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Universidade Estadual de Santa Cruz

Departamento de Letras e Artes


Colegiado de Letras

Resistência política e social em Nós


matamos o cão tinhoso de Luís Bernardo
Honwana
Disciplina: Literatura Africana
Docente: Gisane Silva
Discentes: Andrea Queiroz, Karla
Verônica, Rafael Marques,
Romário Oliveira e Rosiery
Lorent.
AUTOR

• Nascido em 1941, em Lourenço Marques


(atual Maputo).
• Militante da Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO)
• Publica em Moçambique em 1964
o livro Nós matamos o cão tinhoso.

Luís Augusto Bernardo Manuel


A obra e seu contexto
de Produção
O volume é composto por sete
contos que expressam de forma
emocionante a realidade
sufocante dos trabalhadores
moçambicanos durante a
colonização portuguesa.
Literatura e política

“A literatura ocupou-se da política em incontáveis


momentos, não apenas jornalisticamente
descrevendo e repercutindo os fatos políticos como
criando ficções sensacionais, muitas baseadas no
cenário político que vivenciavam seus escritores,
alguns com caráter de protesto ou resistência”[...]
(Maroldi, 2007, p. 2)
Literatura e política

“ Literatura sempre serviu de instrumento


poderosíssimo para exaltar ou até camuflar
acontecimentos de natureza política e as biografias
de alguns membros da classe política. Certamente,
não há uma ferramenta mais útil do que um livro
para imortalizar os registros de uma vida ou de um
período político. Além disso, um livro bem escrito
pode reconstruir uma imagem ou confirmar um
acontecimento importante, ainda que de maneira
irreal”.(Maroldi, 2007, p.2)
Análise do conto

Iniciando pelo título “ Nós


matamos o Cão-Tinhoso”
podemos começar refletindo
sobre quem é esse “Nós”? O que
representa no contexto de
Moçambique esse cão? Por que o
autor usou a expressão ‘tinhoso’?
Quais as atitudes do cão para
que seja executado? Por que
assumir essa execução tão
abertamente?
O CÃO TINHOSO TINHA UNS OLHOS AZUIS...
A ênfase nas características físicas do Cão remete a decadência do sistema
colonial.

O cão tinhoso tinha uns olhos azuis que não tinham brilho
nenhum, mas eram enormes e estavam sempre cheios de
lágrimas, que lhe escorriam pelo focinho. Metiam medo
aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como uma pessoa
a pedir qualquer coisa sem querer dizer. (Honwana,
1964,p.1)
O cão Tinhoso tinha uma pele velha, ceia de pelos brancos
cicatrizes e muitas feridas. Ninguém gostava dele porque era
um cão feio. Tinha sempre muitas moscas e comer-lhes as
crostas das feridas e quando andava, as moscas iam com
ele a voar em volta e a pousar nas crostas das feridas.
Ninguém gostava de le passar a mão pelas costas aos outros
cães. Bem a Isaura era a única que fazia isso. (Honwana,
1964,p.2-3)
Mesmo decadente o sistema colonial
amedrontava a todos
“ O Faruk agarrava a minha espingarda com força e
apontava-a para mim com as pernas afastadas, mas olhava
para o Cão-Tinhoso, com os olhos grandes de medo. Os
outros todos ficavam também com os olhos cheios de medo
quando olhavam para os olhos azuis do Cão-Tinhoso”. p.18
Mas, não me olhes como se eu tivesse culpa, Cão –Tinhoso!
Desculpa, mas eu tenho medo dos teus olhos... p.21
A relação dialógica do Medo ( O medo da
ação do colonizador X medo de se libertar da
opressão do sistema colonial)

“ O Cão-Tinhoso olhava-me com força. Os seus olhos azuis


não tinham brilho nenhum, mas eram enormes e estavam
cheios de lágrimas que escorriam pelo focinho. Metiam
medo aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como uma
pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer. Quando eu
olhava agora para dentro deles, sentia um peso muito maior
do que quando tinha a corda a tremer de tão esticada,
com os ossos a querer fugir da minha mão e com os lábios
que saíam a chiar, afogados na boca fechada.” p. 21
O CÃO TINHOSO TINHA UNS OLHOS AZUIS...
A rejeição ao sistema e o grito que sinaliza o desejo de liberdade do povo
Moçambicano

“Foi aí que a Senhora professora disse para o Cão- Tinhoso:


