretando droga na


bile, lúmen intestinal, e túbulos renais.

• A P-gp afeta a taxa de absorção de uma droga, ao invés da extensão da


absorção. No entanto, o transporte via P-gp no intestino aumenta a
exposição ao metabolismo luminal via CYP3A4 durante a excreção.

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Modulação da P-glicoproteína
Indução Inibição
• A administração de um substrato da • O mecanismo de inibição
P-gp com um indutor desta pode enzimática da P-gp é bastante
resultar em aumento do contato complexo, envolvendo competição
com a CYP3A4 intestinal seguida de pelo sítio de ligação e bloqueio da
diminuição na exposição sistêmica. hidrólise de ATP (necessária para a
função de transporte).
• Normalmente, indutores da P-gp
também induzem a CYP3A4. • Alguns inibidores da P-gp também
inibem a CYP3A4.
• Quando o influxo passivo de uma
droga excede muito a taxa de efluxo • A inibição da P-gp renal pode levar
mediado por P-gp, a indução não ao desenvolvimento de toxicidade
diminui a biodisponibilidade do inesperada ou aumento da eficácia
substrato. clínica em seguida ao aumento da
exposição à droga.

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Polipeptídeos de transporte de
ânions orgânicos
• A família OATP é expressa em diversos sistemas orgânicos,
e seus substratos são uma série de componentes endógenos
(ácidos biliares, hormônios da tireóide e esteróides
conjugados) e xenobióticos (digitoxina, pravastatina,
metotrexato, e certos AINEs).

• Em contraste com o transporte mediado pela P-gp e MRP,


essas proteínas normalmente medeiam o influxo de droga,
aumentando a absorção intestinal e captação hepática das
drogas.

• Os inibidores das OATPs são normalmente componentes


estericamente massivos, incluindo ânions, cátions, e alguns
componentes neutros.

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Transportadores de ânions
orgânicos
• Tem importante papel na distribuição e eliminação de substâncias
endógenos e exógenas nos rins, fígado e cérebro.

• São inibidos por diversos agentes terapêuticos, incluindo


antibióticos, diuréticos, e certos AINEs.

• A concentração plasmática baixa da maior parte dos inibidores dos


OATs, em relação a seus valores de Ki, sugere que diversos
inibidores identificado in vitro não são capazes de produzir
interações medicamentosas clinicamente significativas.

• Exceções importantes: probenecid – protege contra a


nefrotoxicidade causada pelo cidofovir ao limitar o transporte renal;
diminui o clearance no CSF do substrato zidovudina, prolongando
sua meia-vida no cérebro.

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Interações que afetam a excreção
renal
• As propriedades farmacocinéticas das
drogas que são excretadas
primariamente pelo rim podem ser
alteradas por mudanças nos sistemas
de transporte ativo, pH da urina, e fluxo
sangüíneo renal.

• A difusão passiva das moléculas para


dentro e para fora do lúmen tubular
depende da extensão de ionização;
somente a forma não-ionizada é capaz
de difundir-se pela membrana lipídica.

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Mudanças no pH da urina mudam
a taxa de excreção renal

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Mudanças no pH da urina mudam
a taxa de excreção renal
• Dado que a maioria das drogas fracamente ácidas
ou fracamente básicas é metabolizada em
compostos inativos antes da excreção renal,
mudanças no pH da urina não afetam a
eliminação da maior parte dos fármacos.

• Exceções importantes são os componentes


ácidos fenobarbital, a aspirina e outros salicilatos,
cujos níveis séricos caem com a co-administração
de antiácidos ou bicarbonato de sódio.

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Detecção e prevenção de
interações indesejadas
• Dadas as dificuldades no estabelecimento do e) Reduzir sempre ao mínimo o número de
risco real de uma dada interação, é necessário medicamentos a serem administrados.
identificar, na medida do possível, as situações
em que esse risco é maior. Para isso, é útil
seguir as seguintes guias: f) Considerar a possibilidade de uma interação
quando a resposta do paciente não é a
esperada (efeito tóxico ou falta de resposta).
a) Conhecer bem as características dos fármacos
que produzem interações com maior
freqüência, em especial daqueles fármacos g) Observar cuidadosamente a ação terapêutica
que você mais usa. e tóxica quando da adição ou supressão de
fármacos a um tratamento.
b) Considerar com bastante atenção as interações
que dão origem às situações mais graves h) Medir os níveis séricos de um fármaco
(crises hipertensivas, hipotensão brusca, quando se suspeita de uma interação e a
hemorragias, convulsões, arritmias, concentração pode ser determinada.
hipoglicemia).
i) Substituir o fármaco desencadeante de uma
c) Evitar as associações de fármacos que são interação por outro do mesmo grupo que
contra-indicadas. apresente potencial interativo menor.

d) Considerar sempre o status dos órgãos cuja


enfermidade pode originar mais freqüentemente
uma interação (insuficiência renal ou
insuficiência hepática).

01/12/2009 Interações medicamentosas caio@ufpa.com

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