_Suca!
O Cão-Tinhoso ainda ficou um bocado a olhar para a
Senhora Professora, com os olhos grandes a olhar como uma
pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer. Eu vi-lhe
lágrimas a brolhar em riscos no focinho. A senhora Professora
deu um grito para o Cão-Tinhoso ouvir bem:
_Suca daqui! (Honwana, 1964,p.5)
O senhor administrador cuspiu para nós dois e disse aquilo do cão-tinhoso, mas era só
porque ele e o parceiro tinham levado uma limpa-quatro-bolas

Tomada de consciência do estado de exploração colonial;

“Eu fiquei um momento a olhar para aquilo tudo até


compreender o que o Senhor Administrador queria dizer:_ O
Cão-Tinhoso vão morrer! Olhei para ele: estava a dormir com
a cabeça entre as patas, muito descansado da vida.”
O senhor administrador cuspiu para nós dois e disse aquilo do cão-tinhoso, mas era só
porque ele e o parceiro tinham levado uma limpa-quatro-bolas
Opressão do sistema

“Lá dentro, enquanto fazia as contas e o desenho, e mesmo


durante o ditado, fui pensando no Cão-Tinhoso a ser morto
pelo Doutor da Veterinária, depois de ter escapado da
bomba atómica e tudo, depois de ter corrido uma distância
montra para não morrer por causa da bomba atómica. O
Doutor da Veterinária se calhar não tinha vontade nenhuma
de matar o Cão-Tinhoso mas como é que ele havia de fazer,
coitado, se foi o Senhor Administrador que mandou?”
(Honwana, 1964,p.9)
Imposições do sistema e subjugação

“ [...] o Doutor mandou-me dar cabo de um cão, aquele, vocês


conhecem-no, aquele que anda aí todo podre que é um nojo, [...] Bem
acontece que eu tenho visitas em casa[...] e pensei logo em vocês [...]
Bem calem-se não digam mais, eu já sabia que vocês são malta fixe.
p. 12

“_ Ó Malta, vamos fazer o que o Senhor Duarte mandou ou não?


Fomos todos a correr para ir buscar as armas.” p. 14
“ _ E quem é que leva o Cão? _ ( Eu não queria levar o Cão –Tinhoso)
p.13
“ Eu é que tinha uma vontade danada de corar mas não podia fazer
isso com aqueles todos olhando para mim.” p.17
- Quim, eu não quero dar o primeiro tiro...(Eles queriam que eu desse o
primeiro tiro). P. 22
*Resistência ( o sistema se apresenta decadente e
mesmo em uma eminente guerra ainda resiste de
forma sutil e manhosa a permanecer enquanto
politica local)
“ Olhou para todos nós com os olhos azuis, sem saber que
nós queríamos matá-lo e veio encostar-se às minas pernas.
Depois de esta um bocado assim encostado, eixou
escorregar o traseiro e sentou-se. Eu senti-o tremer como não
sei o quê, enquanto os outros combinavam, e via os meus
sapatos a brilhar onde ele os lambia”. (Honwana, 1964,p.9)
“O Cão-Tinhoso chiava não queria andar e chiava que se
danava, com a boca fechada.
“ Daí a pouco o Cão-Tinhoso encostava-se ás minhas
pernas, todo a tremer e a chiar baixinho. p. 18
Humilhações, rejeição, racismo e violência aconteciam
no sistema

_ Deixa lá é preto e basta, deixa lá. p. 13


_ Ó minha besta! – O Quim não gostava daquela piadinhas.
p. 13
_ Fora daqui, negralhada! _ era o Quim. p. 15
_ Fora daqui, negralhada, fora daqui cabroada escura! p. 15
_ Ó meu filho da mãe, queres que eu te rebente o focinho?
_ Anda lá, senão rebentamos contigo, preto de um raio! p.20
Conclusão
De acordo com nossa leitura, há no texto um
posicionamento político-social em torno da luta pela
independência do país, que fora humilhado e explorado por
Portugal. Diante um sistema colonial antigo que se vê sem
forças para enfrentar uma Moçambique que tem pressa
para ser livre e estava cansada do sofrimento e da escassez
de dignidade. Entendemos o presente conto então, como a
representação do grito de Moçambique por um país com
mais liberdade e sem exploração.
REFERÊNCIAS
HONWANA, Luis Bernardo. Nós Matámos o Cão-Tinhoso. Moçambique:
Cotovia, 1964.

MORAES, Lidiana de. A violência do não-dizer em nós matámos o cão-


tinhoso, de Luis Bernardo Honwana. Miami, 2018.

MACHADO, Júlio César. Resenha do conto Nós Matamos o Cão Tinhoso.


UFERJ, Rio de Janeiro, 2018.

http://www.tirodeletra.com.br/Sumario-Literaturaepolitica.htm

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